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A TRAJECTÓRIA DO CONHECIMENTO HUMANO

 Desde sempre o ser humano teve curiosidade, dúvidas, perguntas (não


apenas hoje!)
 Como é que o Ser Humano se adaptou ao mundo?
 Pensando. Interpretando. Respondendo. Perguntando. Errando, acertando.
Nem sempre a evolução do conhecimento é positiva ou linear…
 Segundo Tales de Mileto houve (e há):
 1. uma interpretação mitológica da vida
 2. uma interpretação religiosa da vida
 3. uma interpretação crítico-filosófica da vida
 4. a mescla eclética e relativista da Globalização cultural
Progresso e evolução
no conhecimento
1 humano
Culturas Humanas são aquelas que deram Resposta às
Questões Primordiais: quem sou, de onde venho, para onde vou?

Por ordem cronológica, chegam à história do conhecimento humano:

 1. Cultura ou Civilizações Mitológicas (seguem paradigma naturocêntrico


/pensamento mágico, com foco na MATÉRIA OBSCURA)
 2. 3. Cultura ou Civilizações Religiosas (seguem paradigma teocêntrico
/pensamento fideísta, com foco no ESPÍRITO DIVINO)
 Cultura ou Civilizações Críticas (seguem paradigma antropocêntrico
/pensamento científico, com foco no HUMANISMO ÉTICO)

 São Culturas ou Civilizações Ecléticas as que seguem todos os paradigmas


sem advertir a sua mútuo-anulação ou incongruência temática

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2 humano MJSilveira
Como é que o atleta, o cliente, o treinador, o professor, o
cidadão interpretam o que lhes acontece?

 Quatro hipóteses permamentes:

1. A realidade segundo o MITO: a cultura e a mentalidade mitológica

2. A realidade segundo a RELIGIÃO: a cultura e a mentalidade relogiosa

3. A realidade segundo o CRITICISMO: a cultura e a mentalidade crítica

4. Estes três paradigmas estão hoje vinculados numa quarta mentalidade difusa e
estendida pelo globo, denominada: ECLECTICISMO

 URGE ESQUECER AS PALAVRAS NO SEU USO COMUM…


 USAR APENAS O SENTIDO CRITERIOSO E RIGOROSO (

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3 humano MJSilveira
Toda a História do Pensamento é ainda consistente
(malgrado pensemos ser originais…)

 Mitologia, religião e criticismo científico aludem a diferentes reflexões e


autorreflexões, interpretam e marcam a realidade de modo definitivo e
diversificado. Nenhum paradigma neutraliza o anterior paradigma e,
embora cronologicamente surgidos por esta ordem, todos os três vieram e
permanecem no pensamento contemporâneo com pesos diferentes.
 Aliás, persistem visivelmente no século XXI em quatro modos
diversificados: enquanto pensamento mitológico, enquanto pensamento
religioso, enquanto pensamento crítico / científico e enquanto
pensamento misturado e mesclado de todos estes: esta quarta resposta,
vulgar na sua superficialidade denomina-se pensamento eclético. Este
paradigma tem hoje talvez maior expressão quantitativa que os anteriores;
na globalização deu-se o cruzamento “impossível” dos três pensamentos
anteriores. O mundo global, da sociedade inculta do conhecimento
generalizado, mistura todas as formas mentais sem conhecer bem
nenhuma

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4 humano MJSilveira
O PARADIGMA HUMANO DA MITOLOGIA

 Definição específica (VS senso comum)


 Características específicas
 Repercussões hoje, no mundo profissional

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5 humano MJSilveira
Mentalidade mitológica =
comunidades mitológicas primitivas

 A primeira tentativa (grupal) de resposta às perguntas existenciais (Questões


Primordiais) de que haja REGISTO…

 A origem, essência e finalidade da vida humana é OBSCURA (MYTHO)

 O poder da Matéria Primordial e a subsistência do Humano são as


coordenadas em hierarquia

 Assenta, assim, num binómio permanente

 1. Percepção da própria fragilidade (o EU diluído e difuso)

 2. Percepção da grandeza e mistério do Universo e suas forças energéticas (o


OBSCURO superior)

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6 humano MJSilveira
Mitologia: a primeira tentativa de resposta
civilizacional às Questões Primordiais
(crítica segundo Tales de Mileto)
 O mundo é poderoso e impossível de captar por padrões conceptuais, lógicos
ou intelectuais
 A sensorialidade é superior à inteligência
 O ser humano tem a capacidade sensorial para alinhar com o enigma material
do mundo
 O ser humano tem no mundo material cósmico a resposta às suas três
questões existenciais principais (Q.P: origem, essência e finalidade da vida)
 Toda a sua vida humana está centrada no MITO (obscuro poder material do
universo físico)
 Todo o poder está concentrado numa lição que só se «aprende» pelas
operações sensoriais
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7 humano MJSilveira
As características da Mentalidade
Mitológica, no passado e no presente

 1ª: NATUROCENTRISMO EXISTENCIAL


 Toda a existência humana decorre da relação superior (obscuro poder cósmico) versus inferior (formas de
vida materiais). Somos, vimos e vamos regressar obscuramente à matéria universal.

