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BEM-ESTAR NA
VIDA PROFISSIONAL
Qualidade de vida
e felicidade
Pablo Bes
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O conceito de qualidade de vida tem sido desenvolvido ao longo das últimas déca-
das, evoluindo de uma concepção mais restrita, normalmente associada a critérios
puramente econômicos, para abranger áreas da saúde (física e mental), relações
ambientais, culturais e sociais e aspectos como espiritualidade e outras práticas
cotidianas. Encarada como um conceito polissêmico e complexo, a qualidade de
vida envolve necessariamente a análise do ser, do pertencer e do tornar-se, que
costumam fazer parte de nossas vidas, o que atesta a importância da subjetividade,
pois, como seres únicos e particulares, nossa percepção sobre a vida e seus fatores
também deve ser considerada. Contemporaneamente, podemos buscar apoio para
melhorar nossa qualidade de vida também no ciberespaço, utilizando sites e apli-
cativos que nos auxiliam na melhoria do sono, na alimentação saudável, na prática
de meditação e exercícios físicos, no estabelecimento de relações interpessoais e
sociais recíprocas e saudáveis e na busca por mais conhecimentos sobre o tema.
Neste capítulo, você conhecerá o conceito de qualidade de vida em suas múlti-
plas dimensões, bem como práticas que podem aproximá-lo cada vez mais de seu
propósito. Também verá sugestões de sites, programas e aplicativos da web que
podem auxiliar nessa busca pelo equilíbrio e pela melhoria na qualidade de vida.
2 Qualidade de vida e felicidade
[...] aquilo que para Aristóteles era relativizado e colocado em segundo plano como
fundamento da felicidade, ou seja, a opinião do povo em geral, que acreditava na
riqueza e na vida dos prazeres, são atualmente as situações de vida mais almejadas
e valorizadas como garantia de felicidade e realização.
Essa inversão dos fatores internos para aspectos externos que poderiam
conduzir a um estado pleno de vida é algo que emerge na modernidade e se
consolida nos tempos atuais, em que, sob a lógica capitalista, possuir bens,
riquezas, posses e ser popular acaba confundindo-se com a própria felicidade,
ou ainda com a possibilidade de viver uma vida de qualidade.
Na contemporaneidade, a expressão qualidade de vida alcançou patamares
muito mais amplos. Farquhar (1995, p. 502, tradução nossa) aponta que esse termo
se tornou clichê e aspiração de vários campos das ciências a partir dos anos 1990:
[...] hoje o termo qualidade da vida não é usado apenas na linguagem cotidiana, mas
também no contexto de pesquisa, onde está vinculado a diversos áreas como sociolo-
gia, medicina, enfermagem, psicologia, economia, geografia, história social e filosofia.
Nessa busca pela qualidade de vida, também nos deparamos com fatores
que contribuem para que tenhamos um entendimento distorcido do conceito,
como a noção de ter de seguir certas regras e condutas para nos ajustarmos
plenamente à sociedade contemporânea. Esses aspectos são muito difundi-
dos a partir das mídias, que nos ensinam supostos modos de ser e de viver,
conforme detalhamos no exemplo a seguir.
[...] quanto maior o tempo de uso desses aparelhos eletrônicos, pior é sua noite
de sono, pois a luminosidade emitida pelas telas pode comprometer a qualidade
de seu descanso. A retina contém células fotossensíveis que ajudam o cérebro a
regular nosso relógio biológico, aquele responsável pelos ciclos de sono–vigília,
o controle da temperatura corporal e as mudanças hormonais. Assim, ao ser
atingido pelo brilho das telas, seu ritmo biológico pode ser desregulado (ABREU,
2016, documento on-line).
também ocorre, quando, por exemplo, nos deixamos envolver com questões
negativas que estão ao nosso redor, constantemente reforçadas pelas mídias,
e acabamos somatizando-as e desenvolvendo doenças físicas ou mentais.
Nesse aspecto, constantemente alternamos pensamentos positivos e
negativos, que às vezes até coexistem. As diferentes contingências contex-
tuais, por exemplo, despertam diferentes reações psíquicas em cada um de
nós. Assim, estar triste e pensar negativamente não significa adoecimento,
pelo contrário, representa nossa condição humana complexa, heterogênea
e singular, com nossos fluxos sempre inacabados, impermanentes, cons-
tantemente abalados entre equilíbrios e desequilíbrios que decorrem da
nossa experimentação uns com os outros no curso da vida compartilhada.
Por sua vez, o pensamento positivo, pode representar um recurso na busca
pelo equilíbrio dinâmico de nossas reações, evitando disfuncionalidades
e distúrbios. Desse modo, evitar pensamentos negativos não representa
diretamente mais qualidade de vida. Essa relação não é linear.
