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JUDITH BUTLER ae BMASILEIRA Copyright da autora © Judith Butler, 2009 yr cio original © Verso, 2009 Copyright da tradugao © Civilizagao Brasileira, 2015 ‘Titulo original: Frames of War: When Is Life Grievable? CIP-BRASIL, CATALOGACAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _ Butler, Judith B992F Quadros de guerra: Quando a vida é passivel de luro? / 3 ed, Judith Butler; tradugio Sérgio Tadeu de Niemeyer Lamardo ¢ Amaldo Marques da Cunha; revisio de tradugio de Marina Vargas; revisio técnica de Carla Rodrigues. ~ 3* ed. = Rio de Janeiro: Civilizagio Brasileira, 2017. 288 p521.em, ‘Tradugio de: Frames of War Inclui bibliografia ¢ indice ISBN 978-85-200-0965-9 1, Guerra - Historia. 2. Civilizagdo moderna. 3. Violéncia. 4. Histéria universal. L Titulo. CDD: 930 1417200 CDU: 94 ‘Todos 08 direitos reservados. E proibido reproduzir, arma- 4 = deste li ade Gise S zenar ou transmitir partes deste livro, através de quaisquer fAN\ aS SS soroRs AMLIB meios, sem prévia autorizagao por escrito. ‘Texto revisado segundo 0 novo Acordo Ortografico da Lingua Portuguesa. Direitos desta traducéo adquiridos pela EDITORA CIVILIZACGAO BRASILEIRA Um selo da EDITORA JOSE OLYMPIO LTDA. Rua Argentina, 171 — Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 — Tel.: (21) 2585-2000. Seja um leitor preferencial Record. Cadastre-se ¢ receba informagoes sobre nossos langamentos € nossas promogies. Atendimento e venda direta ao leitor: indireto@record.com.br ou (21) 2585-2002. Impresso no Brasil 2017 Digitalizado com CamsScanner Sumario Agradecimentos 9 Introdugao: Vida precdria, vida passivel de luto 13 1. Capacidade de sobrevivéncia, vulnerabilidade, como¢gao S7 2. Tortura ea ética da fotografia: pensando com Sontag 99 3. Politica sexual, tortura e tempo secular 151 4. O nao pensamento em nome do normativo 197 5. A reivindicagao da nao violéncia 233 Notas 261 Indice 279 Digitalizado com CamsScanner 4 Q nao pensamento em nome da normatividade ( Em um recente debate,' 0 socidlogo britanico Chetan Bhatt observou que “na sociologia, na teoria cultural ou nos estudos culturais, muitos de nés pressupomos um campo de verdades (...), um campo (embora contestado) de inteligibilidade te6rica para compreender ou descrever ‘o Self, ‘o Outro’, o sujeito, a identidade, a cultura”.? E acres- centa: “Nao estou mais tio seguro de que esses conceitos tenham necessariamente a capacidade expansiva para abordar as enormes transformacGes ocorridas nos mundos 4a Vida fora da Euro-américa, 0 répido desembaralha- mento € recondicionamento daquilo que denominamos 'dentidade? (...).” Se Bhatt estiver certo, entao os proprios “"quadramentos por meio dos quais avancamos, seja 0 do tctlturalismo ou 0 dos direitos humanos, pressupdem ©Specificos de sujeitos que podem ou nao correspon- 197 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA der aos modos de vida que se dao no tempo presente, Os sujeitos subentendidos pelos enquadramentos liberais e multiculturais (e vamos ter que tentar fazer uma distingio entre eles) caracterizam-se por pertencerem a certos tipos de identidades culturais, concebidos de formas variadas como individual ou multiplamente determinados por uma série de categorias que incluem etnicidade, classe, raga, religiio, sexualidade e género. Persistem algumas questoes sobre se e como tais sujeitos podem ser representados na legislagao, e sobre o que poderia ser considerado como um reconhecimento cultural e institucional suficiente para tais sujeitos. Fazemos essas perguntas normativas como se soubéssemos 0 que queremos dizer com o sujeito, mesmo que nem sempre saibamos qual é a melhor maneira de representar ou reconhecer varios sujeitos. De fato, o “nés” que elabora essas perguntas pressupde, em grande par- te, que o problema é unicamente normativo, a saber, qual amelhor maneira de organizar a vida politica de forma a possibilitar 0 reconhecimento e a representagao. E muito embora essa pergunta seja certamente crucial, para nao dizer a mais crucial que podemos fazer, nao podemos ela- borar uma resposta se nao considerarmos a ontologia do sujeito cujo reconhecimento e cuja representacao estao em questao. Além disso, qualquer indagagao a respeito dessa ontologia exige que consideremos outro nivel no qual 0 normativo opera, isto é, mediante normas que produzem a ideia do humano digno de reconhecimento e de represen- tagdo. Isso significa que nao podemos fazer e responder a Pergunta normativa entendida de maneira mais geral, sobre 198 Digitalizado com CamScannet 0 NAO PENSAMENTO EM NO ME DA NORMATIVIDADE omelhor modo de representarmos ou reconhecermos esses sujeitos, Se N40 conseguimos compreender o diferencial de poder existente que distingue entre os sujeitos que serao elegiveis para o reconhecimento e os que nao o serio. Em outras palavras, qual a norma segundo a qual o sujeito é produzido e se converte depois no suposto “fundamento” da discussao normativa? O problema nao € unica ou meramente “ontoldgico”, j4 que as formas que 0 sujeito assume, assim como os mundos da vida que nao se ajustam as categorias disponiveis do sujeito, emergem a luz dos movimentos histéricos e geopo- Iiticos. Digo que eles “emergem”, mas isso, evidentemente, no significa que haja nenhuma garantia, j4 que essas novas formacdes sé podem “emergir” quando existem enquadramentos que estabelecem a possibilidade dessa emergéncia. Portanto, a questo é: esses enquadramentos de fato existem e, em caso afirmativo, como funcionam? Existem variantes do liberalismo e do multiculturalismo que propdem uma reflexdo sobre 0 que poderia ser 0 reco- nhecimento a luz de um desafio as nogGes do sujeito e da identidade propostas por Bhatt anteriormente. Algumas dessas posicdes procuram estender uma doutrina de re conhecimento a sujeitos de coligagdes. O socidlogo Tariq Modood, por exemplo, propde uma concep¢a0 de cidada- nia dependente menos de perspectivas ou reivindicagdes baseadas no sujeito do que no intercambio intersubjetivo que se produz, por exemplo, como resultado de “possibi- lidades de coligagdes entre politicas sexuais € 0 multicul- turalismo religioso”. Em sua opiniao, 4 cidadania deve 199 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA ser entendida como algo dinamico e passivel de revisio, marcado por “conversagdes & renegociagoes”. Uma concep¢40 substancial de cidadania implica mo- dalidades de didlogo que reconstituam os participantes de maneira significativa. Modood deixa claro que “a tinica coisa que nao constitui a inclusao civil é uma aceitagao acritica de uma concepgao de cidadania, das ‘regras do jogo’ e de um ‘ajuste’ unilateral dos recém-chegados ou dos novos iguais (os ex-subalternos)”. Em seguida, ele faz este importante acréscimo as suas observagées: “Ser cidadao, da mesma forma que ter se convertido em cidadao, é ter direito no apenas de ser reconhecido, como também de debater os termos do reconhecimento.”