como um esforço em “compreender o essencial ali onde ele não se deixa destilar numa
operação automática”, pois é preciso “romper com uma lógica que se limita a encobrir o
particular na teia do geral, ou que só abstrai o geral do particular”. (8)
como nos sugere o filósofo Maurice Merleau-Ponty, um método que permite “pensar ao
mesmo tempo a exterioridade, que é o princípio mesmo das ciências do homem, e a
interioridade, que é condição da filosofia, as contingências sem as quais não existe
situação e a certeza racional sem a qual não existe”. mutações: ensaios sobre as novas
configurações do mundo e A condição humana: as aventuras do homem em tempos de
mutações constituem, então, uma só obra, um incontornável desejo de recolher e
analisar as experiência de um mundo incerto e provocante. (9-10)
Essa visão é muito próxima de que conclui Heidegger sobre a relação entre ciência e
pensamento: Esta frase ‘A ciência não pensa’, que provocou tanto barulho quando a
pronunciei em uma conferência em Friburgo, significa: a ciência não se move na
dimensão da filosofia.
Não posso dizer, por exemplo, com os métodos da física o que é a física. Não posso
pensar o que é a física à maneira de uma interrogação filosófica. (10)
Em todos eles e em mim mesmo faço soar o humano, escuto o passo do homem. A
linguagem comum designa como o belo nome de humanidades esta procura do
homem...
“não a construção de conceitos através das quais tentaríamos tornar menos sensível
nossos paradoxos”. (14)
cada indivíduo na ordem natural; aplicação da ideia de que a política é uma autentica
criação humana. O humano é, enfim, esse elo entre ordem natural e a ordem política, ou
entre o “estado de natureza” e o “contra social”, como queriam os filósofos do século
XVII.
difícil quando sabemos que predomina ainda a herança positivista de uma história
linear. Wittgenstein nos alerta contra essa visão determinista da história: “Quando
sonhamos o futuro do mudo, temos sempre em mente o lugar onde ele se encontrará se
ele continuar sua trajetória como o vemos fazer agora, e não conseguimos pensar que a
trajetória não é reta, mas feita de curvas, e que sua direção muda constantemente”. Ou
seja, é preciso pensar no caso e no imprevisível.
‘Que vontade anima uma vida de combates e vitórias? “Para compreendê-la”, continua
Nietzsche, “devemos partir do fato de que o gênio grego valorizou este instinto outrora
tão terrivelmente presente e considerou-o legítimo. (...) O combate e a alegria de vencer
foram legitimados: nada separa o mundo grego do nosso a não ser a coloração, que
deriva desta legitimação, de certas categorias morais, como a discórdia e a inveja.” (21)
de Maurice Merleau-Ponty: “O ser é o que exige de nós criação para que dele tenhamos
experiência.” O humano e experiência andam juntos.
na medida em que ele se afasta cada vez em relação à manifestação do Ser entre os
gregos- até que o Ser se torne uma simples objetividade para a ciência e hoje um
simples fundo de reserva para a dominação técnica do mundo. Em termos sartrianos,
pode ser dizer que a técnica- ou um “conjunto de receitas”- precede a própria existência.
A análise de Paul Valéry caminha em outro sentido, mas tende a chegar às mesmas
conclusões de Heidegger. No ensaio Une conquete méthodic (Uma conquista metódica)
ele adverte para dois perigos que “não cessam de ameaçar o mundo: a ordem e a
desordem”, que são, exatamente os objetos do trabalho do espírito. (28)
a civilização está prestes a se destruir por seus próprios meios. A ordem absoluta que o
espírito ao mundo vota-se pois para sua perda- a volta à desordem. (29)
Essa forma do mundo dada pela ciência e pelos conhecimentos científicos desvaloriza,
de alguma maneira, toda nossa experiência vivida: a natureza das coisas e do homem
passa a ser definida e dada não pela experiência humana e pelos sentidos, mas pela
tecnociência. Ou melhor, nossos sentidos são pensados como coisas ilusórias, aparentes
e irracionais. A razão passa a ser coisa de saber metódico dos cientistas. Enfim, o
mundo verdadeiro “não são essas luzes, essas cores, esse espetáculo sensorial que meus
olhos me fornecem, o mundo são ondas e os corpúsculos dos quais a ciência me fala e
que ela encontra por trás dessas fantasias sensíveis”, conclui Merleau- Ponty.
o que ele questiona é a ideia de uma ciência como representação do mundo que se basta,
“sem que tenhamos mais nenhuma questão válida a pôr além dela.
a cada momento, uma grande imaginação, o que pede o trabalho da percepção muito
além do saber metódico da ciência.
Humano é ainda aquele que é capaz de criar linguagens e, portanto, criar o mundo. (31)
“constatar que a última pergunta é angustiante: até que ponto da inteligência é relevante
no Universo?”
uma história, sobre um fundo já começado, acerca de horizonte de uma história possível
ele não cessa de se interrogar, num movimento incessante de recuo e retorno dessa
origem. (290)
identidade e diferenças, na rede que interliga uns aos outros os jogos de verdade e o
efeitos de poder.
“o que é esclarecimento?”
“biopolítica” para designar o que faz ingressar a vida e seus mecanismos no domínio
dos cálculos explícitos e faz do poder-saber um agente de transformação da vida
humana... (292)
o que era para Aristóteles: um animal vivente e, além disso, capaz de uma existência
política; o homem moderno é um animal em cuja política está em questão sua vida de
ser vivente.
que é sempre a vida e o corpo que se colocam como a pressa do poder na sociedade
europeia desse período. (293)
O biopoder não normaliza, ele regulamenta, controla e gere a vida das populações. (294)
O biopoder, todavia, é uma forma de “poder que tem por tarefa tomar a vida a seu
cargo, (ele) terá necessidade de mecanismos contínuos, reguladores e coletivos. Não se
trata mais de lançar a morte no campo da soberania, mas de distribuir o vivente em um
domínio de valor e de utilidade. Um tal poder tem que qualificar, medir, apreciar,
hierarquizar, antes do que se manifestar em seu brilho mortal.” (298)
Ao final, conclui que a transitoriedade não diminui o valor das coisas- ao contrário,
acrescenta-lhes valor. A delicadeza é possível justamente nas culturas em que a perda é
parte da vida. Ao contrário, os que nada admitem perder talvez desprezem tudo o que é
efêmero, frágil, transitório. (455)
da guerra à atividade de “aparar choques”, tinham ficado mais pobres, não mais ricos
em experiência. (462)
o que achamos propriamente de vida psíquica tem a ver com o trabalho das camadas
consideradas profundas da mente- o pré-consciente e o inconsciente. Esse é o trabalho
responsável pela memória, que confere ao eu um sentimento de permanência ao longo
do tempo, assim como de continuidade da existência.
Uma geração que ainda fora à escola num bonde puxado por cavalos se encontrou ao ar
livre numa paisagem em que nada permanecera inalterado, exceto as nuvens, e abaixo
delas, num campo de forças de torrentes e explosões, o fácil e minúsculo corpo humano.
(463)
(464)