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Isa Feijó

Brasil 2023
Copyright© Isa Feijó / Editora Calíope
Revisão: Antony Isidoro
Assistência e Capa: Jaqueline Brito
Diagramação: Isa Feijó
Todos os direitos reservados

É proibida a reprodução de qualquer parte desta obra, por qualquer


meio, sem a autorização da autora ou editora. Também é proibida a
distribuição desta obra por meio de PDF ou qualquer outra forma, que não
tenha sido escolhida pela autora ou editora do livro. Violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção, tanto a história quanto os nomes são de
criação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas ou
acontecimentos da vida real, são meras coincidências.
Aviso

Apesar de ter explicações durante o próprio livro sobre os termos


usados no esporte, se tiver qualquer dúvida, pode consultar os
significados nesse link:
GLOSSÁRIO DE FUTEBOL AMERICANO

Todos os nomes, times e users de redes sociais citados nesse livro


são fictícios. Mas se quiser conhecer mais sobre o esporte, sugiro
acompanhar a página oficial da NFL Brasil
Selos Caliope
#Whodey
É a hora de começar, não é?
Fiquei um pouco maior, mas agora vou admitir
Sou apenas o mesmo que eu era
Agora, você não entende
Que eu nunca vou mudar quem sou?

Então, este é o lugar onde você caiu, e fui deixado à


venda
O caminho até o paraíso passa por milhas de
inferno nublado
Direto ao topo, não olhe para trás
Voltando aos trapos e deixando as comodidades
para uma próxima oportunidade

It’s Time
Imagine Dragons
#RhynosRules
O center do outro time fez o snap, lançou a bola por debaixo das
pernas para que o quarterback a recebesse. Mas Trent Williams, o QB do
San Diego Vipers, ajoelhou-se no chão.
Imediatamente o juiz apitou, fazendo sinal de jogo encerrado. Os
jogadores do Vipers comemoravam, afinal tinham ganhado mais um jogo. E
por que Trent insistiria em mais alguma jogada sendo que era só ajoelhar?
Faltavam segundos para acabar e não havia nada que algum jogador do
Raleigh Rhynos pudesse fazer para inverter aquele placar.
Jason tinha se preparado para correr, mas ele viu nos olhos de Trent
o que o outro faria. Mesmo assim sentiu que deveria fazer algo, mas
quantas jardas tinha avançado até o joelho do QB encostar no chão?
A decepção martelava dentro do seu peito. E se tivesse feito mais?
Deveria ter se esforçado, deveria ter tentado, corrido, feito qualquer coisa!
Jason respirou, engolindo em seco e cumpriu o que era esperado.
Sorriu para os jogadores do outro time, cumprimentou Trent, que fez
brincadeiras como “Cara, você é o Steamroller mesmo. Quase não saía do
meu pé”. Jason se forçou a rir.
— Você é incrível — um dos jogadores do outro time lhe falou, e
ele agradeceu.
Mas não se sentia assim.
Mais um ano que Raleigh Rhynos era eliminado antes dos playoffs.
Eles mal se sustentavam na temporada regular; lesões, brigas internas,
jogadores fora de sintonia...
Do que adiantava ser chamado de “Steamroller”, ser considerado o
“melhor Rhyno”, se não conseguia garantir a porcaria de uma vaga nos
playoffs?
— Perdão, vô — Jason murmurou enquanto voltava para os
vestiários.
O clima estava péssimo. E como não estaria?
A verdade é que eles não tinham chances reais. Além de terem que
ganhar do Vipers, um ótimo time, ainda tinham que torcer para os Lightning
ganharem dos Harpy. E, se possível, o Pumas perder para o Poison, assim
teria alguma chance de uma classificação não vergonhosa.
Uma combinação absurda de coincidências e resultados improváveis
teria que acontecer. E para quê? Eles tinham alguma chance verdadeira de
chegar à final da Conferência? De chegar ao Super Bowl?
— É claro que não — falou sozinho, tomando um banho rápido no
chuveiro do vestiário.
Isaac Hill, head coach do Rhynos, esperou que seus jogadores
voltassem para fazer seu discurso de motivação. Era triste serem
eliminados, mas na temporada seguinte voltariam melhores, mais fortes e
mais preparados. No próximo ano seria diferente!
Jason suspirou, sentia um pouco de pena de Isaac. Ele realmente
acreditava naquele time e naquelas palavras. Mas ele já as tinha dito no ano
anterior, e quase nada tinha mudado.
Seu celular apitou uma mensagem. Não queria conversar com
ninguém, mas olhou pela notificação. Bufou frustrado quando viu o nome
do contato, foi inevitável abrir e ler.

Devon:
Vi que perderam o jogo e foram eliminados, é uma pena que não jogaremos
contra no Super bowl

A arrogância de Devon em achar que já estava com sua vaga


garantida irritava para caramba. Certo, ele podia ser considerado um dos
melhores QBs da atualidade. Mas o que mais irritava era sua prepotência
em achar que podia voltar para sua vida quando quisesse. Eles não estavam
mais na faculdade, não passaria por isso de novo.

Devon:
Estou na Califórnia, podíamos nos encontrar antes de você ir embora

Jason:
Me deixa em paz!

Respondeu e travou seu celular, colocando-o no mudo. Sabia que


logo estaria cheio de mensagens do seu antigo melhor amigo/amigo
colorido. Mas não cairia mais nessa.
— Isso tudo é besteira! — Robbie, QB do Rhynos gritou,
assustando-o. Então Jason percebeu que uma discussão estava em curso. —
Se tivéssemos um head coach de verdade, nada disso estaria acontecendo.
Os jogadores ficaram em silêncio, encarando Robbie gritar com o
técnico. Jason não gostava de Robbie, e todos amavam Isaac como um pai,
ele nunca permitiria que aquilo acontecesse.
— Cala a boca, Robbie. — Jason se levantou. Com seu 1,94m e
115kg, era sempre uma figura intimidante.
— Fica fora disso, Brody! — Robbie exclamou.
— Você não vai ofender Isaac na minha frente — Jason falou sério,
encarando o QB. — Pare de culpar os outros quando todos sabem que você
é um dos maiores culpados por sempre perdermos!
— Não fale merda! — O outro bufou, irritado.
— Se passasse mais tempo focado nos treinos e não nas suas festas
estúpidas, conseguiria acertar um passe pelo menos! — ele perdeu a
paciência e gritou.
Todos à volta arregalaram os olhos por dois motivos:

1- Jason Brody nunca perdia a paciência.


2- Robbie Brendel sempre agia como um garoto mimado.

— Lanço muito bem, eles que não sabem nem fazer uma catch
decente! — Robbie acusou, apontando para os recebedores, que o olharam
ofendidos. Tudo aquilo deixou Jason ainda mais irritado.
— Seu moleque irresponsável, mimado e imbecil! Você joga a culpa
em todo mundo para não admitir que não sabe o que está fazendo. Não sabe
seguir ordens, não sabe trabalhar em equipe, não sabe porra nenhuma sobre
lealdade. Só se importa com quanto dinheiro ganha e em esbanjar tudo com
pessoas que não dão a mínima para você! — gritava de volta. — Nós
entramos em um buraco porque você não sabe liderar o ataque, não sabe
acertar um alvo, e, se não fosse pelos corredores, quase nunca
pontuaríamos.
— Eles...
— Cala a boca! Eles correm para onde deveriam, é você que nunca
consegue lançar. Enche a boca para dizer que sem você não teríamos
chances, que é um astro em ascensão, mas não passa de um merdinha
mimado e prepotente, que não sabe o mínimo sobre respeito.
— Se é assim, posso sair, não é? — provocou.
— Por favor, saía! — Jason encarava os olhos de Robbie. — Pela
nossa péssima colocação no ranking geral, teremos ótimas escolhas no draft
ano que vem. Tenho certeza de que o time vai encontrar um QB muito
melhor que você!
— Um novato — o outro desdenhou.
— Qualquer novato, vindo de qualquer lugar do país, é melhor que
você.
— Eu sou...
— Você é um nada, Robbie, apenas uma mancha na história do
Rhynos. Teremos um novo QB, e, mesmo sem saber quem será, tenho
certeza de que será muito melhor que você. Porque quando você sair por
aquela porta, será apenas a lembrança ruim de um péssimo momento. Mas
nós, os Rhynos, ainda estaremos bem.
— Sem mim, não são nada — Robbie rosnou, olhando em volta.
Mas ninguém o defendeu. — Nada!
— Somos os Rhynos e já passamos por coisas bem piores que um
jogador mimado — Jason respondeu. — Vai embora, procure outro time.
Tente a sorte com sua carreira medíocre. Nós ficaremos muito bem.
— É isso? — O QB olhava em volta, procurando apoio, o que não
teve. — Vão se arrepender disso! Eu juro! — gritou, saindo do vestiário,
fazendo seu show de sempre.
Jason ficou ali, respirando fundo. Tinha acabado de expulsar o QB
do próprio time e nem sabia se podia ter feito isso. Mas, bem, não tinha
como voltar atrás.
— Não se preocupe — Isaac disse, colocando a mão no seu ombro.
— Tudo vai ficar bem.
E Jason se agarrou a essa promessa, tudo tinha que ficar bem.
Alguns meses depois

Não ficou bem.


