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Mário Falcão

100 EXERCÍCIOS DE ESCRITA


CRIATIVA
Volume 1 – iniciantes

São Paulo
2017

EDITORA STIEG
E ste é um manual de exercícios para quem gosta de escrever e
quer melhorar a qualidade do texto com foco na ficção. Funciona
como uma oficina literária.

O “volume 1” é a versão para iniciantes, um ponto de partida


para quem quer melhorar o nível de redação, contar histórias,
escrever textos para blogues e, talvez, um dia se tornar um
profissional da escrita.

Os exercícios servem para desbloquear e soltar a imaginação,


melhorar a percepção sobre o que é descrito ou narrado, explorar
a criatividade, criar diálogos e experimentar a escrita literária.

Para chegar a um bom nível de qualidade é preciso ler e


escrever com frequência. A prática constante e a técnica
desenvolvem e aprimoram o talento. O ideal é ter disciplina para
trabalhar seu texto todos os dias, tal como um atleta que se
prepara para disputar uma competição.

A sugestão é que você termine este livro em 100 dias. Um


exercício de redação por dia.

Mostre seus textos para familiares, amigos e professores. Eles


serão os seus primeiros leitores e poderão contribuir para o seu
desenvolvimento.
Escrever bem pode parecer um mistério, mas é igual a tudo o
que a gente aprende na vida. À medida que avançamos, adquirimos
conhecimento, domínio e chegamos a resultados que costumam ser
recompensadores.

Os exercícios de escrita e os textos deste manual também


ajudam quem quer se tornar um leitor mais capaz de entender e
apreciar as obras da literatura do Brasil e do mundo.

Espero e desejo que você suba de nível e tenha muito mais


satisfação e prazer com a escrita criativa e com a leitura.

O Autor

SUMÁRIO

EXERCÍCIOS, 4

FRASES DE ABERTURA, 12
UM ENREDO EM 3 ATOS, 23
3 OPÇÕES DE NARRADOR, 33
TÓPICOS PARA CRIAR UM PERSONAGEM, 44

12 PASSOS PARA ILUMINAR O SEU TEXTO, 52


2 SAÍDAS PARA O FIM DA HISTÓRIA, 60
O QUE LER? 71

BIBLIOGRAFIA, 72
EXERCÍCIOS

O que torna um pôr do sol perfeito? Faça uma lista.

F aça uma lista de frases sobre o que aconteceu no seu melhor Carnaval.
E screva um texto a partir da frase: “Eu não entendo este cachorro. Ele é
totalmente pirado.”
E screva um texto a partir da frase: “É hoje. Meu coração já começa a
bater mais forte.”

E screva um texto a partir da frase: “Eu estava quase dormindo quando


ouvi um barulho na cozinha.”
“Quando escrevo, não penso na literatura: penso em capturar coisas
vivas.”

João Guimarães Rosa

F aça uma lista com frases ditas do começo ao fim de um namoro. A


sequência vai do flerte até a despedida.

D escreva uma maçã usando apenas a visão.


F eche os olhos e descreva um abajur usando apenas o tato.
D escreva os cheiros da cozinha de um restaurante.

0. V ocê está no centro da cidade, à noite. Descreva os sons do lugar.


“As pessoas conversam mais do que fazem. Não sou escritor de botequim
e, em literatura, ou se é disciplinado ou pouco se cria.”

Luiz Ruffato

1. V ocê experimenta um frango assado pela primeira vez. Descreva o sabor e


as texturas.

2. C onte como foi a viagem mais interessante e inesquecível que você já fez.
3. E screva uma carta para ser aberta daqui a 100 anos contando o que a
nossa geração fez com o planeta.
“Assim como alguns jovens passam de quatro a cinco horas por dia
estudando piano ou violino, eu vivia entre meus papéis e minhas
canetas.”

