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IANAÊ DE OLIVEIRA
UFF/2012
2
ONDE DIZ-
por
IANAÊ DE OLIVEIRA
Niterói
2012
3
CDD 469.5
1. 371.010981
4
IANAÊ DE OLIVEIRA
ONDE DIZ-
BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
A minha querida Ritinha, pela disposição de vir, fazer e acontecer tantas vezes;
EPÍGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
This study aims to present a qualitative analysis of onde diz, found expression in
our times only in a space sense, but, a few centuries ago, fulfilled the trajectory space >
text. Onde diz, according to the textual function, is found recurrently in specific
Portuguese texts of the archaic period of portuguese language; these texts constitute this
corpus. This study is justified by the considerable use of onde diz in XIV-XV centuries,
in contrast to the lack of news in sources of synchronicities more recent of the language.
This expression consists of argumentative context of model argument 1 + onde diz [NS]
+ argument 2, and its function is to identify indirect source of information. It starts from
the assumption that a certain specific way of saying the expression onde diz, with basic
locative, carried out trajectory towards linguistics change, to act as a mechanism of
persuasion and an instrument of evidentiality. In the analysis, are observed pressures of
subjectivity and invited inferencing (Traugott; Dasher, 2005), grammaticalization of
evidentials (Ainkhenvald, 2006; Barnes, 1984) and Discursive Traditions (Kabatek,
2004). The general objective of this research functionalist (Traugott, Dasher, 2005;
Hopper, 1991; Cunha, Oliveira, Martelotta, 2003) is to investigate the achievements of
onde diz and specifically verify: (a) if the trajectory of abstratização of onde diz may be
the result of socio-communicative-cognitive tendencies used by some Discursive
Tradition (Kabatek, 2004); (b) the degree of grammaticality of onde diz; (c) to confirm
or not the tendency of grammaticalization of evidentials (Ainkhenvald, 2006; Barnes,
1984).
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10
6 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 61
ANEXOS ........................................................................................................... 67
11
INTRODUÇÃO
(1) E pera esquyvar este pecado da vaam gloria, tambem he boo remedio nom
fallar, screver ou dar aazo que se falle sem boo fundamento perante nos em
nossos proprios feitos. E nas cousas feitas com entençom de virtude, conssiirar
aquella pallavra de Davyd onde diz que o senhor quebrantará os ossos daquelles
que fazem seus feitos principalmente por prazerem aos homẽẽs, mostrandonos
que nom leixemos a nos meesmos fazer cousa que seja com proposito da vãã
gloria.
(Leal conselheiro, título 12, fólio 15r, grifo nosso )
1
O grupo Discurso & Gramática é voltado às pesquisas em linguística funcional. Atualmente, possui
sedes no Rio de Janeiro (UFRJ), Niterói (UFF) e Rio Grande do Norte (UFRN). Informações pelo site
http://www.discursoegramatica.letras.ufrj.br/
12
retomar todo o contexto anterior e produzir uma sequência para todo o argumento
posterior, embora se mantenha independente sintaticamente dessas orações.
2
Houaiss (2004, p. 247) define didático como “destinado a instruir, o que facilita a aprendizagem”. Nessa
mesma obra (p. 635), religioso é o “que tem elementos de adoração; ou que segue ou professa uma
religião”. Dessa forma, são aqui chamados de textos didáticos-religiosos, aqueles que têm o propósito de
educar socialmente, filosoficamente e/ou religiosamente. Esses textos impressos substituíram a tradição
em que os grandes feitos eram passados oralmente.
3
Disponível em <http://answers.microsoft.com/pt-br/windows/forum/windows_xp-networking/ao-abrir-
uma-url-aparece-caixa-de-dialogo-onde/592e4b35-e17a-4298-82e0-b329a5>, acesso dia 12/04/2011.
13
(4) A Dilma censurou o vídeo onde diz que nordestino não é brasileiro.
Acontece que a verdade pode mais4. (grifo nosso)
4
Disponível em <http://coturnonoturno.blogspot.com/2010/05/dilma-censurou-o-video-onde-diz-
que.html>, acesso dia 12/04/2011.
5
A Novela de cavalaria é um gênero medieval originário da Inglaterra e França que se estabelece em
Portugal com a tradução do francês para o português da Demanda do Santo Graal. Conforme MOISÉS
(2004, p. 38), novela de cavalaria é o modelo em prosa das poesias épicas.
6
Baseado em COSTA; MELO (19--, p. 203-204), a palavra “bestiário” no contexto acima, é adjetivo
designador de livro relativo a animais irracionais; quadrúpedes.
14
7
Funcionalismo é uma corrente linguística que, [...] se preocupa em estudar a relação entre a estrutura
gramatical das línguas e os diferentes contextos comunicativos em que elas são usadas. (Cunha, 2010, p.
158)
8
“Cognição é o “modo como nossa mente interage com o mundo que nos cerca, bem como os processos
que permeiam essa interação” (Martelotta; Palomanes, 2010, p. 177). Portanto, a abordagem cognitivista
acredita na mente como um complexo de captação de experiência que são refletidas, dentre outras formas,
na/pela linguagem.
15
1REVISÃO DA LITERATURA
INTERROGATIVO
ADVERSATIVO
SUBSTANTIVO
EXPLICATIVO
PREPOSIÇÃO
CONCLUSÃO
CONJUNÇÃO
ADVÉRBIO
RELATIVO
PRONOME
CAUSAL
TEMPO
MEILLET X X X X
GAFFIOT X X X X X
UBI
SARAIVA X X X X
FARIAS X X X X
MEILLET X X X
GAFFIOT X X X
UNDE
SARAIVA X X X X X
FARIAS X X X
FREIRE X X X X X
DICIONÁRIO
GARCIA & X
ONDE
NASCENTES X X X
FERREIRA X X X
HOUAISS X X X
RIBEIRO X X X
ONDE GRAMÁTICA
SAID ALI X X
CUNHA &
CINTRA X X X
NEVES X X X X
CASTILHO X X X
Conforme o Quadro 1, apenas Saraiva discorda que ubi e unde tinham função
interrogativa e também o único que inclui em unde as funções explicativa e causal.
18
Neves assume que esse advérbio pode ser um locativo de constituinte relativo, pode ser
usado para interrogar, como também, corresponder a um pronome substantivo, ao lado
de que, quem e como. Castilho afirma que o onde é usado como pronome relativo em
substituição ao em que, podendo ser também advérbio de lugar e interrogativo. Os
gramáticos tomam por base a função adverbial e, a partir dela observam outras funções,
como ficou demonstrado no Quadro 1.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
apassivadora, entre outros (Cunha; Costa; Cezario, p. 31. In: Cunha, Oliveira,
Martelotta (2003)).
2.1.1 Gramaticalização
(5) [...] o seu nome glorioso deue seer chamado ẽ começo de toda boa obra, e
ẽno seu sancto nome deue o homẽ de fazer toda cousa, onde diz o apostolo:
Jrmããos, qualquer cousa que fezerdes, todo fazede ẽ nome do Senhor Jhesu
Christo, [...].
Conforme o fragmento acima, percebe-se que o onde diz exerce uma função
evidencial como introdutor de argumento de autoridade, o apóstolo. Ao se
gramaticalizar em formato de expressão, onde diz passou a ter sua colocação restrita e
funcionalidade mais específica.
9
A definição atualmente mais usada para construções tem base em Goldberg (2006, p. 4) ao afirmar que:
“construção é um pareamento de forma e significado <FS>, cujos aspectos de “F” e de “S” nem sempre
estão previstos por esses elementos individualmente presentes em sua composição, nem por outras
construções preexistentes na língua”. (tradução livre do original: “C is a CONSTRUCTION iff ᵈᵉᶠ C is a
form-meaning pair <F S> such that some aspect of F or some aspect of S is not strictly predictable from
C’s component parts or from other previously established constructions”).
23
10
“Metaphorization is primarily an analogical principle, and involves conceptualizing one element of a
conceptual structure Cᵃ in terms of an element of another conceptual structure Cᵇ. Since it operates
‘between domains’ (Sweetser 1990:19; italics original), processes said to be motivated by
metaphorization are conceptualized primarily in terms of comparison and of ‘sources’ and ‘targets’ in
different (and discontinuous) conceptual domains, though constrained by paradigmatic relationships of
sames and differences”.
11
“Construed as a conceptual mechanism by which invited inferences in the associative, continuous
stream of speech/writing come to be semanticized over time” (p. 29).
12
“Metaphorization is regarded as [not only a constraint on but also] often the outcome of metonymic
change” (p. 29).
13
Domínio, conforme Sardinha (2007, p. 31) é a “área do conhecimento ou experiência humana. [...]. Há
dois tipos de domínio: fonte e alvo. O domínio-fonte é aquele a partir do qual conceitualizamos alguma
coisa metaforicamente [...]; geralmente é algo concreto, advindo da experiência. O domínio-alvo é aquele
que desejamos conceitualizar; esse é o domínio abstrato. [...]. Um domínio-fonte pode servir a vários
domínios-alvo; [...].
14
O ato de escrever, apesar de não interativo e monológico, é direcionado a um público específico, o que
exige uma seleção linguística para alcançar o efeito desejado. Assim, o leitor também é considerado um
participante ativo da interação (Duranti; Goodwin, 1992; Chafe, 1994, apud Traugott; Dasher, 2005, p.
17-18)
26
15
“say no more than you must, and mean more thereby” (p. 29). Baseado na segunda máxima de Grice
(1989 [1975]).
16
“[…] it is meant to elide the complexities of communication in which the SP/W evokes implicatures
and invites the AD/R to infer them” (p. 05).
17
“Neither conceptual metaphorization nor conceptual metonymization in principle excludes the other”.
