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Brasil 2023
Copyright© Isa Feijó / Editora Calíope
Revisão: Antony Isidoro
Assistência e Capa: Jaqueline Brito
Diagramação: Isa Feijó
Todos os direitos reservados
It’s Time
Imagine Dragons
#RhynosRules
O center do outro time fez o snap, lançou a bola por debaixo das
pernas para que o quarterback a recebesse. Mas Trent Williams, o QB do
San Diego Vipers, ajoelhou-se no chão.
Imediatamente o juiz apitou, fazendo sinal de jogo encerrado. Os
jogadores do Vipers comemoravam, afinal tinham ganhado mais um jogo. E
por que Trent insistiria em mais alguma jogada sendo que era só ajoelhar?
Faltavam segundos para acabar e não havia nada que algum jogador do
Raleigh Rhynos pudesse fazer para inverter aquele placar.
Jason tinha se preparado para correr, mas ele viu nos olhos de Trent
o que o outro faria. Mesmo assim sentiu que deveria fazer algo, mas
quantas jardas tinha avançado até o joelho do QB encostar no chão?
A decepção martelava dentro do seu peito. E se tivesse feito mais?
Deveria ter se esforçado, deveria ter tentado, corrido, feito qualquer coisa!
Jason respirou, engolindo em seco e cumpriu o que era esperado.
Sorriu para os jogadores do outro time, cumprimentou Trent, que fez
brincadeiras como “Cara, você é o Steamroller mesmo. Quase não saía do
meu pé”. Jason se forçou a rir.
— Você é incrível — um dos jogadores do outro time lhe falou, e
ele agradeceu.
Mas não se sentia assim.
Mais um ano que Raleigh Rhynos era eliminado antes dos playoffs.
Eles mal se sustentavam na temporada regular; lesões, brigas internas,
jogadores fora de sintonia...
Do que adiantava ser chamado de “Steamroller”, ser considerado o
“melhor Rhyno”, se não conseguia garantir a porcaria de uma vaga nos
playoffs?
— Perdão, vô — Jason murmurou enquanto voltava para os
vestiários.
O clima estava péssimo. E como não estaria?
A verdade é que eles não tinham chances reais. Além de terem que
ganhar do Vipers, um ótimo time, ainda tinham que torcer para os Lightning
ganharem dos Harpy. E, se possível, o Pumas perder para o Poison, assim
teria alguma chance de uma classificação não vergonhosa.
Uma combinação absurda de coincidências e resultados improváveis
teria que acontecer. E para quê? Eles tinham alguma chance verdadeira de
chegar à final da Conferência? De chegar ao Super Bowl?
— É claro que não — falou sozinho, tomando um banho rápido no
chuveiro do vestiário.
Isaac Hill, head coach do Rhynos, esperou que seus jogadores
voltassem para fazer seu discurso de motivação. Era triste serem
eliminados, mas na temporada seguinte voltariam melhores, mais fortes e
mais preparados. No próximo ano seria diferente!
Jason suspirou, sentia um pouco de pena de Isaac. Ele realmente
acreditava naquele time e naquelas palavras. Mas ele já as tinha dito no ano
anterior, e quase nada tinha mudado.
Seu celular apitou uma mensagem. Não queria conversar com
ninguém, mas olhou pela notificação. Bufou frustrado quando viu o nome
do contato, foi inevitável abrir e ler.
Devon:
Vi que perderam o jogo e foram eliminados, é uma pena que não jogaremos
contra no Super bowl
Devon:
Estou na Califórnia, podíamos nos encontrar antes de você ir embora
Jason:
Me deixa em paz!
— Lanço muito bem, eles que não sabem nem fazer uma catch
decente! — Robbie acusou, apontando para os recebedores, que o olharam
ofendidos. Tudo aquilo deixou Jason ainda mais irritado.
— Seu moleque irresponsável, mimado e imbecil! Você joga a culpa
em todo mundo para não admitir que não sabe o que está fazendo. Não sabe
seguir ordens, não sabe trabalhar em equipe, não sabe porra nenhuma sobre
lealdade. Só se importa com quanto dinheiro ganha e em esbanjar tudo com
pessoas que não dão a mínima para você! — gritava de volta. — Nós
entramos em um buraco porque você não sabe liderar o ataque, não sabe
acertar um alvo, e, se não fosse pelos corredores, quase nunca
pontuaríamos.
— Eles...
— Cala a boca! Eles correm para onde deveriam, é você que nunca
consegue lançar. Enche a boca para dizer que sem você não teríamos
chances, que é um astro em ascensão, mas não passa de um merdinha
mimado e prepotente, que não sabe o mínimo sobre respeito.
— Se é assim, posso sair, não é? — provocou.
— Por favor, saía! — Jason encarava os olhos de Robbie. — Pela
nossa péssima colocação no ranking geral, teremos ótimas escolhas no draft
ano que vem. Tenho certeza de que o time vai encontrar um QB muito
melhor que você!
— Um novato — o outro desdenhou.
— Qualquer novato, vindo de qualquer lugar do país, é melhor que
você.
— Eu sou...
— Você é um nada, Robbie, apenas uma mancha na história do
Rhynos. Teremos um novo QB, e, mesmo sem saber quem será, tenho
certeza de que será muito melhor que você. Porque quando você sair por
aquela porta, será apenas a lembrança ruim de um péssimo momento. Mas
nós, os Rhynos, ainda estaremos bem.
— Sem mim, não são nada — Robbie rosnou, olhando em volta.
Mas ninguém o defendeu. — Nada!
— Somos os Rhynos e já passamos por coisas bem piores que um
jogador mimado — Jason respondeu. — Vai embora, procure outro time.
Tente a sorte com sua carreira medíocre. Nós ficaremos muito bem.
— É isso? — O QB olhava em volta, procurando apoio, o que não
teve. — Vão se arrepender disso! Eu juro! — gritou, saindo do vestiário,
fazendo seu show de sempre.
Jason ficou ali, respirando fundo. Tinha acabado de expulsar o QB
do próprio time e nem sabia se podia ter feito isso. Mas, bem, não tinha
como voltar atrás.
— Não se preocupe — Isaac disse, colocando a mão no seu ombro.
— Tudo vai ficar bem.
E Jason se agarrou a essa promessa, tudo tinha que ficar bem.
Alguns meses depois
Jay:
Jason, quando puder, nos fala como está. Você não contou o que aconteceu
ontem, mas sabe que estamos com você, né?
Jason:
Me desculpem, só tive um pequeno colapso mental e precisei ficar um
pouco com minha avó. Mas já está tudo bem
Sadie:
Quer vir para casa ou que vamos para a sua? Se precisar conversar,
estamos aqui
Jason:
Eu sei e agradeço, mas tudo está bem agora
Obrigado por serem amigos incríveis, eu amo vocês
Sadie:
Querido, nós amamos você também
Jay:
Vai nos contar o que aconteceu? Vimos as postagens de vocês no bar,
parecia tudo bem, aí você surtou
Sadie:
Se não quiser contar, tudo bem, só queremos saber como está
Jason:
Não é isso, só não sei como explicar
Bem, resumindo, Jake me beijou ontem à noite, e nós quase transamos na
casa dele
Sadie:
Por isso Jake estava mal?
Jason, como estão? Conversaram? Precisa de alguma coisa?
Jason:
Calma, nós conversamos, sim, e falamos sobre tudo, tanto da minha parte
quanto da dele. Não falei o nome do Devon, porque não quero que ele se
envolva com essa parte podre do meu passado
Mas fomos sinceros sobre nossos sentimentos e expectativas
Sadie:
Ok, isso é muito bom, estou orgulhosa
E agora? Como estão?
Jason:
Acho que estamos namorando
Sadie:
O QUÊ?????????
Jay:
Ela me julgou por surtar e agora está gritando pela casa
Mulher hipócrita
Sadie:
Sempre shippei!
Eu estava certa desde o começo!
Eu sabia!
Jay:
Com licença?
Fui eu que contei sobre eles, eu que shippei primeiro!
Jason:
Acho que esse cargo é do Chase, mas Carson deve ser o segundo.
Aparentemente, Jake tinha sentimentos por mim há tempos
Sadie:
Ah, não, quero saber de tudo
Jay:
Você adicionou o Jake?
Como vamos falar do Jake se ele está no grupo?
Jake:
Hã, oi?
Falar de mim?
Sadie:
Updates?
Jay:
Estão tomando café da manhã e com cara de que dormiram muito bem a
noite toda
Jason:
Sabem que eu posso ler as mensagens, não é?
Sadie:
Dane-se
Jake, querido, como está sendo o primeiro dia?
Jake:
Legal, a comida é boa, e realmente dormi muito bem
Acho que tem outro jogador interessado no Jason
Jay:
Quem?
Sadie:
É o Emmett, não é?
Certeza que é ele
Jason:
Emmett?
