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Abril, 2017
i
Dissertação apresentada para o cumprimento dos requisitos indispensáveis à
obtenção do grau de Mestre em Terminologia e Gestão da Informação de Especialidade,
realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Maria Teresa Rijo da
Fonseca Lino.
ii
DECLARAÇÕES
O candidato
Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri
a designar.
A orientadora
iii
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, à minha esposa, aos meus irmãos, especialmente às minhas
princesinhas (filhas), bem como aos amigos que cooperaram, directa e indirectamente,
na elaboração desta pesquisa.
iv
AGRADECIMENTOS
Antes de tudo gostaria de referir que este projecto de formação só foi possível
chegar ao fim, graças a Deus e também aos contributos de muitas pessoas e instituições.
Tentaremos referir algumas pessoas e instituições que mais directamente contribuíram
para a concretização deste trabalho.
Agradeço a Deus, como não podia deixar de ser, pelo dom da vida, pela saúde e
pelas inúmeras outras bênçãos que me deu e me dará todos os dias, enquanto eu viver.
À Professora Doutora Maria Teresa Rijo da Fonseca Lino pela orientação deste
trabalho de dissertação, pelo seu profissionalismo com que nos transmitia todo o
conhecimento de que necessitávamos e sobretudo pela paciência e carinho com que nos
tratou durante a condução deste processo.
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
For this study we employed specific theories and methodologies from the fields
of Anthroponymy and Lexicology. We also resorted to a series of field research
procedures, such as interviewing the elders, i.e. ‘sekulu’, of the community. We also
performed a document research, which consisted in the collection of a series of official
documents (e.g., birth certificates, identity cards, birth records, etc.), where we found
obvious examples of the graphic variation of some Olunhaneka anthroponyms.
vii
ÍNDICE
DEDICATÓRIA ............................................................................................................ iv
AGRADECIMENTOS..................................................................................................... v
0. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1
viii
2.6. PARTICULARIDADES FONÉTICAS E FONOLÓGICAS DA LÍNGUA
OLUNHANEKA ....................................................................................................... 38
2.6.1. SONS VOCÁLICOS ................................................................................................. 38
2.6.2. SONS CONSONÂNTICOS ...................................................................................... 39
2.6.3. SÍLABA: ESTRUTURA SILÁBICA ....................................................................... 41
CAPÍTULO III ............................................................................................................. 43
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 64
ix
0. INTRODUÇÃO
A antroponímia constitui-se, por isso, num rico acervo de cultura porque por
meio dela se pode reflectir, ainda que de forma implícita, nas vivências do homem,
enquanto indivíduo, e na sua relação com o grupo étnico em que se encontra inserido.
Com o presente trabalho procuramos dar conta de um problema que tem a ver
com a constante perda do valor sociocultural e identitário presente nos significados dos
antropónimos das línguas bantu. A maioria de famílias angolanas, principalmente a
juventude, pouco ou quase nada sabe desse acervo cultural antroponímico. Pelo que
procuramos entender, neste estudo, a razão de ser desta situação, além de ser também
nosso interesse a reflexão em alguns aspectos de natureza linguística, especialmente os
relacionados com a variação gráfica de alguns antropónimos de origem bantu que, aliás,
constitui o nosso principal foco.
1
Tal procedimento tem causado um outro problema de natureza linguística, ou
seja, o da variação gráfica ou incoerências gráficas com que geralmente são
representados alguns antropónimos, sobretudo os de origem bantu. Essas incoerências
são geralmente verificadas na alternância gráfica com que aqueles antropónimos são
escritos, até mesmo em documentos oficiais, especialmente no que se refere ao uso de
alguns morfemas e sequências vocálicas e consonânticas.
1
«Grau de satisfação de requisitos (3.1.2.) dados por um conjunto de características (3.5.1)
intrínsecas» (NORMA ISO, 9000/2005).
Para Raquel Silva (2014) «é um conceito operacional cada vez mais enraizado nas políticas de
cultura das empresas e organizações que promovem ciclos integrados e sistemáticos de
revisão e melhoria dos seus sistemas de produção, com vista ao aumento da qualidade dos
seus produtos ou serviços […]» (SILVA, R. 2014:51)
2
Além das considerações teóricas, baseadas em consulta de bibliografia, para a
compreensão da situação sociocultural, geográfica e histórica dos grupos étnicos do
sudoeste da Angola, particularmente os localizados na Província do Namibe, recorremos
também aos métodos e procedimentos de transmissão oral como as entrevistas com
anciãos das comunidades e professores, baseadas em diálogos de carácter informal
acerca dos significados de alguns nomes próprios pertencentes à comunidade dos
Ovanhaneka. Procedemos também à recolha, em algumas instituições, de alguns
documentos (listas nominais, assentos de nascimento, cópias de bilhetes de identidade,
cédulas pessoais), para a análise de aspectos ortográficos.
3
qualidade de serviço prestado pelos funcionários destes órgãos da Administração
Pública.
Por outro lado desejamos que a divulgação do resultado desta pesquisa possa
também fornecer subsídios para os futuros pesquisadores dessa matéria antroponímica,
permitindo contrabalançar, de modo aberto e crítico, a cultura globalizante,
massificadora e, muitas vezes, “sem dono” num país (Angola) que se pretende reafirmar
através de uma cultura própria, embora inserida, como é evidente, num contexto global.
4
CAPÍTULO I
5
À ciência linguística que se ocupa da descrição do léxico nos seus aspectos de
forma e de conteúdo, enquanto meio de representação do mundo extralinguístico, dá-se
o nome de Lexicologia. O léxico constitui-se, por isso, no objecto de estudo da
Lexicologia.