(p. 29)
18
“We will argue that metaphorical, analogical relationships often provide the background contexts for
and often appear as the resulting products of change […]”. (p. 9)
19
“[...] probably even more basic to language and cognition than metaphor [...]”. (p. 29)
27
(6) Outrossy, taaes persoas como dito he, leterados e pertee[n]centes para ello,
podem leer e studar pellos liuro[s] dos filosafos gentiis pera emtender as Sanctas
Scripturas e pera exposiçom dellas e outrossy pera cõfirmaçom da fe, porque
muytas cousas ha ẽnos livros dos filosafos que uallem muyto pera confirmaçõ
da nossa fe, onde diz em hũũ começo de hũũ liuro da Trii[n]dade de Boecio
que a nossa fe he tirada das cousas mais dedentro da filosafia.
(Orto do esposo, livro 3, cap. 11, fólio 30r, grifo nosso)
(7) [...] Moisés empero nom braadava per clamor de boca, mas com desejo do
coraçom. Onde diz Santo Agustinho: “O braado ao Senhor é entençom de
coraçom e aficamento de devoçom e deleitaçom em ela”.
(O livro de vita Christi, p. 91, grifo nosso)
(8) E algũas vêzes, por tal que, tirado o ajudador, possa melhor veer sua
imperfecçom e se conhocer. Onde o Psalmista: “Eu disse na minha avondança
__ Nom me mudarei desto pera sempre”; [...].
(O livro de vita Christi, p. 113, grifo nosso)
20
Define-se como recategorização o deslocamento de um item lexical de uma categoria para outra.
28
Para dar conta dessa previsibilidade seriam necessários mais que os fatores
tempo e uso. Dessa forma, os autores defendem “intrinsecamente a ligação com os
processos cognitivos e comunicativos através dos quais os significados pragmáticos são
convencionalizados e reanalisados como polissemias semânticas”23 (loc.cit.), bem como
a vinculação desses com os processos de inferência sugerida (vista acima) e
subjetividade-intersubjetividade (definidos na sequência).
21
“[…] draw from paradigmatically organized sets of constructions, lexical items, and other resources, on-
line production and processing make use of essentially syntagmatic relations and associations.”
22
“[…] we show that there are predictable paths for semantic change across different conceptual
structures and domains of language function”.
23
“[…] we argue, intrinsically bound up with the cognitive and communicative processes by which
pragmatic meanings come to be conventionalized and reanalyzed as semantic polysemies.
24
“Subjectification is the semasiological process whereby SP/Ws come over time to develop meanings for
Ls that encode or externalize their perspective and attitudes as constrained by the communicative world of
the speech event, […]” (p. 30)
25
“[...] perspective or point of view in discourse […]” (Finegan, 1995, p.1).
29
26
Define-se conector discursivo como unidades linguísticas invariáveis que marcam na superfície textual
as relações lógicas entre orações, segmentos textuais ou entre macroproposições, de forma a interpretar
como pertencentes a uma unidade maior, o texto (Disponível em: <
http://cvc.cervantes.es/ensenanza/biblioteca_ele/diccio_ele/diccionario/conectordiscursivo.htm >. Acesso
15 dez 2011. Tradução livre do original: Los conectores son unidades lingüísticas invariables que marcan
en la superficie textual las relaciones lógicas que se dan entre oraciones, entre segmentos textuales o
entre macroproposiciones de forma que se puedan interpretar como pertenecientes a una unidad mayor,
el texto.
27
“[...] mudanças no significado específico de itens lexicais e construções (Traugott e Dasher, 2005, p. 32)
28
“Intersubjectification, […], is a change which results in the development of meanings that explicitly
reveal recipient design […]” (Clark e Carlson (1982, apud Traugott e Dasher, 2005, p. 31)
30
Foi visto, portanto, que Traugott; Dasher (ibidem) desenvolvem suas pesquisas
funcionalistas levando em conta aspectos cognitivistas. Ambas as abordagens revelam
que a relação entre linguagem, pensamento e experiência influencia na dinâmica da
significação. O sentido por sua vez, está envolvido em uma atividade conjunta de
diferentes domínios do conhecimento, sendo negociado pelos interlocutores em
situações contextuais específicas. Sobre isso, Martelotta; Palomanes (2010, p.183)
reiteram que “os conceitos humanos associam-se à época, à cultura e até mesmo a
inclinações individuais caracterizadas no uso da linguagem”.
2.2 Evidencialidade
29
“‘Evidential’ and ‘evidence’ as a linguistic category differs from ‘evidence’ in common parlance.
30
“[...] all languages have means of qualifying utterances by introducing references to the origin of
information, […]”.
31
utilizam do modo lexical e outras do modo gramatical, embora aspecto cognitivo seja
universal.
(9) Ca o siso, segundo nossa dereita linguagem, nom esta no entender e falar
soomente, [...].
(título 8, fólio 11v, grifo nosso)
(10) Contra os quaaes diz sancto Agostinho que se querem alegrar com os
sanctos, e as tribullaço~o~es nom querem soportar com elles.
(título 4, fólio 8r, grifo nosso)
Tal qual visto acima, onde diz [SN] corresponde à linha de evidenciais de ordem
lexical. Importante relatar que, embora se trate de um evidencial lexical, onde e diz
passaram por uma trajetória de gramaticalização se tornando uma expressão (conforme
visto em seção anterior). Juntos assumem uma função distinta das que possuíam
originalmente separados.
31
No contexto evidencial, marcada tem sentido diferente da abordagem funcionalista. Aqui, marcada,
pode ser substituída por necessária.
32
a mesma proposição “José jogou futebol”, alternando o sufixo em negrito que informa a
origem da informação e a ação verbal no tempo passado (Aikhenvald, 2006, p. 02-03):
32
Prefixo de 3ªpessoa do singular.
33
Verbo.
34
Sufixo evidencial.
35
A diferença entre ‘c’ e ‘d’, ou seja, entre ‘assumir’ e ‘inferir’, é que a primeira está relacionada a
evidência visual e a segunda, ao raciocínio lógico.
36
“Evidentials may acquire secondary meanings – of reliability, probability, and possibility (know as
epistemic extensions), but they do not have to”.
33
(12) Moralmente, a luz alumea nas treevas, porque a virtude se mostra nas
aversidades e a virtude na infirmidade se acaba. Onde Sam Gregório: “Nom
conhece alguém quanto aproveitou, salvo na aversidade; [...]
EVIDENCIALIDADE
DIRETA INDIRETA
pode-se afirmar que, a subjetividade do enunciador é revelada pela informação que ele
enuncia.
Para definir esse conceito, é preciso voltar a Coseriu (1981), a Koch &
Oesterreicher (1997). Coseriu entende que a linguagem é uma atividade universal
executada dentro de uma tradição histórica, embora realizada individualmente, os quais
comporiam os três níveis da linguagem. Na sequência, Koch e Oesterreicher (ibidem)
entendem que é necessário haver uma ampliação do nível histórico da linguagem,
acrescentando os domínios da língua particular e tradições discursivas, conforme
Quadro 5:
Considera-se que onde diz é marcado pelo fator repetição ao evocar a mesma
forma com a mesma função reiterada vezes, no mesmo e em diferentes textos, tendo no
seu entorno contexto discursivo semelhante. Mais que isso, onde diz parece específico
de um tipo de dizer ligado à fase arcaica da língua, de forte tradição católica e
possivelmente ilustra uma variedade diafásica ou diastrática.
37
texto1 situação1
texto2 situação2
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
(14) E pore~m o seu nome glorioso deue seer chamado e~ começo de toda boa
obra, e e~no seu sancto nome deue o home~ de fazer toda cousa, onde diz o
apostolo: Jrma~a~os, qualquer cousa que fezerdes, todo fazede e~ nome do
Senhor Jhesu Christo, e~no qual uiuemos, e em elle nos mouemos e somos. E
pore~ e~no começo desta obra puge o nome de Jhesu Christo, e e~no seu nome
a comecey, o qual nome he muy delectoso, onde diz Jhesu, filho de Sirac: Asi
como o mel seera doce a renebra~ça delle, convem a saber do nome que he
Jhesu, que quer dizer saude. Onde diz Sam Lucas e~nos Autos dos Apostolos
que no~ ha hi saude e~ outro nehu~u~ se~no~ em Jhesu Christo. E diz Salamo~
emnos Cantares do Amor: Oleo espargido he o teu nome.
A partir desse ponto, foi realizada uma pesquisa sobre as possíveis grafias
utilizadas para onde para a formulação do corpus. Paiva (1988, p. 52) afirma que o
onde, no português dos séculos XV e XVI, pode ser encontrado nas seguintes grafias:
ũ, hu e ulo38. De posse dessa informação, a busca se direcionou para as formas ũ, hu e
onde.
37
Neste fragmento, excepcionalmente, estão contidas três ocorrências de onde diz, o que corresponde a
três dados de nossa pesquisa e a três fragmentos distintos, todos encontrados em seção Anexa final.
38
Ulo encontrada apenas em Gil Vicente.
39
(15) Moralmente, a luz alumea nas treevas, porque a virtude se mostra nas
aversidades e a virtude na infirmidade se acaba. Onde Sam Gregório: “Nom
conhece alguém quanto aproveitou, salvo na aversidade; [...]
39
Ũ, hu e onde.
40
Bíblia medieval portuguesa, Crônica geral de Espanha, etc.
40
especificamente nesses dois textos há possibilidades para mais que o dobro das
ocorrências levantadas. O corpus totaliza, assim, 105 dados.
Ainda sobre os textos, importante relatar que Orto do esposo e Leal conselheiro
são originalmente portugueses, Demanda do santo Graal, O livro de vita Christi e Livro
das aves são versões44 em língua portuguesa de originais latinos. Todos, em maior ou
menor grau, compartilham a temática didático-religiosa. Houaiss (2004, p. 247) define
didático como “destinado a instruir, o que facilita a aprendizagem”. Nessa mesma obra
(p. 635), religioso é o “que tem elementos de adoração; ou que segue ou professa uma
religião”. Dessa forma, são aqui chamados de textos didático-religiosos aqueles que têm
o propósito de educar social, filosófica ou religiosamente. Esses textos impressos
substituíram a tradição em que os grandes feitos eram passados oralmente.
