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O Conceito de Saúde
Penso que o conceito de saúde deve ser considerado mais como um processo do que
como um produto. Na saúde humana, a otimização no funcionamento dos diferentes sistemas do
organismo, somáticos e mentais, garante três aspectos básicos que devem integrar a
compreensão da saúde. Estes são:
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a) Experimentar bem-estar, sentir-se bem, motivado para a vida, com interesses
definidos em atividades e pessoas específicas.
b) Ser capaz de autorregular-se a partir de uma cultura sanitária efetiva, expressando
um estilo de vida saudável, onde as atividades contribuem para o processo de
otimização das funções somáticas e psíquicas.
c) O estado atual do organismo deve representar um momento essencial na otimização
futura dos mecanismos e processos envolvidos na saúde humana.
a) A saúde não pode ser identificada com um estado de normalidade, pois, a nível
individual, é um processo único e irrepetível com manifestações próprias. A saúde
não é uma média; é uma integração funcional alcançada a nível individual por várias
alternativas diversas.
b) A saúde não é um estado estático do organismo; é um processo que se desenvolve
constantemente, onde o indivíduo participa ativa e conscientemente como sujeito
do processo.
c) Na saúde, fatores genéticos, congênitos, somato-funcionais, sociais e psicológicos
se combinam intimamente. A saúde é uma expressão plurideterminada, e seu curso
não é decidido pela participação ativa do homem, que é um dos elementos que
intervêm no desenvolvimento do processo, pois muitos dos fatores de saúde são
alheios ao esforço volitivo do homem.
d) A expressão sintomatológica da doença resulta de um funcionamento estável das
funções e mecanismos que expressam o estado de saúde. A saúde não é ausência de
sintomas, mas um funcionamento integral que aumenta e otimiza os recursos do
organismo para reduzir sua vulnerabilidade a diferentes agentes e processos
causadores de doenças.
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Da saúde mental à somática.
Na literatura dos últimos dez anos, é amplamente aceita pela maioria dos pesquisadores
a irrelevância do termo doença psicossomática. Pesquisas recentes mostraram que todas as
doenças têm uma etiologia psicossomática, pois o psíquico participa de alguma forma no
surgimento e desenvolvimento da doença.
Por muitos anos, o termo psicossomático era usado para doenças onde o psíquico
encontrava uma tradução linear nos sintomas, como hipertensão, úlceras e colite, em que a
manifestação somática é altamente sensível às mudanças emocionais do indivíduo.
O mental afeta o somático não apenas pela manifestação do sintoma, mas por uma
multiplicidade de formações, mecanismos e manifestações funcionais que geram insegurança,
ansiedade, depressão, distresse e outras expressões psicológicas não saudáveis, que, uma vez
alcançada certa estabilidade no nível personológico, afetam de várias maneiras o funcionamento
somático do organismo.
Mesmo as pesquisas multidisciplinares sobre a saúde humana ainda não têm o nível
necessário de precisão para demonstrar com exatidão os diferentes canais de tradução do
psíquico para o somático. No entanto, está claro que a tensão negativa derivada do estresse tem
efeitos bioquímicos e fisiológicos no nível somático.
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A vulnerabilidade a estados tensionais que afetam a saúde somática é mediada por
complexos mecanismos e sistemas no nível personológico, que, em alguns casos, otimizam a
capacidade do sujeito de lidar com esses estados e, em outras ocasiões, facilitam o
desenvolvimento desses estados tensionais.
Na nossa visão, os dados obtidos nessa linha de trabalho não são desprezíveis, sendo o
problema explicar qual significado real esse padrão tem no desencadeamento da doença.
Surgem várias questões em torno desse problema que precisam ser resolvidas pela
própria pesquisa, como, por exemplo, se o padrão A é causa da vulnerabilidade a situações
tensionantes ou se tem um significado para o surgimento de indicadores de risco uma vez que o
estado de tensão está instalado.
Seguindo a lógica deste tópico, podemos afirmar que a tensão psicológica negativa ou
distresse é um fator psíquico que afeta a saúde humana em uma ampla gama de manifestações.
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Nesse sentido, diversos trabalhos (Z. Domínguez, F. Aday; O. Rodríguez, E. Pérez e
outros) demonstram a presença de mecanismos neuróticos ou inadequados na regulação
psicológica de muitos hipertensos estudados.
O termo neurose é hoje muito polêmico na literatura científica, em parte porque sua
definição tem sido descritiva e semiológica, mais do que explicativa, e também porque é
designado como patologia, reduzindo-se a uma expressão individual inadequada, o que às vezes
não leva em consideração suficientemente sua natureza social e o caráter necessário de sua
expressão em determinados setores da sociedade.
