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Lexicografia e Linguística
Contrastiva
(I SILLiC)
Volume II
Linguística Contrastiva
e Tradução
Florianópolis
2013
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitora
Roselane Neckel
Vice-Reitora
Lúcia Helena Martins Pacheco
Coordenação Geral
Profa. Dra. Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão
Apoio
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro de Comunicação e Expressão
Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Realização
Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras
CALEPINO – Núcleo de Lexicografia Multilíngue
Pós-Graduação em Estudos da Tradução
Pós-Graduação em Linguística
Comissão Científica
Profa. Dra. Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão
Profa. Dra. Andrea Cesco
Profa. Dra. Andéia Guerini
Prof. Dr. Aylton Barbieri Durão
Prof. Dr. Delamar José Volpato Dutra
Prof. Dr. Sérgio Romanelli
Editoração e Revisão
Aden Rodrigues Pereira
Alex Sandro Beckhauser
Claci Ines Schneider
Gisele Tyba Mayrink Redondo Orgado
Ficha Catalográfica:
DURÃO, Adja Balbino de Amorim Barbieri (org.)
Anais do I SILLiC – I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística
Contrastiva; Volume II – Linguística Contrastiva e Tradução.
Florianópolis: UFSC, 2013.
ISBN: 978-85-60522-81-1
2
I Simpósio Internacional de Lexicografia
e Linguística Contrastiva
Volume II
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ........................................................................................5
ARTIGOS .......................................................................................................9
Desvelando a interlíngua de aprendizes de línguas: uma experiência
sobre a modalidade oral
Otávio Goes de Andrade ..................................................................................9
3
Culturemas: um breve histórico e as possibilidades de ressignificação na
tradução
Maria José Damiani Costa, Mirella Nunes Giracca e
Myrian Vasques Oyarzabal ..........................................................................107
Formação de palavras
Chris Royes Schardosim ..............................................................................207
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I Simpósio Internacional de Lexicografia
e Linguística Contrastiva
Volume II
APRESENTAÇÃO
5
produção científica num período de tempo que se inicia no ano 1951 e se
encerra em 1971.
Araújo e Albuquerque perpetraram, em seu texto intitulado "Análise
sociolinguística da interlíngua de estudantes brasileiros no processo de
aprendizagem de espanhol", uma revisão de aspectos basilares da
Sociolinguística, da Teoria da variação e da Linguística Contrastiva, realçando
as variações linguísticas identificadas nas redações que serviram de corpus para
a sua pesquisa, que se remonta sobre as mudanças de sufixos flexionais, ao uso
do infinitivo e ao emprego de tempos compostos do espanhol.
O texto "A tradução português-libras face ao fenômeno da
ambiguidade lexical", de autoria de Bidarra, Martins e Rosa, se inicia pela
revisão dos tipos de tradução propostos por Jakobson, mas concentra a sua força
argumentativa na exploração de um fenômeno bastante específico e
escassamente estudado, e portanto, inovador, qual seja o da ambiguidade lexical
na Língua Brasileira de Sinais.
Carvalho, em seu artigo "Marcas de atenuação retórica em artigos de
pesquisa: estudo contrastivo alemão-português", pesquisaram corpora
compostos por 120 artigos da área da medicina, redigidos em português e em
alemão, aplicando nessa tarefa recursos da Linguística de Corpus, mais
propriamente, da ferramenta computacional WordSmith Tolls, visando a
identificar estratégias de atenuação retórica típica desse gênero de texto, assim
como a comparar a frequência dessas estratégias em seu corpus.
Em seu artigo "Bulas de medicamentos alemãs e brasileiras: emprego
da análise contrastiva para descrição de estratégias de redação", Cintra e
Reichmann descreveram as estratégias peculiares da redação do gênero de texto
'bula de medicamento', destacando o fato de esse gênero ter função informativo-
instrutiva e, por isso, encerrar grande relevância social, merecendo, em
consequência, ser tomado como objeto de estudo e reflexão.
Em "Culturemas: um breve histórico e as possibilidades de
ressignificação na tradução", Costa, Giracca e Oyarzabal resgataram os
conceitos de culturemas, a partir da perspectiva de estudiosos da tradução que
seguem a vertente funcionalista e que, por isso, defendem o ponto de vista da
tradução como intermediação entre culturas. Com base nessa ideia, as autoras
defendem que os tradutores, ao realizarem seu trabalho, sofrem influências do
meio no qual estão inseridos.
Dourado sugeriu o emprego de piadas como recurso de ensino do
significado das palavras, em seu trabalho "Uso da ambiguidade nos gêneros
humorísticos para ensino do significado de palavras". Embora sua discussão
tenha se restringido ao âmbito do significado da mensagem transmitida em um
diálogo, esta presta-se a introduzir ou relembrar noções de figuras de linguagem
com ênfase na ambiguidade (intencional e acidental).
Drucker, em "A origem de “samba” e o estado da arte", fez uma
reconstrução do vocábulo 'samba'. Partiu do pressuposto de que esse vocábulo
6
além de ter origem incerta, não foi suficientemente explorado, já que uma
adequada indagação dependeria da contribuição de várias ciências históricas da
linguagem e ela oferece a sua contribuição, retomando pontos de vista advindos
de diferentes âmbitos do saber.
Em "O artigo neutro da língua espanhola numa perspectiva histórico-
contrastiva", Eckert discutiu algumas das dificuldades típicas de aprendizes de
espanhol lusófonos ao se depararem com peculiaridades do artigo neutro 'lo', da
língua espanhola, que se distinguem do artigo neutro do português.
Jaramillo e Silva partiram da identificação de algumas divergências
léxicas existentes entre a língua espanhola e a variante brasileira do português
que se constituem como problemas de ensino e aprendizagem em seu texto
"Español-português y sus divergéncias léxicas. ¿cómo enseñarlas?.
Millás e Durão, depois de identificarem os falsos amigos presentes em
catorze coleções de livros didáticos para ensino de espanhol a brasileiros, assim
como analizarem o tratamento dado a eles nesses livros, recorreram ao “Corpus
de Referencia del Español Actual” (CREA), para confirmarem se a escolha
dessas lexias tem por base o critério de frequência, em seu texto "Falsos amigos
na relação espanhol-português em livros didáticos e em um corpus linguístico".
Santos e Dal Corno, em "A música tradicional gaúcha e o contato
linguístico-cultural na região da fronteira oeste do Rio Grande do Sul",
estudaram o fenômeno do empréstimo linguístico em letras de canções de César
Oliveira e Rogério Melo, que expõem fenômenos típicos de contato havidos
entre a língua portuguesa e duas variantes da língua espanhola faladas na região
fronteiriça do Brasil, Argentina e Uruguai.
Em "Formação de palavras", Schardosim apresentou os resultados de
uma coleta de dados que revelaram aspectos referentes à formação problemática
de palavras por parte de brasileiros aprendizes de espanhol como língua
estrangeira.
Silva, Santos e Hintze , no artigo intitulado "A utilização dos
neologismos pela mídia", justificaram a existência de neologismos como uma
necessidade criativa dos seres humanos, exemplificando alguns tipos de
neologismos mais recorrentes na língua portuguesa na atualidade.
Para fechar estes anais, Inclán apresenta, em forma de carta, mas
contando com uma inquestionável expertise nesse âmbito, dez expressões do
mundo taurino, material de grande valor para todos aqueles que se dedicam ao
campo da tradução ou do ensino da língua espanhola como língua estrangeira.
Recomenda-se a leitura desses artigos como uma forma de avançar no
conhecimento teórico e prático da Linguística Contrastiva e da Tradução.
7
ANAIS
Volume II
Linguística Contrastiva
e Tradução
8
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
Nosso propósito é relatar uma experiência de pesquisa numa modalidade da
interlíngua de aprendizes de línguas ainda carente de trabalhos em nosso
país: a modalidade oral. Para tanto, retomaremos nossa tese de doutorado
(2010), realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da
Linguagem da Universidade Estadual de Londrina, sob orientação da Profª.
Drª. Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão, trabalho no qual tínhamos
como objetivo o estudo dos desvios léxico-semânticos produzidos por
universitários brasileiros estudantes de espanhol. Nessa época, superada a
etapa da construção do embasamento teórico, ancorado nos pressupostos da
Linguística Contrastiva, constituímos um amplo corpus composto por 24
transcrições de conversações gravadas. A partir do tratamento do referido
corpus de interlíngua oral (ILO), levantamos, descrevemos e analisamos
tanto os desvios léxico-semânticos relativos às unidades léxicas
monoverbais quanto os desvios léxico-semânticos relativos às unidades
léxicas pluriverbais, os quais tencionamos desvelar neste texto. Parte dessa
tese de doutorado foi publicada pela Editora da Universidade Estadual de
Londrina com o título “Interlíngua oral e léxico de brasileiros aprendizes de
espanhol” (ANDRADE, 2011).
Introdução
Nosso trabalho foi inspirado em Durão (1998, 1999 e 2004) e para
sua concretização partimos do princípio de que “[...] el método de análisis
de errores (AE) se constituye como un procedimiento científico orientado a
determinar la incidencia, la naturaleza, las causas y las consecuencias de
una actuación lingüística y cultural que, en alguna medida, se aleja del
hablante nativo adulto (SANTOS GARGALLO, 2004, p. 391)”. Valendo-
nos ainda da contribuição de Santos Gargallo (2004, p. 394), destacamos
que:
1
Doutor em Letras. Professor Universidade Estadual de Londrina.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Distração
Relacionada com o cansaço físico e mental, com o grau de
motivação, o grau de segurança em si mesmo e com o nível de
ansiedade.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Interferência
Relacionada à adoção de formas ou estruturas da língua materna
(L1) ou de segundas línguas (L2) ou estrangeiras (LE) que o
estudante conhece. O resultado desse fenômeno são os erros
interlinguísticos.
Tradução
Afeta, sobretudo, as locuções e frases feitas, quando o aprendiz
transpõe literalmente uma forma ou estrutura da L1 na produção
linguística da língua meta.
Supergeneralização e aplicação incompleta das regras da língua
meta
Refere-se às hipóteses incorretas ou incompletas que o aprendiz
elabora baseando-se no que conhece do funcionamento da língua
meta. O resultado desse fenômeno são os erros intralingüísticos.
Induzidos pelos materiais e pelos procedimentos didáticos
São os erros motivados pelas amostras de língua, as
conceitualizações ou os procedimentos empregados no processo de
aprendizagem.
Estratégias de comunicação
Referem-se ao mecanismo que o estudante aciona quando lida com
um problema de comunicação.
Fonte: Elaborado pelo autor com base na proposta de Santos Gargallo (2004, p.
406).
2
“Una conversación es una modalidad de interacción comunicativa capaz de
regular las relaciones interindividuales y que, a la vez, está condicionada
socialmente puesto que depende de ciertas convenciones y patrones
socioculturales. Por eso, una buena parte de los estudios sociales realizados sobre la
ASL tiene que ver con la identificación de posibles fuentes de transferencia entre L1
y L2 y la mejor comprensión de los errores de comunicación que se producen en los
encuentros interculturales. Es muy interesante, a propósito de las conversaciones,
observar cómo se cumple el proceso de socialización a través del discurso y de las
interacciones. La importancia de este proceso en la educación infantil en la L1 es
evidente, pero también lo es en la ASL, sobre todo cuando se producen
transferencias de modos de discurso y de recursos conversacionales de L1 a la L2. A
los especialistas en ASL les interesa conocer cómo se produce el aprendizaje y la
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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“Tradicionalmente, los estudios lingüísticos se han basado en las intuiciones de
uno o dos hablantes, comprobadas a veces, al menos en el caso del español, por
medio de ejemplos sacados de la lengua escrita. En Sociolingüística, en cambio,
incluso dos hablantes por celda [...] parece ser insuficiente, pero el número óptimo
de individuos es difícil de determinar. Depende tanto de cuestiones teóricas como
prácticas, tales como la naturaleza del problema sociolingüístico que se desea
resolver y los recursos que el sociolingüista tiene a su disposición para llevar a cabo
su investigación. Mientras más grande sea la muestra y mayor el número de
individuos por celda, más variables sociales podremos examinar y al mismo tiempo
asegurar la validez de las conclusiones, pero el ideal frecuentemente no se logra por
limitaciones económicas y de tiempo (SILVA-CORVALÁN, 1989, p. 19-20)”.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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“El método subjetivo tiene ventajas y desventajas. Por un lado, es posible sostener
que las clases sociales existen porque los miembros mismos de una comunidad las
establecen y creen en su realidad, lo que hace posible que ellos mismos puedan
identificar la clase social a la que pertenecen diversos individuos. Pero por otro lado,
es también posible sostener que la percepción de clase social depende de la clase a
la que el individuo pertenece, lo que conduce a una falta de consistencia en las
evaluaciones subjetivas (SILVA-CORVALÁN, 1989, p. 20)”.
5
“En la práctica, los sociolingüistas se han basado tanto en su conocimiento de la
estructura social de una comunidad como en estudios sociológicos y antropológicos
que delimitan los varios estratos sociales. Esta delimitación se hace en relación a un
índice obtenido en base a ciertos factores socioeconómicos que incluyen,
principalmente, nivel de ingresos [grifo nosso], ocupación, educación, vivienda y
barrio. [...] El concepto de clase social parece ser demasiado amplio para nuestros
propósitos, pues incluye parámetros que no mantienen una correlación consistente
con el comportamiento lingüístico de los hablantes [...] Además, frente a la
variación individual observada dentro de la misma clase social, los sociolingüistas
han introducido nuevos constructos teóricos, el mercado lingüístico y la red de
enlaces sociales, que han mostrado tener clara influencia en la determinación de los
patrones de conducta lingüística (SILVA-CORVALÁN, 1989, p. 20-21)”.
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7
6 6
6
5
5
3
2 2 2
2
1
1
Mais 10 SM
(R$1140,00)
(R$1900,00)
(R$2260,00)
(R$3800,00)
(R$5700,00)
(R$7600,00)
10-15 SM
15-20 SM
7-10 SM
1-3 SM
3-5 SM
5-7 SM
6
O valor de referência do salário mínimo no Brasil à época da tabulação dos dados
era de R$480,00.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
5 A conversação gravada
Nossos dados de ILO foram coletados por meio do que
tradicionalmente se denomina “entrevista sociolinguística”, técnica
chamada por Silva-Corvalán (1989, p. 24)7 como “conversação gravada”.
Essa mesma autora lembra o conceito de “paradoxo do
observador”, proposto por Labov e que designa o problema que é o
propósito de colher amostras de fala espontânea resultantes de situações
informais e naturais a partir de situações que são criadas artificialmente por
um pesquisador / observador, entretanto posto que não há como contornar
essa limitação, procuramos dar ao nosso encontro com o informante um tom
de conversa e não o de entrevista propriamente dita, com intuito de minorar
a influência negativa da presença de um gravador no momento da interação,
assim como propõe Silva-Corvalán (1989, p. 24-25)8.
7
El objetivo central de la conversación grabada es obtener una muestra de habla
casual, natural, lo más cercana posible al habla vernácula espontánea de la vida
diaria. Este objetivo ha sido motivado por la observación de que los datos más
sistemáticos y regulares para el análisis lingüístico se dan en el estilo casual y
vernáculo, es decir, cuando el hablante presta la atención más mínima a sua habla
para concentrarse más bien en el contenido de lo que dice (SILVA-CORVALÁN, 1989,
p. 24).
8
“[...] es necesario evitar [...] la creación de un hecho de habla que los participantes
identifiquen como entrevista [...] La entrevista propiamente tal limita los posibles
tipos de interacción lingüística, y por tanto también las clases de datos lingüísticos
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
7 A condução da conversação
Tendo em vista essas observações, os materiais que conformaram o
corpus de ILO foram colhidos mediante entrevistas semi-dirigidas, gravadas
com gravador a vista (SILVA-CORVALÁN, 1989, p. 32)9. O Instrumento
de áudio utilizado para gravação das conversações foi o modelo RR-US450
da Panasonic.
Os módulos temáticos versaram sobre a família, o trabalho, o lazer
e a cidade onde se vive, a modelo da proposta de Moreno Fernández no
Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España y de
América (PRESEEA). Segundo esse pesquisador, o uso de módulos
temáticos tem o propósito de provocar o aparecimento de determinadas
formas linguísticas ou de determinados tipos de discurso (descrições de
situações, contextos, ações, imagens, etc.), argumentos para convencer as
pessoas de algo, diálogos sobre situações hipotéticas ou futuras, narrações
(piadas, contos, “causos”, etc.). Esta proposta de usar módulos temáticos
não implicou que durante as entrevistas devêssemos tratar os temas sempre
na mesma ordem, tampouco recolhê-los exatamente durante o mesmo
período de tempo no desenrolar da conversação, mas de empregar um
mecanismo que buscasse equilibrar, na medida do possível, os principais
tipos de discurso surgidos na interação.
As entrevistas duraram, aproximadamente, entre 45 minutos e 1
hora e 30 minutos. Como fomos participantes da conversação gravada, vale
lembrar o que afirma Silva Corvalán (1989, p. 33), pautada na pesquisa de
Lavandera, sobre o fato de que “ni el diseño de la conversación, ni los
9
La ‘conversación semi-dirigida’ se conduce básicamente como una conversación
libre, pero durante su desarrollo el investigador introduce ciertos tópicos que de
antemano se han identificado como favorables al uso de ciertas fórmulas
gramaticales que interesa estudiar [em nosso caso, o léxico]. Esto implica un
periodo de preparación previo al inicio de las grabaciones durante el cual el
investigador prepara ‘módulos temáticos’ que sirven de guías para la conversación.
Estos módulos contienen listas de diferentes tópicos de interés para la comunidad a
estudiar, con sugerencias sobre como introducirlos, cambiarlos o mantenerlos [...]
En la práctica, los módulos consisten simplemente en series de preguntas y / o
aspectos informativos interesantes relacionados con un tópico (SILVA-CORVALÁN,
1989, p. 32).
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
8 A realização da conversação
Os informantes foram entrevistados em igualdade de condições, o
que pressupôs a realização das entrevistas em lugares nos quais os
informantes não se sentissem nem inibidos, nem exageradamente
desinibidos, conforme destaca Moreno Fernández no Projeto PRESEEA;
nesses locais de entrevistas, os informantes não deveriam estar rodeados de
pessoas. Procuramos privilegiar os espaços existentes no campus da UEL,
muito embora tenhamos utilizado também outros lugares.
Como nossa intenção é a de estudar os recursos utilizados para
suprir as necessidades léxicas na ILO de brasileiros aprendizes de espanhol,
no momento da coleta procuramos criar um contexto, como dissemos
anteriormente, o mais próximo possível de um ambiente natural de conversa
para que se abrisse espaço para a vazão da fluência (MORENO
FERNÁNDEZ, 2002, p. 64) que o informante possui, com o intuito de, por
um lado, coletar amostras de unidades léxicas que aparecem em situações
naturais de comunicação linguística (interação face a face) e de, por outro
lado, coletar grande quantidade de contextos de aparecimento dessas
unidades, primando pela geração de um material de boa qualidade sonora,
seguindo o postulado por Tarallo (1997, p. 19-21).
