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ANOTAÇÕES DO CAPÍTULO

FREITAS, M. F. Q. Psicologia na comunidade, psicologia da comunidade e psicologia (social)


comunitária: práticas da psicologia em comunidade nas décadas de 60 a 90, no Brasil. In:
CAMPOS, R. H. F. (org.). Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia.
Petrópolis: Vozes, 1996.

a prática da psicologia em relação às comunidades é vista, a partir do senso comum, como


uma prática ligada a lugares pobres, sem infraestrutura, marginalizados, indo de encontro à
população em situações institucionalizadas cujos serviços, direitos e obrigações da sociedade
e do estado estão defasados.

1. Sobre a história da inserção do profissional de psicologia no desenvolvimento de


trabalhos em comunidade

a associação com o termo “trabalho em comunidade” vem dos anos 1940 e 1950, quando o
brasil passava por mudanças no modelo produtivo em um período de expansão industrial.
projetos das áreas educacional e assistencial foram construídos para preparar os setores
populares para as mudanças desse novo modelo econômico.

de início, esse trabalho feito, em sua maioria, por profissionais das ciências humanas e sociais
atendia ao interesse das elites econômicas. no período do desenvolvimentismo, os trabalhos
realizados com a população mais desfavorecida tinham caráter assistencialista e paternalista.

1.1. Entrando nos anos 60

período de vários confrontos no brasil e na américa latina relacionados a necessidades


básicas e participação social da população em confronto com o estado capitalista. na
educação, surgiram projetos para o desenvolvimento de uma consciência crítica na população,
a fim desta recuperar seu lugar no processo social (como o método paulo freire). apesar do
controle repressivo, também havia participação e reivindicações populares.

os cinturões de pobreza e miséria cresciam cada vez mais ao lado dos pólos industriais e dos
centros de riqueza.

27.08.1962: reconhecimento oficial da profissão de psicólogo no brasil.

1964: regime militar. no mundo, várias manifestações aconteciam.

a psicologia se estruturou no brasil de forma tradicional pela área clínica, educacional e


organizacional. a partir dos anos 1960, o psicólogo passou a ser inserido em certos lugares a
fim de tornar a psicologia mais próxima da população, com maior comprometimento com os
setores menos privilegiados, de forma menos elitista.

 surge o termo psicologia na comunidade.

a partir de então, vários trabalhos passaram a ser desenvolvidos: trabalhos com populações de
baixa renda na zona leste e oeste de são paulo, em associação com a puc-sp; perto dos anos
1970, a ufmg, em belo horizonte, passou a integrar a disciplina “psicologia comunitária” na
grade curricular de psicologia.

nessa época, surgiram novas frentes de atuação. o psicólogo trabalhava de maneira


voluntária, não remunerada, com base em diversas fontes teórico-metodológicas, como
sociologia, antropologia, história, educação popular e serviço social. o foco era desenvolver
atividades para colocar a psicologia a serviço das populações mais desfavorecidas, com o
compromisso de colaborar com a organização e reivindicação dessas pessoas por seus direitos
e necessidades básicas.

1.2. Entrando nos anos 70

apesar do regime militar, a população lutava por reivindicações. alguns profissionais liberais e
intelectuais contribuíram com o movimento popular, de forma direta e indireta, o que ajudou no
surgimento de trabalhos e publicações que analisavam as formas de organização e os
processos de formação de consciência e participação política dos setores populares. os
resultados evidenciaram os problemas sociais vividos de forma concreta pela população e de
possíveis encaminhamentos a serem feitos.

os psicólogos passaram a marcar novos espaços, saindo dos locais mais tradicionais em
direção aos bairros populares, comunidades, favelas etc. participavam de forma política junto
aos movimentos sociais.

como as atividades não eram remuneradas, muitos trabalhavam concomitantemente na


academia, o que levou as discussões sobre psicologia na comunidade para dentro das
universidades.

1.3. Entrando nos anos 80

começou a surgir certa preocupação com a clandestinidade do trabalho dos psicólogos nas
comunidades, e também com a falta de remuneração e as referências metodológicas usadas
nessa prática.

 o termo psicologia comunitária passa a ser mais usado.

os trabalhos em psicologia comunitária enfatizam o compromisso político da psicologia social,


que critica teorias psicologizantes e a-históricas.

1.3.1. Criação da ABRAPSO

associação criada em 1980, na UERJ-RJ, na 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC).

1.4. Entrando nos anos 90

o trabalho dos psicólogos se expande para diversos setores.

 usa-se com mais frequência, neste período, o termo psicologia da comunidade.

as práticas passam a envolver o psicólogo, em grande parte, em associação com a saúde


coletiva, como sua atuação em postos de saúde, secretaria do bem-estar social, órgãos
ligados à família e aos menores, instituições penais etc. em geral, uma prática situada em
instituições (normalmente públicas) a fim de ampliar os serviços de diversas áreas para a
população. passa a ser um trabalho remunerado, e não mais clandestino.

influências da análise institucional, do movimento instituinte e das intervenções


psicossociológicas.

2. Psicologia na comunidade, psicologia da comunidade e psicologia (social)


comunitária: Algumas diferenças

 psicologia na comunidade: estabeleceu-se por volta de 1960 e 1970, em um período


em que era necessário articular a psicologia com a comunidade, pois, nessa época, a
psicologia ainda importava os modelos estrangeiros alheios à realidade brasileira. a
proposta era a de uma psicologia menos elitista, mais ligada às reais condições de vida
da população, deixando de ser praticada apenas nos consultórios, escolas e
organizações, para ser desenvolvida na comunidade.
 psicologia da comunidade: o termo passou a ser mais usado nos anos 1980 e 1990,
ligado aos movimentos de saúde envolvendo a prática do psicólogo através de algum
órgão prestador de serviços. trabalhos diversos foram desenvolvidos em busca de uma
psicologia menos acadêmica e intelectualizada, e mais identificada com a população.
teve influências do trabalho institucional, do movimento institucionalista e das
intervenções psicossociológicas, com uso de instrumentos vindos das vertentes
clínicas e educacionais.
 psicologia comunitária: também chamada de psicologia social-comunitária na
américa latina. diferencia-se das práticas assistencialistas ligadas aos serviços de
saúde, que derivam de modelos importados dos estados unidos. a psicologia (social)
comunitária tem base teórica na psicologia social, com foco nos trabalhos em grupos,
para desenvolver a consciência crítica rumo à construção de uma identidade social
mais próxima de preceitos eticamente humanos.

3. Necessidades colocadas à prática da psicologia em comunidade: Considerações


finais

algumas mudanças ocorridas, ao longo dessa trajetória:

 os trabalhos desenvolvidos nas comunidades perderam o aspecto de clandestinidade


que existia nos anos 1960 e 1970.
 o estado passou a apelar mais para a maior participação da população sobre questões
sociais e suas problemáticas.
 o trabalho do psicólogo foi institucionalizado em diversos setores e segmentos da
população.
 maior atenção à construção do currículo da graduação em psicologia, pois os
estudantes ainda parecem ser distantes e desconhecem a realidade cotidiana que vive
a maioria dos brasileiros.
 pode-se observar que ainda são transpostos os modelos de áreas mais tradicionais
para a prática em comunidade.
 o trabalho de alguns psicólogos em comunidade parece ter cada vez mais uma base
teórica na psicologia social crítica, em uma concepção histórico-dialética.

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