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Psicologia Social

e Comunitária

“Na América Latina, a expressão “Psicologia Comunitária” é empregada desde 1975, com o objetivo de
se fazer uma nova psicologia social, a partir da preocupação de alguns psicólogos de distintos países
latino-americanos com os escassos resultados sociais da psicologia social tradicional e por haver uma
grande necessidade de superar os grandes problemas socioeconômicos que ainda hoje afetam a região.
“O foco da Psicologia Social tradicional são os estudos de grupos, questões específicas de conduta, o
ajsutamento social, as atitudes, o estereótipos, as relações interpessoais etc.”

Psicologia Comunitária é uma parte, um ramo de especialização da Psicologia Social


A psicologia social e comunitária tem como objetivo focar nos grupos que mais sofrem com as diferenças
socioeconômicas.

➜ Os modelos tradicionais (Americanos) são distantes dos problemas da América Latina.


Havia a naturalização dos fenômenos sociais. Baseada no modelo Americano, que não considerava a
nossa realidade. Uma corrente da Psicologia Social contrapôs aos modelos clássicos da área
(universalização, ahistoricização, descontextualização e descompromisso com os problemas concretos
da população). Desconsiderava-se o impacto do ambiente externo na consciência

➜ Surge então, na década de 80, um movimento que questiona essas posturas/concepções.


Um grupo de psicólogos que defendiam a diversidade cultural, cada país era diferente.
Formado por nomes como: Martin Baró, Silvia Lane, Maritza Monteiro, entre outros.
Este grupo preocupou-se com uma relação mais ativa dos psicólogos nas realidades socioeconômicas
de seus países e contribuíram com o esforço de delinear e objetivar o campo da psicologia comunitária.
Buscava compreender os fenômenos dos grupos a partir da sociedade/realidade brasileira.

❗ Críticas feitas pelo grupo sobre a Psicologia Social que existia na época:
● Universalizava conceitos
● Desconsiderava a perspectiva sócio-histórica
● Não tinha compromisso com a realidade do país
● Importação dos modelos da América do Norte (modelo tradicional de Psicologia Social)

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Luciana Supino - 8º Semestre - Psicologia Social e Comunitária
Dois modelos básicos, dois caminhos para se atuar com grupos minoritários:
● Modelo Sócio comunitário (predominante influência da psicologia social)
Atua com o grupo em si.
● Modelo Clínico comunitário (influência da saúde mental)
Olha para o indivíduo, mas sem esquecer do contexto em que está inserido.

Referencias da Psicologia Social


Pilares importantes na articulação da área

✦ A teologia da libertação (Leonardo Baff)


Igrejas católicas que eram adeptas tinham grupos de jovens que ajudavam a população carente,
conversando e dialogando com essa população.

✦ A “Cultura da pobreza” (Oscar Louis)


Como é a cultura dos grupos minoritários, excluídos da sociedade

✦ Pedagogia do Oprimido (Paulo Freire)


Alfabetizava o indivíduo em poucos meses

✦ Saúde Mental Comunitária


Como trabalhar, considerando o contexto, cultura, ideologia

Surge então uma nova Psicologia Social: Mais crítica, especializada, comprometida, preocupada com
os problemas sociais.

Objetivos
● Desenvolvimento dos moradores da sociedade como sujeitos da comunidade (empoderamento,
potencialização, desenvolvimento humano)
● Participação mais ativa na sociedade da qual pertence.
A psicologia social e comunitária compreende hoje um conjunto de concepções relevantes para o
esforço de delinear seu campo de análise e aplicação.

➜ Procuraresolver problemas sociais, ao invés de particulares de cada indivíduo.


➜ Preocupa-se com as “implicações psicológicas das estruturas sociais”
➜ Elementos que definem: relatividade cultura, diversidade e a ecologia.