No próximo segmento detalhamos o levantamento dos desvios
léxico-semânticos encontrados na ILO de brasileiros aprendizes de
espanhol.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Durante a coleta dos dados orais, alguns elementos externos tiveram certa
interferência na qualidade das gravações e, consequentemente, implicações
no processo de transcrição das conversações:
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
10
Este dicionário está disponível para consulta no sitio <www.rae.es>.
24
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
acreditar / acreditar;
apenas / apenas;
assistir / asistir;
aula / aula;
brincar / brincar;
carreira / carrera;
competência / competencia;
curso / curso;
desligar / desligar;
escritório / escritorio;
grupo / grupo;
investimento / inversión;
ligação / ligación;
mirar / mirar;
olhar / Ø [mirar];
pegar / pegar;
quitar / quitar;
sítio / sitio;
tirar / tirar;
turma / turma.
25
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
2005, p. 164)
de tudo um pouco batir el cobre (DURÃO e ROCHA, 2005, p. 135)
dar-se bem em algo llevarse el gato al água (DURÃO e ROCHA,
2005, p. 149)
algo dar futuro tener futuro, prometer (DiBU [PE], p. 545)
virada do ano cambio de ano [por analogia com virada do
século / cambio de siglo (DiBU [PE], p. 1228)]
fazer questão de empeñarse, exigir, obsesionarse, querer, isistir
en, no transigir (DiBU [PE], p. 958)
fazer aniversário cumplir años (DiBU [PE], p. 55)
por o dedo na ferida poner el dedo en la llaga (DiBU [EP], p. 468)
falar diante do público [hablar] en público (DiBU [PE], p. 943)
dar um pedal Ø
ter a língua presa tener lengua de trapo (DRAE, on-line)
não ser praia de alguém [no] ser mi ambiente (DiBU [PE], p. 909)
ser um mar de rosas ser un mar de rosas (DiBU [PE], p. 710)
estar às traças manga por hombro (DURÃO e ROCHA, 2005, p.
151) – dejar de la mano (DiBU [PE], p. 487)
ter jogo de cintura tener mano izquierda (DURÃO e ROCHA, 2005,
p. 151) e (RIOS, 2009, p. 409) – tener cintura
(PEDRO, 2007, p. 174)
comprar a causa romper lanzas [o una lanza] (DURÃO e
ROCHA, 2005, p. 158) – romper una lanza por –
o a favor de algo o alguien (DURÃO e ROCHA,
2005, p. 159)
ter um lugar ao sol tener buena posición (DiBU [PE], p. 691)
isso não me [te] Ø
pertence mais
pedir demissão pedir – presentar la dimisión (DiBU [PE], p. 302)
colocar-se à disposição a disposición (DiBU [PE], p. 346)
ficar em cima do muro estar entre dos águas (DiBU [EP], p. 20)
qualidade de vida calidad de vida (DiSa, p. 242)
trocar uma idéia echar un párrafo (DURÃO e ROCHA, 2005, p.
142)
ser a rapa do tacho ser [hijo, hermano] benjamin (DiBU [PE], p.
970)
a esta altura do a estas alturas [cuando ya se considera que há
campeonato pasado bastante tiempo] (DiSa, p. 76)
ser um(a) pobre ser el último mono (DURÃO e ROCHA, 2005, p.
coitado(a) 160)
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
tem
tomar a iniciativa [tomar] la iniciativa (DiBU [PE], p. 621)
dar um voto de dar - recibir un voto de confianza (DiBU [PE], p.
confiança 1239)
palito de sorvete palo – palillo de helado (DiBU [PE], p. 818)
sob a tutela do estado bajo la tutela del estado (DiBU [PE], p. 1190)
fazer concurso concursar – opositar (DiBU [PE], p. 232)
carta de motorista carné – permiso de conducir – manejar –
conductor (DiBU [PE], p. 173)
carta de motorista carné – permiso de conducir – manejar –
conductor (DiBU [PE], p. 173)
mexer com os llegar a alguien (DiBU [PE], p. 731)
sentimentos de alguém
ter escrúpulos [tener] escrúpulos, moral (DiBU [PE], p. 427)
não saber o dia de nadie sabe cómo serán las cosas mañana (DiBU
amanhã [PE], p. 45)
espelhar-se em alguém mirarse, imitar (DiBU [PE], p. 438)
aviso prévio dar la indemnización (DiBU [PE], p. 100)
estar parado [estar] desempleado – parado (DiBU [PE], p. 318)
(desempregado)
bula de remédio prospecto (DiBU [PE], p. 140)
esvaziar a cabeça vaciar la cabeza (DiBU [PE], p. 143 e 466) e
(DiBU [EP], p. 94 e 829)
ser o estopim ser el detonante (DiBU [PE], p. 458)
estar tocando no rádio estar poniendo en la rádio (segundo busca na
internet) e por analogia com poner en escena
(DiSa, p. 1244)
lavar a louça lavar la vajilla – fregar los cacharros (DiBU,
[PE], p. 666)
Fonte: Elaborado pelo autor.
14 Casos de fronteira
Esse tipo de desvio cometido por aprendizes de línguas,
normalmente, não são passíveis de serem explicados pela transferência
linguística. A seguir, agrupamos os casos de fronteira no corpus que
analisamos:
29
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
15 Conclusão
No corpus analisado foram detectados 105 desvios léxico-
semânticos, divididos estatisticamente da seguinte maneira:
16 Referências
ANDRADE, O. G. Necessidades léxicas de universitários brasileiros
aprendizes de espanhol: levantamento, descrição e análise. 2010. Tese
(Doutorado em Estudos da Linguagem) - Programa de Pós-Graduação em
Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Londrina – UEL,
Londrina, Paraná.
_________. Interlíngua oral e léxico de brasileiros aprendizes de
espanhol. EDUEL: Londrina, 2011.
DURANTI, A. Apéndice: consejos prácticos para la grabación de una
interacción. In: DURANTI, A. Antropología lingüística. (trad. Pedro
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
Durante aproximadamente duas décadas (anos 60 e 70 do século XX), os
estudos na área da Linguística Contrastiva se desenvolveram com a
utilização de modelos de análise que foram sendo paulatinamente propostos,
testados, refutados e remanejados com diferentes princípios e finalidades.
Alguns desses princípios estão ancorados no paradigma chomskyano, o qual
promoveu uma revolução no campo da Linguística, como procuraremos
demonstrar ao longo de nossa explanação. Apesar de ter sido concebida
com o intuito de amparar estudos em torno ao desenvolvimento de línguas
maternas, a obra de Noam Chomsky teve profundos reflexos também nas
pesquisas centradas em questões atinentes ao ensino e à aprendizagem de
línguas não maternas. Neste texto, retomaremos alguns dos principais
conceitos que compõem as proposições teóricas chomskyanas, os quais são
utilizados até os dias de hoje no variado campo de investigação dedicado às
línguas não maternas.
11
Doutor em Letras. Professor da Universidade Estadual de Londrina.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
12
“[...] Insistimos em particular na natureza ‘mentalista’ da teoria, isto é, na
concepção de que o seu objecto de estudo consiste num sistema de regras e
princípios radicados em última instância na mente humana, e não em propriedades
absolutas das expressões linguísticas consideradas em si mesmas, ou consideradas
como um aspecto particular do comportamento humano independente das
propriedades mentais subjacentes à sua produção e compreensão” (RAPOSO, 1992,
p. 25).
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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Publicado postumamente, o livro é fruto das anotações dos alunos Charles Bally
e Albert Sechehaye, feitas durante as aulas de Ferdinand de Saussure na
Universidade de Gênova, entre os anos de 1906 e 1911. Esse livro é considerado
como o marco inicial do estruturalismo europeu e norte-americano na primeira
metade do século XX.
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“É razoável considerar a faculdade de linguagem como um ‘órgão da linguagem’,
no sentido em que os cientistas falam de um sistema visual ou sistema imunológico
ou sistema circulatório como órgãos do corpo. Compreendido desse modo, um
órgão não é algo que possa ser removido do corpo, deixando o resto intacto. É um
subsistema de uma estrutura mais complexa. Esperamos compreender a
complexidade total investigando partes que têm características distintivas e suas
interações. O estudo da faculdade de linguagem procede da mesma forma
(CHOMSKY, 1998, p. 19)”.
15
“(...) a faculdade da linguagem humana parece ser uma verdadeira ‘propriedade
da espécie’, variando pouco entre as pessoas e sem um correlato significativo em
qualquer outra espécie (CHOMSKY, 1998, p. 17)”.
37
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
38
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
16
Segundo Chomsky (1970, p. 28), “[...] as teorias racionalistas se caracterizam pela
importância que atribuem às estruturas intrínsecas nas operações mentais, a
processos centrais e princípios de organização na percepção, e a idéias e princípios
inatos na aprendizagem. A atitude empiricista, ao contrário, acentuou o papel da
experiência e do controle por fatôres ambientais”.
39
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
17
Nas palavras de Mitsou Ronat: “A evolução dessa teoria levou à complicação do
modelo em certos pontos e à sua simplificação em outros. [...] A história da
gramática gerativa parece ter três períodos principais, que colocaram
sucessivamente na linha de frente um dos aspectos essenciais da nova teoria. O
primeiro, que durou do início da década de 50 a meados da década de 60, procurou
fazer da lingüística uma ciência; a física parecia se o modelo de referência. Esse é o
período de The logical Structure of Linguistic Theory [...]. Depois, de 1965 a 1970, a
questão da semântica tornou-se mais central: a gramática deve dar conta do
significado das palavras e sentenças? Se sim, de que maneira? Uma controvérsia
muito acentuada acompanhou as diversas respostas apresentadas. Finalmente,
depois de 1970, a pesquisa tornou-se mais orientada para os problemas levantados
pela gramática universal (CHOMSKY, 2007, p. 110)”.
18
Nos parece bastante pertinente a ponderação feita por Lobato (1998, p. 9-10)
sobre o trabalho de Chomsky: “Certamente, a proeminência de Chomsky na
lingüística, em especial, e na ciência contemporânea, em geral, se deve muito a
esse persistente e incansável trabalho de elaboração teórica para incorporar numa
perspectiva científica moderna temas tradicionais a respeito da linguagem que
tinham sido há muito esquecidos. Relativamente à lingüística, o estudo gramatical
atual, em qualquer teoria que seja, ficou decididamente marcado por suas
propostas. Alguns conceitos que introduziu tornaram-se parte do vocabulário
gramatical comum (estrutura profunda / estrutura de superfície e gramaticalidade
/ aceitabilidade, por exemplo). Suas posições são ponto de referência dentro de
42
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
de uma ou outra escola são identificadas com pessoas. Torna-se uma questão de
honra não mudar, ou seja, não aprender nada. Na lingüística, isso é surpreendente,
você ser acusado de refutar a si mesmo se mudar de posição. Li muitas críticas
desse tipo e tenho dificuldades para entendê-las. Se você está preocupado em
descobrir a verdade, trabalhando sozinho ou em grupo, é evidente mudar
freqüentemente de pensamento –cada vez que aparece um novo número de uma
publicação séria. Quando há progresso real, essas mudanças são significativas.
Você começa a pensar de forma diferente. As primeiras aproximações devem ser
transformadas em outras aproximações, melhores. [...] Acontece muitas vezes de
as hipóteses nas ciências naturais serem abandonadas por um certo período por
inadequação, mas são reconstruídas depois, quando se obtém um índice mais
elevado de compreensão. [...] As coisas progridem, novas perspectivas se abrem,
quando se reinterpreta aquilo abandonado antes. Não existe uma ‘derrota pessoal’
nisso. [...] Isso não seria o retorno a uma velha idéia, mas um avanço para uma
nova idéia, dando novo significado a um conceito antigo. Isso seria progredir.
Quando as teorias e os conceitos que nelas aparecem são personalizadas, olha-se
para ver ‘quem’ está errado; mas essa não é a maneira correta de pensar. O ‘quem’
pode ter estado correto no contexto de sua época, errado no contexto de uma
teoria mais rica, e talvez venha a se mostrar correto outra vez. Além disso, não há
nada errado em enganar-se. O progresso se baseia em idéias interessantes que
geralmente provam estar erradas –ou incompletas, ou mal-construídas, ou
totalmente erradas. [...] Qualquer um que ensine aos cinqüenta anos a mesma
coisa que ensinou aos 25 deve procurar outra profissão. Se em 25 anos não
aconteceu nada lhe provando que suas idéias estão erradas, isso quer dizer que
você não está em uma área viva, ou talvez que você faça parte de uma seita
religiosa. [...] Deve-se esperar de um cientista a descoberta de novos princípios,
novas teorias, até mesmo novos modos de verificação... Isso não vai acontecer se
ele ficar preso a um procedimento fixo. O mesmo acontece hoje com a lingüística. É
impossível explicar a alguém o procedimento a ser aplicado para encontrar a
gramática gerativa de um língua. O que se procura é a descoberta de um fenômeno
novo, capaz de demonstrar a falsidade das teorias propostas, a necessidade de
mudá-las –novas questões que ninguém pensou em apresentar anteriormente,
pelo menos de maneira clara, novas contribuições para a compreensão, obtidas
talvez com ‘métodos’ novos. E, finalmente, novas idéias e novos princípios, que
revelarão como são limitadas, falsas e superficiais as crenças consideradas válidas
hoje. (CHOMSKY, 2007, p. 177-180)”.
44
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
3 Referências
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Chomsky and the media. Canadá: Zeigeist Video, 1992. 1 DVD (117 min.),
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<http://bloch.ling.yale.edu/Files/Psychiatry_Sapir.pdf>. Acesso: 24 set.
2008.
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35, n. 1, p. 26-28, 1959.
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The M.I.T. Press: 1965.
__________. A linguagem e a mente. In: LEMLE, M. e LEITE, Y. Novas
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__________. La naturaleza formal del lenguaje. In: LENNEBERG, Eric H.
Fundamentos biológicos del lenguaje. Madrid: Alianza Editorial,
1975.P.439-487.
__________. Modelos explanatórios em lingüística. In: DASCAL, Marcelo.
Fundamentos metodológicos da lingüística. São Paulo: Global
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__________ . Reflexões sobre a linguagem. São Paulo: Cultrix, 1980.
___________. Entrevista concedida ao Programa Roda Viva da TV
Cultura. São Paulo, 1996.
___________. Novos horizontes no estudo da linguagem: Conferência do
Rio de Janeiro & Belém. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 13, n. esp., p. 49-71,
1997.
___________. Conhecimento da história e construção teórica na lingüística
moderna: Conferência de São Paulo. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 13, n. esp.,
p. 129-152, 1997.
___________. Lingüística gerativa: desenvolvimento e perspectivas (uma
entrevista em Maceió por Mike Dillinger & Adair Palácio). D.E.L.T.A.,
São Paulo, v. 13, n. esp., p. 195-229, 1997.
___________. A lingüística com uma ciência natural. Entrevista a Carlos
Fausto. Maná. 3(2): 183-198, 1997.
___________. Linguagem e mente. Brasília: UNB, 1998.
45
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Introdução
Em todos os níveis, os estudantes brasi1eiros apresentam algumas
dificuldades na aprendizagem de algumas estruturas verbais da língua
espanhola, já que a forte herança linguística que une as línguas irmãs em
certos aspectos, é a mesma que as diferencia em outros. Neste caso, a língua
materna dos estudantes, o Português, impregna com sua fonologia,
morfologia, léxico e sintaxe a língua meta, o Espanhol.
Neste contexto, Almeida Filho (2001) afirma que tanto o professor
de português para hispanofalantes quanto o professor de espanhol para
lusofalantes devem ter cuidado para que o “portunhol”, língua intermediária
do estudante, entre o português e o espanhol, não se congele em um nível
determinado pelo fato de parecer comunicativamente suficiente na
percepção do usuário. Contudo, nos primeiros níveis “o portunhol” é uma
manifestação natural da interlíngua dos alunos, e por isso deve ser aceito.
Diante do exposto, levando em consideração a proximidade entre
os idiomas mencionados, pensamos em realizar uma pesquisa que tivesse
por objetivo analisar as variações linguísticas presentes nas redações de
alunos brasileiros, com relação aos aspectos morfológicos verbais, mais
precisamente a mudança dos sufixos flexionais, o infinitivo e uso dos
tempos compostos na língua espanhola.
Consideramos esse tema de fundamental importância, dada a
exiguidade de trabalhos nessa área. Nossa intenção, ao desenvolver esse
trabalho, é promover reflexões no sentido de contribuir para o entendimento
do professorado diante das peculiaridades próprias que envolvem línguas da
mesma origem. A partir destas premissas, dividimos o artigo em tópicos.
Num primeiro momento, julgamos pertinente uma descrição dos
pilares teóricos que subsidiaram as análises e encaminharam os dados
obtidos. Para isso, discutimos sobre Sociolinguística e Teoria da Variação,
baseados nos estudos de Preti (2003), Tarallo (1985), Mollica e Braga
(2007), etc. Em seguida, abordamos questões relacionadas aos estudos sobre
20
Mestre em Letras. Universidade Estadual da Paraíba.
21
Mestre em Letras.Universidade Estadual da Paraíba
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2 Fundamentação Teórica
Propomo-nos, nesse momento, a apresentar breves considerações
acerca das teorias que serviram de base para a construção desse trabalho.
Inicialmente, fizemos uma rápida explanação sobre aspectos da
Sociolinguística e da Teoria da Variação, com o intuito de pontuar a
importância do estudo da língua em seu relacionamento com fatores
externos como o ambiente geográfico, a organização dos grupos sociais, o
gênero, as práticas culturais, a faixa etária, entre outras questões.
Também apresentamos alguns aspectos relacionados aos estudos
sobre línguas próximas, com o propósito de compreender as modificações
linguísticas provenientes do contato dialetal e de perceber como as
semelhanças ou diferenças entre os sistemas linguísticos, no nosso caso, o
português e o espanhol, podem interferir na variação linguística presente na
interlíngua de estudantes brasileiros.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
3 Metodologia
Para a realização desta pesquisa, selecionamos um corpus
constituído por vinte redações elaboradas por estudantes de Espanhol da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Para fins de análise
sociolinguística, como mencionamos, é necessário que levemos em
consideração as variáveis internas e externas à língua. Assim, com relação
às primeiras, elegemos analisar as variações linguísticas detectadas nos
textos escritos elaborados pelos alunos com os quais trabalhamos,
procurando nos deter nos fatores de natureza morfológico-verbal. No
conjunto de variáveis externas à língua, analisamos alguns fatores inerentes
ao indivíduo, como idade, gênero e tempo de exposição à língua espanhola.
Os textos pertencem a dois grupos distintos: o grupo de Espanhol
III (dez informantes), que abrange o nível A2, indicando o conhecimento
básico da língua espanhola; o de Espanhol VI (dez informantes), que
corresponde ao nível B2, equivalente ao nível avançado deste idioma. Estes
níveis são estabelecidos pelo Marco Común Europeo de referencia para las
lenguas: aprendizaje, enseñanza y evaluación.