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das tendências essenciais de expressão criativa e socializada da personalidade,
tornando-se essenciais para ela, afetando o homem em seu sistema de atividades
laborais, de estudo, políticas e sociais, devido ao comportamento compulsivo que
impede a expressão dos interesses do sujeito.
b) Expressão ansiosa. O conteúdo neurótico sempre é acompanhado de ansiedade,
uma ansiedade tão incontrolável quanto a expressão do próprio conteúdo no
comportamento.
c) O conteúdo neurótico não se expressa como uma configuração personológica
suscetível de direção e controle pelo sujeito. O conteúdo neurótico está fora das
possibilidades de regulação consciente do sujeito, que se torna objeto da tensão
compulsiva e imediata que decorre da necessidade desse conteúdo.
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O processo de saúde, como todo processo social, é humano e histórico; portanto, suas
manifestações e exigências mudam qualitativamente com o desenvolvimento da humanidade.
Com o aumento da cultura e o desenvolvimento social de um povo, as necessidades de
autorrealização, de expressão criativa, de participação ativa na vida social, profissional e pessoal
tornam-se extremamente importantes para a saúde humana, sendo necessidades fortemente
vinculadas ao fenômeno do estresse.
Alguns indicadores que são refletidos de forma geral na compreensão dos psicólogos
humanistas sobre a personalidade saudável incluem a capacidade da personalidade para assumir
suas próprias decisões, a capacidade de amar, a criatividade, a capacidade para realizar um
trabalho produtivo, a capacidade de integrar experiências negativas dentro do eu, a abertura para
novas ideias e para as pessoas, e a preocupação consigo mesmo, com outras pessoas e com o
mundo natural.
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Partindo do conceito amplo de saúde apresentado neste livro, onde a saúde é
compreendida como um processo, como um momento ativo que pressupõe a participação
consciente do indivíduo junto aos seus restantes determinantes, é necessário aceitar que o
comportamento da saúde é sistêmico e que o funcionamento não ótimo de qualquer sistema tem
um reflexo na psique do indivíduo, no comportamento da psique, mesmo quando não aparecem
vivências negativas na consciência do sujeito.
Assim, o processo de obesidade, que sem dúvida prejudica o organismo, pode se refletir
psicologicamente em um baixo nível de autocontrole do sujeito na regulação alimentar. Embora
isso não seja vivenciado negativamente pelo sujeito, danifica sua saúde física e mental, já que a
regulação inadequada pode afetar o tom, a energia e a capacidade do sujeito em outras esferas
vitais.
A doença somática atua sobre o psíquico, tanto por suas próprias manifestações
somáticas, afetando a base somática do psíquico, como ocorre em muitas doenças, quanto pelas
associadas essencialmente ao sistema nervoso e endócrino. Isso ocorre também pela imagem
que o sujeito forma da doença e de sua autovalorização no processo de enfermidade.
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expectativa de perda de vida, desorganizando seus diferentes sistemas de significados
psicológicos na personalidade. A perda de interesses e objetivos essenciais nas esferas que eram
mais relevantes para eles tem efeitos psicológicos verdadeiramente prejudiciais para o processo
de doença.
Toda doença somática tem dois níveis de repercussão na saúde psíquica; o primeiro
nível é representado pela repercussão das mudanças associadas à doença nos processos
somáticos que afetam o psíquico, e o segundo nível está relacionado ao reflexo da doença na
própria estrutura psicológica da personalidade, um reflexo que sempre aparece mediado pela
posição consciente que o indivíduo assume como sujeito da doença.
Em toda pessoa, a otimização das funções e sistemas do organismo tem uma expressão
inadequada na saúde mental. Assim, quando uma pessoa pratica exercícios físicos, há uma
experiência de força, segurança e capacidade energética que estimula diferentes formas de
expressão psíquica do sujeito, atuando também positivamente na expressão saudável das
emoções.
A dimensão social da saúde tem sido relegada em relação à atenção dada aos aspectos
orgânicos e somáticos, os quais, por anos, definiram o sentido fundamental das pesquisas
médicas. No entanto, o estado do conhecimento e o volume de pesquisas dedicadas à etiologia
psicossocial das doenças evoluíram consideravelmente desde meados dos anos 70.
Já em 1923, o autor alemão A. Grotjahn havia afirmado: “Não apenas muitas doenças
têm sua origem primária em causas sociais, mas um número muito maior é influenciado
decisivamente em sua evolução, seja de maneira favorável ou desfavorável, por circunstâncias
sociais.”
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No epígrafe anterior, ao analisar o vínculo entre saúde mental e somática, de fato, estava
implícito o valor do social, pois em nossa compreensão do psíquico, o social desempenha um
papel essencial, refletindo precisamente no psíquico o seu sentido para o indivíduo e, portanto,
para sua saúde.
Toda sociedade apresenta um modelo de funcionamento que, orientado para manter sua
organização socioeconómica, reflete seus valores históricos e culturais em um sistema de normas
e ideais sociais que influenciam todas as instituições da vida social.
