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QUALIDADE DE VIDA E DOENÇAS PSICOSSOMATICAS 

Alunos:
Daniel Oliveira de Almeida Alves
Ana Lígia Machado Santiago

Muitos estudiosos tem buscando diferentes significados de qualidade de


vida, sendo grande maioria com significados diferentes tratando o mesmo
tema.  Com as diversas áreas estudam sobre o tema, cada um tenta contribuir
para o seu significado e para a sua clarificação do conceito. (TANI 2002) 
O conceito de Qualidade de vida é muito amplo, onde muitas vezes é
relacionado a saúde, felicidade e satisfação pessoal, condições de vida, estilo
de vida e dentre outros. Em consequência dessas diversas definições a
qualidade de vida apresenta-se como uma temática de difícil compreensão na
qual tende a ter certas delimitações que possibilite
sua analise cientifica. (PEREIRA, TEXEIRA & SANTOS, 2012)
Contudo, muitos desses estudos se limitam com as discrições de
indicadores sem fazer relações diretas com a qualidade de vida, onde muitos
só levam em conta alguns fatores, mas esquece outros, como por exemplo:
escolaridade, ausência dos sintomas das doenças, condições de moradia e a
própria percepção e subjetividade do individuo. (PEREIRA, TEXEIRA &
SANTOS, 2012)
Esses indicadores citados podem não se relacionar com o objetivo, pois
muitos estudos já classificam isso como sem qualidade de vida, inserindo
assim a subjetividade de cada indivíduo no grupo, fazendo com que ele perca a
sua particularidade de poder avaliar a sua capacidade de vida. (PEREIRA,
TEXEIRA & SANTOS, 2012)  
Os psicólogos Day e Jankey (2006) colaboraram bastante para o
entendimento e esclarecimento do conceito de Qualidade de vida onde
elaboraram estudos em 1960 que se popularizou em todo mundo. Day
e Jankey dividiram e classificaram seus estudos sobre qualidade de vida em
quatro abordagens gerais: econômica, psicológica, biomédica e geral ou
holística. (PEREIRA, TEXEIRA & SANTOS, 2012)  
Esses fatores estudados por Day e Jankey mudaram o pensamento
político da época, com o conceito de qualidade de vida em cima desses
fatores, vários países começaram a adotar esse pensamento de qualidade de
vida em sua constituição. (PEREIRA, TEXEIRA & SANTOS, 2012) 
Um dos países que passou adotar esse pensamento foi o Estados
Unidos, onde seu presidente da época de 1964 Lyndon Johnson, utilizou esse
termo em seu discurso na faculdade de Michigan que abordava o interesse
dessas pessoas sobre “boa vida” e “vida de qualidade”. Esse discurso também
foi importante para a ampliação do compromisso da sociedade em assegurar
às pessoas, estruturas sociais mínimas que lhes permitissem perseguir sua
felicidade. (PEREIRA, TEXEIRA & SANTOS, 2012) 
   Por outro lado a conceituação que foi adotada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) foi definida como "a percepção do indivíduo sobre a
sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos
quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações" (p. 1405). (Fleury, Zannon 2004)
Com isso a qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) depende da
percepção do indivíduo sobre a condição de sua vida diante da enfermidade,
ou seja, de que forma a doença afeta sua vida. A medição diante a essa
percepção deve ser bastante subjetiva, devida a dificuldade que o indivíduo
tem de relacionar sua disfunção às múltiplas dimensões de sua
vida. (Moura, Collet, Nobrega 2016)
Com o conceito estabelecido sobre qualidade de vida de acordo com a
OMS, deu para estabelecer condições de enfermidades psicossociais e físicas
que atrapalham e dificultam a estabilização da qualidade de vida. Uma delas
seria as doenças agudas e doenças crônicas.
A doença aguda pode ser entendida  como condições de  saúde de
curso curto que se manifestam de forma  pouco previsível e que podem ser
controladas de  forma episódica e reativa e exigindo um tempo de  resposta
oportuno do sistema de atenção à saúde, sendo está pouco monitorada, pois
muitas aparecem de forma alternada e sem aviso, mas seu manifeste e de
curto prazo.  
Já as doenças crônicas são as que mais afetam a Qualidade de vida do
indivíduo, pois interferem diretamente em seu estilo de vida e causando
limitações em sua capacidade produtiva e sua visão de mundo.
