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Apresentação da Filosofia

André Comte-Sponville

Capitulo 11:
O Homem
O questionamento sobre o que é um homem e qual a
definição correta pra esse tipo de ser não vem dos dias de hoje,
desde os primórdios da filosofia já se faziam essa pergunta, que
carrega inúmeras e diferentes respostas, mesmo nenhuma delas
tenha sido capaz de satisfazer o desejo dessa pergunta.
Para se definir algo é necessário que a definição caiba para
todo o definido e para ele apenas, algumas definições como:
viver em sociedade, pensar, julgar, falar, rir, etc. não são validas
por serem amplas demais e não caberem somente pra a
humanidade, por outro lado essas mesmas definições são ao
mesmo tempo estreitas demais e não valem para todo o
definido, como por exemplo um débil mental profundo, que não
ri, não fala, não julga e nem por isso deixa de ser um humano.
Isso mostra que um homem continua sendo homem mesmo
quando está incapacitado de ter um funcionamento regular, o
que significa que a definição de homem não pode vir de suas
normas nem de suas funções. A humanidade não é definida pelo
que faz ou que sabe fazer, mas sim pelo que ela é, mas o que ela
é?
A humanidade não se trata de um desempenho
dependente de seus sucessos, mas sim de um dado que
reconhece até mesmo seus fracassos, antes de mais nada somos
uma espécie animal e é necessário recorrer a biologia para
definirmos por conta da experiencia sexuada da humanidade.
Todos nascidos de uma mulher, gerados e não criados, o que nos
leva a outra definição mais genérica que é a de que todo ser
humano é nascido de outros dois seres humanos. A humanidade
é uma fato antes de um valor, uma espécie antes de uma
virtude, nem o pior de nós escapa, visto que nem mesmo o
homem mais desumano de todos pode ser contestado sobre sua
humanidade. Todos nascemos homens, contudo nem todos nos
tornamos humanos e mesmo os que não conseguem atingir a
humanidade podem ser deixados de fora da categoria homem, a
humanidade é recebida antes de ser criada, ela não é uma
filiação e sim uma essência.
A tentativa de se proporcionar a todo homem sua
humanidade não chega a ser válida, superar o homem
modificando seu espirito seria traí-lo ou perdê-lo, não importa se
o ser de um homem for transformado para melhor ou para pior,
em ambos os casos ele será destruído, o homem só continuara
sendo totalmente humano se concordar consigo mesmo em não
ser nem sua causa nem sua ruína. Há um humanismo prático ou
moral que carrega em sua palavra a função de atribuir valor á
humanidade, impondo a si deveres e proibições a todo ser
humano. A humanidade não condena mais práticas como
masturbação ou homossexualismo, pois as mesmas não fazem
mal a ninguém, já estupro, assassinato ainda fazem parte das
ações proibidas, pois violam a integridade e os direitos de outros
homens. Isso mostra muito da moral contemporânea, não existe
mais uma proibição absoluta ou transcendente, mas sim a junção
dos interesses da humanidade que dita o ritmo dessas leis.
O humanismo prático diz respeito mais as ações do que aos
pensamentos e contemplações, sendo que o que vale não é o
que sabemos ou acreditamos da humanidade, mas sim o que
queremos e faremos para a mesma. Portante o humanismo
prático é o humanismo como moral,agir humanamente
justamente pela humanidade.
Existe outro humanismo que podemos chamar de teórico
ou transcendental, ele trata do que saberíamos ou deveríamos
crer do homem e de seu valor, o que viria a fundamentar nossos
deveres em relação a ele. O que mais sabemos do homem é que
ele é capaz do pior, e que age com mais frequente de forma
medíocre do que agindo por um melhor. O homem não é o que é
porque escolheu ser, mas sim por resultado do princípio, ele tem
uma sociedade e um inconsciente que o governa muito mais do
que é governada por ele. O homem não é causa de si nem de
senhor de si mesmo, ele é o resultado da história que o constitui
e o atravessa sem ao menos que ele saiba, o homem faz parte da
natureza, de uma história que ele cria e que o cria, faz parte de
uma sociedade, de uma época e de uma civilização.
Ele é capaz do pior pois é um animal, um animal que sabe
morrer e que tem pulsões, paixões e fantasmas, há tanta
violência dentro dele, tanto medo e desejo, um animal do qual
sempre devemos nos proteger e que sempre devemos proteger.
O que sabemos sobre o homem não diz nada sobre o que
queremos que ele seja, a crueldade e o egoísmo são explicáveis
mas também não dizem nada sobre seu valor, enquanto o amor
a compaixão existem e valem mais, porém só valem mais numa
certa ideia do homem, conhecer não é julgar e o anti-humanismo
teórico das ciências humanas é o que da a urgência e o estatuto
ao humanismo prático, que não consiste numa teoria ou numa
crença, mas sim no combate pelos direitos humanos e nos
deveres de cada um de nós.
A humanidade é uma espécie, necessária de se preservar e
uma história que é necessária conhecer, não é necessário ter fé
nela, pois a mesma não precisa, é necessário ter fidelidade, e
sempre a manter andando, mesmo sem nem sempre ter ao certo
a direção. Melhor do que crer no homem é conhecê-lo do que
jeito que ele é, e ao mesmo tempo desconfiar dele, o único
humanismo que vale é agir humanamente, visto que, o homem e
não é Deus então cabe a nós fazer com que ele seja pelo menos
humano. O homem não morreu, em nenhuma de suas formas,
contudo o mesmo é mortal, por isso é necessário defendê-lo.

Thomaz Rocha Lemos Arenzon


RA00231609

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