* Fazer uma solicitagao para se tornar um cidadao nao é tarefa facil, mas debater os termos mediante os quais essa cidadania é conferida é, sem duvida, ainda mais dificil. Nessa perspectiva, 0 cidadao é ele mesmo um “intercam- bio de coligagdes”; em outras palavras, nao ha um sujeito singular ou multiplamente determinado, mas um processo social dindmico, um sujeito que esta nao apenas em mar- cha, mas que é constituido e reconstituido no decorrer do intercambio social. Nao apenas temos direito a certo estatuto como cidadaos, mas esse estatuto é ele mesmo determinado e revisto no decorrer da interagio social. Poderiamos afirmar que essa forma dialégica de ontologia social é satisfatoria e conveniente, mas o reconhecimento legal nos converte a todos em sujeitos juridicos, Embora isso possa parecer verdadeiro, existem condigées extrale- j gais para se tornar um cidadao, na realidade, até mesmo 200 Digitalizado com CamScanner 9 no PE ENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE chegat a set um sujcito capaz de comp : arecer diante 3, Comparecer diante da lei significa que um, ; \ 4 pessoa ou no reino da aparéneia ou que es posicionada ida nele, o que signific Ss cle, © que significa, por sua vez, para set intrody qu sujeito ¢ émoldado para aparecer perante a lei nao &, portanto, ple- amo er ¢ de fato aparece. O sujeito que ye existe normas que condicionam e orque que pode apa namente determinado pela lei, ¢ essa condigdo extralegal 4 implicitamente (e nao juridicamente) de legalizagdo est, prevista pela propria lei. Poderiamos, entio, ficar tentados a decidir formular uma nova concepgaio do sujeito, uma concepgao que po- deria ser chamada de “coligagio”. Mas o que constituira s partes dessa coligagio? Podemos dizer que existem diversos sujeitos em um tinico sujeito, ou que existem “partes” que se comunicam umas com as outras? As duas alternativas demandam que formulemos a questao sobre se alinguagem do sujeito é suficiente. Consideremos 0 cenario rmativa da invocado por aqueles que perseguem a meta no tolerancia: se um sujeito pratica a tolerancia em relacao a Outro, ou se dois sujeitos diferentes se veem na obrigagao de praticar a tolerdncia reciproca, entao esses Sore t0s so considerados diferenciados desde 0 inicio. Mas 0 Que explica essa diferenciagao? E se a “diferenciagao” € €xatamente 0 que deve ser reprimido ¢ res eal fm de que o sujeito aparega dentro de semelhante cendrio? Dentro de alguns discursos de tolerancia, por exemplo, ha dois tipos de sujeito diferentes, como “os homossexuals € “og mugulmanos”, que s¢ toleram ou ndo mutuamente Digitalizado com CamsScanner e% 2 Quangos OF J nas eras da negociagdo & das politi Wendy Brown afirmou, de forma convir com tr neente, 3 6 um instrumento frigil, que um desprezo por aqueles @ quem defendem o reconhecimento como UMS alterna robusta e afirmativa & tolerincia (menos tolerant eassim, mais tolerante!). O reconhecimento, porém, tormae-se um conceito nada perspicaz quando refletimos sobre como s Cendrios. Além é direcio: te poderia funcionar com relagdo a e: questao de quem confere reconhecimento e que forma assume, temos também de nos perguntar © que prect mente seria “reconhecido”? A “homossexualidade™ 3 pessoa gay? A crenga religiosa do mugulmano? Se nesses enquadramentos normativos pressupOem que essas CATR teristicas aparentemente definidoras de sujeitos singulax mente determinados constituem seus objetos adequados, entdo o reconhecimento se torna parte da propria pr. tea de ordenar e regular os sujeitos de acordo com normas pr estabelecidas. Se o reconhecimento reconsolida o “suieite sexual”, o “sujeito cultural” e 0 “sujeito religioso”, entre outros, ele faz ou encontra o suj ito do reconhecimento? E hd alguma maneira de distinguir entre o fazere o encontrar dentro da cena de reconhecimento baseada nesses termes? E se os préprios tracos que so “reconheciveis™ provarent estar baseados em um fracasso do reconhecimento? o fato nhum sujeito pode surgir sem se dif “Tan um aneee aeasesorseguci Em primeitg Q lugar, um sujeito s6 se torna distinto mediante a exclusio de vei nj es Outras possiveis formagdes de sujeito, uma multidio de 202 Digitalizado com CamScanne NAO PENSAMENTO EM HOME DA HORMATINIDL épfo eus”- Em segundo lugar, um sujeito surge mediante. ~) um processO de descarte, abandonando aquelas dimensiies a de si mesmo que ndo conseguem se conformar as figuras distintas produzidas pela norma do sujeito humano. A recusa desse processo inclui varias formas de espectra- lidade & monstruosidade, geralmente representadas com relacao & vida animal nao humana. Em certo sentido, essa formulagao é uma espécie de truismo (pés-)estruturalista, no sentido de que a diferenga nao apenas condiciona de antemao a afirmacao da identidade, mas prova, como resultado, ser mais fundamental do que a identidade. Em Hegemony and Socialist Strategy, Laclau € Mouffe ofereceram a sua extremamente importante reformulacao dessa nogao, em que a condi¢ao de diferenciagao se torna, simultaneamente, o sinal de uma caréncia constitutiva em toda formacao do sujeito ea base para uma concep¢ao nado substancial da solidariedade.° Existe alguma maneira de transformar esse conjunto de ideias formais em uma andlise historicamente especifica do funcionamento diferencial do reconhecimento nos dias atuais? Afinal, se 0 sujeito é sempre diferenciado, temos de compreender o que isso significa exatamente. Temos uma tendéncia a entender a diferenciagéo tanto como um traco interno de um sujeito (0 sujeito € internamente diferenciado e composto por diversas partes que sé de- tetminam mutuamente) quanto como um trago externo (0 sujeito exclui outras formagoes do sujeito assim como spectros de degradacao ou a perda do estatuto de sujeito). Essas duas formas de diferenciagao, porém, nao so tio 203 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA reas quanty poderia PATEceyy ja que aquela que exclio ater distint e espe. oom o intnity de constiquir meu ea ‘ Foy permanere em mim Como a perspeckiva de minha Jissolugdo. Qualquer diferencia entre Minhas partes ou minhas “identidades” KO interna que ey depends de algum modo de uniticar essas diferengas, ¢, im, reinstala o sujeito como fundamento da prop a adquire sua especitici= diterenga, Por sua vez, esse sujeita dade detinindo-se em oposigdo Aquilo que esti fora dele, de forma que a diferenciag para explicar a diferenciag Jo externa se mostra fundamental ‘Jo interna também, Nio precisamos vangaralém de Hegel para fazer essas mas talv Perit afirmagie: ta algo ma ser considerado n que assumem os contlitos cult formas is ostensivos, assim como na maneira pela qual essas formas Sio pressupostas pelos enquadramentos normativos pre dominantes, A pessoa homos exual em questo pode ou no ser mugulmana, e a pessoa mugulmana em questio pode ou ndo ser homofbica, Todavig de contlito cultural (gay ve se 0 enquadramento rsus Mugulmano) determina © modo como concebemos essas identidades, entio