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Fortaleza - Ceará
2013
Fortaleza - Ceará
2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Raquel e Chagas, pela casa, pelo amor, pela oportunidade e pelo
interesse imenso e constante na minha educação.
Agradeço à minha orientadora, profa. Salete Nunes, pelos livros, pelas dicas, pelas aulas,
pelos telefonemas, e-mails, e pela mão amiga.
Lilian, por tudo. Pela ajuda, pela amizade, pelas correções, pela companhia.
Janaína, pelas horas que passamos juntos, pelo mútuo interesse no sucesso do outro. Pela
amizade inesperada.
Aos professores que passaram pela minha vida acadêmica, graduação e especialização, do
curso de Letras na UFC e do Curso de Formação de Tradutores.
RESUMO
Este trabalho propõe uma nova tradução da obra do escritor irlandês Oscar Wilde, The Ballad of the
Reading Gaol, para a língua portuguesa. Faz-se, inicialmente, um apanhado teórico dos estudos da
tradução, focando na vertente literária. Após esse momento delineia-se as condições particulares nas
quais a obra foi concebida. Trata-se então da literatura inglesa, da obra wildeana e do decadentismo,
movimento literário no qual ele estava inserido. Juntamente com o novo texto articula-se uma análise
do processo tradutório e dos resultados com base na teoria de tradução poética de André Lefevere. Tal
teoria fundamenta-se em habilidades e estratégias pensadas para a tradução de poesia. Através do uso
de dicionários eletrônicos e físicos, dicionários de rimas e de sinônimos foi realizada a tradução.
Concluiu-se que todas as habilidades foram significantes e que três das estratégias se aplicaram ao
processo enquanto quatro delas não. É reservado para as últimas seções deste trabalho
questionamentos sobre a teoria utilizada e sobre os resultados gerais e específicos que foram obtidos.
ABSTRACT
This paper proposes a new translation to the poemThe Ballad of the Reading Gaol, by Irish writer
Oscar Wilde, to the Portuguese language. Initially, a brief overview of the translation studies is
presented,focusing more specifically on literary translation. Then, some aspects of the particular
context in which Wilde’s work was conceived are outlined. Some features of English literature are
discussed, as well as Wilde’s literary works and decadentism, a movement wherein he was inserted.
Together with the new text, we articulate an analysis of the translation process and its results based on
the theory ofpoetry translationof André Lefevere. Such theory is grounded on the abilities and
strategies applied to the translation of poetry. Through the use of various dictionaries, both digital and
manual, of rhyme and of synonyms, the translation was carried out. It was concluded that all four
abilities were significant and that three out of seven strategies were applied to the process. In the last
part of this paper some questions are raised on the theory used and on the results obtained.
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Mas não esqueça em que terrível escola me encontro. E por mais imperfeito
e incompleto que eu possa ser, ainda poderá aprender muito comigo.
Aproximou-se de mim para que eu lhe ensinasse os prazeres da vida e da
arte. Mas talvez eu tenha sido escolhido para ensinar-lhe algo bem mais
maravilhoso – o significado do sofrimento e toda sua beleza. (WILDE, 1998,
P. 171-172).
Foi pela leitura dessas obras que se agitou a curiosidade e buscou-se construir,
aqui, um trabalho focado na literatura wildiana. Uma nova tradução é proposta para seu
último livro publicado em vida:The Ballad of the Reading Gaol. Ou, como aqui se intitula: A
Balada da Cadeia de Reading.
Esse livro foi publicado originalmente em 1898, um ano após sua saída da prisão
e dois anos antes de sua morte. Consiste em um poema longo, dividido em seis partes de
extensões diferentes. Cada estrofe é composta por um conjunto de seis versos. Em todas elas,
a rima alterna-se nos versos pares. Ocasionalmente, e para denotar maior tensão, ocorrem
rimas internas aos versos ímpares.
Mas as soluções encontradas, apesar de importantes, não são o único foco deste
trabalho. O foco maior aqui é o processo tradutório, que é investigado através da teoria da
tradução poética de André Lefevere, estudioso belga e teórico dos estudos da tradução.
Baseado em suas habilidades e estratégias desenvolvidas para a tradução de poesia, centramos
os objetivos de análise desta tradução.
Alguns outros momentos precedem a análise, que agora os explicito. Após este
introdutório, aborda-se uma visão geral dos estudos da tradução e, também, da literatura e da
tradução literária. Questões são abordadas, como a ciência da tradução e o papel que o
tradutor pratica, assim como o espaço que ele ocupa.
A análise, parte final, é dividida em duas grandes partes. A primeira trata das
habilidades propostas por Lefevere e a segunda refere-se às estratégias de tradução poética. A
primeira parte, mais reflexiva, aborda questões relacionadas mais ao processo tradutório.
Enquanto a segunda parte analisa os resultados encontrados no texto traduzido.
Apesar de ser uma prática relativamente antiga, a tradução viveu a maior parte da
sua história sem ter sido cientificamente explorada. Ao longo de aproximadamente 2000 anos,
as últimas décadas fomentaram e “estabeleceram fundamentos teóricos, ou talvez deva-se
dizer toda uma gama de teorias de maior ou menor ambição à universalidade”
(KUHIWCZAK, 2003, p. 112)1.
1
“...
translation has managed to establish its theoretical foundations, or perhaps one should
say a whole gamut of theories with smaller and greater claims to universality.”
2
“But this coexistence has never been very comfortable since linguistics tends to view
language in general terms while translation is particular and always lies on the border
between languages.”
14
argumento se fundamenta “como se não pudesse ser visto como uma mistura de ambas”
(KUHIWCZAK, 2003, p. 114)3.
Dentro dos estudos literários são essas disposições binárias que assombram e
catalisam as discussões. Pretende-se neste trabalho focar na tradução literária poética, suas
implicações, importância como também no processo tradutório envolvido até chegar ao
produto final, o texto traduzido.
Vale ressaltar que nos estudos linguísticos, tais oposições também surgem, se
aplicam e contribuem ao entendimento. Se pensarmos na gênesis dos estudos linguísticos,
3
“... as if it could not be viewed as a mixture of both.”
4
“… translation gets instantly tested by its readers in the same way so-called ‘original’ writing is
tested.”
5
“...
goes hand in hand with the low status accorded to the translator and to distinctions usually being
made between the writer and the translator to the detriment of the latter.”
15
vemos o signo linguístico definido por Saussure no seu Curso de Linguística Geral como uma
“entidade psíquica de duas faces” (SAUSSURE, 2001, p. 80-1). Denominam-se essas partes
de significado e significante, caracterizando os aspectos conceitual e físico, respectivamente.
Naturalmente, com o passar dos anos, as teorias existentes são bombardeadas por
novas ideias, por outros pensadores. A essa teoria do signo linguístico deve-se ressaltar o
acréscimo dado por Louis Hjelmslev(1975). Ele afirmou que os signos são portadores de
significação e são definidos por uma função. Hjelmslev inseriu a noção de contexto na teoria,
e nele o signo está inserido. Já para Barthes a significação não é algo impregnado no signo
mas “pode ser concebida como um processo: é o ato que une o significante ao significado, ato
cujo produto é o signo” (BARTHES, apud SILVA, 2003)
Até este momento do texto pensamos a tradução como uma área inserida em
outras áreas, como a literatura ou a linguística, vemos que essas se sobrepõem, quer seja por
sua canonicidade ou pelo alto prestígio social e intelectual. Mas quando percebemos os
estudos da tradução como um campo independente, vemos várias formas de tipificar a
atividade tradutória e, assim, outras hierarquias surgem. Nessa visão a tradução literária
alcança um status diferenciado, pois possui algo que outros tipos de tradução não tem e
caracteriza-se como um “super-gênero”. Ela se destaca por várias razões como
6
“It is therefore quite foolish to argue that the task of the translator is to translate but not to interpret,
as if the two were separate exercises.”
