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Resenha a respeito dos textos “O analista cidadão” e “Racismo 2.

0”, de Éric
Laurent (Aula 3)

Alunas: Catarina Carneiro, Maria Luísa Leite, Martha Penna, Tayna Teotonia, Thayse
Caroline e Shirleide Castro

Ultimamente, com o avanço das tecnologias, internet e, a partir disso, redes


sociais, os debates sobre os mais diversos temas atrelados à sociedade e à democracia
estão se tornando cada vez mais comuns e acessíveis. Como afirma Laurent (2007, p.
142), “com todas essas mudanças, os analistas estão um pouco perdidos: não sabem
exatamente se têm de gritar mais alto para se fazerem ouvir ou se devem serenar os
ânimos”. Logo, é necessário pensar, sendo profissionais considerados contemporâneos,
como nos posicionar diante dos fatores sociais que atravessam o sujeito e influenciam
na sua subjetividade? No texto “O analista cidadão”, Laurent (2007, p. 142) aborda que
“o analista crítico é aquele que não tem qualquer ideal, que se apaga, que é tão somente
um vazio ambulante que não crê em nada”. Assim, ao comparar o analista neutro e o
analista que se posiciona, deve-se discutir e refletir nas possibilidades de obter um
equilíbrio dos dois extremos na prática clínica.
De acordo com Zimerman (2008, p. 75), “o analista deve ser opaco aos seus
pacientes e, como um espelho, não lhes mostrar nada, exceto o que lhes é mostrado”.
Ou seja, durante a relação analítica, Freud postulava que os analistas deveriam se abster
de suas opiniões, personalidades e posicionamentos para não afetar o manejo com os
respectivos analisandos. Mas será que, de fato, é possível nos desvencilhar dos critérios
sociais que afetam a singularidade de determinados indivíduos? Para Laurent (2007, p.
143), “os analistas têm de passar da posição de especialistas da desidentificação para a
de analista cidadão. Um analista cidadão no sentido que esse termo pode ter na moderna
teoria democrática”. Além disso, o autor aborda que:

os analistas precisam entender que há comunhão de interesses entre o


discurso analítico e a democracia, e precisam entendê-lo verdadeiramente!
Há que se passar do analista reservado, crítico, a um analista que participa, a
um analista sensível às formas de segregação, a um analista capaz de
entender qual foi sua função e qual lhe corresponde agora. Nesse sentido, o
analista, mais que um lugar vazio, é aquele que ajuda a civilização a respeitar
a articulação entre normas e particularidades individuais.

A articulação realizada pelo analista cidadão, destacada na citação acima, se dá a


partir do dizer silencioso analítico, mal interpretado pelos próprios analistas. O silêncio
social, mostra uma posição paradoxal dos analistas e teve como consequência o
afastamento da Psicanálise de questões contemporâneas. Para Laurent (2007), a
intervenção silenciosa difere do silêncio, ela é uma denúncia a promoção de novos
ideias como única alternativa para tratar das questões sociais, bem como da tentativa de
retomar a antigos valores de velhos tempos. Por mais genial que Lacan tenha sido, o
texto nos lembra que não vivemos no tempo dele.
A cultura é outra, as técnicas são outras, há todo tempo somos convidados a
avaliar e a sermos avaliados. Embora, pensar na saúde mental como algo a ser
desenvolvida democraticamente seja o que se espera dos profissionais que atuam na
saúde mental, Laurent (2007) nos alerta quanto a fragilidade dos lanços que unem a
democracia e o social, pois são construídos de crenças sociais partilhado, também, pelos
psicanalistas. Diante disso, o autor faz um alerta quanto ao possível surgimento de
cinismo e recorda: “o desejo de curar próprio a quem trabalha na saúde mental tem
pontos cegos.” (2007, p. 150).
Em meio a excitação sobre as novas formas de olhar para as questões de gênero
e novas configurações da sociedade, após ao que foi intitulado como "a revolução dos
costumes sexuais", em Paris de 1968, que trouxe como questionamento o lugar da
função paterna, parecia existir uma onda de aceitação às novas configurações, porém,
Lacan se posicionou sobre as consequências da retirada desse lugar. Em uma entrevista
para a televisão, quando questionado por Miller sobre a sua previsão sobre o aumento
do racismo, ele respondeu:

"Porque não me parece engraçado e, no entanto, é verdade. No desatino de

nosso gozo, só há o Outro para situá-lo, mas na medida em estamos


separados dele. Daí fantasias, inéditas quando não nos metíamos nisso".