41
<cipm.fcsh.unl.pt/>
42
Edição fac-similar e crítica do incunábulo de 1493 cotejado com os apógrafos, outros dados na seção
destinada a Referências.
43
Edição fac-similar do manuscrito do século XIV, outros dados na seção destinada a Referências.
44
As versões davam liberdade ao tradutor português para digressões, simplificações e acréscimos.
41
A análise das funções assumidas por onde diz se realiza considerando o contexto
de sua ocorrência. Dessa forma, os fragmentos contêm pelo menos uma oração anterior
e outra posterior ao objeto pesquisado, contemplando o formato: discurso1 + onde [diz]
+ SN + discurso2. Os fragmentos utilizados no corpo deste trabalho foram retirados do
corpus principal da pesquisa, a exceção dos fragmentos 6, 7, 8, 9 e 10 de caráter
explicativo ou ilustrativo. A seleção desse ou daquele fragmento priorizou tão somente
analisar adequadamente cada objeto ou fragmento. A enumeração dos fragmentos no
corpo do trabalho visa a sua orientação/identificação em sequência.
(17) [...] o orto da Sancta Scriptura he cercado de muy fortes sebes, per que he
muy segura, em tal guisa que nõ emadam nẽ mĩguẽ em ella. Onde diz Sam
Joham ẽno Apocalissy: Se alguẽ posser sobre esto, apoera Deus sobre elle as
plaguas scriptas em este liuro, [...].
O fragmento (17) é diferente de seu antecessor. Onde diz não retoma nenhuma
parte do texto anterior, senão todo o texto anterior e dá sequência para todo o argumento
posterior. Percebe-se a ligação de onde com ẽno Apocalissy. Apocalipse é uma seção
bíblica e, em virtude disso, um lugar, embora não físico. Por sua vez, o verbo dizer se
liga ao argumento posterior, ou seja, às palavras de São João: se alguẽ posser sobre
esto, apoera Deus sobre elle as plaguas scriptas em este liuro, [...]. Portanto, onde diz
no fragmento (17) possui mais características textuais e (+/-) locativas e funciona de
modo mais abstrato que o fragmento (16).
(18) [...] seja demostrado que foi soomente de graça, a qual nom precederom
méritos alguũs de homeẽs. A graça é atribuída ao Spíritu Santo. Onde diz a
glosa: “Spiritu é nome de toda graça, a qual é spirada de Deus”.
(O livro de vita Christi, p.73, grifo nosso)
Em (18), percebe-se que onde diz é representativo da função (-) locativa (+)
textual, por não se referir especificamente a nenhum ponto anterior ou posterior no
texto. Isso acontece ao mesmo tempo em que onde diz se volta para todo o argumento
anterior e posterior. Esse é o ponto mais alto de abstratização identificável no corpus,
em que a identificação espacial desapareceu.
(19) E aquell que aprender quer a Sancta Escriptura, cõpre-lhe que uiua bem e
estude ameude, onde diz Sancto Agostinho: Erra qualquer que pensa que pode
conhocer a uerdade, se ajnda mal uiue.
(20) Porém assi como sabedor e toda avergonhada, nom respondeu cousa,
cuidando em si meesma e examinando aquêlo que era dito. Onde Ambrósio:
“Maravilha-se da nova forma da saüdaçom, porque nunca fora ante achada e
soomente pera Maria se guardava esta saüdaçom”.
(O livro de vita Christi, p.69, grifo nosso)
44
Verifica-se que onde diz é encontrado em (19) com a função textual, no entanto
em (20), apenas o onde exerce a mesma função. No corpus não só há variantes quanto à
ocorrência, ou não, do verbo dicěndi, mas também quanto a pessoa, tempo e voz
nominal desse verbo, que são considerados no âmbito das análises.
4 ANÁLISE DE DADOS
QUANTITATIVO 3 16 86 105
(21) “Eu creo, mas da maneira per que se deve fazer pregunto”. Onde diz
Ambrósio: “Nom duvida seer fazedoiro aquela que preguntava per que maneira
se havia de fazer. [...]”.
(O livro de vita Christi, p. 73, grifo nosso)
SEM
VERBO dicěndi COM FORMA VERBAL FORMA TOTAL
VERBAL
3ª pessoa
3ª pessoa 3ª pessoa Gerúndio
singular
singular plural
PESSOAS E pretérito
presente presente
TEMPOS perfeito do Ø
indicativo indicativo
VERBAIS indicativo
QUANTITATIVO 63 2 4 1 35 105
PERCENTUAL 100%
(aproximado) 60% 2% 4% 1% 33%
45
O interesse pelas diferentes formas assumidas por onde nos séculos XIV-XV foram direcionadas à
seleção do corpus. Esta pesquisa não dará conta do estudo morfológico do onde.
48
SEPARAÇÃO
/INTEGRAÇÃO
U ONDE DIZ U Ʉ ONDE DIZ Ʉ Ʉ ONDE DIZ U U ONDE DIZ Ʉ TOTAL
QUANTITATIVO 1 89 11 4 105
(23) A aruor da palma significa a uitoria da ressureyçom dos mortos, ẽ que sera
a morte uẽçuda, assy como diz Sam Paulo: Absoruuda he a morte ẽ uitorya.
Onde diz hũũ filossafo, que chamam Plynio, que emna terra da parte do meodia
ha hũa palma que, quando he tam uelha que seca e podrece, nace outra uez de sy
meesma e torna a seer uerde.
O fragmento (23) pertence ao subgrupo representado por “Ʉ ONDE DIZ U”, que
possui o total de 11 ocorrências. A principal característica desse subgrupo é o onde não
possuir relações em anáfora e catáfora. Por outro lado, o verbo dizer se complementa
com uma oração substantiva objetiva direta, que emna terra da parte do meodia ha hũa
palma [...]. Nesse fragmento, excepcionalmente, é encontrada uma oração adjetiva, que
chamam Plynio, intercalada entre diz e seu complemento oracional, o que não é comum.
(24) A sabedorya celestrial he asy como a agua que uem do ceeo pello canal dos
liuros, onde diz ella de sy meesma (falando)pella boca do sabedor: Eu assy
como o cano da agua saay do parayso. Cõuem a saber viindo pella scriptura dos
liuros, ca pello cano da sabedoria celestrial se alinpam as çugidades dos
peccados, [...].
(Orto do esposo, livro 3 cap 3, fólio 18r, grifo nosso)
(25) E pera esquyvar este pecado da vaam gloria, tambem he boo remedio nom
fallar, screver ou dar aazo que se falle sem boo fundamento perante nos em
nossos proprios feitos. E nas cousas feitas com entençom de virtude, conssiirar
aquella pallavra de Davyd onde diz que o senhor quebrantará os ossos daquelles
que fazem seus feitos principalmente por prazerem aos homẽẽs, mostrandonos
que nom leixemos a nos meesmos fazer cousa que seja com proposito da vãã
gloria.
(Leal conselheiro, título 12, fólio 15r, grifo nosso)
50
(27) E pera esquyvar este pecado da vaam gloria, tambem he boo remedio nom
fallar, screver ou dar aazo que se falle sem boo fundamento perante nos em
nossos proprios feitos. E nas cousas feitas com entençom de virtude, conssiirar
aquella pallavra de Davyd onde diz que o senhor quebrantará os ossos daquelles
que fazem seus feitos principalmente por prazerem aos homẽẽs, mostrandonos
que nom leixemos a nos meesmos fazer cousa que seja com proposito da vãã
gloria.
Nesse fragmento, observa-se que onde articula referência anafórica, que retoma
o sintagma aquela palavra de David, confirmando, em termos semânticos, tendência
locativa. Sintaticamente, aquela palavra de David é o sujeito do verbo dizer que, por
sua vez, se complementa com oração na função sintática de objeto direto, ou seja, no
que tange ao critério integração, esse fragmento está inserido no subgrupo U ONDE DIZ U.
Ambos os fragmentos apresentam o traço (+) locativo (+) textual e não podem
ser retirados de suas funções sem prejuízo para o entendimento, embora, à primeira
vista, o onde diz se mostre semelhante ao evidencial pesquisado.
Essa função conta com 16 exemplares do total de 105 ocorrências. Nesse nível
intermediário, há ocorrência de SAdv46. Nos fragmentos (28) e (29), a posição do SAdv
é posposta ao verbo dicěndi:
(28) E assy bem parece que o fruyto da Sancta Scriptura he muy deleytoso,
onde diz Salamõ ẽno Cantar do Amor: E o seu fruyto he doce ao meu
gorgomillo.
(Orto do esposo, livro 2 cap 7, fólio 11r, grifo nosso)
46
Sintagma adverbial.
52
(29) E asy achou Sam Jheronimo ẽna Sancta Escriptura a mirra da mortificaçom
da sua carnẽ e as outras uirtudes, [...], e husou dellas pella graça de Deus, onde
diz Salamõ ẽno Cantar do Amor, falando pello Spiritu Sancto em persoa do
esposo Jhesu Christo aa esposa: Oo, minha jrmãã e minha esposa, eu vĩĩ ẽno
meu orto e mesturey a minha mirra con as minhas especias de bõõ odor.
(Orto do esposo, livro 2 cap 4, fólio 8v, grifo nosso)
Por fim, nesse mesmo fragmento (29), onde diz é separado do discurso anterior e
posterior e integrado a sua própria cláusula em função evidencial. Do mesmo modo que
em (28), exerce referência catafórica sobre o ẽno Cantar do Amor, o que destaca sua
tendência ainda locativa. Salamõ faz vezes de origem indireta da informação.
Neste grupo de tendência (+/-) locativa (+) textual, foi encontrado um dado em
que o SAdv se situa em meio a onde e a diz, o que acarreta desconexão desses
elementos, mas não o apagamento da função evidencial. Veja-se o fragmento (30):
47
Oração adverbial reduzida de gerúndio.
53
(30) E per que maneira poderia seer sôo aquela a que eram presentes tantos
livros, arcângeos e profetas? E onde Sam Gabriel, que a soía de visitar,
sobrechegou? [Em a cela]. Onde em outra parte diz Jerónimo: “Teerás cela
em que nom caiba outrem senom tu soo; mas não serás soo [...]