● Psicologia Comunitária está centrada em dois grandes modelos: o desenvolvimento humano e o da


mudança social (busca de alternativas sociopolíticas). Nestes modelos está presente o reconhecimento
da capacidade do indivíduo e da própria comunidade de serem responsáveis e competentes na
construção de suas vidas.
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Luciana Supino - 8º Semestre - Psicologia Social e Comunitária
Texto: “Psicologia da Libertação”
Processo de conscientização:
● É um processo humano (único animal) ● Da alienação → a visão crítica
● Ponto de saída: Visão ingênua da realidade, ● Processo de desvelar a realidade, fazer a
alienada leitura miais crítica do mundo
● Ponto da chegada é uma visão crítica ● Só acontece no ato não reflexão

Conscientização é...
● Um processo que transforma o mundo
● Ser humano consciente é sujeito que faz e refaz o mundo
● Exige que o ser humano crie a própria existência (com o material que a vida lhe oferece)
● Nova realidade (percebida por meio da reflexão crítica) não é imutável
● A nova realidade também deve ser alvo de nova reflexão

Processo de educação leva a conscientização


Possibilita que a pessoa deixe de ver uma realidade codificada para uma realidade decodificada (sem
os véus que escondem a realidade):
Pressuposto 1 - A educação libertadora não é bancária: alguém passa outros recebem).
Pressuposto 2 - O homem como um ser inconcluso, consciente de sua conclusão, e seu permanente
movimento de busca do “ser mais”.
Pressuposto 3 - Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si,
mediatizados pelo mundo. Processo dialógico.
Pressuposto 4 - Ação dialógica, as rodas de conversa.

➜ Conceito de comunidade foi se modificando ao longo da história.


A comunidade na história do pensamento social aparece e desaparece: dependendo do momento
político que está sendo vivido, esse conceito adquire ou perde força.
➜ Final do século 20, a comunidade é vista como utopia: Lugar onde só se pratica o bem, onde de
atinge a perfeição.

Iluminismo – século XVIII e XIX (John Locke pai do iluminismo)


- Corrente da filosofia que tem como principais expoentes: Voltaire, Rousseau e Montesquieu
- Preconiza a sociedade baseada no contrato entre homens livres: contrato social
➜ Nessa época ocorre uma hostilidade intelectual à comunidade, porque o iluminismo preconiza a
sociedade de indivíduos livres e não de grupos. A comunidade estava associada ao sistema feudal, as
corporações, comunidades de camponeses = era uma imagem ruim, promovia uma desigualdade muito
grande. “Desejo de destruir a ordem feudal injusta”.

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➜ Até aqui, comunidades eram associadas a algo ruim, a pobreza da época do feudalismo. A medida
em que aparece a ideia de um capitalismo ocidental, reaparece a utopia comunitária.

No Século XIX
➜ Reação intelectual e busca da recuperação da ideia de comunidade – modelo de boa sociedade.
Comunidade torna-se o centro do debate da modernidade

As diversas visões sobre a sociedade


Na religião - Ideia de comunidade surge com movimento contra a pastoral individualista e a teologia
racionalista de Lutero e Calvino.

Na filosofia – Crítica ao racionalismo utilitário, ao igualitarismo da revolução francesa (como se todos


tivessem as mesmas oportunidades)
Hegel vê a sociedade e o estado como um conjunto de comunidades: família, comunidade local, classe
social, igrejas, escolas...

Na sociologia - estabelece o contraste entre comunidade e sociedade.


Comunidade: Sangue, lugar e parentesco, vizinhança, amizade, trabalho e crença comuns. Amor,
lealdade, honra e amizade. – Cooperação.
Sociedade: Nada de positivo do ponto de vista moral, homens vinculados mais divididos, atividade
aquisitiva e ciência racional. Sua base é o mercado, a troca e o dinheiro. – Competição.

Para Max Weber a relação é comunitária e associativa:


● Comunitária: relação baseada no sentimento subjetivo de pertencer. (família, vizinhança, comunidade
religiosa...)
● Associativa: compromisso de interesse motivado racionalmente. (um trabalho que não se identifique
muito, mas precisa dos recursos)

Conceito de comunidade na Psicologia


➜ Inicia-se na década de 1970 com a introdução da psicologia comunitária.
Na psicologia social tradicional o conceito de comunidade não aparece, é substituído pelo conceito de
grupo e de interação social que se tornam dominantes, principalmente na psicologia social americana.