Truman Capote
FRASE DE ABERTURA

A primeira frase de um conto ou de um romance é fundamental. Ela


tem a função de conquistar o leitor e colocá-lo dentro da narrativa . Moby
Dick , um clássico escrito por Herman Melville, começa com uma
simplicidade irresistível:

“Me chame de Ismael.”

A frase estabelece uma ligação imediata com quem está lendo e o convida a
seguir em frente.

Veja outras 12 frases de abertura escritas por mestres do texto:

“Quando eu era capelão de S. Francisco de Paula (contava um padre velho)


aconteceu-me uma aventura extraordinária.”

Conto Entre santos , de Machado de Assis

“Ela dispunha de duas horas para ocultar os segredos de sua vida.”

Romance Exclusiva , de Annalena McAfee

“Era um verão estranho, sufocante, o verão em que eletrocutaram os


Rosemberg, e eu não sabia o que estava fazendo em Nova York.”
Romance A redoma de vidro , Sylvia Plath

“Da primeira vez em que pus os olhos em Terry Lennox ele estava bêbado,
num Rolls-Royce Silver Wraith, em frente ao terraço do The Dancers.”

Romance policial O longo adeus , de Raymond Chandler

“A tristeza, a compreensão e a desigualdade de nível mental do meu meio


familiar agiram sobre mim de modo curioso: deram-me anseios de
inteligência.”

Romance Recordações do escrivão Isaías Caminha , de Lima Barreto

“Às cinco daquela tarde de inverno tinha hora marcada com o dr. Bentsen,
outrora seu psicanalista e agora seu amante.”

Conto Mojave , de Truman Capote

“Tem gente que só se dá mal. Como é que eu posso explicar?”

Conto Orgulho , de Alice Munro

“Ainda que viva cem, mil anos, não esquecerei aquele dia em que, deitado
no leito miserável da cela B 17, a porta se abriu e dois soldados empurraram
um corpo que logo se estatelou no chão de ladrilhos.”

Novela Romance sem palavras , de Carlos Heitor Cony


“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel
Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o
levou para conhecer o gelo.”

Romance Cem anos de solidão , de Gabriel García Márquez

“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos,


encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso.”

A Metamorfose , de Franz Kafka

Muitos escritores escrevem o conto ou o capítulo todo e depois voltam para


reescrever a frase de abertura, e trabalham bastante até que ela fique
perfeita.

4. E screva um texto criticando duramente o atual governo.


5. A gora, escreva um texto defendendo com firmeza esse mesmo governo.
6. V ocê já foi vítima de bullying? O que aconteceu? Como você superou
isso?
7. V ocê virou um morador de rua. E agora?

8. O seu personagem está numa ilha deserta. Ele acredita que não vai
sobreviver e decide escrever uma carta de despedida. Escreva a carta.
“O que se escreve é reflexo de tudo: do que você está lendo, fazendo,
assistindo na televisão, dos seus amigos, das suas experiências recentes,
viagens, tudo.”

Vanessa Barbara

9. V ocê já se meteu em alguma confusão quando era criança? O que


aconteceu?
0. C ada povo tem o governo que merece? Escreva usando as técnicas de
dissertação que você conhece.

1. P or que algumas pessoas fazem sucesso e outras se dão mal?


2. C ria a letra de uma música.
3. E screva uma história que termine com a frase: “Assim caminha a
humanidade”.
“Faço anotações o tempo inteiro. Quem não anda com seu bloco no
bolso? Anoto frases ouvidas e lidas. Ideias que me surgem de repente no
cinema, na rua, no bar, na cama.”

Ignácio de Loyola Brandão

4. V ocê está num reality show e tem que convencer o público que não deve
ser eliminado. O que você diz?
5. E screva uma carta de amigo-para-amigo ao presidente Donald Trump.
6. E screva uma carta com um pedido de emprego.

7. V ocê foi eleito o prefeito de sua cidade. Descreva o seu primeiro dia de
trabalho.
8. O narrador compra um casaco antigo numa loja de roupas usadas. No
bolso há uma carta de amor. Quem escreveu a carta? Para quem?
Transcreva a carta.
“O mais importante: fica alerta o quanto puderes, cuida, sua, reescreve
pela quinta vez, corta etc.”