Nada bem.
Quer dizer, o time parecia bem, mas Jason tinha um motivo para não
estar bem. Esse motivo tinha 1,92 de altura, cabelos loiro-escuros, olhos
claros que ora estavam verdes e ora, azuis e um corpo perfeito no qual ele
nem queria pensar.
O motivo também tinha um nome: Jake Lewis.
Quando Isaac o chamou para acompanhar os testes para o draft, já
que, nas palavras do técnico, “além de capitão da defesa, teria que assumir
o papel de capitão do ataque, já que tinha expulsado o último aos gritos”,
Jason não tinha ideia de que seu inferno particular começaria.
Era simples, assistiria aos testes que todos os jogadores que estavam
saindo da universidade e queriam ingressar na Liga Nacional passavam.
Depois passaria por reuniões intermináveis, assistiria àqueles vídeos várias
e várias vezes, até que por fim chegassem aos nomes dos escolhidos. E
ainda teria que ir ao evento de anúncio dos escolhidos, do qual tentou
escapar e não conseguiu.
Estava ali como um profissional procurando novos talentos para seu
time. Assistiu aos testes, os rapazes dando o melhor de si para terem
números impactantes e serem reconhecidos. Jason estava com Isaac e o
resto da equipe técnica, fazia anotações, trocava informações, encontrava
conhecidos no meio dos outros times.
Na verdade, nem sabia por que estava ali, já que não seria
necessário. Afinal, por mais que fosse considerado importante dentro do seu
time, não sentia que estava apto a julgar o potencial e habilidades dos
outros. Mas, enfim, estava tentando dar o seu melhor.
Seus passeios pelo lugar acabaram quando deu de cara com Devon
Butler, QB do Madison Steel, com sua roupa de grife, relógio mais caro que
o carro de Jason e o sorriso prepotente de quem sabia que era importante.
Ele estava cercado de seus empresários e da equipe técnica do Steel. Devon
realmente tinha chegado ao Super Bowl, mas seu time perdeu por uma
diferença mínima de pontos, o que o fez ser ainda mais conhecido.
Jason tentou escapar, mas, antes que pudesse fugir, Devon o viu e
acenou sorrindo. Agora não tinha o que fazer, o outro estava vindo em sua
direção. Ele até olhou em volta, mas tinha muitas pessoas ao redor, então
não existia nenhuma justificativa válida para sair correndo enquanto um dos
grandes nomes da Liga Nacional de Futebol Americano tentava
cumprimentá-lo.
— Jason — Devon disse, sorrindo com seus dentes perfeitos (e
artificiais) —, faz tempo que nos vimos.
— Não o bastante, não é? — respondeu sorrindo, para que ninguém
entendesse.
— Não faça isso — Devon murmurou, abraçando-o como se fossem
grandes amigos. — Sinto sua falta.
— Abrace sua namorada perfeita, então — sussurrou.
— Butler, Brody, aqui — um fotógrafo os chamou para que
sorrissem para a foto.
Imediatamente o braço de Devon passou por cima do ombro de
Jason, puxando-o para si. Todos em volta riram, eram velhos amigos de
faculdade se reencontrando.
Houve um tempo em que Jason adorava ter os braços de Devon em
volta de si. Eles tinham sido amigos, tinham sido íntimos, tinham
confessado coisas que nunca haviam dito para outras pessoas, tinham se
entregado um para o outro e se tornado amantes.
Os dois tinham foco no futebol americano. Por isso, sabiam que
estariam presos dentro do armário por vários anos ainda. Mas, enquanto
Jason queria viver sua vida tranquilo, apenas fazendo o que amava, Devon
queria os holofotes e faria qualquer coisa por isso.
Até mesmo trair a confiança do outro.
— Precisamos conversar — Devon sussurrou ao seu ouvido. De
algum jeito, conseguiu raspar seus dentes no lóbulo da orelha do outro, uma
clara provocação.
— Nem que minha vida dependesse disso — Jason respondeu sério,
afastando-se.
— Jason! Venha! — Isaac o chamou animado. — Ah, olá, Devon,
bom jogo que tiveram, pena que perderam.
— Tudo bem, quem sabe no próximo ano — o QB brincou, e Jason
virou-se de costas para que não fosse visto revirando os olhos.
— Sim, claro, quem sabe nos vemos lá? — Isaac apertou a mão do
outro. — Agora venha, Jason, precisamos terminar uma coisa.
— Até depois — Devon disse, mas Jason não respondeu.
— Veja esses três, estão chamando muita atenção. — O técnico
entregou algumas fichas para Jason, que estranhou, mas leu as informações.
— Carson Victor Meneses, running back, 24 anos. — A foto
mostrava um rapaz com traços latinos. — Chase Jamal Graham, wide
receiver, 25 anos. — Um rapaz negro com dreads no cabelo. — Jacob
Michael Lewis, quarterback, 24 anos. — Um rapaz loiro de olhos claros.
Jason não admitiria, mas a foto de Jake o impactou. Já tinha visto
muitos homens bonitos, dormido com alguns, mas, por algum motivo, Jake
lhe chamou a atenção. Não era só a beleza, já que os outros dois também
eram, mas tinha algo em seus olhos que não sabia explicar.
— Eles parecem, hum, ótimos — Jason comentou vendo os gráficos
e informações a mais, ignorando as fotos.
— Vieram da Universidade da Flórida, são parte dos atuais
campeões da Liga das Universidades. — Isaac estava muito animado. — Os
três tem a mesma empresária, e ela já disse que eles querem ir para o
mesmo time. Temos sorte que eles estão interessados no nosso time.
— Querem vir para o Rhynos? — perguntou, espantado. Ele sabia
que os piores times da temporada anterior eram os primeiros a escolher nos
drafts. E, considerando a posição que ocuparam na tabela, tinham chances
de pegar bons jogadores.
Mas, mesmo assim, aqueles três que poderiam ser as próximas
estrelas do futebol americano queriam ir para o Rhynos por vontade
própria? Um time que não tinha ocupado uma posição significativa na
tabela geral na última década?
— Sim, isso não é empolgante? — O técnico sorria. — Olha, são os
últimos teste de Jake.
— Jake?
— Sim, a empresária disse que ele prefere ser chamado de Jake. —
Isaac deu de ombros. — Veja.
Jake estava com a camiseta regata e o short preto, como todos os
outros participantes. Na parte de trás da sua camiseta, estava escrito
“Lewis” e abaixo o número “3”, devia ser o número que usava em seu time.
O QB estava sério, concentrado. Pegou a bola e tomou seu lugar enquanto
Chase Graham, que usava o número “10”, posicionava-se preparando-se
para correr e receber o passe.
O QB passou os olhos pela plateia que lhe assistia, foi só por alguns
segundos, mas Jason sentiu que Jake tinha olhado para ele. Suspirou, aquilo
era besteira, o rapaz só estava conferindo se os olheiros estavam assistindo
ao show que, claramente, estava pronto para mostrar.
O apito soou, Chase correu para frente, depois virou bruscamente
para a direita em um movimento que, se fosse um jogo real, Jason tinha
certeza de que teria deixado o outro time perdido. Então, num movimento
de corpo perfeito, Jake lançou a bola para o recebedor que, mesmo sem
olhar para o QB, apenas esticou um pouco os braços, recebendo aquele
passe perfeito.
— Isso! — Isaac comemorou, mas Jason não falou nada, ainda
espantado com o talento do rapaz. — Lá vai outra.
De novo, Jake olhou em volta, mesmo sem demonstrar emoção
nenhuma. O garoto era tão seguro de si, que não parecia preocupado em
estar sendo avaliado por dezenas de pessoas que poderiam definir seu
futuro. Mesmo com a corrida mais longa que a primeira, a catch de Graham
foi perfeita.
— Nosso garoto! — o técnico vibrava, e Jason o olhou de canto.
“Nosso garoto”? Não tinha nada certo ainda, mas, pelo jeito que
Isaac se comportava, devia ter coisas das quais não tinha sido informado.
Parecia que aquela negociação estava bem mais adiantada do que
imaginava.
Jake se preparou para mais um passe, todos os olhares estavam nele.
Jason sentia a atmosfera diferente, a expectativa sobre o que o jovem QB
faria a seguir.
Dessa vez, Jason teve certeza de que Jake olhou para ele, porque
quando o QB olhou para a plateia, não foi como das outras vezes. Ele
poderia dizer que Jake estava olhando para Isaac ou para Jefferson, o
coordenador do ataque, ambos estavam ao seu lado. Mas ele sabia que, por
aquele segundo, os olhos claros estavam sobre ele.
O apito soou, Chase correu em linha reta e numa velocidade
incrível, mas, em vez de fazer alguma rota, ele continuou, chegando perto
da end zone e ficando bem distante de Jake.
— Ele vai tentar uma Hail Mary! — Jefferson exclamou, abismado
e animado.
No mesmo instante, Jake lançou um passe alto, que cruzou boa parte
do campo. Jason prendeu a respiração; Hail Mary era o tipo de jogada que
não se fazia do nada. Ela era usada como última esperança de um time fazer
touchdown, porque era um passe muito longo e com poucas chances de dar
certo.
A bola caiu nos braços de Chase, como se estivessem apenas
brincando. Ele a abraçou e terminou sua corrida perfeita. Muitos em volta
gritaram, Isaac e Jefferson pulavam e se abraçavam animados, como se o
próprio Rhynos tivesse feito aquele TD em um jogo importante.
Jake sorria de canto, orgulhoso do seu desempenho. Ele olhou para
o lado, direto para Jason, e o capitão da defesa do Rhynos o olhava de volta.
Mas diferentemente dos outros, que comemoravam ou o parabenizavam,
Jason não demonstrava emoção. Ele estava de braços cruzados, parado em
seu lugar, olhando Jake como se o analisasse.
Isso fez o sorriso de canto do QB se aprofundar. Jake, ainda olhando
para Jason, bateu no peito com a ponta dos dedos, bem em cima de onde
seu coração estaria. Jason o olhou confuso, o que fez o outro sorrir.
Jake sabia que iria se divertir muito.

O inferno de Jason não começou naquele dia. Nem nas próximas


semanas, mesmo que assistir repetidamente aos vídeos de Jake Lewis o
deixasse um pouco desconfortável às vezes. Também precisou ir ao evento
de anúncio e não foi surpresa quando Jake Lewis, Carson Meneses e Chase
Graham foram anunciados como novos jogadores.
Jason nem queria imaginar o tipo de negociação que os dirigentes do
time tiveram que fazer para trazer os três juntos. A única surpresa para ele é
que os três estavam na mesma casa quando receberam a notícia, cercados de
algumas pessoas. Uma garota, que devia ter a idade deles, estava com eles
no sofá, talvez fosse parente de Carson, já que também tinha traços latinos.
Mas a garota abraçou apertadamente cada um deles enquanto seus nomes
eram anunciados.
Depois disso teve algumas semanas livre, passeou com sua família,
passou uns dias na casa de sua avó e aproveitou para sair com alguns
homens com quem conversava eventualmente. Todos estavam no armário,
portanto não precisava se preocupar muito com a possibilidade de alguém
revelar sua sexualidade, afinal todos ali tinham muito a perder.
Voltou para os treinos, precisava se preparar para a nova temporada,
e, de novo, Isaac o fez ser o “garoto propaganda” do Rhynos, o responsável
por receber os novatos. Ele tinha um planejamento, sua função era integrar
novos e antigos jogadores. Se eles não pudessem ser como uma família,
aquilo nunca daria certo.
Vendo os novos rostos e falando com eles, explicando como seriam
as coisas e como era importante o papel de todos ali, percebeu que talvez as
coisas não saíssem como o combinado. Ia ser um longo ano.
Não estava atrás de um relacionamento e, sinceramente, ali seria o
último lugar onde procuraria um parceiro. Fora que estava chegando aos 30
e alguns garotos ali tinha 23 ou 24 anos. Podia não ser uma diferença de
idade grande, mas fazia uma diferença, principalmente contando que
aqueles novos jogadores iriam querer aproveitar a fama e o glamour que a
Liga Nacional podia trazer.
Jason só queria ficar em casa, jogando videogame, assistindo a
algum filme de suspense e experimentando alguma nova receita que tivesse
encontrado na internet, mas tinha grande potencial de dar muito errado.
Seus amigos brincavam tanto que ele agia como um idoso, que ultimamente
estava pensando em adotar algum animal de estimação.
Mas ali, em sua frente, sentado na primeira cadeira do pequeno
auditório, estava o trio: Carson, Chase e Jake. Chase parecia um pouco
perdido em pensamentos, Carson prestava atenção em cada palavra, mas
Jake parecia prestar atenção em Jason, não no que ele falava.
De canto de olho, ele achou ter visto algumas vezes o QB o olhar de
cima a baixo. Não sabia como lidar com aquilo, então resolveu ignorar.
— Esse é Jason Brody, nosso defensive end e capitão da defesa —
Isaac repetiu a informação. — Apesar desse jeito de bom moço, não vai
pegar leve com vocês.
Todos riram, Jake sussurrou algo que só Carson e Chase ouviram e
riram. Jason reconhecia risos maliciosos quando via um e, de novo, não
entendeu o que estava acontecendo.
Depois de mais uma rodada de apresentações e pequenos discursos,
foram liberados para comer. Jason estava faminto, mas tinha que ser
educado e cumprimentar a todos. Seus colegas de longo tempo de time
estavam lá, e ele estava revoltado de ter que servir de anfitrião. Nem era o
mais velho de idade ou de time.
— É essa aparência de galã de comédia romântica — Jay, um dos
melhores amigos de Jason, brincou, apertando seu queixo. — Acho que é
esse sorriso fofo, talvez os cachinhos castanhos ou esses olhos cor de
chocolate.
— Talvez seja o sorriso, quem não se apaixona pelo sorriso de Jason
Brody? — Kevin riu.
— Parem com isso. — Jason os empurrou, eles riam na fila do
almoço.
— Oi — alguém falou por trás dele. Quando Jason se virou, deu de
cara com Jake. Carson e Chase estavam ao seu lado.
— Ah, oi. — O cacheado se recuperou do choque rapidamente,
sorrindo e estendendo a mão.
— Queríamos nos apresentar. Isaac disse que você cuidaria de nós
no início. — O loiro sorriu.
— Disse? — Jason olhou feio para o técnico, que fingiu que não
estava ouvindo a conversa. — Esses são Jay Wilbur e Kevin Smith. Jay é
safety, e Kevin é linebacker.
— Os três da defesa. Vocês que vão nos parar, pelo menos nos
treinos — o QB brincou.
— Minha função é impedir que ninguém passe, Kevin tem que
seguir seu running — Jay entrou na brincadeira. — É Jason que vai atrás de
você.
— Vamos ver se ele aguenta — Jake respondeu. Todos riram,
zombando de Jason pelo desafio.
O coração do moreno acelerou, porque lá no fundo, mesmo
querendo ignorar, ele sentiu a conotação sexual na piada.
— Ninguém apresenta a gente, então faço isso. Sou o Carson, e esse
é o Chase — Carson tomou a frente, cumprimentando os outros. — O
desligado aqui é wide receiver, parece que usa maconha, mas é o jeito
natural dele. Não parece, mas é rápido pra caramba, hein? Sou running e já
peço desculpa, mas vou passar direto por vocês.
— O baixinho é invocado — Chase provocou.
— Chamamos ele de Ligeirinho — Jake contou, e todos riram,
menos Carson, que ficou revoltado.
— Sou bem alto para as pessoas normais, vocês que parecem que
nasceram para serem avatares — respondeu, indignado. — Tenho 1,83 de
altura. Sabia que a média de altura do americano é de 1,71? Sou doze
centímetros mais alto que uma pessoa comum!
— Ele é um pouco sensível com essa questão de altura. — Jake
negou com a cabeça.
— Que bom que já estão se dando bem. — Isaac sorria feliz, as
mãos em cima do ombro de Jake e Chase. — É disso que esse time precisa,
união.
— Não se preocupe, eles são legais — Kevin disse. — Mesmo o
Ligeirinho.
— Qual é?! — Carson cruzou os braços enquanto os outros riam.
— Sim, perfeito. — Isaac tinha um sorriso de quem estava
aprontando, e Jason esperava que não estivesse no meio daqueles planos. —
Jason, Jake, depois preciso conversar com vocês. Como os capitães do
ataque e da defesa, preciso que estejam em sintonia comigo e,
principalmente, entre vocês.
— Claro. — Jake sorriu do mesmo jeito que Isaac, e Jason sabia que
estava ferrado.