6
1.1.1. LÉXICO E VOCABULÁRIO
O léxico geral tem a ver com a totalidade das palavras de que dispõe uma
comunidade linguística numa determinada época e o individual é parte do léxico geral,
correspondente ao vocabulário e que, pouco a pouco, o sujeito falante vai integrando no
seu conhecimento linguístico.
7
Os nomes próprios são o objecto de estudo da Onomástica. Para Raposo e
Barcelar do Nascimento (2013:1004), a Onomástica é «a disciplina da linguística que
estuda os nomes próprios canónicos (do ponto de vista da sua morfologia, origem e
motivação)». Ou seja, o léxico onomástico constitui-se num conjunto de unidades
linguísticas com as quais se pode fazer referência a entidades específicas do mundo,
como sejam pessoas, lugares, etc.
2
Para J. Leite Vasconcelos, nome próprio é «nome completo ou conjunto formado pela
designação individual propriamente dita, acompanhada de outra ou outras designações que de
ordinário se lhe juntam». Sobrenome «um patronímico, nome de pessoa, expressão religiosa
ou outra, que se junta imediatamente ao nome individual, com o qual como que forma
corpo». E define a alcunha «[…] uma designação acrescentada ao nome normal do indivíduo,
por outros, que neste observam certa particularidade ou certa qualidade física ou moral digna
de nota, ordinariamente jocosa ou insultuosa, mas também séria». (VASCONCELOS, J. L.,
1928:11)
8
A Antroponímia constitui-se, tal como já nos referimos anteriormente, num dos
ramos da Onomástica que se encarrega de estudar nomes próprios de pessoas, nomes
parentais ou sobrenomes e os apelidos, explicando a sua origem, a razão do seu
emprego, a sua evolução, bem como a variação que esses nomes sofrem, tendo em conta
os factores sociais, geográficos, cronológicos e os diversos costumes.
9
Neste trabalho de dissertação, cingir-nos-emos à Antroponímia, por ser a secção
da Onomástica em que se insere o nosso objecto de estudo, ou seja, acerca da
antroponímia, especialmente a da Província do Namibe.
Atribuir um nome próprio a uma pessoa é uma tarefa séria. A partir desse
momento, garante-se à pessoa a sua existência como ser humano único que inicia a
construção da sua própria identidade. Por isso, não deve ser feito de modo aleatório. Os
pais ou aquele que atribui o nome têm uma série de intencionalidades que vão desde
aquilo que esses pais desejam simbolizar ou quem desejam homenagear etc., tendo em
conta os significados profundos do nome, ligados até mesmo à sua vida sentimental.
Pelo que, este acto pode perpassar todo um ritual consciente e simbólico que representa
sempre algo muito especial para quem nomeia.
«Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais do campo e todas
as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo
o que o homem chamou a todo ser vivo, isso foi o seu nome. Assim o
homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos
os animais do campo […]» (GÉNESIS 2: 19-20).
10
O facto é que antes disso, o próprio Deus denominou o homem “Adão”, nome
derivado de “Adam” que, na língua hebraica, significa “homem criado a partir da terra”.
Adão por sua vez denominou sua mulher “Eva”, nome também derivado do hebraico
“hav.váh” que significa "mãe de todos os seres vivos", conforme consta do capítulo três,
versículo vinte de Génesis, livro da Bíblia Sagrada já referido.
No contexto literário, por exemplo, podemos, por via dos antropónimos, indicar
o assunto relacionado com uma época literária determinada, sobretudo no caso de certos
nomes mitológicos, literários ou heterónimos ou ainda históricos, devido à sua carga
metafórica, às suas associações positivas ou negativas.
3
«Na função vocativa, os nomes próprios são usados pelo falante para se dirigir ao ouvinte,
para chamar por ele, atrair a sua atenção, avisá-lo de uma determinada situação, etc. […]»
(RAPOSO, P. e NASCIMENTO, M., 2013:1016)
4
«[…] nesta função, os nomes próprios, no singular, referem uma entidade particular num
determinado contexto situacional ou discursivo, entidade essa identificada pelo falante através
do seu nome, e que este assume que o ouvinte está igualmente em condições de identificar,
também através do nome» (RAPOSO, P. e NASCIMENTO, M., 2013:1013)
11
Relativamente a alguns nomes próprios como Deus, Rabelais, Paris, etc.,
Oswald Ducrot e Tzvetan Todorov (1982: 300-301) afirmam que «os gramáticos
entendem que o facto de o referente de um nome próprio ser normalmente único,
conclui-se, por vezes, que o nome próprio é um simples rótulo colocado a uma coisa,
que tem um referente, mas não sentido […]». Por isso estes autores concluem ser
“anormal” empregar um nome próprio, se não se pensar que esse nome diz alguma coisa
ao interlocutor, ou seja, se esse interlocutor não tem alguns conhecimentos sobre o
portador desse nome. Porém, referindo-se ao sentido dos nomes próprios, aqueles
autores afirmam:
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familiar. Às vezes, o nome próprio é utilizado como meio de afirmação do indivíduo,
como expressão da sua identidade pessoal ou ideológica.
Por isso o autor acima citado refere-se à origem dos nomes próprios, observando
que «os nomes pessoais nascem, em regra, de expressões da língua comum, isto é, de
palavras simples de derivados e de compostos, ou de frases: e referem-se em seus
primórdios, conforme às línguas, às coisas e aos fenómenos da natureza, ao tempo
(como duração), à geografia, a qualidades físicas e morais dos indivíduos, a
circunstâncias, necessidades e ocupações da vida ordinária, à religião ou à magia, a
guerra, a domínio (em todo o sentido), a estados sociais, etc.» (VASCONCELOS, J. L.,
1928:23)
13
1.4.1. ANTROPONÍMIA E RELIGIÃO
5
«Processo que consiste na criação de um novo termo a partir do apagamento de parte da
palavra que lhe deu origem» (CUNHA e CINTRA, 2014:148).
