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Universidade Federal de Sergipe

Departamento de Relações Internacionais


Política Externa Das Grandes Potências
Docente: Bárbara Vasconcelos de Carvalho Motta
Discentes: Aanne Karolinne Santos da Cruz

CAMPBELL, David. Writing Security: United States Foreign Policy and the Politics of
Identity. Minnesota: University of Minnesota Press, 1992.

Em sua obra, David Campbell, em seu livro Writing Security: United States Foreign
Policy and the Politics of Identity, explora o papel da identidade na formação das relações
internacionais, enfatizando a importância do indivíduo no paradigma de segurança humana. O
autor argumenta que a afirmação do "outro" é um componente significativo da auto-
realização, e que a segurança das fronteiras nacionais é necessária para criar identidade
nacional. Esta análise tem como objetivo fornecer uma análise detalhada dos argumentos
filosóficos de Campbell, conectando-os com os fundamentos teóricos do paradigma de
segurança humana.
Inicialmente, o autor afirma que dentro da disciplina de relações internacionais
persiste uma “tradição Hobbesiana” em que Hobbes é considerado como o fornecedor das
imagens centrais da anarquia, do conflito, do estado da natureza e da guerra e que estes são
considerados como as condições de possibilidades das relações internacionais e como os
entendimentos estipulados para a política externa. Nesta edição, construiu-se uma teoria
política em que a segurança dos indivíduos e a sua capacidade de viver é ameaçada pela
existência de um estado de natureza, mas é alcançada pela redenção de soberania a um poder
comum. Neste contexto, a guerra de todos contra todos foi reduzida a uma relação puramente
estatal, colocando Hobbes como uma figura propulsora do realismo das relações
internacionais.
A partir do pensamento de Hobbes, o estado de natureza é uma terapia de choque,
como coloca o autor, pois ensinam aos sujeitos as suas prioridades e demonstram aos mesmos
como seriam suas vidas sem a soberania. Assim, o medo une a comunidade doméstica e estes
se tornam membros da ordem que é colocada sobre eles. Dessa forma, os Estados soberanos
carecem da condição de anarquia e da guerra para separar o interior, caracterizado como
civilizado, e o exterior, como caótico e selvagem. Portanto, a política externa também estava
relacionada, dentro do pensamento hobbesiano, com o interior e ao exterior e tinha 3
interpretações: (1) resultado de uma forma de organização (Igreja) que cedeu lugar para outra
(Estado); (2) como uma nova solução para um problema tradicional e (3) como projeto de
assegurar os fundamentos da identidade do Estado que enfatizava o medo.Sendo assim, na
visão do autor, essas construções são empobrecidas, pois consideram a política externa como
preocupação com fronteiras congeladas e pré-determinadas.
Em uma crítica a Hobbes, a proposta e tese central que David Campbell traz em seu
texto é a “re-teorização” (Retheorization) da política externa. Para o autor, diferentemente do
que é discutido pela maioria dos autores acerca da Política Externa, ela não se define como
uma “expressão” da sociedade, argumento esse que se contrapõe ao que foi dito por Thomas
Kappen em seu texto Public Opinion, Domestic Structure, and Foreign Policy in Liberal
Democracies, no qual a Política Externa é definida por um conjunto de fatores societais e
governamentais. Para Campbell, a PEX constitui uma das medidas centrais para a produção e
formação da identidade do Estado, tendo em vista que suas práticas neutralizam práticas
alternativas que refletem a identidade de outros.
A política externa, então, deve ser considerada como uma das várias práticas que
compõem os discurso de perigo que servem para domesticar o homem, construindo os
problemas, os perigos e os medos. Além disso, as ameaças à identidade são igualmente
confrontadas pelo homem causados pelo interior, como a exemplo do feminismo e do
homossexualismo. Logo, sua eficácia para disciplinar e construir a identidade, domínio da
sociedade doméstica, é possível porque são uma série de práticas culturais centrais que
operam no seu próprio domínio específico. Portanto, a política externa deve ser reorientada
para a produção e para a reprodução da identidade da instituição para qual opera.
Para exemplificar e reforçar ainda mais o conceito de política externa, Campbell
elabora dois entendimentos sobre a mesma. O autor distingue dois entendimentos de política
externa: (1) em que a política externa é divorciada do Estado como uma resolução particular
de categorias de identidade e diferença e se aplica a confrontos que parecem ocorrer entre um
“eu” e “um” outro localizado em diferentes locais de etnia, raça, classe, gênero ou geografia;
(2) a política externa não está igualmente implicada na constituição da identidade como o
primeiro entendimento, em vez disso, ela serve para reproduzir a constituição da identidade
possibilitada pela “política externa” e conter desafios à identidade que daí resulta.
Por fim, o objetivo de Campbell é analisar o papel do medo na criação da segurança
nacional e a importância da ideologia, simbolismo e terminologia na formação da identidade e
política nacional. A crise de representação é a raiz dos dilemas modernos relacionados à
ideologia e "crimes de crença". A capacidade de uma comunidade existir como estado
depende da sua capacidade de se constituir como comunidades imaginadas. A abordagem de
segurança humana re-conceptualiza a comunidade imaginada e redefine os parâmetros de
alteridade, permitindo um meio mais viável para alcançar medidas de segurança que são
benéficas tanto para o indivíduo quanto para o estado. Assim, não podemos pensar a política
externa como uma produtora de fronteiras de identidade claramente demarcada e limpa, mas
sim limites difusos e caóticos, pois essa política opera não opera num domínio livre de
contingência e sua prática é aferida pela representação do perigo. À vista disso, conclui-se que
é a partir da objetificação do eu através da representação do perigo que a política externa
ajuda a alcançar seu êxito e que estes processos são atingidos com meios regulares de
representações e figurações que são específicas dos Estados Unidos.

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