A palestra atual era sobre proteção. Desde que um jogador do


Rhynos teve uma lesão grave quatro anos antes, o time levava a segurança
dos jogadores muito a sério. Jason já sabia aquilo de cor, até já sabia qual
seria o próximo slide mostrado. Porém mantinha seus olhos na tela para
evitar pensar no loiro sentado ao seu lado, com o braço encostado no seu.
— Isso tudo é necessário? — a voz sussurrou ao seu lado, e Jason se
controlou ao máximo.
— Parece que os diretores acham que, se não nos matarem de tédio,
esqueceremos de usar os equipamentos de proteção. — O moreno suspirou.
— Talvez seja uma ameaça velada: se esquecermos de usar alguma pad,
teremos que reassistir a esta palestra.
— Vou tomar cuidado, não quero passar por isso de novo — o loiro
disse dramaticamente.
— Sinto em te dizer, mas todo ano tem esse mesmo discurso. Daqui
a pouco vão mostrar a foto de dedos quebrados pela falta do uso correto da
luva. — Jason apontou para a tela, e a imagem de uma mão, com dois dedos
em posições não naturais, foi mostrada.
— Ew. — Jake fez careta.
— Sabe, às vezes me pergunto se uma perna quebrada não dói
menos que essa palestra. — Suspirou de novo. Jake precisou tapar a boca,
para se impedir de rir. — Isso, ria. Vamos ver se continua assim depois do
terceiro ano seguido assistindo a isso.
— Como você sobreviveu a isso mais que três vezes?
— Muita resiliência, eu acho. Mas aproveito esse momento para
pensar em outras coisas importantes.
— Como o quê? — Jake perguntou, realmente interessado.
— Se eu devo adotar um gato ou qual o próximo jogo que vou jogar.
Mas talvez só volte a jogar Elden Ring de novo.
— Está brincando? — os olhos do loiro brilharam. — Você joga
videogame?
— Posso ter aparência de uma pessoa prestes a se aposentar e alma
de alguém que nem deveria andar pela terra mais, mas tenho só 28 anos,
ok? — ele se fez de ofendido.
— O quê? — Jake usou as duas mãos para tampar a boca, tentando
segurar o riso, mas lágrimas se acumularam nos cantos dos seus olhos, e
Jason se segurou muito para não fazer comentário algum. — Não quis dizer
isso. — O loiro respirava fundo para falar, tentando controlar o riso.
— Sei. Tudo bem, já aceitei o fato.
— Não. — O loiro ainda ria, mas tentava se conter. — Só fiquei
surpreso porque Elden Ring é um dos meus jogos favoritos.
— Está falando sério? — Jason perguntou, desconfiado.
— Sim, a FrontSoftware é, na minha opinião, uma das melhores
desenvolvedoras de jogos. Cada vez que avisam do lançamento de um jogo
novo, acho que não tem como superar o anterior. Então eu jogo e vejo que
estava errado — falou sorrindo, deixando o outro aturdido. — O que foi?
— Concordo com você, mas acho que nunca tinha conversado com
alguém da mesma opinião. Normalmente as pessoas só falam da Nintendo,
Sony ou Activision Blizzard.
— Gosto muito da Activision Blizzard, alguns dos meus jogos
favoritos são Call of Duty e World of Warcraft, principalmente o WoW, mas
acho que a FrontSoftware eleva muito o nível dos seus jogos.
— Caramba — Jason murmurou, sem saber o que falar.
— Não sou só um rostinho bonito e um QB incrível, também
entendo de jogos — Jake provocou. — Carson, Chase e eu sempre jogamos.
Pelo menos uma vez por mês reservamos o final de semana para comer
besteira, nos entupirmos de açúcar, assistirmos a filmes ruins e jogarmos até
quase desmaiar. Devia vir em um desses.
— Claro, parece legal. — Por mais que aquilo parecesse algo que
ele adoraria fazer, Jason nunca iria. Nem pensar que ficaria preso 48hs
dentro da mesma casa que Jake Lewis.
Em menos de um dia juntos, já tinha percebido que aquilo era
perigoso demais para sua sanidade.
— Agora vamos chamar os novos jogadores para receberem suas
camisetas — Isaac disse no microfone.
Um a um, os jogadores foram chamados, eles iam até o pequeno
palco, assinavam seu contrato e recebiam a camiseta do time com seu nome
e número. Era tudo simbólico para as fotos de divulgação, afinal o contrato
verdadeiro já tinha sido assinado.
Os novos jogadores estavam enfileirados no palco, vestidos com a
camiseta, e sorriam para as fotos. Jason se lembrava da sensação, da
expectativa e do nervosismo por saber que sua vida nunca mais seria a
mesma. De algum jeito estranho, naquele momento ele também se sentia
assim.
— Também tenho uma. — Jake riu, mostrando sua camiseta preta e
amarela, com seu nome e seu número atrás. O evento estava quase
acabando, e logo todos poderiam voltar para casa. — Agora, sim, me sinto
um Rhyno de verdade.
— Ficou muito bom em você. — Jason sorriu.
— Estava preocupado que não me dessem o número 3, mas já no
contrato me garantiram que estava disponível.
— O 3 é seu número da sorte? — perguntou, curioso.
— Acho que sim, ele se repete muito na minha vida. Fora que meu
aniversário é dia 3 de junho.
— Meu aniversário também é dia 3, mas de dezembro.
— Eu sei. — Jake piscou para Jason. Seu sorriso de canto presente.
E foi aí que o inferno particular de Jason começou.
— Ele...
— Não.
— Tenho certeza de que...
— Não tem.
— Mas, Jason, ele...
— Não! — o moreno cortou a fala de Jay. — Você não viu nada,
não ouviu nada, agora mude de assunto.
— Se quer se fazer de sonso...
— Me deixa em paz. — O moreno bufou.
— Mas o garoto praticamente...
— Ele só estava feliz, primeiro dia na Liga Nacional.
— Parecia muito feliz em ver você.
— Shiu!
— O que foi? — Sadie, esposa de Jay, perguntou.
Jason não queria jantar na casa de Jay, só queria ir embora e se
arrastar para a cama, mas o amigo jogou baixo. Ele ligou para casa e disse
para seus filhos que o tio Jason não queria jantar com eles, então Agatha, de
cinco anos, e Brandon, de três anos, começaram a implorar para que Jason
fosse visitá-los.
E agora as crianças estavam mais interessadas em assistir ao
desenho de uma garota latina usando óculos e tentando salvar uma casa
mágica, nem se importando com o tio.
— Amor, o novo QB secou Jason de cima a baixo. — Jay riu.
— Ok, quero cada detalhe! — a mulher exigiu sorrindo.
O cacheado revirou os olhos, Jay e Sadie eram dois fofoqueiros que
adoravam cuidar da sua vida. Jay tinha 1,89, longos cabelos e barba ruivos,
parecia um viking sorridente. Já Sadie tinha cabelos cor de mel e quase
sumia nos braços marido.
Jason adorava passar seus dias com eles e seus filhos. Jay e Sadie
realmente se amavam e eram divertidos. Formavam uma família
maravilhosa, do tipo que ele adoraria ter um dia. Eles eram, provavelmente,
a maior referência de amor sincero que tinha.
— Caramba, ele é bonito! — Sadie exclamou, vendo foto de Jake.
— Sabe, estou exatamente ao seu lado — Jay reclamou.
— Eu sei, amor, e nunca te trocaria por ninguém. — Ela beijou os
lábios do marido rapidamente. — Mas Jason tirou a sorte grande, esse Jake
é lindo.
— Não tirei sorte nenhuma. — Jason bufou. — Podemos mudar de
assunto?
— Claro que não — Sadie soou quase ofendida. — Quero mais
detalhes, o que você sentiu quando o viu?
— Meu Deus. — Bufou.
Enquanto Jay repassava todos os momentos com detalhes
extremamente descritivos, a mente de Jason voou. Ele lembrou que, após as
apresentações, Isaac chamou Jake e ele para seu escritório para uma
conversa privada.
— Vocês dois são meus capitães, e estou muito feliz. — O técnico
sorria. — Sinto que agora poderemos ter um time de verdade. No passado,
não quero citar nomes, mas... Bem, Robbie nem está mais neste time, não
tem por que não falar o nome daquele mimado. — O homem riu, e Jason
negou com a cabeça.
— Me disseram que ele era horrível — Jake entrou na fofoca.
— Péssimo ser humano, Jason nos livrou dele quando o expulsou
aos gritos daqui.
— Sério? — Jake perguntou, animado, com seus olhos brilhando de
empolgação.
— Não foi bem assim, é exagero dele.
— Não foi? Temos a discussão toda gravada! — Isaac falou,
animado.
— O quê? Deus!
— Quero muito ver — o loiro pediu.
— Claro, quando quiser.
— Por favor, podemos voltar ao assunto principal?
— Claro, união! É isso, preciso que vocês dois, a partir deste
momento, sejam unidos — Isaac falou.
— Podemos fazer isso. — Jake sorriu de canto, piscando para Jason.
— Perfeito! — O técnico bateu palma.
— Espere — Jason interrompeu, porque sentia que Isaac e Jake não
estavam falando da mesma coisa. — Como assim você nos quer unidos?
— Precisam que sejam vistos unidos, querem que todos os times
saibam que, nesta temporada, defesa e ataque estão alinhados. Que não é
para terem medo só do “Steamroller”, que nosso QB também é assustador.
— Assustador? — Jake riu. Jason não falou nada, mas o loiro estava
o assustando um pouco, sim.
— E como faremos tudo isso? — o moreno perguntou, já temendo a
resposta.
— Por esta semana, focaremos na integração entre novos e antigos
jogadores. Até sexta entrego as datas da nossa viagem para o boot camp.
Passaremos alguns dias em outra cidade, todos no mesmo hotel, para
criarmos laços. Estou montando os quartos e pretendo colocar um do ataque
e um da defesa, tentar mesclar novos e antigos — o técnico contava,
empolgado.
Jason se xingou mentalmente por esquecer do boot camp. Era
comum, um tempo após a chegada dos novos jogadores, o time todo fazer
uma viagem para treinos e adaptações. A ideia era boa, um pouco
desconfortável, já que juntariam cerca de 50 homens adultos em um hotel
para dividir quarto com alguém que podia ou não ser seu amigo, mas
ajudava a criar intimidade, o que fazia diferença no campo.
— Para este, ano quero que o time seja visto junto. Em festas,
passeios, jantares, assistindo a um jogo de basquete, qualquer coisa. Quero
que passem a imagem de que somos uma família unida e que agora o
Rhynos está diferente.
A briga entre Jason Brody e Robbie Brendel tinha vazado, e Jason
tinha certeza de que havia sido o próprio Robbie o responsável por isso.
Cada portal de notícias contava uma história, alguns do lado do jogador
defensivo, outros do QB. O que ajudou Jason foi que a irmã de Sadie era
jornalista de um importante programa na Carolina do Norte.
Sadie contou a verdade para a irmã, enfatizando o quanto Jason
tinha defendido o técnico e outros jogadores. Jason achou que ela floreou a
história demais, colocando-o como um grande herói. Para provar a história
“do que fato aconteceu no vestiário do Rhynos”, a jornalista passou vários
vídeos que estavam disponíveis online e outros exclusivos, mostrando como
Robbie era uma pessoa desagradável.
No fim, ficou tudo bem, e Jason recebeu mensagens de apoio da
maioria dos torcedores do Rhynos e de outros times. Alguns jogadores de
times adversários condenaram o comportamento de Robbie, falando que o
que Jason fez era realmente ser um líder e um atleta. Uma dessas pessoas
foi Devon.
— Me passa seu telefone — Jake pediu, estendendo seu celular para
Jason. — Podemos combinar de sair ou de você ir jogar com Carson, Chase
e eu.
— Claro. — O que ele faria? Negaria na cara do técnico e sairia
correndo?
Não que ele não quisesse fazer isso, mas ser um atleta preso no
armário já era difícil. Agora passar todos os dias com uma tentação de rosto
perfeito, que parecia inocente, mas o sorriso entregava o potencial para o
caos, era tortura.
— Quando vão para o boot camp? — Sadie perguntou, trazendo o
moreno de volta para o presente.
— Isaac vai nos passar as datas na sexta — Jason respondeu.
— Jay, é sério, quero atualizações três vezes por dia, fotos e vídeos.
Longos áudios descrevendo cada detalhe do que acontecer com esses dois.
— A mulher apontou da foto de Jake para Jason.
— Um pouco ofendido porque seu planejamento não inclui saber de
mim, mas entendo que a história deles é melhor. — O ruivo suspirou. —
Prometo te entregar cada detalhe e, se algo muito importante acontecer,
fazemos videochamada.
— Perfeito. — Sadie sorriu.
Jason revirou os olhos, eles eram dois loucos fofoqueiros.
— Por que esse exagero?
— Exagero? — Ela riu. — Vocês passarão duas semanas presos em
uma ilha pequena, dividindo o mesmo hotel. O único lazer fora do hotel é a
praia. Treinarão o dia inteiro e terão a noite livre, mas sem ter para onde ir.
Não tem jeito de escapar, Jason.
— Por favor, além de nós dois, irão mais 48 jogadores, comissão
técnica, equipe médica, não vai acontecer nada. Fora que sempre divido o
quarto com seu marido.
— Amor, já sabe, nada de atrapalhar o meu casal.
— Durmo na recepção, mas eles ficam juntos. — Jay riu. — Ou
peço para trocar de quarto e divido com Kevin.
— Por isso que te amo!
— Vocês são... — Então as palavras de Isaac voltaram à sua mente.
Seus olhos se arregalaram, e sua boca ficou seca.