Anton Tchékhov

UM ENREDO EM 3 ATOS
O texto de um romance ou de uma novela, em geral, tem começo,
meio e fim. Poderíamos desdobrar a estrutura em três atos: 1) introdução e
desafio; 2) peripécias e conflitos; 3) clímax e encerramento.

Veja um exemplo de trama para uma novela policial:

1. Introdução : abertura na cena do crime. Um corpo é encontrado na


biblioteca, mas não sabemos quem é o criminoso nem onde foi parar a
arma. Nós temos aí algo que quebra a rotina e precisa de uma solução. É um
desafio , o problema a ser resolvido. O detetive entra em cena. Os
personagens principais também;

2. Peripécias e conflitos . O detetive encarregado em desvendar o


caso será o nosso herói, o protagonista. Ele vai seguir pistas, investigar
suspeitos e montar o quebra-cabeças que vai levar à captura do verdadeiro
criminoso. O vilão é o antagonista, e faz de tudo para não ser pego. Nesse
caminho há conflitos, pistas falsas, reviravoltas, tiros, dramas e aventuras;

3. Chega o momento do clímax , a grande cena em que tudo pode


acontecer. O detetive sabe quem é o assassino e se lança ao desafio de
prendê-lo. É a batalha final. Felizmente, no mundo da ficção, o autor pode
fazer com que tudo dê certo e o mocinho prenda o bandido;

No encerramento , ficamos sabendo mais detalhes sobre o motivo do


crime e as circunstâncias em que tudo aconteceu. O culpado vai para a
cadeia ou foge. O detetive tem seu trabalho reconhecido e se houver uma
mocinha nessa história, eles podem ficar juntos.

Esse é um modelo que funciona, mas as possibilidades narrativas são


infinitas. Cada autor escolhe como quer criar a sua história, onde, em que
época, e se ela vai ter um herói ou não.

Um roteiro prévio com começo, pontos de virada, clímax e desfecho,


ajuda muito a tornar a história consistente. Alguns autores planejam cada
etapa do romance e já sabem, antes mesmo de começar a escrever, o que vai
acontecer em cada capítulo e como a história termina. Quem sabe aonde
quer chegar tem um percurso mais confortável do que àqueles que partem
no escuro, sem saber o que vai acontecer.

Mais uma sugestão: horário e disciplina para escrever. Dessa forma,


você mantém a história viva na sua cabeça e termina o livro. Eu escrevo
todos os dias, assim que acordo, durante duas horas e meia. Só depois vou
cuidar das minhas outras atividades e compromissos. As ideias que pipocam
durante o dia, anoto num Moleskine.

9. F eche os olhos e imagine você mesmo daqui a 10 anos. Conte como é a


sua vida lá.
0. Q ual foi o maior susto da sua vida? Como a história terminou?

1. V ocê encontra 10 mil dólares numa sacola esquecida no banheiro de um


shopping. O que você faz? Como a história termina?
2. E screva uma notícia para o jornal da sua cidade. O título é: “Chupa-
cabras ataca de novo”.
3. C omente a frase de Peter Ducker: “A melhor maneira de prever o futuro é
construi-lo.”
4. C omente a frase de John F. Kennedy: “A melhor estrada para o progresso
é a estrada da liberdade.”

5. C rie um diálogo entre dois aposentados sentados num banco de praça.


Inclua na conversa a frase de Machado de Assis: “Mas o que é a vida senão
uma combinação de astros e poços, enlevos e precipícios?”
“Sempre me detenho numa frase até concluir que me falta disposição ou
capacidade de melhorá-la, e, ato contínuo, passo para a seguinte, e depois
para a outra.”
Gay Talese

6. C onte uma história que contenha as seguintes palavras: cabana, frio, faca
e lobo.
7. C onte um caso de amor que termina bem.
8. A gora, conte o mesmo caso de amor, mas nesta nova versão ele termina
mal.
9. D urante a noite, os bonecos de um parque de diversões ganham vida.
Escreva o diálogo entre eles.
“Flaubert tinha uma teoria sobre estilo: a do ‘mot juste’. A palavra certa
era aquela – única – capaz de expressar cabalmente uma ideia. A
obrigação do escritor era encontrá-la. Como saber que a encontrara? Seu
ouvido lhe dizia: a palavra era certa quando soava bem.”