(O livro de vita Christi, p.65, grifo nosso)
Até aqui foram mostrados os níveis mais locativos dos dados levantados no
corpus desta pesquisa, agora se destacam os classificados como (-) locativos (+)
textuais, isto é, aqueles localizados no ponto mais avançado de gramaticalidade, em que
prepondera a função evidencial. Esse grupo registra 86 ocorrências do total de 105, ou
seja, 86% dos dados se situam no ponto mais alto de convencionalização de onde diz no
corpus. Nesse ponto, os elementos onde e diz estão altamente integrados, conforme os
fragmentos (31) e (32) que seguem:
48
Persuasão consiste em tentar convencer o outro usando uma retórica que não seja obrigatoriamente
lógica, mas que tenha uma força argumentativa, ou seja, os argumentos devem ser válidos para esse tu em
particular segundo suas próprias referências e interesses, considerando que as apreciações do absoluto e
da evidência são sempre relativas a uma relação/situação particular e por isso, subjetivas”. (Charaudeau,
s/d, p. 2, tradução livre do original “Persuasión consiste en intentar convencer al outro usando una
retórica que no sea obligatoriamente lógica sino que tenga una fuerza augumentativa, [...]. O sea que los
argumentos que se usan sean válidos para este tú en particular [...], según sus proprias referencias, sus
próprios interesses. [...] las apriencias de lo absoluto y de la evidencia, es siempre relativa a uma situación
y a uma relación particular, y por ende es subjetiva”).
49
“A sedução não é tão rigorosa quanto ao que concerne à razão. Apenas lhe interessa tocar na emção do
interlocutor e fazer-lhe aderir a sua visão de mundo por força de seus valores afetivos, considerando que a
estrutura afetiva dos indivíduos tem sempre uma base social na medida em que passa sempre por
representações sociais coletivas” (Charaudeau, s/d, p. 2, tradução livre do original “Seducción no se toma
la moléstia de mostrarse muy rigurosa en cuanto a todo lo que concierne la razón. Sólo le interesa tocar la
emoción del interlocutor y hacerle adherirse a su visión del mundo por la fuerza de unos valores
afectivos. [...]. La estructura afectiva de los indivíduos tiene siempre uma base social em la medida que
pasa siempre por representaciones sociales colectivas”).
55
Também fazem parte desse quadro (-) locativo (+) textual, outras formas
correspondentes. Uma delas é ilustrada a seguir:
(33) Mais, [...], a[s] Sanctas Escripturas emsinã o entendimẽto da mẽte e da alma
do homẽ e tiran-no das uaydades do mũdo e reduzẽ-no ao amor do Senhor Deus,
onde diz Sam Jheronimo que aquelle que nõ sabe a[s] sanctas leteras, este tal
nõ sabe leteras.
50
“Legitimidade é o estado ou qualidade de quem está fundamentado em falar ou agir como o faz, em
nome de algo. É o mecanismo pelo qual alguém é legitimado, é o mecanismo de reconhecimento de um
sujeito por outros sujeitos em nome de um valor aceito por todos” (Charaudeau, s/d, p.1, tradução livre do
original “La ‘legitimidad’ es el estado o cualidad del que está fundamentado em hablar o actuar como lo
hace, em nombre de algo [...]. El mecanismo por el cual uno es legitimado, es el mecanismo de
reconocimiento de um sujeto por otros sujetos em nombre de um valor aceptado por todos [...].”)
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“A credibilidade, ao contrário, é construída pelo próprio sujeito. É o sujeito que, preocupado em ser
considerado como alguém digno de fé, constrói uma imagem de si mesmo que garanta sua capacidade de
dizer a verdade e de poder realizar concretamente o que anuncia ou promete.” (Charaudeau, s/d, p.1,
tradução livre do original “La ‘credibilidad’, en cambio, es construída por le sujeto mismo. Es el sujeto
que, preocupado por la cuestión de ser considerado como alguién digno de fe, se construye uma imagen
de si mismo que garantice su capacidad em decir la verdad y em poder realizar concretamente lo que
anuncia o promete”).
56
Como os demais fragmentos (-) locativos (+) textuais, o evidencial de base onde
[SN] não participa da configuração sintático-oracional do fragmento em que está
inserido, embora os argumentos anterior e posterior, tanto em (34) quanto em (35),
desenvolvam a mesma temática. No fragmento (34) tem-se corpo, carne e sombra em
ambos os argumentos, o mesmo acontece em (35), com obra e Trindade. Nessa
tipologia de estrutura diferenciada (sem verbo), que conta com 35 ocorrências, a
ausência do elemento verbal não prejudica a função evidencial, ou seja, Onde Bernardo
57
e Onde Agustinho assumem a função desempenhada por onde diz [SN]. Na estrutura
mais usual de três elementos, o sintagma nominal é facilmente confundido com o
sujeito da cláusula, agora com a ausência verbal não mais, Bernardo e Agustinho são,
efetivamente, a fonte da informação.
(36) [...] nom há i cousa que assi possa desordenar nossa vida como nom curar
de fazer boas obras e poê-las em trespasso sempre. Êsto é o que muitas vezes
nos faz caer de tôdolos beẽs. Onde disse uũ [saibo] que a boa obra nunca se
deve perlongar, por tal que nom venha alguũ acontecimento [...]
(O livro de vita Christi, p.89, grifo nosso)
(37) E o nosso hũguentayro e buticayro Jhesu Christo ueo asy como piadoso
[fisico] aos enfermos pera os auiuẽtar, e porẽm entrou emno castello da sancta
jgreya, em que mora a sabedoria da Sancta Escriptura, que em outro tempo foy
chagada mais agora he ya sãã. Onde dizem os poetas que que Apollo cauou hũa
fonte emno seu orto, que, quando viinha o sol, era feyta tam frya, que a nõ
58
podiam beuer, mais, depois que se poynha o sol, aqueecia em tal maneyra que
aadur podya o homẽ teer as mããos em ella.
Do mesmo modo que o fragmento anterior, onde dizem [SN] pertence ao molde
(-) locativo (+) textual, confirmando a abstratização e a semântica evidencial.
Sintaticamente, o verbo no plural acompanha os poetas, o que desafia o apontamento de
seu status categorial. Trata-se de sujeito ou fonte de informação? A opção pelo uso do
substantivo comum no plural também pode recair na estratégia do enunciador1 de não
querer, não poder, ou mesmo não saber especificar esses poetas. Essa estratégia faz
extravasar do texto certa insegurança no que tange à veracidade da informação elencada
por tais poetas (enunciador2), bem como à possível credibilidade almejada pelo
enunciador1.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa linha, também observamos que a função discursiva está associada à alta
integração dos elementos onde + diz, como também à separação sintática dessa
expressão de seus argumentos anterior e posterior, ou seja, quanto mais discursivo, mais
integrado entre si e mais separado dos demais elementos do contexto discursivo
(discurso 1 e discurso 2). A partir da seleção, posicionamento e contexto discursivo
supracitados de onde diz, constatamos a ação de forças discursivas e cognitivas
atinentes a (inter)subjetividade e inferência sugerida (Traugott e Dasher, 2005).
Diante desses resultados, concluímos que onde diz, tal qual utilizado no
português arcaico, é altamente funcional, motivado por evidencialidade e Tradições
Discursivas. Os resultados desta pesquisa não se esgotam aqui e ensejam
aprofundamentos.
61
6 REFERÊNCIAS
BARNES, J. Evidentials in the tuyuca verb. In: Journal of American linguistics, v. 50,
1984. p. 255-271
BATORÉO, H. Expressão do espaço no português europeu: contributo psicolinguístico
para o estudo da linguagem e cognição. Coimbra: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2000.
BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2009.
CARTUSIANO, L. O livro de vita Christi. Vol.1. Casa de Rui Barbosa. [entre 1957-
1968].
______. Uma análise funcional da modalidade epistêmica. Revista Alfa, São Paulo, 40:
p. 151-173, 1996.
PAIVA, D. F. História da língua portuguesa II. Século XV e meados do século XVI. São
Paulo. Editora Ática, 1988.
SILVA, R. V. M. O português arcaico: uma aproximação. Vol II. Lisboa, 2008. p. 111-
121.
SILVA, M. O novo acordo ortográfico da língua portuguesa: o que muda e o que não
muda. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2010.
ANEXOS
(1) [...] terras onde sse partio porque sõ já caentes. E esto he o que diz o propheta Isayas
en pessoa de Nostro Senhor, queyxando-sse do seu poboo de Israel hu diz: a tôrtor e a
andorĩha e a cegoonha conhoceron o tẽpo dassa viinda, [...]. (Livro das aves, p. 36, grifo
nosso)
(2) [...] o coraçõ do homen previsto faze-sse sabedor e arteyro que se guarde do laço que
lhi põẽ e armã na carreyra. Onde diz o outor que son três laços. (Livro das aves, p. 44, grifo
nosso)
(3) E pera esquyvar este pecado da vaam gloria, tambem he boo remedio nom fallar,
screver ou dar aazo que se falle sem boo fundamento perante nos em nossos proprios
feitos. E nas cousas feitas com entençom de virtude, conssiirar aquella pallavra de
Davyd onde diz que o senhor quebrantará os ossos daquelles que fazem seus feitos
principalmente por prazerem aos homẽẽs, mostrandonos que nom leixemos a nos
meesmos fazer cousa que seja com proposito da vãã gloria. (Leal conselheiro, título 12, fólio
15r, grifo nosso)
(4) [...]. Mais, segundo diz Sancto Ysidro, a[s] Sanctas Escripturas emsinã o
entendimẽto da mẽte e da alma do homẽ e tiran-no das uaydades do mũdo e reduzẽ-no
ao amor do Senhor Deus, onde diz Sam Jheronimo que aquelle que nõ sabe a[s] sanctas
leteras, este tal nõ sabe leteras. (Orto do esposo, livro 1, cap 0, fólio 80r, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(5) [...] porque nõ ouuerõ a sabedoria, morrerõ e per[e]cerom polla sua neicidade. Onde
diz Salamõ: Vãão he todo homẽẽ que nõ he a sciencia de Deus. (Orto do esposo, livro1, cap
0, fólio 80r, grifo nosso)
(6) [...] o seu nome glorioso deue seer chamado ẽ começo de toda boa obra, e ẽno seu
sancto nome deue o homẽ de fazer toda cousa, onde diz o apostolo: Jrmããos, qualquer
cousa que fezerdes, todo fazede ẽ nome do Senhor Jhesu Christo, [...]. (Orto do esposo,
livro 1, cap 1, fólio 2v grifo nosso)
(7 e 8) [...]. E porẽ ẽno começo desta obra puge o nome de Jhesu Christo, e ẽno seu
nome a comecey, o qual nome he muy delectoso, onde diz Jhesu, filho de Sirac: Asi
como o mel seera doce a renebrãça delle, convem a saber do nome que he Jhesu, que
quer dizer saude. Onde diz Sam Lucas ẽnos Autos dos Apostolos que nõ ha hi saude ẽ
outro nehũũ sẽnõ em Jhesu Christo. (Orto do esposo, livro 1, cap 1, fólio 2v, grifo nosso).
