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Rosa Montero

Tradução ",
Paulina Wacht e Ari Roitman
Ediouro

Do original
La loca de la casa
Copyright (c) Rosa Montero, 2003 Copyright da tradução (c) 2004 by
Ediouro Publicações S.A.
A presente edição foi traduzida mediante ajuda da Dirección General dei
Libro, Archivos y Bibliotecas dei Ministério de Educación, Cultura y
Deporte da Espanha.
Editor Colaborador: Alberto Schprejer
Preparação de Originais: Maria José de Sant'Anna
Produção Editorial: Cristiane Marinho Assistentes de Produção: Jorge
Amaral, Viviane Diniz e Juliana Romeiro
Revisão Tipográfica: Gratia Maria Dominguez e Lilia Zanetti Adaptação de
Capa, Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Míriam Lerner
Produção Gráfica.: Jaqueline Lavôr Assistente de Produção Gráfica: Gilmar
Mirândola
CIP - BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO
NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ - M786L
Rosa, Montero, 1951- A louca da casa / Rosa Montero ; tradução de Paulina
Wacht c Ari Roitman. - Rio de Janeiro : Ediouro, 2004
Tradução de: La loca de la casa ISBN 85-00-01477-6
1. Romance espanhol. I. Wacht, Paulina. II. Roitman, Ari. in. Título.
04-1217. CDD 863 - CDU 821.134.2-3-05 06 07 08
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Contracapa

"A imaginação é a louca da casa." A frase de Santa Teresa de Jesus resume


com perfeição o universo fascinante revelado neste livro indefinível que
apresenta Rosa Montero ao leitor brasileiro. Mistura de romance, ensaio e
autobiografia, a obra mais pessoal da escritora madrilenha é um percurso
pelas reviravoltas da fantasia, da criação artística e das lembranças mais
secretas. É um baú de mágico do qual emergem objetos inesperados e
assombrosos.
A louca da casa se lê, do princípio ao fim num puro movimento de prazer.
Mario Vargas Llosa, El País.

Orelhas

Em A louca da casa Rosa Montero propõe aos leitores um jogo narrativo


cheio de surpresas.
Nele se misturam literatura e vida num coquetel estimulante de biografias e
autobiografia romanceada. E assim descobrimos que o grande Goethe
adulava os poderosos até chegar ao ridículo, que Tolstói era um
energúmeno, que Rosa, quando pequena, via-se como uma anã e que, aos
vinte e três anos, manteve um extravagante e hilariante romance com um
ator famoso. Mas não deveríamos confiar em tudo o que a autora conta
sobre si mesma: as lembranças nem sempre são o que parecem.
Um livro sobre a fantasia e os sonhos, sobre a loucura e a paixão, sobre os
medos e as dúvidas dos escritores, mas também dos leitores.
A louca da casa é, antes de mais nada, a tórrida história de amor e de
salvação entre Rosa Montero e sua imaginação.

Rosa Montero nasceu em Madri e estudou Jornalismo e Psicologia.


Trabalhou nos principais veículos da imprensa espanhola e desde 1976 é
colunista exclusiva do jornal El País. Em 1980 ganhou o Prêmio Nacional
de Jornalismo espanhol na categoria Reportagens e Artigos Literários.
Além dos romances Crônica dei desamor (1979), Lafunción Delta (1981),
Te trataré como a uma. reina (1983), Amado amo (1988), Temblor ( 1992),
Bella e oscura (1993), La hija del canibal (Prêmio Primavera 1997) e
Elcorazón dei tártaro (2001), também é autora de várias obras vinculadas ao
jornalismo.
razoavelmente inteligente. Um sujeito agradável. O diálogo transcorreu
com facilidade, sem grandes descobertas e também sem empecilhos; mas
após estar falando durante meia hora ou mais, vi que ele começava a me
olhar de um modo um pouco estranho, com certa perplexidade, certa
insistência, perfilando a cabeça feito um pavão curioso, como se estivesse
raspando em sua memória uma vaga lembrança que lhe escapava. Até que
afinal, ao terminar a entrevista, quando desliguei o gravador, não pôde
evitar uma pergunta direta: "A gente não se conhece de antes?"
Sorri meio sem jeito e acho que cheguei a ficar vermelha. "Sim, foi há
muitos anos... um verão... em Madri... quando você rodava o filme XXX...
jantamos com Pilar Miro e com o diretor de cinema ZZZ..." Vi que M.
também começava a sorrir enquanto ia enfocando a lembrança, ao se
aproximar da pequena luz que acabava de se acender no fundo do seu
cérebro; até que, de repente, sua memória se abriu; e vi que o passado lhe
atravessava o rosto como a sombra de uma nuvem. Sua expressão ficou
crispada e ele encolheu ligeiramente a cabeça entre os ombros, como se
quisesse defender-se da ameaça de um golpe. E pensei que ele pensava:
Puxa, a doida. Mas depois, numa vertigem de clarividência, refleti sobre
uma coisa em que nunca havia pensado antes e me perguntei que lembrança
M. guardaria daquilo tudo; talvez agora não estivesse pensando em mim,
mas em si mesmo; naquele mês em que talvez ele também estivesse
disparatado, naquela carta que eu não li e que talvez fosse tão delirante
quanto a minha. Talvez lembrasse de si mesmo e não se reconhecesse, da
mesma maneira que eu não me reconhecia naquela garota de vinte e três
anos, porque nenhum desses eus remotos fazia mais parte da nossa narrativa
atual. Fosse como fosse, ali estava M., absorto e rígido, com seus olhos
verdes estranhamente escurecidos, olhando para dentro, para o passado, e
não gostava nada do que estava vendo. De modo que se levantou com uma
rígida dificuldade de reumático, pigarreou, engoliu saliva e, após despedir-
se com uma apressada e seca cortesia, avançou rumo à porta. Dessa vez foi
ele quem saiu fugindo.