Mario Vargas Llosa

0. E screva a partir da seguinte introdução: “Era uma noite chuvosa de sexta-


feira. Um vulto sinistro pulou o muro e escapou do manicômio. Era um
homem. Ele caminhou em direção à... (continue)
1. V ocê entra na máquina do tempo e vai parar em 2118. Como é a vida no
futuro?
3 OPÇÕES DE NARRADOR
O escritor/autor é uma pessoa real. O narrador da história pode ser
alguém inventado. Explico: eu posso narrar como se fosse um velho
contando suas memórias ou um menino em seu primeiro dia de aula ou
como se fosse uma mulher descrevendo sua experiência no mundo dos
negócios, entre inúmeras outras possibilidades.

Há um ponto de vista a ser definido.

O narrador pode contar uma história que aconteceu com ele próprio. Ele é
um personagem. Nesse caso, o texto será escrito em primeira pessoa (“Eu
estava no prédio e ouvi a explosão”).

O narrador pode ser alguém que conhece a história. Ele conta, o que viu e
ouviu, em terceira pessoa (“Fulano estava no prédio e disse que ouviu a
explosão”).

O narrador pode ser alguém que conhece a história toda e sabe de tudo,
está em todos os lugares, lê todas as mentes, enfim, é um “deus”. É o
narrador onisciente. O texto é escrito em terceira pessoa (“Fulano estava no
prédio e ouviu a explosão. Ele teve medo, pensou em correr, mas decidiu
ficar e ajudar as vítimas”).
O autor também pode adotar o estilo livre e narrar uma parte da história
em primeira pessoa e outra parte em terceira pessoa. É o que faz o autor de
novelas policiais Harlan Coben no livro “Não conte a ninguém”. O
personagem principal, o doutor David Beck, narra sua própria história. Nas
cenas em que ele não aparece quem assume é o narrador onisciente.

NARRADOR NEUTRO X NARRADOR PARTICIPANTE

O narrador pode apenas relatar os fatos, tal como um jornalista faz ao


escrever uma notícia para ser publicada num jornal. Porém, na ficção a
liberdade é total e o narrador pode se intrometer na história dos outros, dar
palpites, emitir opiniões, revelar seus sentimentos, se dirigir ao leitor, fazer
considerações sobre o processo de escrita e muito mais. Eu separei dois
trechos de dois autores, como exemplos de voz narrativa:

“Imagine a leitora que está em 1813, na Igreja do Carmo, ouvindo uma


daquelas boas festas antigas, que eram todo o recreio público e a arte
musical. Sabem o que é uma missa cantada; podem imaginar o que seria
uma missa cantada daqueles anos remotos.”

Conto “Cantiga de esponsais”, de Machado de Assis

“Era um verão estranho, sufocante, o verão em que eletrocutaram os


Rosenberg, e eu não sabia o que estava fazendo em Nova York. Tenho um
problema com execuções. A ideia de ser eletrocutada me deixa doente, e os
jornais falavam no assunto sem parar – manchetes feito olhos arregalados
me espiando em cada esquina, na entrada de cada estação de metrô, com
seu bafo bolorento de amendoim. Eu não tinha nada a ver com aquilo, mas
não conseguia parar de pensar em como seria acabar queimada viva até os
nervos.”