o mugulmano seri definido Por sua homofobia ostensiva, © 0 homossenual seri detinido, tanto como presumivelmente algugm receoso, palavras, amba; dependendo do contexto, anti-iskimico qi da homofobi: anto como ’& mugulmana, Em outras 8 S Posigdes se definem em termos da re= lagio supostamente contlitiva entre elas, situagdo em que bendo pouca coisa a re: ou dos loc de su ficamos s. peito de cada categoria * convergeneia sociolégica, De fato, 0 204 & Digitalizado com CamScanner 0 NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE enquadramento da tolerancia, até mesmo da imposigao0 da tolerancia, ordena a identidade de acordo com as suas exigencias e apaga as complexas realidades culturais das vidas gays € religiosas. A consequéncia € que o enquadramento normati- yo determina certa ignorancia sobre os “sujeitos” em |_ owes questdo, € até mesmo racionaliza essa ignorancia como necessaria 4 possibilidade de se fazerem julgamentos normativos contundentes. De fato, “entender” as reali- ? dades culturais designadas pelos termos “homossexual” Ly vk e“mugulmano” demanda algum esforgo, especialmente em seus “mundos da vida” transnacionais, para invocar Bhatt, tanto dentro quanto fora e na periferia da Euro- -américa (entendendo-se que essas categorias espaciais podem operar simultaneamente). A final de contas, enten- der essa relagdo implicaria considerar certo nimero de formagdes em que a sexualidade e a religido funcionam como veiculos uma para a outra, algumas vezes em anta- gonismo, outras nao. Afirmar que existem regras contra a homossexualidade dentro do Isla nao significa definir Como as pessoas vivem em relagao a essas regras Ou esses tabus, ou como essas regras e esses tabus variam em sua intensidade ou centralidade, dependendo dos contextos © Ptaticas religiosos especificos em questao. Seria de especial interesse proceder-se a uma andlise de como as praticas sexuais explicitamente consideradas tabus se comportam com relagao ao tabu, ou com indi- ferenca relativa diante dele. Afirmar que existe um tabu *M um nivel doutrindrio ainda nao explica que fungao 0 Digitalizado com CamsScanner QUADROS DE GUERRA tabu desempenha no interior dessa doutrina nem como as vidas sexuais S40 proprio tabu, como t lidades culturais, quer este} ou nao. Com efeito, até mesmo afirmar que a religiio e ualidade podem constituir forgas motrizes para um lo modo de vida ainda nao € 0 mesmo que ‘oras elas podem ser, ou de que maneira conduzidas em relagdo nao somente ao ambém a varios outros tipos de rea- jam moduladas religiosamente a sex! determinad dizer quao impuls impulsionam (ou nao conseguem impulsionar) ou 0 que é precisamente que impulsionam (e em conjunto com que outras forcas motrizes?). Em outras palavras, o enqua- dramento bindrio assume que a religiao e a sexualidade determinam, singular e exaustivamente, a identidade (0 que explica a existéncia de duas identidades, distintas e opostas). Esse enquadramento nao considera que, até mesmo onde ha antagonismos, isso nao implica necessa- riamente uma contradic¢ao ou um impasse como conclusao. O antagonismo pode ser vivido dentro de e entre sujeitos como uma forga politica dinamica e produtiva. Finalmente, esse enquadramento nao faz nenhum esforco para indagar sobre as maneiras complexas por meio das quais a religiao ea sexualidade se organizam, uma vez que o enquadra- mento bindrio pressupde saber tudo 0 que se precisa saber antes de qualquer investigacao efetiva sobre essa realidade cultural complexa. Trata-se, pois, de uma forma de n30 Pensamento, ratificada por um modelo restritivamenteé ldudecapee da ean que Recessita de um mapa de rea- aapaeae Bas um julgamento mesmo que esse nte falso. Na verdade, é uma forma 206 | ! | Digitalizado com CamScanner 0 NAO PENSAMENTO FM Home yp HOMMETIYIO LUE de julgamento que falsifiea 0 mundo coy 4 propia en Posinn Ae reforgar o proprio julpamento moral como ‘ “ sina) de cory privilégioe de certa “perspi "cult YAS, Una ancien (0 que, presurpive apenas O8 NAO Europeus, come tay " de todo tipo), Ademais, de manter as hordas a distanei nih, incluiria bin SAS eivindicg- gdes quase sempre sio acompanhadas de urna afirry DAD Koy ‘coragem politica”, entendida como a dispoy- gio de desafiar aqueles que desejariam que penshssernus sobre as diferengas culturais de maneira mais fundamen- tada, tolerante ou complexa. Em outras palavras, : precisamos entender, mas apenas, ¢ sempre, julgar! h argumento, porém, nao é paralisar o julgamento ou mi esptiria de as pretensdes normativas, mas sim insistir que devernos formular novas constelagées para pensar a normativide- de, se quisermos proceder de maneiras intelectualmente abertas e compreensivas a fim de compreender € avaliar o mundo em que vivemos. Evidentemente, ha algumas op¢Ges que Go estou apre- sentando. Por exemplo, o problema que estamos abor- dando nao é um problema no qual os direitos da cultura ameagam superar os direitos da liberdade individual, j4 que esse enquadramento do problema se nega a repensar 98 conceitos de individuo e de cultura que estao sendo Presumidos. Nesse contexto, é importante enfatizar que 0 esforgo das elites seculares em excluir a religido da esfera —_ *Comparativi a ia de andlise cuja orientagdo € fazer compa- ativista é uma metodologia de an: jonais. (N. da K. Trad.) entre as politicas publicas nacionais¢ as internac 207 Digitalizado com CamsScanner QUADROS DE GUERRA lutam por direitos civis € politicos, caracterizadas por uma fusio de identidades, podem ser formadas sob a rubrica da politica de imigracao. Se os termos do multiculturalismo ea politica do reconhecimento exigem ou a reducao do sujeito a um nico atributo definidor ou a construcao de um sujeito multiplamente determinado, entdo nao posso assegurar que j4 tenhamos enfrentado o desafio 4 meta- fisica cultural representado pelas novas redes globais que atravessam e animam diversas determinag6es dindmicas ao mesmo tempo. Quando constituem a base de coligagées politicas, essas comunidades estao unidas menos por questdes de “identidade” ou termos de reconhecimento comumente aceitos do que por formas de oposig&o politica a certas politicas estatais e outras politicas regulatérias que efe- tuem exclusdes, rejeigées, suspensdo parcial ou plena da cidadania, subordinagdo, degradacao ou coisas assim. Nesse sentido, as “coligagées” nao esto necessariamente baseadas em posiges do sujeito ou na reconciliagdo de diferengas entre posicdes do sujeito; na realidade, podem estar fundamentadas em objetivos provisoriamente sobre- Postos e pode haver — talvez deva haver — antagonismos ativos a respeito do que esses objetivos deveriam ser e da melhor maneira de alcangé-los. Elas sao campos anima- dos 7 diferencas no sentido de que “ser produzido por 4 ae ” € “produzir outro” sao Parte da prépria ontologia { social do sujeito, situagao em que “ substancia distinta do que um co: de inter-relagdes, ‘0 sujeito” € menos uma njunto ativo e transitivo