Você está na página 1de 16

PSICOLOGIA COMUNITÁRIA

Prof. ROBENILSON BARRETO


PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Estudos empíricos)

▪ A princípios do século XX, estudos de comunidades rurais


afetadas pela industrialização rápida (indústrias e fazendas
modernizadas), mostraram como consequência desse fato um
fluxo migratório campo-cidade (substituição do trabalho
agrícola pelo fabril), desajustes sociais e econômicos,
desorganização e desintegração de comunidades inteiras e a
decadência de suas instituições básicas. Desses estudos surgiu
um novo ramo da Sociologia – a Sociologia Rural (Souza
Martins, 1986; Rios, 1987).
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções teóricas)
▪ a. Há distinção entre sociedade e comunidade (TÖNNIES, 1887);
▪ b. A comunidade é um tipo de estrutura centrada na coesão,
amizade e em relações de solidariedade orgânica. Possui um papel
importante no desenvolvimento do indivíduo (DURKHEIM, 1898);
▪ c. A comunidade se caracteriza por um sentimento subjetivo dos
partícipes de constituir um todo. Existem dois tipos de
agrupamentos sociais: o comunitário e o associativo (WEBER,
1917);
▪ d. O tema da Ecologia Social e os atributos essenciais ao conceito
de comunidade, como base territorial e relações orgânicas,
espontâneas, de nível primário, passam a ser destacados (ALIHAN,
1938).
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Estudos empíricos)

▪ f. Estudos de ecologia social da Escola de Chicago constataram


que as taxas mais elevadas de problemas psicológicos estavam
nas comunidades caracterizadas por desorganização social e
incidência de imigrantes (FARIS e DUNHAM, 1939);

▪ g. Há uma preocupação pela desintegração social de grupos


primários e das comunidades, gerando o individualismo, o
desenraizamento, o desamparo social, a anomia, a alienação e
a ausência de sentimento de pertença social (NISBET, 1953).
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)
▪ Hoje em dia, frente ao crescente número de publicações na área,
estamos mais próximos de uma concepção geral de Psicologia
Comunitária (SPEER et al, 1992), de sua especificidade. Inúmeros
autores caminham para uma convergência e aqui vale a pena destacá-
los em razão de suas contribuições ao longo do tempo:
▪ Newbrough, 1973; Murrell, 1973; Sarason, 1974; Rappaport, 1977;
Mann, 1978; Goodstein e Sandler, 1978; Zax e Specter, 1974; Marin,
1980; Montero, 1982; Abib Andery, 1981; Bloom, 1973, 1977; Irizarry
Rodrigues, 1984; Góis, 1984, 1988; Lane, 1984, 1989; García González,
1989; Bomfim, 1989; Martín González et al, 1989; Serrano Garcia e
Rivera Medina, 1991; Sánchez Vidal, 1991, 1996; Freitas Campos, 1996;
e Quintal de Freitas, 1996a.
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)
▪ Bloom – “A Psicologia Comunitária é o campo da Psicologia que tenta
resolver os problemas sociais em lugar dos problemas particulares de
cada indivíduo. (...) Campo conceitual e acadêmico centrado na análise
e modificação dos sistemas sociais e na confrontação das questões
sociais do ponto de vista da Psicologia” (1973:393).

▪ . Newbrough – “A Psicologia Comunitária constitui um campo da


Psicologia que tenta integrar o conhecimento através de outras linhas
disciplinares, visando desenvolver uma teoria geral e unificada da
conduta humana” (1973:202). Para o autor, a Psicologia Comunitária se
preocupa com as “implicações psicológicas das estruturas sociais”.
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)
▪ Rappaport – “Os elementos que definem a Psicologia Comunitária são
a relatividade cultural, a diversidade e a ecologia: a interação entre
pessoas e ambientes. (...) se ocupa do bem-estar das distintas sub-
comunidades dentro da ordem social mais ampla” (1977:2 e 3).

▪ Abib Andery – “Cabe à Psicologia na Comunidade trabalhar nos


indivíduos e grupos a visão de mundo, a auto-percepção de pessoas e
grupos; reexaminar hábitos, atitudes, valores e práticas individuais e
coletivas, familiares e de grupo, no sentido de uma consciência mais
plena de classe e de destino” (1984:207 e 208).
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)
▪ Sánchez Vidal – “É o campo de estudos da relação entre sistemas
sociais – principalmente comunidades – e comportamento humano e
de sua aplicação na (no negativo) resolução – preferentemente
preventiva – dos problemas psicossociais e (no positivo) do
desenvolvimento humano integral, a partir da compreensão dos
determinantes sócio-ambientais de ambos, através da modificação
racional e informada desses sistemas sociais, das relações
psicossociais neles estabelecidas e do desenvolvimento da
comunidade. Tudo isto, desde a máxima mobilização possível dos
próprios afetados como sujeitos ativamente participantes nas
mudanças, não como objetos passivos delas” (1991:131).
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)
▪ Montero – “Se trata de uma psicologia da ação para a mudança, na
qual os atores principais são as pessoas comuns e correntes em seu
cotidiano e o psicólogo é um facilitador, não o condutor dessa
mudança” (1994:17).