Jay:
Acho que não, ele nunca falou nada
Jake:
Ele mesmo
Foi só um comentário, mas deu para perceber
Sadie:
Confie nos seus instintos, sempre sabemos
Se você quer me provocar, vou ter que te lembrar a quem você pertence
Era domingo à tarde, não tinham muito o que fazer, alguns haviam
ido passear, mas a maioria estava por lá. A praia do hotel era ótima, e o dia
estava quente, então estavam aproveitando. Jake estava deitado numa das
espreguiçadeiras, Carson e Chase estavam com ele. De manhã eles tinham
ligado e conversado com Maristela e Mauricio, os dois estavam
emocionados com a chegada do primeiro jogo da pré-temporada. Sofia, a
prima, também estaria lá.
— Mis hijos, estou tão orgulhosa — Maristela dizia feliz.
Ela e o marido sempre fizeram questão de enfatizar que o mérito era
deles, ignorando que só haviam tido oportunidades por causa dela e de
Mauricio. Chase, Carson e Jake eram gratos, amavam os dois e faziam de
tudo para devolver todo esse carinho. Quando eles pagaram a casa em que o
casal vivia com o primeiro salário que receberam, teve que ser escondido,
porque os tios não queriam receber de jeito nenhum.
— Vamos reservar um hotel perto do estádio, mas queremos que nos
levem para passear. Vimos as fotos naquele bar, parece bom — Mauricio
disse.
— Como assim? Vão ficar na nossa casa! — Carson respondeu,
revoltado. — Temos aquela casa enorme para receber vocês.
— Não queremos incomodar, chicos — Maristela explicou.
— Tia, por favor. — Chase revirou os olhos para a tela do celular.
— Vai ficar com a gente, sim!
— Tio, não é justo, montamos uma sala com videogame e
estávamos te esperando para jogar conosco — Jake apelou, ele sabia que os
convenceria desse jeito. — E, tia, Chase está há dias falando que está com
saudades da sua comida.
— Você joga muito baixo — a mulher resmungou, mas eles sabiam
que tinham ganhado a disputa. — Só não queríamos incomodar, tirar o
espaço de vocês.
— Não se preocupe, tia, se faltar espaço, despachamos Jake —
Carson respondeu alegremente.
— Por quê? — ela perguntou. Jake olhou para Carson, que sorriu
malvado. Antes que o loiro conseguisse impedir, o running, que segurava o
celular, afastou-se correndo pelo quarto.
— Tía, ¡Jake tiene un novio!
— Seu boca-aberta do caralho! — Jake gritou com ele.
— ¿Qué? ¿Quién? — Mauricio perguntou. A esposa e ele ficaram
chocados.
— Steamroller! — dessa vez foi Chase quem exclamou, e Jake
jurava que mataria os amigos.
— O jogador? — Mauricio estava atônito. — Jason Steamroller?
— Esse mesmo! — o running confirmou.
— Meu Deus, calem a boca, alguém vai nos escutar! — Jake
esbravejou.
Mesmo que eles estivessem no quarto que Carson estava dividindo
com Kevin, sem que este estivesse junto, e a porta estivesse fechada, o loiro
ainda ficava preocupado. Jason não tinha falado com o resto do time, e Jake
o apoiava a fazer isso no momento que estivesse pronto.
O loiro se sentia um pouco egoísta, a principal razão de querer
contar a todos sobre seu relacionamento era poder abraçar e beijar seu
namorado quando quisesse, sem se esconderem. E poder esfregar na cara de
Emmett que Jason era dele.
— Por isso que falei em espanhol. — Carson deu de ombros. —
Tíos, Jake y Jason están tan enamorados, que es un poco asqueroso —
finalizou fazendo uma careta.
— Imbecil — o loiro resmungou.
— Mi hijo, está feliz? — Maristela perguntou, sorrindo.
— Muito, tia.
— ¡Es lo importante! — ela concluiu. — Quando formos para a
cidade de vocês, queremos conhecê-lo. Quero saber se ele é bom para o
meu menino.
— Amada, é o Steamroller — Mauricio falou como se fosse algo
óbvio que a esposa não tinha entendido. — Jake é bom para ele?
— Tio! — Jake exclamou, revoltado, tendo que pegar o celular da
mão de Carson, já que ele e Chase estavam rindo tanto que quase caíram no
chão.
— Sem ofensas, mas é O Steamroller — o mais velho tentou se
justificar.
— Mais um para o fã-clube do Jason. — Jake revirou os olhos.
— Team Brody! — Chase disse de onde estava, encostado na
parede, ainda rindo
Quando contou a conversa para o moreno, o DE achou hilária.
Apesar de ficar um pouco nervoso por saber que ia conhecer as figuras
paternas do namorado. Tudo estava indo rápido demais, pelo menos na
visão do moreno, já o loiro estava tranquilo. Jake tinha tanta certeza de que
eles passariam o resto da vida juntos, que o moreno estava com medo de o
apresentar à sua avó e de saírem da casa de Rose com parte do casamento
planejado. Porque, se existia uma pessoa mais emocionada e impulsiva que
Jake Lewis, era Rose Brody.
Sofia:
Jake, seu namorado é um gostoso
Estava vendo as fotos, não é à toa que está todo apaixonado
Jake:
Do que você está falando? Você nem gosta de homem
Sofia:
Depende do homem, até gosto, só não teria um relacionamento com
nenhum. Não vale a pena
Se bem que seu namorado é um grande gostoso e tem um sorriso tão
bonitinho. Parece ser do tipo que conquista a família com gentileza, mas
fode com força quando chega no quarto
Carson:
Não!
Meus olhos estão sangrando!
Contenha-se, mulher, você é um neném!
Sofia:
Por Deus, sou só quatro anos mais nova que vocês, aceitem isso!
Chase:
Nunca!
Uma vez nossa pequena, sempre nossa pequena!
Jake:
Não vou falar mais disso com você
Sofia:
Mas estou certa, não é?
Jake:
Sim
Carson:
JAKE!!!!
@ericblake
Parece que as pessoas aprenderam palavras novas e querem usar em
tudo. Achei que vocês já tinham saído do ensino fundamental, galera.
Queerbaiting é uma estratégia de marketing para produtos FICCIONAIS,
séries, livros, filmes... Jake Lewis e Jason Brody são pessoas REAIS, então
é impossível serem um queerbaiting
@ericblake
Sabiam que dá para procurar informações na internet, além de usarem as
redes socais para falar merda? Deveriam tentar se informar antes de
saírem atacando alguém porque são burros demais para entender o
significado de uma palavra
@ngrant
Pessoas burras me irritam. Acusar pessoas reais de queerbaiting? Vocês
não sentem vergonha de se mostrarem tão estúpidos?
@stevealexander
Sinto muito pelos ataques que Jake Lewis e Jason Brody sofreram, sendo
que, claramente, era uma brincadeira entre amigos. O verdadeiro problema
não é como pessoas reais agem, e sim um sistema que oprime e aprisiona
pessoas LGBT no armário. É necessário brigar pelo que acreditamos, mas
saibam escolher as batalhas
Olá, Jason
Sou Nathan Grant, não nos conhecemos pessoalmente ainda, mas gostaria
de corrigir isso. Creio que Steve já falou com Lewis, então estou mandando
o nome e endereço do restaurante que reservei para nós. Além de nós
quatro, estarão meu marido e Scott Andrews. Será algo reservado, apenas
para nós seis. No sábado, reservei um camarote para assistirmos ao jogo
do Rhynos.
Não sei sabe, mas meu marido nasceu e viveu boa parte da vida em
Raleigh. Então o Rhynos faz parte das boas memórias de sua infância, o
que também o faz ser importante para mim.
Mandarei a mesma mensagem no direct de uma de suas redes sociais para
saber que sou eu mesmo. Também pode salvar meu contato, Logan e eu
iremos muito para Raleigh, e seria bom ter amigos na cidade.
Até amanhã, Nathan
@jasechild
Jase Brodi – A linha do tempo
Desde que assisti a um dos vídeos virais do jogo deles, fiquei obcecada por
eles. Então pesquisei tudo, indo fundo mesmo, e reuni fotos, vídeos e datas
para provar que eles são um casal muito feliz e nem fazem questão de
esconder.
Segue o fio
@jasechild
Jake ainda estava em Louisville e estava prestes a ganhar um campeonato
nacional. O time assiste a um jogo da Universidade de Durham, e
adivinhem quem jogava pela Durham?
Ganhou um doce quem disse “Jason Brody”
@kathxx
Vocês viajam muito. Eles não podem ser amigos? Por que tem que enfiar
shipp no meio de tudo?
@jasechild
É a minha opinião, que postei no meu perfil. Se não gostou, é só ignorar
@taypistol
Agora não podem postar foto juntos que já são um casal? Então está
dizendo que nessa foto que o Jason está abraçando esse cara, ele está
namorando o cara?
@elevenx
Esse cara de amarelo é o Taylor, assistente do Connor Rossell, que, por
acaso, tem fotos deles com o Jason, porque são todos amigos. E essa foto é
de uma luta semanas atrás, sabem quem mais estava lá? Jake Lewis
A pessoa postou uma das fotos que Scott tinha tirado, e Jason nem
sabia quem tinha postado. Era de uma mesa do bar, e algumas pessoas
faziam careta para a foto, outros estavam sérios. Na foto apareciam Taylor,
Connor, Nathan, Logan, Jake e Jason.
