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A Interação entre Doença, Sofrimento e Luto na Perspectiva da Psicologia da Saúde

1. INTRODUÇÃO

A psicologia da saúde tem como objetivo compreender o impacto psicológico da doença no


indivíduo e sua relação com o sofrimento e o luto. Esses três temas estão intrinsecamente
ligados, uma vez que a experiência da doença muitas vezes desencadeia um processo de
sofrimento emocional e, em alguns casos, pode levar ao luto. Neste ensaio teórico,
discutiremos a interação complexa entre doença, sofrimento e luto, explorando como esses
elementos se entrelaçam na vida dos indivíduos e as implicações para a psicologia da saúde.

2. INTERAÇÃO ENTRE DOENÇA, SOFRIMENTO E LUTO

2.1 Doença como desencadeadora de sofrimento

A doença, independentemente de sua natureza e gravidade, pode provocar um sofrimento


significativo nas pessoas. A perda da saúde, a dor física, a limitação funcional e as mudanças no
estilo de vida podem afetar negativamente o bem-estar psicológico. De acordo com
Antonovsky (1987), a teoria do salutogênese destaca que a doença pode desestabilizar o senso
de coerência do indivíduo, que é a capacidade de compreender e lidar com os eventos da vida.
Além disso, Frankl (1997), na perspectiva da logoterapia, argumenta que a doença pode
desafiar o sentido e propósito da vida, contribuindo para o sofrimento existencial.

2.2 O papel do suporte social e da psicoterapia no alívio do sofrimento

O suporte social desempenha um papel crucial na mitigação do sofrimento causado pela


doença. A pesquisa de Taylor et al. (2000) destaca que o suporte social está associado a
melhores resultados de saúde e maior bem-estar emocional em pacientes com doenças
crônicas. Além disso, a psicoterapia desempenha um papel fundamental no alívio do
sofrimento. Segundo a abordagem cognitivo-comportamental de Beck (1979), a terapia
cognitivo-comportamental pode ajudar os indivíduos a identificar e modificar padrões de
pensamento negativos associados à doença, reduzindo assim o sofrimento psicológico.

2.3 Luto diante da doença crônica ou terminal

Em alguns casos, a doença pode levar ao luto, especialmente quando envolve diagnósticos
crônicos ou terminais. Kübler-Ross (1969), em seu modelo dos estágios do luto, descreve cinco
estágios - negação, raiva, barganha, depressão e aceitação - que podem ser vivenciados por
indivíduos enfrentando uma doença grave. Além disso, Worden (2009), em seu modelo de
tarefas do luto, destaca que o luto relacionado à doença envolve a necessidade de lidar com a
perda de saúde, expectativas futuras, autonomia e identidade.

2.4 O papel da psicologia da saúde na intervenção e promoção do bem-estar

A psicologia da saúde desempenha um papel importante no cuidado integral ao paciente. A


intervenção psicológica baseada em evidências, como a terapia de aceitação e compromisso
(Hayes et al., 1999), pode ser eficaz no manejo do sofrimento e na promoção do ajustamento à
doença. Além disso, a promoção do bem-estar emocional envolve o apoio ao autocuidado e o
fortalecimento da resiliência. A teoria da resiliência de Masten (2001) destaca que os
indivíduos podem desenvolver habilidades de enfrentamento e adaptação que os ajudam a
lidar com o estresse e superar desafios relacionados à doença.
2.5 Doença, sofrimento e luto na atualidade

O tema da interação entre doença, sofrimento e luto na psicologia da saúde tem sido objeto de
diversos estudos e discussões na literatura acadêmica. Houve um movimento crescente em
direção a uma abordagem centrada no paciente na psicologia da saúde. Isso envolve uma
ênfase na compreensão das experiências subjetivas dos indivíduos, incluindo sua vivência da
doença, o impacto no sofrimento e o processo de luto. Os pesquisadores têm se concentrado
em compreender as perspectivas dos pacientes e a importância de envolvê-los ativamente no
cuidado de sua própria saúde.

