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HONRA

Seu sonho é sua vida, vida é trabalho....


E sem o seu trabalho, o homem não tem HONRA,
E sem a sua HONRA se morre, se mata...
(Gonzaguinha)

“O homem que HONRA a si mesmo é capaz de ver as


virtudes de outro homem” (José Marti )

INTRODUÇÃO

Universalização, globalização, internet, o mundo conectado, ou no jargão atual, “linkado”. Em


segundos sabemos o que se passa nos lugares mais longínquos, carregando nossos cérebros
de inúmeras informações, muitas delas nada acrescentando. Temos que aumentar nossa
memória “RAM”!! Nossos valores se transformam, estamos atravessando uma era
extremamente material na virtualidade, sem que percebamos a moralidade está dando lugar à
individualidade. Cada um preocupando consigo mesmo, esquecendo-se do coletivo, o indivíduo
para manter o seu vício rouba do inocente e mata o próprio colega de rua para não ser morto.
Nossos governantes, antes considerados homens de honra, probos, permanecem no altar da
vaidade, realizando benefícios em causa própria ou de seus próximos e esquecendo-se do
povo. A indignação é global em nosso país. O exemplo dado pelos nossos políticos transforma-
se em revolta. A violência dissipa-se exponencialmente. Aterrorizados e acuados em nossas
casas, sentimo-nos em uma verdadeira prisão domiciliar. Neste momento é que questionamos
a vida humana, uma vez que estão cerceando a liberdade, a cidadania e impedindo nos de
expressar os sentimentos interiores.

É desconcertante a realidade de que a sociedade se reveste de incompatibilidades e


intolerâncias, das mais diversas e mesquinhas, e num abandono total da dignidade, cada qual
busca o fácil, o desonesto, o oportuno e o vantajoso, enquanto deveria viver as ocorrências da
vida em comum, num empenho voraz da concretização de vida igualitária e justa e, sobretudo,
com caráter e dignidade.

Os fatos atuais levaram-nos a refletir sobre diversos pontos que influenciam no nosso viver.
Entre esses pontos, um me despertou um pouco mais de interesse, a HONRA; o que resultou
nesta peça de arquitetura. O objetivo do presente trabalho é através da conceituação de
HONRA e sua relação no mundo profano e no mundo maçônico, despertar a todos os irmãos
que acima de todos os fatos devem prevalecer a dignidade, o respeito e a valorização da vida,
transpondo qualquer interesse particular.

CONCEITO DE HONRA

“Honra” é um substantivo feminino e abstrato, que traduz e qualifica diversos aspectos do


caráter humano, relacionados à integridade, à virtude, às boas qualidades humanas. Pode
também ser traduzida como um sentimento que leva o homem a procurar merecer e manter a
consideração pública. Honra por vezes pode significar acatamento, escrúpulo, renome,
dignidade, distinção, estima, reverência, fama, glória, homenagem, probidade, etc.... Todos
estes significados se constituem em valores filosóficos que sinalizam um diferencial e são
componentes do caráter, motivo pelo qual, nenhum deles se mostra de somenos importância.

O estreito vínculo com honestidade e respeito que se tem e se dá ao individuo, a honra se


constitui em atributo intocável, ou imaculável do caráter humano. E, sendo assim, uma marca
indelével do indivíduo, portanto, marca registrada de sua personalidade. Por isso, deve ser
tratada como elemento constitutivo de sua distinção.
A honra sempre esteve ligada aos valores internos, morais e filosóficos, aqueles que para o
indivíduo são de incomensurável estima, e que ao mesmo passo demonstram o seu conceito
diante da sociedade, sendo sob este aspecto uma via de exposição junto à sociedade. Assim,
os fundamentos últimos da honra residem na convicção de que o caráter moral é inalterado:
uma má-ação implica no reconhecimento de que futuras ações do mesmo gênero, sob as
mesmas circunstancias, serão igualmente ruins.

Temos inúmeros exemplos sobre honra que passa por diversos momentos históricos,
transformações sociais, porém em todos os cenários é sempre destacada. Na bíblia Paulo de
Tarso disse aos romanos: “Honra a quem merece honra”, ou seja, quis dizer que aquele que
sabe honrar é uma pessoa honrada e sabe honrar. Na filosofia Montesquieu afirmou que
“honra tem regras supremas, e designa os princípios absolutos de nossas vidas”. Na literatura
bravura e honra embalam “O Velho e o Mar”, em que Hemingway reporta a bravura do homem
com a natureza, e a honra, que permanece intacta mesmo na hora da derrota. Em um dos
momentos mais importantes do livro escreve que “o homem não foi feito para a derrota, ele
pode ser destruído, mas não derrotado”. Miguel de Cervantes, em D. Quixote, exalta que “um
homem desonrado é pior que um homem morto”.

Diante do exposto acima podemos observar que como fonte natural, a honra nasce no interior
do indivíduo e se exterioriza, ganhando enlevo, proporção e vulto na sociedade; porque está
ligada diretamente ao caráter, e este é o vinculo e o mecanismo das relações humanas.

HONRA OBJETIVA E HONRA SUBJETIVA

Considerando que a honra encerra o respeito e a consideração social aliados ao sentimento ou


consciência da própria dignidade, podemos extrair seus dois aspectos: o objetivo e o subjetivo.