14
reduplicação6 e amálgama7. Assim surgem novas unidades antroponímicas, usuais hoje
em dia em ambientes familiares e não só, e enriquecem o léxico antroponímico:
«De modo más explícito el Rirual Romano, en vigor desde 1614, recomenda
que el ministro cuide que los nombres que se imponham no sean obscenos,
fabulosos o ridículos ni de dioses vanos o de paganos; antes bien, hasta
donde pueda, de los santos para que com su ejemplo los fieles se inclinem a
vivir devotamente y protegidos por su patrocinio» (CASTRO, D., 2014: 29).
6
A reduplicação é um processo de formação de novos antropónimos familiares, a partir de
atrofiamento de outros mais extensos.
7
«As amálgamas (também conhecidas como mots-valise ou blends) são unidades lexicais
constituídas com partes de outras palavras, que se juntam, formando uma palavra gráfica»
(CORREIA, M.,2012:57).
8
Na tradição judaica a palavra referia-se às pessoas que não eram judias, ou seja, ao povo que
no era descendente de Abraão, Isaque e Jacó, considerado, por Deus, como uma nação santa.
15
1.4.2. INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO
Pelo que a escolha dos antropónimos não escapa à erosão desses valores
globalizadores que, por razões de ordem fundamentalmente metafórica, associadas aos
sonhos idealizados a partir de um mundo de fantasias oferecidas através de novelas e de
cinemas, levam as famílias à adopção de nomes de certos personagens da moda e da
arte.
«O Dicionário da Língua Portuguesa “Aurélio Seculo XXI” (1999) define-o «aquele que
professava o paganismo; idólatra; que segue o paganismo; idólatra […]»
16
«[…] la dinâmica en virtud de la cual se amplían y diversifican los
repertórios de nombres personales en las sociedades occidentales modernas,
determinando diferencias apreciables entre unas generaciones y otras, y en
los tempos más recientes suscitando contrastes muy marcados entre las
mismas en ciertos países, se relaciona grosso modo com los processos
generales de modernización e, igualmente, com los mecanismos que dictam
los comportamentos personales y sociales de aceptación e irradiación de
modas». (CASTRO, D., 2014: 135).
17
CAPÍTULO II
18
O maior grupo étnico bantu é o dos Ovimbundu o qual se concentra,
maioritariamente, no centro - sul do país, ou seja, no Planalto Central e em algumas
áreas adjacentes, especialmente na faixa do litoral. A sua língua, Umbundu é falada no
Bié, Huambo e Benguela e em zonas vizinhas.
Devido à guerra civil que se desencadeou em Angola nas três últimas décadas,
muitos membros dessa etnia fugiram das suas zonas, fundamentalmente aqueles que
habitavam o espaço rural, e refugiaram-se para os espaços urbanos, habitando nas
capitais provinciais como Benguela, Lubango e Namibe. A grande maioria instalou-se
em Luanda e a sua língua, a Umbundu, difundiu-se por outras regiões do país onde não
era falado antes.
Os Tchokwe estão presentes numa boa parte do leste de Angola, desde a Lunda
Norte ao Moxico e até mesmo ao Bié. Enquanto na parte norte daquela região
constituem, juntamente com os lunda, a população exclusiva, a sua presença mais a sul
é, cada vez mais, dispersa e mistura-se com a língua, habitualmente designada pelo
termo Ngangela.
19
nacional. É, na verdade, a língua de apenas uma população residente a leste e sul de
Menongue e noutras partes do país, embora em número muito reduzido.
Diferente é o caso dos Ovambo que são um grande grupo étnico existente,
principalmente, na Namíbia, mas em parte significativa também na província do
Kunene, no sul de Angola. A sua língua é o Oshivambo, a língua africana mais
importante da Namíbia. Em Angola esta língua é, geralmente, falada na forma dos
dialectos, próprios dos diferentes subgrupos. O subgrupo de maior destaque é aqui o dos
Ovakwanyama.
20
Quanto aos grupos etnolinguísticos de Angola e suas respectivas línguas, o
quadro abaixo reflecte apenas o grupo bantu:
1 Ovimbundu Umbundu
2 Ambundu Kimbundu
3 Tuchokwe Tchokwe
4 Bakongo Kikongo
5 Vangangela Ngangela
6 Ovanhaneka Olunhaneka
7 Ovahelelo Oshihelelo
8 Ovakwanhama Oshikwanhama
NÃO BANTU
21
2.2. SURGIMENTO DA LÍNGUA PORTUGUESA EM ANGOLA
22
Foi sobretudo com o desencadeamento da guerra civil, iniciada no período pós -
independência que este idioma, o português, se expandiu e, rapidamente, os angolanos o
adoptaram como língua de contacto nas suas relações entre povos de regiões e línguas
bantu diferentes e que, devido à guerra, passaram a concentrar-se mais nos espaços
urbanos. Pelo que, por meio do português estabeleceu-se um patamar de comunicação e
compreensão em que todos angolanos se pudessem inserir.
Portanto o êxodo das populações do espaço rural para as cidades capitais como
Luanda, Benguela, Lubango, Sumbe, Namibe, etc., devido à instabilidade política e
social, rapidamente impulsionou a expansão do português que, por necessidade de
comunicação, foi e, diga-se em boa verdade, continua a ser a língua fundamental de
contacto da vida social e cultural para os diferentes grupos etnolinguísticos que
encontraram refúgio nestas cidades. Tendo em conta aquela situação sociopolítica, Ivo
Castro já acreditava numa mudança sociolinguística do país. Assim, referiu-se à
importância social do português, nos seguintes termos:
«Nessa situação, torna-se necessária uma língua veicular que não seja a
língua nacional de cada um mas, por exclusão de partes, o português.