 2ª: IMANENTISMO ETERNO


 Hipótese ou Teoria da Imanência: o mundo material (in manere) vem da matéria (isto é, é AUTO-CAUSA DE SI
MESMO, desde sempre). A origem do mundo é um poder eterno, sem início ou fim criatural.

 3ª: ANTROPOMORFIZAÇÃO DEMIÚRGICA


 Nada é superior ao mundo. Nada é exterior ao seu poder ou fora de alcance. Tudo é intranatura. Não há
seres fora da matéria (sobrenaturais) mas sim DEMIURGOS, seres intermédios, fabulados pela imaginação
humana em processos de «personalização». Estes intermediários materiais têm a função ficcional (magya /
superstitio) de causar ( correspondendo às necessidades humanas).

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8 humano MJSilveira
Chave resolutiva da mentalidade
mitológica (ontem e hoje):
Um grande investimento no sensorial / emocional
As emoções na relação com o obscuro
Aceitação da perda de controle sobre a própria vida
A oscilação e a percepção do obscuro / incognoscível / espantoso poder cósmico
Toda a captação do «sentido da vida» é feita através das emoções, memória,
investimento subjectivo e ficcional
Viver é usufruir e proteger essa fruição ao máximo

A MITOLOGIA É O ELOGIO DA IMAGINAÇÃO, da criatividade humana, da


potenciação das emoções boas e da fuga ou escape do sofrimento

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9 humano MJSilveira
Desde sempre, a mitologia foi a grande arte
de contar histórias…
 A PEDAGOGIA MAIS PRÓXIMA, MAIS FACILITADORA

 Grandes mitologias, lendas e fantasias


 Grandes mensagens heróicas (seres intermédios, com qualidades e defeitos a
advertir os humanos)
 Parábolas e metáforas, de interpretação subjectiva
 O valor do simbólico
 O peso das entrelinhas
 O fascínio do desconhecido
 O aviso dos poderes ocultos
 O ensino-aprendizagem pelo medo e respeito cósmico, mas também pelo
fascínio e adoração

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10 humano MJSilveira
Permanecem vivas no mundo contemporâneo:

1. as clássicas mitologias antigas (e o seu padrão de mentalidade


sensorial). Legendárias civilizações como as Maia, Azteca, Fenícia,
Suméria, Celta, Chinesa, Persa, Egípcia e Grega, não estão ainda
completamente extintas, encontrando-se gerações tardias dos seus
descendentes.
2. as comunidades mitológicas novas ou recém registadas (séc.XX) na
Sociedade das Nações (povos antigos, mas hoje melhor conhecidos nas
suas origens étnicas e dispersos por vários continentes). Referimo-nos a
naturais de povos indígenas (esquimós, índios sioux, apache, comanche,
cheyene, guaranis, aborígenes, etc.), hoje melhor conhecidos e protegidos
pela humanidade em geral.
3. Mas é sobretudo real, estendida e em todo o lado visível as «novas
mitologias globais», uma mitologia contemporânea e habitualmente
urbana ou cosmopolita. No século 21, o pensamento contemporâneo e
as relações interpessoais que se baseiem na submissão e centramento ao
poder da matéria (o consumismo contemporâneo) são herdeiras deste
naturocentrismo materialista.

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11 humano MJSilveira
Manifestações da Mentalidade
Mitológica nas cidades de hoje:
 Eis as principais manifestações de SEDUÇÃO MATERIAL, ou seja, a atração do ser humano
pelo PODER MATERIAL transferido à sua vida. O processo de «transferência» reside na
focagem emocional no obscuro poder da matéria (e consequentes «sintomas de partilha de
poder»:

 1. HEDONISMO (hedon = prazer / hedonismo= a satisfação prazenteira positiva como


regra de vida, a curto prazo e sem prevenção de consequências)

 2. CONSUMISMO (a adição à posse material enquanto estatuto de superioridade ou de


segurança de si mesmo)

 O culto do prazer, da satisfação rápida das emoções, da fruição existencial sem consequências
de maior, o narcisismo (em todas as dimensões), a dificuldade em lidar com a frustração e a
pouca autoestima são, entre outros, sinais contemporâneos das Novas Mitologias Urbanas.
 A Sociedade do Espectáculo e os seus novos heróis e heroínas: o mundo VIP e o materialismo
irresponsável e insustentável (paradoxo ecológico dos «amantes dos prazeres terrenos)

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12 humano MJSilveira
NOVAS MITOLOGIAS URBANAS
(O CONSUMISMO HEDÓNICO)
 Exemplos:
 A) os novos demiurgos (heróis feitos pelas redes sociais, pelo desporto,
pelo cinema, pela música, pelas audiências e pela especulação
emocional)
 B) as novas marcas «demiúrgicas» (a proteção da personalidade pela
sociedade de consumo: a dificuldade em resistir ao chamamento
emocional da posse)
 C) a posse material como um certo «poder sobre a matéria do mundo»
(estatuto económico ou social, base da segurança pessoal nas
sociedades agressivamente materialistas)
 D) o culto do «eu» mediado pelas influências, seguidores (a cedência
fácil ao pensamento «em rebanho» consentido com agrado; obsessões
colectivas com a aparência e forma física)
 = INFANTILISMO ou IMATURIDADE COLECTIVA CONTEMPORÂNEA