“A Redoma de Vidro”, de Sylvia Plath

2. E xiste racismo no Brasil? Explique.

3. Q ual foi o seu sonho mais estranho?


4. I magine que você e seu melhor amigo se perderam numa floresta. Qual é
a estratégia para sobreviver? Como a história termina?
5. E screva uma história que termine com a frase de Machado de Assis: “Não
é em terra que se fazem os marinheiros, mas no oceano, encarando a
tempestade.”
6. V ocê acorda de manhã e percebe que se transformou num cachorro. O que
acontece? Conte o seu dia.
“De certo que eu amava a língua. Apenas, não a amo como a mãe severa,
mas como a bela amante e companheira.”

João Guimarães Rosa

7. E screva um diálogo entre um gato e um peixe de aquário.


8. E screva um diálogo entre o telefone fixo e o celular.

9. D escreva o banheiro da sua casa. A torneira a pia está pingando.


0. D escreva a padaria do seu bairro. Acabou de sair uma fornada de pão.
1. V ocê ganhou na Mega-Sena acumulada. O que você faz da sua vida?

2. V ocê está num hotel com fama de mal-assombrado e acorda com barulhos
que vem do corredor. Descreva a cena? Como a história termina?
3. V ocê passa um dia trabalhando num depósito de lixo. Conte como foi a
experiência. O que aconteceu de mais interessante?
“O fascínio permanente de (Sherlock) Holmes provém também da
ambientação e da atmosfera das histórias. Entramos naquele mundo
vitoriano de fog e luz de gás, o tilintar das rédeas dos cavalos, o crepitar
das rodas nas pedras do calçamento e a sombra de uma mulher encoberta
subindo a escada daquele claustrofóbico santuário da Baker Street,
221B.”

P.D. James
4. O dinheiro compra a liberdade? Comece o texto com uma tese de abertura,
desenvolva alguns argumentos e termine com a conclusão.

5. O que é legal no seu programa de TV favorito? Por quê?


6. C omente a frase: “O segredo do casamento é abrir bem os olhos antes, e
fechá-los um pouquinho, depois.”
7. O personagem da sua história faz um pedido para o gênio da lâmpada e o
desejo é atendido. Porém, dá tudo errado.

TÓPICOS PARA CRIAR UM PERSONAGEM


Muitos escritores preenchem uma ficha técnica para a construção do
personagem. Veja alguns exemplos do que costuma entrar na ficha.

nome

cidade onde nasceu

onde mora atualmente

como é a casa dele

idade

altura

peso

estado de saúde

aparência física

como se veste

profissão

estado civil

família

situação financeira

coisas que gosta de fazer

comidas preferidas

características de personalidade

o que ele quer mais do que qualquer outra coisa (motivação dentro da
história)
um segredo do passado

Você pode continuar a lista do jeito que quiser. O importante é que o


personagem seja consistente e se torne verossímil.

Outra técnica é escrever a história de cada personagem antes de começar


o livro. São estudos para construção de personagens.

8. C onte uma piada.

9. É o dia mais frio do ano e você sai de casa, a pé, às seis da manhã para ir
ao trabalho ou à escola. Descreva a situação.
0. V ocê acorda e a cidade está completamente deserta. A população
desapareceu. O que você faz?
1. V ocê conhece uma pessoa que tem pavor de peixe (não pode nem ver).
Conte o que acontece quando vocês entram, por engano, numa peixaria.
2. E screva um texto publicitário sobre o seu chocolate preferido. Por que o
consumidor deve comprá-lo?

3. O personagem pode ficar invisível durante duas horas. A história termina


com uma surpresa.
4. Um homem joga uma bituca de cigarro na calçada, uma moradora de rua a
pega e dá uma tragada. Conte a história de um jeito irônico.
“Num romance o autor não é tão onipotente como se pensa. Num
determinado nível, é a história que conduz o escritor. O autor pode até
pensar: ‘Ah, eu quero escrever um romance assim’. Mas, quando começa
a escrever é outra coisa.”

Fernanda Torres
5. A lmoço de Natal. Crie um personagem que parece bom no começo da
história, mas termina como vilão.