Os grupos de espanhol III y VI foram formados por alunos que
estudavam no curso de idiomas oferecido pelo Departamento de Letras
Estrangeiras Modernas (DLEM) na UFPB. Cada nível tem quatro créditos
que equivalem a sessenta horas. Os alunos tem aula duas vezes por semana,
durante uma hora e meia cada dia. Os cursos estão abertos a todos os alunos
da instituição e às comunidades vizinhas, tendo esses alunos oportunidade
de estudar desde o nível A1 (espanhol I) até o B2 (espanhol VI). Como
material didático, os estudantes utilizam o livro Nuevo Ven 1 para os grupos
de Espanhol I e II, el Nuevo Ven 2 para os grupos de Espanhol III e IV e el
Nuevo Ven 3 para os grupos de Espanhol V e VI.
Com relação ao desenvolvimento das redações, os estudantes que
fizeram parte da pesquisa desenvolveram os textos durante as próprias aulas
do curso, seguindo a orientação de que deveriam estruturá-los, em média,
uma lauda. Sugerimos temas de natureza pessoal, com o objetivo de que as
idéias fluíssem com maior naturalidade e liberdade. Dessa forma, pedimos
aos informantes que escrevessem um texto e escolhessem entre um dos
seguintes temas: Mis vacaciones( Minhas férias), Mi familia (Minha
família) ou Mis proyectos profesionales (Meus projetos profissionais).
Preferimos, portanto, trabalhar com um tema semiguiado, para que o aluno
se mostrasse mais motivado e reconhecesse mais intensamente suas próprias
exigências. Desta forma, o aluno podia centrar-se mais na mensagem que
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Gráfico 01
Gráfico 02
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Gráfico 03
4.2 Infinitivo
No nosso corpus, em ambos os grupos analisados, foram
detectadas a ocorrência de variações lingüísticas com relação ao uso do
infinitivo na língua espanhola. Alguns informantes adicionaram aos
morfemas flexionais do infinitivo em espanhol, formas que são próprias do
paradigma português.
De acordo com a norma culta da língua espanhola, o infinitivo
deve conter o elemento verbal na sua forma impessoal, ou seja, não
conjugada. Os informantes recuperaram o grupo morfológico -armos para
materializar o infinitivo, realização que marca a interferência da língua
portuguesa. Visualizemos então dois exemplos: Siempre pensamos que para
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Gráfico 04
Gráfico 05
ter constitui a forma verbal autêntica usada para indicar posse em espanhol,
sendo portanto muito usado. Vejamos exemplos retirados do corpus : Tengo
planeado esto hace mucho tiempo y cuando queremos (9af34); Antes nunca
tenía ido con tantas amigas divertidas a la playa (1bm32). As tabelas nos
propiciam una visão mais ampla das variações lingüísticas presentes nas
redações.
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Gráfico 06
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Gráfico 07
5 Considerações parciais
Faremos algumas considerações sobre os dados que se mostraram
relevantes na pesquisa desenvolvida. Contudo, queremos deixar claro que
essa foi uma primeira tentativa de fazer uma abordagem sobre a interlíngua
de alunos brasileiros estudantes de espanhol desde uma perspectiva
variacionista. Pretendemos seguir com futuras investigações, para obter
dados mais concretos, provavelmente, no campo fonético, um fator da
interlíngua que requer estudos devido às peculiaridades fonéticas das
línguas em questão.
Com relação à variação linguística dos sufixos flexionais, as
mulheres do grupo A2, utilizaram de forma mais acentuada que os homens,
marcando a interferência da língua portuguesa e, com relação a faixa etária,
note-se que os mais jovens (20 a 25 anos), realizaram a variação de forma
mais acentuada. Enquanto que no grupo B2, foram os de mais idade que
acentuaram essa variação.
Evidencia-se o fato de que no nível A2 o dobro de mulheres
realizaram a variação linguística, ao utilizar o infinitivo flexionado em
espanhol, seguindo o paradigma português. Isso vem demonstrar que a
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
6 Referências
ALMEIDA Fº, J. C. P. Português para estrangeiros interface com o
espanhol. São Paulo: Pontes, 2001.
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Pesquisado em 03/ 05/ 2012.
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MOLLICA, M. C. e BRAGA, M. L. (Org.). Introdução à Sociolinguística:
o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2007.
66
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Jorge Bidarra22
Tania Aparecida Martins23
Keli Adriana Vidarenko da Rosa24
RESUMO
Para Steiner (2005), a existência de milhares de línguas diferentes
“mutuamente incompreensíveis” em nosso planeta põe às claras e desafia a
interminável e difícil tarefa que envolve a tradução interlíngua. Embora seja
uma prática antiga, ainda persistem muitas dúvidas e impasses sobre os
mecanismos e as formas de tratamento que precisam ser adotadas pelos
tradutores. Dentre as muitas complexidades presentes nesse trabalho, uma
delas nos chama mais a atenção: a ambiguidade lexical. Num segundo
plano, mas não menos importante e como não poderia deixar de ser, surge
em nossa pesquisa a questão da equivalência. Esse artigo tem como objetivo
principal discutir a ambiguidade lexical, bem como o problema da
equivalência, no contexto Português-Libras, as dificuldades e os impasses
impostos sobre o processo tradutório. Mais especificamente, abordamos
aqui o comportamento de signos lexicalmente ambíguos em Libras numa
situação particular em que o contexto não se mostra suficiente para a
desambiguação. Para ilustrar, vale citar o caso das palavras “julgamento,
julgar e juiz” que em Libras são representadas por um mesmo signo. À
primeira vista, pode-se dizer que os marcadores, tais como a alteração de
movimento das mãos ou de expressões não manuais, seriam recursos
suficientes para desambiguar. Todavia, não apenas para esse caso, mas para
muitos outros que ao longo do trabalho teremos a oportunidade de
explicitar, o que se pode observar é que, embora útil, eles não são capazes
de resolver o problema. Partindo-se desse ponto, com base num
levantamento prévio, que inclui consultas a dicionários impressos e online,
bem como pesquisas realizadas junto à literatura especializada, já nos foi
possível não apenas identificar um conjunto significativo de signos em
Libras com comportamentos semelhantes aos das palavras acima citadas,
como também mapeá-las. No momento, estamos em fase de análise e
discussão do material já coletado. Para permitir uma análise mais acurada,
trabalhamos sobre textos extraídos de jornais, revistas e livros didáticos.
22
Doutor; Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
23
Aluna de Mestrado; Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
24
Aluna de Mestrado; Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Para o estudo, além de Steiner, dentre outros, dão suporte a esse trabalho
Jakobson (2007), Cruse (1986), Quadros (2004), Arrojo (1986) e Kahmann
(2011).
Introdução
De acordo com Souza (1998), a falta de uma teoria unificada da
tradução dificulta uma definição universalmente aceita para o termo. Assim
que, segundo ele, por tradução podemos entender várias coisas, o que a
torna, ela mesma, uma palavra polissêmica. Para o autor, a tradução ora
pode se referir a um produto,ou o texto traduzido; a um processo,ou o ato
tradutório;a um ofício,ou a atividade de traduzir e ainda a um estudo
interdisciplinar. Se fosse somente por esse aspecto, discutir os meandros da
tradução já seria suficiente para o levantamento de uma quantidade
significativa de questões para serem resolvidas. Contudo, como o nosso
objetivo nesse artigo não é discutir a polissemia da palavra e seus efeitos,
deixaremos de lado o debate, assumindo como conceito básico de tradução
o trabalho que consiste em produzir numa língua de chegada uma
mensagem equivalente ou mais próxima, em termos de significado, da
informação contida na língua de partida.
No que diz respeito à tradução, Jakobson (1992) considera que o
processo se enquadra em três tipos, a saber: intralingual, interlingual ou
intersemiótica. A tradução intralingual, de acordo com o autor, é aquela que
acontece dentro de uma mesma língua em que determinados signos verbais
são substituídos por outros equivalentes. É um processo que envolve o texto
de partida, o leitor-textualizador e o texto de chegada. Com frequência, os
falantes de uma língua se utilizam deste tipo de tradução de forma
automática e, não raro, sem a devida consciência sobre o grau de
complexidade formal envolvido nesse trabalho. Diz-se da tradução
interlingual o processo tradutório que envolve duas (ou mais) línguas
diferentes, em que os signos linguísticos da língua de partida são
substituídos por signos, na medida do possível, equivalentes da língua de
chegada. Para realizar esse trabalho, há a figura do tradutor que, nesse caso,
atua, simultaneamente, como leitor e intérprete. A tradução intersemiótica,
também denominada transmutação, diferentemente dos tipos antecedentes,
consiste na interpretação de um determinado sistema de signos linguísticos
para outro sistema distinto constituído por signos não linguísticos ou não
verbais (Jakobson, 1992, p. 65). Esse tipo de tradução é aplicado mais
frequentemente em obras de ficção, muito usada na linguagem adotada pelo
cinema, na produção de vídeos e histórias em quadrinhos. Mas também se
aplica quando do processo tomam parte duas línguas de modalidades
69
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
25
Embora muitas vezes as palavras significado e sentido sejam tratadas como
sinônimos, Lyons (1963) estabelece uma diferença, e que adotamos neste trabalho.
Para Lyons (1963, p. 102), significado é muito mais que o “conteúdo” da palavra,
ele é independente da sinonímia, é concebido como um “conjunto de relações
(paradigmáticas) que a unidade em questão estabelece com outras unidades da
língua (no contexto ou contextos em que ocorre), sem que se faça qualquer
tentativa para estabelecer conteúdos para essa unidade”.
26
O sentido é o modo de apresentação através do qual uma expressão indica sua
referência, o modo como uma expressão apresenta a entidade que ela nomeia.
71
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
27
A co-referência em Libras pode ser realizada pelo uso de pronomes pessoais,
demonstrativos e possessivos, como nas línguas orais, mas também através do uso
do termo comparativo, da mudança de posição do corpo, do uso de classificadores
e também do olhar (FERREIRA-BRITO, 1995, p. 120-122).
28
A dêixis é uma característica das línguas de sinais.Em Libras, os dêiticos são
usados com frequência para referirem e correferirem; esclarece que a
72
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
QUADRO 01
SINAIS / Em Libras estes sinais podem TIPIFICAÇÃO DA
PALAVRAS EM se referir: AMBIGUIDADE
LIBRAS
BANCO (Estabelecimento
onde se guarda dinheiro e }HOMONÍMIA (banco
presta serviços de ordem e Juiz; Banco e
Tribunal)
financeira)
}POLISSEMIA (Juiz e
JUIZ (Magistrado da justiça
Tribunal).
que tem autoridade e poder
Fig. 1: extraída do para julgar e sentenciar;
Novo Deit-Libras. árbitro, julgador.);
Capovilla, Raphael, TRIBUNAL (Espaço onde são
Maurício. (2012, p. discutidas e julgadas as
492). questões judiciais; lugar onde
uma pessoa é julgada).
JUSTIÇA (Faculdade de
garantir a cada um o que por
direito lhe pertence, o que é
seu; conformidade com o POLISSEMIA
direito.)
JULGAMENTO(Situação em
que alguém é julgado pelo juiz,
para que seja proferida sua
sentença de condenação ou
absolvição).
JULGAR(Formar juízo ou
Fig. 2: extraída do opinião acerca de alguém ou de
dicionário on line alguma situação; avaliar,
LIBRAS dicionário da decidir como juiz ou árbitro).
Língua Brasileira de
Sinais (versão 2.1-
2008).
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(02) “O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas
para julgar segundo as leis”. (Platão).
29
Texto extraído a partir do recorte da transcrição de uma aula de História no
terceiro ano do Ensino Médio em um Colégio Público do Estado do Paraná.
75
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QUADRO 02
30
“Na Libras, não há desinência para gênero (masculino e feminino). O sinal,
representado por palavra da língua portuguesa que possui marcas de gênero, está
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LEI. (P-L-A-T-Ã-O)
2 Considerações Gerais
A investigação sobre as ocorrências de ambiguidade lexical ainda
carece de muitos aprofundamentos e muita reflexão. Apesar de o fenômeno
não ser novo, são poucos os trabalhos desenvolvidos sobre Libras que têm
se debruçado sobre o assunto. No entanto, temos observado que, para além
dos exemplos citados aqui, há muitos outros casos de ambiguidade lexical
para os quais nem sempre o contexto é capaz de resolver.O nosso estudo,
cabe enfatizar, encontra-se num estágio bastante inicial, mas já dá mostras
de que a investigação, além de necessária, é teoricamente motivada e,
portanto, merecedora de atenção. Não tivemos e nem temos a intenção de
trazer para o debate soluções para o problema. Antes, estamos interessados
em levantar as questões que temos encontrado e, em conjunto, debatermos o
problema, cujo intuito não é outro senão buscarmos pistas, ideias e
sugestões que permitam a evolução da pesquisa, como forma de contribuir
para os estudos que se desenvolvem em torno de Libras e suas aplicações.
Nesse artigo, tentamos mostrar que o processo tradutório
envolvendo línguas de modalidades diferentes não é uma tarefa simples. Os
recursos linguísticos que existem numa língua nem sempre se aplicam a
outra língua. O que nos chama a atenção é o fato de como os falantes de
Libras conseguem lidar com algumas dificuldades que normalmente
ocorrem em todas as línguas, como no caso específico da ambiguidade
lexical. A questão de fundo é mesmo saber ou pelo menos tentar descobrir
maneiras de as ambiguidades lexicais de signos em Libras serem
adequadamente desambiguados. Ao longo do texto trouxemos alguns
exemplos em que essa desambiguação nem sempre consegue ser executada
com os recursos disponíveis em Libras. Mas, se isso não é suficiente, o que
mais seria preciso?
3 Referências
ARROJO, R. Oficina de Tradução a teoria na prática. São Paulo: Ática.
Série Princípios, 2007. 5ª ed.
BERNARDINO, E. L. Absurdo ou Lógica? Os surdos e sua produção
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BIDERMAN, M. T. C. As ciências do léxico. In: As ciências do léxico:
lexicologia, lexicografia, terminologia. 2 ed. Campo Grande: Ed. UFMS,
2001.
78
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
Este trabalho investiga, sob uma perspectiva retórico-contrastiva, os usos e
as funções das marcas metadiscursivas de atenuação retórica (hedges), em
artigos de pesquisa, considerados, aqui, textos especializados
(HOFFMANN, 1998), pertencentes ao contexto comunicativo: especialista-
especialista (PEARSON, 1998), produzidos por autores (as) brasileiros (as)
e alemães (as). Para cumprir tal objetivo, a pesquisa intenciona responder
aos seguintes questionamentos: (a) qual a frequência das estratégias de
atenuação retórica utilizadas nas seções introdução e conclusão? . Para
tanto, parte-se do pressuposto de que textos pertencentes a um mesmo
gênero discursivo, porém escritos em línguas distintas apresentam
diferenças retóricas marcantes. Tais diferenças no discurso acadêmico
escrito podem ser descritas pelo uso das marcas de atenuação retórica como
elemento discursivo-pragmático caracterizador de um “modus dicendi” de
uma determinada área do conhecimento, no caso, a Medicina. Para tanto,
selecionamos um corpus composto por 120 artigos de pesquisa em
Medicina de periódicos nacionais e internacionais, coletados, no site de
periódicos da CAPES, escritos em língua alemã e em língua portuguesa.Na
análise e tratamento dos dados, utilizamos os princípios metodológicos da
Linguística de Corpus, aplicando seu caráter instrumental. Para avaliar os
dados dessa pesquisa, utilizamos o programa computacional de análise
lingüística, WordSmith Tools versão 3.0, as ferramentas Wordlist e o
Concord. Para investigar e analisar os usos e as funções das marcas
metadiscursivas de atenuação, sob uma perspectiva do Metadiscurso
Interacional (HYLAND, 2005) e da Retórica Intercultural (CONNOR,
2008), tendo em vista os corpora em análise, propomos um modelo
classificatório, em conformidade com as taxonomias propostas por Hyland
(2005), Cabrera (2004) e Martín-Martín (2008). Conforme os resultados, a
seção de discussão concentra o maior número de ocorrências das marcas de
atenuação retórica nas duas línguas, seguida da seção de introdução. Ambas
apresentam um elevado número de ocorrências das estratégias de
indeterminação (as expressões epistêmicas, como verbos modais, lexicais,
semi-auxiliares) e os adjetivos/advérbios modais,) e desagentivação (as
32
Doutora. Professora Adjunto I do Departamento de Letras Estrangeiras da
Universidade Federal do Ceará.
81
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Introdução
Atualmente o conhecimento especializado não é mais privilégio de
cientistas e seus pares, sendo agora partilhado com pessoas de grau variado
de especialidade. Assim, cresce cada vez mais a necessidade por divulgação
de informações no âmbito da comunicação especializada externa
(fachexterne Kommunikation). Porém, na tentativa de ter acesso ao
conhecimento especializado, deparamo-nos, enquanto leigos e até mesmo
iniciados, com a limitada fluência nas linguagens especializadas, que nos
fazem sentir verdadeiros “estrangeiros”, mesmo se o texto com o qual
estamos lidando estiver em nossa língua materna.
No âmbito da comunicação especializada interna, isto é, a
comunicação que se dá entre especialista e seus pares, como também entre
especialistas e iniciados, constitui-se em um verdadeiro problema para esse
iniciado, o não conhecimento dos padrões retóricos peculiares das práticas
de escrita de uma determinada comunidade discursiva, em que se insere ou
à qual pretende pertencer.
Este é o caso daquele que se inicia no meio acadêmico ou ainda
daquele que, mesmo sendo pesquisador experiente, desconhece padrões
retóricos utilizados em práticas discursivas em uma determinada língua
estrangeira. Ambos terão dificuldades em divulgar suas ideias, assim como
também em persuadir os colegas, seus possíveis leitores, quanto à
veracidade ou ainda à importância de suas pesquisas. Como consequências,
esses indivíduos, provavelmente, não serão aceitos como membros da
comunidade discursiva da qual desejam participar.
O presente artigo tem como objetivo investigar e analisar as marcas
metadiscursivas de atenuação retórica (hedges) e, assim, verificar seu
funcionamento, sob uma visão contrastiva, em textos acadêmicos
pertencentes ao contexto comunicativo: especialista-especialista, com base
na frequência de ocorrência e variação interlíngua dessas respectivas
marcas.
Dado o escopo deste trabalho, intencionamos aqui responder ao
seguinte questionamento: (a) qual a frequência das estratégias de atenuação
retórica utilizadas nas seções introdução e discussão?
82
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
1 Retórica Contrastiva
Retórica Contrastiva (doravante RC) apresenta como objetivo
principal a análise de textos produzidos por falantes de diferentes línguas,
com a finalidade de explicar (i) a influência de padrões e esquemas retóricos
típicos da língua materna em textos escritos em segunda língua; (ii) a
existência de estilos específicos em cada comunidade linguística ou ainda
(iii) a verbalização em cada cultura de diferentes formas para as mesmas
funções textuais-discursivas (OLMO, 2004,p.101).
