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Unidade II
Quando alguém é questionado ou algum indivíduo indaga: “você considera ter qualidade de vida?”
“estou em busca de mais qualidade de vida?”, quais são os aspectos e as características que estão
envolvidos na expressão qualidade de vida?
Ao se falar em “qualidade de vida”, essa expressão pode ter diferentes significados e conceitos,
pois irá retratar diversos conhecimentos, experiências e valores individuais e coletivos, os quais irão
refletir o momento histórico, a classe social e a cultura pertencentes aos indivíduos (DANTAS; SAWADA;
MALERBO, 2003).
O termo qualidade de vida tem sido utilizado desde os anos 1960, principalmente com força política.
O primeiro a utilizar essa expressão foi o presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em seu discurso,
ao relatar que “os objetivos não podem ser medidos através de balanços de bancos. Eles só podem ser
medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas” (PIRES, 2007).
O conhecimento popular se apropriou dessa expressão como uma forma de simplificar a melhora ou
um padrão elevado de bem-estar nas vidas dos indivíduos, seja de ordem social, emocional ou econômica
(ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012). Todavia, a compreensão sobre a qualidade de vida remete a
inúmeras variáveis do conhecimento humano, nos âmbitos biológico, médico, social, econômico, político
entre outros, portanto, há inter-relações de inúmeras variáveis.
De acordo com Seidl e Zannon (2004), o termo qualidade de vida é utilizado em duas vertentes
de pensamentos:
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Unidade II
O grupo de estudos sobre qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL GROUP) definiu
que a qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas
de valores e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (WHOQOL GROUP, 1995).
Há seis domínios considerados principais, quais sejam: saúde física, estado psicológico, níveis de dependência,
relacionamento social, características ambientais e padrão espiritual (DANTAS; SAWADA; MALERBO, 2003).
Guiteras e Bayés (1993) delimitam que qualidade de vida está relacionada à saúde como uma valorização
subjetiva que o paciente faz de diferentes aspectos de sua vida quanto ao seu estado de saúde.
Para Cleary, Wilson e Fowler (1995), o termo se refere a vários aspectos da vida de uma pessoa que
são afetados por mudanças no seu estado de saúde e que são significativos para a sua qualidade de vida.
Já Patric e Erickson (1993) conceituam que qualidade de vida é o valor atribuído à duração da
vida, modificado pelos prejuízos, estados funcionais e oportunidades sociais que são influenciados por
doenças, danos, tratamentos ou políticas de saúde.
Com uma visão mais generalista, Martin e Stockler (1998) percebem que a noção de qualidade de
vida pode ser mensurada pela distância das expectativas individuais e a realidade vivida, ou seja, quanto
menor for essa distância, melhor será a qualidade de vida.
• Cultural: refere-se aos valores e necessidades dos povos ou sociedades, revelando assim seus
costumes e suas tradições.
• Classes sociais: em sociedades que apresentam uma grande desigualdade entre classes, o padrão
de qualidade de vida se relaciona ao bem-estar das camadas superiores e ascensão de classes
inferiores para superiores.
Além dessa percepção individual de qualidade de vida, esse conceito é intrínseco, isto é, próprio de
cada indivíduo e sofre influências de propagandas da mídia, dos alimentos e das campanhas políticas.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Assim, cria-se a ideia de que elevar a qualidade depende somente dos esforços do sujeito (ALMEIDA;
GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Satisfação
pessoal
Estabilidade
Trabalho financeira
Ambiente de
Saúde qualidade
Pela diversidade de domínios que estão relacionados ao termo, não existe uma concordância para
um conceito único e definitivo, já que alguns destacam a importância de um bem-estar econômico,
outros o sucesso pessoal ou o desenvolvimento social (PIRES, 2007). Portanto, se faz necessário ter
atenção a uma multiplicidade de fatores que envolvem o universo da qualidade de vida.
Conforme mencionado anteriormente, a qualidade de vida sempre esteve presente na vida humana,
pois está relacionada ao interesse pela vida, tanto individual como socialmente.
Dessa forma, a abordagem da qualidade de vida está relacionada à percepção de como as pessoas
vivem, sentem e compreendem seu cotidiano, envolvendo questões como educação, saúde, transporte,
moradia e participações nas decisões que lhe dizem respeito (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Mas para alguns autores a qualidade de vida tem uma ligação estreita com o desenvolvimento
do ser humano, que representa as diversas combinações que um indivíduo está apto a fazer, ou seja,
as diversas funcionalidades que compõem e que representam o estado da pessoa, abrangendo os
diversos componentes que permeiam o cotidiano do indivíduo ou o modo como age em sua história e
desenvolvimento (HERCULANO, 2000).
Com essas definições, a qualidade de vida é avaliada de acordo com a capacidade para alcançar as
funcionalidades, como as funções elementares, por exemplo, de se alimentar adequadamente, assim
como de obter e manter a saúde, e ainda as funções que envolvem autorrespeito e integração social. Essa
capacidade está vinculada a um conjunto de diversos valores, como a personalidade, e principalmente às
características e às possibilidades sociais (HERCULANO, 2000).
Retornando a definição dada pela Organização Mundial da Saúde (1995) de que a qualidade de
vida é “a percepção do indivíduo de sua inserção na vida do contexto da cultura e sistemas de valores
nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”, é possível
estabelecer alguns aspectos para se conceber os indicadores de esferas objetivas e subjetivas, sempre
tendo como perspectiva a visão do indivíduo (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
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Unidade II
A análise sobre a perspectiva objetiva está relacionada aos elementos passíveis de serem quantificados
e concretos, que podem sofrer transformações pelo ser humano. São considerados elementos objetivos
fatores como alimentação, moradia, acesso à saúde, emprego, ou seja, necessidades que garantem a
sobrevivência do indivíduo na sociedade.
Tomando por base esses aspectos objetivos são traçados índices de referência sobre características
sociais e econômicas da população, e a partir desses índices criam-se políticas e ações voltadas para a
melhoria da qualidade de vida da população (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Nesse sentido, a caracterização da qualidade de vida não se dá somente por aspectos objetivos,
mas também leva em consideração fatores subjetivos e emocionais, expectativas e possibilidades de
um grupo social ou de um indivíduo quanto a suas realizações e percepção de sua vida, considerando
inclusive questões referentes a prazer, felicidade e tristeza (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Percepção
objetiva
+ Qualidade
de vida
Percepção
subjetiva
Existe uma relação muito estreita entre os elementos objetivos e subjetivos, e nenhuma análise
ou compreensão da qualidade de vida de um sujeito pode ser contextualizada sem antes estabelecer
a qualidade de vida coletiva, observando o que é representado na definição da OMS, que contempla
aspectos subjetivos e objetivos.
O verbo ter está relacionado às condições necessárias para uma sobrevivência fora da situação de
miséria, como habitação, emprego, condições físicas de trabalho, saúde e educação.
O verbo amar diz respeito a relacionar-se com outras pessoas e, assim, formar uma identidade social.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Esses indicadores podem ser mensurados tanto em aspectos objetivos quanto subjetivos:
Quadro 3
A esfera de percepção objetiva de qualidade de vida está relacionada à garantia e satisfação em ter
acesso aos elementos essenciais e necessários para a sobrevivência do ser humano, como: água potável,
alimentos, vestuário, serviço de saúde, trabalho digno, lazer, entre outros (MINAYO, 2000).
Pelo fato de serem bens de consumo (água, alimentos etc.) e atividades concretas (trabalho, serviços
de saúde) não dependem, em princípio, de uma avaliação subjetiva ou interpretação do indivíduo
(ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Figura 31 – A percepção objetiva não depende de uma avaliação subjetiva – Rio de Janeiro, Brasil
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Unidade II
Esses indicadores têm como objetivo refletirem as características gerais de uma população, e não
levam em consideração características históricas e culturais, e sim apenas questões socioeconômicas em
relação aos bens de consumo (GONÇALVES; VILARTA, 2004).
Nessa abordagem é possível realizar uma comparação objetiva de uma mesma população em
diversas épocas históricas ou entre diferentes sociedades. É possível classificar os grupos por critérios
mais quantitativos e excluir as “percepções individuais e especificidades culturais dos sujeitos e das
coletividades”, sendo utilizado como índices gerais, com sentido político e mostrando hegemonia
(ALMEIDA et al., 2012, p. 25).
A percepção objetiva tem pontos positivos pela facilidade de obtenção de dados, criando um índice
geral das condições de qualidade de vida, pois esses dados estão ligados a elementos como saúde,
moradia, educação, transporte, entre outros seguimentos, sendo esse enfoque quantitativo, ou seja, lida
com a presença ou ausência de determinado elemento em uma população.
Segundo o PNUD (2016), o IDH é formado por três pilares: saúde, educação e renda, que são avaliados
da seguinte forma:
— Média de educação dos adultos, que é avaliada pela média de anos de estudos recebidos
durante a vida após os 25 anos de idade.
— Expectativas de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar.