Além de lidar com o sofrimento e o luto, a psicologia da saúde também tem se voltado cada
vez mais para a promoção do bem-estar e da qualidade de vida em pessoas com doenças
crônicas. Os estudos têm explorado intervenções psicológicas que visam fortalecer a
resiliência, promover habilidades de enfrentamento saudáveis, melhorar a adaptação à doença
e aumentar a qualidade de vida dos indivíduos afetados.

A compreensão da interação entre doença, sofrimento e luto tem sido ampliada para incluir
considerações culturais e contextuais. Reconhece-se que as experiências relacionadas a esses
temas são moldadas por fatores culturais, sociais e contextuais, e é importante considerar
esses aspectos ao fornecer cuidados de saúde e apoio psicológico. Estudos têm explorado
como diferentes culturas e contextos influenciam as percepções, experiências e expressões de
sofrimento e luto.

Além das abordagens mencionadas anteriormente, novas intervenções psicoterapêuticas têm


sido desenvolvidas e avaliadas para auxiliar indivíduos que vivenciam doença, sofrimento e
luto. Exemplos incluem terapias baseadas em mindfulness, terapias de aceitação e
compromisso, terapias narrativas e outras abordagens adaptadas para atender às necessidades
específicas dos pacientes nessas situações.

Em relação a atenção aos cuidados paliativos e à assistência ao luto percebe-se a expansão ao


longo dos anos, devido ao reconhecimento crescente da importância de proporcionar suporte
adequado a indivíduos e suas famílias durante o processo de doença avançada, terminal e no
luto. Os estudos têm investigado estratégias de intervenção, programas de apoio e abordagens
multidisciplinares nesses contextos. É importante ressaltar que a pesquisa nessa área continua
em constante evolução, à medida que novas descobertas e abordagens surgem para aprimorar
a compreensão e o suporte a indivíduos que enfrentam essas questões.

CONCLUSÃO

A interação entre doença, sofrimento e luto é um aspecto complexo da experiência humana no


contexto da psicologia da saúde. Compreender e abordar esses elementos de maneira
adequada é essencial para promover o bem-estar emocional e a qualidade de vida dos
indivíduos afetados pela doença. A psicologia da saúde, com base em teorias como a
salutogênese, logoterapia, terapia cognitivo-comportamental e modelos de luto, desempenha
um papel crucial na identificação das necessidades emocionais, no fornecimento de suporte
adequado e na implementação de intervenções psicológicas eficazes. Através dessas
abordagens integrativas, podemos ajudar as pessoas a enfrentar os desafios da doença, aliviar
seu sofrimento e facilitar o processo de luto, promovendo assim uma melhor saúde mental e
emocional.
REFERÊNCIAS:

Antonovsky, A. (1987). Unraveling the Mystery of Health: How People Manage Stress and Stay
Well. Jossey-Bass.

Beck, A. T. (1979). Cognitive Therapy and the Emotional Disorders. Penguin.

Frankl, V. E. (1997). Man's Search for Meaning. Beacon Press.

Hayes, S. C., Strosahl, K., & Wilson, K. G. (1999). Acceptance and Commitment Therapy: An
Experiential Approach to Behavior Change. The Guilford Press.

Kübler-Ross, E. (1969). On Death and Dying. Routledge.

Masten, A. S. (2001). Ordinary Magic: Resilience Processes in Development. American


Psychologist, 56(3), 227-238.

Taylor, S. E., Klein, L. C., Lewis, B. P., Gruenewald, T. L., Gurung, R. A., & Updegraff, J. A. (2000).
Biobehavioral responses to stress in females: Tend-and-befriend, not fight-or-flight.
Psychological Review, 107(3), 411-429.

Worden, J. W. (2009). Grief Counseling and Grief Therapy: A Handbook for the Mental Health
Practitioner. Springer Publishing Company.

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