“A diferença entre comunidade e grupo era dada pelo simbolismo do


primeiro que denotava a legitimidade da prática psico social com
instancias como estado, sindicato, movimentos revolucionários”.
(Sawaia, 1996)

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Psicologia Social tradicional
Demonstração prática da legitimidade da prática psicologia social em associações como: estado,
sindicato e movimentos revolucionários.
Conceito de comunidade na psicologia entrou pela área clínica: através da humanização do
atendimento ao doente mental.

“Na década de 1970, sob influência da matriz marxista, surgiu um movimento de crítica que entendeu
a Psicologia Comunitária como área de conhecimento científico não elitista, a serviço dos mais pobres,
excluídos para superar a exploração e a dominação.” (Sawaia, 1996)
Nessa fase, psicólogo social passou a ser um “militante”, tinha o objetivo de transformação social,
tomada de consciência de si no mundo, da exploração e da alienação.

Nesse contexto, a comunidade passou a ser entendida como:


● Lugar que reúne pessoas da classe trabalhadora.
● Lugar na negação da exclusão do capitalismo.
● Ação conjunta que implica numa rede de sociabilidade baseada na relação de cooperação e
solidariedade.
● Lugar de lealdade, amizade e honra.

A comunidade é...
● Um rompimento com a dicotomia clássica entre coletividade e individualidade, ser humano genérico
e ser humano particular... espaço privilegiado da passagem da universalidade ética humana à
singularidade do gozo individual
● Capaz de dar sustentação a formas coletivas de luta pela libertação de cada um e igualdade de
todos.
● Incentivo a prática da comunicação livre, onde todos participam com igual poder e competência
argumentativa
● Encontra seu fundamento na visão do homem como totalidade e não neste ou naquele papel que
possa desempenhar na ordem social.

“Comunidade: do que se trata?”


Instituição - tudo que de alguma forma se tornou instituído.
↳ São manifestações e concretizações da realidade da vida em sociedade.
A vida em sociedade só acontece por meio das instituições das quais as pessoas pertencem.

As instituições:
● Impõe costume;
● Transmite valores;
● Estabelecem limites;

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● Produzem coisas para sociedade e protegem as pessoas que fazem parte delas.
● São espaços de mediação entre o indivíduo e a vida coletiva. O indivíduo participa da vida coletiva
através de uma instituição.
● Também é um lugar do conflito, que é inerente a vida do indivíduo

➝ Comunidades também são instituições.


➝ Menino de rua também é uma instituição, é algo que está posto na sociedade.
➝ Igrejas, escolas, casamento... tudo isso também são instituições.

Quando a psicologia entra em uma comunidade, existe uma comunicação de dois polos institucionais.
Como a psicologia social enxerga as instituições denominadas pobres, grupos excluídos?
1 - Objeto de pesquisa complexo
2 - Possuem um sistema simbólico que dá a comunidade um sentido social
3 - Como influenciadas por um imaginário social, que produz e é produzido pelo imaginário individual.

Dimensões da comunidade no olhar da psicologia social (comunidade enquanto instituição):


● Possui espaço social simbólico. Regra e códigos de convivência.
● Possui um imaginário, representações que também são olhados pela psicologia social
● Tem uma identidade instituída com base em uma lei que é dela.
● Tem aspectos psicológicos a serem compreendidos (grupais e individuais)
● Entende que a comunidade transmite um saber que é próprio, ligado ideologias e valores.

Duas formas de realizar investigação social/organizacional:


1. Metodologicamente precisa, mas irrelevante para as especificidades da realidade social e das
organizações;
2. Crucialmente relevante, mas frequentemente considerada vaga para ser publicada e
legitimada por outros.

Artigo: Psicologia e Desigualdade Social: Uma reflexão sobre liberdade e transformação social
Bader Burihan Sawaia
Por trás de toda desigualdade social há:
Medo, sofrimento e humilhação. Mas ao mesmo tempo em que sentem tudo isso, essas pessoas também
desejam ser felizes.