@jasechild
Engraçado que nessa foto tem dois casais e dois “amigos”, né?
Mas é a gente que viaja
@jlewis
Incrível como as pessoas só enxergam o que querem, mesmo que a verdade
esteja bem diante dos seus olhos
Ou no fundo das fotos...
Jason riu quando viu o post. Talvez seu “eu” passado ficasse
mortificado se algo assim fosse dito, mas o “eu” do presente estava achando
muito engraçado. Jake bloqueou o celular, aconchegou-se nos braços do
namorado, e começaram a assistir ao filme.
— O que estão achando da temporada do Rhynos até agora? — o
apresentador do programa esportivo perguntou.
— O que tem para achar? Eles estão invictos — um dos
comentaristas respondeu. — Depois das últimas temporadas, nunca
imaginei que diria isso, mas Rhynos é um dos times mais chances de chegar
ao Super Bowl.
— Não acha cedo para falar isso? — outro perguntou.
— Cedo? Estamos chegando aos playoffs, e nem sinal do Rhynos
diminuir o ritmo — a comentarista, única mulher do programa, disse. —
Escutem o que estou falando e podem me cobrar depois: Rhynos estará no
Super Bowl e, provavelmente, será o vencedor.
Eram quatro comentaristas, três homens e uma mulher, além do
apresentador. Dois dos comentaristas reclamaram, dizendo que era cedo,
que muita coisa ainda poderia acontecer, já que faltavam quase dois meses
para os playoffs.
— Eu sei, mas vocês vêm algum time com essa linearidade? Já na
pré-temporada eles bateram de frente e venceram os Steel.
— Mas pré-temporada não conta. — Um deles bufou.
— Ok, o próximo jogo é contra o Sand Storm, atual campeão do
Super Bowl — o comentarista que concordava com a colega falou. —
Veremos qual a situação do Rhynos, mas concordo com Sandra. Não vejo
nenhum time capaz de pará-lo.
— O que podemos concordar é que a saída de Robbie Brendel fez
muito bem para o time. O que Hill conseguiu fazer com os jogadores essa
temporada foi surreal. E, como os fãs dizem, “papai e mamãe” estão sendo
implacáveis.
— Gosto mais de Jase. — Sandra riu.
— A união de Jason Brody e Jake Lewis foi a melhor coisa que
pôde acontecer. Estou falando como atletas, até porque se forem mesmo um
casal, não temos nada a ver com isso e aceitamos, mesmo que eu ache
muito difícil ser verdade. Mas que eles mudaram o Rhynos, isso é óbvio —
o apresentador disse.
— “Acho difícil ser verdade” — Jake desdenhou, desligando a TV.
— E ainda é apresentador de um programa esportivo. Deveriam dar o
programa para a Sandra George, ela é muito mais inteligente.
— Será que sua opinião não está baseada em ela ser uma grande fã
sua? — Jason riu. Ele estava colocando a louça do jantar na lavadora.
— Nossa — Jake o corrigiu. — Ela acabou de dizer que nós
estaríamos no Super Bowl.
— Mas fez um vídeo para as redes sociais dela explicando por que
acha que você é um dos maiores QBs da geração atual.
— Bem, ninguém pode culpá-la por ter bom gosto. — O loiro deu
de ombros e beijou rapidamente o namorado, que ria. — Quer sorvete?
— Aceito.
Mais algumas semanas se passaram, o ritmo de treinos continuava
intenso, o Rhynos ainda não havia perdido e queria manter assim. O assédio
da mídia estava um pouco mais forte que o comum, Lindsay tinha lidado
muito bem com tudo. Rumores sobre a sexualidade de Jake tinham surgido,
supostas fontes diziam que ele tinha tido relacionamentos com homens
durante a faculdade, mas ninguém tinha mostrado o seu rosto ou teve seu
nome revelado.
Chase tinha conseguido entrar em contato com uma amiga deles da
universidade, ela entendeu o que estava acontecendo e postou uma foto
beijando Jake com a legenda “Quando você tem 20 anos e nem imagina que
seu namorado da universidade se tornará um astro da liga nacional de
futebol americano”. Na verdade, eles nunca namoraram, beijaram-se de
brincadeira em uma festa de ano novo, mas a mídia não sabia.
Jake agradeceu a ajuda, porque isso lhe deu mais tempo para pensar
no que fazer, mas tinha sido desconfortável. O loiro odiava ter que esconder
quem era e sentia como se estivesse mentindo para todos. Jason se sentia
mal porque sabia que Jake só estava aceitando isso por ele. O que os rendeu
longas e sinceras conversas.
Lindsay, Isaac, Jake e Maristela tiveram reuniões secretas. Jason só
teve acesso a elas, porque o loiro não queria esconder nada do namorado.
Carson acabou participando de algumas. Jake e Carson queriam poder falar
livremente da sua sexualidade, por isso, estavam pensando em como
preparar o terreno.
A RP queria estar pronta para qualquer bomba que pudesse aparecer
e, por isso, já estava elaborando um plano. Inclusive, estava aos poucos
ligando o time a causas sociais, já colocando que apoiavam a comunidade
LGBT e preparando o terreno. Isaac estava conversando com os outros
coordenadores e comissão técnica, tendo pequenas conversas com diretores
e preparando aos poucos.
Uma coisa que tinha impactado a mídia foi que Steve Alexander, o
sonho molhado de muita gente, tinha saído do armário da maneira mais
escandalosa que conseguiu. Lindsay até brincou que depois do que ele fez,
não tinha como Jake ser pior.
Então, por enquanto as coisas estavam normais. As teorias
continuavam a rolar na internet, eles continuavam a sair juntos, sendo só os
dois ou com os outros. Tinham ido encontrar Steve, Scott, Nathan e Logan
algumas semanas antes. Jogaram na quinta-feira e passaram o final de
semana seguinte com eles e alguns amigos.
Em um dos dias, acabaram bebendo em uma sala de um karaokê.
Todos já tinham bebido a ponto de ficarem bem altos, e o ponto alto da
noite, pelo menos para Jake, foi quando Jason, Nathan e Steve cantaram
Locked Out Of Heaven, do Bruno Mars. Era para ser um tipo de declaração
de amor para Jake, Logan e Scott, mas na parte que diz que “o seu sexo me
leva ao paraíso”, as intenções já tinham mudado. Então, veio “I Wanna Be
Your Slave”, do Maneskin, e tudo desandou.
Apesar de Jake ter certeza de que a música tinha sido ideia de Steve,
Jason e Nathan não ficaram tímidos. A performance deles foi como
prenúncio do que viria mais tarde. Jake estava com muito calor e sentindo
sua calça ficando apertada, bastou um olhar para o lado para ver que Logan
e Scott estavam do mesmo jeito.
Os três devolveram as provocações e, um pouco mais tarde, cada
casal estava em um canto da sala de karaokê e decidiram ir para o
apartamento de Nathan, porque todos precisavam de algum lugar privado
antes que fosse tarde demais e acabassem vendo mais dos outros do que
gostariam. Não que já não estivessem muito perto disso. Ninguém precisou
falar nada, cada casal foi para um quarto, e ficaram lá por horas.
Jake e Jason transaram algumas vezes naquela madrugada e de
manhã, a primeira foi para descontar todo o tesão que estavam sentindo e
todas as provocações que ambos tinham feito durante a noite. Jason fez Jake
implorar, apenas porque gostava dos choramingos desesperados.
Mas quando transaram de manhã, ainda estavam sonolentos. Foi
muito mais íntimo que as outras, mesmo com toda a loucura. Foi lento,
cheio de beijos e declarações de amor. Jason segurava a mão de Jake, seus
dedos entrelaçados, enquanto penetrava o loiro, beijando seus lábios e
pescoço, dizendo o quanto o amava. Jake sorria e retribuía os beijos,
sussurrando que também o amava, que sempre havia amado.
Agora estavam focados no próximo jogo, San Antonio Sand Storm
eram os atuais campeões do Super Bowl. Também não tinham perdido
nenhum jogo até então e eram o favorito da maioria de chegar à final de
novo. Quando ganharam do Steel, foi na pré-temporada, então não contava
como uma grande vitória, já que usava de desculpas que não tinham
realmente se esforçado, porque não valia pontos na competição.
— Carson disse que comprou a nova versão daquele jogo de que
vocês estavam falando na semana passada — Jake comentou enquanto
tomavam sorvete e assistiam à série Sherlock. — Ele disse que vai jogar
todos os dias, para treinar bastante, antes de vocês jogarem juntos.
— E vai falar que não jogou ainda, né? — Jason riu, e o loiro
confirmou.
A tradição das noites de jogo se mantinha, eles tentavam fazer
quando podiam, mas como mais gente participava agora, como Kevin, Jay,
Odell e outros jogadores, eles criaram duas. Uma vez por mês todos os
jogadores do time que quisessem participar eram bem-vindos, o que queria
dizer que às vezes a casa ficava tão cheia quanto se estivessem dando uma
festa.