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(9) E este nome tragia Sam Paulo por candea ante os gentiis e ante os reis, onde diz
Sam Bernardo: Rogo-te que me digas donde ueeo tanta lux de fe ẽno mũdo sẽnõ do
nome de Jhesu Christo preegado. (Orto do esposo, livro 1, cap 1, fólio 2v, grifo nosso).
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(10) [...]. Outrosy, este nome Jhesu he manyar, onde diz Sam Bernardo: Dy tu, homẽ!
Per uẽtura nõ recebes tu conforto quantas uezes te lenbras deste nome Jhesu? Certo sy.
(Orto do esposo, livro 1, cap 2, fólio 3v, grifo nosso)
(11) [...]. O nome Jhesu he meezinha, onde diz Sam Bernardo: Se algũũ de uos he
triste, uenha-uos ao coraçom Jhesu, e do coraçom salte emna boca, e, tanto que nacer
este nome e~no coraçom e ẽna boca, logo o lume dele afastara e derramara toda cousa
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escura e triste e fara toda cousa clara e lomeosa. (Orto do esposo, livro 1, cap 3, fólio 4r, grifo
nosso)
(12) O seu nome sera chamado marauilhoso. Outrossy, este nome Jhesu he muyto pera
louuar, porque he grande, onde diz o propheta Malachias: O meu nome he grande ẽnas
gentes, dise o Senhor. (Orto do esposo, livro 1, cap 4, fólio 4v, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(14) [...], a uirtude deste nome Jhesu he de grande alteza e de grande excelencia, onde
diz Sam Bernardo: O nome do Saluador he nome de meu jrmãão e da minha carnẽ e do
meu sangue, nome marauilhoso. [...] (Orto do esposo, livro 1, cap 5, fólio 5v, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(15) [...]. Este nome Jhesu subjuga todallas cousas, onde diz o apostolo: Eẽno nome de
Jhesu todo geolho se ĩclinẽ das cousas celestiaes, terreaaes e emfernaaes. (Orto do esposo,
livro 1, cap 5, fólio 5v, grifo nosso)
(16) [...], ẽ este tempo derredeyro, soom ẽçuyada e fea e corrupta e chea de desonrra
pellos maaos prelados, e porẽ pareço asy podre da parte de tras. Onde diz o propheta,
falando da egreya militante: A prata della tornada he em escoyra, e tirada he toda
fremusura da filha de Syom; per que se entende a egreya militante. (Orto do esposo, livro 2
cap 3, fólio 7v, grifo nosso)
(17) Todas estas especias acha o homẽ ẽno orto da Sancta Escriptura e todalas outras
especias de uirtudes que som pera saude e meezinha e cõforto das almas, onde diz
Salamõ ẽno Cantar do Amor, falando ẽ pesoa da esposa: O meu amado descendeo ẽno
seu orto aas leiras das especias. (Orto do esposo, livro 2 cap 4, fólio 8r, grifo nosso)
(18) E asy achou Sam Jheronimo ẽna Sancta Escriptura a mirra da mortificaçom da sua
carnẽ e as outras uirtudes, [...], e husou dellas pella graça de Deus, onde diz Salamõ
ẽno Cantar do Amor, falando pello Spiritu Sancto em persoa do esposo Jhesu Christo
aa esposa: Oo, minha jrmãã e minha esposa, eu vĩĩ ẽno meu orto e mesturey a minha
mirra con as minhas especias de bõõ odor. (Orto do esposo, livro 2 cap 4, fólio 8v, grifo nosso)
(19) Assy como ho orto do parayso terreal he muyto delectoso com flores muy
fremosas, bem asy ẽno orto da Sancta Scriptura ha muytas flores muy esplandecentes
em sua color, per que ella he conprida de muy preciosos e muy deleytosos odores, onde
diz Salamõ ẽno Cantar do Amor, falando pello Spiritu Sancto en pessoa do esposo:
Flores aparecerõ ẽna nossa terra. (Orto do esposo, livro 2 cap 5, fólio 9r, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(20) E porẽ diz Sam Bernardo que o canpo [da Sancta Scriptura he hũũ ca~po muy]
grande e muy ancho, cheeo de muytos e desuayrados testemunhos de uerdade assy
como de flores fremosas, que dam mantiimẽto e refeyçom aos que per ella leem. Onde
diz Salamõ ẽno Cantar do Amor, falando en pessoa da esposa: Descendeo o meu
amado ẽno seu orto pera pacer ẽnas ortas e colher os lylios. (Orto do esposo, livro 2 cap 5,
fólio 9r, grifo nosso)
(21) Asy como ẽno orto do parayso terreal ha muytas aruores muy nobres de muytas
maneyras, bẽẽ assy ẽna Sancta Scriptha há aruores muy fremosas e de grande prazer,
onde diz Jhesu, filho de Syrac: A rrayz da sabedorya he temor do Senhor, e os seus
ramos muyto antygos. E em este orto da Sancta Scriptura he o cedro da esperança das
cousas celestriaes e a olyueira da piedade e a palma da uitoria. (Orto do esposo, livro 2 cap
6, fólio 10r, grifo nosso)
(22) E em meo deste orto he o lenho desta uida, que he Jhesu Christo, que he fim e
perfeiçom da Sancta Escriptura, e todas as outras aruores nobres, uirtuosas e spirituaes,
que ha fazem muy alta e muy deleytosa, onde diz Jhesu, filho de Syrac, falando en
persoa da sabedoria da Sancta Escriptura: Eu soom exalçada como o cedro ẽno monte
de Libano e assy como o acipreste ẽno monte de Syom, e asy como a palma soom
exalçada em Cades e asy como a oliue[i]ra fremosa emnos campos. (Orto do esposo, livro
2 cap 6, fólio 10r, grifo nosso)
(23) A aruor da palma significa a uitoria da ressureyçom dos mortos, ẽ que sera a morte
uẽçuda, assy como diz Sam Paulo: Absoruuda he a morte ẽ uitorya. Onde diz hũũ
filossafo, que chamam Plynio, que emna terra da parte do meodia ha hũa palma que,
quando he tam uelha que seca e podrece, nace outra uez de sy meesma e torna a seer
uerde. (Orto do esposo, livro 2 cap 6, fólio 10r, grifo nosso)
(24) [...] e porẽm he dito que a aruor da palma, que significa victoria, nace ẽno orto da
Sancta Scriptura, e as outras aruores, que significam as uirtudes, onde diz Jhesu, filho
de Syrac, falando en pessoa da sabedoria da Sancta Scriptura: Eu asy como a aruor do
terebinto estendi os meus ramos, e os meus ramos som de õrra e de graça. (Orto do
esposo, livro 2 cap 6, fólio 10v, grifo nosso)
(25) Assy como ẽno orto do parayso terreal ha muy saborosos fruytos, bem asy ẽno
orto da Sancta Scriptura ha grande auõdamento de muy dilicados fruytos, onde diz
Salamõ emno Cantar do Amor (falando) ẽ perssoa da esposa ao esposo: Venha o meu
amado ẽno seu orto, por tal que coma os fruytos do[s] seus pomos. (Orto do esposo, livro 2
cap 7, fólio 10v, grifo nosso)
(26) [...], ca ẽna Sancta Scriptura acha o homẽ as hũũas da spiritual alegria e os figos da
dulçura perdurauil e as spigas da madureza das boas obras e as nozes da paciencia.