6. O personagem volta no tempo e passa o dia na casa de uma família no ano


de 1900. Descreva esse dia.
7. E scolha um texto do autor que você mais admira e copie um trecho no
espaço abaixo.
8. V ocê olha pela janela e vê uma cena estranha numa das janelas do
apartamento do outro lado da rua. Parece um assassinato. Descreva a cena.
O que você faz?

9. V ocê está num museu e sua amiga quebra um valioso vaso chinês da
dinastia Ming. Ninguém viu. O que você faz? Descreva a cena
0. O personagem tem 64 anos de idade. Ele volta no tempo e conversa com
ele mesmo quando tinha 20 anos de idade. O que ele diz? Ele dá conselhos?
Escreva em forma de diálogo.
12 PASSOS PARA ILUMINAR O TEXTO

Os manuais de redação recomendam que o texto seja claro, correto,


preciso e atraente.

A linguagem coloquial facilita a comunicação, afinal o texto é para


ser entendido.

Frases na ordem direta (sujeito, verbo e complementos) são a melhor


escolha.

Corte as expressões muito batidas. Usar “o bom velhinho” para falar


do Papai Noel ou “soldado do fogo” para o bombeiro são chavões que
desmoralizam o texto.

Em vez de ficar explicando longamente como é o personagem,


mostre-o em ação. Um olhar torto pode dizer mais do que parágrafos
inteiros de análise psicológica.

A história precisa fazer sentido, com personagens consistentes e uma


trama bem amarrada.
Se o enredo for fraco ou se o texto estiver chato é provável que o
leitor perca o interesse e abandone a leitura. Prepare algo saboroso, faça
com que uma frase esteja ligada à outra e espalhe algumas surpresas pelo
caminho.

Leia em voz alta para saber se o texto cai bem nos ouvidos.

Corte tudo o que não for necessário. Corte sem dó.

Escreve e reescreva.

Você pode imaginar que escreve para um leitor específico. É comum


que redatores pensem, ao escrever, algo do tipo: “Hum, isso a minha tia
Maria não vai entender.”

Leitura é essencial para quem escreve. Leia bastante. O contato com


as obras dos melhores escritores vai irrigar a sua mente criativa.

1. N um restaurante por quilo, a comida italiana e a comida japonesa


discutem sobre qual delas é a melhor. Escreva o diálogo. Crie um final
inesperado.

2. O personagem está num shopping e percebe que está sendo seguido. O que
ele faz?
3. O seu filho cometeu um crime. Você é a única testemunha. O que você
faz?

4. C rie um personagem que participa de uma banda de rock e se transforma


num lobisomem. Como ele é?
5. E se o mundo fosse acabar hoje? Escreva o texto que vai ser lido na
televisão anunciando o fim do mundo e o encerramento das transmissões.
“A palavra certa na hora certa. Tudo no meu texto é premeditado, até as
gratuidades. É um trabalho de construção, escrever é meu ofício.”

Marcelo Mirisola

6. “A tivistas políticos se aproveitam de jovens idealistas e os usam sem


remorsos.” Você concorda com essa afirmação? Por quê?

7. V ocê está num barco e acontece um ataque de piratas. Descreva a cena.


8. V ocê compra um bode num site de leilões pela internet. Os seus pais ou
sua esposa (o) não querem o bicho em casa. Descreva a cena em que os faz
mudar de ideia.
9. V ocê faz uma cirurgia plástica e fica completamente diferente. Ninguém o
reconhece. O que acontece de inusitado? Conte a cena.
0. V ocê acredita em previsões sobre o futuro? Explique.

1. A religião é importante na sua vida? Por quê?


2. E screva um diálogo entre um poste e um cachorro.
3. E screva um diálogo entre a Lua e o planeta Terra.

2 SAÍDAS PARA O FIM DA HISTÓRIA


O autor procura criar um encerramento expressivo, que fique na
cabeça do leitor. O último capítulo e a última frase são trabalhados com
capricho e, às vezes, se tornam marcantes.