• Padrão de vida (renda) – avaliada pela renda nacional bruta per capita, que é expressa em poder
de paridade de compra.
A classificação para determinar se um local tem um alto ou baixo desenvolvimento humano varia de
0 a 1. Quanto mais próximo do 1, maior é o desenvolvimento humano (PNUD, 2015):
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
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Unidade II
Figura 33 – Niamey, capital do Níger, país com o menor indicador de IDH mundial
1
0,9
0,8
0,7
0,6
IDH
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
1990 2000 2010 2011 2012 2013 2014
Ano
IDH Brasil IDH Noruega IDH RCA
Um exemplo disso é a aplicação de IDH para a esfera municipal no Brasil, realizado com os dados do
IBGE, segundo o qual a nação apresenta municípios com altíssimos escores de IDH, como São Caetano
do Sul – SP (0,862), Brasília – DF (0,824) e Florianópolis – SC (0,847), e, em contrapartida, escores muito
baixos, como Melgaço – PA (0,418), Fernando Falcão – MA (0,443) e Japorã – MS (0,526) (PNUD, 2013).
Conforme os dados apresentados identifica-se que o IDH nacional não reflete a verdadeira realidade
ou as verdadeiras realidades que um país comporta, ou seja, a qualidade de vida de uma população,
tendo como parâmetros somente a percepção objetiva de elementos concretos.
Por essa razão, a percepção da qualidade de vida somente por critérios objetivos, muitas vezes, é
utilizada como propaganda política, dando uma visão generalista e homogênea de uma realidade que
ainda apresenta muita desigualdade e é extremamente heterogênea principalmente no Brasil. Com isso,
os dados que compõem essa percepção acabam englobando diferentes sujeitos em um mesmo contexto.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Apesar de identificar os níveis de qualidade de vida como uma percepção do indivíduo, não
apresentando o que ocorre em um contexto mais global, a análise objetiva é importante para determinar
uma melhor intervenção em áreas que necessitam de um melhor desenvolvimento, como saúde e ações
sociais, direcionando uma melhoria para um determinado grupo.
A esfera de percepção subjetiva em um primeiro momento trabalha com as ações individuais diante
da vida do próprio sujeito, como a expectativa de seus próprios níveis de qualidade de vida (ALMEIDA
et al., 2012).
Por percepção subjetiva se compreende o estilo de vida do sujeito, caracterizado pelos hábitos
aprendidos e adotados durante a vida, que têm relação com a realidade social, ambiental e familiar. Desse
modo, as ações que refletem na vida desse indivíduo, como os valores e as oportunidades, devem estar
relacionados ao bem-estar do sujeito, como o controle do estresse, a nutrição, a prática de atividades
físicas regulares, os cuidados com a saúde e o convívio social.
Essa percepção está relacionada a três questões: o bem-estar dentro das experiências individuais; a
presença de aspectos positivos na vida do indivíduo (não apenas de aspectos negativos); uma medida
global, não somente um único aspecto da vida (GIACOMONI, 2004).
Além disso, essa percepção relaciona-se com os valores não materiais como amor, felicidade,
inserção social e realização social. Como é uma percepção subjetiva, é preciso levar em consideração
as possibilidades de uma conceituação e valorização individual de muitas variáveis não possíveis de
mensuração, e isso irá refletir no cotidiano do sujeito (MINAYO, 2000).
Ainda, essa percepção subjetiva, como a felicidade, a satisfação, o “estado de espírito”, entre outras,
de uma forma geral vai criar a perspectiva de como os sujeitos avaliam suas vidas, ou seja, se as pessoas
experimentam suas vidas positivamente (GIACOMONI, 2004). Assim, a esfera subjetiva está muitas vezes
atrelada à ideia de felicidade.
Por conseguinte, a felicidade está ligada a questões externas, não como algo subjetivo, mas uma
qualidade desejada. Um segundo ponto está relacionado à forma como as pessoas avaliam os termos
positivos da vida e uma terceira categoria considera a percepção positiva se sobrepondo a uma percepção
negativa de satisfação da vida (GIOCOMONI, 2004).
Com isso, o ambiente e a cultura que o sujeito incorpora e as condições de desenvolvimento possíveis
do sujeito são muito importantes para a formação da esfera de percepção subjetiva, que envolve
sentimentos e valores de juízo, direcionando as diversas possibilidades de ações na sociedade, dentre
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Unidade II
elas, a percepção e o julgamento de sua vida que estão atrelados a expectativas e ao entendimento de
bem-estar do grupo ou da sociedade em que ele está inserido.
Cada sociedade irá determinar, por meio de sua cultura, quais são seus padrões de vida e assim
direcionar as expectativas e os níveis de satisfação dos indivíduos que a compõem, e isso refletirá sobre
o que é ou não é uma boa qualidade de vida, como o grau de satisfação pelas realizações dos indivíduos
ou acesso a bens de consumo. Isso pode variar de acordo com a sociedade e os valores pessoais.
Um exemplo de como a cultura interfere nas escolhas pessoais e repercutirá na percepção subjetiva
de uma população são as medidas tomadas pela Suécia, que em 2014 recusou ser uma das candidatas
a receber as Olímpiadas de 2022, pois seus representantes no governo tinham outras prioridades para
investir os recursos provenientes dos impostos. “Não é possível conciliar um projeto de sediar os Jogos
Olímpicos com as prioridades de Estocolmo em termos de habitação, desenvolvimento e providência
social” (DEARO, 2014).
Pelo fato de a percepção subjetiva ser mais complexa, as expectativas e os gostos dos indivíduos irão
variar de acordo com a sua classe social; essa perspectiva influenciará de forma direta a sua percepção
individual a respeito da vida. Além das divisões de classes sociais, questões como diferenças culturais,
separadas pela história ou grupos étnicos, fazem com que o tipo de percepção também se altere
(ALMEIDA et al., 2012).
Para conseguir mensurar os fatores culturais que constroem a percepção sobre a qualidade de vida
e com isso a esfera subjetiva, é necessário a análise da percepção do indivíduo a respeito da satisfação
e das expectativas que irão considerar as diversas primícias culturais da sociedade contemporânea em
que ele está inserido.
Só é possível falar e compreender a qualidade de vida tendo como ponto inicial a percepção do
indivíduo sobre a sua própria vida.
Mesmo que a variável seja constituída de uma percepção, isto é, uma visão subjetiva de um indivíduo,
ela caracteriza a sua realidade histórica, econômica e de saúde, e isso é construído em relação à carga
cultural, a qual é derivada das relações do homem com os bens materiais que exercem algum tipo de
interferência em sua vida. Logo, a esfera subjetiva é válida e de extrema importância para as discussões
e o entendimento a respeito da qualidade de vida.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Percepção do
indivíduo
Características
da sociedade
Contexto
cultural
Há dois tipos de perspectivas – uma objetiva e outra subjetiva –, e ambas não podem ser mensuradas
de maneira segregada, pois elas se complementam, formando assim o conhecimento da qualidade de
vida. Contudo, se faz necessário saber quais são as diferenças entre essas duas esferas de percepção, pois
essa divisão se apresenta de maneira muito sútil. A questão é que a qualidade de vida lida com inúmeros
fatores que afetam a vida do sujeito, e esses fatores estão relacionados entre si.
Pelo fato de ocorrer essa interdependência entre os fatores que compõem as esferas objetiva e
subjetiva, é difícil definir em qual esfera determinado fator se encaixa, ou seja, as relações são inevitáveis,
por causa da influência entre as esferas de percepção (ALMEIDA et al., 2012).
A relação confusa entre essas esferas pode estar relacionada ao conceito de qualidade ambiental
que, de acordo com Barbosa (1998), é constituído por um conjunto de juízo de valores relacionados
ao estado ou às condições que o ambiente proporciona, ou seja, a forma como o ambiente influencia
a qualidade de vida dos sujeitos. O ambiente, então, irá refletir o contexto social em que o sujeito
está inserido, sendo um determinante para suas possibilidades de desejos, necessidades e realizações
(ALMEIDA et al., 2004).
Perante essa reflexão, a posição que o sujeito ocupa na sociedade, seus hábitos e seu comportamento
serão delimitados pela hierarquia social; o que os sujeitos de determinado grupo consomem e utilizam,
além de seus bens, diferenciarão as estruturas sociais. E para assumir as características simbólicas
de determinado grupo, o indivíduo precisa ter as condições que lhe permitam realizar esses desejos
(ALMEIDA et al., 2012).
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Unidade II
Em reportagem do portal UOL economia, foram divulgadas as marcas consumidas pela camada
mais elitizada da população e que começam a ser utilizadas pelas pessoas que compõem as camadas
economicamente “inferiores” da população, excluindo o caráter exclusivo e elitista dos produtos em
questão. Por outro lado, tais marcas não querem ser vistas com essa “parcela da sociedade”:
Boa parte das marcas tem vergonha de seus clientes mais pobres. São marcas
que historicamente foram posicionadas para a elite, e o consumidor que
compra exclusividade pode não estar muito feliz com essa democratização
do consumo [...] Algumas empresas me procuram dizendo “minha marca
está virando letra de música, febre na periferia e não quero estar associado
a esse pessoal” (NEUMAN, 2014).