▪ Quintal de Freitas – “A psicologia (social) comunitária utiliza o


enquadre teórico da psicologia social, privilegiando o trabalho com os
grupos, colaborando para a formação da consciência crítica e para a
construção de uma identidade social e individual orientadas por
preceitos eticamente humanos” (1996a:73).
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)
▪ A Psicologia Comunitária, cada vez mais, segue tendo uma especial
preferência por aqueles grupos e comunidades mais carentes, mais
privados, mais afastados dos serviços de saúde. Não se trata de uma
preferência instalada sobre algum principio teórico decisivo, senão
sobre duas convicções amplamente corroboradas: são as classes e
grupos mais desfavorecidos étnica, cultural e socialmente os que
menos recursos possuem (nível educativo mais baixo, hábitos
alimentares menos sadios, habitat muito pequeno e deteriorado,
recursos econômicos mais reduzidos, menor acesso à informação,
maior incidência de castigos sociais, etc.) e tudo isto conduz com maior
probabilidade a que as consequências de seu meio ambiente possam
ser mais danosas. Acrescente-se a isso uma menor disponibilidade
econômica para fazer frente a esses supostos e prováveis perigos
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)
▪ Serrano-García e Vargas Molina (1992) consideram que os trabalhos
em Psicologia Comunitária podem ser compreendidos a partir de dois
modelos básicos: o clínico-comunitário e o sócio-comunitário. O
primeiro fundamenta-se no ponto de vista da Saúde Mental
Comunitária, enquanto o segundo enfoca a Psicologia Comunitária a
partir de uma visão sócio-política dos problemas sociais e humanos.
▪ Por outro lado, consideramos que a Psicologia Comunitária está
centrada em dois grandes modelos: o do desenvolvimento humano e o
da mudança social (busca de alternativas sócio-políticas), os quais
partem de uma visão positiva da comunidade e das pessoas.
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
(Concepções)

▪ Os Psicólogos Comunitários dos países do Hemisfério Sul carregam o


peso de uma longa história de colonização, de governos autoritários,
de exploração e de miséria, até hoje, enquanto os Psicólogos
Comunitários dos países do Norte, não. São razões fortes para que o
modelo sócio-comunitário (ou sócio-político) e concepções baseadas
nas condições de opressão, exploração e miséria da maioria de nossa
população sejam predominantes na Psicologia Comunitária latino-
americana.
CONCEPÇÃO DE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA (GÓIS)
▪ a. Uma área da Psicologia da Libertação;
▪ b. Voltada para a compreensão da atividade comunitária como
atividade social significativa (consciente), própria do modo de vida
(objetivo e subjetivo) da comunidade e que abarca seu sistema de
significados e relações, modo de apropriação do espaço da
comunidade, a identidade pessoal e social, a consciência, o sentido de
comunidade e os valores e sentimentos aí implicados;
▪ c. Tem por objetivo a construção do sujeito da comunidade, mediante
o aprofundamento da consciência (reflexivo-afetiva) dos moradores
com relação ao seu modo de vida e ao modo de vida da comunidade;
▪ d. Através de um esforço interdisciplinar voltado para a organização e
CONCEPÇÃO DE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA (GÓIS)
▪ Podemos dizer que a Psicologia Comunitária estuda o modo de vida da
comunidade e do município e de como este se reflete e muda na mente de
seus moradores para, de novo, surgir transformado, singularizado, em suas
atividades concretas no dia-a-dia do lugar. Significa, também, compreender
as necessidades dos moradores e o compromisso que o Psicólogo
Comunitário tem com a coletividade que estuda e/ou atua.
▪ O problema central, então, não é a relação entre saúde e enfermidade,
prevenção e tratamento, mas sim a construção do morador e do Psicólogo
Comunitário como sujeitos da realidade (VYGOTSKI, 1983; LANE, 1984). No
caso do morador, sujeito da comunidade (GÓIS, 1989, 1993a), isto é, aquele
que se descobre (compreende e sente) responsável por sua história e pela
história do lugar, e que as constrói mediante sua atividade prática e coletiva
no mesmo espaço físico-social em que vive e faz história de sofrimento, luta,
encontro, realização e esperança.
CONCEPÇÃO DE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA (GÓIS)
▪ Reconhecemos que nossa concepção de Psicologia Comunitária
contém, também, valores arraigados nas ciências sociais acerca do
desenvolvimento humano e social em nosso país, valores baseados na
história, no sofrimento e miséria de nosso povo, bem como numa
ideologia de mudança social radical.
▪ O sentido último da Psicologia Comunitária, a nosso ver, é a contínua
busca da humanização por parte dos moradores de uma comunidade,
pois esta nos parece ser a vocação ontológica do sujeito por
reconhecer-se incompleto e capaz de superar-se como ser humano que
de fato é (FREIRE, 1980).
CONCEPÇÃO DE PSICOLOGIA COMUNITÁRIA (GÓIS)

▪ Por fim, quando problematizamos a Psicologia Comunitária na


América Latina e a Psicologia em geral, no sentido da libertação, é por
entendermos que o esforço que o indivíduo realiza para se tornar
sujeito da realidade se dá em um contexto de dominação e exploração.
Aqui, não cabe a palavra liberdade, um valor burguês, das elites
dominantes; por isso a palavra libertação, que implica, como já
dissemos, a práxis libertadora.

Você também pode gostar