Adoptado como veicular pelos adultos, é aprendido pelas crianças como
língua primeira, o que a médio prazo poderá alterar bastante a distribuição
das línguas no país e conferir ao português um papel central» (CASTRO, I.,
2005:37).
23
Annette e Radefeldt (2015:17) atestam que «além do português, fala-se em
território angolano cerca de 100 línguas africanas, que se podem agrupar em onze
famílias linguísticas maiores. Do ponto de vista tipológico, estas línguas pertencem, por
um lado, às línguas bantu e, por outro, às línguas Khoisan».
24
Ocorre, geralmente entre falantes adultos que, na maior parte das vezes, tem o português
como língua segunda.
Namibe é uma das dezoito províncias de Angola, país que se situa na região
Austral do continente africano cuja extensão territorial é de 1.246.700 km². Esse país
está limitado a Norte pela República do Congo e a República Democrática do Congo, a
25
Leste pela Zâmbia, a Sul pela República da Namíbia e a Oeste pelo Oceano Atlântico. O
país está administrativamente dividido em dezoito províncias.
26
quais ilustram bem a existência de seres humanos há milhares de anos. O seu
povoamento iniciou-se por volta de 1839 nas localidades da Aguada, Boa Esperança
Giraúl e Macala, porque as condições climáticas permitiam a habitabilidade das
populações. Porém só em 1849 se deu início à exploração organizada das riquezas da
região, com a chegada dos primeiros colonos brasileiros. Deve-se realçar o facto de que,
nessa altura, já havia homens descendentes dos primeiros povos que habitaram a região,
os Bushmanes, cujos usos e costumes ainda se encontram intactos.
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povos emigraram para a esta região do Namibe onde se instalaram, com o objectivo de
encontrar as melhores condições de vida.
Por isso encontram-se naquela região, pequenos grupos de povos não bantu que,
de acordo com dados da história, teriam sido os primeiros habitantes daquela região.
Pode comprovar-se a partir de dados antropológicos, históricos, culturais e linguísticos,
a existência, no sul de Angola e também noutras regiões a sul do equador, de grupos de
caçadores pigmeus e recolectores residuais, os “Khoisan” e o subgrupo Vátwa,
descendentes de povos não bantu e que falam as suas línguas específicas, hotentote
(khoy) e Kankala, respectivamente. Assim, os povos habitantes da Província do Namibe
podem ser agrupados da seguinte maneira:
As tradições orais afirmam que a sua existência é anterior à chegada dos bantu.
As suas origens são ignoradas, e teriam suportado uma pesada dependência dos
Hotentotes de quem adoptaram a língua, antes da sua submissão aos kuvale. O grupo é
constituído por kwepe e kwisi também designados no seu conjunto de pré-bantu, pelo
facto de a sua presença ser considerada anterior à chegada dos Bantu. É caracterizado
pela pastorícia e a caça de animais selvagens que constituem o seu principal meio de
subsistência.
28
2.3.2.2. OS POVOS BANTU
OVIMBUNDU
OVAKUVALE
São grandes criadores de gado bovino, caprino e ovino que constitui, não só, a
verdadeira base do seu sustento, mas também a sua principal riqueza, símbolo de seu
maior prestígio social. Por essa razão, a sua principal gastronomia é baseada no
consumo de carne e de leite “maíne” que é extraído principalmente de vacas. Um dos
derivados desse leite, o “ngundi”, é utilizado para o tempero de alimentos como feijão,
lombi, etc., além de ser também aplicado no seu corpo como um creme. Por razões de
30
escassez de água na região, esse povo estabelece-se ciclicamente em determinadas áreas
da região desértica do Namibe e não só, procurando pastos para o seu gado.
No que se refere à antroponímia dos Kuvale, este subgrupo destaca-se dos outros
grupos étnicos, por conservarem, pensamos nós, uma forte tradição antroponímica, ou
seja, sem qualquer influência de nomes próprios de outras culturas nem por via do
casamento, aliás devido ao tipo de casamento que praticam e que já referimos no
parágrafo anterior, nem por qualquer outra razão aparente.
Ruy Duarte afirma (2001), a propósito da resistência desse povo diante das
formas de aculturação «a sua representação de uma vida que merece ser vivida parece
ter sido menos influenciada no passado e no presente pelas propostas do sistema invasor
e inovador, e as suas necessidades nunca chegaram a pautar-se por aquelas que esse
novo sistema instaura, insinua e muitas vezes impõe».
31
Geralmente a maioria dos integrantes deste subgrupo possui apenas um nome
próprio, associado a sua cultura, conforme se pode ver em alguns exemplos de nomes10
extraídos das fichas de militância de alguns dos elementos daquela etnia, militantes do
MPLA no município do Virei.
OVIMBALI
10
«Katchingi; Mukambwale; Nkatukawa; Mbalovola; Mbaliputa; Mbetchikama; Mwatchoka;
Mukatchikumbi; Mwetupakatcho; Nakaunda; Tchilongo; Mungandjo; Mbapindukapo,
Mbakatchoka, etc.».
32
O mesmo autor afirma que «de lá trouxeram a língua e certos costumes como
este que consiste em dar de preferência aos filhos os nomes dos dias11 em que nasceram.
Os nomes que se querem exprimir tiveram, como é natural, de adaptar-se às leis
fonéticas das línguas nativas. Uma das mais importantes é a seguinte: não há consoante
que não seja seguida de uma vogal. Outras particularidades consistem em não fazer
distinção entre o l e o r e admitir, às vezes, como equivalentes o d e o l».