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13 humano MJSilveira
O maior perigo psicológico: inibição do livre
arbítrio (e perda de autonomia individual)
 Maior debilidade que a material, é a intencional: as novas mitologias contemporâneas retiram ao
ser humano a sua vontade própria. Ele procura os elementos da decisão na materialidade externa
(os astros, os sinais, as energias cósmicas, os bruxos, os feiticeiros, os magos, as cartomantes, etc)
 Por outras palavras: a mitologia pode levar ao reducionismo antropológico
 O ser humano não tem atitudes decisionais: é levado por outrem, não sofre a angústia da
responsabilidade e da dúvida ética. A cultura mitológica é rica em imaginação e criatividade,
elabora substituições causais de modo mágico e ficcional, capaz de aliviar emoções e provocar
sentimentos.
 Para as mitologias, o ser humano vive apenas numa dimensão básica sensorial e nas suas
operações próprias: sobreviver e satisfazer-se com qualidade (até à excelência das necessidades
satisfeitas). Ao inventar / ficcionar demiurgos (posses, rituais, etc) o SH não conduz a sua vida,
mas é sim conduzido: ele não decide.
 Quem decide a sua sorte ou destino é a matéria obscura e seus demiurgos
 O indivíduo submete-se a adivinhar SINAIS OBSCUROS com mensagem para si. O ser humano
observa e segue: a obediência é sabedoria

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14 humano MJSilveira
Despersonalização e anonimato
 Esta mitologia contemporânea (ou «nova mitologia globalizada»)
leva à despersonalização, à ausência do humano, à impossibilidade
da atitude livre (reactiva às emoções) e conduz essas faixas da
humanidade a uma desistência de si, entregando a sua escolha livre
à arbitrariedade material exterior, pela exibição ou exteriorização
material do subjectivo. Perdida a intimidade, perde-se também a
autoconsciência.

 Este(s) «novos mitos da globalização» são transversais às
cidades e aldeias pelas comunidades em rede (net). Na dita
«Sociedade do Conhecimento» elas confundem-se com as ágeis
mitologias do luxo, da ostentação, da imagem, do corpo, da
eternização da elegância, da marca… todos sinais de dependência e
de adicção material ao naturocentrismo, mediados pelos novos
demiurgos: as estrelas de cinema, da música, da televisão, das
redes sociais.
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15 humano MJSilveira
Carpe diem: anestesia programada?
 Concluindo: nestas mitologias contemporâneas persiste a
ancestral fragilidade do ser humano face a um poder muito
maior que lhe retira a sua existência autónoma e digna. Vivem
em dependência da imagem e de seres imagético. O poder das coisas
materiais (matéria ou NATURA) oprime e seduz o indivíduo de uma
forma que nem ele próprio poderá avaliar, dado ter desprezado as
outras dimensões e competências racionais e intencionais da sua
unidade tridimensional. A matéria obscura (mitologias de ontem
e de hoje) continua a anular a verdadeira capacidade livre do
ser humano: anestesia-o.

 A lógica do HEDONISMO CONSUMISTA é o CARPE DIEM


 Maravilhoso…, mas sem plano B, sem prioridades, sem horizonte de
futuro.
 (= desresponsabilização de si?)

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16 humano MJSilveira
Estado de dependência: eis o problema…
 Nestas mitologias contemporâneas persiste a ancestral fragilidade do ser humano face a um
poder muito maior que lhe retira a sua existência autónoma e digna.
 O poder das coisas materiais oprime e seduz o indivíduo de uma forma que nem ele próprio
poderá avaliar, dado ter desprezado as outras dimensões e competências racionais e
intencionais da sua unidade tridimensional. A matéria obscura (mito) continua a anular a
verdadeira capacidade livre do ser humano: anestesia-o, domina-o, redu-lo.
 Enquanto narrativa fantástica, poética, mágica e ficcional, a mitologia exibe uma maravilhosa
criatividade, só possível ao ser humano. Mas quando este se reduz a essa produção sensorial,
anulando deveres e direitos, perdendo a autoconsciência, então vive em estado básico e pró-
instintivo, não regulado.
 É papel do profissional, em primeiro lugar, o seu próprio reconhecimento de pertença (ou
não) a estes mundos materiais opressivos, conducentes a comportamentos pouco claros, de
patologias por vezes subtis; em segundo lugar, importa que identifique e operacionalize no
Outro o crescimento da sua autorreflexão e autonomia.

