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Psicologia

e
Comunidade
Prof Juliana Cintra
Psicologia
comunitária
Seção 1.1 - Contexto de formação da psicologia
comunitária como campo de conhecimento da psicologia
a Psicologia Comunitária surgiu, a partir do seu
contexto histórico e das discussões que
aconteciam no campo da Psicologia em 1960,
bem como quais são as suas principais
características.
Para entender o surgimento da Psicologia
Comunitária é importante voltar ao contexto
histórico de surgimento desse campo de
atuação.
A década de 1960, no Brasil, foi marcada por
profundas mudanças políticas e sociais que
culminaram no golpe militar e no início do
regime ditatorial no Brasil.
O contexto da época apresentava um Brasil de
miséria e êxodo rural. Muitos pequenos
agricultores, cujas terras eram a única fonte de
renda, acabavam as perdendo para o banco e
tendo que migrar para as grandes cidades em
busca de trabalho.
Ao se depararem com a cidade, viam-se
jogados numa situação de pobreza e
precariedade. Havia um processo de
industrialização no Brasil desde a década de
1930, mas, em geral, isso trouxe maior
exploração do trabalhador
No campo, os agricultores não tinham salário,
esperavam o ano todo o resultado da produção
para vendê-la e trocar por dinheiro ou
mantimentos que não podiam ser plantados
nas suas propriedades
Na cidade, havia o salário, mas não era o
suficiente para as suas despesas e, quando
voltavam para casa, a realidade que se
apresentava era a falta de infraestrutura e
precariedade dos bairros onde moravam.
Neste contexto, surge a Psicologia Social Comunitária,
com a atuação dos psicólogos em algumas comunidades,
exercendo uma função política e social que tinha como
objetivo empoderar os membros das classes populares
para que eles pudessem ser agentes da transformação que
se pretendia, alcançado melhorias imediatas nas condições
que viviam e contribuindo para a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária
comunidade????
O conceito de comunidade sofre muitas
variações, de acordo com o contexto no qual
está sendo usado. As formulações mais
aceitas chamam a atenção para a conceituação
a partir das relações que se estabelecem pelas
pessoas, num determinado espaço – que não
precisa ser geográfico; e tempo - não
necessariamente cronológico.