Connor (2004, p.293) em seu artigo intitulado “intercultural
rhetoric research:beyond texts” expõe os novos rumos metodológicos da
RC, propõe inclusive novo termo para a área - Retórica Intercultural
(Intercultural Rhetoric).Segundo a autora, esse novo termo guarda-chuva
abrange dois tipos de estudos: os estudos interculturais, os quais
(intercultural studies) enfatizam a análise de textos (escritos ou orais) como
negociação entre autor e leitor em contextos atuais e os estudos
transculturais (cross-culture studies) priorizam a investigação de textos orais
ou escritos equivalente (comparação do mesmo conceito da Cultura 1 na
Cultura 2) e produzidos em diferentes contextos linguísticos e culturais.
Em uma entrevista dada à Ana Moreno e Luana Suaréz (2005,
p.166) a respeito da mudança do termo Retórica Contrastiva para Retórica
Intercultural, Connor argumenta que as pesquisas realizadas em RC
frequentemente forçavam seus pesquisadores a tratar das diferenças entre
culturas, ao invés de encorajá-los a buscar as similaridades interculturais.
Ao contrastar uma língua com a outra potencialmente faz com que uma seja
vista como inferior em detrimento da outra. Em resumo, com a nova visão
Intercultural da Retórica: (a) se investiga as conexões entre as culturas ao
invés de priorizar as diferenças retóricas e linguísticas; (b) incentiva a
examinar a comunicação (oral ou escrita) em ação; (c) desencoraja análises
puramente contrastivas e estereotípicas; (d) analisa a comunicação oral e
escrita, não somente enfatizando a modalidade escrita. Ainda com relação à
mudança de nome da disciplina Connor (2005, p.312) lembra que “o termo
Retórica Intercultural sugere que nenhuma tradição cultural é pura, mas que
tudo existe entre culturas” (tradução nossa) 33.
2 Metadiscurso: definição
A definição de metadiscurso adotada para os propósitos desse
trabalho é aquela proposta por Hyland (2004, p.156) como sendo termo
guarda-chuva que reúne em si “um conjunto de traços retóricos utilizados
33
“….the term intercultural rhetoric was expected to suggest that no rhetorical
tradition is pure but that everything exists between cultures. (Connor, 2005, p.312)
83
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
34
(1) hedges; (2)boosters; (3) atitude markers; (4) self mention; (5) engagement
markers
84
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
35
“conjunto de mecanismos estilísticos, retóricos, semânticos y pragmáticos,
altamente persuasivos y convencionales, que se empleam em la comunicación
científica entre especialistas para suavizar o reduzir la fuerza o El nível de
certidumbre de uma proposición ...” (MORALES et. a. 2008)
85
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
36
Esse termo foi cunhado por Lakoff em 1972.
86
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
37
Vale ressaltar que as classificações de Cabrera (2004) baseiam-se em critérios
pragmáticos e semânticos e não meramente lexicais.
87
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
5 Metodologia
Para compilação dos corpora desse estudo, selecionamos 120
artigos de pesquisa, subdivididos da seguinte forma: 60 artigos em
Medicina, escritos em língua alemã e 60 artigos em português. Os artigos de
pesquisa foram coletados do portal de periódicos da CAPES. Optamos por
esse gênero discursivo por ser um dos mais representativos na comunicação
acadêmica. Buscamos o portal da CAPES para assim, garantir a importância
das publicações selecionadas para o corpus, além de ter acesso livre a
inúmeros periódicos. Quanto à escolha das áreas disciplinares, optamos por
Medicina, especificamente, Cardiologia, pelo interesse particular pelo
assunto.
O corpus Medicina Alemão- (MA) possui 69.365 palavras em geral
(ocorrências), incluindo aqui as palavras repetidas e é composto com 121
arquivos. O corpus Medicina Português (MP) por sua vez, apresenta 10.996
ocorrências e é composto também por 121 arquivos.
Para avaliar os dados desse estudo, utilizamos, segundo os
princípios da Linguística de Corpus, a ferramenta computacional de análise
linguística WordSmith Tools (Scott, 1997), versão 3.0.
Dentre as diversas marcas linguísticas que realizam as estratégias
de atenuação comentaremos apresentamos aqui apenas as expressões
epistêmicas realizadas pelos verbos lexicais de juízo
88
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
6 Análise e Resultados
Ao comparar as frequências de uso das estratégias de atenuação
retórica nas duas seções retóricas (introdução e discussão), logo
percebemos, de acordo com o gráfico descrito abaixo, que a seção de
discussão, tanto em português como em alemão (MPD e o MAD) concentra
o maior número de ocorrências.
90
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
7 Considerações Finais
De acordo com os dados e a análise contextual das estratégias de
atenuação retórica realizadas nos corpora dessa pesquisa, percebemos que
há uma semelhança na frequência das estratégias de indeterminação,
seguida da estratégia de desagentivação na seção discussão dos artigos de
pesquisa na medicina. Desta forma, entendemos que os pesquisadores na
medicina ao escreverem seus artigos em alemão ou em português
demonstram um alto grau de respeito e deferência aos seus pares, ou seja,
há uma preocupação com a relação interpessoal estabelecida em seu texto
entre o pesquisador e sua comunidade acadêmica.
8 Referências
CABRERA, G. M. Estudio comparado inglés/español del discurso
biomédico escrito: la secuenciación informativa, la matización asertiva y la
conexión argumentativa en la introducción y la discusión de artículos
biomédicos escritos por autores nativos y no-nativos. 2004, p.453.
Valladolid, Universidade de Valladolid, Tese de Doutorado. Disponível em
http/ www.cervantesvirtual.com/fichaobra.html. acessado em 06 outubro de
2007.
________________ e BARTOLOMÉ, Ana Isabel Hernández. La
matización asertiva en el artículo biomédico: una propuesta de clasificación
para los estudios contrastivos inglés-español. In: Ibérica. Castelló, v.10,
p.63-90, 2005.
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English for Academic Purposes.v.3, p.291-304, 2004.
HYLAND, Ken. Metadiscourse: exploring interaction in writing.
Continuum: Londres.2005.
___________ e TSE, Polly. Metadiscourse in academic writing: a
reappraisal. Applied Linguistics. v.25 n.2, p.156–177, 2004.
MARTÍN-MARTÍN, P. The Mitigation of scientific claims in research
papers: a comparative study. International Journal of English Studies.
V.8 n.2 , 2008,p.133-152.
MORALES, A; CASSANY, D; MARIN-ALTUVE, E. I.; GONZALÉZ-
PEÑA, C.. La atenuación en el discurso odontológico: casos clínicos em
revistas hispanas. CLAC. Vol 34, 2008.
91
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
92
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
O objetivo deste artigo é apresentar algumas estratégias para a redação de
bulas de medicamentos, identificadas a partir da análise contrastiva entre
dez bulas escritas em língua alemã e dez em língua portuguesa (Brasil). As
bulas de medicamentos constituem uma importante fonte de informação aos
pacientes, portanto a transmissão de informações técnicas de maneira clara
e exata a um público leigo se faz necessária, fato que motivou a escolha do
objeto de estudo. Para este trabalho, foram adotados procedimentos da
Textologia Contrastiva devido à possibilidade de analisar comparativamente
o texto em questão e de verificar a existência (ou não) de convenções
textuais/discursivas que diferem de uma língua para outra (HARTMANN,
1980). Inicialmente, foi realizado um estudo do gênero textual, que incluiu a
descrição de sua função e situação comunicativa, segundo critérios
propostos por Brinker (2010). Em seguida, foram contrastados alguns
aspectos de sua macroestrutura, ou organização das informações no texto, e
elementos microestruturais, sobretudo, relacionados aos níveis semântico e
sintático (ECKKRAMMER, 2009). Os resultados obtidos indicaram que,
entre o texto das bulas brasileiras e alemãs, há tanto semelhanças quanto
diferenças, sendo elas relacionadas às variantes gênero textual, língua e
cultura. A partir dessa descrição contrastiva foram identificadas estratégias
de redação para esse gênero textual que minimizam dificuldades de leitura,
permitindo que o paciente leia as bulas de maneira mais rápida e eficiente.
Entre as estratégias a serem comentadas estão a inclusão do sumário de
informações, a apresentação dos itens em forma de pergunta e resposta, a
combinação de termos técnicos e termos populares e o emprego de orações
subordinadas condicionais.
38
Mestranda em Língua e Linguística Alemã pela Faculdade de Filosofia Letras e
Ciências Humanas, Universidade de São Paulo (USP).
39
Professora doutora da Área de Língua e Literatura Alemã na Faculdade de
Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo (USP); email:
reichmann@usp.br
93
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Introdução
A bula de medicamento chama a atenção pelo fato de se constituir
como um gênero de uso diário, com função informativo-instrutiva e, por
isso, de alta relevância para a sociedade. Segundo Caldeira (2008, p. 742),
além da consulta médica, esse texto é considerado uma das principais fontes
de informação aos pacientes.
Contudo, a bula é vista, muitas vezes, como um gênero
problemático devido, sobretudo, à linguagem técnica e, consequentemente,
à dificuldade de compreensão do texto por parte do cidadão comum, um
paradoxo que motivou substancialmente sua escolha como objeto de estudo.
Considerando a importância da bula de medicamentos como material
informativo para a sociedade, é necessário que a linguagem seja acessível e
adequada aos seus destinatários. A partir da análise contrastiva de um
corpus composto por dez bulas alemãs e dez bulas brasileiras de
medicamentos com princípio ativo paracetamol, foram identificadas e
descritas estratégias de redação que possam facilitar a leitura e o
entendimento desse texto técnico ao cidadão comum.
Além disso, duas grandes contribuições que tal estudo pode
oferecer com o aprimoramento do texto são a possibilidade de permitir a
uma parcela significativa da população o exercício de seus direitos como
consumidor, já que esse se apoderaria, efetivamente, das informações a
respeito de uma mercadoria adquirida e, a longo prazo, um contínuo
desafogamento do sistema público de saúde, pois os cidadãos ganhariam
autonomia para prevenir ou detectar problemas advindos do uso do
medicamento, tomar medidas imediatas e administrar adequadamente o
tratamento em todos os níveis, como dose, período, horário, procedimentos
específicos etc (SILVA et al., 2006, p. 232).
Neste artigo, serão comentadas quatro estratégias, sendo que duas
referem-se ao nível macroestrutural do texto em questão e outras duas estão
relacionadas a elementos analisados em nível microestrutural. Entretanto,
antes de dar início à parte principal deste estudo, é necessário identificar
certos aspectos importantes do texto das bulas, levando em consideração
não só características linguísticas, mas também detalhes funcionais e
aspectos culturais relacionados à comunidade na qual estão inseridos.
94
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
95
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
96
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
40
Die Anleitung für den Gebrauch eines Arzneimittels bedarf einer genauen und oft
spezifischen Formulierung. Hauptanliegen dieser Empfehlungen ist eine
patientengerechte Formulierung der Packungsbeilage. Bestimmte Überschriften
sind deshalb in Frageform gehalten.
97
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
2.2 Sumário
41
Gebrauchsinformation: Information für den Anwender
42
Guideline on the Readability of the Label and Package Leaflet of Medicinal
Products for Human Use
98
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
99
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
43
Wenn sich Ihr Krankheitsbild verschlimmert oder nach 3 Tagen keine Besserung
eintritt, müssen Sie auf jeden Fall einen Arzt aufsuchen.
100
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
farmacêutica), mas que precisa ser compreendido por uma grande parcela
da população que não é especialista nessas áreas.
Tanto o Guia de Redação de Bulas (2009), documento com dicas
de redação para bulas disponibilizado pela Anvisa, quanto o do Guia para a
Legibilidade em Bulas e Embalagens de Produtos Médicos para Uso
Humano da Comissão Europeia (1998) indicam essa estratégia como um
dos princípios para a escolha e uso das palavras no texto. De acordo com o
primeiro, “médicos e farmacêuticos possuem um léxico repleto de termos
técnicos [...] que podem ser substituídos por sinônimos ou explicações mais
acessíveis ao leigo” (ANVISA, 2009, p. 7); o segundo afirma também que
“termos médicos devem ser traduzidos para uma linguagem que os
pacientes possam compreender” 44 (EUROPEAN COMMISSION, 2009, p.
9, tradução nossa).
Embora as sugestões dos guias não configurem regulamentações e,
portanto, não precisem ser obrigatoriamente seguidas pelos laboratórios
farmacêuticos na escrita das bulas, notou-se nos corpora analisados que já
existe uma grande adesão à combinação de termos. Foram identificadas três
principais combinações, conforme mostra a tabela a seguir:
Termo técnico > Termo leigo
- solução oral > gotas
Termo leigo > Termo técnico
überempfindlich< allergisch dose maior < superdose
Termo técnico > Explicação ou exemplo
reichlich Flüssigkeit = z. B. 1 Glass
Wasser cada ml= 14 gotas
Tabela 1: Principais combinações de termos em bulas de medicamento
brasileiras e alemãs
No corpus em alemão, foi possível notar que a combinação termo
técnico > termo leigo foi descartada em favor da combinação de ordem
inversa, que privilegia o termo leigo, visto que não foram encontradas
ocorrências desse tipo. O Guia para a Legibilidade em Bulas e Embalagens
de Produtos Médicos para Uso Humano esclarece que a escolha dessa
estratégia é consciente: “É necessário garantir a consistência na explicação
das traduções, fornecendo o termo leigo com uma descrição primeiro e
44
Medical terms should be translated into language which patients can
understand.
101
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
45
Consistency should be assured in how translations are explained by giving the lay
term with a description first and the detailed medical term immediately after.
46
Pontuação de acordo com o texto original.
102
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
4 Considerações finais
Este artigo buscou indicar a importância da necessidade de
adaptação de determinados aspectos do texto técnico da bula de
medicamentos ao público leigo e apresentar alguns exemplos dessa prática.
Os resultados da análise contrastiva, que apontam diferenças e
semelhanças entre textos pertencentes ao mesmo gênero textual, porém
escritos em línguas distintas ou inseridos em culturas diversas, podem
ajudar a revelar eficientes estratégias de redação, no caso das bulas. A partir
103
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
5 Referências
ALVES, F.et al. Estratégias de análise macrotextual: gênero, texto e
contexto. Traduzir com autonomia: estratégias para o tradutor em
formação. São Paulo: Contexto, 2000, p. 71 – 86.
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GGMED. setembro de 2009. Disponível em
<http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/bulas/guia_redacao.pdf>. Acesso
em 31 maio 2012.
BRINKER, K. Linguistische Textanalyse. Eine Einführung in
Grundbegriffe und Methoden. Berlin: Erich Schmidt, 2010.
CALDEIRA, T. R., NEVES, E. R. Z., PERRINI, E. Evolução histórica das
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Janeiro, v. 24, n. 4, 2008, p. 737-743. Disponível em
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(Arzneimittelgesetz – AMG), 12. 12. 2005. Disponível em
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ECKKRAMMER, E. M.; Trad. WIESER, H. P. Aspectos e perspectivas da
comparação interlingual e intermidiática de gêneros textuais. Org.
WIESER, H. P. & KOCH, I. G. V. Linguística Textual: Perspectivas
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2012.
104
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
106
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é apresentar um breve resgate histórico
sobre os conceitos de culturemas e propor uma ampliação destes como
signos ideológicos. Visto que, os culturemas, carregam as marcas culturais
de uma sociedade, estão diretamente relacionados com as estruturas que a
compõe e são construídos através da realidade sócio histórica dos sujeitos.
Compartilhamos dos paradigmas dos teóricos Nida (1945), Newmark
(1992), Vermeer, (1983), Nord (1994), Molina (2001), Bakhtin (2006) que
compreendem a relação entre o texto e o contexto imprescindível na
produção do discurso, pois o texto, fora das informações de seu entorno, é
uma entidade linguística que carece de sentido e não promove a construção
dos propósitos da comunicação. Segundo essa perspectiva, traduzir é mais
que uma transcodificação linguística, é a intermediação entre culturas.
Defendemos que o tradutor deve dominar as culturas (original e meta) para
superar as barreiras tradutórias causadas pelos culturemas. Destacamos
algumas técnicas e estratégias de tradução, aplicadas para a ressignificação
dos culturemas.
Introdução
Nas últimas décadas os estudos na área da tradução vem
ampliando suas linhas de pesquisa. Essa ampliação permite que a tradução,
47
Professora doutora do Departamento de Língua e Literatura Estrangeira e do
Programa de Pós graduação em Estudos da Tradução – PGET/UFSC, realização do
Estágio Pós doutoral na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de
São Paulo – USP. Membro do Grupo de pesquisa Tradução e Cultura/CNPq-UFSC.
48
Mestranda do Programa de Pós graduação em Estudos da Tradução –
PGET/UFSC, Bolsista CAPES/DS, Membro do Grupo de pesquisa Tradução e
Cultura/CNPq-UFSC.
49
Mestranda do Programa de Pós graduação em Estudos da Tradução –
PGET/UFSC, Bolsista CAPES/DS, Membro do Grupo de pesquisa Tradução e
Cultura/CNPq-UFSC.
107
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
estabeleça uma interface com outras áreas e linhas teóricas, entre elas, o
funcionalismo.
Os teóricos que norteiam este trabalho são Reiss & Vermeer (1996) e Nord
(1988/1991), diretamente ligados à tradução funcionalista e trazemos
Bakhtin (2004) para elucidarmos o conceito da palavra como signo
ideológico. Tecemos um breve panorama histórico sobre os conceitos de
culturemas, as técnicas e estratégias de tradução expostas por Molina
(2001).
Esse diálogo teórico ocorre por partilharmos da ideia de que existe
em todo texto, seja ele oral, gestual ou escrito, barreiras tradutórias
constituídas culturalmente já que o texto sofre influências externas e
internas durante sua produção, possibilitando uma gama de interpretações
dependendo do contexto sócio – histórico – cultural em que se encontra.
Por outras palavras, todo texto (oral, gestual ou escrito) possui uma
função, apresenta um propósito, que só será construído seu sentido quando
recebido pelo leitor seja este de qualquer cultura. Segundo Nord (1991), o
texto possui um propósito voltado a algum leitor final, dentro de um dado
contexto:
108
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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2 Tradução e Cultura
Ao ponderarmos o apresentado anteriormente, compreendemos que
a tradução compõe a prática social dos indivíduos e que se realiza através
das interações sociais. Estas interações estão emolduradas por uma cultura
através da linguagem, porém, quando realizadas entre culturas distintas,
ambas passam a ser concretizadas dentro de um marco mais amplo, pois se
dá através da comunicação intercultural.
Deste modo, traduzir é muito mais que obter um domínio
linguístico dos dois idiomas, é transitar nos domínios de outra cultura, é
perceber a natureza ideológica dos signos que está determinada pelos
contextos de onde surge a manifestação discursiva. A tradução na
perspectiva funcionalista exige que o tradutor conheça intimamente as duas
culturas com as quais irá trabalhar, seja, portanto, bilíngüe e bicultural.