Essa diferenciação entre as classes ou estruturas sociais irá reproduzir diversas possibilidades e
expectativas de realizações para a obtenção de bem-estar e conforto na sociedade. Isso se deve porque
os indivíduos que integram cada camada social têm objetivos e necessidades diferentes, as quais são
exteriorizadas no estilo de vida – construção histórico-social do sujeito que influencia seus hábitos
(ALMEIDA et al., 2004).
O estilo de vida é representado por um conjunto de ações que repercutirá em atitudes, valores
e oportunidades na vida de um indivíduo (NAHAS, 2003); essas ações mostrarão a carga cultural do
sujeito, interferindo em seu cotidiano. Também estão ligadas às possibilidades de escolhas e adoções ou
não de práticas em seu dia a dia (ALMEIDA et al., 2012).
Na sociedade contemporânea, a escolha por um estilo de vida saudável é um fator determinante para
as situações de saúde e de vida do indivíduo, porém muitas vezes essa escolha não é possível por causa de
problemas nas condições socioeconômicas. Alguns fatores, como nutrição adequada, horas de descanso,
acesso ao sistema de saúde, práticas de atividade física, não são possíveis ou acessíveis a todas as pessoas,
em decorrência das condições de vida que possam possibilitar tais ações (ALMEIDA et al., 2004).
Minayo (2000) discorre que em sociedade divididas em classes, os padrões de bem-estar vêm das
classes superiores, que são as possuidoras de grande parcela da economia e têm acesso às inovações
tecnológicas, estabelecendo uma percepção positiva sobre a vida ou o que seria um nível adequado de
qualidade de vida.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Pelo processo de transmissão cultural, a sociedade atual cria os padrões de qualidade e estilo de vida
que devem ser seguidos, de uma forma consciente ou não, e isso é absorvido e incorporado pelo sujeito,
construindo assim sua percepção e expectativas sobre sua própria vida.
Não é possível entender ou conceber uma qualidade de vida não atrelada a uma política de Estado
ou mesmo do mercado econômico, uma vez que seria uma visão mínima sobre o conceito. Muitas vezes,
o emprego dessa temática remete a uma atenção a determinada demanda de mercado ou de produtos
específicos e promessas políticas, principalmente em épocas eleitorais. Assim, tem-se a ideia de que a
qualidade de vida está atrelada a determinado produto ou determinado acesso a uma ação política ou
programa político.
O Estado, então, assume a ideia mínima de responsabilidade, em que somente ele tem de ofertar as
condições ou a melhoria em determinados setores de serviços para a população, como saúde, transporte
e educação, melhorando a qualidade de vida; essas ações, porém, têm de possibilitar que os indivíduos
adquiram e incorporem estilos de vida mais saudáveis (ALMEIDA et al., 2012).
Ter uma boa perspectiva de qualidade de vida dependerá de quais possibilidades o sujeito tem para
satisfazer as suas necessidades fundamentais, e isso está relacionado com a capacidade de realização do
indivíduo, o qual depende das oportunidades reais para que as ações ocorram – em outras palavras, o
sujeito deve ser o principal ator social, isto é, alguém que atua, que age na sociedade. Segundo Almeida
et al. (2012), a construção de uma boa ou má percepção de qualidade de vida está ligada:
Essas supostas necessidades o sujeito incorpora ou não como uma verdade para sua própria vida.
Um sujeito, para considerar que está vivendo com qualidade de vida, provavelmente consegue realizar
as expectativas criadas pela sociedade em que ele vive e pelas escolhas determinadas em consonância
com as possiblidades que o sistema social lhe proporcionou.
Assim, a percepção de diferentes níveis de qualidade de vida irá se tornar ampla, o que não pode
ser determinado por uma análise global e homogênea. Convém mencionar que os indicadores objetivos
são determinantes para traçar o perfil de grupos sociais, e são muito utilizados com a finalidade de
determinar ações necessárias em uma área deficiente. Todavia, indicadores objetivos não refletirão
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Unidade II
a percepção dos indivíduos como os principais beneficiários para a incorporação dessa melhoria de
qualidade de vida (ALMEIDA et al., 2004).
A qualidade de vida vem recebendo uma crescente atenção, principalmente dentro das áreas das
ciências biológicas e humanas, com o objetivo de criar um amplo controle das variáveis de estudos
dessas áreas.
Como dito anteriormente, a expressão qualidade de vida passou a ser usada cotidianamente como
uma noção de satisfação geral com a vida, seja de maneira global, seja dividida em esferas, que, quando
estão agrupadas, podem indicar uma aproximação ao conceito mais geral. Essas esferas são abordadas e
estão ligadas aos interesses do que será mensurado ou por quem será mensurado, como uma abordagem
jornalística, uma pesquisa de mercado ou avaliação e operacionalização de uma ação social (ALMEIDA
et al., 2012).
A qualidade de vida abrange muitos fatores – de percepção objetiva e subjetiva – e a sua medição,
muitas vezes, não contempla a realidade, principalmente a de cada indivíduo. A qualidade de vida é
apresentada como um conceito de difícil compreensão e tem diversas delimitações que possibilitam a
completa medição em qualquer tipo de trabalho.
Os estudos sobre essa temática, segundo Almeida et al. (2012), podem ser classificados de acordo
com quatro abordagens:
• Econômica: tem como principais elementos os indicadores sociais, como renda, transporte, acesso
aos serviços públicos, entre outros.
• Psicológica: busca indicadores que tratam das reações subjetivas do indivíduo com suas
experiências sobre qualidade de vida, sendo avaliado por sua própria vida, felicidade e satisfação.
• Geral: abordagem multidimensional que apresenta uma organização mais complexa e dinâmica dos
componentes. Valores, inteligência e interesses pessoais são fatores que devem ser considerados.
A representação social, que retrata a qualidade de vida, é criada tendo parâmetros objetivos e subjetivos
referentes à satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo desenvolvimento
econômico e social de determinada cultura (ALMEIDA et al., 2012).
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Sendo assim, os parâmetros mais complexos estão relacionados às ideias de ser, pertencer e transformar.
O ser se relaciona com as habilidades individuais, a inteligência, os valores e as experiências de vida; o
pertencer se associa às ligações interpessoais, às escolhas, além da participação em grupos e da inclusão em
programas sociais; o transformar trata das práticas, como trabalho, programas educacionais, oportunidades
de desenvolvimento das habilidades em estudos formais e informais (ALMEIDA et al., 2012).
Esses parâmetros apresentam uma organização de muito dinamismo entre si, que considera a pessoa
e o ambiente, bem como as oportunidades e os obstáculos.
Ser
Pertencer
Transformar
Qualidade de vida
Figura 36 – Representação do dinamismo da organização da qualidade de vida
Gutierrez e Almeida (2006) ainda qualificam que a noção de qualidade de vida remete à relação
entre o sujeito e a sociedade, tendo como parâmetros alguns referenciais:
• Separações sociais, pois as ideias de qualidade de vida se relacionam aos ideais de bem-estar das
camadas superiores e à passagem para essas camadas.
Os instrumentos que são utilizados para a avaliação e a mensuração da qualidade de vida variarão
de acordo com a abordagem e os objetivos dos estudos. O IDH e o WHOQOL são uma tentativa de
padronização de medida, permitindo a comparação entre sociedades (ALMEIDA et al., 2012).
Uma das formas mais tradicionais e usadas como classificação em nível mundial para avaliar a
qualidade de vida em grandes populações ou nos diversos países é o Índice de Desenvolvimento Humano.
O IDH é um instrumento que tenta obter uma visão da realidade global de um país, e tem como
parâmetros os âmbitos de saúde, educação e renda, porém não abrange os componentes relacionados
ao desenvolvimento do ser humano.
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Unidade II
O próprio PNUB (2016) considera que o desenvolvimento humano não pode ser aferido somente
pela perspectiva econômica, pois se relaciona com a renda ou os recursos que um indivíduo ou uma
sociedade pode gerar. Essa renda é importante para a manutenção das condições básicas de sobrevivência
e a aquisição de bens materiais, entretanto:
Com isso, é reforçado que a qualidade de vida de um indivíduo ou população não pode ser medida
somente de uma perspectiva objetiva, como a renda, por exemplo, mas também é necessária a perspectiva
subjetiva da pessoa a respeito da forma como ela concebe e entende o contexto social.
Logo, essa qualidade é construída a partir da relação entre diversos fatores, como biológicos, sociais
e psicológicos, além da integração entre o sujeito e a sociedade, considerando-se o período da vida e o
meio sociocultural em que ele está inserido (REIS JUNIOR, 2008).