Quatro

Ontem reservei o dia inteiro para escrever. E quando digo escrever assim, a
seco, sem adjetivos, estou me referindo a textos meus, pessoais: contos,
romances, este livro. Como também sou jornalista, escrevo muitas outras
coisas; na verdade, passo o dia inteiro presa à tela do computador, como
uma remadora acorrentada ao remo. Mas o jornalismo pertence ao meu ser
social, ao contrário da narrativa, que é uma atividade íntima e essencial.
Quando faço jornalismo, portanto, estou trabalhando. Jamais diria: "Ontem
reservei o dia inteiro para escrever" se quisesse me referir a uma entrevista
ou um artigo.
O caso é que ontem pretendia dedicar o dia à Louca da casa, e lambia os
beiços só de imaginar o monte de horas que ia poder lhe dedicar. Sentei em
frente ao computador por volta das dez da manhã, sem compromissos para a
hora do almoço, sem compromissos para a hora do jantar, sem precisar
fazer nada nem ir a lugar nenhum, tendo à disposição uma jornada longa e
limpa, perfeita para dedicar à escrita. Liguei o monitor. Ajeitei-me na
cadeira. De repente me ocorreu que fazia pelo menos dois meses que não
respondia às cartas recebidas na minha página da internet e abri a pasta
onde as guardo para dar uma olhada. Eram muitas, muitíssimas. Comecei a
responder.
As horas passaram. Só parei durante vinte minutos para comer alguma
coisa.
Retomei a tarefa. Terminei a correspondência lá pelas oito da noite,
esgotada, com dor de cabeça e o pescoço duro de tanto teclar. Liguei para
Carmen Garcia Mallo, uma das minhas melhores amigas, com o ânimo
sombrio e furibundo:
- Hoje eu queria escrever, tinha o dia todo para escrever, e desperdicei o
tempo respondendo e-mails.
-Porquê?
- Sei lá. Às vezes a gente evita começar o trabalho. É uma coisa esquisita.
- Por preguiça?
- Não, não. -Porquê?
- Por medo.
Não soube explicar, mas ontem, na desproteção extrema da noite, na
claridade alucinada da noite, enquanto me revirava na cama, entendi
exatamente o que queria dizer.
Por medo de tudo o que você deixa sem escrever uma vez que parte para a
ação.
Por medo de concretizar a idéia, de aprisioná-la, deteriorá-la, mutilá-la.
Enquanto permanecem no rutilante limbo do imaginário, enquanto são
somente idéias e projetos, seus livros são absolutamente maravilhosos, os
melhores livros que já foram escritos. E só depois, quando você os vai
cravando na realidade palavra por palavra, como Nabokov cravava suas
pobres borboletas na cortiça, é que se transformam em coisas
inevitavelmente mortas, em insetos crucificados, por mais que sejam
recobertos por um triste pó de ouro.
Há dias em que essa derrota da realidade pesa menos. De fato, há dias em
que você se sente tão inspirada, tão cheia de palavras e imagens, que
escreve com uma total sensação de leveza, escreve como quem sobrevoa o
horizonte, surpreendendo a si mesma com o que escreveu: então eu sabia
mesmo isso? Como fui capaz de redigir este parágrafo? Às vezes acontece
de você escrever muito acima da sua capacidade, de escrever melhor do que
sabe escrever.
E então não quer sair da cadeira, não quer respirar nem piscar nem muito
menos pensar, para que o milagre não se interrompa. Escrever, nesses
estranhos momentos de leveza, é como dançar uma valsa muito complicada
com alguém e dançá-la perfeitamente. Você gira e gira nos braços do
acompanhante, trançando passos intrincados e belíssimos com os pés
alados; e a música das palavras ressoa em seus ouvidos, e o mundo em
torno é um cintilar de lustres de cristal e castiçais de prata, de sedas
reluzentes e sapatos lustrosos, o mundo é uma voragem de brilhos e sua
dança está à beira da mais completa beleza, uma volta e mais outra e você
continua sem perder o compasso, é prodigioso, com todo o medo que você
tem de perder o ritmo, de pisar no pé dele, de ser novamente desajeitada e
humana; mas consegue dar mais um passo, e outro, e talvez outro, voando
nos braços da sua própria escrita.
Eu disse que nos momentos de graça você procura sobretudo não pensar,
