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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
1ª Avaliação Escrita de Psicopatologia Geral: 18/03/2024
1. A Psicopatologia pertencia a Medicina e não a Psicologia até ao século XVIII. A
sua autonomia da Psiquiatria foi graças aos contributos de vários teóricos e,
igualmente, graças ao critério distintivo entre normalidade e anormalidade.

a) Define a Psicopatologia, e diz qual é a sua origem etimológica.


A Psicopatologia é a disciplina psicológica que indaga, na perspectiva do psiquismo
humano, os processos psíquicos morbosos sem causa orgânica e o seu funcionamento
anormal, identifica de forma sistemática as suas causas específicas, oferece um quadro
teórico e prático que permite a compreensão e a avaliação da disfunção psíquica e
suas repercussões no indivíduo, na família, nos outros grupos ou comunidades onde se
insere e na sociedade geral. O termo Psicopatologia é de origem grega, composta por
três palavras: Psykhé + Pathos + Logos. Onde: Psykhé significa alma; Pathos significa
doença; Logos significa logia ou estudo. (1.0)
b) Discuta a origem sócio-histórica e filosófica da psicopatologia, tendo em
conta os períodos históricos da humanidade.
A Psicopatologia começou na Antiguidade com Hipócrates que defendia que esta, era
associada a doença do corpo, consequência das perturbações de humor e que o teatro,
o diálogo e a leitura desempenhavam um papel importante de purificação.
As fases que a psicopatologia atravessou desde a sua origem até à sua evolução
histórica são consideradas relevantes, àquelas fases que tiveram lugar a partir do séc.
XVIII-XIX, à luz dos estudos de Pierre Pichot, Karl Theodor Jaspers, Philippe Pinel,
Jean- Martin Charcot, Alfred Binet, Édouard Séguin, Jean-Étienne Dominique Esquirol
e Sigmund Freud. O termo psicopatologia foi usado pela primeira vez em 1876 na
Alemanha, com sentido semelhante ao da Psicologia Clínica e o seu surgimento oficial
foi em 1913. Para Karl Theodor Jaspers qualquer ciência precisa do exame crítico e
tal exame só pode ser dado pela Filosofia que elucida a existência do homem real e não
da humanidade abstracta. O existencialismo segundo Jaspers, é o âmbito onde se dá
todo o saber e toda a descoberta possível da relação existente entre a existência e a
razão, por isso, a Filosofia de existência baseia-se na Metafísica. (3.0)
c) Que autores mais contribuíram para o surgimento e desenvolvimento da
autonomia científica da psicopatologia?
Os autores que mais contribuíram para o surgimento e desenvolvimento da autonomia
científica da Psicopatologia são: Pierre Pichot, Karl Theodor Jaspers, Philippe Pinel,
Jean- Martin Charcot, Alfred Binet, Édouard Séguin, Jean-Étienne Dominique Esquirol
e Sigmund Freud. (1.0)

2. A questão do Normal, Patológico e de Saúde, têm sido amplamente discutidos


em psicologia, com particularidade em psicopatologia.

a) Distinga normalidade da patologia e saúde da doença.