Qual a contribuição da psicologia para diminuir a desigualdade social


● Tem de resguardar essa dimensão humana nas análises e intervenções sociais.
Não podemos esquecer que essas pessoas desejam a felicidade. Não perderam a capacidade de sonhar
É importante não perder a dimensão humana em qualquer intervenção que forem realizar
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● Desmentir as clássicas imagens de que os desvalidos se contentam em se conservarem vivos.
Visão falsa. Todos possuem sonhos
● Colaborar com o aperfeiçoamento de políticas sociais, evitando mecanismos de inclusão que sejam
perversos.
Como por exemplo: asilos, manicômios etc.

➜ Cabe ao profissional também contribuir para o empoderamento dessas pessoas. Sintam-se que tem
voz para defenderem suas histórias.
➝ Subjetividade determinando desigualdade
Os homens comportam-se sempre me maneira egoisticamente racional. Visam apenas seus interesses.
Afetividade é a base da organização social. (motivação que leva sujeito a correr atras do que decidiu)
➝ Desigualdade determina Subjetividade
Subjetividade não existe como objeto de estudo. Não é observável e nem mensurável.
Individuo não consegue mudar sua realidade sozinho.

Final século XI9, início do Século XX


Subjetividade, seja determinante, seja determinada, é sempre vilã, a que explica a desigualdade e
funciona como obstáculo para qualquer ação transformadora.
Assim, deve ser: Controlada e disciplinada.

No campo da Psicologia, os profissionais possuem o propósito de assegurar a presença da subjetividade


na análise das questões sociais como um saber militante:
● Na atuação em comunidade
● Em movimentos sociais
● Em políticas públicas de saúde e de assistência social
● Bem como em outras ações de caráter coletivo
Mas, enfrentam dificuldades geradas pela falta de referencial analítica que oriente as práticas
emancipatórias.

➜ Psicologia cada vez mais sendo chamada a participar das políticas públicas, assistência social, no
sentido de empoderamento das comunidades.

➜ Por trás desse debate está a falsa dicotomia entre objetividade e subjetividade
Homem é totalmente influenciado pela sociedade, ou por outro lado que ele que puxa a sociedade =
são dicotomias que precisam ser superadas.

Psicologia sócio-histórica:
Analisa relação entre subjetividade e desigualdade, procurando romper a dualidade social/singular.
Por trás da desigualdade social existe VIDA.
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Com base em Vigotiski e Espinosa
● A emoção e a criatividade são dimensões ético-políticas da ação transformadora, de superação da
desigualdade.
A ação transformadora, que leva uma mudança, também tem um combustível relacionado a emoção e
criatividade, que fazer parte de uma transformação ética e política
● Trabalhar com elas não é cair na estetização das questões sociais, ou solipsismo.

➜A grande questão da filosofia de Espinosa é a servidão humana em todas as suas formas.

➜ Não se destrói a tirania eliminando o tirano, é preciso mudar a cabeça das pessoas, para que elas
não continuem a lutar por um tirano que não faça nada por elas.
É preciso destruir as relações que sustentam a servidão

A contribuição de Espinosa e Vigotski para a compreensão e à práxis psicossocial transformadora,


é a compreensão de que:
● Desigualdade social é uma ameaça permanente a existência
● Desigualdade social cerceia a experiencia, a mobilidade, a vontade e impõe diferentes formas de
humilhação
● Produz sofrimento e tristeza
● Bloqueia o poder do corpo de afetar e ser afetado.
● Rompe nexos entre mente e corpo
● Rompe nexos entre funções psicológicas superiores e a sociedade
● Tudo isso gera reação e não ação, sofrimento, negação da vida.

As propostas
➜ A filosofia de Espinosa orienta os seres humanos a se livrarem da servidão por meio da permissão a
sentir o afeto, a emoção. “potencializar a liberdade humana”.
➜ Vigotski e sua prática da liberdade, felicidade, criação e fruição do belo.

A colaboração da psicologia estaria relacionada a tomarmos contato com seus afetos e emoções
de modo que essa clareza sobre o que sinto, potencializa minha liberdade e transformação.

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