Estou montando os quartos e pretendo colocar um do ataque e um da


defesa, tentar mesclar novos e antigos
— Jason, o que foi? — Sadie perguntou, preocupada.
— Vocês não acham que Isaac me colocaria no mesmo quarto que
Jake, não é?
— Por que ele faria isso? — Jay perguntou, e Jason contou toda a
conversa com o técnico. — É, ferrou para você.
— Isso vai ser tão romântico! — Sadie bateu palmas. — Lembre-se:
atualizações diárias!
Não, aquilo não podoa acontecer!
Se passar várias horas por dia ao lado de Jake já parecia tortura,
imagine dormir no mesmo quarto que ele por duas malditas semanas? Vinte
e quatro horas com ele, dormir ao seu lado..., o banho!
Ele não tinha pensado que eles teriam que dividir o vestiário.
Como sobreviver a Jake Lewis?
— Quem diria? — Sadie sorriu maldosa. — Isso vai ser muito mais
interessante do que eu pensava.
— Do que está falando? — Jason se fez de desentendido.
— Jake te afeta de verdade — a mulher disse convicta. — Nunca te
vi desse jeito por ninguém, nem quando teve aquela recaída com Devon.
— Por favor, não vamos falar dele.
Depois de uns anos no time, alguns sabiam da sexualidade de Jason,
mas eram poucos. Os únicos com quem ele havia conversado abertamente
sobre isso foram Jay e Sadie, após uma festa onde vários atletas de
diferentes times estavam e ele encontrou Devon.
Mesmo estando acompanhado de sua namorada, o QB ainda teve a
audácia de encurralar Jason em um corredor e falar coisas doces, que estava
sentindo sua falta. O moreno não estava em um bom momento da sua vida,
estava se sentindo sozinho e quase cedeu, sua sorte é que Jay chegou
procurando por ele.
— Não me deixe sozinho com ele — Jason sussurrou para o amigo,
que não fez perguntas, apenas o levou de volta para sua mesa, onde Sadie os
esperava.
O casal não o soltou mais e, após a festa, levou-o para seu quarto de
hotel, onde dividiram uma enorme pizza de pepperoni enquanto o moreno
abria seu coração. Ele contou tudo, desde quando descobriu ser gay, de
como foi crescer com pais religiosos, como seus avós foram os únicos que o
acolheram, como se manteve preso no armário desde que descobriu que
queria seguir no futebol americano e até como namorou uma garota que
nem gostava dele, só para fingir.
A partir desse dia, Jay e Sadie o “adotaram”, e a mulher tomou para
si a tarefa de encontrar a “alma gêmea de Jason Brody”. Ele teve tantos
encontros nos últimos tempos, que dizia que ela deveria mudar de profissão,
já que ela era mais eficaz e lhe arrumava encontros muito mais seguros que
o Grindr.
— Jason, sabe que te amo e largaria Jay para ficar com você —
Sadie disse, segurando a mão do moreno, que riu, enquanto o marido
bufava revoltado. — Mas você precisa encarar o fato, Jake Lewis mexe
demais com você, de um jeito que eu ainda não tinha visto. E se, só com um
dia juntos, você já está desse jeito, não dou um mês para estar apaixonado.
— Não posso me apaixonar, não é justo comigo e com a pessoa.
Estou preso dentro do armário até me aposentar e, mesmo depois disso,
nem sei se poderei assumir um relacionamento com alguém. Fora que nem
sabemos se ele tem algum interesse.
— Ah, ele tem, com certeza tem — Jay afirmou. — Ele mal podia
tirar os olhos de você.
— Parem com isso — Jason disse por fim. — Jake Lewis não tem
interesse em mim, e não quero mais falar desse assunto!

— Meu Deus, Jake, pare de suspirar pelo Jason! — Chase implorou,


sem tirar os olhos da televisão, onde jogava videogame.
— Dá um desconto para ele, não é todo dia que conhece seu ídolo e
maior crush — Carson o defendeu.
— Avisei que estaria assim o dia todo — lembrou-o, jogando-se no
sofá. — Caralho, eu conheci Jason, conversei com ele, e ele é mais lindo
pessoalmente. Porra, eu tenho o número de telefone dele.
— Liga para ele, manda mensagem, só para de ficar suspirando.
Parece minha irmã — Chase comentou.
— A diferença é que sua irmã tem doze anos e é apaixonada pelo
Carson — o loiro respondeu.
— Me tira dessa — Carson respondeu. — Isso, morre filha da puta!
— Não! — Chase esbravejou quando seu personagem morreu no
jogo, Carson comemorava. — Sério, Jake, como está? Fiquei com medo de
que o conhecesse e ficasse decepcionado.
Chase era o único hétero no grupo, mas Carson sempre brincava que
era porque não havia conhecido o cara certo. Jake tinha sido o primeiro a se
assumir bissexual no grupo, os amigos não tiveram problema nenhum com
isso. No primeiro ano da faculdade, Carson resolveu “experimentar”, foi
então que percebeu que também era.
— Com medo de ele se decepcionar? Eu ficaria puto se Jason fosse
um idiota. Jake nos convenceu a mudar de estado e vir para Carolina do
Norte só para jogar nesse time, porque queria ficar perto do crush dele! —
Carson exclamou. — Podíamos ter ido para Flórida, Califórnia, Nova York.
Mas não, viemos parar na Carolina do Norte!
— Você disse que gostou daqui — Jake tentou se defender.
— Eu gostei, mas poderíamos estar em Venice Beach agora, em vez
de Raleigh, Carolina do Norte. — Carson voltou a jogar.
— Sei lá, acho que gosto mais daqui — Chase disse, e os dois
amigos se viraram para ele. — O quê? A comida é boa, tem um monte de
coisa para fazer, e o Rhynos não anda bem.
— Assinarmos com um time que não é bom era para me animar? —
Carson perguntou.
— Pensa só, o time foi muito ruim na temporada passada. Pelo que
o técnico falou, seremos titulares, não é? Então se jogarmos bem e
ganharmos, seremos lendas e vamos valer muito.
— Tem razão — Jake concordou, sorrindo de canto.
— Não é que faz sentido? — Carson deu de ombros. — Ganhamos
o máximo de jogos que pudermos, chegamos aos playoffs, se possível à
final da liga, ganhamos dinheiro, fama, e Jake pega a paixão dele. Todo
mundo sai feliz.
— Quero muito, tudo isso. — O loiro riu. — Tirando o fato de que
Jason está no time, realmente gostei deles, acho que vamos nos divertir por
aqui.
Jake era quatro anos mais novo que Jason. Quando estava no ensino
médio, foi com seus amigos ver um jogo do campeonato universitário, foi a
primeira vez que viu Jason Brody em campo. Ficou encantado com o quão
focado e certeiro o número 28 era, ele lia muito bem as jogadas e corria
para o lado certo.
Naquela noite, Jake descobriu que o apelido do jogador era
Steamroller, o que fazia muito sentido, já que ele passava por cima dos
outros sem problema. Até seguiu o time nas redes sociais para ver as
atualizações, porque o QB deles era bom, mas o defensive end... Brody era
o nome.
O que Jake não esperava era ver uma foto do tal jogador sem
capacete e ficou sem palavras, Jason Brody era muito bonito. Tanto que no
ano seguinte, quando aplicou para as universidades, até pensou na
Universidade de Durham, para tentar encontrar Jason, mas desistiu e foi
para Filadelfia. Logo depois, Jason foi contratado pelo Raleigh Rhynos, e
Jake acompanhou todos os jogos.
Brincava com seus amigos que queria se mudar para Raleigh e
conquistar Jason. Chase e Carson brincavam de volta que ele nem sabia se
Jason também sentia atração por homens, mas a resposta do loiro era que,
no fundo do seu coração, tinha esperanças de que sim. Então surgiu a
possibilidade de isso ser real, e ele implorou para que Maristela Herrera,
empresária deles (e tia de Carson), conseguisse.
Convencer Carson e Chase nem foi muito difícil. Chase só queria
um canto sossegado, uma casa legal, poder jogar futebol americano, curtir
com seus amigos e boa comida. A ideia de morar em uma grande metrópole
não o agradava, Raleigh pareceu perfeita para ele. Já Carson só queria jogar
futebol americano, jogar videogame e ver seu amigo se humilhar por Jason,
então aceitou facilmente.
Os três se conheciam desde o ensino fundamental, cresceram juntos,
treinaram juntos, mudaram suas realidades juntos. Tornaram-se jogadores
ainda quando pequenos e batalharam muito por uma bolsa na faculdade.
Realizaram seus sonhos e tinham um pacto de nunca se separarem; se um
deles mudasse de cidade, os outros iriam junto, não tinha escolha.
— Na boa, acho que Jason e Jake vão ficar juntos e nem acho que
vai demorar, mas tomara que Jason faça Jake sofrer para caramba — Carson
opinou.
— Amizade é tudo de que precisamos, não é? — Jake disse irônico.
— Correndo atrás do Brody como um cãozinho. — Chase riu, e o
loiro mostrou o dedo do meio para os dois.

