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Introdução a Saúde Mental,

Cada vez mais, a Saúde Mental permanece e sobressai no quotidiano do indivíduo e


da própria sociedade. Do ponto de vista conceptual, existem diversas noções de
Saúde Mental, sendo que todas elas contemplam, entre vários aspectos: o bem-
estar subjectivo, a percepção da própria eficácia, a autonomia, a competência, a
dependência e a auto-realização das capacidades intelectuais e emocionais. Porém,
numa perspectiva transcultural, é quase impossível chegar a uma definição
exaustiva de Saúde Mental (COSTA, 2010). Contudo, o conceito de Saúde Mental é
mais amplo que a ausência de transtornos mentais.

Segundo a Organização Mundial da Saúde apud COMISSÃO DAS COMUNIDADES


EUROPEIAS (2005), Saúde Mental define-se como o estado de bem-estar no
qual o indivíduo realiza as suas capacidades, podendo fazer face ao stress
normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a
comunidade em que se insere. Porém, ao longo dos tempos, sempre houve a
tendência para contextualizar a Saúde Mental numa perspectiva psicopatológica
(RIBEIRO, 2001). Só a partir da década de setenta, se passou da Doença Mental e
da Psiquiatria à Saúde Mental, numa vertente mais positivista. Assim, esta
desmistificação tornou pertinente a avaliação da própria Saúde Mental nos
indivíduos, quer no contexto patológico, quer no estado de bem-estar psicológico
(indo de encontro à definição da Organização Mundial da Saúde). Vários
instrumentos passaram a ser criados com o objectivo de avaliar os sintomas
psicossomáticos e outros problemas de saúde, a par das alterações
comportamentais e psicofisiológicas como a ansiedade e a depressão. Deste modo,
estas alterações do foro psicopatológico encontram-se directamente relacionadas
com o distress psicológico que, segundo RIBEIRO (2001), se encontra directamente
relacionado com a frustração e por sentimentos ansio-depressivos de desânimo e
mal-estar psíquico. Por outro lado, a vertente positiva da Saúde Mental e o bem-
estar psicológico partilham o outro vértice desta avaliação subjectiva e específica da
saúde. Para MILHEIRO (2001), a Saúde Mental pode entender-se como a
capacidade do ser humano se situar fluentemente em três vertentes: na relação
consigo próprio, na relação com os outros e na relação com a vida. Trata-se de um
sentimento de bem-estar centrado numa harmonia interior e que emerge como
expressão da harmonia do funcionamento do indivíduo. Deste modo, em 1983, Veit
e Ware citados por FRAGOEIRO (2008), propuseram que a Saúde Mental fosse
avaliada de acordo com a estrutura apresentada da seguinte maneira:

Saúde Mental:

Bem-estar psicológico: Afectivo positivo geral; Laços emocionais

Distress. Psicológico: Ansiedade, depressão, perda de controlo


emocional/comportamental

Assim, esta estrutura engloba uma dimensão positiva, de bem-estar psicológico e


outra negativa, de distress psicológico. Ambas são consideradas relevantes na
avaliação da Saúde Mental (RIBEIRO, 2001), de tal maneira que foram o ponto de
partida para a criação do Inventário de Saúde Mental. Paralelamente, LAHTINEN [et
al.] (1999) consideram a Saúde Mental como uma componente essencial da saúde
em geral. Consideram-na como resultante de vários factores predisponentes (como
a hereditariedade e as experiências da infância), de factores precipitantes (tais como
acontecimentos de vida marcantes: divórcio, desemprego, perda de um ente
próximo), do contexto social e das experiências individuais. Assim, descrevem a
Saúde Mental positiva como a capacidade para perceber, compreender e interpretar
o meio envolvente, de forma a poder adaptar-se e integrar-se de forma sólida. Para
estes investigadores, a Saúde Mental é determinada por quatro factores
preponderantes:

a) factores e experiências individuais,

b) interacções sociais,

c) estruturas e recursos da sociedade e

d) valores culturais.

Por outro lado, a doença mental (Saúde Mental negativa) está mais relacionada com
as diversas patologias mentais e com a sua multiplicidade de consequências. Da
mesma forma, KORKEILA (2000) propôs também um conceito de Saúde Mental com
duas dimensões: uma positiva e outra negativa. De acordo com a autora, as
pessoas com Saúde Mental positiva demonstram, normalmente, afecto positivo e
traços positivos de personalidade. A Saúde Mental negativa reporta-se à patologia
mental, sintomas e problemas, encontrando-se directamente relacionada com o
distress psicologico. Para LAHTINEN [et al.] (1999), estas desordens mentais são
definidas pela existência de sintomas, desde alterações do humor e da percepção a
alterações dos processos de pensamento e da cognição. Contudo, estas alterações
mentais apenas são consideradas como uma doença se os sintomas se tornarem
duradouros e ultrapassarem o controlo da pessoa, com repercussões na sua
habilidade funcional.