7
“...
literature is both the condition and the place of artistic communication between senders and
addressees, or public.”
8
“...
they fulfill an affective/aesthetic rather than transactional or informational function, aiming to
provoke emotions and/or entertain rather than influence or inform; they have no real-worldtruth-value
– i.e. they are judged as fictional, whether fact-based or not; they feature words, images, etc., with
ambiguous and/or indeterminable meanings; they are characterized by ‘poetic’ language use (where
language form is important in its own right, as with word- play or rhyme) and heteroglossia (i.e. they
contain more than one ‘voice’ – as with, say, the many characters in the Chinese classic Shui Hu
Zhuan / Water Margins Epic); and they may draw on minoritized styles – styles outside the dominant
standard, for example slang or archaism.
17
Tal discussão tornou-se infrutífera e foi além da teorização visto que “a busca por
uma definição da tradução literária não leva a lugar algum” (HERMANS, 2007, p. 78)10.
Altera-se o foco para os papéis assumidos e para os usos feitos da tradução literária pelos
diversos personagens em diversos contextos que são atuantes neste processo.
tradução poética tentam discutir problemas metodológicos a partir de uma posição não-
empírica e, contudo, é precisamente esse tipo de estudos que é mais valioso e necessário.” (p.
86)12.
Outras linhas de pensamento são trazidas à tona, comoa de André Lefevere, que
prioriza fatores poéticos e ideológicos ao afirmar que “a maioria das traduções serve como
barômetros infalíveis de modas literárias” (LEFEVERE apud HERMANS, p. 84)13. Diaz-
Diocaretz (1985) e Littau (1997) forjaram a “função do tradutor” identificando uma “figura
ideológica que restringe a dispersão de sentido e enquadra a tradução em um sistema legal e
hierárquico que privilegia um trabalho original em detrimento de um trabalho secundário”
(HERMANS, 2007, p.84)14.
12
“Rarely do studies of poetry and translation try to discuss methodological problems from a
nonempirical position, and yet it is precisely that type of study that is”
13
“Because they mostly succeed, most translation offers 'an unfailing barometer of literary fashions'”
14
“...have brought up the notion of a 'translator function' to identify the ideological figure that restricts
the dispersal of meaning and locks translation in both a legal system and a hierarchical symbolic order
that privileges original work over secondary work.”
15
“The selection of texts for translation and the way in which individual translations construct
representations of foreign cultural products (and, metonymically, of foreign cultures as such) would
now be read as offering a window on cultural self-definition.”
19
Por meio do estudo e de pesquisas na área, vemos que em suas poucas décadas
enquanto disciplina acadêmica a tradução demonstra uma variedade imensa de tipos,
abordagens e teorias. E se o período na academia é relativamente curto, a prática é antiga e
frutífera, remontando séculos em sua história. “Essa diversidade significa que a tradução
literária sempre permanecerá como uma tarefa desafiadora, às vezes, talvez, mais desafiadora
que a escrita” (KUHIWCZAK, 2003, p. 117)16.
São quatro habilidades e sete estratégias que são simultâneas dentro do processo
tradutório. Porém, aqui, vamos além da tradução: nosso propósito é analisar esse processo, a
forma como ele ocorreu e quais os resultados que podemos observar.
1.1.1 As
habilidades
Dividem-se em quatro habilidades, assim denominadas:
• A habilidade de compreender o texto como um todo;
• A habilidade de medir o valor comunicativo;
• A habilidade de distinguir entre os elementos culturais e estruturais;
• A habilidade de selecionar uma forma que corresponda à posição que o
texto fonte ocupa;
16
“This diversity means that literary translation will always remain a challenging task, perhaps
sometimes more challenging than writing.”
20
1.1.2 As estratégias
Das sete estratégias propostas por Lefevere, algumas foram aplicáveis á análise,
outras não. Contudo isso se deu de maneira orgânica, pois, se não eram úteis, isso ocorreu por
motivos óbvios ou devido às escolhas do tradutor. A seguir, enumeraremos todas as
estratégias e elaboraremos um pouco sobre elas.
21
Ø Tradução literal – Lefevere descreve essa estratégia como mito, pois não
existe duas línguas absolutamente correspondentes, dessa forma, não
existe tradução exata. O foco real, segundo o autor, é combinar valores
comunicativos.
No tribunal, o juiz Sir Alfred Wills, que presidia a sessão, declarou que aquela
sentença era a máxima possível e totalmente inadequada e insuficiente na opinião do
magistrado, explicitando a gravidade moral das ações do escritor. Perante o juiz, à corte e ao
público tentou argumentar “E eu? Não posso dizer nada, meu senhor?”, mas foi calado por
gritos de “Vergonha!” que ecoavam na sala.
Os caminhos dos dois homens se cruzaram entre as paredes daquela cadeia. Essa
experiência liquidou a vida dos dois. Wooldridge foi enforcado e Wilde morreu poucos anos
depois, em 1900, após cumprir sua pena, com a saúde fragilizada devido aos anos que passou
aprisionado.
17
“...of various sizes and degrees of inhumanity, but by the mid Eighteen Hundreds, (...) the demands
on accommodation for felons of both sexes (...) became acute.”
23
ao final desse século foi inaugurada em 1844. Eram quatro blocos separados: A, B, C e D.
Wilde ocupou o bloco C, 3º andar, cela 3.
C.3.3.: foi o pseudônimo sob o qual Wilde publicou o poema em 1898. A autoria
só foi ser amplamente conhecida depois de sua sétima edição, em 1899.
Todos esses processos eram diários e foram retratados por Wilde no poema que
estamos estudando. Contudo as prisões anteriores, pelas quais Wilde passara, lhe afetaram
muito. O escritor chegou a Reading com as unhas das mãos já bastante feridas e danificadas.
Percebeu-se que sua saúde era frágil e o encaminharam para a realização de serviços de
jardinagem e de organização e manutenção dos livros da biblioteca. Uma de suas tarefas era
reencapar os livros com um papel marrom e repassá-los aos outros detentos.
Ele foi proibido de enviar essa longa carta que escreveu. Mas foi permitido que
ele a guardasse até o dia de sua liberação. Essa carta nunca foi enviada, nem revisada ou
sequer publicada por Wilde em vida. A carta,De Profundis, como hoje é conhecida, foi
barrada na justiça, publicada algumas vezes nas décadas seguintes à morte do escritor, mas
com todas as referências à família Queensberry retiradas do texto.
The Ballad of the Reading Gaolfoi escrita após a saída do escritor da prisão. A
obra foi publicada em vida pelo autor e dedicada a Wooldridge, o jovem soldado. Foi sua
última criação literária.
