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Psicologia Comunitária e
comunidades rurais do Ceará:
caminhos, práticas e vivências em
extensão universitária.
James Ferreira Moura Jr
Goes, N. A., Ximenes, V. M., Moura Jr., J. F. (2015). Relações da Psicologia Comunit ária com a Libert ação…
James Ferreira Moura Jr
Ment al healt h, well-being, and povert y: A st udy in urban and rural communit ies in Nort heast ern Brazil
Pedro San Mart in
Psicologia Comunitária e comunidades rurais do Ceará: caminhos, práticas e
vivências em extensão universitária
Introdução
Este capítulo faz parte do Livro “Psicologia e Contextos Rurais “com Jader Ferreira Leite e Magda Dimenstein como
organizadores. Referência para citação: Ximenes, V. M. & Moura Jr., J. F. (2013). Psicologia Comunitária e Comunidades
Rurais do Ceará: caminhos, práticas e vivências em extensão universitária. In: Leite, J. F. & Dimenstein, M. (Org.).
Psicologia e Contextos Rurais. 1ed. (pp. 453-476). Natal: EDUFRN.
em extensão universitária nas comunidades rurais de Pentecoste e Apuiarés (municípios
do Ceará).
Este capítulo faz parte do Livro “Psicologia e Contextos Rurais “com Jader Ferreira Leite e Magda Dimenstein como
organizadores. Referência para citação: Ximenes, V. M. & Moura Jr., J. F. (2013). Psicologia Comunitária e Comunidades
Rurais do Ceará: caminhos, práticas e vivências em extensão universitária. In: Leite, J. F. & Dimenstein, M. (Org.).
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entre distintas áreas da cidade, além de haver incongruências na delimitação espacial da
comunidade urbana, dificultando, dessa maneira, a vinculação entre os moradores. Essas
incongruências relacionam-se com a diversidade de nomes que os bairros/comunidades
das grandes cidades possuem, o que dificulta o processo de apropriação e vinculação
dos moradores. Cada política pública atribui um nome diferente à comunidade. No caso
das comunidades rurais, esse problema é mais raro.
Geralmente, os moradores das áreas rurais cultivam sentimentos positivos
relacionados às suas comunidades apesar de, na maioria dos casos, o acesso aos serviços
básicos de Educação, de Segurança, de Saúde e de Assistência serem de difícil acesso.
Em uma pesquisa realizada por Albuquerque e Pimentel (2004) com jovens residentes
do meio urbano e do meio rural, os significados relacionados à área rural estavam
vinculados com aspectos positivos, como proximidade com a natureza. Entretanto,
segundo Albuquerque (2001), os significados relacionados à palavra rural ainda portam
caracteres depreciativos relacionados a unicamente uma visão de atraso, de rústico e de
agrário.
Essa abordagem depreciativa à área rural, na visão de Alburquerque (2001),
pode estar ligada à falta de investimentos governamentais e às políticas públicas
específicas, pois os interesses estatais estiveram historicamente mais voltados ao meio
urbano. No entanto, atualmente, já existe uma maior abrangência de algumas políticas
públicas específicas voltadas à população rural. Apesar desse pequeno avanço, o urbano
ainda torna-se mais atraente, fomentando o êxodo rural e o crescimento desordenado
das grandes cidades. Prova disso foi a redução de 2 milhões de pessoas nas áreas rurais
desde de 1990 até 2010, sendo que essas comunidades rurais portam 15,9% dos
190.755.799 de brasileiros, segundo dados do Censo 2010 (IBGE, 2011).
Assim, partindo da compreensão de que o Brasil é um dos países mais desiguais
do mundo no G202, perdendo somente para África do Sul (Economia BBC Brasil,
2012), as áreas rurais podem ser abordadas como um dos contextos mais precários no
território brasileiro. Nessa região, vivem 47% dos pobres do país. Leal (2011) afirma
que um quarto dos extremamente pobres do Brasil está na área rural, sendo que 5,7
milhões dessas pessoas têm renda familiar per capita de R$ 1 a R$ 70 reais mensais e
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G20 é o grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia com objetivo de discutir e
planejar os rumos da economia global.