Estavam no centro de treinamento do Rhynos. Por mais que Jake


quisesse, não tinha conseguido ficar sozinho com Jason. Tinham
conversado, mas sempre com os outros do time, então nada de provocações
ainda. O time tinha feito um alongamento com todos os jogadores juntos e,
como estava muito calor, todos usavam regatas e shorts de treino.
Jake se concentrou muito para não olhar para as coxas de Jason, elas
eram ainda maiores e mais bonitas pessoalmente.
O pessoal da defesa estava fazendo alguns treinos no campo. Alguns
do ataque estavam junto, outros estavam na academia. Uma das paredes do
lugar era feita de vidro, o que possibilitava que quem estivesse ali, tivesse
visão do campo. Jake tinha dado umas olhadas para o campo, mas no
momento estava concentrado em sua corrida na esteira.
Chase, que estava na esteira ao lado da sua, tocou no seu braço,
chamando sua atenção. O loiro o olhou confuso, então seu amigo, que
estava com um sorriso de canto nos lábios, indicou o campo lá fora.
Jason Brody estava sem camiseta, como alguns outros do time. Ele
ria de algo que Jay falava. O suor escorria pelo corpo, perdendo-se debaixo
do elástico do seu short, que, para piorar a situação, estava com a barra
levantada, deixando mais das coxas aparecendo.
Jake tropeçou na esteira e precisou se apoiar no aparelho para não
cair no chão e passar vergonha. Chase ria tanto, que saiu do seu aparelho e
se apoiou na parede, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Sabe, você achou que iria ferrar com ele, mas é ele que vai foder
com você — provocou o loiro.
— Tomara — Jake respondeu com um sorriso travesso.
— Vem, tio Jason! — Agatha, a filha de Jay, gritou da piscina. Ela
usava seu maiô e as boias nos braços.
— Tio, vem comigo! — Brandon pediu, esticando os braços.
— Se preparem! — Jason gritou, pegando Brandon nos braços
enquanto as crianças riam. O menino pequeno apertou o nariz e inflou as
bochechas.
Jason se jogou na piscina, isso fez as crianças sorrirem muito mais.
Era uma tarde de sábado, Jay e Sadie tinham chamado Jason para um
churrasco e “festa da piscina”. Na verdade, seriam só eles e as crianças.
Depois daquela semana louca, Jason precisava mesmo relaxar.
Treinar todos os dias não era uma novidade, nem as longas reuniões
com os coachs, formações de estratégias e avaliações. Não, apesar de serem
as partes que diria serem as chatas, Jason gostava. Ele sempre amou cada
detalhe do processo, construir algo, etapa por etapa, ver o time se unindo e
se tornando uma coisa maior que vários jogadores juntos.
Mas ter Jake Lewis entre eles era o problema.
Aqueles sorrisos estúpidos, principalmente quando eram de canto,
os olhares, o jeito como se movimentava... Quando estava em campo, Jake
era focado, seu único objetivo era conseguir o melhor resultado, e Jason o
admirava por isso. Lewis era um jogador exemplar, sabia o que estava
fazendo, que podia melhorar e sabia aonde queria chegar.
Só que fora de campo parecia que seu foco era deixar Jason doido.
O pior? Ele estava conseguindo.
Sadie tinha razão, Jake mexia com ele de um jeito que nenhum outro
havia feito. Não era como com Devon, porque percebeu que Devon era
tesão. Dois jovens adultos, recém-saídos da adolescência, hormônios
explodindo, interesses em comum e presos dentro do armário. Eles se
atraíram um pelo outro, e acabou acontecendo tudo aquilo. Jason sabia que,
se fosse em outras condições, teria se afastado de Devon muito tempo antes.
— Olha o que sei fazer! — Agatha falou orgulhosa, mergulhando e
voltando para cima, mesmo que mal tenha afundado, já que usava suas
boias.
— Isso foi incrível, parabéns! — Jason exclamou, jogando a menina
para cima.
— Venham comer um pouco — Sadie disse, colocando um prato
com espetinhos e espigas de milho em cima da mesa.
— Ah, não — as crianças disseram juntas.
— Venham comer, ou nada de piscina — a mulher disse com as
mãos na cintura. — Jason, acho que os outros convidados chegaram.
— Ok — respondeu sem olhar pelo corredor lateral, de onde as
pessoas estavam vindo. Achou que seriam só eles, mas talvez Sadie tivesse
chamado a irmã e o cunhado.
Ele ajudou os pequenos a saírem da piscina, então se apoiou na beira
e se levantou rapidamente, levando bastante água junto para molhar as
crianças, que estavam perto e riram. Enquanto os pequenos correram até a
mesa, andou calmamente até a espreguiçadeira, pegando sua toalha.
Alongou as costas e se virou, apenas para dar de cara com Jake o olhando
de cima a baixo, com aquele sorriso de canto no rosto.
— Oi — o loiro disse, mas parecia mais uma provocação.
— Olá — Jason respondeu um pouco travado, sem saber o que
fazer, acabando por cruzar os braços.
Os dois se encararam por aqueles segundos. Quando chegou àquela
casa, Jake esperava relaxar ao lado dos companheiros de time, mas foi
agraciado com a visão de Jason Brody, saindo da piscina, totalmente
molhado, flexionando braços e costas, gotas de água escorrendo pelos
músculos.
— E aí, Jason? — Chase cumprimentou, chegando até eles.
— Beleza, cara? — Carson se aproximou também.
— Oi, não sabia que viriam. — Adiantou-se apertando a mão dos
três.
De propósito, Jake foi o último a estender a mão, fazendo com que o
aperto demorasse mais, olhando nos olhos de Jason por todo o momento.
Não foi como nos filmes românticos, como se houvesse choques
percorrendo o corpo por causa do toque, mas o moreno sentia que a
atmosfera inteira estava diferente. E nem Carson nem Chase pareceram
notar ou se importar com aquilo.
— Jay pediu para te entregar. — Jake entregou a latinha de cerveja
que segurava. — Ele nos convidou para o churrasco, não tem problema, não
é?
— O quê? Claro que não — respondeu enquanto abria e tomou um
grande gole do líquido amargo. Ele mataria Jay!
— Sentem-se. Querem alguma coisa? — Sadie perguntou, indicando
as cadeiras.
— Vou ver se Jay precisa de ajuda — Jason disse, sem esperar pela
resposta e caminhando pelo pequeno gramado.
— Não foi culpa minha — Jay disse com as mãos levantadas,
pedindo paz, mesmo que uma delas segurasse um pegador de carnes. — Foi
a mente maligna da minha esposa.
— Poderia ter me avisado — Jason resmungou, não queria chamar
atenção dos outros convidados. — Devo me preparar ou as surpresas já
acabaram?
— Juro, só ia convidar você, Kevin e a noiva dele. Mas aí a Sadie
começou a falar que eu deveria convidar os três, porque eles são novos por
aqui e não conhecem ninguém ainda. Sabe como ela é, muito persuasiva. —
O ruivo suspirou.
— Como se você conseguisse dizer não para ela.
— Não consigo mesmo. — Bufou conformado, com as mãos na
cintura.
— Vocês aprontam, e eu que me ferro. O que eu faço agora? —
brigou com o amigo.
— Sei lá, comer churrasco, beber cerveja, conversar normal. Não é
como se um fosse atacar o outro. — Jay riu, depois fez uma expressão de
preocupado. — Não vão se atacar aqui mesmo, não é? Pelo menos esperem
as crianças dormirem.
— Por que ainda sou seu amigo? — Jason revirou os olhos.
— Oi, desculpa o atraso — Kevin disse se aproximando. — Nora
teve que trabalhar e... que caras são essas?
— Jay convidou os novatos — Brody respondeu em voz baixa,
ainda fuzilando o ruivo com o olhar.
— Todos eles ou só os legais? — Kevin perguntou, desconfiado.
— Só os melhores. — Jay sorriu.
— Então está tudo bem. — O linebacker deu de ombros, para raiva
de Jason, que queria muito bater em alguém no momento. — Eles estão
perto da piscina? Vou lá cumprimentar e já volto.
— Viu? Só você está criando um caso por isso.
— Criando caso? Você sabe muito bem por que estou assim!
— Sei, quer transar com ele e não sabe como pedir — Jay falou
calmamente, e Jason jogou o molho de carne no amigo.
— Oi, Sadie disse para “apressar as coisas ou levar a churrasqueira
para perto da piscina, porque ela não seria a única sociável” — Chase disse,
aproximando-se. — Sua mulher é brava, mas muito legal.
— Eu sei — Jay disse, orgulhoso. — A churrasqueira pesa uns dez
quilos, mas está com carvão, carne e hambúrgueres, vou ter que carregar até
lá com tudo isso.
— Pelo amor de Deus. — Jason revirou os olhos.
Fechou a tampa da churrasqueira, ergueu-a pelas alças e a carregou
pelo gramado. Não era tão pesada, o problema era mais por estar quente e o
vapor, que o deixava suado. Atrás dele, Chase e Jay carregavam o resto das
coisas.
— Pronto — Brody disse, colocando a churrasqueira de metal em
um local próximo, onde Sadie e os convidados estavam sentados. — Sadie,
seu marido é um fraco.
— Você que é um desesperado — o ruivo resmungou.
— Ignora ele, se senta aqui comigo. Jason, meu herói. — Sadie riu,
puxando uma cadeira ao seu lado.
— Alguém me valoriza aqui — ele provocou, sentando-se perto da
mulher.
— Isto aqui está muito bom, sua comida é ótima — Chase disse. O
grupo estava conversando, nada muito profundo, falando sobre a cidade e
como estavam sendo os treinamentos.
— Obrigada, me formei em gastronomia, mas parei de trabalhar
quando engravidei da minha filha. — Sadie sorriu feliz. Ela adorava
cozinhar e fazer jantares em casa para os amigos.
— O próximo churrasco é na nossa casa — Carson avisou.
— Vocês moram juntos? — Kevin perguntou.
— Moramos juntos desde o ensino médio. Então, quando viemos
para cá, achamos melhor dividir uma casa até conhecer melhor a cidade —
Chase explicou.
— Que bom que se dão bem, minha única experiência morando com
amigos foi na faculdade e não foi muito boa — Kevin falou, e todos riram.
— Muita bagunça, muito cheiro ruim e pouca limpeza.
— Minha experiência também não foi tão legal — Jason comentou.
Jake percebeu que, apesar do sorriso, tinha alguma história ruim por trás.
O sentimento de raiva de imaginar que alguém pudesse ter feito algo
contra Jason o surpreendeu. Não por esse sentimento existir, porque já tinha
percebido que, quanto mais tempo ficava perto do moreno, mais se
encantava por ele. O “crush” de adolescência estava rapidamente se
tornando algo muito maior. O que realmente surpreendeu foi a intensidade
dessa raiva.
Quem se atreveria a fazer mal para Jason Brody?
E como ele faria essa pessoa pagar?
— Jason é um jovem rapaz com uma alma idosa. Se alguém
desarrumar suas coisas, já é caso de morte para ele — Jay brincou, fazendo
todos rirem. — Mudando de assunto, já estão se preparando para o boot
camp?
— Não sei vocês, mas eu estou. As crianças vão passar parte das
férias com meus pais, então estarei aproveitando esses dias sozinha e
relaxando. — Sadie sorriu, provocando, e seu marido estreitou os olhos
para ela.
— Eu adoro Outer Banks, mas, depois da primeira semana, tudo que
eu quero é fugir daquele lugar. — Kevin bufou. Jay e Jason concordaram.
— Por quê? A série é ruim? — Carson perguntou, confuso.
— Série?
— É, Outer Banks.
— Não é isso — Jason falou sorrindo, entendendo a confusão. —
Nosso boot camp acontece na ilha Outer Banks. Sempre ficamos em um
hotel em uma das extremidades da ilha, não tem quase nada por perto.
Então as opções de passeio são praia quase vazia e saguão do hotel.
— Outer Banks, que chique! — Carson sorriu. — Nosso boot camp
da faculdade foi feito perto de um pântano.
— Aquele lugar era horrível. — Chase negou com a cabeça. —
Lembra quando Jake lutou contra um crocodilo?
— Você lutou com um crocodilo? — Brandon, filho de Jay,
arregalou os olhos.
— Não era um crocodilo, era um jacaré. E não lutei contra ele, só
foi quase — o loiro corrigiu.
— Como você quase lutou contra um jacaré? — Jason perguntou,
espantado.
— Nosso treinador nos fez dormir em barracas naquela noite,
digamos que o jacaré e eu tivemos a mesma ideia de onde dormir. — Jake
deu de ombros. Ele sorriu com a risada do moreno, o que fez Chase o olhar
debochado.
— Na verdade, o jacaré quis roubar a mochila dele com chocolates,
ele surtou e saiu na mão com um réptil gigante para ter a bolsa de volta —
Carson contou, dramatizando para as crianças, que arregalaram os olhos,
admiradas.
— Bem, por chocolates eu acho um motivo justo — Sadie
comentou.
— Nosso técnico gritando para todo mundo se afastar, e Jake indo
atrás do jacaré com um pedaço de madeira. — Chase ria.
— Por que você fez isso? — Jason perguntou, e o loiro quis se bater
por gostar tanto da atenção do outro.
— Ele rasgou minha barraca e uma mochila pequena ficou presa na
boca dele. Ou ele só estava me roubando mesmo, sei lá. Na mochila tinha
meu contrabando de doces, porque nosso técnico da época enchia muito
nosso saco se comêssemos açúcar. E, para piorar, meu Nintendo Switch,
que passei um bom tempo trabalhando muito para juntar dinheiro para
comprar, estava junto. Eu não ia deixar um jacaré roubar meus chocolates e
meu Nintendo Switch — Jake respondeu como se fosse óbvio, o que fez
Jason gargalhar.
— Jake deu um pau no jacaré. — Carson ria contando. —
Literalmente, foi paulada no bicho, os dois se enfrentando, couro comendo,
aí o loirinho conseguiu pegar a mochila de volta, e o jacaré fugiu.
— Não foi bem assim. — O QB bufou.
— Nosso primeiro jogo será contra o Lansing Alligators. — Jason
riu. — É a chance deles de revanche.
— O defensive end deles é o Bob Quaid, o cara é bom, cuidado —
Kevin brincou. — Ele vai estar na fúria para defender a classe reptiliana.
— Até pode ser bom, mas o nosso é muito melhor. — Sadie riu,
batendo no ombro de Jason, que só deu de ombros, sorrindo.
Horas mais tarde ainda conversavam e brincavam. Agatha e
Brandon imploraram para voltar para a piscina, acabaram convencendo Jay
e Jason a entrarem com eles. Mas no fim apenas Sadie e Kevin ficaram de
fora da piscina, conversando.
Jason estava ignorando totalmente Jake Lewis só de shorts,
molhado, nadando ao seu lado. Carson e Chase eram muito bonitos, ele
reconhecia isso, mas sua sanidade implorava para ficar longe de Jake, já
que sabia que a proximidade poderia ferrar com sua mente.
— Não o deixe pegar a bola, tio Jake! — Agatha gritou na hora que
Jason pulou e pegou a bola que a menina jogou para o pai.
— Tio Jake? Já está me trocando assim? — Jason se fez de
ofendido.
— Ele é do meu time! — ela gritou de volta, rindo. — Pega a bola
dele!
— Deixa comigo! — Jake respondeu. Ele chegou por trás de Jason e
pulou sobre o moreno.
Por instinto, Jason abraçou a bola, protegendo-a com o corpo. O
impacto de um corpo contra o outro fez que Jason se desequilibrasse e os
dois afundassem na água. Jake ainda estava tentando pegar a bola, mas
como Jason não a soltou, estavam praticamente abraçados embaixo da água.
Tudo foi muito rápido, mas os corpos roçaram um no outro, o que
fez Jason arregalar os olhos e Jake sorrir de canto. O loiro passou a mão
pelo peito do moreno, aproveitando a situação para puxar a bola e pegá-la.
— Isso! — Agatha gritou quando os dois emergiram, e Jake lançou
a bola para Jay.
Apesar de continuarem brincando e sorrirem, Jason se sentia
desnorteado.