Há duas opções principais. O narrador pode concluir a história


definitivamente ou deixá-la em aberto.

No primeiro caso, a história chega ao fim e o leitor fica sabendo


exatamente o que aconteceu. Numa novela de TV, o mocinho e a mocinha
se casam e o vilão é castigado.

Um exemplo de final definitivo é o conto “Uma águia sem asas”,


escrito pelo genial Machado de Assis e publicado no “Jornal das Famílias”,
em setembro de 1872. Trata-se da história de uma jovem ambiciosa que
escolhe um marido entre três pretendentes. Vítima de uma farsa, ela escolhe
o mais despretensioso e sossegado dos três – justamente o contrário do que
desejava. O conto termina assim, na voz literária do narrador:

“Que mais lhe direi para completar a narrativa?

Sarah disse adeus às ambições dos primeiros anos, e voltou-se toda


para outra ordem de desejos.

Quis Deus que ela os realizasse. Quando morrer não terá página na
história; mas o marido poderá escrever-lhe na sepultura: Foi boa esposa e
teve muitos filhos.”

O narrador pode escolher a segunda opção e, ao terminar a história,


deixar algumas pontas soltas, algumas tramas em aberto. Cabe ao leitor
imaginar o que poderá acontecer. Veja um exemplo no conto “Miloca”,
também de Machado de Assis, publicado em 1874. É a caso de uma jovem
orgulhosa que rejeita o amor de seu pretendente. O tempo passa, o mundo
dá voltas, e eles se tornam amantes. Só que dessa vez é o rapaz quem
abandona a moça. Veja como termina o conto:

“Ambos arrastaram a cadeia durante um ano mais, até que Adolpho


embarcou para a Europa sem dar notícia de si à infeliz moça.
Miloca desapareceu tempos depois. Uns dizem que fora à cata de
novas aventuras; outros que se matara. E havia razão para ambas estas
versões. Se morreu, a terra lhe seja leve.”

Quer outro exemplo? Em “Dom Casmurro”, também de Machado


de Assis, está o que especialistas chamam de “o maior enigma da literatura
brasileira”: Capitu traiu Bentinho? Ninguém sabe. O autor termina o
romance e deixa a questão em aberto.

Os seriados de TV são mestres em finais abertos. O último episódio


de cada temporada traz o desfecho da história e costuma mostrar os
personagens principais de partida para novas aventuras ou de cara com
problemas, que só vão ser mostradas na próxima temporada. São ganchos
para prender a atenção do telespectador.

4. D uas velhinhas se reúnem para um café com bolo na casa de uma delas.
Cada uma tem uma mania muito peculiar. Descreva a cena e invente um
final inusitado.
5. A escola de lousa e giz é adequada aos estudantes da era digital? Por quê?

6. O namorado sai e esquece o Facebook aberto. A namorada resolve ler as


mensagens que ele anda teclando. O que ela descobre? O que acontece
quando ele volta?
7. C onte uma boa história de pescador. Inclua uma sereia, uma garrafa de
rum e um relógio de ouro.
8. O jogo de futebol está empatado e você se prepara para bater um pênalti
aos 45 minutos do segundo tempo. O que se passa pela sua cabeça?
“Quando olho pedra e vejo pedra mesmo, só estou vendo a aparência.
Quando a pedra me põe confusa de estranhamento e beleza, eu a estou
vendo em sua realidade que nunca é apenas física. A aparência diz
pouco. Só a poesia mostra o real.”

Adélia Prado

9. E screva um texto a partir da seguinte frase: “Ele passa o dia no


computador. A vida dele se resume a sites, seriados, mídias sociais e
games.”
0. V ocê recebeu a visita de um amigo chinês e o levou para passear. Conte
como foi o passeio, com humor.
1. D issertação: O jornalismo independente é um dos pilares da democracia.