Essa percepção que temos de Wilde como grande escritor, vítima de uma injustiça
e grande nome da literatura inglesa foi algo construído. Nem sempre os críticos foram tão
receptivos ao trabalho do escritor-dândi. Isso aponta Paulo Viziolina introdução de sua
tradução de The Ballad of the Reading Gaol. Vizioli diz que “muitos dos preconceitos que
circulavam na época do autor, ou alguns anos mais tarde, ainda encontram guarida em
comentários críticos mais recentes” (VIZIOLI, p. 10, 1997).
Wilde e sua obra também estão imersos na sociedade vitoriana da sua época,
assim como também no decadentismo literário, ora decadentista, ora estetista. A isso, segue
uma explicação sobre a obra de Wilde e o momento literário vivido por ele.
Somando este ideal estético a uma expressão poética e lírica refinada, podemos ir
além da definição mostrada acima. Os decadentistas estavam preocupados, também, na
influência exercida pela moral burguesa na literatura e nas artes e libertá-las (RODRIGUES,
2009).
26
A intenção aqui seria elevar o decadentismo além dos preconceitos que essa
tendência e seus artistas sofriam, expurgar o estigma de afetação e/ou libertinagem que
acompanhava a vida e a obra dos decadentistas (RODRIGUES, 2009).
Quem via, ou ainda vê, a literatura wildeana sob esse olhar seria como ler O
Retrato de Dorian Gray, outra obra do escritor irlandês, e se deixar levar pela pintura, pelo
mito, pelo adônis e não ver o homem defeituoso, o monstro humano que se esconde por trás
da tela.
27
3. METODOLOGIA
Outra obras literárias do autor escolhido para ser traduzido, Oscar Wilde, foram
adquiridas logo após a decisão tomada de se traduzir uma de suas obras. São essas: o De
Profundis, obra epistolar, que em muitas edições acompanha A Balada(1898); O Retrato de
Dorian Gray(1890); e Salomé(1893). A aquisição destas obras foi uma tentativa de se estar
mais próximo do mundo literário do escritor, compreender melhor suas angústias, medos e
vida.
3.1 Ferramentas
Primeiramente, por se tratar de um livro escrito no final do século XIX, ele possui
um léxico um pouco distante do atual e ocasiona a dificuldade de compreensão básica de
certos termos. Para isso foram usados dicionários monolíngues e bilíngues, tanto em forma
física quanto digital.
3.2 Procedimentos
A tradução foi realizada, em sua maior parte, eletronicamente, isto é, com o uso
de ferramentas eletrônicas. Pouco do processo foi conduzido com papel e caneta. Dessa
forma, o editor de texto (Word office) foi essencial para o processo tradutório, sua elaboração,
organização e pesquisa.
Para a construção dos primeiros três capítulos desse trabalho, a tradução foi
deixada um pouco de lado. O tempo hábil foi dedicado ao mergulho no material de apoio.
30
Contudo, antes da construção do capítulo seguinte, a análise, foi feita uma releitura da
tradução, uma revisão, para, assim, comparar texto-fonte e texto-alvo, transformando o
processo tradutório em uma experiência acadêmica.
31
A análise desta pesquisa tem por objetivo encontrar fundamento nos estudos
teóricos de André Lefevere. Este capítulo se dividirá em duas partes. A primeira trata das
habilidades propostas por Lefevere, sobre cada uma tratamos separadamente, ora espelhando
o processo tradutório na obra teórica do estudioso, ora criticando e levantando
questionamentos para os quais se esboçará um posicionamento e respostas a críticas que
forem levantadas.A segunda parte aborda as estratégias também desenvolvidas pelo estudioso
belga. Esta seção se divide entre aquelas não aplicáveis à tradução feita para esta pesquisa,
mais à frente expomos aquelas que se aplicam ao presente trabalho.
18
“... the use of language in a figurative, metaphorical mode of expression. That transcends
traditional semantic limitations of language.”
32
4.1 As habilidades
Vale salientar que estas habilidades foram lidas e relidas antes do início da
tradução. Agora, em um momento mais reflexivo, relemos e avaliamos o processo tradutório.
Os acertos e as dificuldades serão divididos aqui em quatro momentos da mesma maneira
como é dividido pelo teórico em seu trabalho.
Para realizar essa habilidade entendemos que uma primeira atitude seja ler a obra
antes, sem as pausas constantes que se faz quando se está traduzindo. Essa leitura inicial e
integral colabora com a compreensão do texto. Para a escolha deste texto, para traduzi-lo e
analisá-lo foram feitas três leituras. Uma foi feita muito tempo antes desta pesquisa, quando o
livro foi adquirido pelo tradutor. As outras duas vezes foram feitas antes do início do processo
tradutório: uma leitura integral das seis partes do poema e, mediante a tradução de cada uma
das partes, fazia-se outra leitura parcial de cada parte seguinte.
gênesis para a pesquisa como também de base. E de um ponto de vista metodológico, como
também analítico, vê-se o texto-fonte como, possivelmente, a maior ferramenta, aquele farol
que guia o marinheiro em alto-mar.
Com essa leitura biográfica e histórica, pudemos nos aprofundar, perceber o valor
comunicativo da obra e querer “reconstruí-lo com um texto-alvo que aproxime, o máximo
possível, do mesmo valor comunicativo.” (LEFEVERE, 1975, p.390)19. O primeiro aspecto
que pudemos tirar disso foi a possibilidade de uma intenção do autor em criar um obra crua,
mas ricamente elaborada. Quanto à crueza entendemos que o impacto da leitura é essencial
para o texto-alvo que iríamos propor.
19
“...
to replace it by a target text which approximates, as closely as possible, the same
communicative value.”
34
Memórias do Cárcere (1953) de Graciliano Ramos. Então, o termo não é desconhecido e não
traz confusão, pois é amplamente usado.
Veja aqui como nos referimos ao fato que acabou de ser relatado nos últimos
parágrafos. Usamos a palavra cárcere somente uma vez, citando-o. Foram usadas palavras
como detenção, prisão. A decisão de mudar o título partiu deste entendimento. E da tradução
de um dos versos, dentro do poema que continha a palavra em inglêsgaol.
Texto-fonte Texto-alvo
With sudden shock the prison-clock Foi com tensão que o relógio da prisão
Smote on the shivering air, Golpeou o ar gelado da cadeia.
And from all the gaol rose up a wail Um lamento desesperado
Of impotent despair Para além dos muros desencadeia:
Like the sound that frightened marshes hear O som dos leprosos em seu covil
From a leper in his lair. Que pelospântanospasseia.
Quadro 1- Estrofe 64, parte 3
Além do termo cadeia ter sido deslocado do terceiro verso para o segundo, a fim
de construira rima na estrofe, percebemos que essa escolha pontual tinha marcado uma
escolha geral, a do título. Então, confirmou-se: A Balada da Cadeia de Reading.
Texto-fonte Texto-alvo
The morning wind began to moan, O vento da manhã começou a soprar
But still the night went on: Mas a noite continuou
Through its giant loom the web of gloom A assombrar, girando seu tear:
Crept till each thread was spun: Cada fio se descosturou
And, as we prayed, we grew afraid E nós rezamos, pois temíamos
Of the Justice of the Sun. A Justiça do Sol.
Quadro 2 - Estrofe 56, parte3
Tais escolhas representam outras que, também, foram feitas ao longo do processo
tradutório. Essas mudanças dialogam com a habilidade de se medir o valor comunicativo do
texto. Mudando o texto-fonte ou mantendo-o é a forma como o tradutor mede tal valor.