A doença crônica no Brasil de acordo com o ministério da saúde
(2013) constitui problema de saúde de grande magnitude, correspondendo a
72% das causas de mortes e hoje, são responsáveis por 60% de todo o ônus
decorrente de doenças no mundo 
Com isso, foi feito uma pesquisa de quanto essa porcentagem
irá aumentar no ano 2020, chegando a afirmar que as doenças crônicas serão
responsáveis por 80% da carga de doença dos países em
desenvolvimento. Atualmente, nesses países em desenvolvimento, a aderência
aos tratamentos chega a ser apenas de 20% (OMS, 2003).  
Com isso, essas doenças interferem diretamente no estilo de vida dos
indivíduos e causando limitações em sua capacidade produtiva e sua visão de
mundo. Um exemplo seria o diabetes mellitus (DM) uma vez que a terapêutica
requer dele uma mudança radical em seu estilo de vida e de sua família pela
necessidade de manter o controle metabólico nos parâmetros ideais.
(Moura, Collet, Nobrega 2016) 
Para isso, necessita que o indivíduo entre em uma dieta
complementada com atividade física, injeções diárias de insulina e consultas ao
endocrinologista para adequar as doses. Essa rotina causa tristeza, ansiedade
e frustração, principalmente se o indivíduo for uma criança ou
adolescente. (Moura, Collet, Nobrega 2016)
Nessas circunstancias o indivíduo está sujeito a desenvolver doenças
psicossomáticas que podem causar sintomas e doenças físicas. O termo
psicossomático compreende toda perturbação somática resultante de um
determinismo psicológico que intervém de modo constante na gênese da
doença. (GARCIA&BONFA, 2006)
Os transtornos situados na fronteira mente-corpo encontram-se
classificados no DSM-IV-TRTM como Transtornos Somatoformes onde, no
geral, a característica comum desses transtornos é a presença de sintomas
físicos que não são completamente explicados por essa condição nem pelos
efeitos de qualquer substância ou nem, ainda, por um outro transtorno mental.
(GARCIA&BONFA, 2006)
Os Transtornos Somatoformes estão divididos em Transtorno de
Somatização, Transtorno Somatoforme Indiferenciado, Transtorno Conversivo,
Transtorno Doloroso, Hipocondria, Transtorno Dismófico Corporal e Transtorno
de Somatização Sem Outra Especificação. (GARCIA&BONFA, 2006)
Essa abordagem atualmente possui um entendimento abrangente do
fenômeno do processo saúde e doença, finalidade integrar a doença à
dimensão psicológica, propiciando um melhor entendimento do paciente e uma
ação terapêutica mais abrangente e significativa, considerando o ser humano
na sua integralidade, nas suas dimensões biopsicossocial, ou seja um
complexo mente-corpo em interação com um contexto social. (SILVA&
MÜLLER 2007)

Uma vez que segundo Morin (2002) o homem está em relação com seu
ecossistema, sofre suas influências e o influencia. Assim é necessário respeitar
a singularidade do homem no seu ecossistema complexo, levando em conta
simultaneamente seus processos biológicos, psicológicos, sociológicos e
culturais. (SILVA& MÜLLER 2007)
O desenvolvimento das teorias da psicossomática, ao longo do tempo,
desenvolveu-se em três fases. A primeira foi pela psicanálise que teve seus
estudos voltados para a gênese inconsciente das enfermidades, teorias da
regressão e sobre os benefícios secundários do adoecer e entre outros.
(SILVA& MÜLLER 2007)
A segunda é a fase intermediária, behaviorista, que se concentrou em
pesquisas em homens e animais, tendo como auxiliar para sua interpretação as
ciências exatas. Já a terceira fase, atual, chamada de multidisciplinar ou
interdisciplinar, destaca a importância da dimensão social e suas interconexões
com a visão psicossomática, necessariamente possuindo uma interação entre
os diferentes profissionais de saúde. (SILVA& MÜLLER 2007)
Freud é considerado um dos percursores mais influentes nessa área
devido aos seus estudos sobre a Histeria e criação de conceitos que
formentaram discursões e fundamentarem inúmeros modelos, mesmo que não
tenha, em momento algum, se preocupado em criar a teoria psicossomática.
