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Estatuto moral dos animais 

Nós os humanos servimo-nos, todos os dias, dos animais, através da alimentação,


vestuário, na realização de experiências científicas e em outros fim, como o entretenimento.
Mas muitas das vezes o modo como os usamos envolve a morte ou sofrimento dos animais.

A exploração dos animais não humanos atingiu níveis muito altos, isto levou a que os
filósofos a dar mais atenção ao problema de saber como devemos tratar os animais não
humanos. Começaram a questionar-se “será que os animais são dignos de consideração
moral?” ; “Que direitos têm os animais não humanos?”.

De acordo com Aristóteles e Kant, os animais não humanos não têm estatuto moral, estão
fora do domínio da ética (relações entre seres humanos). Esta perspectiva baseia-se numa
visão do mundo na qual os animais não humanos existem para nosso benefício.

Os animais não têm consciência de si e existem apenas como meio para um fim. Esse fim é o
homem. Podemos perguntar «Por que razão existem os animais?». Mas perguntar «Por que razão
existe o homem?» é fazer uma pergunta sem sentido. Os nossos deveres em relação aos animais
são apenas deveres indirectos em relação à humanidade.

Immanuel Kant, Lições de Ética, 1775-1780, trad. de Pedro Galvão, p. 239

Isto é não temos dever em relação aos animais não humanos, mesmo assim é errado
tratá-los de certas maneiras. Kant afirma que, se um cão serviu fielmente o seu dono
durante muito tempo, o seu serviço me- rece ser recompensado. Quando o cão fica
demasiado velho, o seu dono deve mantê-lo até ele morrer.

Kant reconhece que os animais não humanos têm semelhanças connosco, e que através
dessas semelhanças concluímos que quem trata mal os animais não humanos cria uma
disposição para também tratar mal o ser humano.

Por que razão devemos, então, não ser cruéis com os animais não humanos? Porque é
errado fazê-los sofrer? ​Kant pensa que não, pois não temos deveres em relação ao animais
não humanos, como o dever de não infligir sofrimento, logo a única razão pela qual não
devemos tratar os animais com crueldade é que isso levar-nos-ia a tratar os humanos
também com crueldade. Concluímos que nós, seres humanos, temos deveres indiretos em
relação aos animais não humanos.

Segundo esta perspectiva, justifica-se tratar cruelmente os animais quando isso nos pode
trazer benefícios, como o seu uso na ciência, por muito sofrimento que envolva, nada tem
de errado porque serve um objetivo louvável: a aquisição de conhecimento. Mas condena a
crueldade quando é exercida por diversão.

Charles Darwin opôs-se a esta teoria, e desenvolveu então a teoria da evolução das
espécies por seleção natural. Esta teoria defende que é simplesmente falso que os animais
não humanos existam, ou tenham sido criados, para nosso benefício, ou seja, nós

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descendemos de outros animais e, tal como eles, somos um resultado da selecção natural,
que é um mecanismo que produz a evolução das espécies sem ter em vista qualquer
propósito ou finalidade:

“A evolução das espécies não tem em vista qualquer propósito ou finalmente.”

Por outro lado o especismo diz-nos outra coisa:

Diz-nos que mesmo que os animais não tenham sido criados para o nosso benefício,
podemos continuar a aceitar que só nós temos estatuto ou importância moral, pois somos
racionais, isto dá-nos um estatuto moral superior.

Talvez chegue o dia em que a restante criação animal venha a adquirir os direitos que nunca lhe
poderiam ter sido retirados senão pela mão da tirania. Os franceses já des- cobriram que o negro da
pele não é razão para um ser humano ser abandonado sem remédio aos caprichos de um
torcionário. É possível que um dia se reconheça que o nú- mero de pernas, a vilosidade da pele ou a
terminação do os sacrum são razões igualmente insuficientes para abandonar um ser sensível ao
mesmo destino. Que outra coisa poderia traçar uma linha insuperável? Será a faculdade da razão ou,
talvez, a faculdade do discurso? Mas um cavalo adulto é, para lá de toda a comparação, um animal
mais racional, assim como mais sociável, que um recém-nascido de um dia, de uma semana ou
mesmo de um mês. Mas suponhamos que não era assim; de que serviria? A questão não está em
saber se eles podem falar ou pensar, mas sim se podem sofrer.

Jeremy Bentham, ​Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação, 1789, Cap. ​XVII​, Sec. 1

Jeremy Bentham considera esta resposta insatisfatória pelo facto de alguns seres humanos,
como recém-nascidos e deficientes mentais, não serem racionais. O argumento de
Bentham é simples, mas revolucionário. Ao determinar que seres estão abrangidos pela
ética, é tentador usar um critério como a capacidade de pensar ou de usar uma linguagem.
Mas se o fizermos, teremos de excluir da ética não só os animais, mas também alguns
seres humanos, como crianças recém-nascidas ou deficientes mentais profundos.Propõe
então que apenas um ser senciente, capaz de sofrer e ter sentimentos, pode ter estatuto
moral.