Apesar disso algumas mudanças foram feitas, onde se alterou o tempo, o espaço e
a tradição daquele elemento. Houve uma troca intencional de imagens no exemplo que
demonstramos abaixo:
Texto-fonte Texto-alvo
The oak and elm have pleasant leaves Algumas árvores dão frutos
That in the spring-time shoot: Quando a primavera alcança
But grim to see is the gallows-tree, Outras árvores pela garganta seguram
With its alder-bitten root, O fruto estranho que balança
And, green or dry, a man must die Cai ao chão sem vida
Before it bears its fruit! Sem herdeiros, sem herança!
Quadro 3 - Estrofe 23, parte 2
20
“...no modernization is needed in the case of time-place-tradition elements either explained by their
contexto or easily connected, in the reader’s mind, with analogous elements in the time-place-tradition
of which he is a part.”
37
Alguns elementos foram deixados de lado, outros substituídos por termos mais
gerais (metonímia) por exemplo: carvalho e olmo (hipônimos) por árvore (hiperônimo). A
forca, no original, é referida pelo termo gallows, e o paralelo forca-árvore pela expressão
gallows-tree. Na tradução essa metáfora se aplica de uma maneira diferente, pois a palavra
forca não é usada: uma comparação entre dois tipos de árvore, uma que dá frutos e outra que
tira a vida estabelece a diferença. A forca, apesar de não ser expressa, é retratada através de
árvores que seguram o fruto pela garganta e que, depois, este fruto cai ao chão sem vida. A
intertextualidade aqui se encontra no verso “O fruto estranho que balança”, amarra essa
ligação e estabelece o paralelo entre os tipos de árvore. E a imagem é assim reformulada.
Lefevere (1975) defende que para encontrar tal forma é necessário que (1) “a
forma escolhida não permita a restrição do campo de escolha de equivalentes do tradutor”
21
nem (2) “forçá-lo a produzir um texto-alvo que será considerado inaceitável (em um sentido
21
“...the chosen form will not be allowed to restrict the translator’s range in selecting communicative
value equivalents...”
38
linguístico) pela maioria dos falantes da língua-alvo” (p. 391)22. Caso tal forma não for
encontrada, sugere-se buscar outra que seja adequada.
No caso desta tradução, a forma já está clara desde a primeira leitura do texto. O
título pressupõe sua forma: uma balada. Isso já evoca toda uma memória no nosso imaginário.
Balada é tanto um gênero poético medieval, despontado em países europeus, como também é,
hoje em dia, um estilo de canção romântica popular. Esta última definição não nos convém
como estudiosos literários, mas ainda assim ressalta o aspecto musical do texto. Existem
vários tipos de balada, a balada folclórica, a balada do Canto Real, e todas elas são textos
construídos em versos rimados, uma canção destinada à dança.
Foi decidido manter a forma do poema, suas estrofes de seis versos cada, sua rima
alternada nos segundo, quarto e sexto versos. E essa manutenção foi uma intenção inicial,
tomada a partir do interesse em realizar essa tradução e confirmada ao longo da pesquisa.No
entanto, não se vê isso como restrição ao campo de escolha do tradutor, mas como um
objetivo a ser alcançado. O exercício poético engloba essa tarefa. Para o limite da estrofe,
para a construção da rima, exige-se tempo e paciência. Uma estrofe pode ser traduzida em
pouquíssimo tempo enquanto outra demorar dias para se encontrar um resultado que satisfaça
o tradutor.
produção original do poema? Temos certeza que não. Caracterizar essa escolha pela forma
como limitante é subestimar séculos de literatura poética produzida em todo o mundo.
4.2 As estratégias
Como foi dito antes, são sete estratégias aqui relembradas: tradução fonêmica;
tradução literal; tradução métrica; poesia em prosa; tradução rimada; tradução em versos
livres; interpretação. Essa parte da análise se dividirá em duas partes. A primeira será mais
breve, pois tratará das estratégias que não se aplicam nem ao texto-fonte nem ao texto-alvo ou
ao seu processo de tradução. O segundo momento será mais elaborado, discorrendo sobre
cada estratégia que se aplica aos resultados encontrados.
denota uma escolha real e consciente em não utilizá-la. Contudo, a escolha apesar de ser real e
consciente apenas se torna coesa quando existe uma análise subjacente.
Primeiro, a tradução literal. Lefevere (1975) começa por negar a existência desse
tipo de tradução. Ele afirma que é um mito e usaNida (1964) para reforçar seu argumento
quando diz que “não existe duas línguas idênticas (...); e certamente não existe
correspondentes absolutos entre línguas, ou seja, não se pode haver traduções completamente
exatas” ao texto-fonte (p. 385)23.
Ele nega a estratégia, afirmando o mito em torno dela, mas acredita que exista a
tentativa em alcançar tal tradução. Disso resulta-se a criação de “monstros sagrados” sem real
apelo ao leitor, uma literatura mumificada desde o nascimento, sem alcance ou importância
reais. O processo que ocorreu nessa tradução que proponho é maleável e orgânico. Ele não
encontra nessa estratégia nenhuma correspondência. O movimento entre tradutor e texto-fonte
é constante, algumas vezes se aproximando, outras, se afastando. Pois, “o tradutor tem o
direto de diferir organicamente, de ser independente; sendo oferecida, esta independência é
procurada em benefício do texto-fonte para que ele seja reproduzido como um trabalho vivo.”
(POPOVIC apud BASSNETT, p. 88, 2002)24.
As duas próximas estratégias previamente citadas nessa subseção são tratadas pelo
autor de uma só vez como fatores prejudiciais ao resultado da tradução. Elas pecam, segundo
Lefevere (1975), por focarem em fatores externos ao texto-fonte. A tradução métrica se
preocupa em fornecer ao leitor a mesma métrica do original. Enquanto o tradutor depoesia em
prosa distorce a palavra equivalente na língua-alvo ou faz uso excessivo de modificadores e
circunlóquios. Ambas as estratégias e as medidas tomadas pelos seus respectivos tradutores
são negativas e prejudicam e ameaçam o valor comunicativo das obras (tanto fonte como
alvo). Mas será que são realmente, assim, tão negativas? Será que o valor comunicativo é tão
facilmente destruído por causa de certas escolhas do tradutor? Refletiremos sobre essas
perguntas e esboçaremos algumas respostas ao final deste item.
23
“No two languages are identical (...) it stands to reason that there can be no absolute
correspondence.”
24
‘the translator has the right to differ organically, to be independent’, provided that independence is
pursued for the sake of the original in order to reproduce it as a living work.”
41
Quanto às duas estratégias anteriores também as delimito dentro daquelas que não
foram aplicadas. Considerando a tradução métrica, A Balada é um texto poético, sim, mas
seus versos não são metrificados: é o seu sistema rítmico que molda o texto. Da outra
estratégia, da tradução de poesia em prosa, em nenhum momento é válida, pois o texto-alvo,
após o processo tradutório, continuou sendo um poema.
O que faz incluir esta estratégia como não-aplicável é o modo como Lefevere a
descreve. Em suas palavras, Lefeveredelimita as escolhas deste tipo de tradutor/tradução em
dois caminhos: um é aderir ao sistema métrico do original e o outro caminho é impor um
sistema novo ao texto-fonte fazendo uso de distorções. Tais distorções podem ser a
valorização de uma palavra ou de um grupo de palavras, forçando-o a uma série de
contorções, limitando a liberdade do tradutor ao que Lefevere define como “desajeito e
verbosidade” (p. 388)25.