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O modo de vida é um conceito sociológico importante no qual se expressam as
motivações essenciais do homem em um sistema de atividades concretas, razão pela qual essa
categoria tem um significado importante para o estudo da saúde humana.
Sobre o Modo de Vida, foram dadas várias definições na literatura, assim N. Rutkevick
escreve: “Assim, por modo de vida deve compreender-se o conjunto de formas de atividade
tomadas em indissolúvel unidade com as condições em que se executa a atividade” (Pág. 9,
1989).
“As pesquisas sobre o modo de vida realizadas até o momento não foram além da
descrição das condições de vida e do estabelecimento de conjuntos mais ou menos completos de
indicadores, sem abordar essencialmente a problemática do papel do homem como sujeito de
seu modo de vida” (pág. 20, 1989) (Destaque nosso F. G. Rey).
Para a utilização explicativa dessa categoria por disciplinas afins em problemas como
o que estamos tratando, a saúde, é necessário transcender o puramente descritivo e adentrar o
modo de vida como a conjunção de dois fatores: os sociais, que induzem e possibilitam
determinadas formas de atividade concreta, e os fatores de personalidade, que definem um
conjunto de potencialidades do indivíduo em sua condição de sujeito do modo de vida.
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dessas alternativas, para poder compreender o determinismo sócio-histórico fora de qualquer
mecanicismo é dado pelo selo que a época imprime ao comportamento, o qual guarda uma
relação necessária com as possibilidades reais para expressar ou conceber algo, derivando do
caráter necessário que esse algo pode ter para o sujeito.
O necessário só aparece quando é possível, sendo a possibilidade, neste nível, algo que
não está ao alcance consciente do sujeito definir e, portanto, não aparece como uma alternativa
real à sua consciência individual. Portanto, o determinismo sócio-histórico é um processo
supraindividual e não uma restrição mecânica das alternativas que se tornam possíveis a um
sujeito em um momento histórico determinado.
O sistema de atividades que compõem o modo de vida e o sentido psicológico que essas
atividades têm são decisivos para a saúde humana.
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No entanto, há um amplo espectro de doenças em que o modo de vida do indivíduo,
assim como sua capacidade de enfrentar a vida sem se tornar objeto de situações permanentes
de estresse, são determinantes para sua prevenção e controle. Entre essas doenças estão as
cardiovasculares, angiológicas, diabetes, câncer e muitas outras, sendo as cardiovasculares as
que lideram o quadro epidemiológico atual do país.
Neste tópico, vamos nos deter principalmente no modo de vida por uma questão de
apresentação de ideias, pois o modo de vida, a sociedade, a personalidade e a saúde formam um
sistema difícil de desarticular em um esforço analítico.
A questão do tempo livre e seu significado para a saúde é um problema essencial para
a pesquisa social em geral. No entanto, mesmo a sociologia ainda está abordando os aspectos
teóricos e metodológicos mais gerais sobre isso, fazendo com que a categoria de tempo livre
ainda não tenha se destacado fortemente na pesquisa aplicada sobre saúde em estudos
sociológicos e epidemiológicos.
No entanto, a lacuna de pesquisas aplicadas nessa esfera não pode nos levar ao silêncio,
pois de maneira indireta, os resultados de pesquisas psicológicas, juntamente com nossa visão
mais ampla apresentada na literatura sobre o tema, evidenciam a necessidade de articular o
sociológico, o epidemiológico e o psicológico no campo da saúde humana.
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necessário nas atividades obrigatórias na vida social permite um desdobramento saudável da
individualidade, considerado um indicador importante de saúde que seria necessário detalhar em
pesquisas específicas.
O caráter de ser saudável não é determinado pelo tipo de atividade, mas sim pelo seu
significado qualitativo para o sujeito. Quanto maior for o espectro de atividades saudáveis que
ocupam o tempo livre do sujeito, mais ele exercitará sua autodeterminação, assim como o
sistema de capacidades e características psicológicas envolvidas no desenvolvimento dessas
atividades, fatores que indiscutivelmente reforçam o comportamento saudável da personalidade.
O sistema de objetivos que o sujeito estabelece nessas atividades possui uma força
motivacional tão intensa que é um dos aspectos mais relevantes para a integridade psicológica
de indivíduos que contraem doenças diretamente relacionadas à expectativa de vida, como
demonstrado por diversos autores em pesquisas sobre o câncer.
Entre as atividades importantes no tempo livre, incluem-se não apenas aquelas que
pressupõem sistemas de operações concretas em sua execução, ou seja, essencialmente
operacionais, como as científicas, artísticas, esportivas, etc., mas também atividades cujo
elemento essencial é a comunicação, ou mais precisamente, atividades de comunicação, entre as
quais estão todas aquelas que caracterizam os sistemas de relacionamento do sujeito: amizade,
amorosa, relações laborais, familiares, etc.