Digitalizado com CamScanner vy N ou totalmente convenci Nao est seo terr00 “unificador” que abarque todas a jnico re : ke despojamento que unem as Politicas de minorias, nem ampouco Fe! ‘ estratégicos de uma alianca politica. O que é nec éque aqueles que esto comprometidos com tais es de coligaga0 estejam também ativamente envolvidos em refletir a fundo sobre a categoria da “minoria™ como algo quecruza as linhas que separam 0 cidado do no ci Quando nos concentramos nos poderes estatais regulaté- rios, em como eles orquestram o debate e manipulam os termos para criar um impasse politico, nos movemos para além do tipo de enquadramento que presume uma oposi¢z0 diadica ou que extrai um “conflito” de uma forma¢30 com- plexa de tal forma que obstrui as dimensGes coercitivas e orquestradoras dos enquadramentos normativos. Ao trazer aquestio do poder para o centro da discussao, os termos do debate precisam inevitavelmente mudar e, na pratica, se tornar politicamente mais receptivos. Assim, como as formas de poder, incluindo o poder do Estado, orquestram uma cena de oposi¢3o diddica que Tequer dois sujeitos distintos, qualificados por atributos ‘inicos ou plurais, e mutuamente excludentes? Aceitar &ses sujeitos como algo natural significa desviar 2 aten- bo ctitica das préprias operacdes de poder, incluindo os ae Orquestradores do poder inerentes nae oe da ™a¢ao do sujeito. Em decorréncia disso, alerto para 0 ee formas narrativas de histéria rogressiva nas Conflito diédico é superado mediante enquacra 2u a Digitalizado com carftScanner QUADROS DE GUERRA brangentes & inclusivos ou, ainda, liberais mais & : esso em si Se converte na mentos ais o constructo do prog nas q : ; ha pela defesa do liberalismo quests . No primeiro caso, fo definidora na baral desenvolve! er o antagonismo; no segundo, sus- mos enquadramentos mais inclusivos para resolv tentamos que a alternativa secular e pro} digdo sine qua non da democracia liberal e declaramos a qualquer esforgo para repensar ou a suficiéncia e o valor ultimo 0 caracteriza nogées dia- a historia; o segundo gressista é a con- uma guerra efetiva questionar a necessidade, dessa alternativa. O primeiro cas léticas, pragmaticas e progressistas d converte o “progressivo” em um dos polos de um conflito ura todos os vocabulrios nao seculares e con- e config s como ameagas ao liberalismo, incluindo traprogressista todos os esforcos no sentido de desenvolver vocabularios alternativos para pensar sobre os sujeitos emergentes € sobre as linguagens, meios de comunica¢ao e idiomas efetivos para a emancipagao politica. Certamente, nao imagino uma alianga “sem emendas” entre minorias religiosas e sexuais. Existem aliangas desse tipo, e faz sentido perguntar como sao formadas. Também faz sentido assumir que elas devem conter, em seu interior, determinadas fraturas, falhas e antagonismos perma- nentes. Ao dizer “conter em seu interior”, nao pretendo Sugerir que a alianga em questo suture ou resolva esses aan nae eaeauatia argumentando, alianga aberta e surpendd and jeideneconsil sa i : meta. O que mantém : : _ ee reconciliacao com uma alianca é diferente da questé0 212 i Digitalizado com CamScanner yr ” O NAO PENSAIENTO EI HOINE D4 NOMAD ADE mantém a mobilidade de uy do que liana, No meu ponto de vist 0 0 Oa formagbes de poder que ex adefinigao eatrita de identidade aplics , aquilo que mantém uma alianga inbvel 6 der Sa Aqueles incluidos nessa alianga. Nesse caso, uma alianga precisaria perma- necer concentrada nos métodos de coeryAo do Hstado (que vio desde 08 exames impostos aos imigrantes até a tortura explicita) e nas invocagbes (c redugées) de sujeito, natureza, cultura ¢ religiao que produzem o horizonte ontolégico no qual a coergao estatal parece necessaria ¢ justificada, A operagiio do poder estatal se dé dentro de urn hori- zonte ontolégico saturado pelo poder que precede ¢ exce- de o poder estatal. Por conseguinte, nfo podemos abordar 0 poder se sempre situarmos o Estado no centro de sua operagao. O Estado recorre a operagies nao estatistas de poder ¢ nao pode funcionar sem uma reserva de poder que cle mesmo nfo organizou. Além do mais, € isso nao € particularmente novo, o Estado tanto produz quanto Pressupde determinadas operacdes de poder que atuam pri- mordialmente através do estabelecimento de um conjunto de “pressupostos ontolégicos”. Entre esses pressupostos, Incluem-se precisamente as nogées de sujeito, cultura, identidade e religido cujas versdes permanecem incontes- ‘adas ¢ incontestaveis em determinados cnquadramentos ee Assim, quando falamos sobre “enquadeamenr esse sentido, nao estamos falando simplesmente de i an tedricas que trazemos paraa andi an 5 je sim de modos de inteligibilidade que favo : lonamento do Estado ¢ que, assim, constituem, cles 213 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA proprios, exercicios de poder mesmo quando excedem Ambito especifico do poder estatal. Talvez o locuts mais importante em que surge um “im. passe” nao esteja entre 0 sujeito da minoria sexual e 9 sujeito da minoria religiosa, mas sim entre um enquadra- mento normativo que exige e produz esses sujeitos em conflito mituo e uma perspectiva critica que pergunte se e de que modo esses sujeitos existem fora desse antago- nismo presumido ou em relages diversas com ele. Isso implicaria uma consideragao sobre como esse enquadra- mento depende de e induz uma recusa de se compreender a complexidade da emergéncia hist6rica das populacdes teligiosas/sexuais e as formacdes do sujeito que nao podem ser reduzidas a nenhuma dessas formas de identidade. Por outro lado, é possivel afirmar que essas redugGes, ainda que falsificadoras, so necessdrias, pois tornam possiveis julgamentos normativos no interior de um enquadramento estabelecido e conhecivel. O desejo de uma certeza episte- moldgica e determinado julgamento produz, assim, uma série de compromissos ontolégicos que podem ou nao ser verdadeiros, mas que sao considerados necessdrios a fim de nos aferrarmos as normas epistemoldgicas e éticas existentes. Por outro lado, a pratica da critica, assim como a pratica de fornecer uma compreensao histérica mais adequada, focaliza a violéncia perpetrada pelo préprio enquadramento normativo, oferecendo, explicagao alternativa da normatividad em julgamentos Preconcebidos do que e1 S6es avaliadoras comparativas que pod desse modo, uma le, baseada menos m tipos de conclu- lem ser alcangadas | 214 qj Digitalizado com CamScanner co NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE prediante a prarien de uma compreensio critica. De fato, rad rdara itic: ‘ . “? como voltar a abordar a politica de julgamento e avaliag ar critica ¢ comparativa- ‘do a pens ma ves que COMEGAOS ente sobre esquemas de avaliagio concorrente: mi 4 iltima questio, gosta- ria de retorna Talal Asad On Suicide Bombing [“Sobre © atentado suicida”], sobre o qual ja falei sucintamente no Capitulo 1." Isso pode parecer um movimento surpreendente, jt