FRAGOEIRO (2008) vem reforçar a ideia de que, na avaliação da Saúde Mental,


devem ser contempladas as vertentes relacionadas com o bem-estar psicológico e
com a capacidade das pessoas para lidarem com a adversidade. De acordo com
NOVO (2003) as perspectivas mais positivas e abrangentes tem considerado, com
maior frequência, o bemestar psicológico como uma dimensão fundamental da
Saúde Mental.

Deste modo, esse conceito de bem-estar subjectivo tem requerido alguma atenção
dos investigadores, nomeadamente nalguns estudos realizados por enfermeiros. De
uma forma geral, reportam-se da necessidade de um bem-estar intrínseco que um
profissional de saúde deve ter para, posteriormente, poder ajudar o doente de uma
forma mais capaz (MOREIRA, 2010).

Assim, referem que, reforçando a Saúde Mental positiva tornar-se-á mais fácil
prestar cuidados de Enfermagem com melhor qualidade, de forma humanizada e
humanizante. Neste sentido, a abordagem desta temática tornou-se, para o autor
desta investigação, pertinente e um motivo de grande interesse. Contudo, considera
essencial, em primeiro lugar, dar ênfase ao papel dos profissionais de saúde na
Saúde Mental para depois avaliar a própria Saúde Mental destes profissionais.

A Saúde Mental de uma pessoa está relacionada à forma como ela reage às
exigências da vida e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades,
ambições, ideias e emoções. Ter saúde mental é: Estar bem consigo mesmo e com
os outros. Aceitar as exigências da vida.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, saúde mental é um estado de


bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-
se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade.
Cuidar da saúde mental é fundamental, visto que impacta diretamente na qualidade
de vida da pessoa, no seu raciocínio, emoções, comportamentos e na maneira como
se relaciona com os outros. Isso vale desde criança, para evitar a e que ela se
prolongue com o passar do tempo.

A HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL: DO ANTIGO AO CONTEMPORÂNEO

Engana-se quem pensa que a saúde mental data apenas do período que
conhecemos como período contemporâneo/atual.

Desde muitos anos, antes mesmo de conhecermos a ciência que se desenvolveu


sob o nome de psicologia, tem-se que diferentes sociedades já pensavam sobre
isso, discutiam sobre essas questões, na medida em que observavam pessoas
apresentando comportamentos distintos daqueles considerados “comuns”.

Várias coisas mudaram desde então, dentre elas a maneira de se olhar para estes
em estado de sofrimento psicológico, a forma como se lidar com eles e como trata-
los de acordo com suas necessidades, experiências, objetivos e pertencimento
dentro da sociedade.

As nuances da saúde mental dentro da história do mundo e da humanidade foram


muitas – suas mudanças – e são sobre estas raízes históricas que iremos conversar
um pouco no texto da matéria de hoje.

PERÍODO NEOLÍTICO e MESOPOTÂMICO (8000 a.C. – 5000 a.C.)

Inicialmente, aquilo que se sabe a respeito da saúde mental dos nossos mais
antigos antepassados seria que suas hipóteses sobre questões mentais estariam
frequentemente caracterizadas como o resultado de crenças de que causas
sobrenaturais como possessões demoníacas, maldições, feitiçaria e até mesmo
deuses vingativos, estariam por trás dos incomuns sintomas.

Descobertas antropológicas datadas de 5000 a.C. mostraram evidências de que os


humanos do período neolítico acreditavam que a abertura de um buraco no crânio
permitiria que o espírito maligno (ou espíritos) que habitava a cabeça dos enfermos
mentais fosse libertado, curando-os assim de suas aflições.
Notavelmente, o processo não era fatal. Como alguns crânios teriam mostrado sinais
de recuperação, os pesquisadores acreditariam que esses indivíduos poderiam ter
sobrevivido aos processos de “cura”, vivendo anos mais depois.

Apesar da técnica rude, a abertura duraria séculos, usada como tratamento para
uma série de condições diferentes: fraturas de crânio, enxaquecas e enfermidades
mentais.

Com o tempo, as ferramentas seriam gradativamente aprimoradas para serras de


crânio e os exercícios, desenvolvidos com a finalidade exclusiva de “tratamento”.

Quando a violência não era usada, os médicos-sacerdotes (como os da antiga


Mesopotâmia) usavam rituais baseados em religião e superstição, pois acreditavam
também que a possessão demoníaca era a razão por trás dos distúrbios mentais.