Algumas práticas auxiliam no estabelecimento de pensamentos positivos,
além de proporcionar maior autoconhecimento, como a meditação, a ioga
e até mesmo o desenvolvimento espiritual. Conforme comenta Achor (2011),
quando nosso sistema nervoso está positivo, liberamos grandes doses de
dopamina, que nos deixam mais felizes e também acionam nossos centros
de aprendizagem, promovendo maior adaptação ao mundo em que vivemos.
É igualmente importante que saibamos identificar os sinais que nosso
corpo produz, sejam eles físicos — como dores musculares, sensações de
fadiga, cefaleia, entre outros — ou mesmo indícios de falta de saúde mental,
como tristeza crônica, baixa autoestima, desânimo, vontade de isolar-se dos
outros, etc. Esses sinais podem acusar que algo não está equilibrado e que
precisa de nossa atenção, para voltarmos a ter o funcionamento pleno de
nossas funções e, consequentemente, qualidade de vida. Nesse caso, visitas
regulares ao médico, realização de exames periódicos a título de checkup e
mesmo a busca de um psicólogo e terapeuta podem ser de grande utilidade.
Estudos recentes também comprovaram a contribuição dos animais domés-
ticos para o desenvolvimento de relações afetivas saudáveis entre os seres
humanos. Assim, ter um pet também agrega para a qualidade de vida, pois
nosso desenvolvimento psicológico exige a interação e a troca de emoções
e afetos que, na atualidade, podem ser empobrecidos pelo estilo de vida
contemporâneo. Segundo afirma Abreu (2016, documento on-line):
[...] creio que, nesse momento, os animais de estimação façam seu papel, pois
acompanham, estimulam e mantêm em operação muitas necessidades emocio-
nais. É possível que os pets consigam suprir aquilo do que a vida, muitas vezes,
nos privou: o afeto.
10 Qualidade de vida e felicidade
Por sua vez, a espiritualidade tem sido considerada benéfica nas últimas
décadas para o desenvolvimento da qualidade de vida das pessoas, podendo
contribuir diretamente para sua saúde mental. Segundo Panzini et al. (2007, p.
106), “[...] o termo espiritualidade envolve questões quanto ao significado da
vida e à razão de viver, não limitado a tipos de crenças ou práticas”. Assim, bus-
car uma relação de elevação espiritual pode ajudar o ser humano a perceber
o sentido de sua existência, fornecendo-lhe maiores condições de sentir-se
feliz, realizado e confortável em momentos difíceis, independentemente do
sistema de crenças nas diferentes culturas mundo afora.
Outro aspecto de grande importância para que as pessoas tenham equilíbrio
em suas vidas e sintam-se pertencentes aos grupos sociais que as cercam são
as relações interpessoais cotidianas. O convívio familiar e social nos permite
construir nossa própria subjetividade e identidade, pois é a partir da interação
com o outro que reafirmamos quem nós mesmos somos. Pela cultura dos
grupos de que participamos, aprendemos acerca do mundo, das condutas
sociais e dos comportamentos validados como corretos, podendo exercer
nossa apreciação crítica sobre essas aprendizagens. Em uma pesquisa que
correlacionou aspectos da vivência familiar com questões da qualidade de vida
de crianças com deficiência, Azevedo, Cia e Spinazola (2019, p. 214) comentam:
Os resultados mostraram que, quanto mais harmônica era a relação conjugal entre
os casais, melhores eram os recursos que eles obtinham em seu âmbito familiar,
mais frequentes ocorriam reuniões familiares, menores eram as necessidades que
os pais apresentavam quanto ao apoio, à ajuda da comunidade, à vida familiar,
a outras necessidades e fator total, e mais elevado era o nível de satisfação em
relação à qualidade de vida social e do meio ambiente.
Figura 1. O Ministério da Saúde disponibiliza matérias e dicas práticas aos cidadãos a partir
do site Saúde Brasil, distribuídas nessas quatro abas específicas.
Fonte: Saúde Brasil (2020).
Referências
ABREU, C. N. Psicologia do cotidiano: como vivemos, pensamos e nos relacionamos
hoje. Porto Alegre: ARTMED, 2016. E-book.
ACHOR, S. The happy secret to better work. [S. l.: s. n.], 2011. 1 vídeo (12 min). Publicado
pelo canal TED. Disponível em: https://www.ted.com/talks/shawn_achor_the_ha-
ppy_secret_to_better_work. Acesso em: 29 set. 2020.
ALVES, M. A. Ética e educação: caráter virtuoso e vida feliz em Aristóteles. Acta Scien-
tiarum. Education, v. 36, n. 1, p. 93–104, 2014. Disponível em: https://www.redalyc.org/
pdf/3033/303329914010.pdf. Acesso em: 29 set 2020.
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