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17 humano MJSilveira
Em conclusão:
 O poder da matéria é uma realidade contemporânea
 O ser humano cede cada vez mais (in)conscientemente à sedução e
opressão da matéria (fenómenos mitológicos transversais à globalização):
 Superstição (o domínio da matéria pela matéria)
 Consumismo & hedonismo (o esgotamento do prazer material mediado pelo
próprio corpo humano)
 Virtualidade (a renovação ficcional do mundo material)
Nestes fenómenos contemporâneos permanece a intemporal fragilidade
humana face à imagem, à vaidade, à ficção (de si), ao prazer imediato, à
marca, à posse, ao poder e a mundos hoje mais fácil e transversalmente
antropomorfizados (net).
A nova mitologia urbana é a Sociedade do Espectáculo: futebol, ginásios,
passerelle de moda…

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18 humano MJSilveira
O PARADIGMA HUMANO DA RELIGIÃO

 Definição específica (VS. senso comum)


 Características específicas
 Repercussões hoje, no mundo profissional

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19 humano MJSilveira
O PARADIGMA ESPIRITUAL
A mentalidade religiosa (ontem e hoje)

 O mundo contemporâneo possui cerca de 5 mil milhões de


crentes…
 Será este um dado a ter em conta no trabalho profissional do
Professor?
 Em que consiste a religião?
 Há apenas uma ou duas?
 Qual a diferença entre religião, igreja, seita, culto… ?
 De que modo importa o conhecimento mínimo destes temas
para a cidadania de hoje?
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20 humano MJSilveira
Análise etimológica:
o que significa RELIGIÃO (em senso específico) ?
 RELIGARE & RELIGIO

 A relação ou o laço primordial


 Estar relacionado com o Ser Espiritual Criador
 Relação criatura – Criador
 Relação filho –Pai
 Relação de filiação = FÉ
 Em última instância: ter fé é TER CONSCIÊNCIA
DA FILIAÇÃO DIVINA (sentir-se filho de Deus)

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21 humano MJSilveira
QUESTÕES TERMINOLÓGICAS
NA AREA DA RELIGIÃO
 1. SER RELIGIOSO= SER ALGUÉM QUE TEM FÉ (RELAÇÃO COM O ESPIRITO / theos) OU
CONSCIÊNCIA DA SUA FILIAÇÃO DIVINA

 2. TER RELIGIÃO= SER MEMBRO DE UMA COMUNIDADE RELIGIOSA= TER / PERTENCE/


ESTAR INSERIDO E INTEGRADO NUM GRUPO ECLESIAL

 3. ATEU = DEFENSOR DO ATEÍSMO (sistema de pensamento)


 A= SEM THEOS = DEUS
 PESSOA QUE AFIRMA E PROVA CIENTIFICAMENTE A AUSÊNCIA DE DEUS
 AUTOR SISTEMÁTICO, COM ISBN

 4. AGNÓSTICO = AGNOSTICISMO (sistema de pensamento)


 A= SEM GNOSEO= CONHECIMENTO
 PESSOA QUE NÃO AFIRMA NEM NEGA A EXISTÊNCIA DE DEUS POR LIMITES COGNITIVOS
INULTRAPASÁVEIS
 DEUS É UM TEMA IMPOSSÍVEL DO PONTO DE VISTA COGNITIVO
 NEM NEGAR DEFINITIVAMENTE, NEM AFIRMAR DEFINITIVAMENTE

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22 humano MJSilveira
A mentalidade religiosa
 A palavra «religião» advém de expressões (latinas de origem) que
remetem à noção de laço e de ligação. Define-se como sendo a
crença, sentimento ou convicção de estar ligado a um Ser
Superior, Diferente sem composição material, cuja essência é o
espírito (=negação da matéria). A designação grega Theos e depois
latina Deos, ou seja, «Deus» (em português), significará
precisamente esse carácter puramente espiritual de um Ser que não
habita a NATURA.

 Se (como vimos no ponto anterior) o mito supõe a ligação obscura ao
poder da matéria mundana (materialismo total), a religião (em
contraposição total a este) supõe a negação da matéria, o
estado não-material, a presença do espírito não mundano
(espiritualismo total).

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23 humano MJSilveira
Fé = consciência de uma filiação divina
 A ligação ou relação do ser divino espiritual com o ser humano é tida
como uma relação espiritual, profunda e total: relação filial será a
que melhor explica a palavra «fides» ou «fé» (no caso, filiação
divina). O Ser Criador é Pai da única criatura (entre todas as
criaturas) que tem a possibilidade de o conhecer e de o reconhecer.
O ser humano é filho deste Pai Criador.

 Esta relação de filiação divina pode ser apercebida de modo pessoal
e intransmissível (religiosidade individual) ou de modo
comunitário (religiosidade eclesial). No primeiro caso, refere-se o
indivíduo que é autonomamente religioso; no segundo caso, alude-
se ao indivíduo que se insere e assim pertence a uma religião
comunitária (eclesial / igreja).

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24 humano MJSilveira
Características da mentalidade religiosa:
1. Teocentrismo espiritual eterno

Deus, puro Espírito e pura Eternidade, é o foco de vida da criatura humana: Ele é a sua Origem, Essência e
Finalidade de vida. Deus dá sentido à existência do indivíduo, desde sempre e para sempre.

2. Transcendentalismo criaccionista

Deus é o criador transcendente (exterior e superior) ao mundo imanente (interno e mortal, como qualquer
outra criatura). O mundo é inferior a Deus. Nenhum poder material é sobrenatural. Apenas Deus tem poder.