Tais rituais incluiriam orações, expiação, exorcismos, encantamentos e outras


formas de expressões tribais da espiritualidade.

Os xamãs, por outro lado, recorreriam a ameaças e até punições caso os métodos
ritualísticos não tivessem sucesso em mudar o comportamento de um membro da
tribo, dado o reconhecimento social da efetividade de seus métodos.

EGÍPICIOS (3100 a.C. – 31 a.C.)

Foram os antigos egípcios que tiveram as ideias mais progressistas da época sobre
como tratar as pessoas que entre eles aparentavam ter dificuldades envolvendo a
saúde mental.

Os curandeiros do Nilo recomendavam que os pacientes se envolvessem em


atividades recreativas, como a música, a dança ou a pintura, na tentativa de que se
aliviassem seus sintomas, trabalhando para que houvesse alguma retomada de
“normalidade” – algo estranhamente semelhante a algumas das vias de tratamento
oferecidas nas instalações de tratamento mais recentes.

A antiga civilização egípcia também foi notavelmente avançada para o seu tempo
nos campos da medicina, da cirurgia e do conhecimento da anatomia humana – algo
que viria a calhar na preservação e mumificação de seus mortos.
Dois papiros, datados do século VI a.C., foram chamados de “os livros médicos mais
antigos do mundo”, visto que estariam entre os primeiros documentos desse tipo a
identificar, por exemplo, o cérebro como a fonte do funcionamento mental.

GREGOS (500 a.C. – 146 a.C.)

Uma crença padrão em muitas dessas culturas antigas, mas especialmente dentro
da cultura grega, era a de que a dificuldade mental seria vista como algo de origem
divina, geralmente como resultado de uma deusa ou deus raivoso.

Na tentativa de atribuir isso a uma causa compreensível, as pessoas daquelas


civilizações acreditavam que uma vítima ou um grupo de pessoas havia, de alguma
forma, transgredido contra sua divindade e estariam sendo punidas como
consequência disso.

Teria sido necessária a influência dos primeiros filósofos europeus para levar
adiante as ideias de “doença” e saúde mental em detrimento da hipótese dos
deuses.

Em algum lugar entre o V e III séculos a.C. , o médico grego Hipócrates rejeitou a
ideia de que a instabilidade mental era o resultado da ira sobrenatural.

Sobretudo, impressionantemente, ele teria escrito que os desequilíbrios no


pensamento e no comportamento seriam elementos de “ocorrência natural do
corpo”, em particular, vindos do cérebro.

IDADE MÉDIA (SÉCULO V – XV)

A crença grega de que os desequilíbrios mentais teriam sua origem como


“ocorrências naturais do corpo” persistira durante mesmo o longo período da Idade
Média.

Os médicos daquela época fariam uso de laxantes, eméticos (substâncias que


induziriam vômitos) e sanguessugas na tentativa de restaurar as proporções de
“equilíbrio do corpo” de seus pacientes.
Receitas que consistiam em aloés e heléboro negro, por exemplo, teriam a
capacidade de curar um indivíduo em depressão.

O tabaco importado das Américas era usado para fazer com que os pacientes
vomitassem os excessos do corpo.

Outros tratamentos fizeram com que os médicos extraíssem sangue da testa ou das
veias das pessoas, na tentativa de drenar também os males interiores para longe do
cérebro.

Normalmente, a família era responsável pela custódia e cuidado da pessoa em


dificuldades, visto que intervenções externas e instalações para tratamento
residencial eram raras na época.

Somente no final do século VI, em Bagdá, é que o primeiro hospital psiquiátrico seria
fundado.

Na Europa, as famílias que possuíam a guarda de indivíduos apontados como


portadores de alguma dificuldade mental eram vistas como fontes de vergonha e
humilhação; muitas delas recorreriam a esconder seus entes em porões, às vezes
prendendo-os, delegando-os aos cuidados dos empregados ou, simplesmente,
abandonando-os, deixando-os nas ruas como mendigos.

Nesse período, ter uma pessoa mentalmente considerada debilitada na família


sugeriria um defeito hereditário e desqualificador na linhagem, de maneira a lançar
dúvidas quanto à posição social e a viabilidade de toda a família, tamanho era o
estigma.

A prisão perpétua não estava fora de questão. Durante a Idade Média na Europa,
pessoas com dificuldades mentais poderiam ser sujeitas a punições físicas,
geralmente espancamentos, como uma forma de represália por seu comportamento
antissocial e indesejado. Algumas vezes, até como tentativa de literalmente expulsar
seus males.