Mas, pelo menos uma vez por mês, eram apenas Carson, Chase,
Jake e Jason. O moreno desconfiava que só tinha sido incluído por ser
namorado de Jake, mas Carson respondeu que era Jake que tinha sorte de
estar namorando o DE, porque ele — Carson — e Chase só queriam jogar
contra Jason. Eles estavam levando a sério tentar derrotar Jason e
comemoravam cada pequena vitória, mesmo que no final o verdadeiro
campeão sempre fosse o moreno.
O celular de Jason notificou algumas mensagens, e ele o pegou,
distraído. Jake e ele estavam combinando de levar Rose a uma feira para
amantes da jardinagem que teria em alguns dias. Maristela e Mauricio
estariam de volta a tempo, então poderiam ir todos juntos. Mauricio estava
aprendendo jardinagem com Rose e estava muito empolgado com o jardim
da nova casa, aquela que ficava na mesma vizinhança.
— O que foi? — Jake perguntou quando percebeu a expressão
estranha de Jason. — Alguma notícia ruim?
— Meu irmão, Wade, quer falar comigo — o moreno respondeu,
mostrando o celular para o namorado.
— Wade é o babaca ou o inútil? — o loiro perguntou, deixando as
vasilhas de sorvete em cima da mesinha de centro.
— O babaca — Jason respondeu, rindo baixinho. Aquelas eram as
definições que Rose tinha ensinado.
— Eu não sabia que ele tinha seu número.
— Nem eu. — O moreno parecia confuso.
— Isso está estranhando, Rose nunca passaria seu contato para
ninguém da sua família.
— Não, mas não acho que para eles tenha sido difícil conseguir.
— Não gosto disso — Jake comentou. — Se fosse algo normal, teria
conversado com Rose e ela teria te passado o contato. Ele cortou caminho.
— Também estou achando estranho — Jason falou, lendo as últimas
mensagens.
— O que ele quer?
— Aparentemente, “reconectar”.
— Reconectar? Como assim?
— De acordo com ele, Wade percebeu que sente minha falta e quer
conversar. Ele quer voltar a ter um relacionamento de irmãos comigo.
— Voltar? Vocês já tiveram um?
— Na cabeça dele, sim. — Jason suspirou. — Não sei o que fazer.
— Bem, você pode ignorar. Também pode mandá-lo tomar no cu e
depois bloquear, que é o que eu faria. Mas, é o que eu acho mais a sua cara,
podemos marcar um jantar em um lugar neutro e escutar o que ele tem a
dizer.
— Podemos? — o DE perguntou sorrindo, puxando o loiro pela
cintura.
— Não seja louco de pensar que vou te deixar sozinho nessa. E não
aja como se fosse diferente caso fosse eu quem estivesse prestes a me
encontrar com alguém da minha família.
— É, eu iria junto — Jason ponderou. — Vou marcar com Wade
aqui em casa. Quero que seja no meu território, onde posso expulsá-lo caso
aconteça alguma coisa.
— Quer marcar na minha casa? Carson e Chase aceitariam ficar na
parte de cima e me ajudariam a dar uma surra no seu irmão. Se fosse
necessário, óbvio.
— Primeiro que espero que o lance da surra não seja necessário.
Segundo: sua casa? Jake precisamos mesmo falar disso?
— Não recebi um convite oficial para morar aqui, então ainda moro
lá — Jake resmungou, pegando seu sorvete de volta.
— E precisa?
— Sim, precisa. E um pedido bem legal. Steve Alexander colocou o
padrão lá em cima. Se vira.
— Pensarei em algo. — Jason sorriu e beijou o rosto do namorado.
— Vou marcar com Wade na próxima quarta, não interfere nos treinos.
— Estarei o tempo todo junto e não prometo me comportar!
— Ainda bem que está aí, porque não estou gostando disso — Rose
disse.
— Também não, mas Jason precisa de um encerramento — Jake
respondeu. Eles estavam em ligação enquanto esperavam Wade chegar.
O loiro achou muito estranho que o irmão, que havia rejeitado Jason
por anos, marcasse o encontro para o dia seguinte a quando o DE respondeu
a mensagem. Era muito desespero para seu gosto, e ele deixou isso claro
para Jason, que concordava. Mas o QB entendia o moreno.
Jason nunca tivera um encerramento, as coisas nunca foram
conversadas, seus pais o mandaram para fora, e foi isso. Houve encontros
ocasionais e conversas superficiais sem interesse de nenhum dos lados.
Então o moreno estava vendo aquilo como sua chance de, possivelmente,
encerrar aquela história de uma vez.
Sentia-se melhor porque tinha Jake do seu lado, ele o fazia se sentir
seguro e amado, o que fazia muita diferença. Jason havia passado os
primeiros quinze anos da sua vida implorando pelo amor da sua família, até
que desistiu deles. Agora, com Jake, não precisava implorar, não tinha
sofrimento, eram só os dois vivendo e sendo felizes.
Noah, seu avô, dizia que, se não fosse fácil, não seria amor. Que
você pode estar no meio de uma guerra, lutando para sobreviver, exausto e
com medo, mas que os braços da pessoa que ama deveriam ser seu lugar
seguro. Se a pessoa que está com você não te faz se sentir assim e se você
não faz essa pessoa sentir o mesmo em seus braços, não é amor.
Enquanto Jason andava até a porta para atender a campainha, olhou
para Jake fofocando com Rose no celular e sorriu. Ele sabia que o que tinha
com Jake era amor.
— Jason! — Wade sorriu assim que o moreno abriu a porta.
O irmão o abraçou, mas Jason não correspondeu. Wade estava
sempre bem-vestido, com seu terno sob medida e cinto e sapato
combinando. Fazia anos que o DE não o via pessoalmente, não parecia que
ele tinha mudado, e era um pouco triste olhar para seu irmão e não sentir
nada. Mas ficou feliz porque isso incluía não sentir mágoa. Olhar para
Wade era como olhar para alguém que você acha parecido com alguém que
conhece. Aquela pessoa lembra alguém do seu passado, mas, na verdade,
ela mesma não é ninguém importante.
— Wade acabou de chegar — Jake sussurrou para Rose. —
Caramba, ele se parece com Jason, só que uma versão feia.
— Jason teve sorte que puxou Noah, Wade tem olho muito junto,
sabe o que dizem sobre pessoas de olho junto — a senhora respondeu
bufando.
— Vou desligar para ir até eles, te ligo mais tarde com atualizações.
— Certo, cuide do nosso menino.
— Não se preocupe, Rose, vou cuidar — Jake garantiu e desligou.
— Olá, sou Jake.
— Sim, sim, Jake Lewis. Eu acompanho as notícias. — Wade sorriu,
para o loiro, e isso o fez parecer uma fuinha. Eles apertaram as mãos
educadamente. — Você é considerado um dos melhores QBs da última
década. Dizem que é o que salvou o Rhynos. — Wade riu.
— Isso é exagero, Rhynos já tinha Jason. Apenas ajudei o ataque,
porque a defesa já tinha o melhor capitão da liga.
— Claro, meu irmão sempre foi o melhor — Wade disse, colocando
a mão no ombro de Jason. Jake não gostou nada daquilo; depois de tudo o
que havia acontecido, ele achava que era só chegar e tinha o direito de pôr
as patas imundas em Jason?
— Vamos jantar? — Jason sugeriu, escapando do toque de Wade.
— Vamos? Achei que seríamos só nós dois — o irmão comentou,
olhando de Jason para Jake.
— Hoje não — o loiro respondeu.
— Sinto muito Wade, muita coisa aconteceu e não me sinto
confortável de jantarmos só nós dois. O que precisar dizer para mim, pode
dizer na frente de Jake.
— Até porque, vai que Jason precisa de uma testemunha, não é
mesmo? — Jake disse, dando de ombros enquanto dava a volta pela mesa.
— Estou brincando, é claro.
— Claro — Wade concordou, incerto. — Sei que tudo foi difícil,
mas eu quero voltar a ter um relacionamento com você. Jason, você é meu
irmão, pode confiar em mim.
— Eu nunca pude, Wade, e esse sempre foi o maior dos nossos
problemas — Jason respondeu, sentando-se ao lado de Jake. — Mas estou
disposto a te ouvir.
— Obrigado — Wade murmurou, sentando-se. — Como as coisas
estão indo? Estou acompanhando as notícias, o time está indo muito bem.
— Sim, estamos. Domingo enfrentaremos nosso maior desafio por
enquanto, mas estamos focando em um jogo de cada vez — Jason
respondeu educado enquanto eles se serviam da macarronada que Rose e o
moreno haviam feito.
Na verdade, praticamente, só Jason tinha cozinhado. Jake e Rose
ficaram conversando o tempo inteiro e, em algum momento, abandonaram
o DE na cozinha para que Rose mostrasse a Jake a série antiga do Zorro, da
década de 60, que tinha no Disney+ e ela amava assistir quando era criança.
Os dois assistiram a vários episódios e combinaram de assistir tudo juntos
na folga dos treinos.
Jake observava a interação dos irmãos. Jason respondia
educadamente e dava a impressão de que estava interessado na conversa,
mas suas respostas eram apenas algumas variações das respostas que dava
para jornalistas que sempre perguntavam as mesmas coisas.
