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2020.2
No artigo “O papel do psicólogo”, Martín-Baró (1996) faz uma crítica à prática da
psicologia, que estaria voltada para as classes dominantes e restrita ao individual. E, em
seguida, aponta para um horizonte que deve guiá-la, independente da área que se trabalhe,
visando uma intervenção efetiva no meio social. Assim, o processo de conscientização é
elencado como esse horizonte. Segundo o autor, o papel do psicólogo consiste em intervir nos
processos subjetivos que sustentam e viabilizam as estruturas de injustiça social.
Em primeiro lugar, o autor coloca holofotes sobre as três principais problemáticas que
têm permeado a população centro-americana: 1) a injustiça social, provocada por uma grande
desigualdade socioeconômica e pela consequente violação dos direitos humanos; 2) a
situação política instável provocada pelas guerras e ameaças de guerras revolucionárias; 3) a
perda da soberania nacional, consequência direta da política estadunidense de combate ao
comunismo em prol da “segurança nacional”. Desenhado esse cenário, é posta em questão a
legitimidade da psicologia tradicional, que se volta para o atendimento de setores sociais mais
abastados e, focando no processo individual e esquecendo o social que o permeia, acaba por
servir de instrumento à ordem dominante para a reprodução do sistema de injustiças.
Com base nisto, o artigo aponta dois exemplos de aplicação prática desse novo modo
de atuação. O primeiro consiste na abertura clínica a esses grupos majoritários que tem
sofrido com os conflitos bélicos, o que se daria através da conscientização de sua identidade
social e sobre os processos que se dão na raíz da guerra. E o segundo se refere à orientação
escolar, que, ao invés de contribuir para a reprodução do sistema, deveria proporcionar o
despertar da consciência crítica. Ainda é importante ressaltar que, o autor não propõe que a
psicologia se restrinja a uma única área, mas que, independente da área de atuação, possa ser
direcionada por um objetivo maior da prática. Baró o chama de “quefazer”, ou seja “que fazer
do ser psicólogo?”. O “quefazer” para o autor é transformação das injustiças através da
conscientização.
REFERÊNCIAS
DE SOUSA, Esther Alves. Silvia Lane: uma contribuição aos estudos sobre a Psicologia
Social no Brasil. Temas em Psicologia, v. 17, n. 1, p. 225-245, 2009.
SAWAIA, Bader Burihan. Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e
transformação social. Psicologia & Sociedade, v. 21, n. 3, p. 364-372, 2009.