CASAS DE TRABALHO, CLERO E ASILOS PARA “DOENTES” MENTAIS (SÉCULO


XVI – XVIII)
Ao fim do século XV e início do século XVI, outras opções de tratamento além das
limitações do cuidado familiar (ou custódia) se fariam presentes, como as casas de
trabalho – que nada mais seriam que paróquias vinculadas à igreja oferecendo
alojamento, cuidados e alimentação básica aos mais pobres e mentalmente
enfermos em troca de trabalho.

O clero nas respectivas igrejas desempenhou um papel fundamental no tratamento


recebido pelas pessoas em dificuldades mentais da época, uma vez que práticas
médicas eram consideradas como uma extrapolação lógica do dever dos
sacerdotes, entendido que estes deveriam fazer o que pudessem para tratar dos
males de seu povo.

Se uma família pudesse pagar por cuidados especiais, eles poderiam enviar a
pessoa amada para uma casa particular, de propriedade e operada por membros do
clero que se esforçariam para oferecer algum tratamento e conforto.

No entanto, as casas de trabalho e os mosteiros não conseguiriam acompanhar o


alcance total da população que precisava de cuidados em saúde mental, o que
abriria as portas para os asilos, que assumiriam o controle da maior parte destes
casos com o passar dos anos.

Sabe-se que os asilos, mesmo o primeiro fundado em Valência (1406), não


ofereciam nenhum tratamento ou conforto real aos necessitados, forçando seus
então pacientes a viverem em condições desumanas, submetendo-os a abusos
cruéis.

Essas instalações, na verdade, eram prisões exceto em seus nomes. Não havia o
conceito de cuidar ativamente de indivíduos com dificuldades mentais, isolando-os
apenas de suas famílias e da sociedade em geral, de forma a minimizar dentro da
mentalidade da época aquilo que poderia ser percebido como risco de dano a
comunidade.

Acreditava-se que a perturbação mental ainda era uma escolha, por isso os
funcionários usavam restrições físicas, camisas de força e até mesmo ameaças para
tentar “curar” os indivíduos. Às vezes, drogas eram dadas aos pacientes
considerados mais “perigosos” e “difíceis”.
Um exemplo disso foi o caso do médico holandês que chegou a desenvolver uma
“cadeira giratória” que deveria literalmente sacudir a anatomia e o sangue do corpo
para tentar restaurar seu equilíbrio – técnica que nunca conseguiu apresentar
qualquer melhora real e significativa nas pessoas.

Quando a notícia se espalhou sobre os ambientes subumanos dentro dos asilos, um


apelo por reformas surgiria na Europa na última parte do século XIX.

Um reflexo do movimento ocorreria em um asilo na cidade de Devon, na Inglaterra,


que abandonou os métodos de tratamento baseados na contenção e agressividade
para com as pessoas.

AS RAÍZES DA REFORMA E OS NOVOS TRATAMENTOS (SÉCULO XIX)

Apesar do exemplo inglês, o movimento de reforma começaria mesmo em Paris, no


ano de 1792, sob os estudos do Dr. Philippe Pinel, desenvolvedor da tese de que
pessoas psicologicamente enfermas precisariam de cuidados gentis para melhorar
suas condições de saúde mental ao contrário da recorrente violência.

Ele ordenaria que as instalações sob seus comandos fossem limpas, que os
pacientes fossem desencadeados e colocados em quartos com luz solar,
autorizados a se exercitarem livremente dentro do hospital e que sua qualidade de
cuidado fosse melhorada.

O tratamento moral evitava os tratamentos médicos tradicionais comumente


encontrados nos manicômios, como a sangria terapêutica e as restrições físicas, e
em vez disso, concentrava-se em tornar os manicômios mais parecidos com um “lar
estrito e bem administrado”.

Ao invés de serem enjaulados e escondidos em porões, pensava-se em encoraja-los


a considerar as consequências de seus comportamentos e a participar da
manutenção da instalação.

Lá dentro, as pessoas estariam sujeitas a regras e a vigilância; receberiam


recompensas e punições simples, de acordo com o definido como apropriado.
No entanto, os críticos – principalmente os norte americanos – argumentavam que o
método não tratava realmente os pacientes, na medida em que os tornava
dependentes de seus médicos para ter conforto.

No século XX, historiadores e médicos contemporâneos argumentariam que o


método moral simplesmente não era funcional como parecia ser.

Após este período, a conversa sobre tratamentos e saúde mental estava pronta para
dar um grande passo adiante. Surgia a figura de Sigmund Freud.

