Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
Prof. Dr. Francisco Gaspar

Estudos Dirigidos 2

“O homem cordial” e “Novos tempos”

Kadijha Zoz Daju Dias


RA – 824155
1) Defina o conceito de “homem cordial” a partir de seus
aspectos emotivos, sociais e políticos, e o relacione com a
gênese histórica que Sérgio Buarque de Holanda pretende
nos contar em seu livro.
De acordo com Sergio Buarque de Holanda, o conceito de
“homem cordial” na obra “Raízes do Brasil” é aquele que se
expressa com o coração, que tem ações expostas pela afetividade
e de certa forma uma bondade seletiva, que desenvolve
relacionamentos através da emoção, impulso, contato e confiança
com o outro, porém, por trás de afetos, se esconde questões de
conflitos e problemas enraizados na estrutura social e política.
Essa cordialidade, embora possa parecer benéfica, muitas vezes
mascara conflitos de interesses.

Assim, socialmente, o homem cordial é aquele que age


“abrindo as portas de sua casa” para quem sente confiança e passa
segurança, sendo os principais e mais importantes compromissos
para ele sua aliança com a família e amigos, passando por cima de
pessoas e coisas para ter o que quer. Ainda no livro ‘Raízes do
Brasil’, especificamente na pag. 147, Sergio Buarque de Holanda
vai citar o homem cordial na vida social, fazendo referência a uma
frase de Nietzsche, como um ser desprovido das afeições de viver
consigo mesmo:

“No “homem cordial”, a vida em sociedade é, de certo modo, uma


verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo,
em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência.
Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada
vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro — como bom
americano — tende a ser a que mais importa. Ela é antes um viver nos
outros. Foi a esse tipo humano que se dirigiu Nietzsche, quando disse:
“Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro”
(2022, P.10).

No campo da política, entende-se que o homem cordial se


demonstra claramente na esfera de privilégios específicos, ou seja,
favorecendo relações baseadas somente em seus interesses, que
tem como ponto negativo, a corrupção no sistema governamental
como o nepotismo.

Por sua vez, a colonização teve influências significativas para


o homem cordial, deixando uma herança marcada pelas relações
personalistas, que é formada por laços de lealdade e dependências,
o patrimonialismo e o clientelismo são assegurados até nos dias de
hoje acerca da política, e a estrutura de um governo que ainda é
pensado para defender interesses e não pessoas.

2) Comente o seguinte trecho, relacionando-o com a


análise dos “novos tempos” e a gênese histórica traçada
por Sérgio Buarque de Holanda, particularmente no
capítulo 6, procurando, desta feita, indicar qual é a
perspectiva política mais geral adotada por ele no livro:
“Trouxemos de terras estranhas um sistema complexo e acabado de
preceitos, sem saber até que ponto se ajustam às condições da vida brasileira
e sem cogitar das mudanças que tais condições lhe imporiam. Na verdade, a
ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais se naturalizou entre
nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios até onde coincidiram com
a negação pura e simples de uma autoridade incômoda, confirmando nosso
instintivo horror às hierarquias e permitindo tratar com familiaridade os
governantes. A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-
entendido. ” (Raízes do Brasil, p. 160)

Sergio Buarque de Holanda, na análise “novos tempos” vai


abordar o tema da política no Brasil, em particular sobre o
liberalismo democrático, ele critica que ideais políticos foram
trazidos ao Brasil sem levar em relevância as condições do povo
brasileiro. O autor utiliza a metáfora "trouxemos de terras
estranhas um sistema complexo e acabado de preceitos",
destacando a falta de contextualização e adaptação desses
conceitos à realidade brasileira.

Neste capitulo, Holanda, retrata a mudança do Brasil rural


para o urbano e isso acarretara em transições sociais, econômicas e
políticas, há uma superficialidade citada por Buarque nas
instituições políticas e sociais, uma extensão da cordialidade,
portanto, há uma idealização estrangeira que insistem em
desenvolver no pais, sem estudar uma estrutura, de dentro para
fora, de forma “natural”. Para ele a transformação tem que ser
estrutural e não pela legislação e muito menos uma “copia” de
outros países.

Deste modo, Sergio Buarque de Holanda, trata a democracia


no Brasil como um grande mal-entendido, que pode ser
comprovado no seguinte excerto: “A democracia no Brasil foi
sempre um lamentável mal-entendido” ele utiliza essa frase ao se
referir a crítica da democracia no pais, pois para o autor, serviu
apenas para interesses privados, privilégios e manter as hierarquias.

Diante disso, concluo o meu trabalho com o entendimento


sobre os capítulos do “Homem Cordial” e os “Novos Tempos”,
podendo interligar e refletir também sobre capítulos anteriores da
obra. Ao observar as características da sociedade brasileira e seus
feitos, pude notar a cordialidade como uma grande máscara de
conflitos (corrupções, interesses pessoais, problemas sociais...) e
identificar isso em nossa sociedade ainda nos dias atuais e até
mesmo em mim. Poder compreender as complexidades e desafios
do nosso pais, tanto politicamente como socialmente, é ter uma
noção mais abrangente sobre as raízes históricas do pais.

Você também pode gostar