que Asad deixa claro que Com 0 intuito de claborar e ao recente livro de seu proprio trabalho constitui “néo um argumento”, mas, antes, uma tentativa de “compreensao”. Ele se recu- sa, explicitamente, a decidir sobre que tipo de violéncia é justificada € qual nao o é. A primeira vista, Asad parece oferecer um ponto de vista que entra em conflito direto com aqueles que sustentariam a necessidade de julgamentos lo — ou precisamente quando — eles as culturais que ensao. E faz morais mesmo quand conservam o desconhecimento das pratic julgam, Asad argumenta a favor da compre ia de sugerir, com a finalidade explicita de balhar nossas concepgoes sobre o que e sentido, faz uma contribuigao isso, eu gostari: desestabilizar e retral é normatividade e, ness importante para a teoria normativa. Asad deixa bastante claro que esta tentando promover uma compreensdo sobre 0 “terrorismo suicida” como ele éconstruido e elaborado no interior do “discurso publico Ocidental”, Ele observa que nao é sua tencao elaborar julgamentos morais, muito embora insista, em um repe- tido ¢ significativo aparte, que nao aprova as taticas dos atentados suicidas.? Contudo, para 0s Pro} positos de sua 215 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA eolocar de lado esse tipo de julgamento a analise, prefere s tipos de questao. Em um Ge formalare explorar outre Jo semelhante, nio esti intere homens-bomba — embora cu nio te- do em reconstruir notivagdes dos ida de que ele concordaria que tal estudo poderia acer resultados interessantes. Ja que ele se restringe so daguilo que, talvez de maneira excessivamente Jenomina como discurso puiblico “ocidental” sobre s atentadas suicidas, como devemos entender essa autoli- os atentnd Devemos aceitar a palavra dele quando nos diz xe os julgamentos normativos nao tém influéncia sobre a “compree! me mesmo contra as alegagdes explicitas de Asad, 30” do fendmeno que ele procura fornecer? ria de reintroduzir algumas das questGes normativas gue so colocadas de lado em seu livro. Fago-o, porém, nZo com o intuito de provar que 0 livro esteja errado ou enganado, mas apenas para sugerir que existe uma posigdo normativa ainda mais forte em questo — uma exploragio mais consequente da normatividade — do que seu autor explicitamente admite. Minha pergunta, portanto, é: podemos encontrar uma maneira de repensar os termos da normatividade com base Ro tipo de explicagio que Asad oferece? Inicialmente, po- deria parecer justificado, para n. Asad deixe mais claro onde se anslise de atentado suicid uma conclusi io dizer correto, pedir que situa: ele pode oferecer uma que ndo acabe por conduzir a 10 sobre se o atent, forma justitic. Seale ne 1 justificada de violéncia? Senos apressarmos em fazer S gunta, — . Pergunta, podemos perder a oportunidade de entender ado constituiria ou ndo uma iia 26 4 Digitalizado com CamScanner ry | 0 NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE oque ele esta tentando nos dizer sobre a Propria questao. Para ser clara: ele nao esta fornecendo uma justificativa para os atentados suicidas, tampouco esta se detendo nos argumentos normativos contrarios a eles. Acredito que esteja Se colocando ao largo dos argumentos “contra e a favor” com 0 objetivo de alterar o enquadramento por meio do qual refletimos sobre esses tipos de acontecimentos ou, antes, compreender como esses fendmenos sao apropriados por determinados enquadramentos morais e culturais e instrumentalizados com o propésito de fortalecer 0 con- trole desses enquadramentos sobre 0 nosso pensamento. No prefacio da edicdo japonesa de On Suicide Bombing, Asad escreve: Examino os argumentos que tentam distinguir entre 0 terror da guerra moderna e 0 terror provocado pelos ativistas, argumentos cujo principal impulso é reivindicar uma superioridade moral para a guerra “justa” e descre- ver os atos dos terroristas — em especial os atentados suicidas — como excepcionalmente exclusivamente per- versos. Meu argumento é que a diferenga fundamental reduz-se meramente a uma questao de escala, e que, de io de civis e a ruptura 10 Estado sao algo que os terroristas acordo com esse critério, a destruiga de sua vida normal levadas a cabo pe muito maior do que qualquer coisa Possam fazer. Outto momento em que Asad se afasta da questao da jus- ‘ificativa a fim de abrir a possibilidade de um tipo diferente de teivindicagao avaliadora é em sua resenha da posigao 217 Digitalizado com CamsScanner QUADROS DE GUERRA ‘ " de Michael Walzer sobre as guerras justas."' Para Walzer, a de uma comunidade sao justificadas as guerras em defes: : (a) ameagada de desapare- quando essa comunidade es' cimento, ou (b) sujeita a uma transformagao coercitiva do seu modo de vida. Walzer também reexamina as razées pelas quais os Estados deveriam ir 4 guerra e explora um conjunto de argumentos que justificam o engajamento na violéncia. Em sua enumeracio de possiveis justificativas, ele faz afirmacGes sobre o que poderia ser uma justificativa, circunscrevendo de antemdo 0 Ambito no qual faz sentido debater qualquer tipo de justificativa. O que Walzer afirma nao é que algumas formas de violéncia so justificadas e outras nao (embora essa seja uma opiniao que ele também defenda), mas sim que s6 podemos debater devidamente sobre se determinadas formas de violéncia sao justificadas ou nao se nos restringirmos aqueles tipos de violéncia ja delimitados por ele: a violéncia de Estado no caso das guerras justas — isto é, a defesa da “comunidade”, quando a comunidade em questo é reconhecivel segundo normas de reconhecimento estabelecidas e familiares. Aparente- mente, existem outras formas de violéncia que nao vale a pena discutir e para as quais ndo se espera que forne¢amos raz6es que as justifiquem. O que Walzer chama de “terrorismo” é uma dessas for- mas, ¢ ele nos adverte contra qualquer esforgo para expli- car ou justificar esse fendmeno."2 Como sabemos, o retulo “terrorista” A irrefl ae Pode ser aplicado de maneira indiferenciada € refleti A deen a tanto 4 Brupos de insurgentes quanto a grupos rainsurgentes; tanto a violéncia patrocinada pelo 218 Digitalizado com CamScanner 0 NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE Estado quanto a violéncia nao patrocinada pelo Estado; tanto aqueles que reivindicam formas de governo inal plenamente democraticas no Oriente Médio quanto, até mesmo, aos que criticam as medidas repressivas imple- mentadas pelo governo norte-americano. Considerando essa varia¢ao semantica, parece ainda mais necessdrio que nos dediquemos a esclarecer que significado preciso o termo deve transmitir. Sem saber exatamente do que estamos falando, como podemos entender os julgamentos fortemente normativos que acompanham o termo “ter- rorismo”? Para Walzer, a “violéncia terrorista” esta fora dos parametros tanto da violéncia justificada quanto da violéncia injustificada. Para fazer uma distin¢ao entre elas, devemos considerar se as formas de violéncia em questo atendem aos requisitos normativos que Walzer expés; porém, a chamada violéncia “terrorista”, como ele a concebe, fica fora do alcance desse debate. Como 0 esquema de Walzer se recusa, assim, a considerar as razdes dadas para determinados tipos de violéncia, especialmente quando sao consideradas simplesmente “perversas”, o que ele chama de “yioléncia terrorista” configura o exterior constitutivo das formas de violéncia que podem ser racionalmente debatidas. A forma de vio- lencia que seu esquema deixa fora do ambito da reflexao ao debativel. € do debate é patentemente insensata e ni: ° so nos diz Mas para quem isso é verdadeiro? E 0 que is Sobte os tipos de vocabuldrio normativo restritivo que Sonstituem a precondigao acritica para as reflexdes do Proprio Walzer? 