Sua teoria, baseando-se no diálogo e na livre associação dos elementos surgidos,


encorajava seus pacientes a falarem sobre o que quer que aparecesse em suas
mentes, analisando através de seus estudos as atividade psicológicas destas
pessoas.

A teoria de Freud era de que as vias de conversa, os sonhos, abririam uma porta
para a mente inconsciente do paciente, concedendo acesso a qualquer tipo de
pensamentos e sentimentos reprimidos que poderiam ter forçado ou tido influência
em sua instabilidade mental.

Mesmo com as críticas históricas aos seus métodos, ainda podemos ver a influência
da teoria freudiana na psicologia, na psicanálise contemporânea e em muitos dos
tratamentos ainda hoje desenvolvidos.

SAÚDE MENTAL NO MUNDO CONTEMPORÂNEO – (SÉCULO XX E XXI)

Dentre as abordagens e métodos surgidos nos séculos XX e XXI, observar a


ascensão e queda de alguns deles não é tarefa difícil, sendo pouco efetivos e
bastante invasivos, como a terapia eletroconvulsiva, a psicocirurgia e alguns tipos de
psicofármacos.

Esse panorama muda no fim da década de 90, quando seria introduzido pela
primeira vez nos tratamentos psicofarmacológicos o componente fármaco conhecido
como lítio.
Naquela altura, o lítio se mostraria bastante eficiente no controle dos sintomas das
psicoses em geral, apresentando resultados diferentes em comparação com
qualquer outro método que já tivesse sido tentado.

Foi o primeiro sinal de ascensão da psicofarmacologia moderna, consolidando-se


algum tempo depois, de fato, como um dos tratamentos/abordagem em saúde
mental mais utilizados do mundo.

Medicações como a clorpromazina, a sertralina, o diazepam e a fluoxetina


ganhariam espaço como nomes conhecidos das décadas intermediárias e
posteriores ao fim do século XX, sendo prescritas para transtornos de diferentes
naturezas.

A REFORMA PSIQUIÁTRICA

Iniciada na cidade italiana de Trieste, logo na segunda metade do século XX, a


reforma psiquiátrica tornou-se um marco para a psicologia ao redor do mundo,
principalmente por seus princípios e ideais.

O movimento, que tinha como objetivo principal dar fim ao modelo manicomial
substituindo-o por outro que tivesse como princípio o cuidado para com a
experiência do usuário ao coloca-lo como protagonista de todo o processo, marcaria
um período.

De forma ainda mais contundente que qualquer outro movimento dessa natureza, a
reforma revolucionária o sistema de saúde mental mundial, abrindo margem para
novas abordagens terapêuticas, formas de se lidar com as pessoas e até mesmo
profissões.

Baseando-se na ideia de se ter o indivíduo como peça chave de todo tratamento em


detrimento do que acontecia anteriormente, quando se pensava somente nas
causas do seu sofrimento deixando suas vivências e experiências a margem, a
reforma alteraria toda uma lógica arcaica e invasiva de se lidar com as dificuldades
do usuário.
No Brasil, o SUS e seus programas de saúde mental seriam desenvolvidos tendo
como base seus preceitos. Nise da Silveira, a histórica referência brasileira e
mundial no que concerne a área, seria sua maior expoente.

A reconhecida metodologia finlandesa do Open Dialogue e a inovadora experiência


holandesa do Enik College, por exemplo, surgiriam do movimento de reforma.

A psicologia e suas ramificações nunca mais seriam as mesmas após a derrubada


dos manicômios e a instauração dos novos preceitos da reforma no mundo todo.
Sua importância para a história se faz viva em cada usuário, em cada quebra de
estigma e nova abordagem a ser desenvolvida.

OBSERVAÇÕES FINAIS

Atualmente, apesar da prevalência dos ainda altos índices de prescrição de


medicações psicofarmacológicas, vemos um novo processo de renovação nos
tratamentos da saúde mental acontecendo.

Seja por meio da retomada de práticas antigas como a meditação e a yoga, até pelo
uso de novas formas de terapia focadas no indivíduo, da música e da arte, cada vez
mais nos aproximamos de abordagens melhores, mais saudáveis e que buscam,
genuinamente, a autonomia e o bem-estar dos indivíduos.

Quando encantamentos e cirurgias cerebrais ficaram aquém do esperado, a terapia,


o autoconhecimento e as novas abordagens terapêuticas pegaram o bastão de
tratamento para o século XXI, ajudando milhares de pessoas a conquistarem sua
recuperação e saúde mental de volta.

A evolução e os avanços nessa área sugerem que as melhorias de hoje são


infinitamente melhores que as melhorias de ontem e que, sendo assim, deveríamos
pelo menos nos orgulharmos disso.

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