A definição de normalidade em psicopatologia implica também na própria definição do
que é saúde e doença mental, estes têm desdobramentos em várias áreas e critérios de
estabelecimento para a sua definição mais clara e completa, tais como, normalidade
estatística, como ausência de doença, ideal, como processo, como bem-estar,
processual, subjetiva, liberdade e funcional. Entretanto, autores referem que a
normalidade significa “regra” e/ou “linha de orientação”, e pressupõe um
comportamento relacionado com o que se deve, com o que se pode e o que é permitido
fazer dentro de uma determinada cultura, num dado espaço Social em relação a
situação definida. Já patologia, no âmbito/psiquiátrico são as alterações estruturais e
funcionais das células, dos tecidos e dos órgãos que se manifestam através dos sinais e
sintomas manifestos pelos pacientes, fornecendo uma base para os cuidados clínicos e
terapêuticos. Patologia no âmbito psicológico é um estado da decomposição das
funções psíquicas, isto é, um estado de mau funcionamento dos elementos que compõem
o psiquismo humano, em sentido restrito pode-se dizer que é um estado morboso ou
doentio do psiquismo humano.
A Saúde e doença determinantes que indicam uma forma de estar e de actuar do ser
humano. Neste sentido, saúde, indica um comportamento, uma forma de ser e estar em
determinadas circunstâncias da vida apesar da pressão exercida pela norma, doença,
sofrimento, o individuo consegue responder às exigências da vida e da comunidade,
realizar as suas tarefas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde como
sendo o estado de completo bem-estar físico, mental e social. O conceito de saúde
transcende à ausência de doenças e afecções. Por outras palavras, a saúde pode ser
definida como o nível de eficácia funcional e metabólica de um organismo a nível
micro (orgânico) e macro (social). Enquanto doença estão sempre associadas a
sintomas específicos, levando o indivíduo que as apresenta a se privar de prazeres
físicos, emocionais e mentais. Ela baseia-se no desvio, falha, incapacidade e perda de
relações, no mal-estar físico/orgânico. A OMS define doença como a ausência de saúde
e apresenta uma Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com Saúde. (3.0)
b) Aponte e explique os critérios de Normalidade.
Normalidade como Ausência de Doença: o primeiro critério que geralmente se utiliza
é o de saúde como “ausência de sintomas, de sinais ou de doenças”. Lembremos aqui
do velho aforismo médico que diz: “A saúde é o silêncio dos órgãos”. Normal, do
ponto de vista psicopatológico, seria, então, aquele indivíduo que simplesmente não é
portador de transtorno mental definido. Tal critério é bastante falho e precário, pois,
além de redundante, baseia-se numa “definição negativa”, ou seja, define-se a
normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas, sim, por aquilo que lhe falta.
Normalidade como Ideal: A normalidade aqui é tomada como uma certa “utopia”.
Estabelece-se arbitrariamente uma norma ideal, o que é supostamente “sadio”, mais
“evoluído”. Tal norma depende, portanto, de critérios sócio-culturais e ideológicos
doutrinários. Exemplos de tais conceitos de normalidade são aqueles baseados na
adaptação do indivíduo às normas morais e políticas de determinada sociedade.
Normalidade Estatística: a normalidade estatística identifica norma e frequência. É
um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenómenos quantitativos,
com determinada distribuição estatística na população geral (como peso, altura, tensão
arterial, horas de sono, quantidade de sintomas ansiosos, etc.). O normal passa a ser
aquilo que se observa com mais frequência.
Normalidade como Bem-Estar: A OMS definiu, em 1958, a saúde como o completo
bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. É um
conceito criticável por ser muito vasto e impreciso, pois bem-estar físico, mental e
social é tão utópico que poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”.
Normalidade Funcional: Tal conceito irá assentar-se sobre aspectos funcionais e não
necessariamente quantitativos. O fenómeno é considerado patológico a partir do
momento em que é disfuncional, provoca sofrimento para o próprio indivíduo ou para
seu grupo social.
Normalidade como Processo: Neste caso, mais do que uma visão estática, consideram-
se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e
reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos
etários. Este conceito é particularmente útil em psiquiatria infantil e de adolescentes,
assim como em psiquiatria geriátrica.
Normalidade Subjectiva: Aqui é dada maior ênfase à percepção subjectiva do próprio
indivíduo em relação ao seu estado de saúde, às suas vivências subjectivas. O ponto
falho deste critério é que muitos indivíduos que se sentem bem, “muito saudáveis e
felizes”, como no caso de pessoas em fase maníaca, apresentam de fato um transtorno
mental grave.
Normalidade como Liberdade: Alguns autores de orientação fenomenológica e
existencial propõem conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial.
Desta forma, a saúde de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino. A doença
mental é constrangimento do ser, é fecho, fossilização das possibilidades existenciais.
(3.0)
c) Explique, por que razão, é importante o estudo da normalidade no âmbito da
psiquiatria e psicologia forense?
Fornecem subsídios para questões relacionadas com “insanidade”, competência para
o exercício das funções de cidadão, avaliação de incapacidades ou patologias que
podem se associar com infrações da lei, etc. A anormalidade psicopatológica pode ter
implicações legais, criminais e éticas, podendo definir o destino social, institucional e
legal de uma pessoa. A definição de alguém como normal psicopatologicamente
significa que o indivíduo em questão é plenamente responsável por seus actos e deve
responder legalmente por eles. Caso se defina a pessoa como anormal e tal
anormalidade a impeça de avaliar a realidade e de agir racionalmente, respeitando as
leis de sua sociedade, ela passa a ser considerada não responsável por seus actos,
perdendo a autonomia, de um lado, e, de outro, a possibilidade de ser acusada e
punida judicialmente. (2.0)