Wade falou que tinha se arrependido de como tratara o irmão, que
sentia sua falta e havia ficado com vergonha de entrar em contato. Jake teve
que tomar um grande gole de água para não comentar que era coincidência
a “vergonha” ter acabado justamente quando Jason estava se consagrando
um dos melhores jogadores da temporada.
— Até comentei com Brent que viria para cá, ele lamentou que está
na faculdade e não poderia vir.
— Não, espere — Jason o interrompeu. — Aceitei me encontrar
com você, e podemos conversar para tentar criar algum tipo de
relacionamento, mas não quero contato com o resto da família.
Principalmente Douglas e Lisseth.
— Papai e mamãe se arrependem de tudo, eu vejo isso toda vez que
seu nome é citado ou que aparece em alguma notícia.
— Não me importo, não quero contato. E, se você forçar algo, te
cortarei também — avisou.
— Claro, vamos nos seus termos. — Wade sorriu, e Jake quis
revirar os olhos. Podia ser implicância, mas não confiava em Wade.
O jantar acabou, e o loiro achou que teriam que enxotar Wade da
casa, mas ele acabou indo embora. Agora Jake e Jason estavam na cama,
conversando sobre aquilo.
— É normal eu não sentir nada? — o moreno perguntou.
— Como vai sentir algo por um estranho? — o loiro perguntou. —
Quando eu ia para minha cidade natal e via minha mãe, ela sempre me
abraçava, dizia que me amava, que estava orgulhosa de mim. Mas ainda
estava casada com meu pai, ainda morava na mesma casa e ainda dava
pequenas desculpas para tudo o que ele fazia. Não há amor que sobreviva.
— Você ainda a ajuda?
— Teoricamente sim, mas é tia Maristela que cuida disso. Ela separa
um valor para minha mãe e a mãe de Chase. Para a mãe de Carson, ela paga
a reabilitação toda vez que Esmeralda, a mãe dele e irmã mais velha da tia,
jura que vai mudar. O que, infelizmente, nunca acontece. Então ajudamos
nossas famílias biológicas, mas não temos muita interação. O único que vê
alguém é Chase, porque tem uma irmã mais nova e gosta dela.
— Mesmo depois de tudo, vocês ainda os ajudam, não é todo
mundo que faria isso.
— Não me ache um bom samaritano. Eu ajudava minha mãe, mas
estava cansado, porque sei que nunca vai mudar. Foi tio Mauricio que nos
convenceu a sempre ajudar. Ele disse que no futuro seríamos jogadores
famosos e, quando alguma rede de televisão fosse fazer reportagem, não
iríamos querer que parecesse que somos arrogantes e abandonamos a
família. Então era bom ter os recibos. — Jake deu de ombros, o que fez
Jason rir.
— Obrigado — o moreno sussurrou antes de beijar o loiro.
— De nada, mas pelo que está me agradecendo?
— Por ser assim e por estar aqui.
— Esperei oito anos para estar bem aqui, ninguém me tira daqui. —
Jake indicou a cama do moreno, o que fez Jason rir ainda mais. — Olha,
pode ser que seu irmão realmente teve uma crise de consciência e resolveu
reatar uma “irmandade” que só existiu na cabeça dele. Pode ser que sua
família esteja elaborando um plano obscuro e nefasto que precisa de você.
Ou alguém precisa de um rim, sei lá. Não sabemos o que é, mas estamos
juntos nessa. Assim, como você tem a mim, têm Rose, Chase, Carson, tia
Maristela, tio Mauricio, Sofia, Jay, Sadie, as crianças. E agora temos gente
famosa do nosso lado. Temos até um bilionário na nossa lista de contatos e
nos convidando para passar as férias com ele.
— Isso é surreal. — Jason sorriu.
— Sim. — Jake riu. O loiro se virou e se sentou no colo de Jason,
olhando em seus olhos. — A questão é que, depois de tudo o que aconteceu,
tudo que conquistou e tudo que tem agora, principalmente as pessoas que
têm na sua vida agora, sua família não importa. Eles escolheram esse
caminho, não você, então não se culpe por nenhuma consequência. Se eles
querem estar na sua vida de novo, eles que corram atrás e conquistem seu
afeto e confiança. Deixe que eles se esforcem, a única coisa que você tem
que fazer é julgar se esses esforços estão valendo a pena. E, se no final você
achar que não, corte eles da sua vida sem remorso nenhum.
— Não dizem que o perdão é uma coisa importante? — o moreno
provocou, fazendo carinho no rosto do loiro.
— Se eles não tivessem sido uns merdas com você, não precisariam
de perdão — Jake desdenhou. — Quem precisa de segunda chance é quem
fez a merda. Porque quem foi machucado tem que passar pelo processo de
cura e quando estiver bem, como você está, no caso, tem que seguir em
frente e fazer o melhor para si. Você não precisa dar uma segunda chance
para ser machucado de novo. Eles que corram atrás e provem que nunca
mais farão isso, e, se você não estiver convencido, mande irem se foder.
Você não precisa deles!
Jake falava com tanta certeza que aqueceu o coração de Jason. Até
porque o loiro tinha razão, o moreno não precisava deles. Jason o puxou e o
beijou.
Ele precisava da sua família verdadeira, aquela que havia escolhido,
por perto. E Jake era sua família.
@elleryder
Quem diria que, de todos, seria justo o Jesse Dancy que fosse uma bicha?
Jurava que seria aquele do Rhynos, que tem cara de viado
@mostree
O Jake Lewis? Também jurava que ia ser ele
@jeffstorm
Nojo de ter comprado a camiseta de jogo dessa bicha! Espero que seja
demitido do time! Ele que vá para aquele time de viados do Rhynos!
@trishxxx
Espero que Jesse Dancy fique bem, sinto por tudo que está acontecendo
com ele. Ninguém merece passar por isso #respectfordancy
@tinihigh
Agora que tem outro jogador gay, quem sabe o Jake Lewis saia de cima do
Jason Brody e fique com esse Jesse Dancy?
@jasenews
Nós, do perfil de uptades Jase, estávamos comemorando a vitória do
Rhynos e surtando com as fotos do nosso casal. Foi então que vimos o que
aconteceu com Jesse Dancy e sentimos por ele. Isso foi cruel e desumano,
esperamos que ele fique bem e prestaremos apoio no que pudermos
Não foi necessário rolar um pouco mais do feed para achar do que
estavam falando. Eram fotos e mais fotos de Jesse Dancy com o suposto
namorado. Eles juntos, viajando, na praia, jantares românticos, beijando-se.
Tinha até um vídeo deles em uma festa, onde se beijavam encostados em
uma parede. Era nítido que eram eles e os dois não sabiam que estavam
sendo filmados, já que era um momento íntimo.
Jake e Jason se entreolharam, Dancy estava sendo atacado por todos
os lados. Logo perfis de pessoas públicas começaram a opinar, alguns
prestavam apoio ao jogador, outros o atacavam. Naquele momento, os
jogadores do Rhynos não podiam fazer nada, a não ser lamentar por ele.
Era quarta à noite, Jake e Jason estavam indo para seu encontro com
Wade e Brent. Na segunda tinham jantado com Rose, Mauricio e Maristela
como planejado. Rose tinha adicionado fotos de todos eles, Carson, Chase e
Sofia às fotos da família na parede. Jason sentiu muito orgulho de ver sua
foto com Jake ao lado da foto dos seus avós.
Ele queria muito que Noah estivesse vivo para ver tudo o que
moreno tinha conseguido. Seu avô teria amado Jake, certeza de que teriam
se tornado grandes amigos e até jogariam um pouco juntos. Onde quer que
Noah Brody estivesse, Jason esperava que estivesse assistindo e estivesse
orgulhoso.
Na terça à noite marcaram uma noite de videogames, Jason e Jake
chegaram na casa dos amigos e, além de Carson e Chase, Bruno e Jesse
estavam lá. Eles poderiam comentar que a camiseta de Jesse era de Chase
ou que a bermuda que Bruno usava era de Carson, mas decidiram apenas
ficar quietos e seguir com o resto da noite.
Enquanto Carson e Bruno eram barulhentos, provocavam todo
mundo e se ofendiam toda hora, Chase e Jesse eram mais calmos, riam de
tudo, soltavam piadas ocasionais e se provocavam mais veladamente. Jake e
Jason se entreolharam e riram.
Então quarta-feira chegou, arrumaram-se e foram até o endereço que
Wade tinha passado. Segundo ele, era uma casa que tinha alugado em um
bairro nobre de Raleigh. Jason se perguntou se deveria cancelar e ir embora,
mas Jake disse que era melhor resolverem aquilo de uma vez.
Ao tocarem a campainha, Jason respirou fundo, e Jake segurou sua
mão, mostrando que estava lá por ele. Aquele jantar podia apenas ser mais
um encontro monótono ou terminar de um jeito catastrófico, eles ainda não
sabiam. Mas o importante era que estavam juntos, e isso não mudaria.
— Oh, olá — Wade disse, abrindo a porta. Ele sorria um pouco
nervoso, e aquilo não era um bom sinal. — Que bom que chegaram.
— Tudo bem? — Jason perguntou, desconfiado, entrando na bonita
e elegante casa.
