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BREVE HISTÓRICO DO CONTO LITERÁRIO

O conto é um gênero literário que possui narrativa curta e tem sua origem da necessidade
humana de contar e ouvir histórias. Passa por narrativas orais de povos antigos, trilhando
pelos gregos e romanos, pelas lendas orientais, parábolas bíblicas, novelas medievais, até
chegar a nós como é conhecido hoje.

Conto é uma narrativa curta que, em geral, apresenta apenas um conflito.

O conto é um gênero narrativo presente em diversas culturas cujas origens se perdem no


tempo, por isso é praticamente impossível se escrever uma história do conto. Sabe-se que suas
primeiras manifestações se deram na forma oral. Pessoas se reuniam em torno de uma
fogueira e alguém narrava histórias que encantavam a todos. A autoria dessas narrativas
transmitidas de geração em geração era desconhecida. Não se pode falar que essas primeiras
manifestações do conto tivessem um narrador como conhecemos hoje. Aquele que contava o
conto não era seu autor, sequer organizava a narrativa. Ele apenas era um intérprete do texto.

Estudos recentes desenvolvidos pelo antropólogo Jamie Tehrani, da Universidade de Durham,


que trabalhou com a pesquisadora de folclore Sara Graça da Silva, da Universidade Nova de
Lisboa, publicados na revista científica Royal Society Open Science, afirmam que alguns contos
populares remontam à pré-história e não aos séculos 16 e 17, como se acreditava. Segundo a
pesquisa, a origem do conto João e o pé de feijão remonta há mais de 5 mil anos. Os contos A
bela e a fera e O anão saltador têm cerca de 4 mil anos de idade.

Esse ancestral do conto moderno tinha suas raízes na cultura popular e veiculava temas ligados
a essa cultura. Do ponto de vista de sua estrutura, eram narrativas bem simples, centradas
num único episódio, com uma sequência temporal, em que os acontecimentos sucediam na
linha do tempo. Muitas delas apresentavam o elemento maravilhoso, integrado normalmente
na narrativa.

Sabemos da existência desses contos, porque muitos deles foram posteriormente copilados
para a forma escrita. Essas narrativas, agora na forma escrita, continuaram a ser passadas de
geração em geração e chegaram a povos diferentes. Mesmo escritas, não perderam seu
caráter de oralidade, já que muitos povos, em diversas culturas, têm o hábito de contar
histórias, sobretudo para crianças que ainda não foram alfabetizadas.
Algumas dessas narrativas são bem conhecidas, na forma tradicional, ou em adaptações feitas
especialmente para crianças. As histórias do Livro das mil e uma noites é um bom exemplo de
contos que se perdem no tempo. Simbad, o navegante, Ali Babá e os quarenta ladrões e
Aladim e a lâmpada mágica são exemplos de narrativas que circulam em diferentes culturas e
em semióticas diversas, animações, filmes, novelas gráficas, etc.

Na Idade Média, aparece o Decameron, de Giovanni Boccaccio, cujas histórias foram escritas
entre 1349 e 1351 (ou 1353), logo após a peste negra que assolou a Europa. Trata-se de uma
obra de qualidades artísticas inegáveis, com uma estrutura bem mais complexa do que as
narrativas toscanas da tradição oral. Em 1386, surgem na Inglaterra os Contos de Canterbury,
de Geoffrey Chaucer, cuja estrutura é inspirada no Decameron, de Boccaccio. Em 1613,
aparece na Espanha o livro Novelas exemplares, de Miguel de Cervantes. Nele, o autor de Dom
Quixote apresenta histórias sobre temas diversos.

Na história do conto, Charles Perrault (1628 – 1703), considerado o pai da literatura infantil,
ocupa lugar de destaque, por ter dado tratamento literário a um gênero de grande aceitação,
o conto de fadas. Entre os contos mais conhecidos desse gênero estão Chapeuzinho vermelho,
A bela adormecida, O pequeno polegar, O gato de botas.

O que chamamos hoje de conto moderno surge no século XIX com o norte-americano Edgar
Allan Poe (1809 – 1949), um grande contista e teórico do conto. Pode-se afirmar que foi Poe
quem criou o conto policial com Os mistérios da rua Morgue. O século XIX vê surgirem ainda
dois dos maiores contistas da literatura ocidental, o russo Anton Tchekhov (1860 – 1904) e o
francês Guy de Maupassant (1850 – 1893). Esses dois autores serão considerados modelos
para os contistas que vêm depois deles. De certa forma, a produção do conto clássico ou se
prende a Maupassant ou a Tchekhov. Isso significa que qualquer pessoa que queira conhecer
um pouco mais profundamente esse gênero obrigatoriamente terá de ler contos desses dois
autores.