3. O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), da American


Psychiatric Association é um instrumento considerando crucial na psicologia.

a) Por quais motivos o manual de diagnóstico estatísticos de transtornos mentais


são acompanhados de critérios de diagnósticos e os respectivos códigos?
O DSM é uma classificação de transtornos mentais e critérios associados elaboração
para facilitar o estabelecimento de diagnósticos mais confiáveis desses transtornos. Os
critérios diagnósticos constituem a melhor descrição disponível de como os transtornos
mentais se expressam e podem ser reconhecidos por clínicos treinados. O DSM se
propõe a servir como um guia prático, funcional e flexível para organizar informações
que podem auxiliar o diagnóstico preciso e o tratamento de transtornos mentais. Trata-
se de uma ferramenta para clínicos, um recurso essencial para a formação de
estudantes e profissionais e uma referência para pesquisadores da área.
O uso dos critérios envolve a evidente vantagem de criar uma linguagem comum para
comunicação entre clínicos sobre o diagnóstico de transtornos. Os critérios e
transtornos oficiais que foram considerados como tendo aplicabilidade clínica.
Contudo, deve-se enfatizar que esses critérios diagnósticos e suas relações dentro da
classificação baseiam-se em pesquisas atuais e podem sofrer a necessidade de
modificação com o surgimento de evidências de novas pesquisas, tanto dentro quanto
entre os domínios dos transtornos propostos. (2.0)

b) Olhando para a estrutura organizacional do manual, que categorias dos


transtornos são apresentados na primeira secção dos transtornos mentais?
Transtornos do Neurodesenvolvimento
Os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de condições com início no
período do desenvolvimento que se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral
antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no
desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico
ou profissional. Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito
específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais
em habilidades sociais ou inteligência.
Deficiências Intelectuais; Transtornos da Comunicação; Transtorno do Espectro
Autista
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade; Transtornos Motores. (2.0)
4. Faça uma breve reflexão sobre a importância da utilização do DSM e do CID, no
âmbito do Sistema Nacional de Saúde, especificamente na área da saúde mental.

O Sistema Nacional de Saúde de Moçambique é composto por três subsistemas que se interligam e se
complementam, a saber: Subsistema Público de Saúde, designado Serviço Nacional de Saúde;
Comunitário de Saúde (público e privado) e Subsistema Privado de Saúde. Assim, a utilização do CID e
DSM poderão ser importantes na definição de políticas de saúde mental que ajudam na promoção e
implantação, expansão e apetrechamento de infraestruturas de saúde públicas, privadas e comunitárias
resilientes e inovadoras, obedecendo aos padrões definidos pelo Ministério da saúde para a promoção
da saúde mental em várias dimensões. Ademais, auxiliarão os profissionais moçambicanos numa
excelente comunicação, caso haja tratamentos e intervenções com equipes multidisciplinares. (3.0)

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