3. Ascetismo escatológico

O ser humano, quando tem fé, deseja a companhia de Deus e pretende elevar-se ao Espírito (ASCESE). Fá-
lo através de vários meios: oração, meditação, jejum, pobreza, desprendimento dos bens materiais e sociais,
solidão, voluntariado, etc.

A fé é a consciência da filiação divina da criatura (humana)

Deus (THEOS) é o puro Espírito (THEOS), sobrenatural a tudo

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25 humano MJSilveira
Investimento no invisível, no imaterial e no
espiritual

 Todo o laço é sobrenatural


 Eleva e inspira
 O religioso crê no transcendente, não no material
 O mundo é mera criatura mortal (um ser criado, sem poder
superior)
 Portanto: há oposição ao materialismo da mitologia
 No mundo de hoje, podem estar confundidos na pessoa eclética
(crenças confusas e alternadas)

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26 humano MJSilveira
Religiosidade, hoje? SIM. Vivemos num mundo religioso.
Permanece essa interpretação da própria existência individual.
 A mentalidade religiosa permanece hoje sob várias formas:
 1. religiões confessionais (milenárias e extensas)
 2. igrejas delas derivadas (em expansão umas, em regressão outras)
 3. movimentos ascéticos (derivados das igrejas)
 4. fenómeno recente (e separado na origem e na extensão): Novos Movimentos
Religiosos (N.M.R. / seitas ou cultos)
 5. Ainda é possível reconhecer, em todas as realidades acima descritas, as
minorias religiosas (fundamentalismos / fanatismos hoje públicos)
 6. Cidadãos eclécticos: vivem uma espiritualidade mista (energias materiais &
seres espirituais)
 Não há grande novidade ou diferença na percepção da fé dos povos
 Há, sim, novidade no MODO e no TEMPO de comunicação da mensagem
religiosa: usam-se os meios tecnológicos com profissionalismo, alcançando-se
velocidade e maior visibilidade.
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27 humano MJSilveira
VISÃO COMPARATIVA ENTRE A MENTALIDADE
MITOLÓGICA E A MENTALIDADE RELIGIOSA, hoje

 Porque é que o senso comum (e o vulgar cidadão) podem


confundir mito e religião, hoje?

 Importância desta distinção para o profissional da Educação,


no reconhecimento e respeito pelos alunos

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28 humano MJSilveira
Grandes Narrativas Contemporâneas:
projetos de apoio ao desenvolvimento humano
 O mito e a religião procuram responder e adequar
à vida quotidiana dos indivíduos as suas respostas
às grandes Questões Primordiais (QP), inserindo-
se na busca de significado e sentido para a vida.
Sendo conceptualmente paradigmas opostos (a
mitologia enquanto cânone materialista e
naturocentrado, a religião enquanto cânone
espiritual e teocentrado), pretendem ambos
oferecer chaves teleológicas definitivas.

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29 humano MJSilveira
Visão comparada: diferentes atitudes existenciais
(mito e religião)
A mentalidade mitológica (que difunde uma certo REDUCIONISMO
ANTROPOLÓGICO), é portadora de um certo pessimismo existencial: oscilação
emocional entre o medo e o extâse…
Além disso, pode implicar a perda do livre arbítrio e da autonomia individual
(responsabilidade por si)…
Mas é bela, poética, excessiva, sensorial e, mesmo, luxuriante, na sua lógica de CARPE
DIEM !

A mentalidade religiosa AMPLIA o ser humano, doando o DOM extra da Fé.


É uma visão aumentativa do Ser Humano, criado à imagem de Deus.
Fundamenta-se num grande OPTIMISMO EXISTENCIAL ANTROPOLÓGICO.
O crente tende a ser seguro, confiante, com expectativas que excedem o plano natural e
social: o seu destino não é raso, mas ascético / ascensional.
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30 humano MJSilveira
MENTALIDADE MITOLÓGICA HOJE
 A mentalidade mitológica acentua a relação obscura do indivíduo com o
incognoscível poder cósmico, ou seja, aceita a sua existência mínima face à
energia material do mundo e das suas formas vivas. Desde sempre, o mito
conduziu o indivíduo a práticas ficcionais demiúrgicas como forma de
proteção da sua subalternidade: o indivíduo é frágil num mundo poderoso e a
ele se reduz. Este pessimismo antropológico leva a uma orientação de vida
mediante processos de causalidade transferida, a saber: magia ou
superstição, o que inibe o livre-arbítrio pessoal, afastando da esfera
consciente do Eu o domínio dos actos pessoais (estilhaçamento ou
despersonalização do Eu). Por outro lado, a adesão e, mesmo, submissão aos
poderes materiais (hoje mais visíveis no consumismo e hedonismo), dissipa a
consciência-de-si, menorizando o indivíduo em dependência e adições de todo
o tipo.