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Nessas atividades, a comunicação saudável, autêntica e espontânea é um requisito
essencial em seu funcionamento, tendo grande importância para a saúde humana.
À medida que o sujeito é mais saudável, mais ativo, ele expressará uma maior tendência
a se envolver nas diversas atividades e relações em que participa, sendo sua participação
ilimitada e criativa, pois responde à sua própria autodeterminação, a fins próprios que ele se
propôs em seus sistemas de atividades e de comunicação. Nesse sentido, qualquer experiência
negativa que ocorra no desenvolvimento de suas atividades, qualquer inconformidade ou
contradição na consecução delas, o sujeito as enfrenta diretamente, realizando um esforço
volitivo na identificação de suas causas e na superação dos elementos que o afetam.
Esses indivíduos não desenvolvem uma cultura individual, não crescem em seu mundo
espiritual, tornando-se “ecos” de pressões externas, nas quais desenvolvem a segurança
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necessária para alcançar um equilíbrio pessoal. Geralmente, são orientados por um profundo
determinismo externo, vivendo para obter a valorização dos outros ou para se afirmarem nos
valores alheios, sem chegar a uma verdadeira autodeterminação.
Diante de uma vivência negativa, uma contradição ou uma pergunta, orientam-se para
o reforço do equilíbrio, minimizando o significado desses indicadores negativos que, embora
não os assumam conscientemente, são expressão de necessidades que possuem, as quais
continuarão afetando-os à margem de sua intencionalidade.
O problema dos hábitos adequados para viver não pode ser dissociado do
desenvolvimento da personalidade, pois é parte integrante de todas as instituições sociais.
Quando o homem possui uma orientação ativa, ele é gestor de sua própria cultura individual,
assume a responsabilidade individual por seus atos e desenvolve uma sólida orientação volitiva
para os diferentes aspectos de sua vida. Ele é capaz de autorregular todo o seu sistema de hábitos
em função de seus fins pessoais e do sentido deles em sua concepção do mundo.
A combinação dessa orientação ativa com uma sociedade que promove valores, que
oferece uma educação adequada à saúde por meio de seus vários canais de interação com o
homem, constitui um fator essencial para o desenvolvimento da autorregulação do sistema de
hábitos.
A regulamentação dos hábitos pressupõe como condição necessária, mas não suficiente,
a implementação de uma ampla campanha de saúde na população, que permita a todos obter as
informações necessárias para agir adequadamente individualmente. No entanto, o grande desafio
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de todas as formas de educação é que a informação por si só não se traduz em necessidade, não
regula diretamente o comportamento do sujeito. Toda informação deve passar por um processo
de personalização, no qual o sujeito a torna relevante para a autorregulação de seu
comportamento, o que dependerá muito do próprio nível de desenvolvimento geral que o sujeito
tenha.
Muitos dos maus hábitos que caracterizam o comportamento humano são verdadeiros
mecanismos defensivos contra tensões que ele não consegue enfrentar conscientemente. É
conhecido que o homem bebe, fuma em excesso ou come demais como forma de canalizar
estados de tensão que experimenta.
O hábito não é apenas uma forma de comportamento fixada, mas uma expressão
integral de todo um sistema personológico, sendo seu controle uma ação integral do sujeito sobre
sua própria vida pessoal.
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O social e o individual na saúde humana. As instituições sociais e a saúde.
A saúde em nível social não deve ser confundida com a instituição de saúde, que é a
diretora do orçamento estatal para o desenvolvimento das atividades de saúde pública.
A existência de uma rede ótima de hospitais e até mesmo uma excelente campanha de
saúde em nível social, próprias dos países desenvolvidos, demonstrou não ser suficiente para
alcançar o estilo de vida e o comportamento individual do homem, fatores que devem ser
preparados pelo seu próprio desenvolvimento histórico-social, através das diversas instituições
sociais, para transformar os indivíduos em verdadeiros sujeitos de saúde que expressem um
comportamento individual consequente com um estilo de vida saudável.
Ao que parece, como diria E. Fromm, o crescimento irracional do ter esvaziou o ser,
mas não pode haver saúde humana sem saúde espiritual. Como fenômeno cada vez mais
especificamente humano, a saúde requer um desenvolvimento e uma formação humana.
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quadro epidemiológico dos países desenvolvidos é muito similar ao apresentado em Cuba, onde,
apesar de não existir um desenvolvimento econômico nesse nível, a orientação intencional ao
desenvolvimento da saúde, a partir de um sistema social diferente, onde a ideologia não se
organiza a partir do “ter”, permitiu indicadores de saúde social realmente elevados. No entanto,
também são elevados os indicadores das doenças associadas ao modo de vida e à personalidade
humana.