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organizadores. Referência para citação: Ximenes, V. M. & Moura Jr., J. F. (2013). Psicologia Comunitária e Comunidades
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1,8 milhão não tem renda própria. Albuquerque (2002) compreende que a manutenção
da desigualdade social e da pobreza no Brasil e no campo é uma ferramenta de
manutenção do status quo.
Moura Jr. (2012) também compartilha dessa compreensão de que a pobreza
funciona como ferramenta ideológica de cristalização da realidade. Há um conjunto de
papéis sociais que permeiam e constituem o psiquismo humano do pobre, situando-o
nas posições de conformado, de incapaz, de culpado, de vagabundo, de perigoso e de
causador de mazelas sociais. Essas formas de reconhecimento enfraquecem as
potencialidades do sujeito, constituindo uma identidade de oprimido e de explorado.
Esta se refere a uma série de práticas, valores e crenças que delimitam o modo de viver
dos oprimidos, desenvolvendo essa forma específica de identidade que é “negada,
sofrida, desamparada, frágil, e também violenta” (Góis, 2008, p. 60); e constituindo
igualmente o fatalismo.
Nesse ponto, a religiosidade acrítica pode ser constituinte de atitudes fatalistas.
No mapeamento psicossocial3 realizado na comunidade de Canafístula, em Apuiarés,
por extensionistas do NUCOM no ano de 2011, também surgiu de forma significativa
nos discursos dos moradores uma crença divina que posicionava Deus como
responsável por tudo, muitas vezes obscurecendo a criticidade e a responsabilidade no
rumo das decisões relacionadas à dinâmica comunitária. Para Martín Baró (1998), o
fatalismo corresponde a aspectos psicológicos do latino-americano inseridos em
condições de opressão, fomentando nesse sujeito uma compreensão predeterminada da
realidade explicada a partir do estabelecimento de uma ordem natural ou divina. O
sujeito torna-se passivo frente às adversidades vigentes, consequência de uma estrutura
macrossocial opressora. Cidade, Moura Jr. e Ximenes (2012) afirmam que essas
posturas desempenhadas pelos oprimidos são também estratégias de sobrevivência
frente uma realidade que é cruel e desumana, sendo geralmente a única via encontrada
para suportar essas adversidades sociais, simbólicas e concretas.
Apesar desse caráter macrossocial opressor, segundo Góis (2005), as
comunidades rurais compartilham de forma mais significativa o modo de vida, os
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Esse mapeamento refere-se à realização de uma pesquisa qualitativa a partir das técnicas de observação
participante, de diários de campo e de entrevistas semiestruturadas com os moradores da comunidade,
tendo o objetivo de sistematizar informações sobre educação, saúde, lazer, trabalho e cultura e analisar os
valores, as crenças e as práticas que permeiam o cotidiano dos habitantes da comunidade.
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aspectos históricos, os valores e a identidade social do lugar, desenvolvendo uma maior
integração ideológica, social e psicológica entre seus moradores e sendo o lugar de
mediação entre os indivíduos e a sociedade mais ampla. Há um cotidiano regido por
uma lógica social e simbólica construída historicamente na comunidade, impactando no
psiquismo humano. Isso ocorre porque a realidade psíquica é constituída pela realidade
social (Vygotsky, 1927/2004).
No entanto, segundo a Agência Brasil (2012), a área rural também porta
problemas específicos relacionados à violência na disputa de terras, ao adoecimento por
conta do uso de agrotóxicos e à insegurança alimentar proporcionada pela falta de renda
dos moradores das comunidades rurais, sendo as mulheres as principais vítimas dessas
agruras. As mulheres do campo têm menor acesso às terras e aos serviços rurais, apesar
de geralmente serem responsáveis pela preservação do ecossistema e das práticas
culturais tradicionais.