De acordo com Bakhtin, “o próprio signo e todos os seus efeitos -
todas as ações, reações e novos signos que ele gera no meio social
circundante - aparecem na experiência exterior”. Ou seja, o signo verbal é
composto pela ideologia, materializa-se na palavra e tece todas as relações
sociais. (BAKHTIN, 2010, p.33).
Ampliamos este conceito de Bakhtin com a proposta de
Goodenough, para ele a cultura consiste em representações de emoções,
ações, comportamentos que são aceitos e defendidos por uma comunidade e
seus membros. Esta cultura corresponde a um universo coletivo, organizado
por todos seus componentes e por esse motivo, o sujeito social trará para
sua percepção e interpretação do mundo, esse filtro cultural coletivo.
Nord (1993), ressalta sobre a configuração dos espaços sociais que
podem transcender unidades politicas, linguísticas egográficas. Assim, a
autora esclarece ainda mais o conceito de cultura que compartilhamos:
111
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
113
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Meio Natural
Patrimônio Cultural
Cultura Social
Cultura Linguística
Âmbitos Culturais
Meio Natural Flora, Fauna, fenômenos atmosféricos,
climas, ventos, paisagens (naturais e
criadas), topônimos.
Patrimônio Cultural Personagens (fictícios ou reais), fatos
históricos, conhecimento religioso,
festividades, crenças populares, folclore,
obras e monumentos emblemáticos,
116
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Interferência cultural
117
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
50
Molina exemplificou a tabela das técnicas de tradução trazendo exemplos nas
línguas espanhol-árabe-inglês. Para um melhor entendimento dos nossos leitores,
modificamos os exemplos, e os mantivemos somente nas línguas espanhol-
português.
118
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
3 Considerações finais
Este trabalho demonstra que as normas culturais coletivas se
apresentam através de fatores externos e internos de um texto, e ao
modificar a situação contextual e as expectativas do receptor, muda também
a função textual, a disposição e a textura do discurso.
Por esse motivo, entendemos que o tradutor, na perspectiva
funcional, precisa levar em conta vários aspectos durante suas atividades
tradutórias, entre eles estão: abordar diversas funções comunicativas; saber
selecionar bem os signos verbais e não verbais constituintes em um texto,
reconhecer que os textos dependem de uma série de fatores situacionais /
culturais (tanto o texto fonte, como o meta); reconhecer e ressignificar os
culturemas apresentados em um texto; possuir bons conhecimentos culturais
e linguísticos das culturas com as quais trabalha; solucionar conflitos
culturais existentes, atentando ao fato de que, nem sempre dois idiomas
aparentemente semelhantes usam as mesmas estruturas e possuem a mesma
freqüência de uso em situações análogas pela comunidade cultural referente,
e que o mal uso de uma palavra pode ameaçar a função textual.
E, finalmente, concluímos que os culturemas são elementos
carregados de marcas culturais de uma dada cultura-meta, que geram
possíveis problemas de tradução, pelo fato de não apresentarem um
correspondente na cultura de chegada.
120
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
4 Referências
ARROJO, R. Oficina de tradução: a teoria na prática. São Paulo: Ática.
2003.
BAKHTIN, M. M. [VOLOCHINOV]. Marxismo e filosofia da
linguagem. 11.ed. Tradução: M. Lahud e Y. Vieira. São Paulo: Hucitec.
1929/2004.
BAKHTIN, M. M. [VOLOCHINOV]. Estética da Criação Verbal. São
Paulo: Martins Fontes. 2003.
FARACO, C. A. Linguagem e diálogo: as idéias lingüísticas do círculo de
Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial. 2009.
FIORIN, J. L. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ed. Ática. 2007.
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121
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
122
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Karine Dourado52
RESUMO
O objeto de estudo é o livro didático de português para estrangeiros Brasil:
língua e cultura (2002), a fim de identificar na obra os diferentes usos de
ambiguidades associadas a gêneros humorísticos com a intenção de ampliar
o léxico do falante-aprendiz de português do Brasil como segunda língua e,
com isso, identificar os pontos positivos e negativos dessa associação e
como ela é abordada no livros didáticos de PBSL com a divulgação e o uso
mais amplo. Baseado nos estudos da Cançado (2008), que procura explicitar
que o significado pode ser: semântico, aquele contido nas palavras e nas
sentenças, o que diz respeito ao chamado sentido literal; representacional,
aquele ancorado em nossas representações mentais; pragmático, aquele
fundado especialmente nos elementos contextuais, e de um método
descritivo-analítico, o percurso metodológico utilizado foi: a seleção de um
livro destinado ao ensino de português do Brasil como segunda língua;
análise dos quadros rotulados como Um pouquinho de humor e, por fim, a
seleção de uma página específica para que pudéssemos fazer uma análise
crítica/reflexiva e propor uma atividade que contemplasse o conteúdo de
ambiguidade (p. 249). A obra em análise apresenta ampla divulgação e uso
no contexto de ensino-aprendizagem de PBSL, possuindo, portanto, grande
destaque em sua área de aplicação e tornando-se um dos materiais mais
procurados por esses aprendizes.
Introdução
O presente artigo se destina à investigação do uso da ambiguidade
nos gêneros humorísticos para ensino do significado de palavras e busca
compreender o conceito de ambiguidade. Paralelo ao processo de
ambiguidade, que constantemente influencia os atos de comunicação e que
é característica fundamental da linguagem, dando-lhe seu movimento
necessário, haverá uma análise dos gêneros humorísticos, que recorrem a
esse efeito para trabalhar os variados significados de uma palavra. Trabalhar
51
Artigo produzido sob a orientação da Profa. Michelle Machado de Oliveira
Vilarinho para obtenção de menção da disciplina Lexicologia, Semântica e
Pragmática Constrastivas do curso de licenciatura em letras Português do Brasil
como Segunda Língua (PBSL) da Universidade de Brasília (UnB).
52
Graduanda do curso de licenciatura em letras PBSL da UnB.
123
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
1 Seções
1.1 Fundamentação teórica
125
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
127
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
NOTE:
a
Joia also means jewel (s)
A linguagem, para ser completamente inteligível precisa estar
inserida num contexto. Nesse caso, é o contexto que nos causa à sensação
de humor. Muitas vezes, ele pode modificar totalmente o sentido de uma
frase. Na piada, a fala do contrabandista “-Não, também trago minha roupa”
exemplifica a confusão provocada por uma referência ambígua na fala do
inspetor da alfândega “... tudo joia?” que utiliza uma expressão corrente na
linguagem popular. O contrabandista entende essa expressão no seu sentido
literal não entendendo que joia se refere ao seu estado de humor e não ao
fato de suas malas estarem cheias de ouro, uma vez que a palavra joia
também signifique matéria preciosa (ouro, prata, etc.).
Os autores do livro exemplificam muito bem, mesmo que com
bastante superficialidade, um caso de ambiguidade e ainda trazem aspectos
culturais do povo brasileiro, mas deixam de lado a oportunidade de falar um
pouco mais sobre essa figura de linguagem muito utilizada e marcada no
discurso dos falantes brasileiros do português. A discussão fica somente no
campo do significado do diálogo apresentado e na atribuição de humor à
piada. Não é questionado ao menos se o aluno realmente entendeu a
anedota.
A sessão seria um ótimo momento para, com alunos que já
possuem ao menos o nível intermediário da língua-alvo, introduzir as
noções de figuras de linguagem, enfocando a ambiguidade, tanto a
intencional quanto a acidental, que causa muitos problemas de escrita para
os aprendizes de línguas estrangeiras. Poderiam ser propostos exercícios
que ajudassem os alunos a reconhecer casos de ambiguidade acidental e a
corrigi-los de forma que fossem separados os dois significados.
ETAPA 1
Antes de exibir a figura abaixo, pergunte aos alunos o que eles
compreendem por “começar o ano com o pé direito”. Provavelmente, eles
responderão que significa começar “bem” o ano - trata-se de uma expressão
conotativa que, conscientemente ou não, eles fazem uso no cotidiano. Agora
exiba a figura. Pergunte a eles se, nesse contexto, há outra interpretação
possível para a mesma expressão:
129
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
ETAPA 2
Pergunte aos alunos quais formas de cumprimento eles conhecem.
Exemplos presumíveis: “Olá, como vai?”; “Tudo certo?”; “Que que tá
pegando?”. Pergunte se eles conhecem a expressão “tudo em cima” e qual o
seu significado. Em seguida, exiba a seguinte figura:
130
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
ETAPA 3
Pergunte aos alunos se eles conhecem a expressão “Bom pra
burro” e qual significado dela. Em seguida, exiba a seguinte propaganda
publicitária:
ETAPA 4
Depois de trabalhados mensagens e contextos, seria interessante
aprofundar um pouco mais nessa matéria. A linguagem, para ser
completamente inteligível precisa estar inserida num contexto. Nos casos
estudados acima, é o contexto que nos causa a sensação de humor. Muitas
vezes, ele pode modificar totalmente o sentido de uma frase. Para levá-los
a perceber isso, escreva no quadro a seguinte frase: "Aplausos, ele é um
grande comediante!" Agora, perguntes que sentido ela adquire nos seguintes
contextos:
131
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
1)
2)
AVALIAÇÃO
PROFESSOR: A ambiguidade causando humor é um recurso
muito utilizado nas letras de música. Peça aos alunos para pesquisarem na
internet uma letra de música que contenha uma ambiguidade e por esse
motivo seja engraçada. Depois cada aluno deverá apresentar sua pesquisa
para toda a classe. A ambiguidade causando humor é um recurso muito
132
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Exemplo:
Lembranças De Amor
Victor e Leo
Composição: Victor Chaves
(REFRÃO)
Preciso te dizer o que acontece com meu sentimento
Chego em casa, não te vejo
O meu desejo é te ligar correndo (...)
3 Referências
CÂMARA, J. M. Problemas de linguística descritiva. 12. ed. Petrópolis:
Vozes, 1986.
CANÇADO, Márcia. Manual de semântica. Belo Horizonte: UFMG,
2005.
DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1988.
FIORIN, José Luiz. (Org.). Introdução à linguística: objetos teóricos. São
Paulo: Contexto, 2002.
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Livros Técnicos e Científicos Editora S. A., 1987.
ROCHA LIMA, C. H. da. Gramática da língua portuguesa. 44. ed. Rio
de Janeiro: José Olympio, 2005.
133
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Claudia Drucker53
RESUMO
Sobre o vocábulo “samba”, diz Heli de Chatelain em 1893 que ele ainda não
recebeu uma explicação satisfatória quanto à origem (p. 311). Dentro do
meu conhecimento, cento e vinte anos mais tarde este estudo ainda não foi
feito, pelo menos no que se refere ao Brasil. A origem da palavra “samba”,
tal como usada no Brasil, é dada como incerta. A autoridade consagrada,
nestes assuntos, é o dicionário etimológico, mas aqui ele não nos ajuda
muito. O Dicionário etimológico da língua portuguesa de Antônio Geraldo
da Cunha não oferece uma etimologia de “samba”, apenas uma
identificação de sentido e origem: “dança cantada, de origem africana de
provável origem africana [como registrado pela primeira vez em] 1890”.
As fontes usadas não são enunciadas, e nem mesmo essas indicações
sumárias são incontestes sobre a origem e o sentido primeiro de “samba”,
antes de a palavra vir a designar um gênero musical identificado com o Rio
de Janeiro.
Introdução
Os dicionários etimológicos de português se concentram na análise
da origem de termos derivados do latim e do grego. Isso é o esperado,
considerando que a linguística histórica, enquanto estudo metódico do
desenvolvimento das línguas, nasceu da identificação de uma família de
línguas, a indo-europeia. Nesse momento, a disciplina que hoje, por
influência anglo-saxônica, é chamada “linguística histórica”, era chamada
“filologia”, por influência alemã. A lingüística histórica ou filologia
apresentava a facilidade do registro escrito fonético e de ser a família
lingüística do estudioso. As línguas nativas africanas, por sua vez, são ou
completamente orais ou possuem escritas não fonéticas (Ki-Zerbo 1990, pp.
95-100). Para o lingüística tais sistemas de escrita não são úteis, pois ela se
baseia na transcrição fonética, de modo que esta ficou a cargo inicialmente
dos europeus. Eles não tinham o ouvido treinado para captar as nuances de
cada língua, ou transcreveram o que ouviram influenciados pela pronúncia e
grafia de suas próprias línguas.
O estudo das línguas africanas que nos interessam –as línguas dos
povos trazidos à para o Brasil-- ainda é um campo recente. O primeiro
dicionário de uma língua banto é o dicionário de Brusciotto, de 1652, bem
53 a
Doutora em Filosofia pela UFRJ; Prof . do Departamento de Filosofia da UFSC.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
54
Sílvio Romero pode ser considerado antes o incitador a tais estudos: “A
Escravidão no Brasil, de Perdigão Malheiro, publicado pela primeira vez em 1867, é
137
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
nomes citados pertenceram aos últimos anos do séc. XIX ou ao século XX.
À exceção de Macedo Soares, nenhum é lingüista. A importância da obra
dos africanologistas brasileiros não deve ser avaliada por conhecimentos
que eles não declararam realmente possuir.
A José Veríssimo, o mais antigo entre os citados, é conhecida a
referência de Mário de Andrade: “José Veríssimo dá a palavra ‘samba’
como ‘de origem africana perfeitamente assentada’” em Cenas da vida
amazônica, na edição de 1886 (Andrade 1989, p. 454). A busca de uma
comprovação da origem africana de “samba” nos põe diante da necessidade
de escolher como atacar o problema. Para começar, “samba” pode ser
encontrado em várias línguas africanas. É até o nome de algumas delas,
faladas na região da República Democrática do Congo. Em Angola, é um
nome próprio dado a bebês do sexo masculino, mas na língua do povo
duala, nos Camarões, significa “sete”. A recorrência de “samba” como
palavra ou componente em mais de uma língua africana não autoriza
grandes esperanças de localizar precisamente qual delas migrou para o
Brasil, e, uma vez aqui, inspirou o que os brasileiros vieram chamar
“samba” (inicialmente, “baile”). Alguém preparado para esta tarefa poderia
tentar mapear a diversidade de ocorrências de “samba”, com as prováveis
origens e derivações na África. Depois, as relações de derivações entre
palavras teriam de ser estudadas com o auxílio dos conhecimentos
adequados. Sabe-se que a formação de palavras nas línguas bantas, para
falar apenas da família de línguas africanas mais importante na história do
Brasil, obedece a regras bem diferentes das do português (mais sobre isso
abaixo). Finalmente, todas as contribuições dos linguistas teriam de ser
ponderadas à luz de hipóteses históricas plausíveis. Seria preciso averiguar
quais línguas africanas deram uma contribuição importante ao português,
com o auxílio de diferentes linhas de investigação, para chegarmos a poder
descartar as hipóteses distantes ou menos plausíveis. É desnecessário
acrescentar que nada disso será sequer tentado aqui.
Passemos aos prós e contras das derivações já sugeridas. Na
reportagem pioneira Na roda do samba, Francisco Guimarães sugere que
“samba” é a união de “sam” (“pague”) e “ba” (“receba”) (Guimarães 1933,
p. 19). A associação entre aquilo a que “samba” se refere e os comandos
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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141
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
2 Referências
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Janeiro: CiFEFiL, jan./50 abr.2010, Supl. URL:
http://www.filologia.org.br/revista/46sup/05.pdf. Acessado em 21 de janeiro
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BATSÎKAMA , P. As Origens do reino do Kôngo segundo a Tradição Oral.
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Ano III, Nº 5, julho/2010, pp. 7-41. URL:
https://sites.google.com/site/revistasankofa/sankofa5/as-origens-do-reino-
do-kongo Acessado em 22 de janeiro de 2013.
55
Em quimbundo: “o mesmo sentido que leva Samba, nome do filho mais velho,
verifica-se também como teónimo no sentido em que Deus é o primogénito de
todos. O termo tem, entre outras, esta forma verbal que deriva de sàmbà: marcar
os caminhos, começar uma obra, iniciar, abrir a pista ou fundar os primeiros
pilares” (Batsîkama, 2010, p. 26)
143
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Kleber Eckert56
RESUMO
O presente trabalho faz parte de uma pesquisa que tem por objetivo
principal discutir as dificuldades que o aprendiz lusófono encontra ao se
deparar com o artigo neutro ‘lo’ da Língua Espanhola, em situações de
escrita, oralidade e leitura. Sabe-se que, ao aprender uma segunda língua,
esse aprendiz utiliza, inicialmente, as estruturas morfossintáticas da língua
materna e tenta adaptá-las à língua meta. Essa sistemática, embora possível
para algumas estruturas, não ocorre em outras, e uma das quais em que a
transposição não é possível é no uso do artigo neutro ‘lo’ da Língua
Espanhola. Para situar, de forma um pouco mais ampla, o lugar dos artigos
no Português e no Espanhol, é feita uma breve introdução sobre essa classe
de palavras e, para tanto, discute-se o uso dos artigos definidos e indefinidos
nas duas línguas em relação ao seu significado e aos papéis gramaticais que
lhes correspondem, tais como a introdução de elementos novos no texto e as
referências específicas e genéricas. Após, faz-se uma síntese da evolução
histórica dos artigos, recuperando sua procedência latina, como o pronome
demonstrativo que dá origem aos artigos definidos e o numeral do qual se
originam os indefinidos. Essa perspectiva histórica passa também pelos
períodos do Português e do Espanhol arcaicos, até chegar à forma corrente
que é usada na atualidade. E como o foco deste trabalho é o artigo neutro da
Língua Espanhola, há uma seção em que se discute, numa perspectiva
contrastiva com a Língua Portuguesa, as funções e os usos desse artigo, para
chegar, finalmente, às dificuldades que o falante de Português apresenta
para compreender os significados e os usos do ‘lo’.
Introdução
Na Língua Portuguesa e na Espanhola, o artigo localiza-se na
subcategoria dos determinantes e faz parte do sintagma nominal, no qual
ocorre sempre antes do substantivo57. Na perspectiva da Gramática
56
Doutorando em Letras pela Universidade de Caxias do Sul – UCS. Professor do
Centro Universitário UNIVATES.
57
No decorrer deste trabalho, ver-se-á que o artigo neutro da Língua Espanhola
ocorre em vários contextos gramaticais, mas nunca diante de substantivos, embora
ele substantive os termos (adjetivos, advérbios, etc) que o sucedem. Mais detalhes
sobre o uso do artigo neutro aparecem no item 4 deste trabalho.
146
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
58
Especialmente pelo artigo definido, mas também por um possessivo ou
demonstrativo ou ainda por um termo genérico.
147
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
59
Apesar de haver dois demonstrativos para determinar o substantivo, a forma ille
era mais usada, o que pode ser percebido na extensa representação dessa forma
nas línguas românicas (Nunes, 1975).