Lembrete
Durante os anos de 1990, ocorreu um crescimento muito grande de instrumentos, a fim de mensurar
a qualidade de vida e seus componentes – com destaque para os Estados Unidos da América, com
um interesse em traduzir esses instrumentos para outros países. Porém somente replicá-los em outras
culturas dificilmente refletiria a realidade dessa cultura, pois se correria o risco de que os aspectos
aferidos nos instrumentos não a retratassem adequadamente (FLECK, 1998).
Desta forma, o WHOQOL Group, um grupo de estudos e pesquisa em qualidade de vida da Organização
Mundial de Saúde, em um trabalho colaborativo multicêntrico, ou seja, abordando diversas culturas,
70
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
A construção desse instrumento ocorreu em quatro estágios, que vão desde a tentativa da construção
de um conceito ou um consenso para a qualidade de vida por experts (peritos) da área, passando pela
confecção de um instrumento piloto e a testagem em campo.
71
Unidade II
Mesmo não apresentando um conceito sobre qualidade de vida, três pilares referentes ao constructo
desse termo foram definidos, por meio dos especialistas na temática de diversas culturas. Os três aspectos
fundamentais são (FLECK, 1998):
• Subjetividade.
• Multidimensionalidade.
- Estabelecimento de
- Definição de qualidade um consenso para a
1. Clarificação dos - Revisão por experts de vida. definição de qualidade
conceitos internacionais. de vida e para uma
- Definição de um abordagem internacional
protocolo para o estudo. da avaliação de qualidade
de vida.
- Estrutura comum de
domínios.
- Aplicação em grupos - Conjunto de 100 - Estabelecimento de
4. Teste de campo homogêneos de questões. prioridades psicométricas
pacientes. do WHOQOL.
- Escala de respostas
equivalentes em
diferentes idiomas.
Com a observação do quadro a respeito dos estágios em que foi composto o trabalho de
desenvolvimento do WHOQOL-100, fica evidente a preocupação em se criar um instrumento que
contemplasse qualquer perspectiva cultural.
A construção dos domínios e subdomínios (facetas) foi discutida com os grupos focais, em diferentes
centros, tendo como parâmetros indivíduos normais, portadores de doenças e profissionais da saúde
(FLECK, 1998).
72
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
A função dos grupos focais era questionar os participantes de como cada domínio e subdomínio
interfere em sua qualidade de vida e qual seria a melhor forma de realizar a pergunta para
obter um melhor entendimento. Com o encontro de 15 realidades culturais distintas, formularam
as questões com uma linguagem natural e compreensível, não aos profissionais, mas sim aos
indivíduos leigos.
A ideia de se utilizar uma diversidade cultural na construção desse instrumento mundial é, a partir
dessas realidades diferentes, tentar ao máximo reduzir as interferências culturais, principalmente
pertencentes à perspectiva subjetiva dos sujeitos – diferentes de um instrumento formado em uma
única realidade, como a dos Estados Unidos.
O instrumento utiliza uma escala de respostas do tipo Likert, em três escalas: escala de
intensidade (nada; muito pouco; mais ou menos; bastante; extremamente); escala de frequência
73
Unidade II
(nunca; raramente; às vezes; repetidamente; sempre); escala de avaliação (muito ruim; ruim; nem
ruim/nem bom; bom; muito bom, e muito insatisfeito; insatisfeito nem satisfeito/nem satisfeito;
satisfeito; muito satisfeito).
• Escala de intensidade:
Tabela 2
1 2 3 4 5
• Escala de frequência:
Tabela 3
1 2 3 4 5
• Escala de avaliação:
Tabela 4
1 2 3 4 5
Tabela 5
Muito ruim Ruim Nem ruim, nem boa Boa Muito boa
1 2 3 4 5
74
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Observação
A tradução desse instrumento para o português foi realizada pelo Departamento de Psiquiatria e
Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, respeitando os parâmetros
e a metodologia propostos pela OMS (FLECK et al., 1999).
IV. Revisão pelo grupo bilíngue para incorporação das sugestões do grupo
monolíngue.
O instrumento WHOQOL-100 pode ser aplicado em diversas situação e realidades, com prática
clínica, aprimoramento da relação médico-paciente, avaliação e comparação de respostas em diferentes
tratamentos médicos e como parâmetros para avaliação de serviços e políticas públicas (FERRO, 2012).
No entanto, esse instrumento que apresenta 100 questões tem a característica de ser longo e sua
aplicação exige um tempo maior por parte do entrevistado e do entrevistador. Portanto, diante dessa
realidade e da necessidade de um questionário mais conciso, o grupo de Qualidade de Vida da OMS
desenvolveu uma versão abreviada do WHOQOL-100, criando o WHOQOL-bref (FLECK, 1998).
Com essa versão, preserva-se a abrangência da qualidade de vida e apresenta-se uma alternativa de
grande utilidade para as situações em que a aplicação da versão original (WHOQOL-100) torna-se difícil,
devido principalmente à restrição de tempo (FERRO, 2012).
75
Unidade II
Quadro 6
Saiba mais
Para conhecer mais sobre o grupo de estudos em qualidade de vida da
UFRGS, bem como os instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-bref, acesse:
Disponível em: https://www.ufrgs.br/qualidep/qualidade-de-vida.
Acesso em: 23 nov. 2016.
Tanto o IDH como os WHOQOL-100 e WHOQOL-bref têm suas metodologias e validades comprovadas,
permitindo comparações entre os estudos, porém ambos apresentam limitações, uma vez que cada um
pretende avaliar uma esfera e especificações de uma sociedade e do indivíduo em cada contexto.
76
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
No Brasil, a produção de conhecimento é relativamente nova, e a cada ano tem aumentado não
apenas em alguns grupos determinados, mas também em indivíduos com alguma patologia determinada,
levando em consideração o conhecimento de como a enfermidade compromete a vida dos indivíduos,
focalizando na qualidade de vida relacionada à saúde.
O mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto
ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele
é inesgotável (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 14).
Quanto à ideia de qualidade de vida, também tem um caráter abrangente, que pode ser
abordado por diversas áreas de estudo e conhecimento; todavia, para obter um entendimento da
qualidade de vida de uma maneira integral, não se pode ter uma compreensão apenas a partir de
dados estatísticos, os quais podem propiciar uma interpretação reducionista da realidade de certa
população ou de uma sociedade heterogênea, como é possível de acontecer mediante os índices
produzidos pelo IDH.
Lembrete
Esses indicadores refletem uma percepção objetiva da realidade social, sem observar as características
individuais dos sujeitos que compõem o grupo. A percepção do sujeito ou a percepção subjetiva é
caracterizada pela compreensão do indivíduo sobre sua realidade e as possibilidades de desenvolvimento
por meio de suas ações, sendo um autor ativo nas alterações de sua qualidade de vida.
É interessante observar que a corporeidade e a qualidade de vida aludem ao indivíduo para que ele
seja um ser de transformação, mediante o corpo e a cultura em que está inserido, e não apenas um mero
reprodutor de uma cultura, de um poder ou de paradigmas sociais.
77
Unidade II
Santin (2002) tem como convicção que a qualidade de vida e a corporeidade não são uma
única ideia ou concepção abstrata, mas que cada indivíduo as constrói e que essas duas esferas
do ser humano acontecem “aqui e agora”, sendo uma construção existencial, vivencial, e não mera
representação científica.
Moreira et al. (2006) atribuem o conceito de um corpo ativo, sendo isso uma corporeidade vivida,
de um ser que percebe e concebe o mundo, os outros corpos e a si mesmo, na tentativa de reaprender
a viver no mundo ou na sociedade em que ele se insere:
Pela corporeidade, o homem tem de compreender de uma forma significativa os aspectos culturais,
pois a qualidade de vida também está relacionada com uma caracterização, uma delimitação e com o
reflexo cultural da sociedade. O corpo não é “nada mais” que um símbolo da sociedade em que ele vive;
o corpo reproduz em escala menor os perigos e poderes que são atribuídos à estrutura social vigente
(SANTIN, 2002).
Em face disso, a qualidade de vida é um processo que deve ser incorporado pelo sujeito, por meio
da corporeidade, que tenta entender o ser humano em seu sentido mais amplo, relacionado com sua
história e sua cultura. Entretanto, para que isso ocorra, não é possível reduzir o ser humano a uma única
esfera de compreensão ou somente a uma visão/interpretação objetiva.
Essa manutenção da vida acaba levando a uma sobrevivência forçada, em um ambiente com
muita diversidade de padrões sociais, os quais são supostamente aceitos em uma sociedade
globalizada. Nessa sociedade, o corpo está relacionado à estética e ao serviço de produtividade,
traduzido em uma qualidade de vida aparente, negando, muitas vezes, as questões originárias
78
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
A busca por uma qualidade de vida é ter como objetivo uma vida sem sofrimento, com felicidade, sem
dor, um convívio social harmônico e com igualdade de oportunidades às pessoas, bem como condições
que propiciem o desenvolvimento e uma participação ativa nas decisões sociais dos sujeitos.
Diante disso, a qualidade de vida está ligada – vem juntamente – com a corporeidade, o corpo vivo,
o corpo vivido, pois uma pessoa só irá compreender e identificar a sua qualidade de vida sabendo como
é a corporeidade (SANTIN, 2002).