porque, de fato, o pensamento racional e a consciência do eu destroçam a
criatividade, uma força que deve fluir tão livre como a água e abrir seus
próprios caminhos, sem que o conhecimento nem a vontade intervenham
nisso. Em seu interessante discurso de posse na Academia da Língua, a
historiadora Carmen Iglesias contou uma pequena fábula que reflete com
perfeição esse caráter inconsciente e autônomo que o impulso criativo
possui. Uma barata má e invejosa, irritada porque a centopéia tinha muito
mais patas que ela, disse um dia ao miriápode com malévola adulação:
"Que graça maravilhosa você possui ao caminhar, que coordenação incrível,
não sei como consegue se locomover tão sinuosa e facilmente com todas
essas patas, poderia me explicar como faz?" A centopéia, vaidosa, estudou-
se a si mesma e depois com toda boa vontade informou o procedimento: "É
muito fácil; basta mexer as cinqüenta patas do lado direito para adiante
enquanto mexe para trás, sincronizadamente, as cinqüenta do lado
esquerdo, e vice-versa". A barata fingiu admiração: "Que fantástico!
Poderia me fazer uma demonstração?" E a centopéia nunca mais conseguiu
se mexer.
A arte é iluminada pela mesma graça cega que fazia o pobre inseto
caminhar. É um dom que Rudyard Kipling chama de seu daimon, seu
demônio, mas trata-se de um desses demônios greco-romanos ou védicos
que são gênios tutelares, espíritos intermediários entre os humanos e o
além; e aconselha aos jovens escritores: "Quando seu daimon estiver no
leme, não tentem pensar conscientemente. Fiquem à deriva, esperem e
obedeçam." Como é evidente, Kipling de vez em quando também dançava
valsa furiosamente.
É isto que dá medo, é isto que apavora: começar a escrever e não conseguir
encontrar o seu daimon, imaginar que ele está dormindo, que foi viajar, que
ficou zangado com você, que não está com vontade de tirá-la para dançar.
Você tem medo de não poder se locomover nunca mais, feito a centopéia.
Às vezes você trabalha durante dias e dias, durante semanas, talvez durante
meses, na aridez da escrita como ofício, sem conseguir nem sequer um
pequeno sapateado, sem estremecer uma única vez ante a presença intuída
do belo. Nesses períodos amargos você tem que se arrastar diariamente até
o computador, puxando-se pelo pescoço como quem transporta um gatinho
para fora de casa; e é nessas horas que você sente que merece o céu da obra
terminada, porque evidentemente está atravessando o purgatório.
Entretanto, o maior medo não é do próprio mal-estar, nem da exaustão de
passar dias e dias sem poder desfrutar do seu trabalho. O que realmente
horroriza é o resultado desse trabalho, isto é, escrever palavras, mas
palavras ruins, textos inferiores à sua própria capacidade. Você tem medo
de esmigalhar sua idéia redigindo-a de maneira medíocre. Claro que pode e
deve reescrevê-la, consertar as falhas mais evidentes e até cortar partes
inteiras de um romance e voltar a começar. Mas uma vez que delimitou sua
idéia com palavras, você a manchou, puxou-a para a tosca realidade, e é
muito difícil tornar a ter a mesma liberdade criativa de antes, quando tudo
voava pelos ares. Uma idéia escrita é uma idéia ferida e escravizada a uma
certa forma material; por isso dá tanto medo sentar-se para trabalhar, porque
é uma coisa de certo modo irreversível.
Uma das experiências mais bonitas que já vivi ocorreu na Costa Oeste do
Canadá, perto de Vitória. Foi no começo de um mês de setembro, há mais
de dez anos. Dois alemães, Pablo e eu embarcamos numa pequena Zodiac
com capacidade para seis pessoas e fomos observar baleias no Pacífico. É
uma atividade turística que ganhou fama nessas águas, mas parece que
ultimamente o mar está tão repleto de gente que os cetáceos quase não se
aproximam mais da costa. Na época, entretanto, estávamos sozinhos.
Navegamos durante certo tempo até nos situarmos entre umas ilhotas; ali o
piloto desligou o motor e ficamos quietos, balançando feito bebês num mar
manso. Era uma manhã morna e luminosa, as ilhotas brilhavam de verdor
no horizonte e o silêncio pousava em nossos ombros como um véu,