Onde diz Jhesu, filho de Syrac, falando em persoa da sabedoria da Sancta Scriptura:
72
As minhas flores som fruytos de honrra e de onestidade. (Orto do esposo, livro 2 cap 7, fólio
10v, grifo nosso)
(27) E assy bem parece que o fruyto da Sancta Scriptura he muy deleytoso, onde diz
Salamõ ẽno Cantar do Amor: E o seu fruyto he doce ao meu gorgomillo. (Orto do esposo,
livro 2 cap 7, fólio 11r, grifo nosso)
(28 e 29) Assy como o orto do parayso terreal recebe em sy muy temperados orualhos,
bem assy o orto da Sancta Scriptura he regado cõ orualhos muy blandos celestriaaes,
que a fazẽ muy auo~dosa e muy fructuosa, onde diz Job: Quẽ he aquel que geerou
stilaçom do orualho? E sobre esto diz Sam Gregorio geerar stilaçom do orualho he
spirar o Senhor Deus a Sancta Scriptura e os sanctos falamẽtos asy como stilamẽtos e
goteyras dorualho, onde diz Moyses: Corra asy como orualho a minha palaura. (Orto do
esposo, livro 2 cap 8, fólio 11r, grifo nosso)
(30 e 31) Assy como ho orto do parayso terreal he muy praziuel cõ muyta uerdura
deruas que sempre ẽ elle som, bem assy ẽno orto da Sancta Scriptura he todo
auõdamẽto de heruas pera meezinhas de toda ẽfirmidade da alma, ca hi ha ho ysope da
linpeza do coraçom e as alfaças montisinhas da amargura da peendença e o nardo da
humildade e todalas outras heruas uirtuosas. Onde diz Salamõ emno Cantar do Amor:
O meu nardo deu blandeza de odor. Ca a palaura da Sancta Scriptura da saude aas
jnfirmidades da alma, onde diz o propheta Dauid: Emviou o Senhor Deus a sua palaura
e deu-lhe saude. [...]. (Orto do esposo, livro 2 cap 9, fólio 11v, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(32) Asy como ẽno orto do parayso terreal ventom muy tenperados uẽtos que o fazem
muy tẽperado ẽ boõõs aares, bem asy o orto da Sancta Scriptura he muy praziuel e de
grande saude per muy tenperados ventos que em ella uẽtam muy mãsamente e soplam
muy tẽperadamente, onde diz Salamõ ẽno Cantar do Amor: Leuãta-te, aguiam, e tu,
auegro, vem e sopra ẽno meu orto e correrom as especias delle. Onde sabede que entõ
sopra o uẽto do auegro, que significa o Spiritu Sancto ẽno orto da Sancta Escriptura,
[...]. (Orto do esposo, livro 2 cap 10, fólio 12r, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(33) [...] per que os coraçõões dos fiees se estendam mais conpridamente e cõ mayor
feruor pera receber e cõprir a palaura de Deus, e quando a cõciencia escorregadia e a
maa cobiiça he refreada. E entom as especias uirtuosas e de boõõ odor escorrem,
porque aquel fructu que primeyro pendia ẽna aruor, gosta-o o homẽ ẽna obra muy
docemente, Onde diz o propheta Ysaias: Poera o deserto della asy como delectos e o
hermo della asy como o orto do Senhor. (Orto do esposo, livro 2 cap 10, fólio 12v, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(34) E aquell que aprender quer a Sancta Escriptura, cõpre-lhe que uiua bem e estude
ameude, onde diz Sancto Agostinho: Erra qualquer que pensa que pode conhocer a
uerdade, se ajnda mal uiue. (Orto do esposo, livro 2 cap 10, fólio 12v, grifo nosso)
(35) E per estas absteenças e per outras muytas abscondidas e outras obras uirtuosas
pose em obra aquelo que aprendeo cõ o uẽto tẽperado do Spiritu Sancto, onde diz Sam
Jeronimo: Sempre reuolue em tuas mããos as Sanctas Escripturas e cõtinuadamẽte ẽna
tua mente, [...]. (Orto do esposo, livro 2 cap 10, fólio 13r, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(36) [...] ẽno orto da Sancta Scriptura ha muy doces soo[n]s e cantares daues que a
fazem muy delectosa, onde diz o propheta Ezechiel: As aues do ceeo cantarõ. (Orto do
esposo, livro 2 cap 11, fólio 13r, grifo nosso)
(37) E pregũtou o papa ao bispo como soubera tam uerdadeyramente o luguar hu estauõ
aquelles liuros e esconjurou-o que lho dissesse en toda guisa, e o bispo lhe contou todo
cõmo lhe aueera, e dissy leuou os lyuros e foy-sse pera sua terra. E assy podemos
entender que os sanctos doutores cantam muy deleytosos cantares em suas scripturas,
que som muy deseiadoyras de ouuir a toda alma deuota, onde diz Salamõ ẽno Cantar
do Amor: Sooe a tua uoz ẽnas minhas orelhas, ca a tua uoz he doce e a tua face
fremosa, a qual he a herdade ẽnas ortas do amigo. Faze-me ouuir a tua uoz. (Orto do
esposo, livro 2 cap 11, fólio 14r, grifo nosso)
(38) [...] ẽno orto da Sancta Scriptura ha rios de muy puras e claras auguas, de que he
regada muy auõdosamẽte, onde diz Sam Joham: Do seu uẽtre sayrõ auguas uiuas. (Orto
do esposo, livro 2 cap 12, fólio 14r, grifo nosso)
(39) Esta he a ciencia dos ryos da Sancta Scriptura, que nacem da fonte que saae do
coraçõ do Padre perdurauil, onde diz o propheta Ysaias: [S]era fonte da qual nõ
falecerõ auguas. (Orto do esposo, livro 2 cap 12, fólio 14v, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(40) [...] o orto da Sancta Scriptura he cercado de muy fortes sebes, per que he muy
segura, em tal guisa que nõ emadam nẽ mĩguẽ em ella. Onde diz Sam Joham ẽno
Apocalissy: Se alguẽ posser sobre esto, apoera Deus sobre elle as plaguas scriptas em
este liuro, [...]. (Orto do esposo, livro 2 cap 13, fólio 15r, grifo nosso)
(42) E per este edificio tam nobre se entende a sancta jgreya, que he ajuntamẽto dos
fiees, onde diz Sam Joham ẽno Apocalipsi, falando da jgreya: Eu vy a cidade de
Jherusalem, que descendia do ceeo, apostada cõ ouro linpo e ticida con pedras
preciosas, e o guarnimẽto do muro della era de jaspe. (Orto do esposo, livro 3 cap 1, fólio 16v,
grifo nosso)
(43) E porẽm diz Sancto Agostinho: O sangue do fisico foy espargido e foy fecta
meezinha pera o frenetico. Onde diz Jhesu, filho de Syrac: O buticayro fara confeyções
de blandeza e de saude. (Orto do esposo, livro 3 cap 1, fólio 17r, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(44) E o nosso hũguentayro e buticayro Jhesu Christo ueo asy como piadoso [fisico]
aos enfermos pera os auiuẽtar, e porẽm entrou emno castello da sancta jgreya, em que
mora a sabedoria da Sancta Escriptura, que em outro tempo foy chagada mais agora he
ya sãã. Onde dizem os poetas que que Apollo cauou hũa fonte emno seu orto, que,
quando viinha o sol, era feyta tam frya, que a nõ podiam beuer, mais, depois que se
poynha o sol, aqueecia em tal maneyra que aadur podya o homẽ teer as mããos em ella.
(Orto do esposo, livro 3 cap 1, fólio 17r, grifo nosso)
(45) [...] ca a sancta sciencia da theoligia he huũũ pooço tam alto, que poucos podem
tirar a agoa delle sẽnõ com a ajuda da fe, onde diz Jhesu, filho de Syrac: Cheo he, assy
como o ryo, de sabedoria. (Orto do esposo, livro 3 cap 1, fólio 17r, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(46) [...]. A Sancta Escriptura contem em sy toda sabedoria, onde diz Sancto Agostinho
que qualquer cousa que o homẽ aprender fora da Sancta Escriptura, se cousa he danossa
que empeeça, aly achara per que seya condẽnada, [e sse cousa he proueytosa], emna
Sancta Escriptura a achara. (Orto do esposo, livro 3 cap 2, fólio 17r, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(47) [...] aly achara per que seya condẽnada, [e sse cousa he proueytosa], emna Sancta
Escriptura a achara. E diz outrosy que nõ ha hi leteras que seiam conparadas aos dous
preceptos do Senhor Deus, convem a saber amaras Deus sobre todallas cousas, e o teu
prouximo como ty meesmo, emnos quaaes he toda arte e toda sciencia, ca aly he a
fisyca, ca todallas cousas e as razõões das naturas som em Deus, aly he a filosafia, ca a
boa vida nõ se forma per outra guisa sẽnã amãdo o Senhor Deus, aly he a logica, ca o
lume da alma nõ he sẽnõ Deus, aly he a saude e a mãtẽẽça da prol comunal, ca a cidade
nõ pode seer edificada nẽ guardada sẽnõ per liamẽto da fe. E porẽm todos deuiã studar
e aprender-sse a ella, onde ella meesma diz per Salamõ a todos: Ouuyde-me, ca eu
falarey de grandes cousas, e os meus beyços seeram abertos pera preeguar cousas
dereytas, e o meu paadar pensara uerdade. (Orto do esposo, livro 3 cap 2, fólio 17r, grifo nosso)
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(48) E, assy como a Sancta Escriptura he mais excellente e mais nobre que toda outra
sciencia, bem assy todo aquel que em ella ouuer de studar e per ella leer deue seer mais
perfecto que os que leem e estudam pellas outras sciencias, onde diz meestre Hugo que
aquel que leer polla Sancta Scriptura deue asy studar, em guisa que obre per ella. (Orto
do esposo, livro 3 cap 2, fólio 17v, grifo nosso)
(49) Mais deue home~ studar e leer pella Sancta Escriptura pera seer preste pêra dar
razom da fe a aquelle que lha demãdar e pera destruir os emmiigos da uerdade e que
conheçam mais perfectamẽte o caminho da uerdade e que a ẽsinẽ a aquelles que nõ som
tanto ẽsinados, e en toda guisa conprir per obra aquello que leer, e asy auera a
sabedoria, onde diz Jhesu, filho de Syrac: A aquelles que piadosamente obrã deu o
Senhor Deus a sabedoria, s. da Sancta Scriptura. (Orto do esposo, livro 3, cap 2, fólio 18r, grifo
nosso)
(50) [...]. A sabedorya celestrial he asy como a agua que uem do ceeo pello canal dos
liuros, onde diz ella de sy meesma (falando)pella boca do sabedor: Eu assy como o
cano da agua saay do parayso. Cõuem a saber viindo pella scriptura dos liuros, ca pello
cano da sabedoria celestrial se alinpam as çugidades dos peccados, [...]. (Orto do esposo,
livro 3 cap 3, fólio 18r, grifo nosso)
(51) E os liuros das sanctas sciencias conteem em sy o mãyar da alma, que tira a fame da
palaura de Deus, a qual fame tiram as riquezas da Sancta Scriptura, onde diz Salamõ:
Nõ afligera o Senhor Deus a alma do justo cõ fame. (Orto do esposo, livro 3 cap 3, fólio 18r,
grifo nosso)
(52) E pore~m rey Tholameu fez liures triinta mil judeus, por lhe mãdarẽ mais tostemẽte
de Jherusalem treladadores que lhe treladasem a Sancta Escriptura do Testamento Uelho,
e pose rey Tholameu estes liuros emno seu thesouro, em que auia cinquoẽta mil liuros,
ca a sabedorya he thesouro. Onde diz o sabedor: Eu dixe que as requezas som nehũa
cousa em conparaçom della, nẽ conparey a ella toda [pedra] preciosa, [...]. (Orto do esposo,
livro 3 cap 3, fólio 19r, grifo nosso)
(53) E outrossy os sanctos liuros som asy como o ca~nal da agoa, em [que] parecem as
jmage~e~s das aues caçadores, e pore~ os sanctos home~e~s se ocupam de leer per elles
pera ueere~ os enganos dos emmiigos, pera se perceberem delles, onde diz Salamo~
e~no Cantar do Amor: Os olhos della - conuem a saber da alma do sancto baro~ - som
assy como de po~o~ba sobre os ryos das agoas, que estam acerca dos rryos muy cheos
dagoa. (Orto do esposo, livro 3 cap 3, fólio 19r, grifo nosso)
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(54) Depois que el foi em terra, achou os coraço~es tam duros e tam envoltos nos
pecados mortaes, que tam maus lhe eram de tornar a si quam mau seria a u~u~ homem
molentar u~a pedra mui grande. Onde disse el pola boca do seu profeta Davi: “Eu som
selheiro na minha paixam”. (Demanda do Santo Graal, título 60, fólio 20B, grifo nosso)
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(55) E, quando a vio decer pola montanha e os ca~es apo´s ela, começou-se a sinar pola
ligeirice que lhe viu. Onde o disse depois em Camaalot a rei Artur que lhe demandava
as novas: – Senhor, quando a seeta sae da beesta nom vai tam toste como a eu vi correr.