Tal qualidade não é pertencente exclusivamente a uma esfera conceitual e objetiva, pois essa
noção é percebida pelo sujeito por diversos processos, inclusive emocionais, não podendo ser regidos
exclusivamente pelo conhecimento científico, mas por percepções subjetivas também. No entanto,
tendo a consciência de que a busca da qualidade de vida percorre um caminho de desenvolvimento que
tem como objetivo a transcendência, ou seja, superar seus limites, uma vez que é esse o sentido de se
incorporar uma vida de qualidade.
O conceito de corpo ativo, segundo Moreira et al. (2006), é de uma corporeidade vivida, que concebe
um entendimento do sujeito a respeito do mundo, dos outros e de si mesmo, em uma investida de
interpretar as relações, de aprender novamente a observar a vida e o mundo. A vida, que representa o
corpo ativo, tem a pretensão de ver o que os seres que integram o mundo tentam lhe mostrar, pois esses
estão encobertos uns pelos outros e pelo próprio sujeito.
O corpo ativo, em busca de uma qualidade de vida, em sua essência, tenta compreender a sua
realidade, necessitando de uma reflexão para incorporar suas características, aprender sobre as coisas
em diversas perspectivas e, assim, promover um desenvolvimento de suas habilidades.
Para o desenvolvimento desse corpo ativo se faz necessário construir uma educação apropriada,
pois esse desenvolvimento está relacionado com a experiência humana que esse próprio corpo
carrega: a aprendizagem de uma cultura. Dessa forma, o corpo humano não pode ser concebido
com um conjunto de órgãos e sistemas, mas deve ser compreendido como uma estrutura global
em que ocorrem interações (MOREIRA et al., 2006).
Segundo Gonçalves (2012), a qualidade de vida se relaciona a uma aparente dicotomia de pensar e
agir, em que o ambiente e o estilo de vida influenciam a vida, e que essa vida tem que estar centrada em
79
Unidade II
uma seguridade, para a sua manutenção, saúde e desenvolvimento, trazendo um conceito e a prática
de protagonismo social.
Assim, a corporeidade parte de um processo de aprendizagem pelo corpo, que tem como objetivo
compreender o ser humano, pois a relação com o corpo é com outro ser humano, dando sentido a
sua existência, sua história e a sua cultura, trazendo este protagonismo social que a qualidade de
vida proporciona.
Esse trabalho não será realizado de uma maneira passiva, sem a oportunidade para que o
indivíduo possa desenvolver sua forma de interagir com o mundo e com aqueles que o habitam;
esse conhecimento multidimensional tem de se relacionar com um desenvolvimento em uma
realidade do homem com a sociedade, pois essa realidade contém as dimensões individual, social
e biológica (MOREIRA et al., 2006).
Para Morin (2000), o conhecimento tem de ser adequado e refletir o contexto global, multidimensional
e complexo, bem como as informações e o saber devem ser completos, e não isolados. Quando o contexto
é global, abordando as diversas esferas da construção do conhecimento, será revelado um conjunto de
ideias e de contextos organizados, refletindo na sociedade (MOREIRA et al., 2006).
Para se ter uma corporeidade plena, e que isso se reflita na qualidade de vida e vice-versa, é
necessário inserir uma ética com o intuito de transformar a intencionalidade em ações de cidadania para
uma sociedade democrática, com diversidades de interesses e ideias. Assim, se faz necessário conviver
com uma diversidade de espécies dentro do próprio mundo em que o ser humano habita, dando uma
proteção ao meio ambiente (MOREIRA et al., 2008).
80
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Espécie
Sociedade
Indivíduo
Porém, nas últimas décadas, vem ocorrendo uma redução de corpos ativos, principalmente para
a realização de tarefas cotidianas, aumentado as patologias ligadas ao sedentarismo (LAMBERTUCCI
et al., 2006).
Segundo Lambertucci et al. (2006, p. 110), a atividade física “representa parte da preparação do
homem para a atividade profissional ou alguma outra atividade”. Perante isso, a atividade física pode
ser caracterizada como um instrumento em que o indivíduo pode modificar e adaptar seu corpo para,
assim, obter melhoria em sua qualidade de vida.
A prática de exercícios físicos e a qualidade de vida sempre tiveram uma relação bem estreita,
independentemente do conceito adotado, ambos conectam aspectos físicos, emocionais e de
relacionamento, sempre associados ao bem-estar (ALMEIDA et al., 2004).
Nos últimos anos, têm-se observado um aumento expressivo no interesse pela prática de exercícios
físicos, com os mais diversos objetivos, sendo eles estéticos, de promoção ou manutenção da saúde.
Perante esse panorama, a educação física estabeleceram-se relações entre a prática de atividade física e
intervenções fisioterapêuticas com a promoção da saúde e do bem-estar (MODENEZE; VILARTA, 2010).
A cultura de uma sociedade em que o sujeito está inserido determinará como se dá a relação entre a
atividade física e a qualidade de vida, e isso definirá suas ações pessoais e as possibilidades criadas pelo
ambiente, como programas ligados à melhoria da condição de vida da população (ALMEIDA et al., 2004).
Vários fatores vão influenciar a percepção de qualidade de vida de um indivíduo, tanto os componentes
ligados à esfera de percepção objetiva quanto à esfera de percepção subjetiva. O acréscimo em qualquer
81
Unidade II
componente deve considerar uma dinâmica que possibilite o acesso a bens de consumo e as escolhas
disponíveis (MARQUES; GUTIERREZ; MONTAGNER, 2010).
Esses valores podem ser exemplificados, como a educação, o mercado, além das diversas possibilidades
de consumo, e o componente que mais compreende ou se relaciona com a qualidade de vida na sociedade
contemporânea é a saúde (MARQUES; GUTIERREZ; MONTAGNER, 2010).
A noção de saúde, segundo Minayo (2000), é determinada pela resultante social da construção
coletiva dos padrões de conforto e tolerância que determinada sociedade estabelece, sendo que o estado
de saúde de um indivíduo sofrerá interferência de numerosas variantes, como os domínios funcionais,
até os elementos físicos, sociais, ecológicos e de hábitos pessoais (ALMEIDA et al., 2004).
Com isso, a saúde e a doença de uma pessoa não podem ser relacionadas somente a um único
aspecto, pois se configuram por uma relação contínua, a qual dependerá de ações individuais do
ambiente e das políticas públicas.
A mensuração das condições de saúde irá determinar as possibilidades de acesso aos bens e serviços
relacionados à saúde, os quais são disponibilizados à população. A organização desse acesso pode ser
dividida em duas abordagens: a prevenção em saúde e a promoção da saúde.
Com essas duas abordagens, a saúde apresenta um sentido mais amplo e uma questão social mais
extensa, que vai além da perspectiva individual. Logo, o estilo de vida positivo é determinante para a
promoção da saúde, assim como a prática regular de atividades físicas e a manutenção de posturas
adequadas na escola, no trabalho e no domicílio, fazendo parte de um processo que integra diversos
fatores, não sendo eles, somente, a solução dos problemas de saúde (ALMEIDA et al., 2012).
Os hábitos saudáveis dos indivíduos e os estilos de vida, que compreendem principalmente a esfera
de percepção subjetiva de cuidados à saúde, interferem nas atitudes cotidianas. Para Gonçalves e Vilarta
(2004), os comportamentos saudáveis são:
82
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Percebe-se que os hábitos que interferem no cotidiano englobam ações, como alimentação,
relacionamentos interpessoais e prática de atividade física. Em face disso, é inegável que a incorporação
de hábitos saudáveis advém do comprometimento do indivíduo a uma rotina apropriada, desde que as
suas condições de vida favoreçam essas escolhas.
Na sociedade atual, é atribuída uma colocação privilegiada para a atividade física, a fim de conquistar
uma situação melhor de saúde, denotando uma função ampliada, embora advinda de um único conceito
e, por consequência, resumindo as diversas dimensões que permeiam o ser humano.
Assim como a qualidade de vida, é necessário conceituar o que vem a ser a atividade física. Segundo
Carvalho (2001, p. 69) a atividade:
Com essas definições, é possível observar que a atividade física está relacionada ao movimento humano,
realizado pelo próprio corpo e seus componentes, gerando um gasto energético, independentemente de
ser uma atividade sistematizada ou até mesmo uma atividade da vida cotidiana.
Nesses conceitos explicitados pelos três autores mencionados existe a noção de que atividade física
está associada à saúde e de que são interdependentes – preceito esse explorado principalmente pela
mídia e diversos meios de comunicação.
83
Unidade II
Saiba mais
Em razão disso, é “vendido” um paradigma de que a atividade física está sempre conectada com
a saúde, gerando estereótipos de saúde e boa forma. Em diversos estudos já se comprovou que a
prática de atividade física regular auxilia na manutenção da saúde, porém não se pode descartar
que o processo para se adquirir saúde é complexo e sofre influência de diversos componentes
(ALMEIDA et al., 2004).