SAWAIA,2000.
o espaço comunitário seria estabelecido a partir do
compartilhamento de crenças e sentimentos comuns.
Deve-se sempre tomar cuidado para não criar uma visão
idealizada da comunidade como um espaço onde as
trocas são sempre positivas e as relações não são
conflituosas, já que o fato de haver certa unidade não
significa que as contradições e individualidades entre as
pessoas tenham sito suprimidas
A profissão de psicólogo no Brasil foi
regulamentada em 1962, pouco antes do início
da ditadura, e a Psicologia foi muito afetada
por esse período, com o predomínio de
abordagens individualistas e reducionistas dos
sujeitos, que impediam de analisá- los como
sujeitos completos e influenciados por sua
história e localidade.
A repressão e a falta de liberdade de expressão
impediam que a Psicologia Social se
desenvolvesse naturalmente e muitos temas e
expressões não podiam ser ditos em sala de
aula.
As aulas se baseavam em tabelas e estudos que
mostrassem a adequação dos indivíduos àquela
realidade e não em discussões sobre como
transformar a realidade em que viviam.
O termo Psicologia Social surgiu na década de 1960 para
descrever as práticas da Psicologia influenciadas ou
compartilhadas com o grupo. A Psicologia Comunitária é
uma vertente da Psicologia Social, que trata da atuação
dos psicólogos nas comunidades.
Segundo Scarparo e Guareschi (2007), para fugir da
repressão, os professores que ministravam disciplinas da
área de Psicologia Social precisavam escolher quais
termos usar, que textos podiam ler e concentrar seus
trabalhos na descrição de pesquisas que levassem em
conta o uso de tabelas e grupos de controle, que tratavam
o sujeito e o contexto de forma genérica.
Havia uma lista de livros proibidos e
entre eles estavam muitos livros usados
pela Psicologia Social, que discutiam
uma visão mais coletiva do sujeito.
a profissão de psicólogo estava muito
concentrada no atendimento
individualizado e na prática clínica. O
sucesso na profissão era medido por
essas características de atuação e as
principais escolhas profissionais dos
psicólogos.
Nas comunidades mais carentes, os
movimentos sociais eram duramente
reprimidos e todos os que não
concordavam com o regime eram
tratados ou eliminados, sob a alegação
de doentes, comunistas e terroristas.
A ditadura militar no Brasil trouxe o
endurecimento da repressão aos manifestantes,
mas diante da proibição das manifestações
públicas de descontentamento, reprimidas com
prisões e perseguição política, a população não
se encolheu, ao contrário, se organizou em
grupos para pressionar o governo.
como seria se você fosse um estudante de
Psicologia no período da ditadura militar?
Será que você gostaria de ter atuado como
psicólogo numa comunidade carente em
formação?
o trabalho do psicólogo que atuava nas
comunidades era voluntário, por isso não
remunerado e nem regulamentado, e estava
muito vinculado aos projetos desenvolvidos
pelas universidades nas comunidades.
O Conselho Federal de Psicologia também
estava presente, exigindo que uma nova
dimensão do sujeito fosse abordada, buscando
desmistificar as antigas abordagens
individualistas que predominavam na
Psicologia e assumindo sua responsabilidade
para com a construção da sociedade desejada
A Constituição de 1988, promulgada com a
volta da democracia, entende o direito à saúde
como um direito básico da população e coloca
a Psicologia como o suporte para o
desenvolvimento dessa saúde de forma
integral.
Há a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) e o profissional de Psicologia se torna
parte dos quadros do Estado como responsável
por parte dessas garantias.
Na Educação, o psicólogo passa a fazer parte da estrutura
do Estado como responsável pelo processo de
aprendizagem. Sua atuação anterior, dentro das
comunidades, lhe dá o suporte para agora atuar de forma
profissional e remunerada nas instituições do Estado.
O reflexo disso foi a consolidação da Psicologia Social
como um campo de atuação importante da Psicologia no
alcance da sociedade que se pretendia, refletindo na
participação do psicólogo nas dinâmicas dessa nova
sociedade, agora como parte do sistema democrático.
Já nos Estados Unidos, a Psicologia
Comunitária se desenvolveu a partir de um
desdobramento da Psiquiatria Social, com a
decisão de mudança no tratamento dos doentes
mentais.
Durante a década de 1960, nos EUA, o
Presidente Kennedy propôs uma mudança no
tratamento dos doentes mentais.
Ele sugeriu que os tratamentos deixassem a
clausura dos manicômios e os métodos
evasivos, como as terapias de eletrochoque
para a promoção da integração desses
pacientes à sociedade e da realização de
tratamentos alternativos.
Isso lançou um desafio aos profissionais da
área de saúde, que fossem pensados
tratamentos que favorecessem a integração dos
doentes
Como as terapias de grupo e que a família
participasse desses processos de integração
A partir dessa decisão, uma série de mudanças
ocorreu na forma como a Psicologia estava
constituída, afetando a sociedade como um
todo.
A visão biológica individualista que imperava
na sociedade, classificando as doenças mentais
a partir de análises geneticistas deterministas,
foi substituída por uma perspectiva de
interação social constituída a partir da
perspectiva educacional.
Outra perspectiva importante da Psicologia
Comunitária se refere ao Suporte Social, já
que um bom desenvolvimento psicológico
depende da interação social do indivíduo.
A solidão e o isolamento são elementos que
podem adoecer o indivíduo. Por isso, a partir
dessa mudança de perspectiva da sociedade,
um conjunto de instituições públicas, como
escolas, postos de saúde e centros
comunitários foram criados para dar suporte a
essa sociedade interacionista.
O Impacto Social também é uma
característica percebida na Psicologia
Comunitária, já que o aumento da
participação dos indivíduos na comunidade
contribui para o desenvolvimento econômico
e social.
Agradeço!
Bons estudos.

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