219 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA ‘Asad observa que a condenagao de Walzer do terroris- mo deriva de sua definigio desse termo, ¢ que essa defi- facilmente se mostrar demasiadamente nigdo poderia ; ’ inclusiva. Walzer afirma que a perversidade do terrorismo consiste “nao apenas na matanga de pessoas inocentes, mas também na intromissio do medo na vida cotidiana, na violagdo dos propésitos privados, na inseguranga dos espacos piblicos, na infindavel coergdo da precaugao”."3 Ha alguma raz4o para pensar que todas essas consequén- cias nao resultam também das guerras patrocinadas pelo Estado? Asad se centra na definigao de terrorismo na obra de Walzer com a finalidade de mostrar como essas defi- nigdes ndo somente possuem uma forga normativa, mas também fazem distingdes normativas de maneira efetiva — e sem justificativa. Ele escreve: Nio estou interessado, aqui, na questao: “Quando deter- minados atos de violéncia devem ser condenados como Perversos € quais os limites morais para uma contravio- léncia justificada?” Estou tentando pensar, em vez disso, na seguinte questo: “Como a adocao de determinadas definigdes da forma de lidar com a morte incide sobre a conduta militar no mundo?! 220 Digitalizado com CamScanner y N o NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE ye morrem inocentes, que introduzem o medo na vida cotidiana, que violam 08 propositos privados, que tornam os espagos publicos Inseguros e que produzem medidas p reventivas infinitamente coercitivas. Podemos, na pra- fica, pensar dessa forma sobre as guerras no Iraque e no ‘Afeganist0, juntamente com todas as suas repercussdes domésticas, assim como podemos pensar dessa forma em relagdo a maioria das guerras promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados no decorrer das tiltimas décadas. De qualquer maneira, isso nos leva de volta 4 questao de saber se existe ou ndo uma dimensao normativa mais forte nesse tipo de investigacdo do que seu autor admite explicitamente. Se Asad deixa de lado a questao de definir se uma forma de violéncia é ou ndo justificada, nao é por- que nutra uma simpatia especial por essa violéncia, mas sim porque est interessado em nos mostrar como o ambito da justificagdo encontra-se antecipadamente circunscrito pela definicao da forma de violéncia em questao. Em outras palavras, pensamos nas definigdes como algo puramente heuristico e que precede a questao do julgamento. Defini- mos o fendmeno a fim de saber sobre o que estamos falando © entao, o submetemos a julgamento. Convencionalmente, a primeira tarefa é descritiva, e a segunda é normativa. Sea Propria definigdo do fenémeno, porém, envolve uma descricdo dele como “perverso”, entdo 0 julgamento esta na realidade, julgando inclug a cluido na definigao (estamos, : tivo a nae i ntes de saber), ¢ nesse caso a distingao entre 0 descrit e : ‘ © normativo se torna confusa. Ademais, temos que nos e 1 2 i Petguntar se a definigdo é correta, ja que pode muito bem 221 Digitalizado com CamsScanner QUADROS DE GUERRA Go conceitual do fenémeno que tiem uma elabory ld a referéncia descritiva. Na verdade, con ocorre sem nenhum: ; a. a definigio tenha sido substituida pela des. pode ser que : bas constituam, de fato, julgamentos — ¢ crigdo e que am " ‘ nesse caso 0 julgamento, e 0 normativo, se anteciparam totalmente ao descritivo. Julgamos um mundo que recu- samos conhecer, € nosso julgamento se transforma em um meio de nos negar a conhecé-lo. Nio se trata de insistir em uma descrig4o neutra do fe- némeno, mas, sim, de considerar de que modo um fenéme- no como 0 “terrorismo” acaba sendo definido de maneira vaga e demasiado inclusiva. Mais importante, porém, se quisermos considerar as diferentes formas de violéncia que emergem no interior da vida contempordnea, é saber de qhe maneira nossas distingSes normativas poderiam ser modificadas e de que modo poderiamos comparar e con- trastar essas formas de violéncia. Seriam tao distintas como Walzer afirma que so? E se nao fossem tao diferentes, 0 que se deduziria dai? Teriamos que arbitrar novos critérios € novas formas de julgamento? E que vocabuldrio — ou Conjunto de vocabuldrios — teria de estar disponivel para que esses novos julgamentos surgissem? / Be come¢armos com a Pressuposicao de que a violéncia justificada vai ser empreendida por determinados tipos ee Estado — aqueles que geralmente se considera que eon da democracia liberal — ou pot . c vida cultural e material expli ‘Omunidade — aquelas em que 4 da populacio ja é valorizada ¢ ada por democracias liberais —> icitamente represent: 222 Digitalizado com CamsScanner NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE entio ja jntroduzimos uma determinada demografia po- Jirica 02 definigao daquilo que pode ser qualificado como yioléncia justificada. Em outras palavras, ja terao sido fei- us suposigdes concretas a respeito dos tipos de populagao cujas vidas — € modos de vida — valem a pena ser defen- didas por meios militares. Contudo, se submetermos essas mesmas distingdes demogrdaficas a anilise critica, entio temos de indagar como nossa concep¢o da violéncia — tanto em suas formas justificadas quanto em suas formas injustificadas — incorpora certas preconcepgGes sobre o que a cultura deveria ser, como a comunidade deveria ser entendida, como é formado o Estado e, ainda, quem deveria contar como um sujeito reconhecivel. Podemos ver aqui como alguns dos préprios termos por meio dos quais os conflitos contemporaneos globais so conceitualizados nos predispdem, por antecipacdo, a determinados tipos de respostas morais ¢ conclusdes normativas. O que se infere dessa andlise nao é que nao deveria haver nenhu- ma conclusdo, mas simplesmente que nossas conclusdes deveriam estar baseadas em um campo de descrigao e de compreensdo que tivesse, a0 mesmo tempo, um carater comparativo e critico. Pode ser que Asad coloque algumas questées para nos quando, por exemplo, indaga sobre as maneiras de se definir 0 “terrorismo”, mas, s¢ analisarmos de perto as Perguntas que ele faz, veremos que elas s6 fazem sentido Se for feita referéncia a um horizonte de julgamento com- Parativo, Assim, embora o proprio Asad declare que seu