— Qual é a pessoa mais famosa que segue vocês? — Carson


perguntou, bebendo sua cerveja.
Já era de noite, ainda não era verão, mas já estava quente e abafado.
As crianças já estavam em suas camas, mas os adultos continuavam no
pátio da piscina. Jason estava gostando muito de conversar com Carson,
Chase e Jake. Eles eram divertidos, e, assim que passasse aquela atração
louca pelo loiro, e Jason esperava que passasse logo, sentia que todos
poderiam ser grandes amigos.
— Não vale, a maioria que me segue são outros jogadores — Jay
respondeu rindo. — Eles vão seguir vocês também.
— Escolhe um, então — Carson insistiu.
— Qual deles tem mais seguidores? — Chase perguntou.
— No meu caso, acho que é o Devon Butler, do Madison Steel —
Kevin respondeu, pensativo.
— O cara é bom, foi até para o Super Bowl — Chase opinou.
— Bom? Ele é considerado um dos melhores QBs da atualidade! —
Carson exclamou. Jake não falou nada, mas viu como os cantos dos lábios
de Jason repuxaram em desgosto. Por algum motivo, que ele iria descobrir,
Jason não gostava de Devon Butler. E, pela reação de Jay e Sadie, eles
também não. — E você, Jason?
— Jason é o queridinho, todo mundo o ama — Jay provocou o
amigo, que riu tímido.
— Não exagera.
— Não, é verdade. Em qualquer lugar que vou e que me
reconhecem como esposa do Jay, duas ou três mulheres perguntam se Jason
está solteiro. Eu só passo o user dele nas redes sociais e dou “boa-sorte” —
Sadie disse, e todos riram. Carson olhou para Jake, com um sorriso
provocativo.
— Ele é o que tem mais seguidores — Kevin concordou, todos
bebiam suas cervejas e conversavam tranquilos. — Mas é o que menos usa
as redes sociais.
— Vai, Jason, quem é a pessoa mais famosa que te segue? — Chase
perguntou de novo.
— Não sei se conta como famoso, mas, com certeza, é o mais rico.
Nathan Grant — o moreno respondeu sorrindo.
— O bilionário? — Carson perguntou, surpreso.
— Sim, o namorado dele é de Raleigh e adora o Rhynos. — Jason
deu de ombros.
— Acho que Jason ganhou. — Jay deu de ombros, rindo.
— Espera aí, eu acho que ganho — Jake sorria de canto, o que fez o
moreno tomar um longo gole da sua bebida. — Steve Alexander me segue.
— Steve Alexander? “O” Steve Alexander?! — Sadia gritou a
pergunta, totalmente espantada. — O dr. Sexy?
— Ele mesmo. — O QB sorriu.
— Puta que pariu! Eu sou louca por esse homem!
— Oi, querida, tudo bem? Lembra de mim? Seu marido!
— Amor — Sadie falou, revirando os olhos para o marido —, eu te
amo e quero passar a minha vida com você. Mas estamos falando do Steve
Alexander, um dos melhores e mais gostosos atores que eu já vi!
— Não está se ajudando — Jay comentou.
— Qual é? Eu, que sou hetero, fico em dúvida da minha sexualidade
com o Alexander — Chase falou tranquilamente.
— Minha noiva maratonou todas as temporadas dessa série. Nora
também assistiu àquela série de cowboys que ele fazia na Austrália —
Kevin opinou.
— Nossa, Steve Alexander de cowboy. — Sadie se abanou.
— Ainda estou aqui — Jay a lembrou.
— Relaxa, cara, ele é um ator, o trabalho dele é parecer o melhor
possível. Além de que ele atua muito bem e parece engajado em muitas
causas — Jason falou para o amigo. — Parece ser um cara legal e está em
um relacionamento, não é?
— Setts! — Sadie e Jake falaram juntos. Os dois arregalaram os
olhos, e ela o abraçou. — Um companheiro Setts!
— Eles com certeza são um casal! — Jake riu da animação da outra.
— Com certeza! Aquela foto que o Steve postou entregou tudo. E
tem fã que acha que o Steve namora a Agatha Morissette. — Sadie revirou
os olhos.
— Não mesmo, são amigos há tempo — Jake comentou. Jason só
assistia, achando engraçado. — Não sei como as pessoas veem Steve
Alexander e Scott Andrews juntos e falam que eles são amigos. Por favor,
Carson e Chase são meus melhores amigos há anos, eu não olho para eles
daquele jeito.
— O fotógrafo loiro bonito? — Chase perguntou. — Jake, na boa,
se você ficasse me tocando igual o Steve toca nele, teríamos uma conversa
séria sobre limites.
— Ele é gay mesmo? — Jay perguntou. — Não sabia se era verdade
ou só especulação.
— Não, mas só falta escrever na testa — Sadie brincou, então
assumiu aquele sorriso doce, que usava antes de provocar alguém. — Bem,
mas, como o relacionamento dele com o Scott não foi confirmado, e
obviamente Steve tem uma queda por loiros, talvez ele esteja de olho no
nosso querido Jake.
— Pode ser, ele mandou umas mensagens para Jake, depois da final
do campeonato universitário, falando que o loirinho era incrível, lindo e tal.
— Ele não disse lindo. — Jake riu. — Mas me parabenizou pelo
trabalho, disse que o jogo foi incrível e queria ter estado no estádio para
assistir.
Jason se controlou para não demonstrar, mas, se tinha alguma
admiração por Steve Alexander, morreu ali. Não importava se o ator estava
fazendo um ótimo trabalho em prol da comunidade LGBT. Ele se achava no
direito de dar em cima de outra pessoa daquele jeito. Certo que ambos
deviam estar solteiros e ele nem sabia se Jake ou Jason se interessavam por
homens, mas ainda era um abusado arrogante.
— Isso, amor, Jake tem mais chances do que eu. — Sadie riu,
beijando o rosto do marido.
— Ah, então está explicado por que te segue — Kevin brincou,
todos riram, e Jason não estava achando a menor graça.
— Vocês já conversaram? Porque eu mataria para ser amiga dele.
Diz que, se casarem, meu direito é ser madrinha — Sadie disse, e Jason a
olhou revoltado.
— Já trocamos umas mensagens, ele encorajou bastante a gente ano
passado. Mas nunca nos vimos pessoalmente nem nada disso. — Jake
sorriu.
— Mas bem que Jake queria — Carson provocou.
— Não estou dizendo nem que sim, nem que não, só um talvez — o
loiro respondeu, e todos riram.
— É, o cara é lindo — Chase concordou.
— Gostoso, não é à toa que o chamavam de Dr. Sexy. — Sadie
suspirou. — Cada episódio é melhor do que o outro.
— E aquele episódio em que ele atende um acidente de carro no
meio da estrada à noite, logo depois de descobrir que a namorada estava o
traindo? — Jake perguntou animado, e Sadie sorriu tão animada quanto.
— Começa a chover, e ele está usando aquela camisa branca, que
fica transparente molhada? Tadinho, saiu de casa todo lindo para pedir
aquela vaca da Bethany em casamento, terminou a noite sem camisa, na
chuva, salvando a vida de várias pessoas. — Sadie suspirou, com a mão no
peito.
— As lágrimas se misturando as gotas da chuva e escorrendo pelo
rosto. — Jake suspirou, os dois pareciam melhores amigos.
— Isso nem faz sentido — Jay reclamou.
— Claro que sim — a esposa defendeu.
— Não faz, não. Como que ele acabou sem camisa? O que
aconteceu? Sumiu magicamente? — Jason debochou.
— Ele rasgou em pedaços para fazer torniquetes e fazer os primeiros
atendimentos — agora era Jake que defendia o personagem.
— Nossa, porque tem muita lógica — o moreno revirou os olhos.
— Dr. Sexy era o melhor médico daquele hospital. Ele abriu mão do
emprego dos sonhos para salvar a vida de uma criança.
— Tenho certeza de que isso acontece todos os dias, muito realista.
— Calma, é só uma série — Sadie interferiu. — Mas tenho certeza
de que o Alexander é tão legal quanto o personagem.
— Acho que o Steve é ainda mais legal — Jake provocou. — Dr.
Blake teve uns momentos babacas, mas o Steve sempre foi incrível.
— Steve? São íntimos, hein? — o moreno debochou.
Jay, Carson, Chase e Kevin apenas tomavam suas cervejas e
assistiam ao embate entre Jason e Jake. Já Sadie achou que era uma ótima
oportunidade para colocar mais lenha.
— Não ligue para ele, Jake, Jason só está com inveja. Você faz o
tipo do Steve Alexander, ele não.
Jason amava aquela mulher, mas naquele momento a olhou como se
pudesse matá-la.
— Steve também faz o tipo do Jake — Chase comentou. — Ele
gosta de morenos altos.
— O que eu posso fazer? — Jake deu de ombros, e todos riram.
Ficaram um pouco mais, até que a noiva de Kevin ligou e ele se
despediu. Nora era enfermeira e tinha coberto um plantão, agora ele a
buscaria para irem para casa.
— Uma das coisas que eu amo nesta cidade é o fato de sermos
jogadores profissionais, contratos milionários, mas todo mundo vive de boa.
— Chase suspirou feliz.
— Ele é nosso bicho do mato — Carson indicou o amigo. — Uma
casa confortável, boa comida e um campo para jogar futebol americano é
tudo de que ele precisa.
— Cara, detesto agitação. Gosto de ficar na minha, tranquilo —
Chase explicou.
— Eu te entendo, detesto quando temos que ir a eventos grandes.
Até gosto de ir assistir a lutas ou ver algum show de música, mas não
entendo a necessidade de ir para a balada toda semana e ficar bêbado até
desmaiar — Jason comentou. — Prefiro ficar em casa, comendo uma pizza
e jogando videogame.
— Por isso que você e Jake combinam — Carson falou distraído. —
Toda noite antes dos jogos, principalmente os importantes, ele gosta de ficar
em casa, se concentrando, jogando Mario Kart.
— Não jogo só Mario Kart, depende do dia — Jake se defendeu.
— Tenho um ritual um pouco infantil. — Jason sorriu para o loiro.
— No dia seguinte de um jogo, eu jogo Madden. Meu time é sempre o
Rhynos, e coloco o time que jogamos contra como adversário.
— Para se vingar ou reviver a vitória? — Jake riu quando o moreno
concordou. — Isso é genial, com certeza vou fazer também!
— A próxima versão será lançada em agosto, então seu nome já
estará lá — ele falou, e os olhos de Jake se arregalaram. — Eu sei, também
surtei quando vi meu nome como opção de jogador.
— Toda vez que jogo, eu vendo o Jason. — Jay sorriu, provocando.
— É uma satisfação vê-lo indo embora.
— Vou fazer isso com o Carson! — Chase riu e recebeu um tapa do
amigo.
— Vocês podiam jogar juntos, criar um novo ritual. Tipo, os
capitães da defesa e ataque se unindo — Sadie jogou a ideia no ar, e Jake
sorriu.
— Gosto dessa ideia.
— Está tudo bem, só respira fundo. Vai dar certo. — Jason apertou o
ombro de Jake.
— E se eu fizer merda? Errar alguma coisa ou falar besteira?
— Calma, responda sinceramente. Se for algo que não saiba, diga
“Não sei se posso falar sobre isso agora, mas assim que eu for liberado,
respondo a essa pergunta”, depois ri — o moreno aconselhou. — Evite dar
opiniões pessoais, fuja desses assuntos e, se insistirem, responda que está
aberto para conversar sobre o esporte e o time. O truque é sempre falar
calmo e sorrindo. Todo mundo ama seu sorriso.
— Nem todo mundo.
— Steve Alexander ama — Jason debochou, e Jake riu.
— Cara, não vai esquecer disso?
Os dias tinham se passado, e Jason estava mais confortável com a
presença de Jake. Os treinos estavam indo bem, e eles embarcariam para o
boot camp no domingo à tarde. Fariam uma viagem de quatro horas de
carro, depois pegariam uma balsa para chegarem à ilha, onde ficariam por
duas semanas. Alguns estavam animados, principalmente os novatos, já os
que estavam no time havia mais tempo procuravam motivos para diminuir o
tempo de estadia, mas todos sabiam como aquele momento era importante.
Além da integração entre novos e antigos jogadores, treinos e fazer
com que todos agissem como um time unido, o boot camp servia para testar
combinações e ver quem seria titular, pelo menos nos primeiros jogos. Ao
mesmo tempo que eram treinos intensos, uma das principais funções era
testar os jogadores, ver seus limites, conexões e como trabalhavam juntos
Já era sexta-feira, dia da primeira entrevista coletiva de Jake como
QB titular do Raleigh Rhynos. Ele estava ansioso e com medo de fazer algo
errado. Jason o entendia. Quando foi sua vez, tudo que lhe davam eram
conselhos rasos, “seja você mesmo”, mas ninguém parecia entender o medo
que crescia dentro dele. Ele sabia como era ruim e, por isso, escolheu estar
ali com Jake, mostrar que o loiro não estava sozinho.
— Sei que não vai relaxar, então respira fundo e finge que está bem,
que não está com medo. Se as pessoas sentirem que está nervoso, não vão
acreditar em você.
— Amo ser atleta e não me vejo fazendo outra coisa que não seja
jogar futebol americano, mas essa parte é um saco.
— Não dava entrevistas na Flórida? — perguntou sorrindo.
— Era a liga universitária, normalmente eu falava coisas do tipo
“Foi um bom jogo, mas tentaremos ser melhores no próximo”. No máximo,
participava de reportagens do jornal da faculdade. Aquilo ali é insano. —
Indicou a sala de coletivas já cheia, onde Isaac falava sobre as expectativas
da próxima temporada.
A sala de coletiva ficava dentro do estádio do Rhynos, tinha um
pequeno palco com uma mesa e cadeiras. A plateia era formada por
repórteres do país inteiro, diferentes veículos de mídia de tamanhos e
importância variados. Além de que a equipe de comunicação do próprio
time gravava as entrevistas para postar nas redes sociais do Rhynos.
— Assusta no começo, depois fica só chato. Saiba escolher as
primeiras pessoas que farão as perguntas, porque é provável que essas
perguntas definam as outras. Nessas você tem que ser sorridente e parecer
muito confiante, mas não responder tudo. Isso vai fazer os outros repórteres
seguirem a mesma linha de perguntas. Eu dou preferência para os jornais
locais e sites que falem de esportes, principalmente futebol americano.
Esses têm perguntas mais focadas e dificilmente vão nas fofocas.
— Cara, obrigado mesmo. Você foi o único que me deu conselhos
de verdade. Todo mundo fica repetindo só para eu me acalmar, que eu vou
me dar bem ou “ser eu mesmo”. Não quero ser eu mesmo quando estou
surtando de ansiedade! — Jake exclamou, e Jason riu.
— Tudo bem, eu sei como é. Na minha primeira entrevista, eu não
sabia o que fazer, acabei escolhendo a primeira pessoa que vi, e ele me
perguntou sobre estatísticas que provavam que o Rhynos não ganharia
aquela temporada e o que eu faria para fazer valer o investimento que
fizeram em mim.
— E o que você respondeu?
— Não lembro, tentei enrolar falando que daríamos nosso melhor e
coisas assim, enquanto tentava não ter uma crise de ansiedade e começar a
chorar ali mesmo. — Jason deu de ombros, vendo um sorriso surgindo no
rosto de Jake. — Então a próxima pergunta foi qual era a minha opinião
sobre o escândalo sexual em que Ron Jameson se envolveu.
— Quem é Ron Jameson?
— Até hoje não sei. — Suspirou dramaticamente, e Jake começou a
rir, a ponto de lágrimas se formarem nos seus olhos. Jason ficou muito
orgulhoso de si. — Olha, sei que é difícil e assustador e não vou mentir
dizendo que fica fácil com o tempo, porque não fica. Ainda mais depois que
começar a temporada e tivermos que dar entrevista depois do jogo, porque
não vamos ganhar todos e teremos que lidar com a frustração enquanto
sorrimos confiantes para a câmera. Mas você não está sozinho. Se quiser,
fico bem aqui, assistindo e te apoiando.
— Por favor. — Deu um sorriso tímido ao fazer um pedido
sussurrado. — Seria bom ter você comigo.
E foi nesse momento, com a confissão sincera e os olhos claros e
brilhantes o encarando de volta, que Jason tomou a decisão que podia
parecer mais simples, mas que mudaria tudo. O moreno estendeu a mão e a
colocou no ombro de Jake. Mesmo o loiro sendo alguém alto e forte, no
momento parecia alguém vulnerável que precisava ser acolhido. E Jason
sentia a necessidade de ser aquele que o acolheria.
— Te prometo estar com você todas as vezes que eu puder. Se ficar
muito nervoso, só olhe para o lado e me verá bem aqui, então verá que não
está sozinho.
— Obrigado — respondeu com um sorriso mais feliz, segurando a
mão do moreno, que estava em seu ombro.
Os dois se encararam por alguns segundos. Os olhos de Jake
brilhavam, e ele apertava a mão de Jason, agradecido e feliz. Era Jason
Brody, o cara por quem tinha tido uma paixão platônica por anos,
confortando-o e prometendo estar com ele. A promessa podia até ser vazia,
mas escolheu acreditar com todo seu coração. Então, pelo menos por
aqueles minutos, era a pessoa mais feliz do mundo.
Já Jason sorria, mas sentia um furacão dentro do peito. Não sabia
lidar com o que estava sentindo, sua vida estava muito bem-organizada
antes de aquele loiro com sorriso perfeito e olhinhos brilhantes surgir e
bagunçar tudo. Eles não tinham falado de sentimentos ou intenções, nem
mesmo tinham feito algo, já que as pequenas provocações de Jake não eram
nada. Mas o moreno sabia que estava a alguns passos de derrubar os muros
que havia construído cuidadosamente ao longo de sua via. E sabia que faria
qualquer coisa para cumprir a promessa que tinha feito para Jake.
— Lewis, vamos? — Lindsay Brooks, a relações públicas do time,
chamou-o.
— Vai lá, vou estar aqui. — Jason sorriu, Jake apertou a mão dele de
novo, concordando com a cabeça e foi para a coletiva, sendo recebido pelo
assistente de Lindsay, que o ajudou com a parte técnica.
— Jason, sabe que gosto muito de você, não é? — ela perguntou
para o atleta.
— Sei, também gosto de você e do seu marido — respondeu
confuso.
— Te considero um amigo e, por isso, preciso perguntar, tem algo
que eu deveria saber?
— Do que está falando?
— Você sabe muito bem. — Ela indicou Jake com a cabeça. O loiro
estava sentado atrás da mesa, sorrindo para os repórteres, tentando esconder
o nervosismo. — Não me intrometo na sua vida pessoal nem vou começar
agora. Mas sou sua amiga e responsável por toda a imagem deste time. Se
algo acontecer, por favor, me conte para que eu me prepare.
— Não entendo por que está falando isso.
— Não, é? — Lindsay cruzou os braços. — Não sou burra, Jason. O
jeito como vocês estavam se olhando é como eu olho para o meu marido.
Não estou julgando e, se acontecer, espero que dê certo e que sejam felizes.
Mas preciso saber de tudo para fazer meu trabalho.
— Eu sei, mas não é isso que está pensando — tentou se justificar.
— O que estou ou não estou pensando não importa. É a sua vida,
viva do melhor jeito possível. Só estou pedindo que, caso algo aconteça,
você me conte. Promete?
— Prometo. — Suspirou, derrotado.
— Certo, isso é tudo de que preciso por enquanto. Jake ficará lá por
quinze minutos, depois te chamo.
Lindsay voltou para a coletiva, que já tinha sido iniciada. Jason
ficou no seu lugar, sentindo o coração batendo rápido. Que merda, quando
sua vida tinha virado aquela confusão?