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31 humano MJSilveira
MENTALIDADE RELIGIOSA HOJE:
 A mentalidade religiosa acentua a relação transcendente e filial de uma
criatura com o seu Criador e puro espírito, a quem chama «Pai». Esta crença,
transcendente e superior à racionalidade, marca o indivíduo numa relação
filial de proteção, perfeição e exigência moral (a denominada «fé»). O
optimismo antropológico das religiões afirma no indivíduo um dom extra,
uma ampliação ontológica, pela qual ele traça o seu destino decisional (graça
ou desgraça, proximidade ou distância) de Deus. A sensação de proteção pode
levar o indivíduo a uma certa sensação de impunidade, ou pior, a uma errónea
soberba existencial (particularmente notória em sectarismos e
fundamentalismos religiosos), tão contrários à humildade e à gratidão moral
do estatuto religioso puro.

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32 humano MJSilveira
Oposição teórica e especulativa nas
respostas às Questões Primordiais

 MENTALIDADE MITOLÓGICA versus MENTALIDADE RELIGIOSA

 1ª diferença:

 NATUROCENTRISMO MATERIAL vs TEOCENTRISMO ESPIRITUAL

 2ª diferença:

 IMANENTISMO ETERNO vs TRANSCENDENTALISMO CRIACIONISTA

 3ªdiferença:

 ANTROPOMORFIZAÇÃO DEMIÚRGICA vs ASCETISMO ESCATOLÓGICO

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33 humano MJSilveira
Parecença e semelhança nas manifestações
práticas e funcionais (no Mito e na Religião):
 Embora paradigmas completamente diferentes na essência (um sacro, outro profano, um naturocêntrico,
outro teocêntrico) têm, porém, traços comuns nas vivências. São, por isso, porto seguro para alguns
indivíduos muito diferentes entre si

 1. valores fortes de tradicionalismo e conservadorismo

 2. normatividade moralista bem expressa nos seus limites

 3. proteção da homogeneidade identitária (teorias e práticas)

 4. acentuado corporativismo ou colectivismo (o bem comum)

 5. grupos homogéneos, estáveis, avessos à mudança, lentos e seguros para a maioria dos seus membros.

 6. dificuldade na aceitação das novidades e da diversidade

 7. incapacidade dialógica (em situações extremas)

 8. a condução da adrenalina e do cortisol (hormonas da emoção) ou do voluntarismo fideísta


(intencionalidade religiosa) para desígnios não imediatos (um material, outro espiritual)

 = ambos conduzem ao DOGMATISMO INSTITUCIONAL

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34 humano MJSilveira
O PARADIGMA HUMANO DO
CRITICISMO

 Definição específica (VS. senso comum)


 Características específicas
 Repercussões hoje, no mundo profissional do Professor

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35 humano MJSilveira
TALES DE MILETO
O fundador da análise crítica às mentalidades anteriores ao seu tempo (mitologia e
religiões)

 Segundo análise de Tales, a mentalidade mágica do mito e a


mentalidade espiritual da religião têm:
 A) diferenças profundas a nível teórico-conceptual
 B) parecenças evidentes a nível normativo-funcional
 C) intensidades diferentes na consideração da unidade
tridimensional humana

 MITO= reducionismo a UMA competência


 RELIGIÃO = ampliação a dimensão não humana
(GRAÇA OU FÉ, como dom extra natura)
 Estas são, aliás, as razões pelas quais muitos confundem, desde
sempre, mito e religião (no senso comum)…
Progresso e evolução no conhecimento
36 humano MJSilveira
DOGMA (termo grego)
 = Verdade absoluta, perfeita, inultrapassável

 Quem tem a posse dessa verdade (dogma), julga ser SÁBIO (SOPHOI), detentor
da SABEDORIA (SOPHIA)
 Os mitológicos e os religiosos do tempo de Tales tinham uma atitude dogmática,
cerrada à discussão de ideias, autoritária perante outras alternativas.
 Tales pede cautela e humildade aos sábios sofistas do seu tempo
 Tales vem NEGAR a posse da sabedoria: considera-a uma conquista difícil, feita
através do diálogo racional e livre (nunca perfeito e nunca terminado)
 Tales propõe o conhecimento racional livre como procura, a tendência ou
BUSCA DA SABEDORIA (PHILO+SOPHIA)
 Tales é talvez o primeiro filósofo (mas nunca um Sábio, como pretende o
Google, infelizmente). São dele os primeiros registos da busca do conhecimento
por via não dogmática (portanto: por via filosófica, que a essa se opõe).

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37 humano MJSilveira
A crítica ao dogmatismo
 KRISIS= crise, crítica
 sentido literal: fazer a crise, fazer uma crítica;

 MAS O QUE É FAZER UMA CRÍTICA?