(Demanda do Santo Graal, título 101, fólio 31B, grifo nosso)
(56) “Contigo [é] o princípio, em o dia da tua virtude, nos splendores dos santos; do
ventre, scil., da sustância minha, ante do luzeiro, scil., ante da criaçom do mundo, eu te
geerei”. Onde, quando se diz: “Hoje te geerei”, entende-se do dia da eternidade, que
abrange todo o dia. (O livro de vita Christi, p. 33, grifo nosso)
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(58) Moralmente, a luz alumea nas treevas, porque a virtude se mostra nas aversidades e
a virtude na infirmidade se acaba. Onde Sam Gregório: “Nom conhece alguém quanto
aproveitou, salvo na aversidade; [...] (O livro de vita Christi p.35, grifo nosso)
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(59) O qual é virtude mui alta e sabedoria, no qual o Padre despõe tôdalas cousas de
sempre, per o qual fez os segres e os governa e ordena aa sua glória, em parte per graça
em parte per justiça, e em outra per misericórdia: e assi nom leixa em este mundo algῦa
cousa por ordenar. Onde Agustinho: “[Como] o esplendor nace da sustância do sol, assi
entendamos o Filho geerado da sustância do Padre; [...]. (O livro de vita Christi p.37, grifo
nosso)
(60) [...] em tôdalas cinco idades deste mundo nunca cessou de prometer e afigurar e
denunciar a viinda de seu Filho per os patriarcas, per os juízes, sacerdotes, reis e
profetas, dês Abeel justo atees Sam Joam Bautista, por tal que, per muitos milhares de
tempos e de anos, e per grandes desvarios e multipricados ditos e demostranças,
alevantasse nossos entendimentos aa fé e esqueentasse nossas voontades per grandes e
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vivos desejos. Onde diz Leo Papa: “Cessem as querelas que dizem e se queixam da
tardança da nacença de Deus, [...]. (O livro de vita Christi p.39, grifo nosso)
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(61) Mas aí de nós, mezquinhos, deste tempo de agora, que nom havemos tam grande
afeiçom aa graça que nos já é dada, como haviam aquêles aa que lhe era prometida.
Onde Bernardo: “Recordando-me ameúde dos que desejavam e suspiravam por a
presença de Cristo em carne, [...]. (O livro de vita Christi p.39, grifo nosso)
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(63) “Mas porque a geeraçom natural nom consentia de se êsto fazer, o Senhor David
foi feito filho de David, e da geeraçom prometida veeo e foi nacido filho sem pecado”.
Onde Anselmo outrossi diz: “A nossa natura no começo foi criada aa semelhança de
Deus, [...]. (O livro de vita Christi p.41, grifo nosso)
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(64) Nem foi esta Virgem achada de sobreventa nem per acontecimento, mas
predestinada de sempre. Onde Damasceno: “Essa Madre de Deus, de sempre em tempo
previsto per conselho de Deus ante determinada, per desvairadas imageens e
santificaçoões dos profetas per o Spíritu santo foi primeiramente imaginada e
preegada”. (O livro de vita Christi, p. 43, grifo nosso)
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(65) E no ventre da madre, per privilégio singular, foi livre do pecado original. Onde
Bernardo: “É a Virgem Maria [cumulada] destes privilégios ajuntados, a qual sem
dúveda, ante foi santa que nada. (O livro de vita Christi, p.45, grifo nosso)
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(66) Pois ao feitor nom desapraz, louvemos a obra que fêz, por tal que quem quer que
desejar o galardam siga o exemplo dela. Êsto Ambrósio. Onde Anselmo: “Como naceu
e nos anos da meninice quam castamente, quam santa e quam digna ordenou e fêz sua
vida [...]. (O livro de vita Christi p. 47, grifo nosso)
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(67) E depois declarando cada uum o seu per palavra, prometerom ambos a Deus
virgindade. Onde diz Hugo que, como assi fosse que a bem-aventurada Virgem fezesse
voto de virgiindade e os padre e madre a mandassem casar, [...]. (O livro de vita Christi p.49,
grifo nosso)
(68) [...] e põe exemplo em Abraã, que houvera prometimento de haver Isac ou a sua
semente, e depois empero lhe foi mandado que o oferecesse em sacrifício; o qual
obedeeceu ao mandado, seendo certo que, ainda que, segundo razom humanal,
parecesse contrairo ao que lhe era prometido, que, segundo a virtude per que tôdalas
cousas eram a Deus possívees, se poderia comprir a promissom com a obediência do
mandamento. E assi foi feito, que el da obediência houvesse mérito, e houvesse o efecto
da promissom. E assi pôde seer no propósito da bendita Virgem. Onde Anselmo: “Estas
duas cousas ledamente guardava – virgindade e parto [...]. (O livro de vita Christi p.51, grifo
nosso)
(69) Tam grande graça é que se nom pode dizer que ũa de tantas seja escolhida, porque
tôdalas outras sobrepujou per santidade. Onde Anselmo: “A esta sôo escoldrinhou Deus
o coraçom e as reẽs, e de tôdalas virgeẽs que havia no mundo a escolheu [...]. (O livro de
vita Christi p.53, grifo nosso)
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(70) Mas o boõ spíritu tem deferença do spíritu maao, porque o maao continua em seu
espantamento, [...] o boõ ângeo, logo a-cabo-de pouco, conforta e consola. Onde o
ângeo lhe disse: “Nom temas, Zacarias”. (O livro de vita Christi p.55, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(71) E o nome que haveria o moço demostrou, dizendo que Joane haveria nome. Onde
Beda: “Joane quer dizer em que é graça, ou graça do Senhor. (O livro de vita Christi p.55,
grifo nosso)
(72) [...] porque o dia da sua nacença nom sôo se festeja e honra dos cristaãos, mas dos
mouros e de outros. Onde Beda: “Com razom se alegra o padre, assi por [o filho] ser
havudo na velhice, [...]. (O livro de vita Christi p.57, grifo nosso)
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(73) Alegram-se ainda os outros, porque evangelizou a entrada do regno celestial, que
nunca fora ouvida”. Onde Ambrósio: “Solepne alegria se faz na nacença e geeraçom
dos justos. O santo nom sôo é graça do seu padre e madre, mas saúde de muitos; onde
somos amoestados que hajamos prazer na geeraçom dos santos”. (O livro de vita Christi
p.57, grifo nosso)
(75) E ainda que do concebimento se alegrasse por lhe seer tirado o doesto da
sterilidade, empero por a idade da velhice havia vergonha, porque nom dissessem que
na velhice era luxuriosa, [ca] os antigos que nom haviam já sperança de geeraçom nom
se conheciam carnalmente. Onde Beda: “Quanto cuidado seja aos santos de nom
consentirem algῦa cousa de que devam haver vergonha, [...]. (O livro de vita Christi p.59,
grifo nosso)
(76) [...] “grande necessidade é a nós de viver bem e haver bondade, porque nós todas
cousas fazemos ante os olhos do juiz que todas cousas vee”. Onde Agostinho:
“Qualquer cousa que eu fezer, Deus é presente assi como perpétuo oolhador de tôdolos
pensamentos, entençoões e obras. (O livro de vita Christi p.59, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(77) E quando com diligência oolho, assi com temor como com vergonha torvo-me,
porque em todo lugar o vejo star oolhando de presente as cousas que eu penso fazer em
ascondido. [...]. E porém diz Anselmo: “Ali peca tu onde souberes que nom é Deus”.
