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1. PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
Existem controvérsias em vários aspectos da formulação histórica,
teórica e prática da Psicologia Comunitária; estas vão desde sua origem até
seus modelos de explicação e de ação. Facilmente se vê nas publicações da
área essa questão.
Mencionamos o fato, não para debatê-lo, pois nossa pretensão é
apresentar a história convencionalmente mais aceita e concepções mais
amplamente consideradas pela maioria dos Psicólogos Comunitários dos
Estados Unidos, Espanha, América Latina e Brasil.
Tentaremos, também, situar a Psicologia Comunitária na América
Latina e no Brasil, enfatizando a importância de seus contextos históricos,
culturais, sociais e econômicos, por considerá-los essenciais na compreensão
do por que é predominante o enfoque sócio-político na Psicologia Comunitária
latino-americana. Além disso, apresentaremos uma concepção desenvolvida
por nós e que serve de base aos estudos e práticas de Psicologia Comunitária
na Universidade Federal do Ceará e nos trabalhos nas comunidades e
municípios que assessoramos nas áreas de planejamento social e
desenvolvimento comunitário.
1.1. ORIGEM
A Psicologia Comunitária teve sua origem nos movimentos sociais
comunitários (sobretudo no de saúde mental) de distintos países da América e
Europa. Porém, a adoção formal do termo, aceita por boa parte dos Psicólogos
Comunitários, aconteceu durante a Conferência de Swampscott, um distrito de
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Vertentes
1. Concepções teóricas e estudos empíricos de comunidade
Algumas das concepções e estudos sobre comunidade merecem
destaque, em virtude da importância que adquiriram no âmbito de influência
que levou ao aparecimento da Psicologia Comunitária.
Concepções teóricas
a. Há distinção entre sociedade e comunidade (TÖNNIES, 1887);
b. A comunidade é um tipo de estrutura centrada na coesão, amizade e
em relações de solidariedade orgânica. Possui um papel importante
no desenvolvimento do indivíduo (DURKHEIM, 1898);
c. A comunidade se caracteriza por um sentimento subjetivo dos
partícipes de constituir um todo. Existem dois tipos de agrupamentos
sociais: o comunitário e o associativo (WEBER, 1917);
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Estudos empíricos
e. A princípios do século XX, estudos de comunidades rurais afetadas
pela industrialização rápida (indústrias e fazendas modernizadas),
mostraram como conseqüência desse fato um fluxo migratório
campo-cidade (substituição do trabalho agrícola pelo fabril),
desajustes sociais e econômicos, desorganização e desintegração de
comunidades inteiras e a decadência de suas instituições básicas.
Desses estudos surgiu um novo ramo da Sociologia – a Sociologia
Rural (Souza Martins, 1986; Rios, 1987).
f. Estudos de ecologia social da Escola de Chicago constataram que as
taxas mais elevadas de problemas psicológicos estavam nas
comunidades caracterizadas por desorganização social e incidência
de imigrantes (FARIS e DUNHAM, 1939);
g. Há uma preocupação pela desintegração social de grupos primários e
das comunidades, gerando o individualismo, o desenraizamento, o
desamparo social, a anomia, a alienação e a ausência de sentimento
de pertença social (NISBET, 1953).
5. Movimentos Sociais
A partir da década de 50, o contexto internacional mudou como
conseqüência de alguns fatores: novo quadro geopolítico mundial (“guerra
fria”); desenvolvimento do capitalismo nos Estados Unidos; recuperação da
União Soviética no pós-guerra mundial; Revolução Chinesa, lutas de
independência na África, Ásia e América; Revolução Cubana; ascensão e
fortalecimento do poder sindical; e expansão dos partidos comunistas e
socialistas no mundo.
A luta pela autodeterminação dos povos e pela participação popular era
cada vez maior. A população pobre do mundo, os trabalhadores, uma parte da
classe média, os negros (principalmente nos Estados Unidos e África do Sul),
os povos colonizados, os jovens, todos eles pressionavam as estruturas de
poder dominante, exigiam seus direitos e melhores condições de vida.
Sindicatos, associações, movimentos de intelectuais e de massa, em todos os
continentes, lutavam contra a pobreza e a miséria, contra as guerras, contra o
racismo, em defesa da liberdade, dos direitos humanos, por sociedades justas e
democráticas, pela autodeterminação dos povos.
Esses movimentos, assim como os movimentos de libertação contra o
imperialismo e o capitalismo (Gandhi, Lumumba, Che Guevara, Fidel Castro,
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U.S.A. e Europa o desemprego estava em seus níveis mais baixos, era a época
de ouro do Estado do Bem-Estar (Welfare State) e do nascimento de um novo
tipo de movimento social, baseado na ética, nos direitos humanos e na
ecologia. A luta de classes parecia desaparecer das discussões políticas em
função do crescente aumento da distribuição da riqueza nos países ricos.