— Claro, por que não estaria? — o irmão respondeu. — Oi, Jake.
— Wade. — O loiro o cumprimentou com a cabeça.
A casa enorme e elegante era bem-decorada, mas era impessoal,
como casas para passar finais de semana ou feriados, não para se viver,
como Wade disse que pretendia.
— O jantar foi servido, lá fora. — Wade indicou a porta de vidro do
outro da sala, que dava para a área da piscina. — Vamos lá.
— O que está fazendo? — Jason perguntou para o namorado, que
digitava algo no celular.
— Avisando Nathan que, se não respondermos em meia hora, é para
mandar aqueles seguranças assustadores e chamar aqueles agentes loucos
amigos dele — o loiro respondeu, terminando de enviar a mensagem.
Jason riu, puxou o namorado e beijou seus cabelos, mas sua risada
morreu quando chegaram ao lado de fora. Em volta da mesa, estavam
Brent, Lisseth e Douglas Brody.
— Estamos saindo — Jason avisou sério.
— Jason, espere, por favor — Wade implorou.
— Nunca mais fale comigo — o moreno o interrompeu.
— Jason, por favor, nos escute — Lisseth implorou.
— Jason, por favor! — Brent implorou.
— Como vocês têm coragem de me pedir alguma coisa? — Jason
estava irritado.
— Amor, se acalma — Jake pediu. — Escute o que eles têm a dizer.
— Quer que eu dê uma chance para eles? — perguntou, revoltado e
se sentindo traído.
— Claro que não, quero que todos eles vão para a casa do caralho.
Escute apenas para entender que o problema sempre foi eles. Você carrega
esse peso dentro de você por culpa dessas merdas. Olhe para eles,
miseráveis, te implorando por atenção. Dê essa chance para você, diga tudo
o que quer e encerre esse ciclo. Tudo bem?
— Certo — o moreno resmungou
— E quem é você? — Douglas Brody perguntou, irritado.
— Não me irrita, porque é graças a mim que ele vai dar quinze
minutos de atenção para sua família. Apenas falem logo.
— Como você está, querido? Faz tanto tempo que não nos falamos.
— Lisseth tentou encostar em Jason, mas ele recuou, ficando ao lado de
Jake.
— Eu disse para não perderem tempo, vamos ao assunto principal
— Jake falou, cruzando os braços.
— Quem é esse... esse... — A mulher procurava uma palavra boa o
bastante para ofender o loiro, que apenas revirou os olhos.
— “Esse” é o amor da minha vida, minha família. E, se vai ofendê-
lo, estou saindo.
— Jason, espera — Wade pediu. — O que queríamos falar com você
é que a família não está muito bem e precisamos de ajuda.
— Ajuda no quê? — perguntou entredentes. — Querem dinheiro?
— Não, quer dizer, talvez, é complicado. — Wade suspirou. — Vou
me casar em alguns meses, a família da minha noiva é muito rica e
influente. O casamento será grandioso, e eu vou te chamar para ser meu
padrinho, mas as coisas estão complicadas.
— Fale logo!
— Meu futuro sogro tem ligações com vários políticos, ele vem de
uma linhagem conservadora, e sabe como todos dizem que tenho carisma.
Ele quer que eu me candidate nas próximas eleições para dar um futuro
confortável para sua filha, primeiro para deputado e, quem sabe, logo um
senador. E eu realmente preciso disso, porque as coisas no escritório da
nossa família não estão bem. Só que eu preciso de um apoio popular para
que as pessoas me conheçam e confiem em mim.
— Você quer que eu te apoie publicamente nas eleições? — Jason
perguntou, confuso.
— Eu preciso disso, porque as pessoas não me conhecem, e não tem
como eu usar só do meu carisma para convencer milhões de pessoas a votar
em mim. Mas meu sogro é de uma família muito conservadora, e toda essa
atenção que seu time tem recebido não combina muito.
— Amor — Jake chamou o namorado, usando aquela palavra de
propósito —, ele quer que você pare de apoiar a comunidade LGBT, seja
contra o que Rhynos vem falando e fique no armário por toda sua vida, para
que ele seja eleito.
— É isso? — Jason perguntou de um jeito frio para o irmão, que
engoliu em seco, sem saber como responder.
— Não é só isso — Lisseth disse. — Brent está em uma faculdade
de ponta, ele está cursando direito, mas suas notas estão indo mal. Ele
precisa ser aceito em um programa de estudos para não reprovar. Para ser
aceito precisa de indicações. Se você fizer uma carta dizendo o quão
próximos são e o quão inteligente e dedicado ele é e pedir para alguns
amigos fazerem, os coordenadores do curso verão que Brent merece essa
vaga.
— Amigos, tipo Nathan Grant?
— Sim. — Lisseth sorriu aliviada, achando que Jason tinha a
entendido. — Também precisaremos de ajuda financeira. Com o casamento,
a faculdade e esse programa de estudos, estamos gastando muito mais do
que pensamos. Não precisa pagar todas as nossas contas, só assumir a
educação de Brent.
— Só? — Jason riu sem humor. — Vocês me descartaram como
lixo, nunca me trataram com alguém da família e, na primeira oportunidade,
me jogaram fora. Passaram mais de dez anos ignorando a minha existência
e, quando eu finalmente estou bem, prestes a conseguir chegar ao meu
maior objetivo, que é o Super Bowl, vocês precisam de mim?
— Jason, não é isso. Nós...
— Sinto muito, amor, mas eles não precisam de você, precisam do
que você pode fornecer a eles — Jake disse. — Não se importam com você
ou com o que sente, só se importam com a maneira como você pode servi-
los.
— Cale a boca! — Douglas Brody gritou, levantando-se.
— Vai se foder — Jake disse olhando nos olhos do homem mais
velho. — Jason, foi isso que eu quis dizer. Você precisava ouvir, para
encerrar esse assunto. Eles não são família, nunca foram.
— Tem razão. — O moreno suspirou.
— Não ouça as merdas que esse moleque diz! Nós somos sua
família! É a nós que você deve lealdade!
— E quando foram leais a mim?! — Jason estourou com o pai. —
Querem que eu fique preso no armário por toda minha vida só para que
Wade, supostamente, conquiste alguma coisa?
— Famílias se sacrificam um pelo outro, é a sua vez!
— Minha vez? E quando não foi a minha vez? — Jason negou com
a cabeça. — Vocês nem valem o esforço.
— Jason, pare de drama — Wade insistiu. — Já ficou no armário até
agora, o que custa ficar mais tempo?
— Você é um dos maiores imbecis que já vi na minha vida. — Jake
negou com a cabeça.
— Vamos embora, espero nunca mais ver vocês — Jason avisou e se
virou para sair.
— Não! Você não pode fazer isso! — Wade entrou em sua frente.
— Saia do meu caminho e suma da minha vida! — Jason vociferou
para Wade.
— Você precisa me ajudar, sou seu irmão! — o outro respondeu.
— Se lembrou disso agora? — O DE estava irritado. — Onde estava
quando precisei? Onde estava quando seu pai me expulsou de casa? Onde
estava quando sua mãe bateu na minha cara e me chamou de aberração?
Onde estava em cada momento bom ou mau da minha vida? Não fale
besteiras, Wade, você não é nada meu, muito menos meu irmão.
— Você precisa superar!
— Superar o quê, exatamente? O fato de a minha família escolher
fingir que eu não existia em vez de aceitar que sou gay? — Jake segurava o
braço de Jason tentando confortá-lo de algum jeito.
— Por que você não pode entender? Foi difícil, só isso.
— Difícil? Foi difícil para mim, vocês continuaram suas vidas
estúpidas! Você não sabe de nada! Nunca precisou se preocupar e nunca se
importou, de qualquer forma.
— Jason...
— Não se atreva! — Jason interrompeu Lisseth, que ficou surpresa
pela rispidez.
— Não fale com sua mãe assim! — Douglas brigou.
— Ela não é minha mãe, como você não é meu pai. — As palavras
de Jason atingiram os pais e irmãos, e isso o irritou. Como se eles tivessem
o direito de ficar ofendidos com qualquer coisa.
— Jason, sei que não era isso que você pensou, mas podemos
conversar — Wade insistiu.
— Você me enganou, disse que me queria de volta na sua vida. Mas
o erro foi meu de ter cogitado essa hipótese.
— Queremos você de volta — Lisseth insistiu. — Só precisamos
que você faça alguns sacrifícios pela família.
— Agora que estou prestes a jogar o Super Bowl é fácil me querer,
não é? Agora que meu nome está em todos os lugares, que tenho amigos
muito mais ricos e influentes que vocês, me querem de volta. Agora que
Nathan Grant dá entrevistas dizendo que sou amigo dele, vocês conseguem
“superar” o fato de que sou gay. Mas só se eu não contar para ninguém que
sou gay e namoro um homem, não é?
— Não é isso! — Wade disse como se estivesse ofendido, e Jake riu
debochado. — Não se meta em assunto de família, sua bicha!
— Não! — Jake segurou Jason, que quase socou o irmão. Não que
Wade não merecesse, o medo de Jake era que Jason não parasse. — Jason é
minha família!