Werneck e Leal (2011) relatam a precariedade da zona rural a partir de um
estudo comparativo de indicadores sociais das áreas rurais e das favelas do país com
dados do Censo 2010 (IBGE, 2011). Esses indicadores demonstram melhores resultados
nas regiões favelizadas do que nas comunidades rurais, sendo apontado que a renda da
população das áreas rurais era muito menor do que os habitantes das favelas, assim
como o acesso à educação. A taxa de analfabetismo de indivíduos acima de 15 anos nas
favelas era de 8,4% enquanto, nas regiões rurais, 23% dos moradores eram analfabetos.
Entretanto, Albuquerque (2002, 2004) aborda que está ocorrendo um processo de
desenvolvimento e de diversificação da economia na área rural. A renda dos
aposentados, a economia agrária, o comércio e o setor de serviços estão trazendo um
maior desenvolvimento econômico para as comunidades rurais.
Assim, as comunidades rurais podem ser consideradas como espaços possíveis
de fortalecimento e de integração por suas características espaciais, sociais e simbólicas.
No entanto, estão inseridas igualmente em uma teia opressora de manutenção do status
quo permeando processos de depreciação social dessas comunidades e dos seus
moradores. A partir desse panorama, apresentaremos algumas considerações sobre a
Psicologia Comunitária como estratégia de desenvolvimento dessas comunidades rurais
expondo as experiências extensionistas do NUCOM no Ceará.
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Dessa maneira, acreditamos e praticamos uma cooperação universitária que
respalda a nossa produção científica, que está comprometida com a denúncia das
desigualdades sociais e aponta para caminhos que possibilitem a superação dessa
realidade. Então a Psicologia Comunitária que desenvolvemos não propõe a
neutralidade científica, mas sim, a construção de vínculos afetivos entre membros da
universidade e os moradores das comunidades. Percebemos que sua potência para
denunciar a realidade de opressão pode contribuir também com a construção e com as
análises de categorias psicossociais presentes no desenvolvimento do psiquismo,
estabelecendo uma fusão constante entre teoria e prática em práxis. Com isso,
apresentaremos os caminhos da Extensão universitária nas áreas rurais desenvolvidos
pelo NUCOM, evidenciando os meandros teóricos, metodológicos e concretos dessa
atuação.
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É utilizado o termo extensionista porque se refere às experiências praticadas por estudantes inseridos no
NUCOM. No entanto, essas considerações traçadas sobre a atuação comunitária podem servir de modelo
para qualquer profissional que realize ou queira realizar trabalhos com a perspectiva comunitária
libertadora em comunidades.
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vivencial em que o profissional vai construindo vínculos afetivos com os moradores e
ampliando a possibilidade de compreensão da realidade da comunidade.
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Os processos de fortalecimento dos moradores podem ser fomentados pela
realização de oficinas de capacitação de técnicas de grupo, formação de lideranças,
organização de eventos culturais, construção de projetos produtivos e várias atividades
que estimulam o trabalho em grupos. Dessa maneira, nessa etapa, há a consolidação das
atividades comunitárias existentes, podendo haver o desenvolvimento das lideranças
democráticas a partir de criação de fóruns de desenvolvimento da comunidade. Nesses
espaços coletivos, há a avaliação das atividades comunitárias e dos seus respectivos
resultados. Com essa estratégia de avaliação, ocorre o refinamento das atividades
comunitárias existentes de acordo com a definição pelos moradores de novas
problemáticas a solucionar e a investigar. Dessa maneira, há a ampliação das ações no
campo comunitário e a consolidação da relação morador-agente externo-grupos.
Por fim, desenvolvemos o processo de desligamento progressivo da comunidade
(Góis, 2005). Há a avaliação coletiva da totalidade do processo desenvolvido com a
redefinição da relação entre extensionista-morador-grupo. Os encontros periódicos entre
agentes internos (moradores) e agentes externos são mais espaçados e há a realização de
visitas pontuais. E o momento de desligamento é concretizado com a despedida, mas a
certeza da permanência dos laços de amizade e de solidariedade. É importante ressaltar
que o imprevisto é uma constante na realização de trabalhos envolvendo a Psicologia
Comunitária em comunidades urbanas e rurais, mas, segundo Montero (2006), essa
imprevisibilidade tem que ser usada como ferramenta do processo de facilitação do
desenvolvimento comunitário.