 Senso comum= deitar abaixo; destruir; focar questões negativas
 Sentido específico (origem do conceito de TALES)= análise reflexiva que leva à
desconstrução do modelo anterior para construção e proposta de uma
ALTERNATIVA

 Desconstruir não é destruir, mas sim rever prós e contras, propondo SUPERAÇÃO
 CRITICAR = nasce de uma análise reflexiva, não emocional ou instintiva, que
valorize em equilíbrio forças e fraquezas, riscos e oportunidades
 O acto da crítica é tanto mais certeiro quanto menos impulsivo e básico

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38 humano MJSilveira
A principal crítica do Criticismo
 O alvo de Tales de Mileto não é o Mito (e as civilizações
mitológicas), nem a Religião (religiões, suas igrejas e seus
grupos ascéticos), mas sim o dogmatismo que lhes pode ser
comum.
 O dogmatismo (e toda a forma de AUTORITARISMO)
ofende a inteligência humana
 A ausência de diálogo priva o ser humano de liberdade
 Logo: em nome da racionalidade e da liberdade, devemos
avançar para lá do dogmatismo
 LEMA de Tales de Mileto:

 PENSA POR TI MESMO, NADA ACEITES SEM PENSAR


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39 humano MJSilveira
Atenas, século 7 (aprox.) a.C.
 Na praça pública, Tales proclama a possibilidade de criticar o
autoritarismo dos (pseudo) Sábios, os Sofistas atenienses
 Apresenta-se como não-Sábio, não-Possuidor de Verdades
definitivas e totais
 Apresenta-se como «buscador» ou Amigo do conhecimento
 Nasce a Filosofia enquanto primeira oposição ao Dogma
 O modo de trocar ideias (em Tales) não é o discurso ou a retórica,
mas sim o DIÁLOGO
 DI = dois ou mais
 LOGOS = ordem, ordem racional, organização de ideias
 DIÁLOGO = partilha igualitária de ideias entre dois ou mais
interlocutores
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O terceiro paradigma cultural: o pensamento
crítico, berço do humanismo

 A investigação sobre o ser humano (“quem é, de onde vem, para onde vai?”) fora das matrizes
da mitologia e da religião nasce na reflexão filosófica, origem do pensamento racional e
fonte da observação científica e sistemática posterior.

 Tem registo em Atenas, com Tales de Mileto (séc. VII a.C.) e com o seu lema, fundador
da mentalidade ocidental:
 “PENSA POR TI MESMO E NADA ACEITES SEM PENSAR”

 A Escola de Atenas causa uma ruptura epistemológica com os


Mundos Mitológico e Religioso, abrindo a um novo paradigma
cultural de crítica, racionalidade, liberdade, autonomia e espírito
científico
Progresso e evolução no conhecimento
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O «caldo crítico»:
a atitude filosófica, moderadamente céptica,
prudente, curiosa, rigorosa, profunda, metódica

 Com esta pretensão inovadora («só sei que nada sei comparado
com o que poderei vir a saber, se agora aceitar pensar, duvidar,
questionar, estudar»), Tales acabava de caracterizar um novo
estilo ou atitude: a filosofia, inicialmente com vocação
interrogativa e científica e, depois, com vocação social e política.
 A «philo+sophia» será essa busca descomprometida da
verdade, essa tendência amigável ao conhecimento amplo,
aberto, crítico e imperfeito. Mas essa imperfeição é «nota»
humana, o que permite dizer que está garantida a humanidade e
a humildade disciplinada da procura. Esta atitude estará na base
de todo o conhecimento humano que se diz «ocidental», pois é
profundamente crítico, criativo, argumentativo, célere,
encadeado, logicamente causal.
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1ª característica da Mentalidade Crítica:
humanismo enquanto base e finalidade das Q.P.
 Rotação antropocêntrica (antropocentrismo ou humanismo): o Ser Humano é o
alvo das questões (não o Mundo nem Deus).
 O ser humano coloca-se a si próprio no centro das perguntas e das respostas,
com notório interesse subjectivo. Pensa por si mesmo, só sabe que nada sabe (e
isto são premissas ambiciosas de avanço e conhecimento) e avança sem vaidade e
sem medo.
 Com o lema de Tales, dá-se valor a TODOS os indivíduos, com independência
da sua origem, etnia, classe e estudos: o Ocidente educacional mostra a sua
confiança na natureza humana (quando equilibrada em todas as dimensões).
 Todos podem dialogar, intervir, criticar (sempre de modo reflexivo, nunca
instintivo e exibicionista): todos são PENSANTES por natureza e essência
 Está a nascer a base natural e transversal do reconhecimento humano (no que
hoje consagramos como Direitos Universais)
 Perigo latente (desde a fundação do criticismo): passar do antropocentrismo ao
individualismo
Progresso e evoluçãoeno
narcisismo (actuais deturpações do Humanismo).
conhecimento
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1ª característica da Ment.Crítica (cont.)
 Este Antropocentrismo ficará contraposto ao
Naturocentrismo e ao Teocentrismo
 O tradicionalismo das sociedades não-ocidentais / orientais
denota sociedades essas de estilo mais colectivista, menos
permeável à crítica, conservadoras, estáveis, de evolução muito
lenta ou inexistente.
 Só o pensamento crítico (dito ocidental) releva uma plataforma
natural inata dos direitos humanos universais, propícia à Educação
Livre, à Ética, à Estética crítica (fora das etnias, dos mitos, das
religiões, dos direitos do sangue, etc)
 Tales= Pai do Humanismo Ocidental / base do modelo europeu

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2ª característica da Mentalidade Crítica:
o método rigoroso (inicialmente, lógico-filosófico,
posteriormente científico-experimental)
 De modo a não errar, Tales pede também aos seus discípulos que utilizem um
«methodos» (via ou caminho) seguro, inspirado no criticismo. Aponta os dois
primeiros passos deste processo metódico, e estes serão o início espontâneo
daquilo que hoje chamamos «método científico universalmente aplicado
às ciências»: este pensamento interrogativo e problemático deve olhar para
todas as coisas por observação directa (primeiro passo, implicando o
conhecimento sensorial, intelectual e intencional humanos), indo à raiz do que se
vê.