Esta situação nos coloca hoje um enorme desafio que não pode ser resolvido dentro dos
marcos da instituição de saúde, para o qual foi uma decisão muito acertada a criação do médico
de família. No entanto, esta decisão não esgota as enormes exigências que pressupõe uma
profilaxia social neste terreno, a qual exige uma reorientação das próprias instituições sociais;
família, escola e centro de trabalho, com o objetivo de alcançar uma ação sistêmica sobre o modo
de vida do homem e sobre a própria educação individual de sua personalidade.
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Este último ponto é essencial, pois sem uma pessoa capacitada para assumir uma
orientação ativa para sua própria saúde, todo esforço de orientação estatal se desvaneceria, não
sendo realmente efetivos neste nível de profilaxia, defendido por Aldereguía e, que em nosso
critério, seria o único capaz de alcançar efeitos positivos nas doenças mais associadas ao modo
de vida e à personalidade humana. É precisamente neste nível onde a ação das diferentes
instituições sociais e das regularidades do funcionamento social se complementam, assumindo
a saúde como uma responsabilidade individual e dando sentido às informações e orientações
derivadas das campanhas estatais de promoção da saúde, é o resultado da ação conjunta de toda
a sociedade.
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Entre as instituições sociais mais relevantes, cujo funcionamento reflete muitas das
regularidades do funcionamento social como um todo, estão a família, o centro de trabalho e a
escola. Estas são instituições muito estáveis; cujo funcionamento desempenha um papel decisivo
na educação do ser humano e, por consequência, na saúde.
A família: A família é o grupo social onde o ser humano expressa sua maior intimidade
e espontaneidade, pois, como grupo, a família tem ampla margem de liberdade para definir seu
próprio sistema de normas, estilo de vida, etc. No entanto, essa liberdade de possibilidades está
sempre mediada pelo funcionamento da sociedade, que desempenha um papel decisivo nas
funções dos diferentes membros da família, assim como no próprio desenvolvimento individual
destes, o qual define as positividades de cada indivíduo concreto dentro do seio familiar.
Os primeiros anos de vida da criança são essenciais para formar sentimentos em relação
aos outros, aos idosos, aos animais, às plantas, processo pelo qual se vai educando a sensibilidade
da criança e, consequentemente, sua capacidade geral de amar.
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desenvolvimento afetivo da criança. Todas elas são fontes de agressividade, timidez e múltiplos
transtornos no comportamento infantil.
No sistema familiar, a atenção aos filhos tem que ocorrer através da comunicação real
com eles, expressando-se na capacidade de ouvi-los, atendê-los, estimulá-los, compartilhar
reflexões, histórias, anedotas e outras formas de contato vivo, sem as quais a comunicação com
a criança não existe.
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se acumulam um conjunto de vivências negativas em quaisquer de seus sistemas de interação
vital, as quais não se correspondem com os conceitos e elaborações que apoiam sua expressão
consciente nessa área, criam-se estados permanentes de estresse com suas correspondentes
consequências somáticas. Esta incapacidade de assumir suas próprias necessidades e de ser
coerente com elas é um dos fatores psicológicos mais nocivos, tanto à saúde somática quanto
mental.
Os primeiros anos de vida são uma etapa muito sensível para a formação de bons
hábitos de saúde, os quais, se não adquiridos nesse momento, quando a complexidade das
exigências da relação criança-meio é muito menor, serão muito difíceis de adquirir em etapas
posteriores, quando todas as forças da personalidade estarão empenhadas em esforços muito
mais complexos.
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Os primeiros anos da criança, assim como são importantes para a formação de hábitos
de saúde adequados, são essenciais para a formação de sentimentos e valores morais, como
colocamos na primeira parte deste texto.
Quando isso acontece, a moral é sentida como algo externo, alienado das verdadeiras
necessidades individuais, e se essa forma de regulação passa a um plano interno, se traduzirá em
uma regulação moral compulsiva, censora, que determinará uma orientação irracional no
comportamento moral, o qual não será objeto da ação racional do sujeito, nem responderá aos
verdadeiros fins de suas necessidades individuais, produzindo-se uma alienação entre as
necessidades individuais e a moral.
Foi precisamente esse tipo de comportamento moral que Freud metaforicamente situou
no superego. Esse tipo de educação moral, apoiada no autoritarismo e na falta de comunicação,
será fonte de múltiplas contradições posteriores da personalidade que afetarão profundamente
sua saúde.
A moral reflete uma permanente síntese das necessidades individuais e dos valores
sociais em um homem concreto. Em um indivíduo bem integrado, os valores morais convertem-
se em necessidades individuais, mas necessidades vivas, em permanente movimento e interação
com todas as forças motivacionais da personalidade, dentro de cujo sistema crescem e se
modificam. Somente uma moral que responde a esta orientação caracterizará o desenvolvimento
de uma personalidade saudável.