— Achei que já teria ido embora — Jason comentou quando saiu da


sua parte da entrevista coletiva e encontrou Jake sentado no corredor,
jogando no celular.
— Você ficou aqui por mim, era justo eu ficar também —
respondeu, aceitando a mão estendida de Jason, que o ajudou a se levantar.
— Preciso aprender com você a ser tão bom nessas entrevistas.
— Não se preocupe, você foi ótimo.
— Gaguejei quase o tempo inteiro. — O loiro riu.
— Mas disfarçou bem. — Eles andavam lado a lado, em direção ao
estacionamento.
— Obrigado pelas dicas, foi muito importante.
— Não precisa agradecer. — Jason sorria e formava ruguinhas no
canto dos olhos quando ele fazia isso. Jake achava aquilo lindo. — Você
usou a frase que eu te disse.
— Sim, e isso me salvou! — disse dramaticamente, fazendo o outro
rir. — Escuta, estou te devendo uma. Chase, Carson e eu vamos a um pub
perto de casa, só beber um pouco e ver esportes, te pago uma cerveja como
agradecimento.
— Não sei, não quero incomodar, e isso parece uma saída de
amigos.
— Por favor, estou em débito com você.
Jason quis se bater, aqueles malditos olhos brilhantes pidões
conseguiriam quase tudo dele.
— Ok.
— Beleza, vamos no meu carro? — perguntou, animado.
— Estou com meu carro aqui e não quero deixá-lo até amanhã. Eu
te sigo — respondeu rápido. Não queria depender da carona de ninguém,
porque, se precisasse fugir do lugar, queria seu carro pronto.
— Tudo bem, é o Nashorn, conhece?
— Conheço — Jason respondeu com um sorriso.
— É a primeira que vamos, achamos no Google, e a avaliação é
muito boa.
— Faz umas semanas que não vou lá, pode ser legal.
— Por que não foi lá nesse tempo? Algo que não gostou?
— Não, acho que só deixei passar mesmo, ele fica uns 20 minutos
da minha casa, então tenho uma desculpa. — Riu.
— Sério? — Jake sorriu de canto, e Jason não entendeu o motivo.
— Chase e Carson já estão lá, vamos?
— Claro. — O moreno engoliu em seco.
Enquanto estava no seu carro, dirigindo para o pequeno bar, sentiu-
se um idiota. Era só uma reunião de colegas de trabalho que,
provavelmente, seriam amigos em breve. Não tinha por que se preocupar,
iriam beber algumas cervejas, talvez assistir a qualquer que fosse o esporte
que estivesse passando nas televisões, jogar sinuca ou dardo e conversar.
— Jay tem razão, sou muito dramático. — Revirou os olhos para si
mesmo.
Era uma besteira ter passado aqueles dias se torturando por causa de
Jake. O cara era lindo? Sim. Gostoso? Sim. Inteligente? Também. Divertido
e do tipo fácil de conversar? Com certeza. Mas isso não queria dizer que
estava interessado, que algo aconteceria ou qualquer coisa nessa linha.
Talvez a tensão sexual só existisse na sua cabeça. Carson e Chase
também eram bonitos e não estava sentindo nada por eles. Fazia tempo que
não tinha um encontro decente, podia ser isso. Assim que voltasse do boot
camp, falaria para Sadie que ela podia encontrar mais alguém. Bem, teria
que convencê-la de que essa pessoa não poderia ser Jake, mas, depois que
ela entendesse, ficaria tudo bem.
Sentiu um peso sendo tirado dos seus ombros e sorriu aliviado. Até
cantarolou a música que tocava na rádio, era Lights Up, do Harry Styles, e
quis rir de desespero, mas continuou como se nada tivesse acontecido. Não
deixaria sua noite ser arruinada pelo timing sádico de quem havia escolhido
que aquela música tocasse naquele momento.
— Demorou — Jake zombou quando desceu do carro.
— Perdão se dirijo de modo seguro — Jason respondeu rindo.
— Vem logo! — o loiro o puxou.
— Jason Brody! — duas garotas gritaram e pediram para tirar fotos.
O moreno sorriu e as cumprimentou, tirando fotos, e escutou um pouco do
que elas diziam. Coisas sobre como tinham certeza de que a próxima
temporada seria ótima e que estavam torcendo por ele.
— Animadas, não é? — Jake debochou quando as duas garotas
beijaram o rosto de Jason e foram embora, gritando e comemorando.
— Você teve sorte que não te reconheceram, mas vai ter que se
acostumar com isso. Principalmente aqui — o moreno disse, abrindo a
porta.
— Por quê?
— Sabe o que Nashorn significa?
— Não, o quê?
Jake fez a pergunta, mas assim que entrou soube. O bar inteiro era
decorado com a temática Rhynos. Paredes pintadas de preto e amarelo,
fotos de importantes jogadores e momentos inesquecíveis. Uma enorme
faixa com o nome do time, logo é data de fundação. Havia pequenos
rinocerontes desenhados pelo bar e canecas de chopp promocionais em
formato de cabeça de rinoceronte.
A maioria das pessoas também usava preto e amarelo, camisetas de
jogo com número e nome de diferentes jogadores, camisetas de passeio com
o logo do time, entre outras peças de roupa que tinham o símbolo do time.
Havia pessoas com roupas de outros times, mas as que ostentavam seu amor
pelo Rhynos eram a maioria.
— Brody! — alguém gritou, e várias pessoas se viraram para eles,
os cumprimentando, batendo nos ombros, comemorando.
— Meu Deus — o loiro murmurou.
— Bem-vindo ao local onde os torcedores se reúnem. — Jason riu,
cumprimentando torcedores. — Sei que é loucura, mas eu amo este lugar.
— Brody, meu garoto! — disse um homem alto. Devia ter mais de
cinquenta anos, era loiro e com barba cheia. Usava uma camiseta do
Rhynos com o número 28. — Que bom que chegou, seus amigos já estão
sentados.
— Obrigado, Heinrich. — Jason apertou a mão do homem e o
abraçou como um velho amigo. — Jake, este é Heinrich Koch, dono deste
lugar incrível e um dos maiores fãs do Rhynos. Heinrich, este é...
— Jake Lewis! —o homem exclamou feliz e abraçou Jake, beijando
seu rosto. — Achou mesmo que eu não reconheceria nosso amado QB?
Lewis, depois que soube da sua contratação, assisti aos seus jogos na liga
universitária. Você é um bálsamo para nosso time. Exatamente o que
Rhynos precisava.
— Ah, obrigado. — Sorriu tímido.
— Venham, os amigos de vocês já estão os esperando. — Heinrich
os conduziu pelo amplo saguão do pub. Jake se admirou, o lugar parecia
bem maior por dentro do que parecia por fora.
— Jake! — Chase exclamou, vendo-os chegar. Ele e Carson
estavam na melhor mesa do lugar, já tomando cerveja e com uma enorme
porção de fritas e frango frito. — O pessoal daqui nos reconheceu assim
que entramos, eles são muito legais!
— Somos quase reis aqui dentro. — Jason riu, sentando-se com
eles. Imediatamente uma garçonete surgiu, entregando uma cerveja para
Jake e outra para Jason.
— Sugiro que vocês dois não fiquem bêbados — Carson disse,
pegando mais um pedaço de frango. — Chase e eu já bebemos muito,
alguém aqui terá que ser o responsável.
— E por que tem que ser nós dois? — Jake perguntou.
— Você lembra como Chase e eu ficamos quando estamos bêbados?
Vai querer passar por isso sozinho?
— Não — o loiro resmungou, o que fez Jason se perguntar o que
aqueles dois poderiam aprontar de tão grave.
Jason já sabia que os três novatos eram pessoas legais. Por isso, não
foi surpresa se darem tão bem. Eles riam muito, contavam histórias, e
Carson estava determinado a contar qualquer situação que lembrasse que
envolvesse Jake passando vergonha, o que fazia o loiro gritar com o amigo,
mas era tudo uma grande brincadeira.
— Vamos lá — Chase insistiu, tentando convencer Jason a jogar
sinuca com ele.
— Sabe que eu treino isso quase toda semana e você já está quase
bêbado, não é?
— Eles nunca ganharam de mim, mesmo comigo quase em coma
alcoólico.
— Pior que é, uma vez ele estava tão bêbado, que depois de cada
tacada, tinha que ir para o banheiro vomitar. O desgraçado ganhou. —
Carson bufou, revoltado.
— E o prêmio era uma garrafa de uísque, Chase só está entre nós
ainda porque Deus permitiu. — Jake deu de ombros.
— Vamos, Jason, eu aposto o Jake — Chase disse, apontando para o
amigo. — Pode ficar com ele se eu perder.
— O quê? — o loiro perguntou, revoltado.
— Se ganhar, também pode — Carson completou, bebendo sua
cerveja e Jake jogou um pedaço de frango contra ele. Jason apenas ria.
— Mas, se eu ganhar, vai ter que postar uma foto minha, dizendo
que eu sou o melhor.
— Isso não vai acontecer — o moreno respondeu, levantando-se e
aceitando o desafio.
— Você nunca vai torcer para que seu namorado ganhe como hoje.
— Carson riu de Jake.
— Cala a boca, baixinho!
Chase e Jason jogavam sinuca, e a disputa era acirrada, os dois eram
muito bons. Várias pessoas se juntaram para assistir, incluindo Jake e
Carson. Muitos dos espectadores gravavam e tiravam fotos para postar, e
Jason estava se sentindo tão bem, tão feliz no momento, que nem se
importava.
— Jason chegou na última bola! — Carson gritou para todos
ouvirem.
Brody se inclinou sobre a mesa, sua mão estava no pano verde e a
outra segurava o taco. Ele mirava na bola, calculando para onde ela iria e a
quantidade de força que teria que usar. Olhou para o lado e viu Jake o
olhando atentamente. Jason sorriu de canto e piscou para o loiro, então seus
olhos se voltaram para o jogo.
— Não! — Chase gritou quando a bola preta rolou direto para
dentro da caçapa.
— Jason ganhou! — Carson berrava, rindo.
— Eu avisei. — Jason deu de ombros, sorrindo.
— Merda! Quero revanche!
— Hoje não. — O moreno deixou o taco sobre a mesa, as pessoas o
parabenizavam. — Koch, me empresta uma caneta?