[LACAN, 1963 apud LAURENT, 2014, p. 2].

Para Lacan, sem a referência do Outro, há a tendência de se voltar para si,


havendo uma multiplicidade de gozos, e consequentemente fazendo com que
busquemos rechaçar o gozo que não nos identificamos. Para evitarmos o medo da não
identificação como homem, a tendência seria a busca dessa exclusão do gozo do outro,
que se encontra na raiz do racismo.
Ele aponta também para a busca de uma referência através de um Deus
unificador, aquele que detém todo o poder, e que essa liderança, de forma direta ou
indireta, pode levar a retomada de conflitos com quem não segue a mesma doutrina,
como podemos visualizar através da nossa história.
No texto sobre o racismo, o autor fala de um fim do poder dos pais e a chegada
da sociedade dos irmãos, uma fraternidade do corpo. Dessa forma, pode-se entender que
o autor indica uma identificação entre pessoas, formando um grupo, uma união fraterna.
Diante disso, ele observa que haverá um crescimento do racismo em nossa sociedade.
Com a globalização, têm se a perspectiva de integração das nações, mercados comuns.
Ou seja, pessoas do ocidente, podem consumir, produtos, entrar em contato com a
cultura do oriente, e assim por todos os lugares do mundo, muito facilitado também com
o surgimento da internet. A partir disso, ele traz um outro ponto: "No destino do nosso
gozo, só há o Outro para situá-lo, mas na medida em que estamos separados dele". A
partir dessa frase, podemos entender que há a existência de um não saber sobre nosso
gozo, e o que vem a nos orientar sobre ele é justamente essa separação, distanciamento
do Outro. Concluindo que "não sabemos qual é o gozo a nos orientar, só sabemos
rejeitar o gozo do Outro". Dito isso, ele destaca que não se trata do choque de
civilizações, e sim de gozos. O que pode se explicar pela incompreensão das pessoas,
quando entram em contato com diferentes culturas, por exemplo, e muitas vezes o
tomando como subdesenvolvido, inferior. O autor traz que isso vai fragmentando os
laços sociais, uma vez que, as pessoas não conseguem se compreender, se conectar, e
isso vai fazendo com que haja esse apelo a um Deus unificador.
Outro ponto importante que vale destacar, é que o tipo de racismo praticado vai
mudando conforme o tempo, mas que sempre há presença de um gozo que é
considerado como inadmissível. Vemos esse racismo muito claro nos dias de hoje sendo
praticado contra os imigrantes, por exemplo. A política de certos países, como a dos
EUA no período do presidente Trump, atacou fortemente com suas políticas essa
população em prol da "defesa de seus patriotas". Na época, boa parte da população
concordou com essa postura, de que os imigrantes tomariam seus empregos e iriam
contaminar sua cultura. Diante disso, destaca que o ódio unifica. O ódio de um grupo
fortalece os laços sociais e gera a identificação, o líder toma o lugar do pai. A
explicação da lógica do laço social como dito anteriormente, é a de que um homem sabe
que não é um homem, depois eles se reconhecem entre si por serem homens, que não
sabem o que fazem, mas se reconhecem, após isso, afirma ser um homem, não sendo
homem aquele que tem o gozo distinto do meu. Não sabem a natureza de seu gozo, mas
se reconhecem na barbárie, gerando uma identificação. Em contraponto, ele coloca o
psicanalista enquanto aquele que sabe a natureza de seu gozo. E que esse
comportamento no discurso racista, desconhece essa lógica, passando o crime a ser o
assassinato daquele que goza diferente de mim, ou seja, que eu rejeito.
Segundo Laurent (2007), os psiquiatras, os trabalhadores da saúde mental e os
psicanalistas sabem que as democracias e os laços sociais são bastante frágeis, tecidos
de acordo com o manejo delicado de crenças e valores sociais. Diante disso, o analista,
reconhecido no texto como cidadão, útil, deve tomar partido em debates, agindo
conforme a formas democráticas e anti-normativas.

REFERÊNCIAS
LAURENT, E. “O analista cidadão” in A sociedade do sintoma – a psicanálise hoje.
Rio de Janeiro: ContraCapa, 2007.
ZIMERMAN, D. E. Manual de Técnica Psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre:
Artmed, 2008.

LAURENT, E. El racismo 2.0. Tradução, 2014.

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