O indivíduo, como sujeito de sua regulação moral, deve ter um nível adequado de
integridade para reconhecer e assumir suas contradições e conflitos, cuja evasão será um tipo de
defesa que perpetuará o estresse causado por estes.
Embora tenhamos enfatizado aspectos referentes aos primeiros anos de vida, pela
particular importância da família nestes, por ser o único sistema de interação presente neste
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momento do desenvolvimento, a verdade é que a família é um sistema relevante ao longo de
todo o desenvolvimento da personalidade.
A educação moral passa por diferentes períodos sensíveis, os quais são particularmente
fecundos para seu desenvolvimento. O primeiro período, ao qual já nos referimos, está localizado
nos primeiros anos de vida, os outros são o período escolar, a adolescência, a idade jovem, o
começo da vida laboral e o casamento.
Essa situação leva a uma franca incomunicação entre pais e filhos, que, ainda que tenha
caracterizado a vida de muitas pessoas de talento excepcional, é extremamente prejudicial para
a saúde do homem.
Como veremos a seguir, a família está estreitamente relacionada à vida das outras duas
instituições que neste texto analisaremos: a escola e o centro de trabalho.
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progressivo e, em ordens profundas, autônomo e inexorável, que já começou e que é impensável
sem convocar, desde a origem mesma, a comunicação, a integração e o diálogo (pág. 49, 1981).”
A orientação para o fator humano, para a cultura, como fonte geral de bem-estar e
saúde, opõe-se a todas as variantes de tecnocratismo, que pretendem reduzir o desenvolvimento
da saúde à aplicação de altas tecnologias. A alta tecnologia, sem uma base social ativa e integral,
não penetra os mecanismos humanos que devem mover a saúde do homem, o melhor exemplo
disso é a proliferação das drogas nos países tecnologicamente mais desenvolvidos.
Cada vez mais se impõe na literatura, uma representação da escola orientada à formação
da personalidade do educando, um de cujos momentos é a aquisição do conhecimento. No
entanto, a abordagem personalizada da educação enfatiza que, tão importante quanto a aquisição
de conhecimentos, é a formação de um indivíduo seguro, criativo e interessado, que saiba fazer
do conhecimento aprendido um sistema personalizado, aplicável às diferentes exigências que a
vida coloca diante dele.
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O processo de ensino não esgota o de educação nos marcos da instituição escolar, mas
é uma parte essencial dele. Nesse contexto, frequentemente restringimos o vínculo de educação
para a saúde no currículo escolar. No entanto, podemos nos perguntar: a educação para a saúde
esgota-se em uma disciplina que oferece informações necessárias para otimizar a saúde humana?
Somos do critério que não, pois tão importante quanto fornecer essa informação é formar um
indivíduo capaz de utilizá-la na regulação de seu comportamento, o que só é possível aspirar
através da educação da personalidade.
Sem dúvidas, na escola devem ser transmitidos conhecimentos sobre a saúde humana,
orientados a formar bons hábitos de saúde, assim como ao alcance de uma representação
adequada nos educandos sobre o papel ativo que cada um de nós tem no desenvolvimento de sua
saúde.
Essa informação tem que ser complementada com as exigências da vida cotidiana na
escola, garantindo-se o desenvolvimento de hábitos alimentares, de descanso, de higiene, etc.,
adequados.
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Algo que demonstramos em nossas pesquisas anteriores, é o quão prejudicial para a
personalidade é o desenvolvimento de sistemas valorativos sobre o jovem apoiados em
orientações externas, nos quais algumas crianças são sempre elogiadas, sem nenhuma orientação
crítica, enquanto outras são sempre relegadas, subestimadas e, em ocasiões, explicitamente
rejeitadas.
O mais interessante desse sistema de avaliações externas sobre a criança é que ambos
os extremos são igualmente nocivos para o desenvolvimento de uma personalidade saudável,
levando a formas inadequadas de autoavaliação, em alguns casos por superavaliação e em outros
por subavaliação, mas cujos efeitos são similares no desenvolvimento de insegurança, ansiedade
e outras formas inadequadas de manifestação da personalidade, muito associadas à sua
vulnerabilidade ao estresse psicológico.
A escola deve criar toda uma cultura dos educandos para suas relações pessoais, as
crianças e jovens devem aprender a se comunicar, deve-se fomentar o diálogo, estimular a
capacidade de se colocar no lugar do outro. A educação moral deve enfatizar a necessidade de
ser autênticos, de que os educandos saibam assumir seus sentimentos e suas decisões, que saibam
expressá-los e defendê-los. A educação moral deve se desenvolver através da reflexão e de
atividades que exijam os princípios e qualidades que se pretendem formar.