OVANHANEKA – NKHUMBI
11
«Nasikunda; Kaquarta; Kaquinda; Kasesa; Sapalo e Lumingu ou Nalumingo»
(ESTERMANN,1983:33)
12
«O povo Nyaneka – Nkhumbi representa 5% da população angolana. Está distribuído pelas
províncias da Huíla, Kunene, Namibe e Benguela” (TYIPA, A., 2002:7).
De acordo com o Dicionário HOUAISS (2001), nhaneka é “uma língua da família banta, falada
em Angola».
33
- Os Nhaneka (Ovanhaneka) que se decompõem em Mwilas (Ovamwila); e
Gambos -Ovangambwe;
Para este grupo a pastorícia ou a criação de gado bovino, caprino e ovino, bem
como a agricultura destinada à auto-subsistência constituem, do modo geral, a sua
principal característica.
34
Relativamente às manifestações culturais, este povo evidencia-se pela
realização dos ritos de puberdade ou festas de iniciação, nomeadamente o Efuko ou
“Efiko13” para as raparigas e “ekwendje14” para os rapazes.
Acredita-se que alguns elementos deste grupo que se fixaram na parte ocidental
da Chela e no seu sopé terão partido dali, em direcção ao actual município da Bibala.
13
De acordo com a explicação dos mais velhos ou “sekulu”, é «uma cerimónia cultural
praticada no seio dos Ovanhaneka e, por meio da qual, se declara a passagem de uma
rapariga, da adolescência para a vida adulta. Um testemunho público de que essa rapariga está
apta para contrair matrimónio».
14
Os mesmos “sekulu” afirmam ser uma «cerimónia de circuncisão que se exige aos rapazes a
mutilação da sua … como uma questão de higiene e marca da sua virilidade e futura aptidão
sexual».
35
2.5. MOTIVAÇÕES NA ATRIBUIÇÃO DOS ANTROPÓNIMOS
36
realidade antroponímica e toponímica, associadas a individualidades notáveis dos países
socialistas como a Cuba e a Rússia que cooperaram com o país, fundamentalmente nos
domínios da vida militar, da diplomacia, da saúde e da educação.
15
«É frequente o nome Tyapukulwa, cujo significado pede duas linhas de explicação. Uma
mulher tinha perdido dois ou mais filhos, um atrás do outro. Nasceu mais um. Os parentes e
amigos já não se importam com ir felicitá-la, pois julgam eles que este vai ter a sorte dos
outros (okupuluka)». (ESTERMANN, C., 1957:54)
16
O nome tem sido atribuído nas comunidades dos Ovanhaneka e Ovimbundu, como uma
invocação, para proteger a criança portadora do referido nome, de espíritos malignos.
17
A lei nº 10/85 de 19 de Outubro publicada no Diário da República estabelece, no ponto nº 4,
que «os nomes próprios, em outras línguas, serão admitidos na sua forma originária ou
adaptada» Relativamente ao seu significado, essa mesma lei estabelece no artigo 2º que «os
funcionários das conservatórias só rejeitarão nomes que forem inadequados à luz da dignidade
e seriedade humanas».
37
e conservem valores socioculturais importantes que reflectem sua filosofia de vida, é
necessário que sejam cuidadosamente escolhidos e sejam atribuídos aqueles que, de
facto, não atentem contra a dignidade e o bem-estar do cidadão portador.
Os sons semivocálicos são: [ј], [w] ou [ǰ], [ẅ] e os consonânticos são: [p], [b], [t],
[d], [k], [g], [f], [v], [s], [z], [ʃ], [ʒ], [m], [n], [ŋ], [l], [ł], [ʎ], [r], [R].
Relativamente ao sistema vocálico, Ernesto d´Andrade (2007: 73) diz que «quase
todas as línguas bantu de Angola e Moçambique têm um sistema de cinco vogais, /a, e,
i, o, u/. Em muitos casos também há [ε] e [ɔ], embora como variantes de /e/ e /o/,
respectivamente».
A língua Olunhaneka, assim como outras bantu, utiliza cinco vogais, conforme
sejam orais ou nasais. As vogais são a, e, i, o, u, que se produzem tal como em
38
português. Porém as vogais (a, e, o) são sempre abertas, podendo a penúltima ser
também, às vezes, semifechada, quando seguida das consoantes m ou n.
Tal como na maioria das línguas bantu, na Olunhaneka também não há, por
exemplo, as consoantes oclusivas sonoras [b, d, g] como em português, a menos que
estas sejam sempre precedidas das consoantes [m ou n], resultando, por conseguinte, em
consoantes pré-nasaladas [mb, nd, ng].
18
«O encontro de uma vogal + uma semivogal, ou de uma semivogal + uma vogal recebe o
nome de ditongo». (CUNHA e CINTRA, 2014: 60)
19
«No português popular do rio de Janeiro e de algumas zonas próximas. (CUNHA e CINTRA
(1986:31)
39
Na língua Olunhaneka o grafema K substitui o grafema c e o dígrafo qu que, com
as vogais a, o, u, representam sons silábicos em português. Naquela língua, esses sons
silábicos conseguem-se, juntando àquela consoante, as vogais a, e, i, o, u.
Nesta língua, assim como na língua Umbundu, não há a consoante vibrante [r].
Pelo que, alguns falantes destas línguas tentam substitui-la pela consoante lateral [l],
sobretudo ao pronunciar palavras do português, inseridas no léxico daquelas línguas.
Glides ou semivogais [i] e [u] são graficamente representados nas línguas bantu
pelos símbolos (y e w), respectivamente.
