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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA – UNIFOR


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CCS
CURSO DE PSICOLOGIA
FILOSOFIA E PSICOLOGIA I

ENSAIO CRÍTICO:
FILME MATRIX (1999)

Gabriela de Freitas Cavalcante - 2114282


Helio Cavalcante Donadi - 2114260
Maria Eduarda Aguiar Barros - 2114273

05/2021
FORTALEZA, CE
(DUDA) O trabalho exposto tem por objetivo fazer uma análise crítica sobre o filme ´´
Matrix ́ ́ , onde retrata uma dupla realidade, na qual os humanos vivem em uma espécie de
coma e se tornam reféns de máquinas que sugam suas energias, enquanto criam simulações
de uma realidade falseada e projeções mentais de um ´´eu ´´ digital. Trazendo uma ligação
entre a filosofia e a ficção científica, apresenta assim, referências a filósofos como a de Platão
e ´´ O mito da caverna ´´, Karl Marx e sua teoria e o ´´ argumento do cogito ´´ de René
Descartes ´´ Penso, logo existo ´´, expressão essa que foi importante para a constituição de
seu pensamento filosófico.

Acerca das menções, podemos constatar outras referências mostradas ao decorrer do filme,
como o método cartesiano desenvolvido por Descartes que possibilita um olhar com
semelhanças céticas diante a sociedade, no qual afirma que ´´ a tradição, ao contrário do que
pretendia, estava longe de ter encontrado a verdade, e de ter constituído um sistema sólido e
coerente que lhe deste autoridade ´´, levando-o a questionar tudo à sua volta, incluindo sua
própria realidade, porém se opondo ao ceticismo, por propor encontrar um caminho de
certezas básicas, buscando a real verdade que se esconde por trás da ilusão. Desse modo,
retrata a busca de Morfeu que lutava para romper com o sistema de controle, junto de outras
pessoas que acreditavam também na importância da segregação com a matrix, para então
estruturar a comunidade de modo que livrasse as pessoas do estado de alienação.

(HELIO) Ainda sobre o método cartesiano, é importante salientarmos que o método,


elaborado por Descartes, tem como fundamento a famosa frase “Cogito, ergo sun” (penso,
logo existo). Tal método, foi calcado no ceticismo, colocando a imposição da dúvida - dúvida
que para Descartes deve se estender a tudo, a todo universo - sendo assim, Descartes vai falar
que o pensamento também é dúvida e quando o indivíduo percebe que está pensando, ele é
um ser que existe, pois é impossível pensar, sem antes existir, esse é o primeiro conhecimento
evidente para Descartes, uma certeza infindável. Prosseguindo, Descartes vai dividir o mundo
em duas instâncias diferentes: a primeira é Deus, que tem uma inteligência infinita e detém
toda influência sobre tudo, pois é o criador; a segunda instância é o sujeito pensante que é
consciente mas imperfeito. Descartes vai dividir esse sujeito em dois: o “res cogitans” que é a
mente, o “res extensa” que é o corpo, essa divisão vai criar um dualismo psicofísico.

Sobre o filme, pode-se mencionar a postura de Thomas Anderson, que atendia da mesma
maneira pelo nome de Neo, inicialmente se encontrava em uma situação conflituosa, por
aceitar o que via ao mesmo tempo em que duvidava de suas experiências vividas, ele sentia
como se algo não estivesse certo em sua realidade, isso o levava a questionamentos
freqüentes, nesse aspecto se assemelhava com as dúvidas de Descartes, demonstrando que
nossos próprios sentimentos podem ser enganosos. Esse seu comportamento cético fez com
que chegasse a conhecer Morfeu, que o impulsionou na busca pela verdade sobre as questões
que não faziam sentido para ele, lhe trazendo cada vez mais dúvidas sobre sua existência e o
modo de vida da sociedade.