148
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
c) a queda do ‘e’ (ou ‘i’) inicial ocorreu por ser o artigo uma palavra
essencialmente proclítica (COUTINHO, 1971), processo semelhante
ocorrido na maioria das línguas60 que são congêneres ao Português
(NUNES, 1975).
d) Em algumas situações específicas, em que o os artigos ocorriam em
posição intervocálica, o ‘l’ caiu, o que fez surgir as formas atualmente
usadas: a, as, o, os. Essas formas, que inicialmente estavam circunscritas a
contextos muito exclusivos, foram se generalizando com a evolução da
língua (COUTINHO, 1971). Essa transformação contribuiu para que, em
sua forma, o artigo definido se afastasse tanto da forma que existe nas
outras línguas românicas (NUNES, 1975).
Coutinho (1971) afirma que no Português atual ainda existem
resquícios da época em que os artigos definidos apresentavam as formas
‘la’, ‘las’, ‘lo’ e ‘los’. Entre os exemplos que o autor cita, estão as
combinações com a preposição ‘per’, cujo percurso histórico configura-se
como no exemplo: perlo > pello > pelo. O autor também apresenta locuções
estereotipadas que apresentam os mesmos resquícios, embora atualmente
essas locuções sejam de uso pouco comum: alfim < a + la + fim, alvez < a +
la + vez, almenos < a + lo + menos.
Na evolução histórica dos artigos definidos, a Língua Portuguesa
apresenta outro artigo, ‘el’, que hoje é empregado somente diante da palavra
rei, daí ‘el-rei’, ainda que antigamente se antepusesse também a outras
dignidades, como conde e alcaide (NUNES, 1975). Em relação à sua
origem, os estudiosos da história da Língua Portuguesa não estão em
acordo. Uma corrente afirma que o artigo é uma importação do Espanhol,
em cuja língua o artigo masculino singular é ‘el’. Outra defende que é a
forma apocopada do artigo ‘elo’61 (COUTINHO, 1971). Já Nunes (1975, p.
252) tem outro ponto de vista, ao afirmar que “não me parece que a mesma
forma latina illu- tivesse produzido, sob a influência idêntica, a próclise,
duas diferentes, antes afigura-se-me que ele representa apenas o caso
nominativo deste pronome, ou seja, o pessoal masculino da terceira pessoa.”
O autor baseia sua argumentação em exemplos de escritos antigos, nos
quais aparecem, indistintamente, as formas ‘ele’ e ‘el’.
60
Os artigos se mantiveram com o ‘l’ inicial, de acordo com Nunes (1975) no
francês, no provençal, no espanhol, no italiano, no rético e no romeno.
61
Coutinho (1971, p. 251-2), para explicar a apócope, cita Antenor Nascentes: “a
rapidez com que os arautos da corte deviam pronunciar a expressão elo rei ao
anunciarem a presença do soberano, acarretou a apócope do –o final do artigo,
criando-se então a locução estereotipada el-rei.”
149
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
62
No caso nominativo latino, o numeral era ‘unus’ no masculino, ‘una’ no feminino
e ‘unum’ na forma neutra. Os artigos indefinidos originaram-se das formas ‘unus’ e
‘una’.
150
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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Não existe concordância entre os estudiosos da história da Língua Espanhola em
relação ao caso latino que deu origem aos artigos do Castelhano. Há aqueles que
afirmam que os artigos – no singular – surgiram a partir do nominativo singular e
que a respectiva forma no plural tem sua origem no acusativo plural. Outros
afirmam que as formas no singular e plural têm sua origem no acusativo, assim
como ocorreu no Português.
64
El agua fría – Las aguas frías. Percebe-se que o gênero da palavra água é
feminino porque o adjetivo que a acompanha está flexionado no feminino e,
quando o sintagma é passado para o plural, o artigo transforma-se em ‘las’. A regra
de uso de ‘el’ diante de palavras que iniciam por ‘a’ ou ‘ha’ tônicos não se aplica a
duas situações: a) quando a palavra que sucede o artigo é um adjetivo, como em la
amplia habitación – las amplias habitaciones; b) diante das letras do alfabeto ‘a’ e
‘h’, usam as formas la a e la hache.
151
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
65
Na Língua Espanhola, a tendência ao relaxamento da sílaba átona em final de
palavra também atingiu o artigo indefinido, na forma singular diante de
substantivos masculinos. A queda do segmento ‘o’ em ‘uno’ é chamada forma
apocopada do artigo, e pode ser vista nos exemplos a seguir: un muchacho, un
perro, un problema (MASIP, 2005).
66
illud bueno > ilo bueno > lo bueno. O nominativo é, numa língua de casos como o
latim, o caso que exprime a função gramatical de sujeito.
67
Na Língua Espanhola, ‘ello’ tem valor de demonstrativo neutro, e pode ser usado
como sinônimo de ‘eso’. Em Português, as duas formas podem ser traduzidas pelo
demonstrativo neutro ‘isso’.
68
Isto, isso, aquilo – em Português.
152
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
69
No exemplo citado, a própria Língua Espanhola aceita expressar a mesma ideia
com um demonstrativo neutro no lugar do artigo ¿Encontraste aquello que
buscabas?.
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70
Tradução aproximada.
71
Tradução aproximada.
72
As formas agramaticais serão marcadas com um *. A forma correta seria El
hombre era flaco, que em Português significa O homem era magro.
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
5 Referências
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LLORACH, E. A. Gramática de la lengua española. Madrid: Espasa
Calpe, 1999.
157
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
158
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Introducción
Aprender lengua extranjera no es tarea fácil, ni para quien aprende
ni para quien enseña y en este mundo contemporáneo con tantas formas de
lenguaje, aprender otra lengua significa comprender culturas y más aún
comprender la esencia de ciertos conceptos, expresiones, gestos, que son
propios de cada pueblo o cultura.
En español y portugués existe mucha semejanza lingüística, mas
con grandes divergencias léxicas. Este será el tema de este trabajo, abordar
73
Estudante de Graduação UFSC
74
Estudante de Graduação UFSC
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
1 Objetivos
Objetivo Principal: ¿Cómo enseñar las divergencias léxicas?
Objetivo Secundario: describir la teoría interacional o socio
histórica.
2 Divergências Léxicas
Esta pesquisa pretende abordar apenas, y muy superficialmente el
tema de las divergencias léxicas existentes entre el portugués y el español.
Tema que causa mucha inseguridad cuando un estudiante se depara con
textos o situaciones comunicativas donde las palabras aparentan trasmitir
un determinado mensaje, pero el significado real del mensaje es otro.
Consta en la Enciclopedia Española “El Pequeño Larousse
Ilustrado” que en el transcurso de la historia de la humanidad muchas
lenguas se perdieron, en cuanto otras prevalecieron, entretanto el español, a
pesar de la variedad de culturas en contacto, no ha perdido su unidad
efectiva, presentando en la actualidad una riqueza inigualable de
diversidades léxicas, si consideramos los tantos pueblos que tienen el
español como lengua materna.
Si nos remontamos al mundo hispanohablante, observaremos que
son 21 países los que fueron colonizados por españoles a los cuales les ha
quedado esa herencia lingüística y cultural que sin duda ha sufrido
interferencias por existencia de los diversos otros pueblos que ya existían en
esta tierra, dicha hoy, latinoamericana, pueblos estos que ya poseían sus
propias culturas, su identidad, sus costumbres.
Cabe considerar también, que vinieron a establecerse en diferentes
países latinoamericanos, otros pueblos, no españoles, como africanos,
húngaros, judíos, griegos, rusos, ucranianos, alemanes, italianos, entre
tantos otros. Todos ellos han influenciado en la lengua española, que si bien
no ha perdido su integridad, reconoce hoy una diversidad léxica propia de
su pueblo o nación que la habla.
161
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75
Español – português.
162
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
3 ¿Cómo enseñarlos?
Los Parámetros Curriculares de Santa Catarina indican la
perspectiva socio - histórica-cultural representada por autores como
Leontiev Vygotsky y Mikail Bakthin, los cuales destacan el papel de la
cultura y particularmente el del lenguaje en la formación del individuo y su
identidad.
Consecuentemente cultura y lenguaje están intrínsicamente juntos,
en cualquier grupo socialmente identificado, ambos –cultura y lenguaje -
revelan identidad y esto es muy perceptible en la diversidad léxica del
mundo hispano hablante. No hay como negar que el acento de los diferentes
individuos que componen este mosaico cultural latinoamericano, identifica
el individuo, ya sea argentino, chileno, mexicano, etc.
La lengua de un pueblo está vinculada al pensamiento, a los
intereses del pueblo que la usa, a la evolución tecnológica, a la religiosidad,
a sus tradiciones, a sus deseos y ambiciones, pistas estas que dan margen a
una reflexión de cómo enseñar, si tenemos en cuenta que la educación hoy
orienta para una enseñanza con perspectiva socio-histórica.
En el ámbito de Santa Catarina, no se puede ignorar la vocación
turística que posee, por lo que los campos de trabajo o laborales tienen
relación directa con la lengua hispana. En este contexto es imperativo hablar
español, pues el dominio de la lengua garante mejores negocios, agiliza la
comunicación y da señal de competencia, respeto y ética profesional.
Por esta razón, el desconocimiento de las armadillas que las
divergencias léxicas pueden ocasionar, es motivo de ingenuidad de los que
se proponen a trabajar en Santa Catarina. Hay muchos ejemplos de mal
entendidos cometidos tanto por los brasileños que se proponen a hablar
español, como por los castellanos que se proponen hablar portugués, como
registrado en el ejemplo a seguir:
“Un empresario brasileño hace negocios con un banquero
argentino y acuerdan algunos detalles burocráticos que deben quedar
escritos y ser enviados a las reparticiones aduaneras: en un determinado
momento el brasileño le pregunta al argentino: “em que termos devo fazer
essa carta? El argentino responde: ¿Qué? ¿Ahora querés termos?
Bueno el dilema solo fue resuelto después de llamar a una persona
que de hecho hablaba español, la cual simplemente preguntó: Señor: ¿En
qué términos debemos hacer la carta?
La palabra termo en español, significa garrafa térmica. Mientras
que en portugués la palabra termo significa término = palabras, conceptos.
El significado de los conceptos, es por lo tanto lo que forma la
cultura de los pueblos, ese sentimiento que a veces no se ve más se siente,
como gestos, miradas, moda, intereses, deseos, sueños, en fin la
163
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
4 Divergencias x Vocabulario
Reflexionar a respecto de cómo enseñar las divergencias léxicas, o
cualquier tópico gramatical o vocabulario de una lengua extranjera, es una
preocupación que no puede distanciarse de lo que se ha dicho y registrado
en la Propuesta Curricular, la cual menciona que no se puede omitir
justamente aquello que constituye la razón de ser de la lengua, cual es: la
construcción de sentidos a través de la interacción verbal.
Cabe mencionar que todas los vocablos que forman los dichos
divergentes, son palabras que forman un léxico, o un vocabulario de la
lengua española, y que debe ser comprendido no solo en la comparación
con su semejante en portugués, sino también en sus significados reales,
dentro de un contexto socio-cultural. En ese sentido, GATTOLIN (2006,
p.140,141), escribe:
164
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
76
Falsos amigos son vocablos heterosemánticos, que se escriben igual o parecido
tanto em español como em português, pero tienen significado diferente.
165
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
desarrollo educativo del alumno, bien como debe promover situaciones que
incentiven la curiosidad y el diálogo.
Si aplicamos este principio a la enseñanza de la lengua española, y
de las divergencias léxicas, la apropiación de la lengua albo se dará a través
de interpretación de textos, de prácticas dialógicas, de identificar palabras
con sus significados reales dentro de un contexto, de ver películas, de
escuchar música, de actividades lúdicas, de completar frases, de observar
signos simbólicos, etc.
Y en el contexto de Santa Catarina, esta metodología parece
bastante coherente, pues direcciona la práctica pedagógica para una
interpretación de contexto. Considerando las bellezas naturales del Estado,
unidas las diversidades geográficas, étnicas, históricas, folclóricas, etc.,
parece un desafío factible de realizar, ocasionando contenidos significativos
para el aprendiz de español.
Cabe recordar las conocidas palabras de FREIRE (1992):
167
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
7 Referencias
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem, São Paulo:
Hucitec, 1979.
BOHN, HILARIO I. e VANDRESEN, Paulino (org.) Tópicos de
Lingüística aplicada. O ensino de Línguas Estrangeiras. Florianópolis,
UFSC 1988.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais.
Língua Estrangeira
COSTA, Maria J. D. (et. all), org. Línguas: Ensino e Ações. A
Estruturação da informação não visual: aplicação do mapa semântico
Florianópolis: UFSC/NUSPPLE/ DLLE/ CCE, 2002.
DURÃO, Adja, B.A. B. e ANDRADE, Otávio G. de. Jornadas de
Estudios Hispánicos: problemas de enseñanza / aprendizaje de
brasileños aprendices de español, Tomo I. Londrina: Edit. UFL., 2000.
---------------REIS, M. A. de O. B. dos. ANDRADE, Otavio G. de. (orgs.)
Vários olhares sobre o espanhol: Considerações sobre a língua e a
literatura. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2005.
Enciclopedia Ilustrada. El Pequeño Larousse Ilustrado 2003. El Lenguaje,
la escritura y las Lenguas. Editorial.S.A. Barcelona 2003.
FAZENDA, Ivani C.A. Práticas Interdisciplinares na escola. 11. ed. São
Paulo: Cortez, 2009.
------------------ Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa..
Campinas, SP: Papirus, 1994.( Col. Magistério: Formação e trabalho
pedagógico)
------------------ Dicionário em construção: interdisciplinaridade. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 2002.
-------------------Integração e Interdisciplinaridade no ensino Brasileiro.
Efetividade ou ideologia. São Paulo. Ed. Loyola, 1993
168
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
169
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
O presente texto tem o objetivo de apresentar um conjunto de informações
extraídas de uma pesquisa que tinha por finalidade identificar falsos amigos
em catorze coleções de livros didáticos para ensino de espanhol a
brasileiros, publicadas entre 2001 e 2011. Examinou-se o tratamento dado
aos falsos amigos nesses livros, tentando avaliar se esse tratamento era
pertinente em função das necessidades do público. Norteiam a pesquisa
cinco perguntas: 1. Qual a ocorrência de cada falso amigo dentro de cada
coleção? 2. Qual a ocorrência de cada falso amigo em todas as coleções? 3.
Quais os falsos amigos mais recorrentes em todas as coleções? 4. Qual o
ocorrência de cada falso amigo no CREA? 5. Em quais contextos os falsos
amigos selecionados aparecem? Para responder a essas perguntas, a
metodologia aplicada consistiu na verificação da frequência de uso dos
falsos amigos nos livros didáticos e no “Corpus de Referencia del Español
Actual” (CREA).
Introdução
Neste trabalho, relatamos os resultados de uma pesquisa que teve
por finalidade examinar o tratamento dado a falsos amigos em livros
didáticos para ensino de espanhol a brasileiros, identificando quais falsos
amigos eram comuns a todas as coleções e as ocorrências de cada um desses
falsos amigos em cada volume. Tomou-se como fundamentação informação
e exemplos reunidos no Corpus de Referencia del Español Actual (CREA).
A escolha do livro didático para ensino de espanhol foi usado como objeto
de estudo porque este costuma ser o material didáticos mais frequentemente
utilizado nos contextos de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras.
77
Mestre em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina.
78
Professora do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da Universidade
Federal de Santa Catarina. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
Professora do Programa de Pós-graduação em Linguística e do Programa de Pós-
graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina.
170
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
2 Metodologia
O propósito da pesquisa que relatamos neste trabalho consistiu em
identificar, como dissemos, os falsos amigos presentes em 14 coleções de
livros didáticos para ensino de espanhol a brasileiros, amplamente usadas
em escolas de Ensino Fundamental e de Ensino Médio no Brasil: 1. El arte
de leer Español; 2. Enlaces; 3. Entérate; 4. Expansión; 5. Espanhol série
Brasil; 6. Español. Curso de Español para hablantes de portugués; 7.
Español Esencial; 8. Listo; 9. Nuevo ¡Arriba!; 10. Radix; 11. Saludos; 12.
Síntesis; 13. ¡Por Supuesto!; e 14. ¡Vale!.
Os falsos amigos do espanhol em relação ao português sempre ou
quase sempre são incluídos em todos os tipos de materiais de ensino desta
língua, por isso cada uma das coleções citadas foi analisada, livro por livro,
página por página, em busca das seções destinadas aos falsos amigos.