Primeiro essa estratégia não se aplica porque o verso livre para Lefevere (1975) se
contrapõe a sua metrificação. Se o verso não é metrificado então não existe correspondência.
Segundo porque não foi imposto um novo padrão métrico ao texto, não houve tal
“superimposição”.
25
“... clumsiness and verbosity.”
42
Junto com a tradução literal, essa é a estratégia que Lefevere (1975) dedica mais
espaço no seu trabalho: a tradução fonêmica. O grande destaque desse aspecto é o som, e a
reprodução desse som do texto-fonte no texto-alvo. Tal som pode ser expresso em um poema
de diversas maneiras. Aqui será dedicado comentários sobre a musicalidade do poema, sua
estrutura, suas rimas e sistema rítmico e figuras de linguagem como a aliteração, a
onomatopeia, etc.
Então essa tradução e essa análise é uma bandeira em favor do exercício poético
do tradutor. A reconstrução de um texto em um novo texto, diferente, um outro alcance para
um outro público.
Não seria interessante aqui pontuar ou ilustrar com qualquer exemplo, pois todo o
poema foi traduzido com a intenção de se espelhar no sistema rítmico original. Convém aqui
26
“No desire to make the source text available to his readers.”
27
“...
a bilingual parody, incapable of survival in the literature of the target language.”
43
demonstrar estrofes onde essa escolha provocou as maiores mudanças e onde causou maior
dificuldade.
Texto-fonte Texto-alvo
The Warders with their shoes of felt Os carcereiros flutuavam pelos corredores
Crept by each padlocked door, E além das grades, fitavam, impressionados
And peeped and saw, with eyes of awe, Figuras cinzentas silenciosas
Grey figures on the floor, No chão ajoelhadas:
And wondered why men knelt to pray Porque esses homens rezam
Who never prayed before. Se eles nunca haviam rezado?
Quadro 4 - Estrofe 46, parte 3
Há de se perguntar antes porque não foi tentado encontrar outra forma, outras
palavras para rimar cada verso. Salienta-se que foi definida e escolhida como imagens
principais a imagem do olhar surpreso dos carrascos e a imagem dos homens ajoelhados
dentro das celas. Escolheu-se assim o par impressionado/ajoelhado. Porém devido às
diferenças de gênero e número teve-se ao final impressionados e ajoelhadas. Ao final temos o
verbo rezar conjugado no particípio: rezado.
Nessa estrofe temos rimas semelhantes, mas não idênticas. Foi um recurso
encontrado para se manter em concordância com o texto-fonte e, ao mesmo tempo, eleger
certas imagens como mais importantes dentro da estrofe e usar a rima como realce.
44
Por outro lado, em algumas estrofes, para realçar o passo mais acelerado do
momento que é retratado no poema, Wilde faz uso de rimas internas ao próprio verso. Indo
além das rimas alternadas ao fim dos versos pares, essas rimas internas acontecem nos versos
ímpares. É uma tarefa árdua recriar tais movimentos criados com tamanha precisão. Contudo,
entende-se o valor comunicativo que é passado e abraça-se o desafio.
Para a tradução desses momentos no poema percebeu-se dois caminhos para sua
resolução. O primeiro está exposto a seguir:
Texto-fonte Texto-alvo
"Oho!" they cried, "The world is wide, “Ei!” eles gritaram “O mundo é grande
But fettered limbs go lame! mas eles não vão longe com pés acorrentados
And once, or twice, to throw the dice por isso trata-se de um jogo civilizado
Is a gentlemanly game, de vez ou outra jogar os dados.
But he does not win who plays with Sin Mas é sempre derrotado na secreta Casa da
In the secret House of Shame." Vergonha.
aquele que joga com o Pecado.”
Percebam no texto-fonte os versos ímpares: cried/wide;twice/disse;win/Sin. A
solução encontrada aqui foi extrapolar o número de rimas com a terminação –ado ao longo da
estrofe. Assim, oferecendo uma sensação equivalente àquela imprimida pelo autor. As
palavras que fazem parte deste jogo são: acorrentados; civilizado; dados; derrotado e Pecado.
Texto-fonte Texto-alvo
We had no other thing to do, Nada mais a fazer a não ser
Save to wait for the sign to come: Esperar pelo sinal assustador;
So, like things of stone in a valley lone, Como pedras jogadas no vale,
Quiet we sat and dumb: Sentados, dormentes no torpor
But each man's heart beat thick and quick Mas cada batida era rápida e decidida
Like a madman on a drum! Cada coração era um tambor!
Como foi afirmado antes, a rima interna acontece apenas nos versos ímpares,
enquanto a rima da estrofe como um todo ocorre nos versos pares. Nesse verso a rima interna
45
Falhar aqui seria transformar o texto-fonte em uma mera imitação ou uma versão.
Pois uma versão, aqui definida, como um simples exercício de reescritura, onde apenas
conteúdo é transmitido. Enquanto a imitação utiliza-se do texto original apenas como uma
fonte de inspiração. Aquilo que se opõe a esses dois conceitos de imitação e versão,
delineados por Lefevere, é o conceito de tradução.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teoria sobre tradução poética de Lefevere (1975) foi escolhida e ao redor dela
este trabalho se moldou. As habilidades serviram ao tradutor de conselho, e ao pesquisador de
meios para autocrítica e reflexão. As estratégias serviram para traçar os objetivos do tradutor
e, mais tarde no processo, como uma forma de delimitar e demonstrar os resultados.
As escolhas do tradutor são inúmeras e suas preocupações com o texto são várias.
Remeto ao argumento apresentado no início deste trabalho sobre os diversos papéis que o
tradutor assume. Somos tradutores, leitores, escritores, críticos, pesquisadores e estudiosos. E
em cada um desses papéis encontramos diversos níveis e tarefas, também.
Porém, como guia para a tradução poética foi bastante útil e frutífero utilizá-lo
como arcabouço teórico. E o sentimento pelo resultado obtido é misto. É satisfatório ao poeta
que sempre quer mudar o texto. É recompensador ao estudante que finaliza um trabalho
acadêmico. E é realizador para o pesquisador que constrói, após tanta pesquisa, algo que ele
acredita estar bem construído.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JONES, Francis R. Literary translation. In: BAKER, Mona; SALDANHA, Gabriela. (Ed.)
Routledge encyclopedia of translation studies.Abingdon: Routledge, 2009. 152-156 p.
KUHIWCZAK, Piotr. The troubled identity of literary translation. In: ANDERMAN Gunilla;
ROGERS, Margaret (Org.). Translation today: trends and perspectives. Clevedon:
Multilingual Matters, 2003. 112-124 p.
OSIMO, Bruno. Curso de Tradução. Tradução de Mauro Rubens Silva e Nadia Fossa.
Logos Group. 2004.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 30. ed. São Paulo: Cultrix. 2001.
WATERS, Roy. And I, may I say nothing? The Oscholars, v.3, n. 7, julho, 2003.Disponível
em<http://web.archive.org/web/20060615134321/http://homepages.gold.ac.uk/oscholars/vol_iii_07/essays.html
> Acesso em: 05 de maio, 2013.
WILDE, Oscar. A balada do cárcere de Reading. Tradução por VIZIOLI, Paulo. São Paulo:
Nova Alexandria, 1997, p. 7-23.