40
2.6.2.1. SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS
Por exemplo, Celso Cunha e Lindley Cintra (1986:31) afirmam o uso do som
fricativo não vozeado [tʃ] no «português de extensas zonas do Norte de Portugal e de
áreas não delimitadas de Mato Grosso e regiões convizinhas no Brasil». Nestas regiões,
o som é representado pela sequência consonântica ch, tal como se representam os sons
de alguns antropónimos e não só da língua Olunhaneka e de outras da família bantu.
O mesmo som também existe nas línguas bantu e tem sido graficamente
representado, nestas línguas, variavelmente pelas sequências tyi, ch, ci e tch.
Em português, tal como noutras línguas Indo-europeias, uma sílaba21 pode ser
constituída pelo núcleo (uma vogal ou ditongo), pelo ataque simples22 ou ramificado
20
«Grupos de letras que simbolizam apenas um som». (CUNHA e CINTRA, 2014:65)
21
«A cada vogal ou grupo de sons pronunciados numa só expiração damos o nome de sílaba»
(CUNHA e CINTRA, 2014:66).
22
Em português, é ramificado o ataque «no caso de dominar duas posições de esqueleto
correspondentes a duas consoantes e ataque não ramificado, no caso de dominar uma posição
de esqueleto associada a uma consoante» (MARIA, M. Mateus, et al, 2005:248).
41
(consoante/s que antecede ou antecedem o núcleo) e pela coda23 (consoante que se
segue ao núcleo). Pelo que, assim como noutras línguas do mundo, em português são
comuns as seguintes estruturas silábicas: CV, V, VC e CVC.
A estrutura silábica das línguas bantu é, por isso, constituída pelo ataque (uma
duas ou três) e o núcleo (vogal), conforme se pode ver nos esquemas silábicos da
palavra “Tchivandja”, um antropónimo da língua Olunhaneka:
Tchi va ndja
No esquema podemos ver que as três sílabas terminam todas por vogais, que
constituem o seu núcleo. À esquerda do núcleo de cada sílaba temos as consoantes que
constituem o ataque. Por isso, corroboramos com Ernesto d´Andrade (2007:88) ao
afirmar que «a maior parte das línguas bantu não tem sílabas com coda, isto é, só têm
sílabas do tipo {CV, V}, em que V pode ser uma vogal longa».
23
«A coda domina as consoantes que ocorrem à directa do núcleo» (MARIA, M. Mateus, et al,
2005:258).
42
CAPÍTULO III
PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
Portanto, para aquela autora, o corpus «[…] é um lugar de observação que permite
a descrição de actualizações da língua organizadas em enunciados, discursos ou textos».
(COSTA, R., 2001:16)
43
3.1. CONSTITUIÇÃO DO CORPUS
Para a realização deste trabalho recorreu-se a um corpus oral, cuja fonte contactada
foi a autoridade tradicional do Município do Kamukuio, com destaque para o senhor
Mupinga, secretário do regedor daquele município, e para um grupo de sobas da mesma
circunscrição. As entrevistas baseadas em diálogos informais com aquelas autoridades,
afiguraram-se indispensáveis à aquisição da informação.
44
- Recolha e análise de documentos oficiais a partir da Administração Municipal
de Moçâmedes, para efeito de caracterização sociolinguística da Província do Namibe;
Nesta secção realizámos, com base na análise do corpus transcrito, a descrição dos
significados, culturais ou simbólicos, dos antropónimos recolhidos, além da descrição
das suas características fonéticas e morfossemânticas, como mais abaixo se descreve.
45
3.2.1.1. NOMES RELACIONADOS COM ELEMENTOS SOCIOCULTURAIS
46
3.2.1.4. NOMES RESERVADOS A CIRCUNSTÂNCIAS (TEMPO E LUGAR
E OUTRAS)
Nandjila [ ] nome próprio que se atribui a uma criança que nasce pelo
caminho.
Mutenha [ ] nome dado a uma criança que tenha nascido pela tarde.
O mesmo serve para aquelas que nascem em circunstâncias de
estiagem ou seca;
47
3.2.2. CARACTERÍSTICAS FONÉTICAS
48
e) Notámos ainda a ausência, em alguns antropónimos, dessa mesma marca de
nasalação, antes de K, P e T que, na língua Olunhaneka, são geralmente seguidos de h,
para representar sons aspirados.
(- ndja-)
Ataque Núcleo
(ndj) (a)
49
à esquerda da vogal que constituem com esta uma sílaba. Desse fenómeno resulta a
redução do ataque, de ramificado para um ataque simples, tal como se encontra
demonstrado em certos antropónimos da alínea (c) dos exemplos anteriores e noutros
que constam das fichas antroponímicas localizadas abaixo.
Embora não possamos aferir com precisão a razão da redução quer do ataque,
quer da supressão, em certos contextos, da marca da nasalidade ou da consoante de
aspiração em muitos dos antropónimos daquela língua, entendemos que tal fenómeno
ocorre em casos como os referidos nas alíneas anteriores, provavelmente devido às
interferências do sistema fonético do português nas línguas bantu e por
desconhecimento do sistema fonético destas.
Por isso, tal como em português, nas línguas bantu também é possível formar, a
partir de uma mesma matriz lexical, novos vocábulos com valor onomástico, sobretudo
antroponímico, utilizando os processos de derivação ou composição.
Assim, constatámos que alguns antropónimos desta língua são formados por
derivação, sobretudo por acréscimo de certos afixos24 aos radicais. Geralmente
participam da formação de novos antropónimos, os prefixos (ma-, na-, ka-, tchi-),
24
«Nas línguas bantu, a estrutura morfológica dos nomes consiste no radical precedido do
prefixo de classe a que o nome pertence. Quando o nome não é primitivo, isto é, deriva de
outro ou de um verbo, para além do prefixo há, muitas vezes, modificações da vogal final».