Onde diz outro doutor: “Que coisa torpe fazes tu que eu oolhe, que nom hajas
vergonha? (O livro de vita Christi p.59, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(78) [...] e em sinal desto na nascença de Cristo apareceu a strela aos Magos, que os
guiou ao Menino que era nascido. Onde tôdolos olhos dos pecadores teem mentes a ela,
assi como os olhos dos marinheiros todos olham aa estrela. Onde Bernardo: “Nom
revolvas os olhos da claridade desta strela, se nom queres alargar-te com tormentas. (O
livro de vita Christi p.63, grifo nosso)
(79) Foi, ergo, enviado o ângeo a Maria pera lhe denunciar que o Filho de Deus
cobiiçara a sua fremosura e que a escolhera pera seer sua madre, e que el a amoestasse e
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demovesse que ledamente recebesse tal Filho, porque per el tiinha Deus ordenado a
salvaçom do linhagem humanal. Onde Bernardo: “Bendita Maria, aa qual nom faleceu
humildade nem virrgiindade, [...]. (O livro de vita Christi p.65, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(80 e 81) Nom era, ergo, Maria nas praças nem morava em púbrico, mas dentro era em
suas câmaras e soo estava: nom sôo empero de quanta companhia de virtudes que em
ela eram. Onde Crisóstomo: “Achou o ângeo Maria nom de fora andando, mas solitária
e em contempraçom e porque nom buscou graça acerca do mundo, achou-a acêrca de
Deus. Onde Ambrósio: “Esta foi achada, como o ângeo entrou, nas trascâmaras da casa
sem companheira, [...]. (O livro de vita Christi p.65, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(82) E ainda certamente entom lhe parecia que estava menos soo, quando nom era
alguém com ela. E per que maneira poderia seer sôo aquela a que eram presentes tantos
livros, arcângeos e profetas? E onde Sam Gabriel, que a soía de visitar, sobrechegou?
[Em a cela]. Onde em outra parte diz Jerónimo: “Teerás cela em que nom caiba outrem
senom tu soo; mas não serás soo [...]. (O livro de vita Christi, p.65, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(83) De creer é que ela jazia tôda enclinada em mui devota oraçom ou em
contempraçom de dentro do coraçom, e per ventura entom se levantava specialmente de
meditaçom sobre a saúde do linhagem humanal, scil., como per Virgem havia de seer
salvo. Onde dizem alguῦs que entom actualmente leera aquela profecia de Isaias: “Eis a
virgem conceberá e parirá” [...]. (O livro de vita Christi, p.65, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(84) A qual, pois que ante que concebesse era chea de graça, quem poderá cuidar quanto
seria avondosa dela depois da concepçom? Onde Jerónimo: “E bem [diz] chea, porque a
todas outras per partes é dada graça [...]. (O livro de vita Christi, p.67, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(85) [...], por a forma da nova saüdaçom que sua plavra demostrava, porque nom soíam
os ângeos de a saüdar assi nem os ouvira jamais falar taaes cousas. Porém assi como
sabedor e toda avergonhada, nom respondeu cousa, cuidando em si meesma e
examinando aquêlo que era dito. Onde Ambrósio: “Maravilha-se da nova forma da
saüdaçom, porque nunca fora ante achada e soomente pera Maria se guardava esta
saüdaçom”. (O livro de vita Christi, p.69, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(86) As vontades santas dos humildosos, quanto [eles] som mais exalçados per
louvores, tanto sooem haver maior vergonha e temer: “turbata ergo fuit” torvada foi
com vergonha virtuosa e honesta, mas nom de vergonha maa. Onde Bernardo:
“Enquanto foi torvada, foi de vergonha virginal; e enquanto nom o foi, êsto procedeu de
fortaleza; e enquanto se calou e cuidou, foi de prudência e discreçom”. (O livro de vita
Christi, p.69, grifo nosso)
(87) “Comprida já de graça, achou graça pera dispensá-la aos outros”. Onde Agustinho:
“Oo Maria, achaste graça acerca do Senhor e mereceste de a derramar per todo o
mundo”. (O livro de vita Christi, p.69, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(88) “Ela é leal e justa e piadosa e favorável, e nom se pode negar a nhuũ que a busca”.
Onde Bernardo: “Ela é feita a todas cousas e a todos abre o seo da misericórdia, [...]”.
(O livro de vita Christi, p.69, grifo nosso)
(89) E dar-lhe-á a seeda de David, nom per semelhança, mas verdadeiramente, nom
terreal, mas celestrial; o qual, portanto, se diz “haverá [a] seeda de David” porque
aquesta em que seve temporalmente representava a imagem daquela eternal. Onde
Beda: “Tomou a seeda ou o reino de David o Senhor, por tal que a gente a que David
temporalmente deu a governança de rei temporal [...]”. (O livro de vita Christi, p.71, grifo
nosso)
(90) E do seu regno nom será fim. Cristo nom soo enquanto Deus, mas enquanto
homem, regnará pera sempre, nom soo sobre os homeẽs, mas sobre os ângeos. Onde
Bernardo: “Oo quam gloriosíssimo é aquel regno no qual se ajuntaróm os reis todos em
uũ, [...]”. (O livro de vita Christi, p.71, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(91) E como o ângeo houve ditas estas cousas, Santa Maria foi posta em perplexidade
ou em maneira de abalamento, porque, [...] nem devia nom creer ao ângeo, nem devia
usurpar as cousas de Deus nèiciamente. Onde, querendo ela certificar-se d[e] outra
cousa, preguntou por a maneira da concepçom, dizendo: “Como se fará êsto, scil., que
tu prometes, que eu parirei filho? (O livro de vita Christi, p.71-73, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(92) “Eu creo, mas da maneira per que se deve fazer pregunto”. Onde diz Ambrósio:
“Nom duvida seer fazedoiro aquela que preguntava per que maneira se havia de fazer.
[...]”. (O livro de vita Christi, p. 73, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(93) [...] seja demostrado que foi soomente de graça, a qual nom precederom méritos
alguũs de homeẽs. A graça é atribuída ao Spíritu Santo. Onde diz a glosa: “Spiritu é
nome de toda graça, a qual é spirada de Deus”. (O livro de vita Christi, p. 73, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(94) [...] per ojeito ou entrepoimento do corpo vivificado possas sofrer a presença da
majestade e sofrer a luz que o homem nom pode compreender nem seer chegado a ela,
assi como o sol se encobre a nós com algũa nuvem ou cobrimento quando com a vista o
nom podemos veer. Onde Bernardo: “Porque Deus Spíritu é e nós carne, a soombra do
seu corpo se temperou a nós, por que per ojeito e antreposiçom da carne vivificada [...]”.
(O livro de vita Christi, p.73, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(95) E teemos desto semelhança em três que vestem uũ de si mesmos, dos quaaes se
pode dizer que todos juntamente fazem ũa obra e aquêlo que faz uũ faz o outro, e nom é
porém vestido senom uũ. Onde Agustinho: “Quaaesquer obras de cada ũa das pessoas
da Trindade, a Trindade as obra e faz, e a qualquer que obra, as outras duas pessoas
ajudam. [...]”. (O livro de vita Christi, p.75, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(96) “E porém aquel que de ti nacer será chamado santo, Filho de Deus”. O qual,
empero da eternidade foi Filho, nom se chamava nem demostrava per nome alguũ
senom em tempo. Onde Bernardo diz que “tanto quer dizer _ será chamado Filho de
Deus_ [como]_ nom de homem, mas do Spíritu Santo conceberás [...]”. (O livro de vita
Christi, p.75, grifo nosso)
(98) “[...] oo assiinada graça, a qual, como deu fee humildosamente e creeu, logo
encorporou em si o fazedor do ceeu”. Onde Anselmo: “Oo fé a Deus acepta, oo
humildade prazível, oo obediência oferecida e a Deus mais leda que todo outro
sacrifício! [...]”. (O livro de vita Christi, p.77, grifo nosso)
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(99) “[...] Que cousa pode mais alta seer, e que cousa pode mais humildosa seer
sentida?” Onde Ambrósio: “Vee a humildade, vee a devaçom; foi escolhida por madre
do Senhor, e chamou-se serva. (O livro de vita Christi, p.77, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(100) [...]; e antre tôdalas virtudes tanto prougue a humildade da Virgem bendita ao
Filho de Deus, [...], porque tomasse carne da Virgem, per aquela maneira que o ferro é
tirado do adamante. Onde Agostinho: “Oo verdadeira humildade, que pariu Deus aos
homeẽs e trouxe vida aos mortaaes, abriu o paraíso e livrou as almas dos homeẽs! (O
livro de vita Christi, p.79, grifo nosso)
(101) E por êsto Deus em ũa pessoa das suas fêz si meesmo supósito da natureza
humanal, de que se segue que solamente há em Cristo ũa pessoa e uũ ajuntamento de
pessoa da parte daquel que a tomou. E assi Cristo, segundo que é homem, nom é pessoa.
Onde diz Hugo que “depois que Deus tomou o homem, todo o tomou, scil.,carne e
alma; scil.,[...]”. (O livro de vita Christi, p.81, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(102) [...] ou ao menos beijarás afundo ao pee da dita saũdaçom; e nom o leixes de fazer
por negligência, dizendo: Ave Maria, etc. Onde Bernardo: “Oo Virgem Maria, assi
como beijo é a ti ouvires êste verso_ Ave Maria. (O livro de vita Christi, p.83, grifo nosso)
(103) [...] nom há i cousa que assi possa desordenar nossa vida como nom curar de fazer
boas obras e poê-las em trespasso sempre. Êsto é o que muitas vezes nos faz caer de
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tôdolos beẽs. Onde disse uũ [saibo] que a boa obra nunca se deve perlongar, por tal que
nom venha alguũ acontecimento [...]. (O livro de vita Christi, p.89, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO
(104 e 105) “Ex aqui o Cordeiro de Deus, ex aqui o que tira os pecados do mundo”.
Onde Crisóstomo: “Portanto fêz Cristo saudar Maria a Elísabet, por tal que a palavra
que saísse do ventre onde o Senhor morava entrasse per as orelhas a Elísabet e
descendesse a Joane e o ungisse em profeta”. E logo como a voz da saüdaçom chegou
as orelhas dela, logo o moço com alegria, começou de profetizar, nom per voz, mas per
o movimento que fêz. Onde o meesmo Crisóstomo: “Dize, moço, dize, maior que
tôdolos profetas, que te chamarás dignamente mais que profeta, donde te veeo esta
alegria e movimento? (O livro de vita Christi, p.89-91, grifo nosso)
FUNÇÃO FORMA VERBAL INTEGRAÇÃO