(GABI) Além disso dialogando com outros pensadores, podemos fazer uma analogia de
Matrix com o “mito da caverna” de Platão, a matrix sendo a caverna que acorrenta as pessoas
desde a infância de tal forma que não conseguem ver outra realidade fora da caverna.No
filme a caverna responsável pelo engano dos homens seria representada pelo “Software
Matrix” e o personagem Neo representa o escravo que é capaz de se libertar das correntes e
descobrir uma realidade totalmente divergente daquela em que se acreditava. Esse libertar da
caverna significa acessar o mundo das ideias, um lugar onde os seres estariam livres de
enganações por meio do pensamento com a pureza das coisas do mundo, já que para Platão o
conhecimento verdadeiro se dá a partir das ideias puras e do intelecto. Outra representação
clara no filme sobre o mito da caverna é o incômodo causado por essa saída de uma realidade
já confortável para aqueles que ali habitavam. Neo quando se liberta pela primeira vez do
programa de software é ofuscado por uma luz e se sente extremamente desconfortável até que
seu corpo se habitua com aquela nova realidade. Entretanto, com o tempo, a verdade se torna
libertadora e somente com ela somos capazes de tomar consciência do mundo para
questioná-lo, modificá- lo e entendê-lo.

Uma outra analogia adicional no filme Matrix seria com o pensamento contemporâneo do
pensador Karl Marx, já que na produção do filme fica claro uma tentativa de “resgatar” o ser
humano de sua alienação, mesmo que de uma forma abstrata. Marx menciona em suas teorias
que há necessidade de uma consciência de classe, que durante muito tempo se submeteu a
uma alienação causada pelo mundo capitalista. A Matrix simboliza então o próprio
capitalismo, um conjunto de aparelhos ideológicos com o objetivo de tornar a sociedade
padronizada, escravos de um sistema de criação e produção. Zion então, simboliza o que seria
uma sociedade ideal, o socialismo a ser alcançado e os defensores da Matrix com seus
sentinelas seriam instrumentos de repressão. O indivíduo ao fugir da ideologia dominante é
reprimido, é nesse momento que Matrix e Zion entram em confronto. É observável que o
avanço da tecnologia no filme, a criação da inteligência artificial serve como instrumento de
dominação usado para manipular as massas, sendo assim, a preservação do Zion seria uma
forma de luta por um mundo sem as ilusões capitalistas. É interessante ressaltar que apesar do
grande avanço tecnológico ser um dos motivos causadores dessa realidade ilusória em que se
encontram os seres humanos, a tecnologia é também um dos instrumentos utilizados para
denunciar e enfrentar toda essa repressão feita pela ideologia dominante, o que prova que o
avanço da ciência é importante para o desenvolvimento da sociedade e cabe ao homem usá-la
de forma benéfica ou maléfica. Fazendo referência ao filme, cabe ao homem decidir se vai
tomar a pílula azul (se acomodar e permanecer na ignorância ) ou a pílula vermelha (ter a
chance de mudar o percurso da história ).

Retomando a Descartes, vale lembrar, que ele viveu em um tempo de transição e ruptura na
tradição (1596-1650), como por exemplo, o Renascimento, onde se origina uma nova
concepção de universo, a autoridade da igreja católica é abalada e o humano passa a ter uma
nova visão de si e a revolução científica, revolução que queria quebrar o modelo de
inteligibilidade do aristotelismo, esses eventos sociais influenciaram em seu modo de pensar
sobre o todo, levando a reflexões sobre seu tempo. De início a narrativa do filme apresenta
uma distopia, bem como no período do filósofo, no qual o sistema é comandado por um
regime opressor, que tira a liberdade dos indivíduos fazendo-os acreditar que estão no
controle de suas vidas, mas que na verdade estão sendo condicionados a realidade moldada
de acordo com os interesses das máquinas.

Referências Bibliográficas:

-> MARCONDES, Daniel. Iniciação à filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgenstein. 5ª edição.


Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar Editor, 1997.

-> ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
Introdução à Filosofia. 3ª edição. São Paulo: Editora Moderna, 2003.

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