A atividade física, assim como a saúde, apresenta um composto de variáveis e opções existentes, e
cada uma dessas opções apresenta certa influência no bem-estar do indivíduo, para uma continuidade
ou manutenção da saúde; contudo, é preciso ter as primícias de que a prática dessa atividade está de
acordo com as características e as expectativas do indivíduo, assim como o local e as metodologias nela
empregadas (ALMEIDA et al., 2004).
O predomínio por atividade “A” ou “B” muda com o passar dos anos. Na década de 1970 havia
predominância pelas atividades da ginástica aeróbica, que conquistou grande parte da população na
época, porém sofreu forte resistência da sociedade médica, em razão da alta incidência de lesões por
desgastes e traumas de seus participantes, chegando ao ponto de a comunidade médica desaconselhar
a prática dessa atividade (MODENEZE; VILARTA, 2010).
Já nos anos de 1980, a atividade predominante era o treinamento de força, principalmente pelo
aumento no número de fabricantes de máquinas e equipamentos para academia. Essa ideia permanece
até hoje, pois se uma academia não tiver os últimos equipamentos e recursos disponíveis no mercado
ela será considerada defasada (MODENEZE; VILARTA, 2010).
Também nessa época, em decorrência desse tipo de atividade e do local onde ela era desenvolvida,
surgia a indústria fitness, com o aparecimento de cursos para o desenvolvimento de técnicos com
qualidade questionável e a venda de mercadorias, como roupas e suplementos alimentares (MODENEZE;
VILARTA, 2010).
Enquanto a fisioterapia já se encontrava sólida como profissão desde 1969, na década de 1990, a
educação física no Brasil se tornava uma profissão regulamentada, recebendo um maior investimento
em qualificação, credibilidade e profissionalismo (MODENEZE; VILARTA, 2010). No entanto, o movimento
fitness ainda conseguia angariar e sensibilizar a sociedade a respeito do combate ao sedentarismo,
principalmente por ações vinculadas nas mídias, com discursos motivacionais redundantes e sem
embasamento científico. Esse movimento também é responsável por instaurar alguns conceitos de que
84
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
para se ter um grande ganho, ou seja, benefícios fisiológicos, é preciso “treinar bastante” – enfatizando
a ideia de “quanto mais, melhor”. Muitas vezes, essa abordagem é acompanhada por um número muito
elevado de dias e horas de treinamento, assim como o uso indiscriminado de agentes anabolizantes e
praticantes lesionados.
Atualmente, em oposição ao estilo fitness, que ainda apresenta grande influência, foi desenvolvida a
abordagem de wellness, a qual tem como fundamento filosófico o conceito de bem-estar, em oposição
à ideia fitness. Assim, passa a ser atribuído um valor maior aos ideais de como o indivíduo se sente
ao fazer uma atividade. A ioga, o tai chi chuan e o pilates, por exemplo, ganharam muito adeptos
(MODENEZE; VILARTA, 2010).
Para a adesão de um estilo de vida saudável, a adoção de exercícios físicos regulares e sistematizados
não deve acontecer baseada em modismo ou por imposição de algum sistema, mas considerar as
características e as condições de vida do indivíduo. Entretanto, a realidade nem sempre reflete o que
deveria ser o ideal, principalmente pela dificuldade de acesso a alguns tipos de atividades físicas e por
condições socioeconômicas desfavoráveis (ALMEIDA et al., 2004).
Mesmo apresentando alto índice de sedentarismo, as camadas sociais com maior poder econômico
nem sempre vão adotar um estilo de vida mais saudável (LOVISOLO, 2002).
Um dos motivos para o aumento do sedentarismo pode estar ligado às facilidades de acesso aos
bens tecnológicos – que de certo modo também promovem um aumento da qualidade de vida por
torná-la mais ágil e dinâmica. Contudo, convém notar que isso provoca a substituição da atividade
motora humana pela atividade de máquinas (ALMEIDA et al., 2004).
Por outro lado, os avanços tecnológicos podem ser benéficos ao desenvolvimento e à adesão a
uma prática de atividade física, uma vez que a tecnologia está incorporada ao cotidiano da sociedade
contemporânea e o seu uso pode ser um aliado ao estilo de vida mais saudável, assim como à manutenção
desse hábito.
85
Unidade II
A aptidão física também é uma variável referente à prática de atividade física, que pode auxiliar no
desempenho físico-motor, contribuindo para uma melhor execução das atividades de vida diárias (ADV)
ou esportivas e de lazer, além de auxiliar na prevenção de doenças e aumentar a disposição para realizar
tarefas cotidianas (ALMEIDA et al., 2004).
Essa ideia pode ser relacionada à criação do treinamento funcional, cujo objetivo é obter melhora
nas aptidões da capacidade física para a execução adequada de atividades rotineiras (MODENEZE;
VILARTA, 2010).
A partir das aptidões físicas que os indivíduos possuem, pode-se identificar que a atividade é
diferenciada, tendo um sentido de acordo com o tipo de prática, à qual o indivíduo atribui significado e
pode se sentir mais motivado a realizar.
De acordo com Almeida et al. (2004, p. 48), é possível enumerar duas categorias que influenciam a
aptidão do indivíduo para essas práticas:
• Atividade física incorporada ao estilo de vida: prática que não tem o objetivo de alcançar os limites
físicos do organismo, focando no antissedentarismo, no prazer pela prática e na socialização. As
atividades podem ou não ser sistematizadas, não excluindo a sensação de cansaço e esforço.
86
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Com essas duas abordagens é possível verificar uma variação muito grande, uma heterogeneidade
de práticas, porém ambas ainda tentam trabalhar o bem-estar dos indivíduos, independentemente do
objetivo específico de prática.
Pelo fato de haver esse panorama, a escolha por uma atividade física que não esteja adequada às
características do indivíduo pode gerar um esforço além do ideal e produzir efeitos negativos para o
praticante, como as lesões.
Figura 40 – Independentemente da atividade física, as características e os limites do corpo devem ser levados em consideração
Diante disso, para relacionar a atividade física com a saúde, deve-se considerar os seguintes aspectos
(ALMEIDA et al., 2004):
• Características do sujeito.
• Aptidão física.
• Patologias.
• Problemas ortopédicos.
• Sentido da prática.
• Objetivo da prática.
87
Unidade II
O profissional que trabalha com a atividade física motiva as práticas e os hábitos saudáveis,
no entanto, é preciso ter a consciência de considerar as características de vida do sujeito e o seu
corpo. Caso isso ocorra, ele proporcionará uma prática adequada à realidade do indivíduo, que
promoverá uma melhoria na qualidade de vida (ALMEIDA et al., 2004).
Trabalhar com alguma esfera da qualidade de vida possibilita desenvolver a autonomia do sujeito,
e a atividade física favorece a melhoria do bem-estar, mas exige a atenção dos profissionais aos
impactos causados por essa prática nos aspectos social, emocional e de saúde (em sentido amplo).
O profissional também tem de ser crítico quanto às exposições que a mídia proporciona a respeito
de práticas saudáveis, pois ela semeia uma possibilidade quase infinita de práticas, com objetivos
aparentemente corretos e saudáveis, contudo, sem considerar as características complexas que compõem
a relação entre atividade física, qualidade de vida e saúde.
Na atividade física, como em qualquer atividade, ocorrem trocas de informações e, com elas,
alterações em preceitos morais e éticos, influenciadores da formação e do desenvolvimento a respeito
da qualidade de vida do sujeito.
A prática regular da atividade física, quando desenvolvida de uma forma que respeite as
características do indivíduo – incluindo-se seus aspectos culturais – acarreta benefícios para os diversos
sistemas que integram o organismo, assim como é importante para o tratamento de algumas patologias
(LAMBERTUCCI et al., 2006).
No tocante ao sistema respiratório, a asma é uma das patologias mais comuns na infância,
diminuindo a capacidade de realizar exercícios, em que o próprio exercício pode desencadear o
processo asmático, principalmente se ocorrer atividades de alta intensidade que necessitem de um
elevado consumo de oxigênio (LAMBERTUCCI et al., 2006). Atividade de intensidade moderada e
prática regular de atividade física aeróbia reduzem a sensação de dispneia (falta de ar) e aumentam
a tolerância ao esforço físico, melhorando a qualidade de vida.
Observação
Na atividade aeróbia com intensidade de baixa a moderada, o oxigênio
está presente na produção de energia.
O sistema ósseo tem como funções a sustentação e a proteção do corpo, e constantemente passa
por processos de remodelamento, por causa da atividade das células ósseas.
A prática de atividade física por crianças, adolescentes e jovens aumenta a densidade óssea,
tornando-os mais resistentes a traumas relacionados a ações mecânicas. Todavia, com o envelhecimento,
principalmente nas mulheres, após a menopausa, ocorre um desequilíbrio entre a produção e a absorção
de massa óssea, aumentando a possibilidade de surgimento da osteoporose; entretanto, a atividade
física desenvolvida de modo regular faz com que os ossos continuem fortes, minimizando os riscos de
doenças (OCARINO; SERAKIDES, 2006).