magnificado pela lambida das águas na Zodiac ou pelo grito circunstancial
de uma gaivota. Permanecemos assim, sem nos mexer nem dizer uma
palavra, durante mais de quinze intermináveis minutos. E de repente, sem
nenhum aviso, aconteceu. Um estampido aterrador agitou o mar ao nosso
lado: era um jato d'água, o jato de uma baleia, poderoso, enorme,
espumante, uma voragem que nos encharcou e fez o Pacífico ferver em
torno de nós. E o ruído, aquele som incrível, aquele bramido primordial,
uma respiração oceânica, o alento do mundo.
Essa sensação foi a primeira: ensurdecedora, ofuscante; e imediatamente
depois emergiu a baleia. Era uma humpback, uma corcunda, uma das
maiores; e começou a surgir na superfície bem ao nosso lado, a apenas dois
metros da borda, porque os cetáceos são seres curiosos e querem investigar
os estranhos. E, assim, primeiro emergiu o focinho, que logo depois tornou
a se meter debaixo d'água; e depois veio deslizando todo o resto, numa onda
imensa, num colossal arco de carne sobre a superfície, carne e mais carne,
brilhante e escura, emborrachada e ao mesmo tempo pétrea, e num
determinado momento passou o olho, um olho redondo e inteligente que se
fixou em nós, um olhar intenso vindo do abismo; e depois desse olho
comovente ainda continuou passando muita baleia, um muro musculoso
eriçado de crustáceos e de algas barbadas, e ao final, quando já estávamos
sem fôlego diante da enormidade do animal, ergueu a toda altura aquela
cauda gigantesca e afundou-a com elegante lentidão na vertical; e em todo
esse deslocamento do seu corpo tremendo não fez qualquer marola, não
provocou a menor salpicadura nem emitiu nenhum ruído além do suave
cicio da sua carne monumental acariciando a água. Quando desapareceu,
imediatamente depois de ter mergulhado, foi como se nunca houvesse
estado ali.
O peruano Júlio Ramón Ribeyro diz que em certas ocasiões o escritor tem a
sensação de que suas melhores obras foram perdidas: "Lendo Cervantes há
pouco tempo, passou por mim um sopro que infelizmente não tive tempo de
captar (por quê? Alguém me interrompeu, o telefone tocou, sei lá), pois
lembro que me senti impulsionado a começar algo... Depois tudo se
dissolveu. Todos nós conservamos um livro, talvez um grande livro, mas
que no tumulto da nossa vida interna rara vez emerge, ou o faz tão
rapidamente que não temos tempo de arpoá-lo." Gosto desta frase porque
sempre pensei que, de fato, a visão da obra tem muito a ver com a visão
entrecortada, hipnótica e quase aniquiladora, de tão bela, daquela baleia do
Pacífico. com a escrita é a mesma coisa: muitas vezes você intui que o
segredo do universo está do outro lado
da ponta dos seus dedos, uma catarata de palavras perfeitas, a obra essencial
que dá sentido a tudo. Você está no próprio limiar da criação, e em sua
cabeça eclodem tramas admiráveis, romances imensos, baleias grandiosas
que só revelam o relâmpago do seu dorso molhado, ou melhor, fragmentos
desse dorso, pedaços dessa baleia, migalhas de beleza que permitem intuir a
beleza insuportável do animal inteiro; mas em seguida, antes de você ter
tempo de fazer alguma coisa, antes de poder calcular seu volume e sua
forma, antes de entender o sentido do seu olhar perfurante, a prodigiosa
besta submerge e o mundo fica quieto e surdo e tão vazio.

Cinco

Dissemos que o escritor devia ser como aquele menino que grita, durante a
passagem do cortejo real, que o rei está nu. Mas acontece que muitas vezes
não apenas não lhe ocorre dizer tal coisa, mas nem sequer é espectador. Às
vezes o escritor é um integrante da comitiva. Lá o vejo marchar, marcando
o passo de ganso, inflado de pompa e ostentação, embora em sua realidade
física não passe de um pateta. Mas como se incha quando desfila.
Todos os seres humanos passam a vida buscando o seu particular ponto de
equilíbrio com o poder. Não queremos ser escravos e de modo geral
tampouco queremos ser tiranos. Além disso, o poder não é um indivíduo,

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