livro “no defende de modo algum a aceitagao de alguns 223 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA ade em oposigdo a outros”, Mas que apenas . d ipos de crueld ° 2 : oP ar” o leitor ¢ produzir algum distancia. procura “inquiet a mento critico de um “discurso publico complacente”, na realidade muito mais cor mplesmente sendo convidados a permanecer esto em jogo." Suponho que nao estamo: a a . em certo estado de “inquietagao” e de “distanciamen- to” em relagio a reagdes morais preconcebidas. Afinal, distanciar-se do “preconcebido” constitui precisamente uma atividade critica. Além disso, quando Asad pergunta como devemos conceber a letalidade nos tempos atuais, e se as guerras patrocinadas pelo Estado perturbam a vida cotidiana em menor ou maior medida que os atos “terroristas”, esta dizendo, na verdade, que, uma vez que sejamos capa- zes de pensar comparativamente sobre essas formas de violéncia — 0 que significa entendé-las como parte do espectro contemporaneo da letalidade —, veremos como as perturbacGes e as invasdes resultantes da violéncia per- petrada pelo Estado superam em muito aquelas causadas Por atos que se enquadram na categoria de “terroristas” Se € esse 0 caso, e se s6 podemos chegar a tal julgamento comparativo mediante uma compreensio de escala, entio a jet critic i parte do projeto critico da obra de Asad consiste precisa- mente em tornar essa escala de violéncia disponivel para ser feito julgamentos euhes Julgamentos subsequentes — algo que nio pode quando, antes de qualquer andlise MOS certos comprom| comparativa, ratificar epi micos que predispoem violéncia estatal” como uma i Neia justificdvel. Se a aniilise de Nossa ¢ a ‘Ossa Compreensio de Precondi¢ao para a violé 224 | a Digitalizado com CamsScanner yr 4 OQ NLD VENDEUENID EY WOME D6 RVULIN LSE ad nos mostra Que a Violenela do F945 bs 4 fyad 0 4 a OD ESBED phe pt bhit eefet jvarmente produz todas as omvrpilerias © que Walser atribui a0 “wxror) SEDO Gf, entendemns essay Consens) “py mente passive) de lutn ¢ injusto —, 0 que % Fh é que qualquer condena4o ba vi Wanita Fe estenderd as formas de violincia esatal que proton egsas mesmas COnsequenc! O argumento de Asad 6 apreventado cumno wit ea tiva de revelar a autocontradic’n « a hipucris posigses como a de Walzer. No entanto, 22 que a posigao do proprio Asad retira wa de uma oposigéo politica a5 formas de introduzem na vida cotidiana, desenraizarn infraests: sociais, produzem niveis inaceithveis de medo e env uma coercao implacavel. Somente com condigz9 nos opormos, efetivamente, 2 tais formas de é que podemos compreender a importancia norm do julgamento comparativo que 0 trabalho de Asad nos oferece, Nao se trata de a obra de Asad meramente abrir ra 0 entendimento, 29 novas vias para a descri¢40 ou pa) do trabalho duro co mesmo tempo em que 5¢ abstém julgamento moral. Ao contrario, a0 expOr 45 maneiras Pelas quais as disposighes normativas s¢ introduzem em teivindicagées estipulativas que circunserevam 0 ambito da “compreensao”, Asad nos municia com as ferramentas Para desenyolver uma critica dessa circunscri¢ao limitada, oferecendo um novo enquadramento Por meio do qual fazer julgamentos comparativos, levando-nos 4 conclus40 225 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA de que nao ha razao para supor que a violéncia justificada gativa exclusiva dos E tados, ao passo que seja uma prerro} ks exercida somente pelos Estados a violéncia injustificada é ‘os insurgentes. Fazer referéncia 4 ilegitimos e moviment “insurgéncia” ja significa violéncia perpetrada por uma invocar outro enquadramento, mesmo que isso, por si s6, nao resolva a questo de a violéncia ser ou nao justificada. Para os Estados Unidos, os “terroristas” de ontem com frequéncia se transformam nos futuros “combatentes da liberdade” de amanhi, e vice-versa (nota bene: Nicaragua, Afeganistao). A questao nao é concluir que o cinismo cons- titui a nica op¢ao, mas sim considerar mais detidamente as condigées e os termos sob os quais essas inversées do discurso ocorrem, com 0 objetivo de, finalmente, fazer melhores julgamentos. Ao encerrar seu livro, Asad faz novamente a pergunta com a qual o iniciou: “Por que as pessoas, no Ocidente, reagem a representagOes verbais e visuais do atentado suicida com manifestagdes de horror?”'® Ao fazer essa pergunta, esta supondo que respostas afetivas poderosas sejam condicionadas e estruturadas por interpretagdes, € que essas interpretagdes sejam elaboradas dentro de enquadramentos aceitos sem discussdo, em sua maioria ocidentais e liberais. Essas estruturas interpretativas per- manecem incipientes quando consideramos que o “senti- mento moral” — incluindo o horror e a indignagdo — é composto de diversas emanagdes emotivas do humano universal que, supostamente, reside em todos nds. O fato © que o “horror” € a “indignacao” so distribuidos de 226 3 Digitalizado com CamScanner yr NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE form’ diferenciada, ¢ 0 que vale a pena observar com gurpresa € Um TCE essit distribuigio diferencial permanece, com frequéncia stro diferente de horror — é como lesconhecida, Nao se try desperecbida ¢ di ade questionar ente compreensio do “horror” como uma resposta apenas de indagar sobre as ocasibes nas qu ‘a o horror se torna a reagio predominante, em contraste com aqueles outros encontros com a violéncia em que horror Quais siio as condigdes sociais ¢ os enquadramentos interp! diante de certos tipos de violencia, ¢ qua ndo e onde ele é “descartado” como resposta afetiva disponivel diante de isente.!” encontra nitida e enfaticamente 4 retativos duradouros que tornam o horror possivel outros tipos de violéncia? Asad oferece um argumento complexo sobre os com- ponentes liberais da identidade, sugerindo que o atentado a ataca aquilo que mantém o sujeito liberal integro, e “o terrorismo suicida (da mesma forma suicida) pertence, nesse sentido, a0 su perguntando s que um ataque nuclear liberalismo”. Uma das “tensdes que mantém a subjetivi- is valores aparentemente ae sua destruigao ia se torna pri- a é anulada dade moderna coesa” envolve doi opostos: “a reveréncia pela vida human legitima”. Em que condigGes essa reverénci: mordial? E em que condigdes essa reverénci da guerra justa € “Q liberalismo, € fora do mediante o recurso a preceitos como 0 © da violéncia legitima? Asad observa: rcicio violento de liberdade eia na violéncia co- » Esse fundamento claro, desaprova o exe enquadramento legal. Mas a lei se bast “citiva e depende continuamente dela. 227 Digitalizado com CamScanner QUADHOS DE GUEIMA S605 a” naquilo que Agad heralismo politico se revela nas “te aubjetividade moder! i" paradoxal do Ii que sustentam a peal chama de “o Ocidente”- Na verdade, esas tensdes expoem as fissuras cxistentes na subjerividade moderna, mas 0 que parece particular- esitagao en! formando algo parecido cs dois princfpios tre ¢! mente moderno é a h que se acham cindidos entre si, com um