Mesmo havendo mais emprego e dinheiro, os movimentos sociais
continuavam a pressionar os Estados e seus governos, pois queriam mudanças
sociais profundas (movimento “hippie”, direitos civis dos negros
estadunidenses e da África do Sul, movimento pela paz e contra a guerra no
Vietnam, reação dos jovens à cultura autoritária e conservadora, trabalhadores
exigindo participação na formulação das políticas trabalhistas e na economia,
etc.). Maio de 1968 converteu-se em marco dessas lutas e de expressões tais
como “paz e amor”, “proibido proibir” e “aliança operário-estudantil-
camponesa.”
As lutas sociais das décadas de 50 e 60 exerceram notável influência no
meio intelectual, científico e profissional dos países tanto do Norte como do
Sul, contribuindo assim para o desenvolvimento de novos paradigmas e
concepções acerca do ser humano e da sociedade nas ciências humanas e
sociais. A Filosofia, a Sociologia e a Psicologia, além da Educação, da
Psiquiatria e do Serviço Social, adotaram novas posturas frente à realidade
social e humana. Surgiram práticas de desenvolvimento social e humano
baseadas em maior compromisso com as minorias e com os excluídos sociais
(integração entre ciência, ética e compromisso social).
Dentre as contribuições importantes temos os estudos sobre psiquiatria
democrática participativa (FANNON, 1952, 1961), pesquisa-participante
(FALS BORDA, 1959, 1978, 1992) e educação como prática de libertação
(FREIRE, 1963, 1968, 1980, 1992).
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1.2. CONCEPÇÕES
Hoje em dia, frente ao crescente número de publicações na área,
estamos mais próximos de uma concepção geral de Psicologia Comunitária
(SPEER et al, 1992), de sua especificidade. Inúmeros autores caminham para
uma convergência e aqui vale a pena destacá-los em razão de suas
contribuições ao longo do tempo: Newbrough, 1973; Murrell, 1973; Sarason,
1974; Rappaport, 1977; Mann, 1978; Goodstein e Sandler, 1978; Zax e
Specter, 1974; Marin, 1980; Montero, 1982; Abib Andery, 1981; Bloom,
1973, 1977; Irizarry Rodrigues, 1984; Góis, 1984, 1988; Lane, 1984, 1989;
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García González, 1989; Bomfim, 1989; Martín González et al, 1989; Serrano
Garcia e Rivera Medina, 1991; Sánchez Vidal, 1991, 1996; Freitas Campos,
1996; e Quintal de Freitas, 1996a.
3. ATIVIDADE HUMANA
perguntas que fez frente à crise da Psicologia na União Soviética dos anos 20,
dando a partir daí um rumo novo e revolucionário a suas pesquisas, iniciadas
em 1924 com o informe sobre “Métodos de pesquisa reflexológica e
psicológica”, e finalizadas com sua morte em 1934, ano em que publicou o
informe sobre “Problemas de desenvolvimento e destruição das funções
psicológicas superiores”. Foram questões que marcaram sua breve e bem
sucedida carreira de pesquisador, voltada para a construção de uma nova
ciência psicológica que, também, estivesse voltada para a solução dos graves
problemas sociais e humanos existentes em seu país.
Seus trabalhos continuam atuais e, ainda hoje, orientam linhas e
programas de pesquisa na própria Rússia, bem como na Europa, Estados
Unidos e América Latina.
Vygotski desenvolveu um exigente, audacioso e criativo plano de
pesquisa com base em determinadas questões que, ao longo de seu trabalho de
investigação, sempre o direcionou através de um método de pesquisa inovador
(genético-experimental), cujo foco é o desenvolvimento dos processos
psicológicos e não somente a compreensão dos seus estágios em um
determinado momento. Por isso as suas indagações, dentre elas as que se
seguem:
4. CONSCIÊNCIA PESSOAL
Ao trabalhar o tema da consciência pessoal, o que pretendemos é
relacioná-la com a atividade comunitária. Para isto, neste capítulo,
apresentaremos a consciência a partir de uma visão mais geral, passando pela
Psicologia e por concepções presentes na Teoria Histórico-Cultural da Mente e
na Educação Libertadora, até chegar ao que compreendemos acerca da
consciência. Trataremos, também, da Análise do Discurso como um método
objetivo importante para o estudo da consciência pessoal.
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Diálogo e Problematização
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