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APRESENTAÇÃO

DE APOIO

CONSUMO: O BEM E O
MAL COMO DUAS
FACES DE UM MESMO
FENÔMENO
Por Claudia Musa Fay – Aula 03

Pós-Graduação em
Ciências Humanas: Sociologia, História e Filosofia
Ementa da disciplina
Exame de questões de consumo nas sociedades contemporâneas. Estabelecimento de
relações entre a sustentabilidade e o aumento do consumo. Hiperconsumo e a nova
economia.
Professores
GILLES LIPOVETSKY CLAUDIA MUSA FAY
Professor convidado Professora PUCRS

Filósofo francês, Lipovetsky é um dos pensadores mais Possui graduação em História pela Pontifícia Universidade
respeitados da atualidade. Teórico da hipermodernidade e da Católica do Rio Grande do Sul (1985), mestrado em História
pós-modernidade, é considerado um intelectual de referência pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
para os temas da moda e do consumo. É autor de bestsellers (1990) e doutorado em História pela Universidade Federal do
como “O império do efêmero: a moda e seu destino nas Rio Grande do Sul (2001). Atualmente, é professora adjunta da
sociedades modernas”, “A era do vazio: ensaios sobre o Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e
individualismo contemporâneo” e “O crepúsculo do dever: a professora do Programa de Pós-Graduação em História da
ética indolor dos novos tempos democráticos”. Seus livros PUCRS, orientando trabalhos de mestrado e doutorado. Tem
foram publicados em vários países e traduzidos para mais de experiência na área de História, com ênfase em História
18 idiomas. No governo francês, foi membro do Conselho Moderna e Contemporânea, atuando principalmente nos
Nacional de Currículo até 2005 e, hoje, integra o Conselho de seguintes temas: aviação civil, História Contemporânea,
Análise da Sociedade, órgão de apoio ao primeiro-ministro História do Brasil, história de empresas, História Oral, migração
francês presidido pelo filósofo Luc Ferry. Em 2003, recebeu e deslocamentos. É coordenadora do LAPHO -Laboratório de
a condecoração de Cavaleiro da Legião de Honra. História Oral do PPGH-PUCRS.
Encontros e resumo da disciplina
AULA 1 AULA 2 AULA 3

A excrescência da oferta
O fenômeno da
manifesta-se por meio de A teoria de Gilles Lipovetsky
individualização da
variações e da é marcada pela ideia da
sociedade é um elemento
personalização das “hipermodernidade”.
central da história recente..
escolhas.

A segunda revolução
O consumidor adquire O conceito de individualismo
individualista alimentou a
objetos por razões sociais ou é uma noção antropo-
ascensão da sociedade de
simbólicas. histórica.
consumo e comunicação.
É necessário haver
O individualismo não é investimento em pesquisas e O individualismo não é
sinônimo de egoísmo ou de desenvolvimento que sinônimo de egoísmo ou de
niilismo. permitam um consumo niilismo.
adequado e sustentável.

GILLES LIPOVETSKY GILLES LIPOVETSKY CLAUDIA MUSA FAY


Professor convidado Professor convidado Professora PUCRS
Consumo: o bem e o mal como duas
faces de um mesmo fenômeno
Profa. Dra. Claudia Musa Fay
Gilles Lipovetsky
Gilles Lipovetsky
• Filósofo francês, Lipovetsky é um dos pensadores mais originais da
atualidade. Graduado em Filosofia pela Universidade de Grenoble,
recebeu o título de doutor honoris causa de universidades do Canadá,
Bulgária, Portugal, México, Colômbia e Brasil. Teórico da
hipermodernidade e da pós-modernidade, é considerado um
intelectual de referência para os temas da moda e do consumo.
Livros de Gilles
Lipovetsky
Teoria de Gilles Lipovetsky
“A sociedade HIPERMODERNA é marcada pelo
INDIVIDUALISMO e tem como foco o presente. A moda e o
consumo ditam valores, a busca pelo “novo” impulsionada
pelos avanços da globalização e da internet.”
• Porque é que Lipovetsky
considera os tempos atuais como
hipermodernos e paradoxais?
• Na obra “Tempos Hipermodernos”, o autor afirma que
estamos em tempos hipermodernos. Ou seja, o
moderno e o pós-moderno sont passées e vários
sinais fazem-nos pensar que estamos na
Era do hiper, apontando o hiperconsumo, como a
terceira fase da modernidade.
Na sociedade hipermoderna, em termos gerais,
seria caracterizada por três elementos:

• o aprofundamento da economia de mercado;


• a revolução tecnológica que invade o cotidiano;
• uma autonomia individual sem precedentes. Hipermodernidade, seu
grande conceito sobre a contemporaneidade.
Hipermodernidade
• Dentro desse conceito de hipermodernidade há portanto o
“hiperconsumismo”: a proposta do
autor, de refletir sobre o consumo, com a qual nos sugere pensar que
vivemos em uma
sociedade de massa. Porém, hoje também vivemos a
hiperindividualização, que nos deixa numa
situação paradoxal. Diante dessa nova escalada planetária do
consumismo desbragado e
desmesurado, como podemos educar o homem para uma postura
moral conciliável com os
paradoxos?
Individualismo
• Fenômeno central de nosso tempo.
• Passa por todas as classes, categorias, gerações.
• Mudou nossa vida: no trabalho, na religião, na família.
• Suas principais características: culto hedonista, busca pelo
prazer.
• A sociedade de hoje valoriza o presente, busca a felicidade
individual.
• A moral religiosa caiu, o sacrifício a renúncia .
• É legitimo ser feliz aqui e agora.
Conceito de individualismo
• A noção de individualismo é primeiramente uma noção que eu diria
de tipo antropo-histórico. Nessa perspectiva, o individualismo não é
equivalente ao egoísmo. O individualismo responde à nova
configuração de valores modernos que coloca a soberania do
indivíduo em relação a si mesmo e em relação às leis.
• O indivíduo significa, então, o princípio segundo o qual cada um é
reconhecido como livre e semelhante aos outros. Sendo livre e
semelhante aos outros, ele também é o legislador de sua própria
vida, ele deve organizar sua vida, conduzir sua vida livremente, e
também deve poder organizar a vida em sociedade, ou seja, dotar-
se de leis por meio do voto, do sufrágio universal. Portanto, nessa
perspectiva, individualismo não significa egoísmo, significa
liberdade.
Qual o significado do consumo em nossas
vidas?
• Uma casa, um meio de transporte digno, atendimento hospitalar,
uma vacina, um remédio, comida na mesa, boa escola para os filhos.
Consumo. Consumo de bens básicos que levam ao grande direito da
modernidade: a felicidade.

• Poderíamos, assim, condenar o consumo?


• No mundo de hiperconsumismo em que vivemos, “tudo no dia-a-dia
depende de uma compra.
• Somos constantemente obrigados a comprar. Para se sair, tem de ser
de carro ou avião, fato que implica gastar dinheiro. Pensando em
coisas que antes não eram consumidas
• as pessoas antes se viam correndo em academias, ou treinavam em
campos abertos e ruas da cidade, hoje pagamos academias.
Sociedade exalta o cotidiano,
valoriza o presente
a felicidade individual.

Alimentação Viagens Espetáculos Publicidade

Mídia Corpo Saúde Mente


Traços

Pós Modernidade Hipermodernidade


Revolução tecnológica /globalização

Individualismo

1970 1980 1990 2000

Frivolidade Ansiedade
Despreocupado com o futuro Vulnerabilidade
Euforia Doenças psicológicas
Emprego sobrando
Culto ao corpo
fitness
Individualismo estético
Esportes de sensação que deslizam...
Prazer em voar ...
Não é mais uma competição
Prazer em voar !
em sensações
Revanche de Ícaro, o corpo contra a gravidade
Sensação de bem estar
Bem estar
A meditação
Ao relax
Progresso da medicina
A higiene
Medicamentos
Culto a saúde e longevidade
Reflexão sobre os paradoxos

As psicopatologias, a depressão, ansiedade, angustia, bulimia, adição consumo de psicotrópicos


Narciso
O mito
• Narciso cresceu, e se transformou um jovem bonito, que despertava
amor tanto em homens quanto em mulheres, mas era muito
orgulhoso e tinha uma arrogância que ninguém conseguia quebrar.
Até as ninfas se apaixonaram por ele, incluindo uma chamada Eco que
o amava incondicionalmente, mas o rapaz a menosprezava. As moças
desprezadas pediram aos deuses para vingá-las. Para dar uma lição ao
rapaz frívolo, a deusa Némesis, (aqui como um aspecto de Afrodite, o
condenou a apaixonar-se pelo seu próprio reflexo). Encantado pela
sua própria beleza, Narciso deitou-se na margem do rio e definhou,
olhando-se na água e admirando sua beleza.
• Depois da sua morte, Afrodite o transformou numa flor, Narciso
Culto a Beleza

• Maquiagem
• Cirurgia estética
Guerra a
gordura
Cada vez temos mais obesos no mundo
Mas cultuamos a magreza
Qual o significado do consumo na modernidade?