A escola deve eliminar todo mecanismo declarativo que conduza a repetir coisas que o
jovem não vê sentido, ou o desenvolvimento de atividades formais que este sente como
totalmente alheias a ele.
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uma atmosfera onde prevaleçam a confiança e a segurança, elementos essenciais para o bom
trabalho da instituição escolar.
Em cada nível de ensino, devem ser diferenciados os alunos que entram com os
requisitos necessários, daqueles que chegaram a esse nível com um déficit, cuja origem pode
estar em qualquer um dos sistemas de relação social nos quais participa. Os alunos que chegam
com déficit devem ser objeto de uma atenção individualizada, que evite o desenvolvimento neles
de recursos defensivos que afetam o desenvolvimento normal de sua personalidade.
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Os diferentes tipos de atividade laboral exigem realmente regimes e formas diferentes
de realização laboral, assim como sistemas diferenciados de estímulos. A atividade que, por si
mesma, por suas próprias características objetivas, é repetitiva, monótona e mecânica, exige
estímulos externos aos propiciados por sua própria execução, os quais terão um papel importante
na organização da motivação individual para as mesmas.
Os fatores que consideraremos neste capítulo de maneira alguma esgotam o tema, entre
eles temos os seguintes:
O trabalhador, como qualquer pessoa, deve sentir que sua opinião é respeitada, que ela
tem importância para quem o dirige, e que ele ou ela, na sua condição de trabalhador, não é
simplesmente um operador frente a um posto concreto, mas membro de um coletivo onde
participa ativamente.
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O estilo autoritário de gestão, onipotente, centrado na equipe que dirige, sem vínculo
real com os trabalhadores, conduz ao formalismo, à dupla moral e a outros fenômenos
extremamente negativos que se tornam agentes de mal-estar para os trabalhadores.
Os sentimentos de ser necessário, valorizado, de que outros se preocupam por nós, são
elementos fundamentais do bem-estar emocional do indivíduo em qualquer coletivo.
É indiscutível que as atividades laborais concretas diferem pelo seu sentido psicológico
para o homem.
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aquelas onde o indivíduo se sente permanentemente em desenvolvimento e que exigem de sua
superação e sua iniciativa.
É por isso que o regime de trabalho deve ser estudado levando em conta as
características do próprio desempenho da atividade em questão. Devem ser considerados fatores
como a fadiga, a carga tensional que a atividade produz e outros, para orientar os intervalos que
devem existir, assim como o tipo de atividade que nestes intervalos devem ser desenvolvidas.
As investigações do regime laboral e seus efeitos sobre a saúde ainda são escassas em
nosso país.
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O nível de consciência do trabalhador não pode ser tensionado para levá-lo a
compreender o inexplicável, pois quando fazemos isso conspiramos contra o sentido do valor
político que defendemos.
É indiscutível o dano à saúde que criam as condições inadequadas de trabalho, que vão
desde a toxicidade até a diminuição do estado anímico e motivacional, o qual é causador de
distresse por déficit de sentido psicológico na realização de algo.
Os sistemas de medidas orientados à saúde são de tipo muito diferente, havendo alguns
de caráter geral, necessários para qualquer tipo de atividade laboral, e outros mais particulares,
definidos pelas próprias exigências de um tipo ou outro de atividade laboral. Entre as medidas
mais particulares, temos as de proteção, as quais, por regra geral, estão determinadas pelas
características concretas da atividade que o trabalhador desempenha.
Neste momento, faz-se um enorme esforço no país no campo da prevenção laboral, com
a criação do médico na fábrica, o qual pode se tornar um importante promotor de saúde na
instituição laboral.
O médico na instituição laboral deve ter claro que sua função essencial é social,
preventiva, mais que especial, estando dentro de suas responsabilidades concretas, a análise do
regime laboral, estimular uma cultura de saúde entre os trabalhadores, zelar pelo
desenvolvimento de uma atmosfera laboral saudável, discriminar pessoas de alto risco, de forma
diferenciada para diferentes doenças, etc. O médico deve trabalhar nos centros laborais que
assim o permitam, em uma estreita relação com psicólogos, engenheiros industriais e outros
profissionais muito vinculados ao fator humano na instituição laboral.
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controle dos lipídios naqueles setores que desempenham suas funções sob condições de elevada
tensão psicológica.
É necessário nos centros de trabalho uma política diferenciada com as pessoas que
sofreram infartos do miocárdio, as quais, uma vez restabelecidas, não são adequadamente
atendidas, nos marcos de sua atividade laboral.
Deste déficit são conscientes os próprios trabalhadores, assim, em uma carta que
recebemos depois de ter sido publicada uma entrevista que me fizeram a propósito deste tema
na seção sobre Saúde, do jornal Trabalhadores, me expressava: “Em meu centro de trabalho
existem várias comissões com fins preventivos para diversos frentes , tais como: comissão de
economia de energia, matéria-prima, etc. ... mais adiante pergunta. Porque não constituir então
uma comissão ou designar um colega, que informe ao local que se estime conveniente a
ocorrência de um infarto em cada centro de trabalho?”