88
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Quanto ao sistema cardiovascular, a hipertensão arterial é tida como uma das principais patologias.
Essa doença é uma condição na qual a pressão do sangue no interior dos vasos sanguíneos se encontra
mais elevada do que os padrões indicados para os indivíduos de acordo com a sua idade e tamanho,
exigindo um maior trabalho por parte do coração, principalmente para bombear sangue para todo o
corpo, possibilitando o desenvolvimento de outras patologias, como infarto do miocárdio e acidente
vascular encefálico (AVE, também conhecido como AVC) (BARROSO et al., 2008).
A atividade física vem sendo usada como tratamento para a hipertensão arterial, pois durante o
exercício tem-se uma necessidade maior de nutrientes e de oxigênio para os músculos, ocorrendo um
fluxo sanguíneo mais intenso, o que acaba removendo produtos que podem ser tóxicos à estrutura
muscular, como o lactato. Portanto, com a adesão a uma prática regular e com intensidade de esforço
adequada, aumenta-se a capacidade de contração dos vasos sanguíneos, diminuindo a pressão arterial
(BARROSO et al., 2008).
No que se refere ao peso corpóreo, ele é resultado do equilíbrio entre a quantidade de alimentos
consumidos e a energia gasta. Quando se ingere alimentos com grande quantidade de calorias, mas
a energia gasta é menor do que a consumida ocorre aumento de peso (no caso, aumento de massa
gorda), em razão do depósito de gordura nas células adiposas (MENDONÇA; ANJOS, 2004). A obesidade
é o excesso de sobrepeso (de acordo com índices advindos de cálculos referentes a cada indivíduo), e
os riscos que ela proporciona podem ser elencados, como dificuldades no funcionamento do coração,
doenças renais, pulmonares, degeneração articular e distúrbios psicológicos associados principalmente
à autoimagem (LAMBERTUCCI et al., 2006).
Figura 41 – A obesidade é umas das doenças que mais crescem no mundo devido
à diminuição da atividade motora e ao aumento do consumo calórico
89
Unidade II
Observação
Os riscos da diabetes são variados, como hipertensão arterial, doenças coronarianas, retinopatia
(doença nos olhos) e distúrbios renais – distúrbios esses que podem levar à falência renal crônica. O
exercício físico é eficiente no controle da diabetes, ajudando a normalizar a concentração de glicose no
sangue: quando ocorre a contração muscular, aumenta a utilização da glicose (uma vez que ela é fonte
de energia), levando à necessidade de a insulina (um hormônio) ser utilizada para facilitar a entrada de
glicose nas células musculares (COLBERG, 2003).
De acordo com esse breve panorama da importância da prática de atividade física nos vários sistemas
de funcionamento corporal, nota-se que a atividade física irá interferir de um modo muito positivo, se
adequadamente ministrada, os seus efeitos são muito benéficos. Nesse sentido, o desenvolvimento de
programas adequados pode prevenir doenças e melhorar a qualidade de vida de um indivíduo ou de toda
sociedade. Convém destacar que os efeitos são benéficos desde que sejam respeitadas as características
individuais, as quais estão intimamente associadas ao ambiente e à carga cultural que o corpo carrega.
O esporte, uma das atividades físicas que tem muita influência na qualidade de vida do indivíduo e
até de sociedades inteiras, pode favorecer mudanças no modo e condições dos sujeitos (de uma forma
profissional ou não).
Para Almeida e Rose Júnior (2010), o esporte tem função para a vida do homem em sociedade,
principalmente na questão da socialização, em que são transmitidos valores, diversas formas de
sociabilização, educação e saúde. Embora possa ser considerado como expressão de uma arte, ele
também tem sido usado como palco para banalização e violência social.
Logo, o esporte é a manifestação de uma cultura; ele passou por diversas épocas, vocações distintas
e reflexos das características acolhidas e desenvolvidas pelas sociedades em que está introduzido. Dessa
forma, o esporte apresenta uma característica “heterogênea, polissêmica e polimorfa” (MARQUES;
GUTIERREZ; MONTAGNER, 2010).
Pela flexibilidade de ser praticado em diversos ambientes, o esporte apresenta uma variedade de
sentidos, que são marcados por normas e valores próprios, ligando-se com a temática de qualidade de vida,
também de uma forma ambígua ou com sentidos variados, gerando muitas vezes a noção de deseducação
para a conquista de desempenhos excelentes ou, em contrapartida, que possa contribuir para a melhoria
da saúde.
Mediante a cultura de uma sociedade, o esporte acaba por incorporar as diversas facetas desses
costumes e, em decorrência disso, torna-se um agente produtor de cultura para essa sociedade.
Por conseguinte, a qualidade de vida promove a possibilidade de obtenção de bens culturais e a
integração de hábitos saudáveis.
Segundo Almeida e Rose Júnior (2010), o esporte possui algumas dimensões, a saber:
• Papel histórico, sua racionalização e a ligação com os capitais simbólicos, artísticos e de poder.
• Dimensão científica.
Como mencionado anteriormente, o esporte pode ser tratado com um fenômeno social, principalmente
após a Segunda Guerra Mundial, pois as circunstâncias políticas mundiais se alteraram e, consequentemente,
o esporte também se transformou, ganhando nova forma, em especial para o ensino de uma educação
voltada ao movimento, agregando aspectos pedagógicos às questões técnicas e táticas de diversas
modalidades esportivas que o compõem (ALMEIDA; ROSE JÚNIOR, 2010).
A relação do esporte com a saúde está estreitamente ligada aos seus conceitos, sendo fundamental
recordar que o esporte reflete a sociedade e a cultura que foi construída, no entanto, o esporte, por si
só, não consegue desenvolver a saúde por completo.
Portanto, esporte e saúde ainda têm “um caminho a percorrer” para se conseguir estabelecer uma
relação entre ambos, pelo fato de diversas modalidades proporcionarem efeitos diferentes no organismo,
o que pode não atender ou se adequar à realidade ou à carência de um indivíduo ou sociedade.
92
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Nesse sentido, os diversos ambientes em que os esportes são realizados e desenvolvidos e também
as suas diversas manifestações podem contribuir para se ter efeitos positivos e negativos na saúde
(MARQUES; GUTIERREZ; MONTAGNER, 2010).
A diferença entre a relação esporte-saúde e atividade física-saúde é que o primeiro não apresenta
apenas a característica de se movimentar como o segundo, levando o esporte a outro nível de colaboração
para a saúde, sempre tendo em vista as carências e as perspectivas do indivíduo e mostrando os
princípios da prática que o ambiente proporciona. Entretanto, existem princípios e valores questionáveis
das atividades esportivas que geram a perda de uma boa saúde, como, por exemplo, a ocorrência de
contusões e uso de doping (MARQUES; GUTIERREZ; MONTAGNER, 2010).
As ocorrências de contusões no esporte, bem como em qualquer atividade física, podem acontecer
caso o praticante não tenha uma mínima preparação e aptidão física, o que inclui alimentação
adequada, regularidade na prática, local apropriado, entre outros. Porém as pessoas com preparação
física satisfatória não estão isentas de contusões.
Doping é o uso de recursos anabólicos para obter um desempenho maior do que se conseguiria
por meio de treinamento, além de ser resultado de um conjunto de princípios e valores que exige
um desempenho de excelência no nível de denominado esporte de alto rendimento. A busca por uma
constante superação de recordes e marcas, em associação com as premiações, gera uma atmosfera
favorável para essa prática. Por outro lado, esse tipo de situação não se restringe somente ao alto
rendimento; muitos indivíduos não atletas buscam os recursos ergogênicos para fins de superação
estética e autossatisfação (MARQUES; GUTIERREZ; MONTAGNER, 2010).
O caso mais recente de doping no esporte de alto rendimento foi o esquema de adulteração
de amostras de sangue e urina que aconteceu na Rússia, principalmente na Federação Russa de
Atletismo (Rusaf), gerando uma suspensão por parte da Federação Internacional de Atletismo
(IAAF), das competições internacionais e também dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016
(TERRA, 2016).
E é nesses esportes de alto rendimento que ocorre popularização do esporte, igualdade de acesso,
especialização, racionalização do movimento, burocracia motora e quantificação de rendimento e
recordes, integrando as práticas de movimento em uma escala mundial, já que a competição de uma
modalidade no Brasil é igualmente realizada no Japão, mesmo com diversas diferenças econômicas,
culturais e sociais entre os países (ALMEIDA; ROSE JÚNIOR, 2010; ALMEIDA et al., 2010).
Com isso, o esporte passa a constituir um fenômeno mundial e acarreta uma série de crises éticas,
especialmente quando há outros objetivos, ou seja, deixam de ser uma prática com significados e metas
próprios, mas são incorporados a fins políticos e econômicos.