Peter Singer desenvolveu a ideia de Bentham e explorou as suas consequências práticas.


Singer pensa que não há qualquer critério aceitável que permita fazer coincidir a fronteira da
moral com a fronteira entre os seres humanos e todos os restantes animais. Por isso, quem
insiste que só os seres humanos têm importância moral incorre no especismo. Peter Singer
compara o especismo ao racismo, o simples facto de sermos humanos não nos dá um
estatuto moral superior. A perspectiva de Singer é controversa, mas não tem certas
consequências que muitos considerariam manifestamente absurdas, como a de que matar
um rato é tão grave como matar um ser humano. Singer salienta que é preciso distinguir o
mal de fazer sofrer do mal de matar.

A dor e o sofrimento são maus e devem ser evitados ou minimizados, independente- mente da raça,
sexo ou espécie do ser que sofre. O maior ou menor sofrimento provocado por uma dor depende de
quão intensa ela é e de quanto tempo dura, mas as dores da mesma intensidade e duração são
igualmente más, quer sejam sentidas por seres humanos, quer o sejam por animais. Quando

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consideramos o valor da vida, já não podemos dizer com tanta confiança que uma vida é uma vida e
que é igualmente valiosa quer se trate de uma vida humana quer se trate de uma vida de outro
animal. Não seria especismo defender que a vida de um ser autoconsciente, capaz de pensamento
abstracto ou de planear o futuro, de actos de comunicação complexos, etc., é mais valiosa que a vida
de um ser sem essas capacidades.

Peter Singer, ​Ética Prática, 1993, trad. Álvaro Fernandes, pp. 81-82

Se concordarmos que o especismo, à semelhança do racismo ou do sexismo, é um


preconceito moral que não pode ser sustentado ou justificado. ​O que devemos pensar sobre
práticas como o uso de animais não humanos na alimentação ou na investigação científica?
A resposta a esta pergunta depende em parte da teoria moral que aceitamos. E os filósofos
que se opõem ao especismo não aceitam todos a mesma teoria moral. No próprio
movimento de defesa dos animais, existem duas perspectivas éticas muito diferentes. Uma
delas, a utilitarista, tem Peter Singer como principal representante e a outra, a perspectiva
dos direitos, baseia-se numa visão deontológica da ética, defendida por Tom Regan.

Ao avaliar as consequências das nossas ações, temos de pensar no bem-estar de todos os


seres sencientes, seja qual for a sua espécie. Estamos longe de tal imparcialidade, pois,
fazemos sofrer intensamente os animais não humanos, para produzir ou testar bens
perfeitamente dispensáveis, como carne ou novas marcas de cosméticos, fazemos milhares
de milhões de animais viver e morrer em grande sofrimento. Assim, conclui o utilitarista,
temos de acabar com todo o tipo de uso dos animais não humanos que não produza
benefícios significativos.

Depois de tudo isto, na minha opinião, os animais não humanos deviam ter o mesmo
estatuto moral que nós seres humanos, pois eles, tanto como nós, sentem dor, têm
sentimentos, a unica diferença entre nós e eles é a racionalidade e a aparência. Muitos de
nós tratam os animais não humanos com desprezo e de uma maneira irracional, cruel, e na
minha opinião isso é errado, e concordo com Kant quando diz que um ser humano que trate
os animais com crueldade vai, consequentemente, tratar um humano de igual forma, pois
esse ser humano está a maltratar um ser. Outra das coisas erradas que muitos seres
humanos fazem é matar animais por diversão, na minha opinião matar animais para a
alimentação, sempre com moderação, é aceitável, pois querendo ou não nós dependemos
disso, mas matar por diversão é algo que, na minha opinião, é inaceitável. Um bom exemplo
são as Touradas, um espetáculo violento em que o Hoem tem como objetivo de “ganhar” ao
touro, e na minha opinião as touradas deviam ser proibidas ou o homem devia estar
exatamente como o touro, nu e sem armas, assim tornava as touradas justas. Muitos touros
morrem para diversão de seres humanos, e isso devia acabar. Também acho errado criar
animais em cativeiro, deixar um ser sem a sua liberdade. Um animal devia crescer e
desenvolver se no seu habitat natural, num ambiente em que ele possa estar confortável.

Concluindo, na minha opinião os animais deviam ser tratados de uma forma racional, ou
seja deviam ter um estatuto moral um pouco inferior ou igual ao ser humano.

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