— Você nem deve saber o que é isso. — Douglas bufou.
— Sei muito bem reconhecer uma família, e a sua é um dos piores
exemplos que já vi. — Jake indicou Wade, Lisseth e Brent, que até agora
estava quieto. Então se virou para Wade. — Você armou para seu irmão vir
aqui achando que esse teatrinho estúpido e muito mal-executado iria o
convencer. Vocês são tão burros que acham que Jason voltaria correndo
para seus braços. Olha o que ele construiu, olha como as pessoas o
admiram, olha o que falam dele, olha ele! Ele é incrível e tão bom em tudo,
que chega a ser irritante. Vocês são nada perto dele, então porque Jason
“Steamroller” Brody precisaria de vocês para algo?
— Você...
— Não, espera. Vocês servem para uma coisa, sim. Para fazer Jason
rir do quão patéticos são. — Jake deu seu famoso sorriso provocador, um
dos vários que Jason amava. — Também servem para ele ser agradecido por
não ter se tornado um de vocês.
— Sou grato por isso — Jason concordou.
— Se fosse minimamente parecido com isso — o loiro fez careta de
nojo, indicando Wade — nosso relacionamento nem teria começado. Vamos
sair daqui e comprar um belo buquê de rosas para a vovó Rose.
— Vai deixar que ele fale assim de nós? — Douglas Brody indicou
Jake quando usou a palavra “ele” carregada de nojo e desprezo.
— Vou embora com Jake e espero nunca mais ver nenhum de vocês.
Vou bloquear seus contatos e tratá-los exatamente como me trataram até
agora. Não tentem entrar em contato, não perguntem de mim e, mesmo que
estejam no leito de morte, não falem comigo. Não me importo.
— Não pode fazer isso, somos sua família! — Lisseth gritou. —
Precisamos de você, o futuro dos seus irmãos depende de você!
— Que azar, né? — Jake riu.
— Azar? — O moreno riu. — Espere até ver como a família
influente e conservadora da noiva de Wade reagirá quando eu me assumir
gay na frente de todo mundo.
— Você não pode fazer isso! — Douglas falou bravo, Wade estava
com os olhos arregalados. — Sabe que, se souberem que é gay, você não
vai conseguir nada. Nunca chegará a algum lugar.
— Você tem muito medo de que seus amigos saibam que tem um
filho “bicha”, não é? — O moreno sorriu de canto. — Passou o tempo que
eu fazia alguma coisa para agradar vocês. Vocês não terão minha ajuda em
nada, nem da minha influência, meu apoio ou meu dinheiro. Apenas
saberão de mim quando todos os lugares noticiarem que me assumi gay ou
quando noticiarem que ganhei o Super Bowl.
— Não! Você não pode fazer isso! — Brent começou a berrar, como
uma criança pequena fazendo birra. Enquanto isso, Wade estava pálido,
meio esverdeado, parecia que ia vomitar ao perceber que Jason não ajudaria
mesmo. — Papai! Mamãe! Vocês prometeram! Jason, você tem que fazer
isso!
— Não — Jason disse, sorrindo. — Como seus pais sempre me
disseram quando eu pedia qualquer coisa, mesmo que fosse ajuda no dever
de casa, “cresça e se vire sozinho”.
— Não! — Brent jogou a cadeira contra o gramado, em um ataque
de fúria.
— Vai virar as costas para sua família? — Douglas perguntou,
vermelho de raiva, Lisseth tentava controlar o filho mais novo.
— Claro que não, sempre cuidarei da minha família. Mas minha
família é composta por minha avó e por meu namorado — o DE respondeu,
Jake sorriu feliz.
— Seu imbecil, por que não podia superar o passado e seguir em
frente? — Wade esbravejava, mas Jason e Jake estavam saindo. — Ele vai
te largar, vai achar outro idiota, e você vai ficar sozinho! Seu imbecil! E
aposto que nem vão ganhar! Só estão indo bem nesta temporada, mas vão
se ferrar nas outras, como sempre!
— Sabe, até pode ser — Jake disse, virando-se para ele. — Pode ser
que não ganhemos nesta, mas, ganhando ou não, vamos continuar tentando
ser o melhor que pudermos. Mas quando acabar o dia, Jason e eu
continuaremos milionários. E vamos continuar fazendo essas publicidades
que nos rendem mais dinheiro. Quando nos aposentarmos, antes dos 40
anos, ainda teremos amigos influentes e ricos e nós seremos ricos. Podemos
aproveitar nossa aposentadoria onde quisermos. Enquanto vocês estarão
falidos. O karma é uma vadia, não é?
— Vai se arrepender de escolher ele! — Lisseth gritou, chamando a
atenção de todos. — Sangue é mais espesso que água, e é o nosso sangue
que corre pelas suas veias. Nós somos sua família!
— Isso era para fazer algum sentido ou me comover? — Jason a
olhou como se ela fosse louca.
— Até que ela tem razão. Sangue é mais espesso que água, mas sabe
o que é mais espesso que sangue? — Jake sorriu debochado. — Porra!
Porra é bem mais espessa que sangue. Então, não tenho o sangue de Jason,
mas tenho uma quantidade considerável da porra de Jason em mim toda
noite, acho que dá na mesma. Até nunca mais!
— Pelo poder investido a mim, eu os declaro marido e mulher — o
juiz disse, e todos aplaudiram quando Kevin abraçou Nora e a beijou.
Era o final de semana de folga dos jogos, quase o time inteiro estava
no casamento do linebacker. Jason era um dos padrinhos, ficando logo
depois do irmão de Kevin. A madrinha que entrou com ele até tentou dar
em cima dele, mas Nora deu uma bronca, e a outra parou.
O casamento estava lindo, Nora tinha muito bom gosto. A
decoração era toda clara, mas não de um jeito enjoativo. A cerimônia foi
realizada em um espaço, depois os convidados apenas andaram por um
corredor para chegar aonde seria a recepção. A ideia original era que fosse
feito do lado de fora, mas era inverno, então não quiseram arriscar.
Jason usava um conjunto de terno de três peças preto, camisa
branca, gravata borboleta preta e uma flor amarela e branca na lapela, como
todos os outros padrinhos. Jake era convidado, então usou terno preto com
detalhes em amarelo. Como seu estilo nunca era muito formal, ele tinha
mostrado as fotos do que queria usar para Nora, que amou.
Os noivos não tinham crianças na família, os filhos de Jay que
foram os floristas, então Agatha usava uma réplica do vestido da noiva, mas
em uma versão mais confortável para a menina. Sadie tinha postado uma
foto de Jason, Jake e as crianças, o que gerou furor e até teorias de que eram
eles que estavam se casando. Os dois achavam engraçado.
— Essa será a capa de várias fanfics — Sadie brincou sobre a foto.
Ela estava linda em seu vestido azul claro. — Até vou tirar mais fotos para
abastecer os Jase shippers.
— Eles a tratam como uma rainha, até mandam presentes pra ela —
Jay contou.
— Por que dão presentes para você e não para nós? — Jake
perguntou, revoltado.
— Porque eu sou especial. — Ela deu de ombros e riu. — E porque
eles sabem que podem contar comigo para estarem atualizados, já que, se
não for algo divulgando o próximo jogo, vocês nem lembram como se posta
uma foto.
— Isso é verdade, a tia pegou a senha das redes deles para postar as
fotos que o Scott tirou — Chase falou.
— Só esses dois imbecis para ter fotos feitas por um fotógrafo
famoso, que todo mundo morre para conseguir um horário com ele, e não
postar. — Carson negou com a cabeça.
— Tudo certo por aqui? — Kevin perguntou, sentando-se com eles.
Todos responderam que sim e elogiaram o casamento.
— Tenho uma pergunta — Jay avisou. — Se não estivéssemos em
primeiro lugar, não teríamos esse fim de semana de folga, então teríamos
jogo amanhã. Por que você marcou seu casamento em um sábado? Ou tinha
muita fé de que iriamos muito bem nesta temporada ou já tinha desistido e
ligou o foda-se se iríamos jogar no outro dia.
— Não. — Kevin riu. — O casamento estava marcado para sexta-
feira, ontem, porque, se jogássemos na quinta, domingo ou segunda, não
iria interferir. Aí na pré-temporada estávamos indo bem e ainda ganhamos
do Steel, então falei para Nora que podia mudar para o sábado, como ela
queria. — Ele deu de ombros.
— Então foi fé mesmo. — Jake riu.
— Imagina se dá merda e a gente não consegue ficar em primeiro?
— Carson brincou. — Oito da noite, e todo mundo, incluindo o noivo,
tendo que ir para a concentração.
— Isso se o jogo fosse aqui em Raleigh. Se não fosse, teríamos
embarcado, com sorte, logo após a cerimônia — Jason completou.
Na mesa estavam Jason, Jake, Jay, Sadie, Carson e Chase. Nora
conseguiu colocar Jesse e Bruno também. A noiva tinha ficado amiga do
fisioterapeuta, já que ela também era da área médica. Jesse continuava
calado, mas estava se abrindo mais, conversando mais, e isso era um bom
sinal.
— Semana que vem acabou a folga — Isaac os avisou, chegando
perto.
