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Tharso Peixoto Santos e Souza

Especialista em Psicodiagnóstico e Psicopatologia Infantil


Especialista em Clínica Psicanalítica com Crianças e Adolescentes
Mestre em Psicologia (processos de subjetivação)
▪ Existir como indivíduos e ter consciência disso guarda uma relação íntima com a
possibilidade de se reconhecer como sendo ser humano ele mesmo sujeito de suas
vivências, sabedor de que é uma unidade.

▪ A cultura, no entanto, é passível de mudanças, absorve conceitos, é formadora de outros


tantos e pode, assim, ir trabalhando a subjetividade dos membros de sua sociedade, numa
troca incessante, de forma dinâmica e dialética.

Sendo assim, o que podemos dizer das identidades hoje?


▪ Comunicação full time

▪ Acesso amplo à informação, que sempre se renova

▪ Espaços virtuais, a exposição ao olhar do outro, a primazia da imagem

A insuficiência dos instrumentos interpretativos do


sujeito;

Exigência de que o sujeito consiga subjetivar-se de


outras maneiras, um sujeito que seja consumidor de
coisas, de gadejts, de outros sujeitos e até de si mesmo.

HELSINGER, Natasha Mello. As mutações na cultura, no narcisismo e na clínica: o que muda e o que faz falar os pacientes limítrofes?. Cad. psicanal., Rio de Jeneiro , v. 36, n. 31, p. 69-93, dez. 2014 .
▪ Termo cunhado pelo filósofo francês Gilles Lipovestsky, que na década
de 70 compreendeu que o mundo vivia uma espécie de hipertrofia dos
valores modernos.

▪ Assim o termo ganhou notoriedade em 2004 com o lançamento de seu


livro “Os tempos hipermodernos”.

▪ Segundo o autor, a hipermodernidade é o momento histórico no qual a


modernidade é consumada e na qual se testemunha uma escalada aos
extremos que alteram o modo de construção do laço social
(LIPOVESTSKY, 2004).
▪ Trata-se de um tempo marcado por excessos, intensidades e urgências – tempo de
efemeridade e fluidez. Excesso que, na fluidez dos objetos, deixa o sujeito sempre vazio
de significado. Trata-se de um tempo em que os objetos não dão qualquer consistência e o
sujeito adentra a dimensão do gozo.

▪ O excesso, que já caracterizava o mercado do consumo na modernidade, ganha o prefixo


hiper, sem limites.

▪ Toma-se como exemplo a situação da exposição e da vigilância hoje: se por um lado


encontra-se a megaexposição dos corpos nas telas, por outro há a hipervigilância das
milhares de câmeras espalhadas pelas cidades, que vigiam os passos de todos. Afinal, os
novos sujeitos hipermodernos precisam se vigiar mutuamente, uma vez que o que está em
questão é a própria condição de existir no novo modelo de laço social: a existência de cada
um depende de se estar conectado ao outro.
Todos estes fatores ocasionam um retorno dos investimentos
psíquicos a si mesmo... de modo exacerbado. É a primazia do
individualismo.
▪ Vivemos hoje, na sociedade pós-moderna, um neonarcisismo
enquanto fenômeno social, implantado de forma implacável
na cultura, onde a lógica do individualismo foi levada ao
extremo e vem influenciando novas modalidades de ser.

▪ Nessa nova maneira da subjetividade o eu encontra-se numa


situação privilegiada com a exterioridade substituindo
cada vez mais a interioridade.

▪ Pela paralisia da história e da memória, perde-se o sentido do


tempo, perda essa marcada pela desvalorização cultural do
passado.

HELSINGER, Natasha Mello. As mutações na cultura, no narcisismo e na clínica: o que muda e o que faz falar os pacientes limítrofes?. Cad. psicanal., Rio de Jeneiro , v. 36, n.
31, p. 69-93, dez. 2014 .
O conceito de narcisismo foi reinterpretado por Freud, o primeiro que o descreveu
como uma patologia.

Nos anos setenta, o sociólogo Christopher Lasch transformou a doença em


norma cultural e compreendeu que a neurose e a histeria que caracterizavam as
sociedades do início do século XX tinham dado lugar ao culto ao indivíduo e à busca
fanática pelo sucesso pessoal e o dinheiro.
▪ A obra mais famosa de Lasch, The Culture of Narcissism: American Life in
a Age of Diminishing Expectations (1979), procurou relacionar a
hegemonia do capitalismo moderno a uma invasão de uma mentalidade
"terapêutica" na vida social e familiar.

▪ Os desenvolvimentos sociais no século 20 (por exemplo, a Segunda


Guerra Mundial e a ascensão da cultura do consumo nos anos
seguintes) deram origem a uma estrutura de personalidade narcisista:
medo de compromisso e relacionamentos duradouros, medo de
envelhecer e uma admiração sem limites pela fama e celebridade.

▪ Para o autor, a surgimento de uma cultura do narcisismo ocasionou a


irrupção de “terapias” de autoajuda, além de demonstrar que o apelo
ao individualismo revelava a ausência de uma individualidade profunda
e consistente.

▪ Foi também um crítico do progresso neoliberal.


▪ Vive-se uma intensa busca de prazer pessoal e um forte individualismo, com uma
direção marcadamente exibicionista e autocentrada, onde há uma descrença generalizada
nos valores tradicionais.

▪ Autocentramento: sem história, o outro e sua alteridade perdem seu valor, pois o espaço
intersubjetivo é esvaziado. O que é o outro neste contexto?

▪ A existência passa a ser marcada pela estética. Exalta-se o eu, valorizando-se uma nova
modalidade de sujeito fora-de-si. É o culto à exterioridade.
▪ As mídias e as redes: padrões de
comportamento, estilos de vida, fórmulas de
sucesso (conceito de). É preciso cultivar
esmeradamente a imagem, parecer bem,
triunfar e ter poder para brilhar no meio
social.

▪ Nesse contexto, individualismo e


performance ganham espaço. É o
desdobramento do que Debord, no final dos
anos 60, genialmente denominou de Cultura
do Espetáculo. De acordo com Debord o "o
espetáculo é a afirmação da aparência e a
afirmação de toda vida humana, socialmente
falando, como simples aparência”.
Leitura da matéria de El Pais:

Vivemos na era do narcisismo. Como sobreviver no mundo do eu, eu, eu.


Os comportamentos narcisistas nos rodeiam. Famosos que se exibem nas
redes sociais, a obsessão pelas ‘selfies’. Fala-se em epidemia, mas, é assim tão
preocupante?

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/03/cultura/1486128718_178172.html
Vídeo:
Narcisismo e a cultura da indiferença
[Christian Dunker]

https://www.youtube.com/watch?v=NSQeGip
n5Zw
▪ HELSINGER, Natasha Mello. As mutações na cultura, no narcisismo e na clínica: o que muda e
o que faz falar os pacientes limítrofes?. Cad. psicanal., Rio de Janeiro, v. 36, n. 31, p. 69-
93, dez. 2014.

▪ WANDERLEY, Alexandre. Narcisismo contemporâneo: uma abordagem laschiana. Physis,


revista de saúde coletiva, Rio de Janeiro, 9(2):31-47, 1997. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0103-73311999000200003

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