WILDE, Oscar. The ballad of the reading gaol. Canada: Dover Publications, 1992.
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DICIONÁRIOS UTILIZADOS
ANEXOS
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I I
He did not wear his scarlet coat, Ele não vestiu o seu casaco,
For blood and wine are red, Vermelho do sangue e do vinho,
Pois vinho e sangue tinha nas mãos.
And blood and wine were on his hands
Quando o encontraram não estava sozinho
When they found him with the dead,
The poor dead woman whom he loved, Segurava a amada, assassinada, nos braços,
A cama em desalinho.
And murdered in her bed.
Andava entre os outros esquecidos,
He walked amongst the Trial Men
Vestes da cor do chão cinzento.
In a suit of shabby gray;
Uma boina lhe cobria a cabeça
A cricket cap was on his head,
E o seu passo parecia leve como o vento,
And his step seemed light and gay;
Mas eu nunca vi um homem
But I never saw a man who looked
Tão cheio de tormentos.
So wistfully at the day.
Eu nunca tinha visto um homem
I never saw a man who looked Com o olhar tão atormentado.
With such a wistful eye Sob aquele teto azul
Upon that little tent of blue Como o céu pelos prisioneiros é chamado.
Which prisoners call the sky, E cada nuvem que sumia
And at every drifting cloud that went Deixava um rastro prateado.
With sails of silver by.
Caminhei, com outras almas em dor,
I walked, with other souls in pain, Outra forma de caminhar,
Within another ring, E fiquei a pensar se aquele homem
And was wondering if the man had done Fez muito ou pouco para ali estar
A great or little thing, Quando uma voz sussurrou:
When a voice behind me whispered low, “Ele tem que pagar.”
"That fellow's got to swing."
Meu Deus, as paredes da prisão
Dear Christ! the very prison walls De repente pareciam ruir,
Suddenly seemed to reel, E o céu sobre mim, como o aço quente
And the sky above my head became Do casco de uma armadura a diluir.
Like a casque of scorching steel; E, apesar de eu mesmo ser uma alma em dor,
And, though I was a soul in pain, Minha própria dor não pude sentir.
My pain I could not feel.
Eu apenas conhecia o pensamento
I only knew what haunted thought Que perseguia seus passos
Quickened his step, and why E porque ele olhava o dia
He looked upon the garish day Com tanto descompasso,
With such a wistful eye; Pois aquele que mata o que lhe ama
The man had killed the thing he loved, A morte vence no cansaço.
And so he had to die.
48
* *
Yet each man kills the thing he loves, Cada homem que mata aquilo que ama
By each let this be heard, Que cada um ouça com atenção:
Some do it with a bitter look, Alguns matam amargamente
Some with a flattering word, Outros com falsa compaixão.
The coward does it with a kiss, O covarde mata com um beijo
The brave man with a sword! O bravo, com uma espada na mão!
Some kill their love when they are young, Alguns matam seu amor quando jovens
And some when they are old; E alguns quando estão idosos;
Some strangle with the hands of Lust, Estrangulados por mãos apaixonadas
Some with the hands of Gold: Ou entre dedos habilidosos:
The kindest use a knife, because Os mais amáveis usam uma adaga,
The dead so soon grow cold. Pois rápido o frio atinge os ossos.
Some love too little, some too long, Ama-se pouco ou por muito tempo
Some sell, and others buy; Uns a comprar, outros a vender
Some do the deed with many tears, Outros lavam o rosto de lágrimas
And some without a sigh: Outros nem um suspiro sequer:
For each man kills the thing he loves, Pois cada homem mata aquilo que ama
Yet each man does not die. Mas ainda assim continua a viver.
He does not rise in piteous haste Ele não tem pressa em se levantar
To put on convict-clothes, Ou vestir os trajes da clausura,
While some coarse-mouthed Doctor gloats, and Enquanto um médico bruto repara
notes Em cada nova e agitada postura,
Each new and nerve-twitched pose, Ajustando os tique-taques do seu relógio
Fingering a watch whose little ticks Que pareciam marteladas em miniatura.
Are like horrible hammer-blows.
He does not feel that sickening thirst Ele não conhece a sede doentia
That sands one's throat, before Que fere a garganta primeiro,
The hangman with his gardener's gloves Antes do carrasco entrar pela porta
Comes through the padded door, Com suas luvas de jardineiro
And binds one with three leathern thongs, E enlaçar tiras de couro:
That the throat may thirst no more. Todo desejo é passageiro.
He does not bend his head to hear Ele não inclina a cabeça para ouvir
The Burial Office read, A liturgia do seu funeral,
Nor, while the anguish of his soul Nem olha seu próprio caixão
Tells him he is not dead, Enquanto desce os últimos degraus
Cross his own coffin, as he moves Apesar da sua alma aterrorizada
Into the hideous shed. Lhe dizer “Não estás morto, afinal!”
He does not stare upon the air Ele não contempla os céus
Through a little roof of glass: Sob pequenos tetos transparentes, nunca mais.
He does not pray with lips of clay Ele não reza pelo fim de sua agonia,
For his agony to pass; Ele não reza mais
Nor feel upon his shuddering cheek Nem sente sobre sua bochecha
The kiss of Caiaphas. O beijo de Caifás.
II
II
Six weeks the guardsman walked the yard,
Por seis semanas o guarda andava pelo jardim,
In the suit of shabby gray:
Vestes da cor do chão cinzento:
His cricket cap was on his head,
Uma boina lhe cobria a cabeça
And his step was light and gay,
E o seu passo era leve como o vento,
But I never saw a man who looked
Mas eu nunca vi um homem
So wistfully at the day.
Tão cheio de tormentos.
I never saw a man who looked Eu nunca tinha visto um homem
With such a wistful eye Com olhos tão atormentados
Upon that little tent of blue Sob aquele teto azul
Which prisoners call the sky, Como o céu pelos prisioneiros é chamado,
And at every wandering cloud that trailed E cada nuvem que se arrastava
Its ravelled fleeces by. Era um novelo de lã emaranhado.
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He did not wring his hands nor weep, Ele não retorceu as mãos
Nor did he peek or pine, Nem chorou, nem espiou, nem ansiou
But he drank the air as though it held Mas bebeu do ar como se ele
Some healthful anodyne; Nos curasse de qualquer dor;
With open mouth he drank the sun Bebeu do sol como se fosse vinho
As though it had been wine! Tinto de sangue e calor.
For strange it was to see him pass E era estranho vê-lo passar
With a step so light and gay, Com seu passo leve feito vento
And strange it was to see him look E era estranho vê-lo
So wistfully at the day, Tão cheio de tormentos
And strange it was to think that he E era estranho ver um homem
Had such a debt to pay. E sua dívida sem abatimento.
*
*
Algumas árvores dão frutos
The oak and elm have pleasant leaves
Quando a primavera alcança.
That in the spring-time shoot:
Outras árvores pela garganta seguram
But grim to see is the gallows-tree,
O fruto estranho que balança,
With its alder-bitten root,
E cai ao chão sem vida
And, green or dry, a man must die
Sem herdeiros, sem herança.
Before it bears its fruit!
A benção necessária
The loftiest place is the seat of grace É a subida mais escarpada:
For which all worldlings try: Mas quantos se atrevem,
But who would stand in hempen band Com a própria morte anunciada,
Upon a scaffold high, A olhar para o alto em prece
And through a murderer's collar take Com a corda no pescoço enrolada?