— Aproveitei demais a minha folga, não fiz nada — Jay falou, e
eles riram.
— Joguei videogame, fiquei na cama e comi, foi perfeito. — Carson
sorriu. — Não vou nem perguntar o que “Jase” fez na folga, mas e você,
Isaac? O que fez?
— Terminei um curso que estava fazendo havia meses, mas, como
nunca tinha muito tempo, consegui finalizar agora. — O técnico deu de
ombros. — Nada demais, mas sinto que vou usar em breve.
— Ok, mestre dos magos — Jake brincou, e todos riram.
Quando a pista foi liberada, alguns do grupo foram dançar. Bruno
era um excelente dançarino e estava com Sadie e Nora ensinando alguns
passos. A maioria nem se atrevia a tentar imitar, mas todos estavam se
divertindo. Quando começou a música lenta, vários casais se juntaram na
pista. Jason estendeu a mão para Jake, que aceitou, sorrindo.
— People fall in love in mysterious ways. Maybe just the touch of a
hand — Jason surrava a música que dançavam no ouvido de Jake, que
sorria. — Well, me, I fall in love with you every single day. And I just wanna
tell you I am.
Enquanto dançavam “Thinking Out Of Loud”, do Ed Sheeran, eles
não estavam se importando se teriam fotos e vídeos disso, se alguém os
filmasse dançando e postasse. Não se importavam com os olhares curiosos
de quem estava na festa e não os conhecia. Eles não tinham medo. Jason
não tinha mais medo.
E isso era a melhor coisa de todas.
Na noite de Natal, dias depois do jogo, Jake tirou uma foto sua
usando a camiseta que tinha ganhado das fãs naquele dia. Era apenas a
silhueta de Jason e Jake dando um soquinho no campo. Em volta havia
corações desenhados, alguns amarelos, outros pretos e alguns com as cores
da bandeira bissexual. No pacote, tinha os nomes de usuário das garotas, ele
as marcou na foto e desejou um Feliz Natal na legenda.
— Nathan nos convidou para passar uns dias no Caribe depois que a
temporada acabar — Jason disse, abraçando Jake.
Eles estavam na sala da casa, Rose dormia em um dos quartos de
hóspedes. Tinham jantado juntos e montado uma grande árvore de Natal.
Na manhã seguinte, o resto da família chegaria para tomar café da manhã.
Mauricio e Rose fariam um almoço especial, e muita coisa já estava quase
pronta.
O time tinha conseguido escapar de jogar no Natal, mas jogaria
justo na noite do dia 31 de dezembro. Então eles estavam aproveitando o
feriado em casa.
— Ele sempre fala do Caribe e como ama Porto Rico — Jake
respondeu, bebendo seu chocolate quente. — Logan disse que Nathan quer
levar algum jogo da liga para lá.
— Contando que um dos times seria o nosso, aposto que os outros
vão se matar para serem escolhidos. — O moreno riu.
Jason havia passado quase todos os Natais da sua vida com Rose e
sempre os amou, mas ter a família Herrera/Meneses/Graham/Lewis o fez
amar ainda mais. Como Maristela e Mauricio eram de famílias mexicanas,
seguiam muitas tradições, então foi divertido. Eles falavam alto, eram
bagunceiros, mas eram muito carinhosos. Então tudo foi perfeito.
O jogo no dia 31 foi em Utah. Eles estavam tão perto de Las Vegas,
que Jason pensou mais de uma vez se seria tão ruim escaparem para a
“cidade do pecado” e talvez, só talvez, tornarem oficial o relacionamento
deles. Mas focou no jogo e na comemoração pela vitória. Eles estavam
muito perto de conseguir realizar o maior sonho de todo jogador de futebol
americano.
No meio da festa de virada de ano, quando a contagem regressiva
acabou, Jake e Jason se beijaram. Eles estavam realizando tudo o que
sonhavam juntos, mesmo aquilo que eles nem sabiam que podiam sonhar.
O primeiro jogo de janeiro também era o primeiro jogo de Jesse
Dancy no time. Ele estava nervoso, mas os companheiros tentavam acalmá-
lo. Jake estava calmo, tinham treinado bastante, e ele confiava no seu
potencial. O time estava ansioso, faltavam mais dois jogos, e então seria a
final da liga.
Depois disso, o Super Bowl.
— Como você consegue ser tão calmo? — Carson perguntou. —
Não é à toa que te chamam de Coração de Gelo.
— Só confio em mim mesmo e no time. Sei que todos treinamos
muito, nos preparamos, e tenho consciência de que, neste momento, somos
melhores que o adversário — Jake respondeu, dando de ombros.
— Se ele não teve medo quando enfrentou Devon Butler, não tem
medo de mais nada — alguém brincou.
— Devon Butler é só mais um jogador que deu sorte de estar em um
time bom. Mesmo que ele fosse tudo que falam dele, se não tivesse uma
boa equipe, também perderia — Jake respondeu, e Jason sorriu de canto.
O ataque parecia um pouco hesitante no início do jogo, o que rendeu
uma boa bronca de Jake em todos. Depois eles se alinharam, e as coisas
começaram a fluir.
Jesse, que estava com tanto medo, se deu muito bem na função. A
confiança que Jake e o resto do ataque tinham nele ajudaram-no a confiar
em si mesmo. Depois de tudo que havia acontecido, Rhynos tinha aberto as
portas e o acolhido, ele não decepcionaria ninguém.
Mais uma vitória, mais uma comemoração, mais perto do sonho.
Todos estavam ansiosos. Quanto mais passava o tempo, mais a expectativa
aumentava. Cada jogador tentava se distrair como podia, passeando com a
família, fazendo hobbies, indo a shows, o que funcionasse.
Jake e Jason foram a um show de Mason Callahan, namorado de
Cole Brendon e um dos melhores amigos de Eric Blake. Apesar de não
terem ido sozinhos, afinal seus amigos estavam em volta, ali ganharam uma
música dedicada a eles. E, enquanto Mason cantava sobre deixar o passado
para trás e seguir sendo uma pessoa mais forte, corações amarelos e pretos
apareciam no telão.
Então chegou o dia da grande final, o dia que eles estavam
esperando havia tempos. Mas, como nada podia ser tranquilo, o adversário
deles era San Antonio Sand Storm, o antigo time de Jesse.
— Vocês sabem como eles são, não quero moleza, e nem precisam
ser gentis. Se eles usarem de violência com vocês, devolvam com violência
— Isaac disse antes do jogo. — Eles irão para cima de Lewis e Dancy, os
protejam. Vamos falar a verdade, são uns preconceituosos nojentos e não
aceitam que somos invictos enquanto eles tiveram que ter sorte para chegar
até aqui.
— Defesa, lembram do último jogo contra eles? — Jason perguntou.
— Como Jay disse, o objetivo é que o QB do San Antonio fique mais
tempo com os pés para cima do que no campo.
Faltando poucos segundos para acabar o jogo, Rhynos ganhando por
apenas um ponto, o ataque estava a três jardas do TD. Eles se posicionaram,
Jake deu o comando, a bola foi jogada para ele, mas, em vez de lançar,
virou-se de costas abraçando a bola. O ataque se fechou em volta do QB,
protegendo-o e empurrando. Eles avançaram lentamente, era uma confusão,
até os juízes levantarem os braços, apitando.
Eles tinham feito o TD, eles tinham ganhado o campeonato.
Eles iriam para o Super Bowl.
Os jogadores pulavam, comemoravam, abraçavam-se e choravam.
Eles tinham esse direito, eram os campeões. Então, no meio da
comemoração, câmeras e pessoas à volta, com milhões de pessoas
assistindo, Jason chegou até Jake. Os dois se abraçaram, sorrindo felizes.
— Nós conseguimos! — Jake exclamou, então sussurrou. — Eu te
amo.
— Não precisa sussurrar para ninguém ouvir, eu não tenho mais
medo. — Jason sorriu, então falou em alto e bom som, para que as pessoas
à volta ouvissem: — Eu te amo!
Jake arregalou os olhos, mas sorria, muitos olhares estavam nele
agora, então Jason fez o que queria fazer havia tempos.
Beijou seu namorado.
Era isso.
Todo o tempo que se prepararam, que treinaram, que sonharam, que
sacrificaram coisas, que perderam tempo com suas famílias foi para chegar
até aquele dia.
A atmosfera estava diferente, eles sabiam disso. Já eram campeões
da liga, já tinham feito história, mas queriam mais. Queriam a taça do Super
Bowl, eles mereciam aquilo e lutariam até o último segundo por ela.
Caminharam pelo túnel em direção ao campo. Quando pisaram no
gramado de San Diego, a torcida gritava. A música da vez era “It’s Time”,
do Imagine Dragons. Dan Reynolds cantava como se chegasse aos seus
corações.
And now it's time to build from the bottom of the pit?
Right to the top, don't hold back
Steve:
Sei que os ganhadores do Super Bowl ganham anéis, então sei que vocês
ganharão algum modelo rebuscado, elegante e caro. Mas Scott e eu
compramos esses para serem únicos, iguais a vocês
Jake:
Eles são perfeitos
Obrigado
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