 Sem aceitar nada que não passe pelo próprio pensamento (cepticismo inicial), só
deve aceitar o que seja evidente e ordenado. Apenas depois o sujeito observador
deve formular uma hipótese adequada (segundo passo), ou seja, uma fórmula
ou probabilidade interpretativa que explique o que foi observado.
Progresso e evolução no conhecimento
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Os passos do método crítico:
1º observar; 2º hipotizar; 3º testar; 4º concluir
 Note-se que esta observação directa dos fenómenos e. seguidamente, a
hipotização (ou teoria explicativa do observado e reflectido) são os dois iniciais
passos metódicos que, muito mais tarde, com Galileu (um filósofo Moderno,
ocidental seguidor da física clássica e das suas hipóteses), numa época em que a
Humanidade, já dinamizada e culta, discutindo amplamente nos quadros das
universidades europeias e seus incipientes laboratórios, poderá agora completar
com nova exigência: o terceiro e quarto passos do método científico, que ainda
hoje constituem regras universais para as ciências. Galileu exige o teste (ou
experimentação exaustiva da hipótese anterior), assim como a conclusão
científica, para aprendizagem da comunidade. Neste quarto momento, trata-se
da enunciação do resultado: se correcto, deriva numa lei científica nova e deve
ser publicitada no meio científico. Se incorrecto, deve ser revisto, reiniciando-se
todo o trabalho do cientista desde o primeiro passo inicial.
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3ª característica da Mentalidade Crítica:
uma sociedade ética, livre e responsável
A defesa de características radicalmente inovadoras (há 24 séculos, aprox.) supuseram
uma «revolução das mentalidades», face ao mundo antigo do mito e da religião.
A Escola de Atenas (onde se inspirará a primeira Universidade humanista, a de
Bolonha) inicia a transmissão de ideias impossíveis num mundo
 Espírito racional e científico a cada ser humano
 Autonomia do indivíduo: confiança nas suas competências de conhecimento e
pensamento
 Consideração do indivíduo na sua tridimensionalidade antropológica (sente,
conhece e quer livremente)
 Protecção institucional legal do indivíduo e da comunidade
 Liberdade de expressão plural
 Compreensão das diferentes dignidades e liberdades
 Protecção das verdades comuns fundamentais à humanidade (direitos humanos por
lei natural)
 Responsabilização directa do indivíduo e do estado
 Entrega democrática de cidadanias e soberanias éticas

Progresso e evolução no conhecimento


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Uma nova Mentalidade
 Denomina-se ruptura epistemológica principal a esse corte ou cisão

gnoseológica que, na personalidade histórica atribuída a Tales de Mileto


(que, sendo um físico, foi amplamente compreendido e seguido nas
humanidades por Sócrates, Platão e Aristóteles), se efectua face ao
pensamento anterior (que respondia às Questões Originárias de modo
mitológico e religioso).

 A novidade consiste agora numa nova atitude de resposta (a atitude


crítica, nascida na Filosofia ocidental) que leva a uma defesa racional
integral do Desenvolvimento Humano sustentado.
 Chama-se «ocidente» a esse padrão educacional ou pedagógico não-
mitológico e não-religioso. Ficará para trás, como sendo «não-
ocidental», toda a história das mentalidades que não for autónoma,
crítica e individualista.
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Criticismo=
génese do Humanismo europeu
 A estes pensadores devemos, séculos depois, noções como: o estado de direito,
a humanidade como igualdade, a soberania do espírito, a liberdade de
pensamento, os direitos humanos, os direitos das minorias, etc. Mediante esses
homens, Atenas gerou um capítulo «quase milagroso» na história do
pensamento universal (como afirmará no século XX o historiador alemão Werner
Jaegger), através de uma inovadora, qualitativa e intensa produção intelectual
que dificilmente se repete...

 É a este «episódio ateniense» que chamamos génese da mentalidade


ocidental, muito embora na mesma civilização ocidental valores por ela
fundados se vejam hoje ameaçados (democracias, igualdades, direitos,
liberdades) ou extremizados (individualismos, isolacionismos, fátuas rebeldias de
espírito).

 Traição, incapacidade, fragilidade, desistência…? Ecletismo global


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Tipologias culturais / civilizacionais

 MENTALIDADES DOGMÁTICAS = orientalismo /


pensamento oriental, mais corporativo, tradicional e estável
 MENTALIDADES CRÍTICAS = ocidentalismo /
pensamento ocidental, mais individualista, inovador e
dinâmico

 Em ambos há «prós e contras»…


 Dogmatismo= mais propenso ao fanatismo
 Criticismo = mais propenso à anarquia
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