His last look at the sky?
51
So with curious eyes and sick surmise E com curioso olhar e dúvida doentia
We watched him day by day, Que vigiamos diariamente.
And wondered if each one of us E pensamos se cada um de nós
Would end the self-same way, Seguiremos inevitavelmente
For none can tell to what red Hell A alma cega do homem
His sightless soul may stray. Até um desconhecido inferno ardente.
At last the dead man walked no more Enfim o homem não andou mais
Amongst the Trial Men, Entre os outros esquecidos.
And I knew that he was standing up Eu sabia que nas sombras
In the black dock's dreadful pen, Ele permanecia erguido
And that never would I see his face E que eu nunca mais veria
For weal or woe again. O seu rosto abatido.
Like two doomed ships that pass in storm Passamos um pelo outro como dois navios
We had crossed each other's way: Que se cruzam numa tempestade em alto mar.
But we made no sign, we said no word, Nenhum sinal foi feito, nenhuma palavra foi dita:
We had no word to say; Não havia palavras para falar,
For we did not meet in the holy night, Pois a noite não nos protegeu
But in the shameful day. Quando a luz do dia resolveu nos calar.
III
III
No Jardim dos Devedores as pedras são duras
In Debtors' Yard the stones are hard, E as paredes altas e escorregadias.
And the dripping wall is high, Lá ele escolheu um lugar para respirar
So it was there he took the air O ar que aquele céu pesado comprimia,
Beneath the leaden sky, Por cada lado um carcereiro andava:
And by each side a warder walked, Para o homem era sempre de dia.
For fear the man might die.
52
Or else he sat with those who watched Ou então sentava com os homens
His anguish night and day; Que vigiavam sua aflição;
Who watched him when he rose to weep, Quando ele se erguia para chorar
And when he crouched to pray; Ou se encolhia em oração;
Who watched him lest himself should rob Ele continua sendo uma ameaça
Their scaffold of its prey. Ao instrumento de sua própria execução.
And twice a day he smoked his pipe, Duas vezes por dia
And drank his quart of beer: Ele tratava de fumar e beber.
His soul was resolute, and held Sua alma determinada
No hiding-place for fear; Não deixava o medo se esconder:
He often said that he was glad Dizia que as mãos tão próximas do carrasco
The hangman's day was near. Até lhe davam prazer.
We sewed the sacks, we broke the stones, Costurávamos sacas, quebrávamos pedras
We turned the dusty drill: E nunca anoitecia.
We banged the tins, and bawled the hymns, Trabalhando e cantando
And sweated on the mill: Para apressar o dia:
But in the heart of every man Mas no coração de todo homem
Terror was lying still. O terror ainda dormia.
With yawning mouth the horrid hole Era uma boca que bocejava
Gaped for a living thing; Com fome de alguma coisa viva,
The very mud cried out for blood E sedenta por sangue
To the thirsty asphalte ring: Escorria dos cantos a saliva:
And we knew that ere one dawn grew fair Para um deles o jogo acabaria ao começar o dia,
The fellow had to swing. E a roleta girando era enjoativa.
He lay as one who lies and dreams Mas ele dormia e sonhava
In a pleasant meadow-land, Como dorme e sonha um bebê.
The watchers watched him as he slept, Os guardas o viam dormindo,
And could not understand Eles olhavam sem entender
How one could sleep so sweet a sleep Como alguém tão docemente existia
With a hangman close at hand. Com tantos perigos a correr.
But there is no sleep when men must weep Mas não existe descanso para aquele
Who never yet have wept: Que não chora ou que ainda não chorou.
So we- the fool, the fraud, the knave- E para nós, os falsos, os malandros e os tolos
That endless vigil kept, A vigília continuou
And through each brain on hands of pain E em cada alma
Another's terror crept. Outro medo se instalou.
The warders with their shoes of felt Os carcereiros flutuavam pelos corredores
Crept by each padlocked door, E além das grades, fitavam, impressionados
And peeped and saw, with eyes of awe, Figuras cinzentas silenciosas
Gray figures on the floor, No chão ajoelhadas:
And wondered why men knelt to pray Porque esses homens rezam
Who never prayed before. Se eles nunca haviam rezado?
All through the night we knelt and prayed, Lamentando por um cadáver,
Ficamos em oração.
Mad mourners of a corse!
Os lampejos da luz da noite
The troubled plumes of midnight shook
Like the plumes upon a hearse: Eram as velas sobre o caixão
And as bitter wine upon a sponge E o vinho que amargava a garganta
Era o Remorso e a salvação.
Was the savour of Remorse.
*
*
O galo cinza cantou, o galo vermelho também,
The gray cock crew, the red cock crew, Mas o dia não veio
But never came the day: E um Terror trapaceiro se agachou
And crooked shapes of Terror crouched, Nos espaços vazios em nosso meio,
In the corners where we lay: E os males que tomavam a noite de açoite
And each evil sprite that walks by night Brincavam à nossa frente, sem receio.
Before us seemed to play.
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They glided past, the glided fast, Eles passavam por nós, rapidamente,
Like travellers through a mist: Como viajantes pela neblina.
They mocked the moon in a rigadoon Dançavam tirando sarro da lua
Of delicate turn and twist, Feito sombrias bailarinas,
And with formal pace and loathsome grace Com ar graça e pirraça
The phantoms kept their tryst. De quem chega e predomina.
At six o'clock we cleaned our cells, Às seis horas, limpávamos nossas celas
At seven all was still, E às sete ainda a esperar.
But the sough and swing of a mighty wing Mas, de repente, um frio demente
The prison seemed to fill, Encheu todo aquele lugar,
For the Lord of Death with icy breath Pois o Senhor da Morte
Had entered in to kill. Tinha entrado para matar.
For Man's grim Justice goes its way Pois a justiça do homem é sinistra
And will not swerve aside: E não se intimida:
It slays the weak, it slays the strong, Mata o fraco, mata o forte
It has a deadly stride: Mata aquele que tem vida.
With iron heel it slays the strong Com o calcanhar de ferro, mata o forte,
The monstrous parricide! Monstro parricida.
We waited for the stroke of eight: Esperamos pelo bater das oito horas,
Each tongue was thick with thirst: Línguas de sede ressecadas,
For the stroke of eight is the stroke of Fate Pois o sino era o sino do Destino
That makes a man accursed, Que amaldiçoava almas abandonadas
And Fate will use a running noose E usava o nó da forca,
For the best man and the worst. Criaturas boas ou ruins, enlaçadas.
With sudden shock the prison-clock Foi com tensão que o relógio da prisão
Smote on the shivering air, Golpeou o ar gelado da cadeia.
And from all the gaol rose up a wail Um lamento desesperado
Of impotent despair, Para além dos muros se desencadeia:
Like the sound the frightened marshes hear O som dos gritos dos leprosos em seu covil
From some leper in his lair. Que pelos pântanos passeia.
And as one sees most fearful things Como pessoas que veem em sonho
O pesadelo mais pavoroso,
In the crystal of a dream,
Nós vimos a corda pendurada
We saw the greasy hempen rope
Hooked to the blackened beam, Naquele arcabouço,
And heard the prayer the hangman's snare E cada prece foi enforcada:
Um grito preso no pescoço.
Strangled into a scream.
