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Perguntar quantos na sala são canhotos, quantos são destros , e quantos são destros de
nascença.
“Que semelhança mais perfeita existe entre nossas duas mãos! E, no entanto, que
impressionante desigualdade! Para a mão direita vão as honras, as designações lisonjeiras,
as prerrogativas: ela age, ordena e toma. A mão esquerda, ao contrário, é desprezada e
reduzida ao papel de uma humilde auxiliar: sozinha nada pode fazer; ela ajuda, ela apóia,
ela segura.”
e se questiona : Quais são os títulos de nobreza da mão direita? De onde vem a servidão
da esquerda?
“O modo diferente pelo qual a consciência coletiva concebe e avalia a direita e a esquerda
aparece claramente na linguagem.”
No entanto, “este privilégio não seria, diz Hertz, “ inerente à estrutura do genus homo, o
mas deveria sua origem exclusivamente às condições exteriores ao organismo"
Mesmo que a anatomia explique este fato “na medida em que ele resulta da estrutura do
organismo ,e por mais força que se suponha ter este determinante, ela é incapaz de
explicar a origem do ideal ou a razão para sua existência.
“ O fato é que não se aceita ou se cede à desteridade como uma necessidade natural: ela é
um ideal ao qual todos precisam conformar-se e o qual a sociedade nos força a respeitar
por meio de sanções positivas”.
Ou seja, a desteridade é antes um fato social, como definido por Durkheim, do que um fato
relativo à nossa anatomia. É próprio da escola francesa atestar a existência desse plano
fenomênico, originado das relações complexas entre indivíduos. A sociedade para ele, se
manifesta enquanto um organismo, um todo maior que suas partes funcionais.
Isto é, está atrelada à funções que dizem respeito à manutenção da ordem social,
principalmente no que diz respeito à divisão social, sendo de certa forma um reflexo
simbólico desta.
Ora, mesmo que esses campos sejam tocados por diversas disciplinas e epistemes, eles
estão mais fortemente atrelados à manifestação da religiosidade. É próprio da religião
definir o que é belo ( estético ) e bom ( moral ), e sendo ela um fenômeno manifesto em
toda a experiência humana é de suma importância considerar o seu efeito nas sociedades.
“As ideias secularizadas que ainda dominam nossa conduta nasceram de uma forma
mística, no reino de crenças e emoções religiosas A vida em sociedade envolve um grande
número de práticas que, sem ser integralmente parte da religião, estão estreitamente
ligadas a ela. Todos estes usos, que parecem ser puras convenções hoje, são explicadas e
adquirem significado quando relacionadas às crenças que lhe deram origem.”
Portanto, entender o religioso é de certa forma entender o social. É preciso se indagar até
onde um afeta o outro, entendo primeiro suas características. Dentre elas, dirá Hertz:
“Uma oposição fundamental domina o mundo espiritual dos homens primitivos, aquela
entre o sagrado e o profano.”
Sagrado e Profano, são manifestações da ideia de ordem e caos, ser ou não ser que
permeiam o imaginário humano e determinam suas ações enquanto sua beleza e
moralidade. René Girard , estudioso das religiões comparadas irá dizer que o sagrado é
saturado de poder, é o Ser por excelência, como dizem os metafísicos. “É, portanto, fácil de
compreender que o homem religioso deseje profundamente ser, participar da realidade,
saturar-se de poder.”
“ O direito é o lado dos deuses, onde paira a figura branca de um bom anjo da guarda; o
lado esquerdo é dedicado aos demônios, o mal; um anjo negro maligno o mantém sob seu
domínio. Até mesmo hoje, se a mão direita é ainda a chamada boa e bonita e a esquerda
má e feia. A direita é o interior, o finito, o bem-estar assegurado e a paz; a esquerda é o
exterior, o infinito hostil e a ameaça perpétua do mal.”
“Por séculos, a paralisação sistemática do braço esquerdo tem como outras mutilações,
expresso a vontade que anima os homens a fazer o sagrado predominar sobre o profano, a
sacrificar os desejos e o interesse dos indivíduos às exigências sentidas pela consciência
coletiva, e a espiritualizar o próprio corpo marcando nele a oposição de valores e os
violentos contrastes do mundo da moralidade.”
“ consiste de dois universos diferentes, um dos quais é caracterizado pela palavra de código
"natureza" e o outro pela de "história" ou "cultura”,” ou seja, “ um mundo que pode ser
representado muito claramente através de símbolos de regularidades imutáveis ( natureza)
e um mundo que representa a estrutura de uma mudança sequencial incessante numa ou
duas direções complementares ( cultura)” ( Nobert Elias)
Entretanto, se atentarmos mais uma vez ao estudo de Hertz , veremos que, mesmo que
pertencente ao mundo cultural, “Toda hierarquia social afirma estar baseada na natureza
das coisas, atribuindo-se assim eternidade e evitando mudanças e ataques de inovadores
“Claro e escuro, dia e noite, leste e sul em oposição a oeste e norte, representam no
imaginário e localizam no espaço as duas classes contrárias de poderes sobrenaturais: de
um lado a vida nasce e sobe, do outro ela desce e se extingue.”
Para o homem: “O universo inteiro está dividido em duas esferas contrastantes: coisas,
seres e poderes atraem ou se repelem mutuamente, incluem ou se excluem mutuamente,
dependendo do fato de gravitarem em direção a um ou outro dos pólos.”