Tchekhov é um mestre do conto cuja matéria é um incidente do cotidiano. Acontecimentos


banais, na mão de Tchekhov, se transformam. No conto Pamonha, por exemplo, uma simples
cena de um patrão acertando as contas com a governanta de seus filhos transforma-se num
conto que traz à tona o tema da exploração e da humilhação do pobre pelo rico.

Os contos de Maupassant trazem um viés de crítica social e abordagem psicológica. Bola de


sebo é um conto magistral que nos mostra como, em decorrência da situação, uma pessoa
pode ser vista como boa ou má. A personagem que dá título ao conto é uma prostituta que
viaja durante a guerra da França com a Prússia em uma carruagem acompanhada por pessoas
“de bem”, representantes de diversas classes sociais e que desprezam e marginalizam a
prostituta, mas uma mudança dos acontecimentos faz com que passam a depender dela, o que
altera o modo de agir em relação a ela.

Para os brasileiros, o século XIX também é o século da consolidação do conto literário com a
publicação das obras do nosso maior contista, Machado de Assis. Seus contos não deixam
nada a dever a seus romances, sendo muitos deles verdadeiras obras-primas como O espelho,
A cartomante, O enfermeiro e A causa secreta.

O século XX é aquele em que mais uma vez se vê uma mudança no gênero. O conto passa a
incorporar o elemento fantástico, há uma ruptura no modo tradicional de narrar e o
psicológico passa a se sobrepor sobre o cronológico. Sem dúvida, Franz Kafka (1883 – 1924) é
um dos maiores representantes do que se pode chamar de conto moderno e serviu de
influência para muitos outros contistas do século XX e XXI. No Brasil, há que se destacar ainda
a importância de Guimarães Rosa pela riqueza temática e pela forma com que rompe com uma
linguagem tradicional.

Certa vez, Ernesto González Bermejo perguntou a Cortázar qual era o seu conceito de conto, e
o autor respondeu:

Muito severo: já o comparei a uma esfera. É uma coisa que tem um ciclo perfeito e implacável.
Uma coisa que começa e termina tão satisfatoriamente como uma esfera: nenhuma molécula
pode estar fora de seus limites precisos.

Como se vê, Cortázar apresenta rigor em seu conceito. Mas quando mesmo nasceu esse
gênero narrativo?

A origem do conto é deveras remota, inicia-se com a tradição oral até transformar-se em uma
manifestação da escrita. Na Antiguidade, Panchatantra, As Mil e Uma Noites e até mesmo a
Bíblia marcam a história do conto. Na Idade Média, uma melhor elaboração do gênero era
lenta, mas mesmo assim despertava muito interesse. Nessa época havia, no mínimo, cinco
modelos de contos: o popular, o infantil, o galante, o conto-fábula e o conto moral. Com o
passar do tempo e com uma produção mais corrente, estabelecem-se determinadas normas
para esse gênero. Como resultado, o conto literário apresenta “recursos criativos”. Esses
recursos têm uma finalidade: a ordem estética.
Para aprimorar a ideia de ordem estética, na primeira metade do século XIX o escritor Edgar
Allan Poe estabeleceu algumas regras para se escrever o conto literário. Segundo Poe, a
narrativa deve ser breve, ter coerência e uma tensão que se resolva no seu desfecho. Essa
condição, preconizada por Poe, origina o que se chama de “conto de acontecimento”, que
apresenta um mote, uma ação, um desenvolvimento, uma tensão, um clímax e um desfecho.
O autor valoriza o término da história, ou seja, algo que surpreenda o leitor, geralmente um
evento inesperado em seu fim.

Na segunda metade do século XIX, autores como Maupassant e Tchekhov começam a mudar
os rumos desse gênero literário. O autor francês transita entre a reflexão sobre a sociedade e a
loucura do homem, acompanhando os descobrimentos dos estudos psiquiátricos que se
iniciavam nessa época. Tchekhov valoriza o desenvolvimento da narrativa, sem priorizar o
desfecho. Desse modo, as personagens assumem um papel de suma importância, pois revelam
seu mundo interior. Sendo assim, o escritor russo origina o “conto de reflexão”. Como se pode
perceber, não é à toa que o século XIX é considerado, por muitos historiadores da literatura, o
“século de ouro do conto”.