Todo o sofrimento que o comovia,
And all the woe that moved him so
Aquele seu choro de amargar,
That he gave that bitter cry,
Os calafrios e os arrependimentos,
And the wild regrets, and the bloody sweats,
Eu bem que sei explicar:
None knew so well as I:
Pois aquele que vive mais de uma vida
For he who lives more lives than one
Mais de uma morte sofrerá.
More deaths that one must die.
58
IV IV
So they kept us close till nigh on noon, Até tocarem o sino, com o sol à pino,
And then they rang the bell, Eles nos mantiveram trancados.
And the warders with their jingling keys Vieram os guardas com o molho de chaves
Opened each listening cell, Abrir os cadeados.
And down the iron stair we tramped, Pela escada de ferro nos arrastamos
Each from his separate Hell. Cada um vindo de seu inferno isolado.
Out into God's sweet air we went, Atravessamos o ar suave que era de Deus
But not in wonted way, Sem a pressa de outros momentos,
For this man's face was white with fear, Pois o rosto do homem era branco de medo
And that man's face was gray, O daquele era cinzento,
And I never saw sad men who looked Eu nunca tinha visto um homem assim triste
So wistfully at the day. E tão cheio de tormentos
* *
Like ape or clown, in monstrous garb Vestidos como um bicho de circo ou um palhaço.
With crooked arrows starred, Os bordados eram pobremente costurados.
Silently we went round and round E silenciosamente nós andávamos
The slippery asphalte yard; Pelo jardim asfaltado.
Silently we went round and round, Silenciosamente nós andávamos
And no man spoke a word. E todos seguiram calados.
* *
* *
For three long years they will not sow Durante três longos anos, não vai nascer
Or root or seedling there: Nada do que ali se plantar,
For three long years the unblessed spot Pois durante os três longos anos
Will sterile be and bare, Naquele pedaço de terra nada fecundará
And look upon the wondering sky E o homem que dali olhar o céu
With unreproachful stare. Abaixará a cabeça e se resignará.
They think a murderer's heart would taint Mas eles pensam que toda semente
Each simple seed they sow. Será manchada pelo coração do caçador
It is not true! God's kindly earth Mas não é verdade, pois o homem não sabe
Is kindlier than men know, Da generosidade daquilo que Deus criou:
And the red rose would but glow more red, Onde a rosa vermelha fica mais vermelha
The white rose whiter blow. E a branca ganha mais alvor.
Out of his mouth a red, red rose! Da sua boca um rosa vermelha nasce
Out of his heart a white! Uma branca do seu peito floresce:
For who can say by what strange way, Nenhuma criatura pode dizer
Christ brings His will to light, Que os planos de Deus ela conhece
Since the barren staff the pilgrim bore Pois a mão do apóstolo Pedro
Bloomed in the great Pope's sight? No báculo do Papa ainda resplandece.
The warders stripped him of his clothes, Despiram-no das suas roupas pobres
And gave him to the flies: E o entregaram às moscas, aos vermes e insetos
They mocked the swollen purple throat, Zombaram do pescoço roxo e inchado
And the stark and staring eyes: Seus olhos vidrados, de certa forma completos
And with laughter loud they heaped the shroud E rindo alto jogaram a mortalha
In which the convict lies. Com a qual o cadáver foi encoberto.
The Chaplain would not kneel to pray O Padre não atreveu a se ajoelhar
By his dishonoured grave: Aos pés do túmulo desonrado
Nor mark it with that blessed Cross Nem fazer o sinal da cruz
That Christ for sinners gave, Que Cristo fez para nos livrar dos pecados,
Because the man was one of those Pois aquele homem era a razão
Whom Christ came down to save. Pela qual Cristo havia ressucitado.
Yet all is well; he has but passed Ainda assim tudo estava bem,
No rio da Vida estava a navegar.
To Life's appointed bourne:
Lágrimas alheias tentavam,
And alien tears will fill for him
Pity's long-broken urn, Em vão, acalmar o seu penar.
For his mourners be outcast men, Pois são homens proscritos que lamentavam por ele
E estes sempre vão lamentar.
And outcasts always mourn.
V
V
Eu não sei se a Justiça está certa
I know not whether Laws be right, Ou se ela está errada;
Or whether Laws be wrong; Se a muralha foi feita para ser temida
All that we know who lie in gaol Ou para ser escalada.
Is that the wall is strong; O tempo se conta na parede
And that each day is like a year, E a vida em cada madrugada.
A year whose days are long.
62
But this I know, that every Law Mas disso eu sei, que toda lei
That men have made for Man, Que o homem criou
Since first Man took His brother's life, Entristece o mundo
And the sad world began, Desde que o primeiro homem seu irmão matou
But straws the wheat and saves the chaff Espreme o sumo e guarda o bagaço
With a most evil fan. Desce cedo o mal vingou.
This too I know- and wise it were Também sei, e sábios seriam os outros
If each could know the same- Se disso tomassem conhecimento,
That every prison that men build Que toda prisão que o homem construiu
Is built with bricks of shame, Foi erguida com tijolos de constrangimento.
And bound with bars lest Christ should see E cercada de grades para que Cristo não veja
How men their brothers maim. Todo esse sofrimento.
With bars they blur the gracious moon, Com grades eles cegam o bondoso sol
And blind the goodly sun: E encobrem a lua elegante.
And the do well to hide their Hell, E fazem certo quando escondem o inferno
For in it things are done E seus acontecimentos fascinantes
That Son of things nor son of Man Para que nem o filho de Deus ou do próprio homem
Ever should look upon! Lancem um olhar contemplante.
* *
* *
Ah! happy they whose hearts can break Felizes são aqueles que se transformam
And peace of pardon win! E a ganham a paz do perdão!
How else may man make straight his plan De que outro jeito o homem
And cleanse his soul from Sin? Alcança tal transformação?
How else but through a broken heart Aquele que nunca sofreu
May Lord Christ enter in? Nunca encontrará a salvação.
* *
And he of the swollen purple throat, E aquele com a garganta roxa e inchada
And the stark and staring eyes, Com os olhos parados
Waits for the holy hands that took Espera pelo anjo
The Thief to Paradise; Que levou o Ladrão para o alto
And a broken and a contrite heart Pois um coração sofrido e penitente
The Lord will not despise. Nunca será desperdiçado.
The man in red who reads the Law O homem de vermelho que recita a Lei
Gave him three weeks of life, Deu a ele três semanas de vida,
Three little weeks in which to heal Três curtas semanas
His soul of his soul's strife, Para curar a alma ferida
And cleanse from every blot of blood E limpar toda mancha de sangue
The hand that held the knife. Da mão homicida.
VI VI
And there, till Christ call forth the dead, E lá, até Cristo chamar os mortos,
In silence let him lie: Em silêncio ele vai permanecer:
No need to waste the foolish tear, Não precisará desperdiçar qualquer lágrima
Or heave the windy sigh: Nem um suspiro sequer:
The man had killed the thing he loved, Ele matou aquilo que amava
And so he had to die. E então ele devia morrer.
And all men kill the thing they love, Todo homem que mata aquilo que ama
By all let this be heard, Que todos eles ouçam com atenção:
Some do it with a bitter look, Alguns matam amargamente
Some with a flattering word, Outros com falsa compaixão.
The coward does it with a kiss, O covarde mata com um beijo
The brave man with a sword! O bravo com uma espada na mão!
C. 3. 3.
C.3.3.