A honra objetiva é a reputação, aquilo que os outros pensam a respeito do indivíduo em


relação a seus atributos físicos, intelectuais e morais. É a visão externa, da sociedade.
Depende dessa forma de divulgação da imputação, ainda que dirigida a uma única pessoa.
Assim, quando alguém relata a terceiros um fato desabonador da conduta de outrem, com a
intenção de ofender, seja a imputação falsa de um crime (calúnia), seja um mero fato ofensivo
a sua reputação (difamação), atinge a honra objetiva.

A honra subjetiva é a reputação de cada um a respeito de seus atributos físicos, intelectuais,


morais e demais dotes da pessoa humana. É aquilo que cada um pensa a respeito de si
mesmo em relação a tais atributos, o sentimento individual do próprio valor social. A ofensa a
honra subjetiva independe do conhecimento de terceiros ou do fato de terem eles acreditado
ou não na ofensa. Requer a intenção de ofender do agressor e o sentimento de desapreço
suportado pela vítima.

HONRA E DIREITO PENAL

A Honra é o bem jurídico de maior apreciação da personalidade humana, equiparável à própria


vida. O direito à honra é um dos direitos que compõe o conjunto de direitos da personalidade, e
está assegurado constitucionalmente (artigo 5º, inciso X da Constituição Federal). Este artigo
assegura a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Nossa legislação penal classifica os crimes praticados contra a honra em três: Calúnia (artigo
138 do Código Penal), Difamação (artigo 139 do Código Penal) e Injúria (artigo 140 do Código
Penal), sendo que os dois primeiros, como descritos no item anterior, tutelam o bem jurídico
denominado honra objetiva e o ultimo a honra subjetiva.
HONRA E MAÇONARIA – CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Se desejais tornar-vos verdadeiro Maçom, deveis, primeiro, extinguir as vossas paixões, os
vícios e os preconceitos mundanos que ainda possuis, para viverdes com Virtude, Honra e
Sabedoria. Senhor: crede em um principio criador?”. O V∴M∴dirige-se ao profano no ato de
sua iniciação. Mais tarde, no mesmo ritual de iniciação, o profano presta o seu juramento: “juro
e prometo de minha livre vontade e por minha Honra, em presença do G∴A∴D∴U∴ e.......”.

Como podemos notar, somente adentrará a Ordem um HOMEM DE HONRA, essencialmente


livre e de bons costumes, que levanta templos à virtude e cava masmorras ao vício.

“SER LIVRE” significa, literalmente, não possuir pendências com a sociedade, não ser
prisioneiro ou escravo de algo ou alguém. Não estar apegado à matéria e aos elementos
materiais. Ser livre é estar liberto do Ego, o elemento que nos aprisiona ao corpo de barro e
nos impede de transcender rumo à verdadeira luz. Essa Verdadeira Luz habita todos os seres
vivos e os conecta diretamente a um corpo mais elevado, mas está oculta pelo dogma,
preconceito e demais arestas da pedra bruta. Cada um de nós é uma célula que pertence a um
ente superior chamado Deus, Grande Arquiteto do Universo, o criador; nossa missão é nos
purificar para que possamos voltar a fazer parte desse ente de pura luz.

“BONS COSTUMES” significa obedecer às regras estabelecidas pela sociedade, ser fiel e
obediente às leis e ser possuidor de conduta imaculada. Elevar o pensamento as coisas
positivas e construtivas para que nossa aura se alimente de bons fluídos e irradie com maior
intensidade para levar luz às trevas. Se uma única pessoa representa uma vela na escuridão,
um grupo de pessoas irradiando luz seria o equivalente a um farol que guia e dá rumo aos
desorientados pela ausência de luz.

O maçom tem, portanto, que ser o verdadeiro homem de bem, ou seja, o que pratica a lei da
justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os
atos que praticou, perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem
que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que
desejara que lhe fizessem. Possuído do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o
bem pelo bem, sem contar com qualquer retribuição, e sacrifica seus interesses à justiça. É
bondoso, humanitário e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens,
sem distinção de raças, nem de crenças. Usa da sua autoridade para levantar o moral e não
para esmagar com seu orgulho. O homem de bem não é vingativo, respeita, enfim, em seus
semelhantes, todos os direitos que as leis da Natureza lhes concedem, como quer que os
mesmos direitos lhe sejam respeitados.

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um


e desenvolver a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do maçom, se quiser assegurar
a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.

Or∴de Belo Horizonte, Maio de 2007 E∴V∴

Nivaldo Hartung Toppa P∴M∴I∴

REFERENCIAS:

1- AMARANTE A. Responsabilidade civil por dano a honra, Editora Del Rey, 4ª. Edição,
página 19, 1998.
2- CAUFIELD JK. Em defesa da honra: moralidade e nação no Rio de Janeiro (1918-
1940). Campinas, Editora Unicamp, 1-9, 2000.
3- KARDECK A. O Livro dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, 76ª. Edição, 1995.
4- LEBELL S. A Arte de Viver, Epicteto, O Manual Clássico da Virtude, Felicidade e
Sabedoria, Editora Sextante, 88 páginas, 2006.
5- Ritual do Grau I do R∴E∴A∴A∴. Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Edição de
1928, Revista e Atualizada em 1999, páginas 61 e 74.
6- ROHDEN F. Para que Serve o Conceito de Honra, ainda hoje? Ensaio Bibliográfico,
Campos 7(2):101-120,2006.

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