• Gilles Lipovetsky: O projeto moderno é a liberdade e a igualdade entre os


homens, mas é também uma outra coisa, que encontramos, por outro lado, na
Constituição norte-americana, que é o direito à felicidade.

• O direito à felicidade é o direito de ter sua religião, mas também o direito à


felicidade material: de viver melhor, em condições materiais melhores.

• Com a revolução industrial, os homens começaram a permitir uma vida melhor. A


mortalidade infantil reduziu brutalmente, as mães que estavam grávidas e
morriam no parto, hoje é extremamente raro, temos muito mais longevidade. As
condições materiais da vida não param de melhorar. Nós chegamos a isso
trabalhando em coisas cada vez mais leves, declarando guerra aos vírus, aos
micróbios, às infecções e essa dinâmica continua ainda hoje. Nós temos o
projeto ilimitado, ilimitado mesmo, de melhorar a condição humana.
Consumimos 3x mais energia e não
ficamos mais felizes.

O PIB da Europa dobrou... Ficamos


felizes duplamente?
Entre 1945-1970
Felicidade é uma emoção ...

Claro a prosperidade tem ligação com


a felicidade mas não é tudo!
Ao explorar o assunto, Lipovetsky abre
ramificações para explorar temas como:

• - o aumento da liberdade;
• - a decadência das tradições que guiavam nossas vidas;
• - o pensamento individualista;
• - o desencantamento do ser humano por ideologias políticas;
• - o culto ao prazer e à felicidade imediatos.
Paradoxo - a questão
do meio ambiente
Qual é a solução para encaminharmos um
futuro com um consumo mais sustentável e
consciente no mundo?
• Gilles Lipovetsky: A necessidade de descobrir novas tecnologias que vão reduzir o aquecimento climático lutar
contra a poluição, tornou-se prioritária. Mas isso não será feito apenas por boas intenções. Não acontece
porque as pessoas começam a andar de bicicleta e param de usar carros.

• É muito legal andar de bicicleta, mas esta questão já atingiu outro nível. Está, evidentemente, dentro de
laboratórios de pesquisa de novos processos, novas energias, o desenvolvimento de energias renováveis, que
nós temos uma chance - em escala mundial, não em escala individual – de criar uma economia mais
respeitosa em relação ao meio ambiente.

• Então, se você quiser, neste primeiro plano o objetivo número um é de se mostrar cada vez mais inteligente
para criar uma economia sustentável. Não são apenas os cientistas, os engenheiros, os técnicos que
descobrirão esta inteligência, mas em grande parte sim.

• Criar construções que reciclem energia, que reciclem a água da chuva, o calor, os meios de transporte que
economizam, o carro elétrico e esse tipo de coisa, que são os meios de transporte do futuro, é o laboratório, é a
pesquisa que os cria. E a pesquisa é a inteligência, é a formação dos homens.
O valor da
Liberdade
Alimentos Bio X Alimentação Industrial
Agricultura sem
agrotóxicos
• Onde o produtor é respeitado
• Onde os animais são bem
tratados
• Excesso de desperdício
Outro paradoxo
O papel do consumo e da felicidade
• Existe um lado dos que não podem “comprar”
• Dos que não tem o que comer, onde morar
• Dos que se endividam para comprar

• Sim o consumo trás coisas positivas mas não pode ser um ideal de
vida.
• A felicidade muitas vezes vem de coisas que não se compra, da vida
afetiva, da família, do trabalho bem feito...
Nova Forma de Consumo
• Fim do gosto da posse?
As viagens mais econômicas
Gilles não é
pessimista
Como professor, educador acredita na
EDUCAÇÃO
• “ Não iremos melhorar sem engajar a escola, sem investimentos na
educação.”
• “Sem educação milhões de pessoas não terão trabalho no futuro”
• “ Precisamos da inteligência dos homens, da inovação, da política, da
regulação, das empresas, dos investidores.”
Escola
“É na escola que se ensina o
gosto, a cultura, a reflexão,
arte, a música criação.”
Gille s Lip o v e t s k y
Obrigada
René Magritte, O Império das Luzes,
óleo sobre tela, 1954.

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