(CERCHIARI, 2000)
Porem o maior legado de Freud (1894) para as investigações
psicossomáticas se deve ao conceito de conversão individual. Esse termo foi
utilizado por Freud para explicar a transposição de um conflito psíquico na
tentativa de resolvê-lo em termos de sintomas somáticos, motores ou
sensitivos. (CERCHIARI, 2000)
Essa ideia amplia o campo da psicossomática que causou o surgimento
de dois ramos de investigação. O primeiro ramo concentra-se na Escola
Americana, conhecida pelos autores Franz Alexander e Dunbar no qual o ponto
de partida de se deu em um modelo médico. (CERCHIARI, 2000)
Nessa mesma perspectiva desenvolve-se as investigações
experimentais nos anos 30 que muito contribuiu para os avanços nas
investigações psicossomáticas. Tais descobertas foram feitas por Walter
Cannon e Hans Selye. (CERCHIARI, 2000)
O segundo ramo Trata-se da Escola Psicossomática de Paris, que irá
propor uma nova forma de mediação, viabilizando uma nova leitura do sintoma
e do sofrimento emocional ao atribuir um valor positivo aos fenômenos.
(CERCHIARI, 2000)
Por volta dos anos 70 Jonhn Nemiah e Peter Sifneos realizaram
pesquisas sobre a forma de se comunicar dos pacientes psicossomáticos e
constataram que dezesseis desses pacientes investigados demonstraram uma
dificuldade de expressar ou descrever suas emoções através da palavra, assim
como uma acentuada diminuição dos pensamentos fantasmáticos.
(CERCHIARI, 2000)
Estes autores concluíram que os pacientes com doenças
psicossomáticas clássicas, ao contrário dos pacientes psiconeuróticos,
apresentavam uma desordem específica nas suas funções afetivas e
simbólicas, acarretando uma forma de se comunicar confusa e improdutiva.
(CERCHIARI, 2000)
Esta maneira de comunicação foi chamada por Sifneos (1972) de
alexitimia. Nemiah que múltiplos fatores exercem influências no
desenvolvimento deste fenômeno tão complexo. Taylor (1988), concorda com
esta hipótese e diz que a maneira de se comunicar é influenciada, não somente
por fatores genéticos, neuropsicológicos e intrapsíquicos, mas também por
fatores socioculturais, pelo nível intelectual e pelos modelos dos discursos
familiares. (CERCHIARI, 2000)
Ao contrário do que acontece na histeria de conversão, onde o corpo se
rende à dramatização simbólica do conflito intrapsíquico, Mc Dougall (1980)
afirma que no fenômeno alexitímico o corpo segrega seus próprios
pensamentos. Sendo este corpo sentido como se pertencesse a alguém (mãe)
ou a alguma coisa (mundo externo). (CERCHIARI, 2000)
Para esse autor, o fenômeno alexitímico acontece em decorrência
conturbações na relação mãe-filho, sendo um fenômeno pré-neurótico e
extremamente precoce dominada pelos mecanismos de defesa de clivagem e
de identificação projetiva.
Essas perturbações correspondem à fase do desenvolvimento
simbiótico, onde as representações de si e as representações do objeto não
são nitidamente diferenciadas e também os símbolos não são utilizados de
forma concreta.
Nessa perspectiva A. Dias, com base nas ideias de Bion, coloca o
adoecer psicossomático no contexto da relação entre pensamento, emoção e
aparelho de pensar o pensamento, onde o fenômeno alexitímico deve ser visto
como manifestação da separação entre o pensamento e aparelho de pensar o
pensamento. (CERCHIARI, 2000)
Todas essas teorias e discursos serviram de grande base no
desenvolvimento e estruturação para o tema tão significando que é a
psicossomática. Uma vez que esses discursos ajudaram a ampliar a magnitude
das resoluções dos adoecimentos humanos e trazendo a importância da
relação corpo-mente.
Uma vez que quando a dor psíquica e o conflito psíquico decorrentes de
uma fonte de estresse ultrapassam a capacidade de tolerância do indivíduo,
em vez de serem reconhecidos e elaborados, eles podem ser emergidos em
manifestações somáticas, remetendo a uma falha na capacidade de
simbolização e de elaboração mental. (GARCIA&BONFA 2006)
Desse modo, com certas dificuldades de enfrentar tensões, o adoecer
pode ser considerado uma tentativa de estabelecimento de um equilíbrio para o
corpo, assim como o sintoma neurótico representa a saída para um conflito
psíquico.
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