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A casa e a rua

Roberto DaMatta
Significados das categorias público e privado

Categorias gregas: oikos e polis (casa e cidade).


Representação: espaços distintos e separados
hierarquicamente.
Definição do privado como a negação do público; privado de
ser público.
O público e o privado como categorias
sociológicas
Diversos conceitos de público: o público de um evento; tudo
que vem a público; o público relacionado ao Estado; o
público como ação compartilhada.

Conceitos de privado: a casa; o que é íntimo; o que é


desconhecido.
O público e o privado como categorias de análise
da sociedade brasileira

Qual o conceito de público no Brasil?

Qual o conceito de privado?


Conceitos de público e privado no Brasil
O público: identificação com o Estado, não com a sociedade,
com o que é plural, que pertence a todos.

O privado: identificação com a casa, com a família.


Contribuição de Sérgio Buarque de Holanda

O autor salienta que a família patriarcal no Brasil transferiu para o espaço público sua visão
particularista, vinculando a política a uma extensão do espaço privado familiar:
“O quadro familiar torna-se, assim, tão poderoso e exigente, que sua sombra persegue os
indivíduos mesmo fora do recinto doméstico. A identidade privada precede sempre, neles, a
entidade pública. A nostalgia dessa organização compacta, única e intransferível, onde
prevalecem necessariamente as preferências fundadas em laços afetivos, não podia deixar de
marcar nossa sociedade, nossa vida pública, todas as nossas atividades. Representando, como
já se notou acima, o único setor onde o princípio de autoridade é indisputado, a família colonial
fornecia a idéia mais normal do poder, da respeitabilidade, da obediência e da coesão social,
sentimentos próprios à comunidade doméstica, naturalmente particularista e antipolítica, uma
invasão do público pelo privado, do Estado pela família” (Holanda, 1991, p.50).

Segundo o autor, a família patriarcal fornece o modelo da vida política e do


comportamento sedimentado em laços de sangue e afetivos:
“E um dos efeitos decisivos da supremacia incontestável e absorvente do núcleo familiar – a
esfera, por excelência dos chamados ‘contatos primários’, dos laços de sangue e de coração –
está em que as relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo
obrigatório de qualquer composição social entre nós” (Ibid. p. 106).
É desse ambiente que nasce o homem cordial, aquele que age pelas leis do coração:

[...] “essa cordialidade, estranha, por um lado, a todo formalismo e convencionalismo social, não
abrange, por outro, apenas obrigatoriamente, sentimentos positivos e de concórdia. A inimizade
bem pode ser tão cordial como a amizade, nisto que uma e outra nascem do coração,
procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do privado” (Ibid. p. 107).

Contribuição de Roberto DaMatta


O uso das categorias público e privado para a análise da relação entre
a casa e a rua.

A casa é um ideal da própria sociedade.

Expressões: “estar em casa”; “sentir-se em casa”.

Na rua vivem “os malandros, os pilantras, os marginais”.


Características da casa e da rua
A CASA A RUA
a vontade para falar receio, cautela
mundo humano mundo desumano
amor, carinho, consideração cada um por si
seriedade malandragem
cidadão coberto de direitos elemento marginal
segurança insegurança
Super-cidadão subcidadão
pessoa de caráter ladrão, indigente
abrigo desabrigo
Valores e ideologias
Louis Dumont – Ideologias como valores fundadores de uma
sociedade.

Roberto DaMatta – Ideologias como códigos de conduta.


Valores e ideologias
HOLISMO INDIVIDUALISMO
todo parte
hierarquia igualdade
personalismo individualismo
primado da relação autonomia individual
relação cidadão
Identidade brasileira
“Na constituição da identidade social no Brasil, o isolamento e a
individualização somente devem ocorrer quando não existe
nenhuma possibilidade de definir alguém socialmente por meio de
sua relação com alguma coisa, seja pessoa, instituição ou até
mesmo localidade, objeto ou profissão. Para nós, nada é mais
aviltante do que responder a pergunta: ‘afinal de contas, de quem se
trata?” (p. 65).
Você sabe com quem está falando?
“Não há brasileiro que não conheça o valor das relações sociais e que
não as tenha utilizado como instrumentos de solução de problemas
ao longo da vida. Não há brasileiro que nunca tenha usado o ‘você
sabe com quem está falando?’ diante de uma lei universal e do risco
de uma universalização que acabaria transformando sua figura
moral num mero número ou entidade anônima, destinada a sofrer
as penas de uma prisão injusta ou o arbítrio por vezes brutal dos
órgãos da repressão’ (p. 102).
Cidadania relacional
“É que a sociedade brasileira tem fontes diversas para a classificação
e a filiação de seus membros. Realmente, enquanto as sociedades
que passaram pela revolução individualista instituíram um código de
conduta hegemônico, fundado na ideia de cidadão, as sociedades
relacionais têm muitos códigos de comportamento operando
simultaneamente. Só que eles não estão em competição, são
complementares entre si. Assim, aquilo que um nega, o outro pode
facultar” (p. 97).
Retrato do Brasil

Qual o retrato do Brasil baseado nas definições do público e


do privado, da casa e da rua?

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