transtorno dissociative no nivel da subjetividade politica. Paradoxalmente, para Asad, 0 que mantém 0 sujeito coeso é a capacidade de se deslocar subitamente de um prinefpio (a reveréncia pela vida) ao outro (a des- truicao legitima da vida) sem jamais levar em conta as razdes para tal deslocamento e para as interpretagdes implicitas que condicionam essas respostas distintas. Um dos motivos que nos levam a querer saber mais sobre esses deslocamentos aparentemente inexplicaveis é 0 fato de que eles parecem formar a base moral de uma subje- tividade politica aceitavel, o que equivale a dizer que, na base dessa racionalidade politica contemporanea, existe um cisma irracional. Gostaria de sugerir que o que Asad nos oferece é uma critica de certo tipo de sujeito liberal que converte esse Prop rio sujeito em um problema politico que deve ser ex- plicitamente abordado. Podemos considerar esse sujeito a base da politica apenas se concordarmos em nao pensar com rigor ou cuidado sobre as condigées de sua formacao, Suas respostas morais e suas reivindicag6es avaliativas. Re- corde: i 6 ‘Mos 6 tipo de alegacdes fundamentais que sao feitas no transcurso do debate “normativo” sobre essas quest6es; 228 Digitalizado com CamScanner y = 9 NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIViDADE Jor exemplo, que existem “sujeitos”, muculmanos ou ho- m0: ssexuaiS, gue se encontram em uma posigio de oposigao moral entre sis que eles representam diferentes “culturas” ou diferentes “tempos no desenvolvimento hist6rico”, ou quenaose conformam as noges estabelecidas de “cultura” quas concep¢oes inteligiveis de “tempo”, conforme o caso. Uma resposta a esse enquadramento seria insistir no fato de que ha diferentes construgées do sujeito em operacio, e que amaioria das versdes de multiculturalismo se equivoca ao presumir que sabe com antecipacao 0 que a forma do sujeito deve ser. O multiculturalismo que requer certo tipo de sujeito, na verdade institui essa exigéncia conceitual como parte integrante de sua descricao e de seu diagnds- tico. Que formagoes de subjetividade, que configuracdes de mundos de vida sio apagadas ou obstruidas por tal movimento obrigatério? Socidlogos como Chetan Bhatt chamam a atengdo para o cardter complexo e dinamico das novas forma- GGes globais do sujeito, o que incluiria o cruzamento das identidades homossexual e muculmana, a produgao de aliancas entre os legalmente privados de direitos civis € a Constituigdo migratéria de posigdes de sujeito dinamicas ue ndo se reduzem a identidades tinicas. A conceituagao de Bhatt tenta produzir um vocabulario alternativo para Pensar 0 sujeito; em certo sentido, Asad aborda esse pro- blemaa partir da diregdo oposta. Tomando como ponto de Pattida 0 sujeito politico instituido através do liberalismo, Sad mostra como suas respostas morais € seus esquemas valiativos sao culturalmente especificos € politicamente 229 Digitalizado com CamScanner QUADROS DE GUERRA te naquele momento em que suas uma raz4o universal. Con- s oferecem pelo menos decorrentes, precisamen! limitagGes se fazem passat por sideradas em conjunto, €ssas posigde es para nao considerar uma forma especifica ducao do sujeito identidade, como um los enquadramentos normativos: o duas boas raz6t do sujeito, ou a re componente implicito di risco de anacronismo € 0 risco de impor a restri¢4o como universalidade. Esses argumentos nao destroem a base do raciocinio normativo, mas levantam quest6es normativas sobre como essa forma de raciocinio foi antecipadamente circunscrita. E importante argumentar que ha razées normativas para nos opormos a esse movimento por parte dos enquadramentos normativos predominantes. Uma vez mais, nao se trata de prescindir da normatividade, mas sim de insistir para que a investiga¢ao normativa assuma uma forma critica e comparativa, de modo que nao reproduza, inadvertidamente, as cisdes internas e os pontos cegos inerentes a essas verses do sujeito. Essas cisdes internas convertem-se no fundamento injustificavel (na realidade, no fracasso de qualquer fundamento) para o julgamento injusto de que algumas vidas dignas de serem salvas € outras dignas de serem eliminadas. Nesse sentido, é sob a égide da igualdade e na direco de um maior igualitarismo que a critica de Asad se desenvolve. Meu tltimo ponto é quea propria coligagdo requer que Se Fepense 0 sujeito como um conjunto dinamico de rela- $0es sociais. Aliancas mobilizadoras nao necessariamente se formam entre sujeitos estabelecidos e reconheciveis, € elas tampouco dependem da negociagao de reivindicagoes 230 Digitalizado com CamScanner 9 NAO PENSAMENTO EM NOME DA NORMATIVIDADE jdentitarias. Em ven disso, elas podem perfeitamente ser ipstigadas por criticas a violéncia arbitraria, & circunseri- io da esfera publica, ao diferencial de poderes stabele- cidos em virtude das nogées prevalecentes de “cultura” instrumentalizagao das reivindicagées de direitos na resistir 4 coerg4o € 4 emancipagao. Se ampliamos nossos enquadramentos atuais ou permitimos que el terrompidos por novos vocabularios, isso vai determinar, em parte, a nossa habilidade de consultar tanto 0 passado quanto 0 futuro para nossas priaticas criticas atua’ Se presumirmos 0 campo teérico do multiculturalismo como um campo tedrico que pressupée sujeitos distintos com pontos de vista opostos, entao a solugao do problema sera encontrarmos 4mbitos de compatibilidade ou incompatibi- lidade, Ampliamos nossas nocées de direitos para incluir todo mundo, ou trabalhamos para construir nogdes de reconhecimento mais robustas que permitirao algum tipo de relacionamento reciproco e de harmonia futura. Esse campo tedrico, porém, esta, ele mesmo, baseado em um conjunto de foraclusdes (e, aqui, utilizo o termo fora de seu significado lacaniano habitual). Como resultado, nds Ros confrontamos com certa fissura ou ciséo recorrente Ro cerne da politica contempordnea. Se certas vidas sio consideradas merecedoras de existéncia, de protecdo € Passiveis de luto e outras nao, entao essa maneira de dife- Tenciar as vidas nao pode ser entendida como um proble- ™a de identidade nem sequer de sujeito. Trata-se, antes, de uma questo de como o poder configura 0 campo em QUE Os sujeitos se tornam possiveis ou, Na verdade, como 231 Digitalizado com Cam$canner QuADROS DE GUERRA iveis. E isso implica uma pratica ue se recusa a aceitar sem discutir a identitaria que pressupde que ocupam um espago ptiblico comum e que suas diferengas podem ser reconciliadas se tivermos ferramentas adequadas para uni-los. A questao é na minha opiniao, mais extrema € exige um tipo de anilise capaz de colocar em xeque o enquadramento que silencia a pergunta de quem conta como “quem” — em outras a acdo compulsoria da norma ao circunscrever eles se tornam imposs critica de pensamento 4 o enquadramento da lut os sujeitos j4 existem, qu palavras, uma vida passivel de luto. Digitalizado com CamSeanner

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