2. V ocê é levado por um disco-voador. Descreva a situação. O que acontece


no final?
3. D escreva a barraca de pastel da feira. Atenção aos sons e aos cheiros.
4. “Q uerer é poder” ou “Querer não é poder”?
5. V ocê chega de viagem a um hotel em Nova York e descobre que sua mala
foi trocada. Dentro da sua “nova” mala há uma tela original de Pablo
Picasso. O que você faz?

6. E screva uma história que comece com a frase: “Amanhã será outro dia.”
7. E screva um diálogo para uma peça de teatro. Um conde senil e uma
jovem faxineira atrevida discutem sobre um cachimbo.
“Toda obra científica deve ser uma espécie de thriller – o relato de uma
busca por algum Santo Graal.”

Umberto Eco

8. E scolha um trecho de algum romance em inglês e o traduza para o


português.
9. E screva uma história em que os personagens mais curiosos de sua
vizinhança brigam por causa de um gato fujão.
00. É um dia de muito calor. Você é um cachorro sem dono, na praia.
Descreva os humanos ao seu redor e diga o que você pensa deles. Escreva
de uma forma bem-humorada.
“Costumo fazer test drive dos meus livros, com pessoas que não têm
nenhuma ligação com o meio e com o jornalismo, para ver a aceitação.”

Fernando Morais

O QUE LER?
Recomendar livros é algo que dificilmente funciona porque seria
preciso saber a idade, o gosto, o nível de leitura, a disponibilidade de tempo
e o momento pessoal de cada leitor. Apesar disso, aqui estão alguns dos
meus preferidos.
“O Alienista”, os contos e os romances (“Memórias póstumas de Brás
Cubas”, “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de
Aires”) de Machado de Assis

“Triste fim de Policarpo Quaresma” e “Recordações do Escrivão Isaías


Caminha”, de Lima Barreto

“Primeiras Estórias”, de João Guimarães Rosa

“Quase Memória”, de Carlos Heitor Cony

“O Melhor das Comédias da Vida Privada”, de Luis Fernando Verissimo

“A Redoma de Vidro”, de Sylvia Plath

As melhores crônicas de Rubem Braga e Antonio Prata

Eu também gosto de biografias, novelas de detetives e leio tudo o que a


minha mão alcança.
BIBLIOGRAFIA

Assis, Machado de. 50 contos / Machado de Assis ; seleção, introdução e


notas John Gledson. – São Paulo : Companhia das Letras, 2007.

Assis, Machado de. Histórias Românticas. Rio de Janeiro – São Paulo –


Porto Alegre : W. M. Jackson inc., editores, 1942.

Assis, Machado de. Seus trinta melhores contos. Rio de Janeiro : Nova
Fronteira, 1994.

Barbosa, Severino Antônio M. e Emília Amaral. Escrever é desvendar o


mundo: a linguagem criadora e o pensamento lógico. Campinas, SP :
Papirus, 1987.

Barreto, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo :


Editora Ática, 1998.

Capote, Truman. Música para camaleões : nova escrita ; tradução Sergio


Flaksman. São Paulo : Companhia das Letras, 2006.

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Jornais, revistas e internet

Adélia Prado retorna à poesia com ‘Miserere’

Entrevista à Ubiratan Brasil – O Estado de S. Paulo, 06 de dezembro de


2013

Entrevista com Fernanda Torres

Revista Trip 237, 29 de outubro de 2014

Entrevista com Vanessa Barbara (texto de Renata Penzani)

Revista TPM, 02 de outubro de 2013

“Uma escolha profissional”, entrevista com o escritor Luiz Ruffato

Revista Língua Portuguesa – Ano 9 – número 102 – Editora Segmento,


abril de 2014

“A última entrevista de Guimarães Rosa”, no site da Revista Bula

Artigo de Carlos Willian Leite sobre entrevista de Guimarães Rosa a


Arnaldo Saraiva.
O autor de “100 Exercícios de Escrita Criativa”, Mário Falcão, é jornalista e
vive cercado de livros.

Esta é uma obra protegida pela lei do direito autoral. A reprodução


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