Na pesquisa que deu origem a este artigo, os falsos amigos estão
organizados em tabelas seguindo a ordem em que aparecem nos livros, com
a indicação das páginas onde se encontram, mostrando, também, os falsos
amigos separados por coleções e organizados por ordem alfabética bem
171
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
172
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
173
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
34 ayuntamiento prefeitura 1
35 balcón sacada 1
36 balón bola 1
37 barata de baixo preço 1
38 basura lixo 7
39 batata batata-doce 2
40 beca bolsa de estudos 3
41 berro agrião 18
42 billete nota/ cédula 2
43 billón trilhão 3
44 bizcocho pão-de-ló/ bolo 1
45 blanco alvo/ branco 2
46 bolsa sacola 1
47 bolso bolsa 1
48 borracha bêbada 3
49 borracho bêbado 3
50 borrador rascunho 1
51 borrar apagar 11
52 bota chuteira 1
53 botar quicar a bola/ chutar (no futebol) 1
54 bote pulo/ balsa 1
55 botiquín caixa de remédios 2
56 bozal focinheira 1
57 brincar pular/ saltar 8
58 brinco salto/ pulo 9
59 cacho pedaço 3
60 cachorro filhote 24
61 caco ladrão 1
62 calzada leito da rua 5
63 camarero garçom 1
64 capa camada 1
65 caprichoso teimoso 2
66 careta máscara 1
67 carnicería açougue/ matadouro 1
68 carnicero açougueiro 1
69 carpa barraca 1
70 carro carroça 3
71 carroza carruagem 2
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
72 cartel cartaz 1
73 cazadora casaco/ japona 1
74 cena jantar 9
75 cepillo escova 2
76 cerca perto 2
77 chapa lataria 1
78 charlatán conversador/ falador 1
79 chatear entrar em um chat/ bater papo 2
80 chavalo menino/ jóven 1
81 chico jovem/ menino/ pequeno/ rapaz 2
82 chorizo linguiça 2
83 cigarrilo cigarro 2
84 cigarro charuto 1
85 cimiento estrutura 1
86 cinta fita 5
87 ciruela ameixa 5
88 clase aula 1
89 clausura formatura 1
90 cobijar hospedar/ tapar 1
91 cobra nome de uma espécie de cobra venenosa 1
92 coche automóvel 1
93 cola fila/ rabo 6
94 colar coar/ entrar sem autorizção 1
95 comedor sala de jantar 3
96 cometa pipa 2
97 competencia competição/ concorrência 7
98 concierto acordo/ show/ concerto 1
99 confiado crédulo 2
100 contestar responder 5
101 copa taça/ cálice 8
102 copo floco (de neve/ de espuma) 6
103 corrida tourada 1
104 corvo curvo/ curvado/ arqueado 2
105 costa custo 1
106 crear criar 1
107 creditar dar crétido 1
108 crianza criação 7
109 cubiertos talheres 6
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
batata batata-doce 2
billete nota/ cédula 2
blanco alvo/ branco 2
botiquín caixa de remédios 2
caprichoso teimoso 2
carroza carruagem 2
cepillo escova 2
cerca perto 2
chatear entrar em um chat/ bater papo 2
chico jovem/ menino/ pequeno/ rapaz 2
chorizo linguiça 2
cigarrilo cigarro 2
cometa pipa 2
confiado crédulo 2
corvo curvo/ curvado/ arqueado 2
cubo balde 2
desgrasado sem gordura 2
emparedado sanduíche 2
encapotado nublado 2
enojar zangar 2
esposas algemas 2
extrañar ter saudade 2
fechar datar 2
gallo galo (animal) 2
ganancia lucro 2
guitarra violão 2
hipo soluço 2
ligero leve 2
listo inteligente/ esperto/ astuto/ pronto 2
magra carne magra de porco/ presunto 2
manteca gordura 2
mijar milharal 2
mono macaco (animal)/ papagaio/ lindo/ fofo/ macacão 2
ocio lazer 2
patilla costeleta 2
pelo cabelo 2
periódico jornal 2
plátano banana/ bananeira 2
184
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
puro charuto 2
ratón rato/ bíceps/ mouse 2
refresco refrigerante 2
tela tecido 2
tonto bobo 2
abonar adubar 1
abrigo agasalho 1
acontecer (usado para acontecimentos de grande
acontecer 1
magnitude)
acordar lembrar 1
acreditarse creditar-se 1
adobe espécie de tijolo 1
agasajar acolher/ receber bem 1
ala asa de pássaros 1
alargar alongar/ aumentar o comprimento 1
almohada travesseiro 1
anhelo anceio/ ância/ desejo 1
aperrear trazer preso como um cão 1
aposento alojamento 1
apresado preso 1
apresar alojar 1
apurar aperfeiçoar/ purificar/ limpar 1
asignar assinalar 1
asistir frequentar 1
aterrar aterrorizar 1
atestar abarrotar/ encher 1
avalar avalizar 1
ayuntamiento prefeitura 1
balcón sacada 1
balón bola 1
barata de baixo preço 1
bizcocho pão-de-ló/ bolo 1
bolsa sacola 1
bolso bolsa 1
borrador rascunho 1
bota chuteira 1
botar quicar a bola/ chutar (no futebol) 1
bote pulo/ balsa 1
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
bozal focinheira 1
caco ladrão 1
camarero garçom 1
capa camada 1
careta máscara 1
carnicería açougue/ matadouro 1
carnicero açougueiro 1
carpa barraca 1
cartel cartaz 1
cazadora casaco/ japona 1
chapa lataria 1
charlatán conversador/ falador 1
chavalo menino/ jóven 1
cigarro charuto 1
cimiento estrutura 1
clase aula 1
clausura formatura 1
cobijar hospedar/ tapar 1
cobra nome de uma espécie de cobra venenosa 1
coche automóvel 1
colar coar/ entrar sem autorizção 1
concierto acordo/ show/ concerto 1
corrida tourada 1
costa custo 1
crear criar 1
creditar dar crétido 1
peça de jogo (não expressa acepção de
dado 1
informação)
dependiente balconista/ vendedor 1
despejado desimpedido/ livre 1
dibujo desenho 1
dirección enderço 1
droguería loja de produtos de limpeza 1
ducha banho 1
engrasado engordurado/ engraxado 1
enseñar ensinar 1
escenografía cenário 1
escobar varrer 1
186
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
estrellar quebrar 1
éxito sucesso 1
expediente documentos 1
explorar examinar 1
exprimir espremer 1
farol lampião 1
ferias feiras 1
firmar assinar 1
frente testa 1
gamba camarão 1
garfio gancho 1
garrafa botijão 1
gaseosa refrigerante 1
general geral 1
gira excursão/ turnê 1
globo balão 1
goma borracha 1
gracioso engraçado 1
grada arquibancada 1
granja fazenda-escola 1
halagar elogiar 1
helado sorvete 1
honda atiradeira/ profunda 1
impartir dar (aulas) 1
entrar para uma instituição/ internar-se/ dar
ingresar 1
entrada
jato bezerro/ terneiro 1
jornal salário 1
juguete brinquedo 1
lastimar machucar 1
ligar paquerar 1
lista esperta/ pronta 1
llamada ligação/ telefonema/ chamada 1
luego depois 1
maestro mestre/ professor 1
manco maneta 1
Dama de familia nobre que desde muito joven
menina 1
entrava a servir à reinha ou às princesas.
187
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
mermelada geléia 1
mirar olhar 1
motorista motoqueiro 1
muela dente do siso 1
muñeca pulso/ estopa/ boneca 1
neto nítido/ preciso 1
niñada infantilidade/ criancice 1
novio namorado 1
ola onda 1
oleado que recebeu os óleos santos 1
olla panela 1
ordenador computador 1
padre pai 1
parvo pequeno 1
pessoa extremamente acomodada/ pessoa que
pastelero 1
tem como ofício fazer ou vender bolos.
patio platéia/ pátio 1
plancha perro de passar roupa 1
poltrón preguiçoso/ vadio 1
portero goleiro/ porteiro 1
quitar tirar 1
rayas listra/ risca 1
restar diminuir 1
rienda rádea 1
ruin pequeno/ raquítico/ mirrado 1
salada salgada 1
sereno guarda-noturno 1
seta cogumelo 1
sobremesa bate-papo depois do almoço 1
subtítulos legenda 1
sumir afundar/ submergir 1
tachar riscar/ rasurar 1
tarta bolo/ torta 1
tasa taxa 1
tienda loja/ barraca 1
titular manchete/ titular 1
trozo pedaço 1
turma testículo/ grupo/ conjunto/ classe 1
188
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
vajilla baixela 1
valla cerca/ tapume/ barreira 1
vuelta troco 1
zapatería sapataria 1
zapatillas tênis 1
zorra raposa (animal) 1
3 Resultados e discussão
Quase todas as coleções analisadas apresentaram seções destinadas
aos falsos amigos, menos a coleção ¡Entérate!, entretanto, não apresentou,
em nenhum de seus volumes, seções destinadas a este tipo de vocábulo. Não
há nenhum falso amigo que seja comum a todas as coleções analisadas. O
vocábulo “exquisito” foi o que apareceu o maior número de vezes em todas
as coleções (25 vezes), entretanto, esta não é, dos falsos amigos, a de mais
frequência segundo as buscas feitas no CREA. Dos vocábulos analisados, o
falso amigo mais frequente, é “salsa”, com 120 casos em 29 documentos.
Nos livros didáticos analisados, por sua vez, esse falso amigo nem está
presente em todas as coleções e aparece apenas 11 vezes no total.
“Cachorro” foi o segundo vocábulo mais frequente nas coleções de
livros didáticos, aparecendo 24 vezes. Curiosamente, após realizar as buscas
no CREA, nos deparamos com a informação de que não existem dados para
esse vocábulo. Empatado em segundo lugar, com 24 aparições, está o
vocábulo “largo”, que apresenta frequência bastante alta no CREA: 81
casos em 40 documentos. O vocábulo seguinte, “apellido”, que aparece 22
vezes nas coleções, no CREA 11 vezes em 9 documetos, e também 22 vezes
nas coleções, está “escoba”, que no CREA tem somente 4 casos em 4
documentos. Osbservamos que os falsos amigos mais recorrentes nos livros
analisados não são os mais frequentes no Corpus CREA.
Conforme as buscas realizadas no CREA, osfalsos amigos mais
recorrentes, em ordem decrescente, são: “salsa” (120 casos); “sitio” (104
casos); “todavía” (102 casos); “largo” (81 casos); “oficina” (70); “pronto”
(68); “rato” (65); “taza” (47); “rojo” (39); “cena” (37); “cuello” (30);
“taller” (29); “cola” (26); “polvo” (23); “jugar” (21); “competencia” (20);
“vaso” (19); “basura” (19); “escritorio” (14); “copa” (14); “cubiertos” (13);
“firma” (12); “apellido” (11); “borrar” (11); “cinta” (11); “tapa” (10) e
“tirar” (10). O CREA informou não haver dados para os seguintes
vocábulos (organizados por ordem decrescente de frequência nas coleções
de livros diáticos): “cachorro”, “berro”, “presunto”, “palco”, “brinco”,
“ladrillo”, “sobrenombre”, “copo”, “latido”, “sótano”, “calzada” e “pipa”.
Além disso, no CREA, os seguintes falsos amigos (também organizados por
189
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
4 Conclusão
O vocabulário tem um papel muito importante na aprendizagem de
línguas. A partir dos resultados obtidos, percebe-se a necessidade de um
tratamento dos falsos amigos mais específico e adequado às necessidades de
brasileiros aprendizes de espanhol.
5 Referências
ALONSO, M. C. G. Pi. Corpus lingüístico e a aquisição de falsos
cognatos em espanhol como língua estrangeira. Dissertação de Mestrado
em Lingüística. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2006.
PÉREZ-ÁVILA, E. A.. El corpus lingüístico en la didáctica del léxico del
español como LE. Boletín de ASELE n° 37. Málaga: ASELE, 2007, p. 11-
27.
DURAN, M. S. “Lexicografia e Linguística de Corpus”. Em: XI Simpósio
Nacional & I Simpósio Internacional de Letras e Lingüística,
Uberlândia: 2006.
FRANCIS, M. G. e DURÃO, A. B. de A. B. Uma reflexão sobre o
tratamento dado a falsos amigos do par de línguas português-espanhol
em dicionários bilíngues gerais e em dicionários de falsos amigos. Em:
Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão. (Org.). Por uma lexicografia
bilíngue contrastiva. Londrina: UEL, 2009, v. 1, p. 79-97.
MILLÁS, M. L. N. Lidando com os falsos amigos: um estudo com base
em análise de livros didáticos e em corpus linguístico. Dissertação de
Mestrado em Estudos da Tradução. Florianópolis: Universidade Federal de
Santa Catarina, 2012.
OLIVEIRA, L. P. Linguística de corpus: teoria, interfaces e aplicações.
Revista Matraga, v. 16, n. 24, RJ: Programa de Pós-graduação em Letras
da UERJ, 2009, p. 48-76.
190
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
191
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
Ao se concretizar socialmente, o léxico de uma língua pode sofrer variação,
adaptando-se às necessidades comunicativas de seus falantes, inclusive sob
a forma de empréstimos recebidos de outras línguas. Partindo do
pressuposto de que os aspectos sociais e culturais influenciam a construção
linguística de um determinado grupo linguístico, a presente pesquisa tem o
objetivo de investigar os empréstimos linguísticos identificados nas canções
de César Oliveira e Rogério Melo, motivados pelo contato entre as variantes
da língua espanhola e da língua portuguesa na região de fronteira entre
Brasil, Argentina e Uruguai, já que a música tradicionalista gaúcha se
caracteriza pelo hibridismo linguístico-cultural propiciado pelo contato
entre estes países. A partir disso, observa-se a questão cultural, identitária e
linguística concretizada no espaço de fronteira, sendo que os sujeitos que ali
habitam exercem uma dupla troca, tornando não só os aspectos sociais
híbridos, mas também a língua. Neste cenário, as produções de César
Oliveira, natural de Itaqui (fronteira com Argentina), e Rogério Melo,
natural de São Gabriel (próximo ao Uruguai), têm repercussão no cenário
estadual por revelar as tradições do sujeito gaúcho, e nacional em 2008 com
o “Prêmio Tim” por revelar-se melhor dupla regional do país. O foco deste
trabalho é a letra da canção “Os ‘loco’ lá da fronteira”, dessa dupla
tradicionalista, e será analisado numa perspectiva linguístico-cultural, tendo
embasamento nos estudos de Calvet (2002), Hall (2005) Hannerz (1997),
Garcia (2010), Pesavento (2005) e De Heredia (1989). Este trabalho é um
recorte da pesquisa para dissertação de mestrado, em andamento, e se
justifica pelo fato de que, considerando os muitos aspectos históricos e
linguísticos comuns no espaço de fronteira supracitado, ele se constitui
numa região cujos produtos culturais, como a música, merecem ser
estudados.
79
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura e Regionalidade
da Universidade de Caxias do Sul (UCS) – odairzile@hotmail.com
80
Doutora em Letras. Professora do Programa de Pós-Graduação em Letras,
Cultura e Regionalidade - gomdcorn@ucs.br
192
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Introdução
Partindo da ideia de Pesavento (2005, p. 11) de que “fronteiras são
janelas e portas, que tanto no plano da literalidade como no da metáfora
permitem a passagem, mas também impedem a entrada”, o presente
trabalho pretende discutir a questão do contato linguístico-cultural dado na
fronteira entre Brasil, Argentina e Uruguai 81. Dada essa proximidade
política, social e cultural, há uma diversidade de palavras da Língua
Espanhola que são utilizadas pelos falantes da Língua Portuguesa, muitas
vezes registradas nas produções culturais, como a literatura e a música.
Nesse contexto, o presente trabalho pretende fazer uma breve incursão no
tema do contato linguístico-cultural na fronteira oeste do Rio Grande do
Sul, enfatizando os empréstimos lexicais e a presença de bilinguismo nessa
região, a partir da análise da canção tradicionalista “Os ‘Loco’ lá da
fronteira”, de César Oliveira e Rogério Melo.
81
A menos que especificado de forma diferente, o termo fronteira neste trabalho
refere-se à região entre Brasil, Argentina e Uruguai.
193
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
2 As fronteiras da linguagem
Diante das construções históricas da fronteira e de seus fluxos
comerciais e culturais, torna-se evidente a ocorrência de interferências
lexicais, predominantemente, no caso do Rio Grande do Sul, entre o
português e o espanhol. Segundo Calvet (2002, p. 39), a interferência
lexical pode produzir o empréstimo: mais do que procurar na própria
língua uma equivalente a um termo de outra língua difícil de encontrar,
utiliza-se diretamente essa palavra adaptando-se à própria pronúncia.
Confluindo língua e cultura constrói-se, assim, a ideia de uma
região que “vem a ser, portanto, o espaço criado por uma interação. Daí se
segue que, num mesmo lugar, há tantas ‘regiões’ quantas interações ou
encontros entre programas” (CERTEAU, 1994, p. 212). O espaço regional e
as interações entre seus interlocutores hibridam tanto línguas quanto
culturas.
Para Altenhofen, Mello e Raso:
195
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
196
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
82
Disponível em: http://www.cesaroliveira.com.br/web/dueto/cesar-oliveira.html.
Acessado em 29 de novembro de 2012.
83
Disponível em http://letras.mus.br/cesar-oliveira-rogerio-melo/520042/.
Acessado em 29 de novembro de 2012.
197
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Os ‘loco’ lá da fronteira
84
A letra original da canção marca com aspas as formas verbais representativas da
fala coloquial, diferentes das formas padrão da língua portuguesa.
85
A letra original da canção marca com aspas as formas verbais correspondentes a
variantes coloquiais, diferentes das formas padrão da língua portuguesa,
representativas da linguagem oral.
199
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
86
Costuma-se chamar castelhano à variedade da língua espanhola falada na
Argentina e no Uruguai.
200
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
favorecidas;
arrasta-pé
2 espécie de
batuque ou
divertimento
próprio da
plebe
3 3 perturbação
da ordem;
arruaça,
desordem,
briga
bueno (espanhol) ---------- Bom, útil, Bom.
de boa índole; bondoso,
bom, bondoso agradável.
cincha peça de arreios Cilha (do Peça Tento, tira de
constituída de castelhano) geralmente couro
tira de couro de couro,
ou pano forte componente
(barrigueira) dos arreios,
que passa por usada para
baixo da apertar
barriga do como uma
animal e de um cinta o
travessão para lombilho ou
segurar a sela o serigote,
ou o lombilho; passando
chincha pela barriga
(Regionalismo: do animal
sul do Brasil) de montaria
entrevero 1 ato ou efeito Regressiva de Mistura, Confusão,
de entreverar(- entreverar, confusão, desordem,
se) misturar (do desordem, bagunça
2 castelhano) entre
(Regionalismo: pessoas,
Rio Grande do animais ou
Sul) objetos
encontro,
choque de
forças
combatentes,
201
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
tropas
adversárias etc.
que se
misturam, se
confundem
durante o
combate
3
(Regionalismo:
Rio Grande do
Sul)
confusão,
desordem,
mistura (entre
animais,
pessoas ou
objetos)
loco ---------- ---------- ---------- Louco.
mala ---------- ---------- Pessoa Mala: má.
bruja ruim; Bruja: bruxa;
velhaca sem dinheiro
(registrado
como mala-
bruxa)
maula (Regionalismo: Covarde, sem Diz-se de Pessoa
Rio Grande do brio (do cavalo ou de desprezível ou
Sul. Uso: castelhano) homem pouco confiável
pejorativo) ruim, fraco,
diz-se de mole,
animal ou covarde,
pessoa mole, frouxo,
fraca, sem tímido,
préstimo medroso,
ordinário,
caborteiro
paysano (Grafia ---------- ---------- (Grafia
modificada: modificada:
PAISANO) PAISANO)
que ou o que é compatriota;
compatriota, camponês
patrício
202
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
5 Referências
ALTENHOFEN, Cléo V.; MELLO, Heliana; RASO, Tommaso. O contato
linguístico e o Brasil. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2011.
BOSSLE, Batista. Dicionário gaúcho brasileiro. Porto Alegre: Artes e
Ofícios, 2003.
CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. Trad.
Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2002.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Trad.
Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1994.
DE HEREDIA, Christine. Do bilinguismo ao falar bilíngue. In: VERMES,
G.; BOUTET, J. Multilinguismo. Campinas: Unicamp, 1989, p. 177-220.
DELP. Palabras & Palavras: Dicionário Español-Portugués/ Portugués-
Español. Porto Alegre: 2005.
FROSI, Vitalina M.; FAGGION, Carmen M.; DAL CORNO, Giselle O. M.
Bilinguismo, identidade étnica e atitudes linguisticas. In: CHAVES, Flávio
L.; BATTISTI, Elisa (Org.). Cultura regional 2: língua, história, literatura.
Caxias do Sul: Educs, 2006.
GARCIA, Fernando Cacciatore de. Fronteira iluminada: História do
povoamento, conquista e limites do Rio Grande do Sul a partir do Tratado
de Tordesilhas (1420-1920). Porto Alegre: Sulina, 2010.