(D´ANDRADE, E., 2007:111)
50
apenas para citar alguns. Eis alguns exemplos de antropónimos formados por estes
processos:
51
3.3. BASE DE DADOS DE ANTROPÓNIMOS DA LÍNGUA OLUNHANEKA
Definição do
Nº Nome Etimologia Grafia tes gráfica crição
significado
gráficas escolhida fonética
1 "reino". Na cultura
Do
Hamba dos Ovanhaneka
substantivo
atribui-se o nome à Amba/
M comum Hamba Hamba [hamba]
criança que nasce na Hamba
linhagem dos sobas.
“ohamba”
2 "veja!". O nome é
uma advertência
para os malfeitores
Do verbo que, na ocasião de
transitivo visitar a criança [hitali]
Hitali M/F Hitali Itali/Hitali Hitali
recém-nascida, não
“okutala” lhe façam mal, mas
simplesmente
observem-na.
3 "estiagem". O
Do verbo nome atribui-se a
transitivo uma criança nascida
Hulya M/F Hulya Ulia/Hulya Hulya [hulia]
nessa circunstância
“okulya” da qual resulta o
fenómeno da fome.
4 Do "sofrimento". O
substantivo nome atribui-se a
comum uma criança que Cahali/
Kahali M/F Kahali Kahali [kahali]
abstrato nasce doente ou em Kahali
situação de fome.
“ohali”
5 "vá fechar". Na
cultura dos
Do verbo Ovanhaneka, o
transitivo nome é atribuído à Caique/
Kaike M/F Kaike Kaike [kaikε]
última criança a Kaike
“okuika” nascer. Também é
aplicado ao último a
ser circuncidado.
52
6 "fome". Na cultura
Diminutivo do dos Ovanhaneka
substantivo atribui-se o nome a
Canjala/
Kandjala M comum uma criança que Kandjala Kandjala [kandʒala]
Kandjala
nasce em
“ondjala” circunstância de
fome.
7 "pessoa vaidosa".
Na cultura dos
Ovanhaneka o nome
é um epíteto
Do adjectivo atribuído a uma
Calitoco/
Kalitoko M criança em Kalitoko Kalitoko [kalitɔkɔ]
Kalitoko
“elitoko” homenagem a um
membro da sua
família com essa
qualidade.
10
"pequenino". O
Diminutivo nome é atribuído a
derivado do uma criança que
radical do nasce muito Catito/Katit
Katito M/F Katito Katito [katitɔ]
adjectivo pequena ou também o
por uma questão de
“tito” homenagem a um
membro da família.
11 "não o conhecem".
Na cultura dos
Ovanhaneka atribui-
se o nome a uma Kave- Cavemundi/ Kavemund
Kavemundi M/F Do verbo [kavεmundi]
criança, cujo pai mundi Kavemundi i
morre antes de
nascer.
53
“veni” contra os feiticeiros
ou maus espíritos.
13 "cabra do mato".
Este nome tem sido
atribuído a uma
Do
criança, em
substantivo
homenagem a um Bambi/
MBambi M comum MBambi MBambi [mbambi]
grande caçador, MBambi
especialmente
“ombambi”
daquele animal.
14 "cabra do mato".
Na cultura dos
Do Ovanhaneka o nome
substantivo é atribuído a uma
Buale/
MBwale M comum criança em MBwale MBwale [mbwalƐ]
MBwale
homenagem ao mais
“ombwale” velho da família ou
do clã.
15
"a vaca má só se
consegue ordenhar,
dando-lhe cacetadas
aos chifres". Na
Deriva de um cultura dos Pandi/
MPhandi M MPhandi MPhandi [mphandi]
provérbio Ovanhaneka o nome MPhandi
é, normalmente
atribuído a uma
criança em
homenagem.
16
“possuir riqueza”.
Refere-se à pessoa
rica, portadora de
muitos bois". Na
Do verbo
cultura dos
transitivo Muona/
Muhona M Ovanhaneka dá-se Muhona Muhona [muhɔna]
Muhona
este nome a uma
“okumona”
criança em
homenagem àquele
indivíduo da
família.
17 Na cultura dos
Ovanhaneka
significa "terreno de
cultivo fixado a
Do beira do rio. O
substantivo nome atribui-se a
Mumban Mubanda/
Mumbanda M/F comum uma criança nascida Mumbanda [mumbanda]
da Mumbanda
de uma segunda ou
“ombanda” terceira esposa.
54
18
"sol". Na cultura
dos Ovanhaneka o
Do
nome refere-se à
substantivo Mutenya/
Mutenha M/F estiagem e dá-se Mutenha Mutenha [mutεŋa]
Mutenha
este nome a uma
“omutenha”
criança que nasce
em época de fome.
19
"pilar". Na cultura
Do dos Ovanhaneka o
substantivo nome é atribuído a
Gunji/
NGundji M comum uma criança cujo NGundji NGundji [ngundʒi]
NGundji
xará é o pilar da
“ongundji” família, devido a
sua influência.
20 "festa da
puberdade". Na
Do
cultura dos
substantivo
Ovanhaneka o nome Pefico/
Pefiko F comum Pefiko Pefiko [pεfikɔ]
é atribuído a uma Pefiko
criança que nasce
“efiko”
no decorrer dessa
festa.
21
"ancião". Atribui-se
em homenagem a
um ancião. Na
cultura dos
Do adjectivo Ovanhaneka a Seculo/
Sekulu M atribuição deste Sekulu Sekulo/ Sekulu [sεkulu]
“sekulu” nome à criança é Sekulu
uma forma de
protegê-la de
espíritos malignos.