No século “dourado do conto”, no Brasil também havia escritores desenvolvendo esse tipo de
narrativa. Álvares de Azevedo, com Noite na Taverna, é visto como um dos precursores do
conto literário brasileiro. Outro autor relevante foi Machado de Assis, que produziu uma vasta
literatura do gênero, e tanto escreveu à maneira de Poe, quanto à maneira de Tchekhov.

O estilo narrativo denominado conto passa a ter, em nosso país, um grande destaque. No
início do século XX, surgiram escritores como Simões Lopes Neto, que deu um novo
tratamento ao tema regional; Lima Barreto, que escreveu como forma de contestar as
injustiças sociais do Rio de Janeiro; e Monteiro Lobato, que escreveu seus contos para
denunciar as relações de poder e autoritarismo em São Paulo.A partir do Modernismo, esse
estilo narrativo cresceu incontestavelmente em nosso país. A Literatura, através desse gênero,
revelou grandes autores como João Antônio, Clarice Lispector, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes
Telles, Guimarães Rosa, entre outros. Esses escritores desenvolveram narrativas curtas que
tanto podiam revelar uma denúncia social (conto sócio-documental), como podiam também
apresentar personagens que questionavam sua existência como sujeito do e no mundo (conto
de introspecção), assim como histórias em que os acontecimentos estão no limiar ou até
mesmo ultrapassam as fronteiras da realidade (conto visionário, conto fantástico e conto
fantástico alegórico).

No mesmo período, por sinal, não só o Brasil, mas toda a América Latina produzia contos de
qualidade inquestionável. São também dessa época as narrativas curtas de Jorge Luís Borges
(Argentina), Júlio Cortázar (Argentina), Óscar Cerruto (Bolívia), Gabriel García Márquez
(Colômbia), Antonio Skármenta (Chile), Alfredo Echenique (Peru), Senel Paz (Cuba), Mario
Benedetti (Uruguai) e muitos outros que fizeram com que os “olhos do mundo” se voltassem
para a Literatura da América Latina.

Independente de tendências, o fato é que, na atualidade, o conto é um dos gêneros narrativos


mais escritos e, consequentemente, mais lidos no mundo todo. Para os mais leigos, que
possam pensar que esse gênero é de fácil elaboração, um aviso: escrever um conto de
qualidade é um exercício literário muito difícil. Essa narrativa curta só será agradável e
surpreendente, para qualquer leitor, se apresentar recursos criativos que resultem numa
perfeita ordem estética.

MELLO, Ana Maria. Caminhos do conto brasileiro. Porto Alegre: Revista de Ciências e Letras da
FAPA, 2003.

SOBRINHO, Barbosa Lima. Os Precursores do Conto no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira, 1960.

Estrutura do conto

Elementos da narrativa

Técnicas narrativas

https://www.portugues.com.br/literatura/o-conto-suas-demarcacoes-.html

Confira as principais habilidades que você irá desenvolver até o final do curso.

História da escrita criativa

O subtexto do texto
Romance, novela e conto

Escrita do romance linear

O enredo eficiente

Etapas da proposta de planejamento

A questão essencial da personagem

O que é escrita criativa?

Escrita criativa e a diversidade

Escrita criativa e suas particularidades

Literatura linear e não-linear

Contos

“O romance é uma narrative

em prosa de certa extensão

em que há algo de errado.”

Randall

Jarrell

Escrever um romance é

estar todo tempo em luta

contra o bocejo do leitor.

Romance

Novela

Conto
O enredo

[trama, plot]

eficiente é

sistêmico, e

isso significa:

estrutura do texto narrativo tipos de narradores

Estrutura em 3 atos

estrutura narrativa

elementos individuais das técnicas de narrativa

Leia muito, leia de tudo

enredo: sua conceituação, seus componentes, suas partes estruturais e os tipos de análise
temática.

personagens (que podem ser classificadas de acordo com o papel que desempenham na
trama, quanto ao dinamismo de suas características e em relação às suas características
básicas).

O espaço narrativo (sua definição, suas classificações e seus elementos) será o tema do post de
abril.

tempo narrativo (maio), de ambientação (junho), de realidade ficcional (julho),

foco narrativo - narrador (agosto),

linguagem literária (setembro)

discurso
construção dos diálogos (outubro)

a textualidade e a tipologia.

TODOROV, Tzvetan. As Estruturas Narrativas. 5a ed., Coleção Debates, São Paulo: Perspectiva,
2013.

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