204
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
205
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
FORMAÇÃO DE PALAVRAS
RESUMO
Este trabalho pretende mostrar a análise da primeira coleta de dados
efetuada na pesquisa de doutoramento sobre a formação de palavras de
brasileiros aprendizes de espanhol como língua estrangeira. Esta pesquisa
pretende realizar um diagnóstico das construções lexicais efetuadas pelos
alunos de três diferentes semestres da Licenciatura em Língua Espanhola da
Universidade Federal de Santa Catarina. Trata-se de uma pesquisa de
natureza aplicada, com abordagem quantitativa e qualitativa,
caracterizando-se como descritiva e explicativa (GIL, 2002). O objetivo
principal deste trabalho é diagnosticar e analisar as construções lexicais
efetuadas por estes aprendizes, buscando depreender que estratégias
esses aprendizes utilizam para escrever palavras cuja forma morfológica
é desconhecida na língua alvo. Por isso o tópico de investigação é
formação de palavras a partir dos pressupostos teóricos da Linguística
Contrastiva, principalmente com base em Durão (2004a, 2004b, 2007) e
Santos Gargallo (2004); além de Bogaards (1994), Koda (1997), Lang
(2002) e Nation (2002) sobre a formação de palavras. Esta pesquisa
encontra-se no início da análise dos dados, portanto serão relatadas
considerações iniciais sobre as construções lexicais encontradas nos textos
dos alunos, analisadas em critérios morfológicos.
Introdução
Nos últimos anos, houve no Brasil um aumento do número de
alunos que optaram por aprender a língua espanhola (CAMARGO,
2004; MORENO FERNÁNDEZ, 2005). Tal procura deve-se muito ao
interesse que o idioma despertou nas últimas décadas em vários países,
tanto pelo crescimento econômico dos Estados onde o espanhol é a
língua oficial, quanto pelas questões de proximidade geográfica com o
Brasil.
O interesse por essa língua depara-se, no Brasil, com a questão do
senso comum de que a proximidade entre as línguas significaria
facilidade de aprendizagem. Moreno Fernández (2005, p. 21) afirma
que88 “la proximidad de las lenguas española y portuguesa hace que se
87
Doutoranda em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina
88
Peço a permissão do(a) leitor(a) para manter as citações na língua estrangeira
original, acompanhadas das respectivas traduções, todas realizadas por mim.
206
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
89
“a proximidade das línguas espanhola e portuguesa faz com que se sinta a
cultura em espanhol como algo afim”
207
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
1 A base teórica
Esta pesquisa desenvolve-se com base nos pressupostos da teoria
da LC, tomando como campo de estudo o ensino presencial de LE. Para
analisar os erros produzidos na interlíngua serão averiguadas que
estratégias são utilizadas pelos alunos nos processos de formação de
palavras, analisando as invenções lexicais realizadas a partir dos
objetivos e perguntas de pesquisa descritos acima e de critérios
arrolados na metodologia.
Como este texto deriva da apresentação no I Simpósio
Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva e se propôs a
descrever a análise dos dados iniciais da pesquisa, a base teórica será
apresentada brevemente.
A LC possui três modelos de análise que se complementam num
continuum (GUILLEMAS apud DURÃO, [1999] 2004b, p. 10). São
eles: Modelo de Análise Contrastiva (AC), Modelo de Análise de Erros
(AE) e Modelo de Interlíngua (AI).
Neste trabalho a base é a Análise de Erros (AE), justamente
porque houve uma mudança em relação ao erro, que passou de ser
indicativo do fracasso a indicativo de aprendizagem, embora ainda
houvesse foco no estudo dos erros, não valorizando os acertos. Também
será utilizado o conceito de interlíngua (IL) de aprendizes de línguas não
208
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
90
“o aprendiz elabora hipóteses sobre as propriedades estruturais da língua meta a
partir dos dados do input ao qual está exposto”
91
“a interlíngua, em sua acepção de produto linguístico de aprendizes de
línguas não nativas, abrange o continuum que se constitui desde que inicia o
contato do aprendiz com a língua meta, até avançar a uma etapa na qual, pelo
menos em teoria, LM e LO coexistem”
209
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
92
“‘unidade gramatical mínima distintiva’, uma subunidade da ‘palavra’, que
não pode mais ser significativamente subdividida em termos gramaticais”
93
Esta forma não está dicionarizada no Houaiss (INSTITUTO..., 2009). A forma
similar encontrada é sinuosidade.
210
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
94
“o sistema derivativo está muito longe de ser algo estático; ao contrário,
encontra-se em constante evolução, eliminando alguns processos e substituindo-os
por outros novos”
95
“o léxico caracteriza-se por ser um processo de expansão e contração dentro de
um sistema morfológico unitário”
211
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
2 Os Procedimentos Metodológicos
Esta pesquisa é de natureza aplicada, com abordagem quantitativa
e qualitativa, caracterizando-se como descritiva e explicativa, pelos
critérios de Gil (2002, p. 42), já que haverá descrição de características
de um fenômeno – nesse caso a formação de palavras – em um grupo e a
tentativa de determinar as variáveis envolvidas. De acordo com Gil
(2002, p. 42), este tipo de pesquisa é realizado por “pesquisadores
sociais preocupados com a atuação prática”. O delineamento da
pesquisa, relacionado com a coleta de dados, será através do
procedimento técnico estudo de coorte prospectivo (GIL, 2002, p. 50)
Os procedimentos metodológicos para a coleta de erros seguiram
a proposta de Santos Gargallo (2004). Como afirma essa autora, o
método de análise de erros para o estudo da interlíngua do falante não
nativo (FNN96) da língua espanhola começou na década de 1990. O
laboratório foi a sala de aula. O instrumento principal (SANTOS
GARGALLO, 2004, p. 401) para a expressão escrita a elaboração de
textos e como instrumentos complementares para a compilação dos
dados houve um questionário assim como a observação participativa da
96
O termo encontrado na literatura consultada em língua espanhola é Hablante no
nativo (HNN). Neste texto será utilizada a sigla traduzida, em referência às fontes
consultadas.
212
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
3 Os Dados
A seguir a análise das invenções lexicais apresentadas pelos
participantes. A análise é realizada com base na Linguística Contrastiva:
Durão ([1999] 2004a, 2004b, 2007), Santos Gargallo (2004), Vez
Jeremías (2004); na formação de palavras e seus aspectos: Mattoso
Camara Jr. (1977), Basilio (1987), Lang (2002), Monteiro (2002) e
Nation (2002); e sobre ensino e aprendizagem de léxico: Bogaards
(1994), Koda (1997), Lang (2002) e Nation (2002), como apresentado
no capítulo sobre as escolhas teóricas.
97
Na UFSC, fase é sinônimo de semestre e no caso deste curso de letras, indica
também o semestre de estudo do aluno. Por exemplo, um aluno da 4ª fase do
espanhol estará cursando o 4º semestre de língua espanhola.
213
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
98
Categoria incluída pela doutoranda.
99
Categoria incluída pela doutoranda.
100
Categoria incluída pela doutoranda.
218
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
4 Considerações Finais
O tipo de desvio identificado aqui como mais frequente foi a
confusão de fonemas. Um tipo de confusão de fonemas é causado pela
ditongação. Muitas vezes, o aluno coloca ditongo onde não existe e não o
coloca onde deveria haver. Houve também número expressivo de desvios
morfológicos no paradigma verbal. Também significativa a ocorrência de
um desvio que chamamos aqui de por derivação ou composição. O aluno
sabe que as formas em espanhol e em português são diferentes, mas não
sabe a forma correta e cria esse novo léxico com sufixo diferente.
Apareceram, ainda, desvios para os quais criei duas novas subcategorias:
alteração por semelhança e uso incorreto de advérbios. A categoria
alteração por semelhança justifica-se porque tem relação com o desvio
léxico-semântico, mas não é uma transferência léxica e sim uma alteração
na palavra que se deve a que o sujeito, por pensar que deveria ser diferente.
Depreende-se que a interlíngua desses alunos, embora devesse
manifestar fenômenos linguísticos característicos de níveis mais avançados
de conhecimento do idioma, ainda revela etapas bastante iniciais de
desenvolvimento linguístico, com um número significativo de interferências
de sua língua materna.
5 Referências
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Hatier/Didier, 1994. p. 143-161
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same or different? Applied Linguistics, v. 10, n. 3. Oxford University
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CAMARGO, M. L. O ensino do espanhol no Brasil: um pouco de sua
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2004. p. 139-149. Disponível em:
219
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<http://espea.iel.unicamp.br/revista/index.php/tla/article/download/2222/17
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portugués. 2. ed. mod. Londrina: Eduel, [1999] 2004a.
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español. In: SEDYCIAS, J. (Org) O ensino do espanhol no Brasil:
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campo da formação de palavras por parte de estudantes brasileiros de
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torno do ensino e da aprendizagem de vocabulário de língua
estrangeira e sobre o uso de dicionário como ferramenta didática.
Londrina: UEL, 2012, v. 1, p. 5-20.
GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4. ed. São Paulo: Martins
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Junho de 2009. Editora Objetiva.
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MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. 4. ed. rev. ampl. Campinas:
Pontes, 2002.
220
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
221
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
RESUMO
Seria simplório dizer que a língua não tem papel significativo na sociedade,
pois tal afirmação desconsideraria seu poder e a influência que exerce sobre
todos os diferentes grupos sociais, dos mais baixos aos mais altos. Pode-se
entender o homem como sujeito a partir do uso que ele faz da língua em
suas relações com os demais indivíduos, em que ele retrata o conhecimento
de si próprio e do mundo. Pela linguagem que usam é possível reconhecer e
diferenciar sujeitos de diferentes agrupamentos, os estratos sociais a que
eles pertencem, seu grau de escolaridade e muitos outros aspectos. A esse
respeito, segundo Leite e Callou (2002) a linguagem é um parâmetro que
permite classificar o indivíduo de acordo com a nacionalidade e
naturalidade, sua condição econômica e social, e é frequentemente usado
para discriminar e estigmatizar o falante. Palhano (1958), por sua vez,
afirma que a língua é o veículo comum de interação entre os membros de
uma comunidade, não importando a camada social a que pertençam.
Acrescente-se que aqui devem ser considerados não só os aspectos
socioeconômicos, mas também os fatores étnico-culturais, que são
condicionantes do fenômeno da variação linguística observada no léxico.
Neste artigo, tem-se como enfoque o uso dos neologismos em textos
publicados nas diferentes esferas da mídia e também mostrar de que forma
essa utilização contribui para a criatividade do texto. Discute-se a
possibilidade de institucionalização desses novos vocábulos, uma vez que,
os neologismos fazem parte da necessidade sócio-cultural dos grupos
sociais. Além disso, exemplifica-se quais são os tipos de neologismos mais
recorrentes na sociedade, assim como o processo de formação dessas
palavras. A base teórica pauta-se nos seguintes autores: Alves (2004),
Basílio (2003), Bagno (2001), Barbosa (1996), Chomsky (2009), Cunha e
Cintra (2007), Henriques (2007), Laroca (1994), Leite e Callou (2002),
Palhano (1958).
101
Mestranda pela Universidade Estadual de Maringá; apsaninha_29@hotmail.com
102
Mestranda pela Universidade Estadual de Maringá;
Cristina_silva19@hotmail.com
103
Prof.ª Dr.ª na Universidade Estadual de Maringá; acjhintze@wnet.com.br
222
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Introdução
Seria simplista dizer que a língua não tem papel significativo na
sociedade, pois tal afirmação desconsideraria seu poder e a influência que
exerce sobre todos os diferentes grupos sociais, dos mais baixos aos mais
altos. Pode-se entender o homem como sujeito a partir do uso que ele faz da
língua em suas relações com os demais indivíduos, em que ele retrata o
conhecimento de si próprio e do mundo. Pela linguagem que usam, é
possível reconhecer e diferenciar sujeitos de diferentes agrupamentos, os
estratos sociais a que eles pertencem, seu grau de escolaridade e muitos
outros aspectos. A esse respeito, expressivas são as considerações de Leite e
Callou (2002) ao exporem que a linguagem é um parâmetro que permite
classificar o indivíduo de acordo com a nacionalidade e naturalidade, sua
condição econômica e social, e, por isso, é frequentemente usada para
discriminar e estigmatizar determinado falante.
Palhano (1958), por sua vez, afirma que a língua é o veículo
comum de interação entre os membros de uma comunidade, não importando
a camada social a que pertençam. Acrescente-se que aqui devem ser
considerados não só os aspectos socioeconômicos, mas também os fatores
étnico-culturais, que são condicionantes do fenômeno da variação
linguística observada no léxico, o conjunto das palavras de uma língua em
que se dá a realização e a transformação dos recortes culturais da sociedade
que por ela se expressa.
Neste artigo, tem-se como enfoque o uso dos neologismos em
textos publicados nas diferentes esferas da mídia, mostrando de que forma
essa utilização contribui para a criatividade do texto.
224
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
palavras passam de uma classe gramatical para outra sem sofrer alterações
na sua forma. Para que isso ocorra, é preciso adicionar um artigo anteposto
à palavra em questão. Em os prós e os contras, construção bastante utilizada
pelos falantes de língua portuguesa, passa-se de uma classe (preposições) à
outra classe (substantivos).
Somam-se aos processos acima a composição e a recomposição. A
primeira consiste em formar uma nova palavra pela união de duas ou mais
bases; a palavra composta representa, via de regra, uma ideia única e
autônoma, muitas vezes, dissociada das noções expressas pelos seus
componentes, como em criado-mudo (nome de um móvel). Observa-se que
nessa formação não houve perda de nenhum dos vocábulos, característica
da composição por justaposição. Todavia, a composição ainda pode truncar
determinada “parte” da palavra à qual está se agregando, fenômeno que é
denominado composição por aglutinação. Por exemplo, em pernalta (perna
+ alta) houve uma adaptação fonológica ou fusão da vogal a, presente no
final da primeira base com a mesma vogal que inicia a segunda. Por sua
vez, o segundo processo de composição, a recomposição, é entendida como
um processo de formação no qual ocorre a agregação de bases gregas e/ou
latinas. Estes são chamados de pseudoprefixos, pois apresentam autonomia
semântica, têm significação mais ou menos delimitada e presente na
consciência dos falantes e, por fim, têm menor rendimento do que os demais
afixos. Como exemplos, têm-se aeroclube, aeromoça, agroindustrial e
agropecuário, em que aero e agro são considerados pseudoprefixos.
Outros dois processos bastante produtivos na língua são os
hibridismos e as siglas. No hibridismo, têm-se elementos de línguas
distintas na formação de vocábulos. Desse modo, em automóvel, o primeiro
elemento (auto) tem origem grega e o segundo (móvel) é originário do
latim. Vale ressaltar que, em geral, tais tipos de formação são condenados
pelos gramáticos. Entretanto, eliminar essas formas tão presentes e
abonadas pelos falantes seria uma tarefa impossível. Sobre as siglas,
entende-se que são, basicamente, palavras formadas pelas letras iniciais de
um sintagma e remetem a um significado que pode ter cunho institucional.
ISS, por exemplo, é a sigla que representa Imposto sobre Serviço, do
mesmo modo que PV abrevia Partido Verde.
Na formação das siglas ainda pode ocorrer outro processo,
denominado de acrossemia, pois, quando criada e vulgarizada, a sigla passa
a se incorporar ao léxico como uma palavra primitiva capaz, portanto, de
formar outras palavras derivadas. A partir disto, encontra-se na mídia e no
próprio falar das pessoas construções como: petista, petebista, aidético,
aliança PT-PDT, entre muitos outros.
225
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
2 Neologismos
Não é raro encontrar palavras cuja estrutura possa parecer estranha
ou, simplesmente, suscitar a seguinte indagação: “Isso existe ou estou
inventando?” Nesse caso, o que ocorre é a presença de vocábulos
denominados neologismos. São, basicamente, palavras não registradas pelos
compêndios da língua nem estabelecidas nas gramáticas, mas produzidas a
partir da ocorrência de novas situações, conceitos, fatos etc. Ao mesmo
tempo, o novo só o é por um determinado período temporal. No caso de
novos vocábulos, essa temporalidade efêmera pode ou não ocorrer. Um
vocábulo que seja usado pelo falante, mas não faça parte do léxico
conhecido, abonado pelo seu uso, é, depois de certo tempo, incorporado aos
dicionários e deixa de ostentar essa condição de vocábulo novo, isto é, passa
a fazer parte do léxico da língua.
Nesse âmbito, Basílio (1980) considera que a competência lexical
de um falante nativo tem a ver com o conhecimento de uma lista de entradas
lexicais. Sendo assim, essa competência relaciona-se com o conhecimento
da estrutura interna dos itens lexicais, assim como das relações entre os
vários itens. Além disso, a competência lexical é o conhecimento subjacente
à capacidade de formar entradas lexicais gramaticais novas. Embasando-se
nessa teoria, conclui-se que o falante pode criar novas palavras, mesmo que
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
“Tomou, papudo?”
Fonte: http://parmerista.blogspot.com.br/2009/02/tomou-papudo.html.
Acesso em: 23/05/2012.
PAPUDO: neologismo semântico faz menção às pessoas que falam demais,
ou contam muitas vantagens mentirosas. Seu sentido literal é: que tem papo
grande.
“Gato feito por parque de diversões na praça de Heli polis causa queda
de energia na rua Tabera e Itabapuã”.
Fonte:http://www.br101.org/ligacao-clandestina-gato-feita-por-parque-
diversoes-na-praca-heliopolis. Acesso em: 21/05/2012.
GATO: neologismo semântico que se refere a uma ligação clandestina de
redes elétricas com o intuito de poupar energia e diminuir a conta. O sentido
literal desse termo é: mamífero da ordem dos carnívoros, tipo da família dos
felídeos, de que há varias espécies, uma das quais é o gato doméstico.
“O primeiro paredão desse BBB”.
Fonte: http://capricho.abril.com.br/blogs/moda. Acesso em: 18/01/10.
BBB: neologismo formado por siglas e abreviaturas. Nesse caso, ocorre a
redução de “Big Brother Brasil”.
4 Considerações Finais
Pode-se constatar que alguns dos neologismos encontrados são
empréstimos da língua inglesa, em virtude do meio tecnológico em que os
vocábulos aparecem. Termos compostos e derivados aparecem com uma
frequência muito mais baixa do que seria de esperar, dadas as características
da produtividade lexical em português. Embora alguns casos tenham sido
230
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
5 Referências
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CHOMSKY, N. Apud. SILVA BRAZ, Shirley Lima da. Recepção
lingüística: o caso dos neologismos lexicais (UERJ): 2009.
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contemporâneo. 5 ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2007.
GONÇALVES, C. A. Blends lexicais em português: não-concatenatividade
e correspondência. Veredas: revista de estudos lingüísticos, Juiz de Fora,
vol. 7, n. 1 e 2, p.149-167, 2003.
HENRIQUES, C. Morfologia: estudos lexicais em perspectiva sincrônica.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
LAROCA, M. N. C. Manual de morfologia do português. Campinas,
Pontes; Juiz de Fora, UFJF, 1994.
LEITE, Y. e CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2002.
PALHANO, H. A língua popular. Rio de Janeiro: Organizações Simões,
1958.
231
I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Estimada Kalila
104
Doctor en Filología Hispánica. Asesor de Educación en Brasil, Embajada de
España en Brasilia.
232
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I Simpósio Internacional de Lexicografia e Linguística Contrastiva
Inclán en el libro "A los toros". Por vía metafórica supone salir bien
triunfante de cualquier faena o tarea que se aborde.
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