22
"autoridade
tradicional, soba". O
nome é atribuído a
Do
uma criança em
Soma M substantivo Soma Soma Soma [sɔma]
homenagem a um
“osoma”
membro da família
alguém que exerce
ou exerceu tal
cargo.
23 "algo que piorou"
Nessa comunidade o
Do verbo
nome é dado a uma Chapona/
intransitivo Tchapon
Tchapona M criança concebida e Tyapona/ Tchapona [tʃapɔna]
a
que nasce em Tchapona
“okupona”
condições difíceis.
55
criança que nasce
“-hetekela” como resultado de
várias tentativas
feitas pela mãe para
a sua concepção.
25 "comido ou que é
comível". Na
cultura dos
Ovanhaneka dá-se
Forma passiva Chiliua/
este nome a uma
Tchiliwa M derivado do Tchiliwa Tyiliwa/ Tchiliwa [tʃiliwa]
criança como um
verbo “okulia” Tchiliwa
apelo aos feiticeiros
para poupá-la da
morte.
26 "aquilo que
aparece". Na cultura
dos Ovanhaneka dá-
Do verbo
se este nome a uma Chimoneca/
intransitivo Tchimon Tchimonek
Tchimoneka M/F criança cujo Tyimoneka/ [tʃimɔnεka]
eka a
nascimento demora Tchimoneka
“okumoneka”
um pouco além do
período normal.
28 "seca ou estiagem".
Na cultura dos
Do
Ovanhaneka dá-se
substantivo Chitenha/
este nome a uma Tchitenh
Tchitenha M comum Tyitenya/ Tchitenha [tʃitεŋa]
criança que nasce a
Tchitenha
em circunstância de
“omutenha”
fome.
29 "procure-o ou olhe-
o" A segunda
Do verbo acepção é uma
Chivanja/
transitivo ordem aos Tchivand
Tchivandja M Tyivandja/ Tchivandja [tʃivandʒa]
feiticeiros para não ja
Tchivandja
“okuvandja” fazer mal a criança
portadora do nome.
30 "aquilo que
provoca alegria". O
nome é atribuído a Chiolefa/
Do verbo um filho ou filha, Tchiyole
Tchiyolefa M/F Tyiyolefa/ Tchiyolefa [tʃiyolεfa]
“okuyolefa” cujo nascimento foi fa
Tchiyolefa
muito esperado.
56
3.3.1. BASE DE DADOS DE ANTROPÓNIMOS
57
Ilustração 2 -Ficha Antroponímica nº2
58
Ilustração 3 - Ficha Antroponímica nº3
59
Ilustração 4 - Ficha Antroponímica nº4
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
61
no sistema fonético e no modo de representação gráfica de alguns antropónimos da
língua Olunhaneka.
Com base nesta análise e, apenas para realçar alguns exemplos deste ponto, é, de
certo modo, alto o grau de variação gráfica, sobretudo dos antropónimos que incluem,
na sua estrutura fonética, o som fricativo [tʃi]. Pelo que, nos documentos analisados,
este som é, variavelmente, representado pelos dígrafos ch, tch ou por ci. Em nenhum
nome encontrámos o som representado pela sequência Tyi.
Embora a maioria das línguas bantu sejam escritas com base no sistema
alfabético latino, a verdade é que muitos angolanos, falantes ou não das línguas bantu,
representam o som [tʃi] de alguns antropónimos e de outras unidades lexicais bantu,
com os dígrafos (ch e tch). Talvez seja, pensamos nós, devido à analogia que se pode
fazer com determinados sons do português e da língua estrangeira, como o inglês. O
facto de as línguas bantu, o português e o inglês coabitarem no mesmo espaço
geográfico e sobretudo estas últimas fazerem parte do plano curricular académico, pode
ter uma certa influência neste fenómeno de variação gráfica de alguns antropónimos.
62
antropónimos. A propósito deste assunto, de variação gráfica, Ernesto d´Andrade
(2007:140) afirma que «a grafia das línguas africanas levanta os mesmos problemas que
a grafia de qualquer outra língua. Não se pode saber ler ou escrever uma língua da qual
não se conhecem as correspondências entre os grafemas e os sons, ou segmentos
fonológicos, que estão associados […]».
63
BIBLIOGRAFIA
64
LINO, Maria Teresa Rijo da Fonseca – A componente morfológica no Banco de
Neologismos do Português Contemporâneo – in Actas do Congresso de Linguística e
Filologia Românicas, Santiago de Compostela, 1989.
LINO, Teresa Rijo da Fonseca Maria; MEDINA, Daniel; GRÓS, Ana Pita e
CHICUNA, Alexandre – Neologia, Terminologia e Lexicultura. A Língua Portuguesa
em Situação de Contacto de Línguas - Revista de Filologia Linguística Portuguesa.
Nº12 (2), 2010.
65
TYIPA, Abraão – Método de Aprendizagem da Língua Nacional Nyaneka-
Humbi e Português – Lubango (Angola), Comissão Arquidiocesana de Cultura, 2002.
DICIONÁRIOS E GRAMÁTICAS
MATEUS, Maria Helena Mira; FALE, Isabel e FREITAS, Maria João – Fonética
e Fonologia do Português – Lisboa, Universidade Aberta, 2005. ISBN: 972-674-452-0
66
DOCUMENTOS OFICIAIS
67
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
68
ANEXOS
Ilustração 5 - Documento 1
69
Ilustração 6 - Documento 2
70
Ilustração 7 - Documento 3
71
MAPA DE ANGOLA
Ilustração 8 – Documento 4
72
MAPA DA PROVÍNCIA DO NAMIBE
Ilustração 9 – Documento 5
73