A preocupação deste trabalhador está relacionada, como explica mais adiante em sua
carta, à falta de compreensão que em ocasiões existe com pessoas que sofreram um infarto, o
que requer sinalizando: “há pessoas que sutilmente acusam o infartado de tê-lo buscado ele
mesmo”. Esta afirmação é muito ilustrativa, enquanto muitas vezes se produz em torno ao infarto
uma atmosfera de pressão social que, mais do que ajudá-lo, cria uma série de pressões subjetivas
que é necessário eliminar.
A saúde humana, como definimos desde o início deste livro, tem uma natureza social,
o que não significa que sua expressão não seja orgânica. No entanto, nas condições atuais, a
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existência biológica do homem está mediada por inúmeros fatores sociais, que vão desde a
cultura alimentar até formas políticas que permitem ou não um acesso massivo da população aos
aspectos da saúde.
A saúde é uma esfera convergente dos resultados de pesquisa de áreas muito diversas,
os quais devem ser organizados em diferentes níveis de explicação e de organização conceitual
desta esfera da vida, sem hipertrofiar nenhum deles.
Uma disciplina que adquire uma relevância particular para a articulação das ciências
sociais com a medicina, a biologia e outras ciências no estudo da saúde é a epidemiologia.
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pequenas, as quais, ao serem exploradas intensivamente, são uma fonte muito mais real para
estudar as etiologias causais do que as grandes amostras descritivas.
Particular importância dentro deste campo teve, desde meados da década de 70, a
epidemiologia social, referente aos aspectos sociais e psicológicos da origem das doenças.
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Um mesmo resultado ou sistema de resultados da pesquisa concreta pode ter sentidos
diferentes de acordo com o que se pretende explicar e dos sistemas de outros resultados em que
se pretende descobrir seu sentido teórico. Assim, uma pesquisa de psicologia pedagógica que
revela as dificuldades no aprendizado de crianças rígidas e estereotipadas pode ser muito
relevante à psicologia social, ao tentar revelar como se configuram esses aspectos
personológicos na vida social da criança, e muito úteis à psicologia da saúde, se esses aspectos
aparecem como psicologicamente significativos, por exemplo, na hipertensão.
Em nosso país evidencia-se uma tendência crescente das doenças associadas ao estresse
psicológico, assim, segundo dados de R. Pérez Lorelle (1989), as primeiras causas de morte no
país no período compreendido entre 1970 e 1984, comportaram-se da seguinte maneira:
Influenza e Pneumonia
42,1 38,8 38,6 37,3
Como bem aponta o autor, “na etiologia das mesmas, o momento psicológico
desempenha um papel importante, [...] e na profilaxia e tratamento e na recuperação dos danos
causados por elas, são comumente necessárias mudanças no modo de vida das pessoas e,
portanto, implica também determinada ação psicológica” (p. 75, 1989).
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É inquestionável que a própria situação social, onde se refletiram profundas mudanças
revolucionárias durante trinta anos, implicando um esforço tenso no caminho da nossa
autodeterminação frente a enormes pressões externas, unido às dificuldades que isso gera, é por
si uma situação estressante em escala social, no entanto, seríamos simplistas se reduzíssemos a
isso todo o sistema de causas que provocam o estresse.
Eu diria, embora nisso vamos nos deter no próximo capítulo, que o estresse está, acima
de tudo, relacionado com elementos do sistema de comunicação nas diferentes inter-relações nas
quais o homem simultaneamente participa. Gera muito mais estresse a falta de afeto, os padrões
agressivos de relação, a insegurança, a indiferença e outras manifestações do homem que se
expressam em sua comunicação, do que viver de forma estreita, embora claro, isso seja um dos
fatores objetivos que favorecem as manifestações antes mencionadas.
Os dados de nossos trabalhos nos revelam uma exagerada necessidade de ficar bem
diante dos outros nos sujeitos hipertensos e infartados, a qual denominamos como determinismo
externo, em oposição à autodeterminação, assim como uma grande insegurança para assumir
decisões próprias, fatores esses que, sem dúvida, geram uma grande tensão psicológica. No
entanto, a pesquisa sobre as causas que geram isso, sobre os efeitos não desejados, nem previstos
das formas de nossa vida social, ainda estão ausentes na pesquisa.
O autor francês M. Renaud escreve: “nossa forma habitual de ver a doença está
profundamente matizada pela visão de que a cada doença deveria corresponder uma única causa,
ou pelo menos uma cadeia causal precisa. Essa visão, no entanto, não permite compreender a
origem da maioria das doenças crônicas que a população padece”. (8, 1987).
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