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A Escola Popular Cooperativa é formada por grupos de estudos com o objetivo de estudar de forma
cooperativa para o ingresso ao Ensino Superior. Esses grupos são orientados por monitores que já foram
ex-integrantes da EPC e que agora já ingressaram à universidade. É utilizado o método de aprendizagem
cooperativa, incentivando o protagonismo desses jovens por ações de autogestão de cada EPC que estão
espalhadas em diferentes cidades do Ceará. As EPC constituem uma das ações do PRECE.
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as atividades de extensão. Também publicamos um livro, Psicologia Comunitária e
Educação Popular, com artigos sobre nossas experiências em extensão universitária.
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A “Noite cultural” é um evento criado pelos moradores da comunidade para integração da comunidade
com fins festivos, sendo desenvolvida a partir de alguma temática específica que seja de interesse dos
envolvidos.
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Realizamos, igualmente, esse mapeamento por meio do método de pesquisar-
facilitando e facilitar-pesquisando. Visitamos a maioria das casas da comunidade,
totalizando por volta de 600 moradores, ao longo de aproximadamente oito meses.
Paralelamente à realização do mapeamento psicossocial, facilitamos atividades no grupo
de jovens. Dessa maneira, junto com os moradores, avaliamos que a Festa de São João
era uma prática cultural tradicional na comunidade e que estava sendo esquecida.
Definimos como estratégia realizar visitas a pessoas de referência que anteriormente
participavam ativamente desse festejo. Também entramos em contato com a Escola de
Ensino Médio e Fundamental e a Associação dos Agricultores Rurais de Canafístula
sobre a possibilidade de parceria para organização de uma festa junina, fomentando e
problematizando a importância histórica dessa festividade.
Com esses contatos realizados e a organização de reuniões para planejamento da
festividade, mesclávamos as dimensões instrumentais e comunicativas da atividade
comunitária a partir de posturas dialógicas, cooperativas e problematizadoras. Assim,
desenvolvemos esse festejo junino, constituindo um espaço de efetiva participação
comunitária, de amorosidade e de cultura. Analisamos que essa atividade pode ter
desenvolvido um processo de aprofundamento de consciência em alguns moradores.
Isso é evidenciado, porque, com o fim do festejo, um grupo de jovens de Canafístula
nos convidou para participar junto com eles de um grupo para, segundo as palavras
desses jovens, “solucionar os problemas da comunidade de Canafístula e da regiões
próximas”. O nome desse grupo foi intitulado “Baluartes”.
Com isso, ainda na perspectiva de ampliação das atividades comunitárias,
passamos a facilitar algumas ações desse grupo. Esse novo grupamento era a
demonstração que o processo de autonomia e de fortalecimento da identidade pessoal e
comunitária estava se consolidando, promovendo um avanço significativo no
desenvolvimento comunitário. Dessa maneira, ao longo dos meses, foram realizadas
reuniões quinzenais. Eles atuaram, então, na revitalização do time de futebol de
Canafístula, na criação de um time de futsal feminino e na organização interna do
próprio grupo.
Os dados do mapeamento psicossocial foram analisados a partir da Análise de
Conteúdo de Bardin (1977) com a ajuda do software de análise de dados qualitativos
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Atlas ti. Realizamos uma oficina de validez ecológica7, pois desenvolvemos um espaço
de legitimação das análises com os integrantes do Grupo Baluartes em que dialogamos
sobre a validade daquelas informações. Essa mesma oficina ocorreu com os artistas
locais – repentistas, cordelistas e violeiros – sobre a relevância daquelas informações.
Esses artistas, então, se comprometeram a criar produções artísticas a partir daqueles
dados para apresentarem em uma “Noite cultural”.