93
Unidade II
Figura 43 – O Estádio Olímpico de Berlim, sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 1936, foi usado para a promoção da ideologia
nazista, principalmente com a tentativa de comprovação da soberania do ideal ariano sobre as outras raças
Figura 44 – O americano Jesse Owens venceu a prova de 200 metros rasos no atletismo, nos Jogos Olímpicos de 1936,
diante de Adolf Hitler, contradizendo os ideais de que a raça ariana era superior aos demais seres humanos
Com o acesso aos grandes eventos esportivos, o esporte passa também por uma transformação no
próprio sentido de sua prática: a busca de um rendimento máximo, independentemente do ambiente
em que ele é desenvolvido, até mesmo no esporte em nível de participação escolar.
Outra transformação refere-se aos investimentos que as nações promoveram e continuam a realizar
nos esportes – não somente no alto rendimento, mas também na incorporação de políticas públicas
e planejamento urbano para a esfera esportiva, além do desenvolvimento científico para a área do
esporte, possibilitando um avanço contínuo no entendimento desse fenômeno.
No tocante à questão da relação entre esporte e saúde, com vistas ao desenvolvimento de uma
qualidade de vida por parte de um sujeito ou até mesmo de uma sociedade, a manifestação do
94
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
“esporte‑participação” tem essa pretensão, porém na cultura brasileira existe uma monocultura esportiva
em que, muitas vezes, acontece uma separação entre os mais capacitados e os menos capacitados para
a atuação em determinada modalidade esportiva.
O esporte-participação apresenta como fundamento o ideal de que o indivíduo tenha aderência a uma
prática esportiva regular, sem a necessidade de uma hipercompeticão, isto é, de atingir resultados máximos em
determinado tempo. Além do mais, sem ter exclusivamente o espelhamento no esporte de alto rendimento
e na espetacularização midiática, isso pode fazer com que a sociedade acabe por adotar uma participação
esportiva incorporada ao seu cotidiano (ALMEIDA; ROSE JÚNIOR, 2010; ALMEIDA et al., 2010).
Com a exposição do esporte pela mídia, valores que normalmente pertencem ao alto rendimento
são incorporados a outras manifestações esportivas, como competição, beleza, originalidade, vitória,
recompensas, alegrias, frustrações e relações sociais, tornando-se uma prática com um número quase
inestimável de valores.
Por causa da constituição desses valores pelo esporte e também outros valores de fácil acesso a
todos, como o estético e a veiculação da violência, a vertente educacional que o esporte proporciona
tem de ser discutida e trabalhada em diversos ambientes, tanto de uma educação formal como não
formal (ALMEIDA; ROSE JÚNIOR, 2010; ALMEIDA et al., 2010).
Pelo fato de o esporte proporcionar um relacionamento interpessoal, acaba por ocorrer uma
transmissão não apenas de valores entre os sujeitos, que são pertencentes a sua formação humana, mas
também os valores que a prática e o ambiente trazem. Por esses motivos, é necessário ter uma educação
para a prática esportiva.
O início da vivência em uma educação com esporte é voltada ao ensino de aspecto tático, gestual
(motor) e de controle emocional para uma competição e, em um segundo momento, para aspectos mais
conceituais, como valores a respeito da competição, da cooperação e da vinculação do alto rendimento
com a exposição midiática (ALMEIDA; ROSE JÚNIOR, 2010).
Além dessas questões tratadas anteriormente, o desenvolvimento dos sistemas fisiológicos na busca
ou na manutenção da saúde pela prática do esporte tem de ser reiterado. Essa busca e essa manutenção
da saúde só serão possíveis caso o esporte seja praticado de forma adequada às características do
indivíduo, como as condições de vida, a idade e o condicionamento físico.
Questões de saúde, relacionamentos pessoais positivos e respeito ao adversário (fair play) são tendências
de valores trabalhados no esporte, principalmente no século XXI, mesmo ainda sofrendo forte influência
da espetacularização do esporte, que leva as pessoas a aderirem a uma prática de esportes por causa de
valores mercadológicos, como o consumo de produtos ligados a esse fenômeno histórico‑social que é o
esporte; porém a prática tem de atender às carências, às possibilidades, às limitações e aos objetivos dos
indivíduos que a ela se submetem (MARQUES; GUTIERREZ; MONTAGNER, 2010).
Com isso, fica claro que o esporte tem como enfoque o movimento do ser humano, um movimento
com intencionalidade, em que não pode ocorrer a separação do corpo em segmentos ou
95
Unidade II
partes. Esse movimento, quando sistematizado, pode levar a desenvolver benefícios à saúde e,
consequentemente, potencializar a adoção de um estilo de vida saudável.
O esporte não está relacionado somente ao rendimento esportivo, ao atingir metas e recordes mundiais,
mas também às modalidades esportivas serem utilizadas como uma possiblidade de movimentos diversos,
com uma intencionalidade e uma relação entre as potencialidades dos corpos dos seres humanos, tendo
assim uma interação social, em que isso faz parte de um processo de desenvolvimento da cidadania.
Figura 45 – Diversos valores são transmitidos pelo esporte, possibilitando uma melhor qualidade de vida
Resumo
96
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
compreensão, uma vez que não existe um único caminho, uma receita
certa como resposta, mas sim uma motivação e um desafio de reflexão,
tendo a ideia de que é preciso adquirir um conhecimento multidimensional,
sabendo que surgirão dificuldades e incertezas.
Logo, ele é uma manifestação de uma cultura que passou por diversas
épocas, vocações distintas e reflexos das características acolhidas pela
sociedade em que está introduzido. Assim, o esporte apresenta uma
característica heterogênea, polissêmica e polimorfa.
100
CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Exercícios
Questão 1. (Enade 2010) O mapa a seguir representa as áreas populacionais sem acesso ao
saneamento básico.
mais de 50%
de 31% a 50%
As áreas populacionais sem acesso ao saneamento, em média mundial
porcentagem do total da população em 2004, estão de 5% a 30%
representadas no mapa, conforme a legenda:
menos de 5%
dados não disponíveis
Figura 46
101
Unidade II
A) I e II.
B) I e III.
C) II e V.
D) III e IV.
E) IV e V.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: infelizmente a globalização acaba por trazer desigualdade entre algumas regiões;
isso fica claro quando se observa o mapa comparando o continente africano e o continente europeu.
Porém, o progresso social está diretamente ligado aos avanços econômicos de uma nação.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: geralmente, quando ocorre um grande crescimento populacional em uma região,
este não é ordenado, e isso provoca uma escassez de serviços essenciais para a manutenção de uma
qualidade de vida mínima. O acesso ao saneamento básico em países com grande densidade habitacional,
normalmente, não é considerado ideal.
habitacional, possuem um índice menor que a média mundial: mais de 50% da população não têm
acesso ao serviço de saneamento básico.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: está correto, pois os países ditos desenvolvidos possuem um IDH mais elevado, tendo
uma economia mais equilibrada, podendo reverter isso em serviços para a população, incluindo o serviço
de saneamento básico.
V – Afirmativa correta.
Justificativa: os pilares que compõem o cálculo do IDH são renda per capita, saúde e educação.
As aulas de educação física podem seguir um modelo que garanta a participação de todos os alunos,
em ações reflexivas que possibilitem a experiência diversificada de práticas motoras, pois a escola é
um local estratégico para intervenções em saúde, sendo possível atingir grande parcela de crianças,
adolescentes e jovens.
PORQUE
A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.
B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.
103
Unidade II
A) Alternativa correta.
A primeira asserção coloca a educação física escolar como um local para se desenvolver diversos tipos
de experiências motoras, com diferentes enfoques, e utiliza a segunda asserção como uma justificativa
para incluir a temática da saúde nesse espaço educacional.
B) Alternativa incorreta.
A segunda asserção é uma justificativa da primeira, pois a educação física tem de criar a consciência
nas crianças, nos adolescentes e nos jovens sobre a importância da prática de atividade física para a
manutenção e a conquista de uma boa saúde.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
A primeira asserção está correta, pois a educação física escolar é uma local onde se tem de promover
as práticas motoras, que devem incluir todos aqueles que estão participando.
E) Alternativa incorreta.
As duas asserções contêm informações e afirmações corretas de como se deve trabalhar a temática
saúde nas aulas de educação física para o desenvolvimento de uma percepção da qualidade de vida.
104
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 3
Figura 6
Figura 7
Figura 10
Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figura 15
105
Figura 16
Frame do vídeo TEMPOS modernos. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos: Charles Chaplin Productions,
1936. 89 minutos.
Figura 17
Figura 18
Figura 19
Figura 20
Figura 21
Figura 22
Figura 23
Figura 24
Figura 26
Figura 31
Figura 32
Figura 33
Figura 34
Figura 39
Figura 40
107
Figura 41
Figura 42
Figura 44
Figura 45
REFERÊNCIAS
Audiovisual
TEMPOS modernos. Dir. Charles Chaplin. Estados Unidos: Charles Chaplin Productions, 1936. 89 minutos.
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Exercícios
117
118
119
120
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000