A realização da “Noite cultural” contou com a presença da maioria dos
moradores da comunidade e foi organizada por nós juntamente com os jovens da EPC,
os membros da Associação de Agricultores e do Grupo Baluartes em um processo de
divisão do trabalho e de cooperação, com a presença do diálogo, do afeto e da
solidariedade nas interações sociais. Nessa “Noite cultural”, o mapeamento psicossocial
foi apresentado em forma de repente pelos artistas locais e avaliado como muito
significativo para uma maior compreensão da história da Canafístula. No encontro de
avaliação desse evento com os parceiros, definiu-se a organização de um cronograma
para realização de oficinas temáticas sobre os principais temas presentes no
mapeamento psicossocial, ampliando, então, o leque de possíveis atividades
comunitárias ainda a serem realizadas.
Assim, percebemos que nosso percurso nas comunidades rurais do Ceará pode
ser entendido como uma constante parceria com os moradores locais. Eles nos guiam
pelas possíveis estradas de terra e de símbolos, apontando horizontes e compartilhando
saberes. Compreendemos que essa caminhada pode ser entendida como a construção
cotidiana de processos de desenvolvimento comunitário. É um processo que está em
constante renovação e formação, mas que segue também etapas estruturadas teórico e
metodologicamente pela Psicologia Comunitária, desenvolvendo tanto agentes externos
mais engajados e comprometidos com transformação social como moradores mais
fortalecidos, integrados e críticos.
Considerações parciais
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A validez ecológica ocorre a partir da avaliação da relevância das análises realizadas com pessoas de
referência para o tema investigado (Montero, 2006).
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Ainda temos muito a compartilhar. Sabemos que a leitura permite que o leitor se
desloque para outros espaços, que despertam questionamentos, visualização de relações
e lembranças de outras experiências. Dessa forma, podemos estar em lugares que nunca
estivemos. Esperamos ter socializado esses caminhos vivenciados por nós nessas
histórias e reflexões relatadas aqui. Também sabemos que nada melhor do que um bom
banho de realidade viva para alimentar a nossa alma. Esse é um convite que deixamos:
vamos nos permitir se entranhar nas comunidades rurais dos municípios desse imenso
Brasil.
Reafirmamos a necessidade do compromisso ético da libertação com o
desvelamento das situações de opressão que as comunidades rurais e seus moradores
vivenciam cotidianamente. A Psicologia Comunitária, então, pode apontar possíveis
caminhos para o enfrentamento da marginalização social, política e simbólica que as
comunidades rurais estão inseridas, utilizando estratégias presentes nessas próprias
comunidades rurais. No entanto, faz-se necessário o estabelecimento constante de
posturas dialógicas, cooperativas e problematizadoras entre morador e agente externo.
A Psicologia Comunitária contribui muito com suas teorias e práticas para a
análise de problemas psicossociais vividos pelos moradores das comunidades rurais.
Existem muitos espaços ociosos que precisam ser apropriados por estudantes e
profissionais de Psicologia que tenham esse compromisso ético-político com a
libertação dessa realidade de opressão e pobreza. Para que possamos estar nesses
espaços, precisamos desenvolver atividades de pesquisa, ensino e extensão que
propiciem aprendizados contextualizados com os problemas e as potencialidades do
povo brasileiro.
Não temos a pretensão de sermos os “libertadores” das pessoas, já que nos
apoiamos nas palavras de Paulo Freire (1987, p. 34) quando anuncia que “ninguém
liberta ninguém, as pessoas se libertam em comunhão”. Então moradores, estudantes e
profissionais vivenciam esse processo de libertação de forma conjunta. É uma proposta
ousada, mas o que seria da vida se não tivéssemos força para ousar?
Referências
Este capítulo faz parte do Livro “Psicologia e Contextos Rurais “com Jader Ferreira Leite e Magda Dimenstein como
organizadores. Referência para citação: Ximenes, V. M. & Moura Jr., J. F. (2013). Psicologia Comunitária e Comunidades
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Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18 (3), 37-42.
Economia BBC Brasil. (2012). Brasil é segundo país mais desigual do G20, aponta
estudo. BBC Brasil. Recuperado em 12 março 2012, de
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120118_desigualdade_pesquisa.sht
ml.
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Recuperado em 12 junho 2012, de http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,area-
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Este capítulo faz parte do Livro “Psicologia e Contextos Rurais “com Jader Ferreira Leite e Magda Dimenstein como
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