— Claro. Aqui, meu amigo.
— O que vai fazer? — Jake perguntou sorrindo quando Jason se
aproximou dele e pegou sua mão.
— Bem, ganhei a aposta — respondeu, escrevendo “Jason” no dorso
da mão de Jake e circulando o nome. — Agora você é meu.
— We are the champions. We are the champions — Carson cantava
a música do Queen enquanto Jason o carregava bêbado. — No time for
losers. 'Cause we are the champions of the Woooorldddddd.
Era madrugada, o moreno tinha ficado muito mais tempo do que
pensou. Divertiu-se muito, ganharam bebidas de torcedores, tiraram fotos
com eles e fez questão de apresentar os novos jogadores. Fingiu não se
importar com a quantidade de mulheres elogiando e abraçando Jake, nem
com todos os números de telefone que entregavam para ele com piscadas de
olho. Apenas riu e continuou fingindo.
Heinrich tirou uma foto dos quatro jogadores, porque disse que
precisava salvar aquele momento, já que acreditava, com todo seu coração,
que era o início de uma nova era para seu amado Rhynos. Então teve a ideia
de tirar uma foto só de Jake e Jason, “seus capitães”.
Eles estavam lado a lado, Jason tinha um braço por cima do ombro
de Jake. O loiro segurava uma bola oval com o símbolo do Rhynos. Eles
sorriam, como se soubessem de algum segredo.
— Caramba, gostei muito dessa — o QB disse, olhando para a foto.
— Mando para Brody — o dono do bar respondeu, feliz.
— Podemos postar como colaboração — o loiro sugeriu, e o moreno
ficou confuso.
— Como o quê?
— Me dá seu celular. — Jake riu, pegando o celular do outro e
entrando na rede social dele, feliz por Jason o seguir, mesmo que Sadie
tivesse contado que foi ela. — Vou postar e mandar solicitação para mim,
assim nós dois teremos o mesmo post.
— Eu nem sabia que dava para fazer isso. — Jason riu. Ele não
comentou, mas na foto, se olhasse para a mão de Jake, veria o nome de
Jason escrito. Podia ser errado, mas ele sentiu uma satisfação um pouco
possessiva de saber que todos poderiam ver.
— O que coloco na legenda?
— Não sei? Um emoji de rinoceronte?
— Jason! — Jake riu.
— Are you ready? — Jason leu por cima do ombro do outro.
— E coloquei um emoji de rinoceronte embaixo para te deixar feliz.
— O loiro sorriu, apontando o emoji.
— Gostei. — O moreno sorriu.
— Minha vez — Jake disse, pegando o próprio celular e aceitando a
solicitação. Tinha colocado várias coisas nas hashtags, incluindo que eles
eram os capitães e o nome do time.
— Caramba. — Jason riu. Em minutos, tinha centenas de curtidas e
dezenas de comentários. A frase tinha virado uma hashtag, e muitas pessoas
usavam #areyouready.
Não ficaram olhando muito tempo, porque Carson os chamou para
jogar dardos. Ele dizia que queria fazer dupla com Jason, já que ele parecia
ser foda em tudo. E não seria justo “o foda” estar com o QB, que tinha
como único trabalho ter boa mira, de acordo com suas palavras.
— Mas é um filho da puta mesmo — Jake reclamou.
— Se concentra, precisamos ganhar! Não posso perder de novo! —
Chase reclamou.
Ele e Carson estavam completamente bêbados, a mira estava
péssima e se acertasse o alvo, já era motivo de comemoração. Então a
disputa ficou entre Jake e Jason.
— Não, não, não mesmo — o loiro reclamou. Ele estava ganhando
apenas por poucos pontos. Se Jason acertasse, ele ganharia. — Como? Eu
sou o QB!
— Eu te disse, treino isso há muito tempo. — O moreno riu. —
Quem sabe um dia te ensino? — brincou, batendo seu quadril no de Jake, os
dois sorriam, até que se encararam.
Jason recuou um passo imediatamente, as pessoas em volta
brincavam e comemoravam. Ele não podia ser tão descuidado, ninguém
podia perceber nada. Mas ficar longe de Jake era impossível, ele até tentou,
porém era se distrair que já estava com o loiro, tocando nele, rindo com ele.
— Tudo bem mesmo? — Jake perguntou quando Jason disse que o
ajudaria a levar os amigos para casa.
— Não se preocupe, só mostrar o caminho.
— Ok, mas deixa a porta bem trancada, senão Carson pode escapar.
E não estou brincando. Uma vez o persegui de madrugada por vários
quarteirões enquanto ele corria pela rua e cantava “If I Could Fly”, do One
Direction. E ele é rápido.
— Trancar bem a porta, entendi. — Jason ria.
— E ignora o que ele falar, Carson não pensa em nada quando está
assim. Sério, o ignore — implorou.
— Vou tentar.
Jake suspirou e apoiou Chase para seu carro, enquanto o amigo
bêbado estava revoltado por ter perdido os jogos e contava como tinha sido
consolado por uma loira na parte de trás do bar. Jake tinha uma expressão
de quem preferiria morrer a ouvir aquela história.
Jason riu e levou Carson para seu carro. O mais baixo estava
animado, tentando dançar e até tentou valsar com Jason no estacionamento.
Com muito custo, o moreno o colocou no carro, prendeu o cinto de
segurança e deu a volta correndo. Assim que entrou, travou as portas e os
vidros, esperou Jake sair com seu carro e o seguiu.
— Aumenta o som! — Carson disse de forma enrolada, tentando
performar “Born This Way”, da Lady Gaga. — I'm beautiful in my way.
'Cause God makes no mistakes.
O moreno ria, tentando não perder o show ao mesmo tempo que não
tirava os olhos do carro de Jake. Em um momento, os carros ficaram lado a
lado em um semáforo. Pela janela, viu que Chase contava algo para Jake
fazendo muitos gestos e Jason não queria entender o que era. Já Jake viu
Jason rindo, enquanto Carson tentava fazer alguma coreografia que, na
cabeça dele, fazia sentido.
— Eu gosto de você. Gosto de verdade. — Carson riu para Jason. —
Não como Jake que gosta, gosta, mas gosto tipo, você é meu amigo,
parceiro. Não do tipo “parceiro do Jake”, do tipo “parceiro do Carson”.
— Parceiro do Jake? — Jason ria.
— É, tipo que fica com esses olhares, toquezinho, risinho, mas que
depois vão para o quarto e usam a boca para fazer outra coisa. — Ele deu de
ombros, e o motorista quase freou de susto.
— Acho que você está muito bêbado — tentou desconversar.
— Sabe, sei o que Jake vê em você. Também sou bi, então entendo
mesmo. Você é um cara legal e gostoso, que são coisas muito importantes
em um cara. Jake tem sorte de ter você.
— Obrigado?
— Ele fez a gente vir pra cá por sua causa — o outro falava rindo,
mas aquilo deixou o moreno confuso. — Mas foi bom, essa cidade é legal
pra caramba, e estamos felizes aqui. Mais do que achei que estaríamos. —
Ele suspirou. — Precisávamos de um lugar assim, de paz, sabe?
— Sei bem.
— Não brinque com meu irmãozinho — Carson disse bravo, do
nada. — Se machucar o coração dele, eu vou machucar o seu. Vou enfiar
um espeto de ferro no meio do seu...
— Escuta, está tocando Queen, você gosta?
— SIM!
Quando chegaram à casa, Jason viu que ela era até grande, maior
que a sua, mas era justificável, já que moravam três homens adultos. Ficava
dentro de um condomínio. Da calçada para a porta tinha um pequeno
caminho, e as cercas davam privacidade.
— Pode colocá-lo lá dentro? Qualquer lugar serve, até o chão do
banheiro — Jake disse, fazendo um malabarismo para abrir a porta com
Chase apoiado em si, dormindo.
— Onde são os quartos deles?
— Carson é o primeiro depois da escada, o do Chase é o último à
direita, e o meu o último à esquerda — Jake quis se bater quando percebeu
que falou onde era seu quarto, sendo que isso nunca foi perguntado.
Jason deitou Carson em sua cama, ele ainda cantava. O moreno tirou
os sapatos e a camiseta do outro, que reclamava que iria contar para Jake,
mas, assim que se afastou, Carson já estava dormindo.
— Obrigado pela ajuda. E pela noite. E pela ajuda na entrevista —
Jake disse quando acompanhou Jason até a porta.
— Não precisa agradecer por nada, e a noite foi divertida, mais do
que achei que seria. — O moreno sorriu.
A mão do loiro estava sobre a maçaneta, mas ele não abriu a porta.
Os dois se encaravam, os sorrisos foram desaparecendo aos poucos. Jake
colocou sua mão livre no ombro de Jason. Era hesitante, e estava com medo
da reação, mas Jason apenas estava lá, olhando-o de volta intensamente.
Deu um passo para frente, ficando ainda mais perto e esticou a outra
mão, colocando no rosto de Jason, que fechou os olhos por alguns
segundos, sentindo o toque. Quando os abriu, eles tinham um brilho
diferente, parecia queimar, o que fez o loiro suspirar. O moreno segurou a
mão de Jake, que ainda fazia carinho no seu rosto, seu nome ainda estava
escrito nela.
— Obrigado — Jake sussurrou.
— Não precisa me agradecer — respondeu no mesmo tom de voz.
— Você não sabe pelo que estou agradecendo.
— Talvez eu saiba.
De modo trêmulo, Jake se inclinou, e seus lábios tocaram os de
Jason. Foi hesitante e vagaroso, apenas sentindo a maciez. As mãos do
moreno foram para sua cintura, mas ele parecia não saber o que fazer. Era
como se o tempo tivesse parado, eles estavam quentes, suas respirações
misturadas.
Jake se afastou um pouco, tudo estava confuso, e ele não sabia como
o outro estava se sentindo. Apesar dos toques hesitantes, o olhar de Jason
queimava ainda mais.
— Jason...
— Jake...
Dessa vez foi Jason quem tomou a iniciativa. Ele segurou o loiro
pela nuca e tomou sua boca. Os lábios mal se tocaram, e as línguas estavam
se esfregando, tudo foi intenso demais. Era desesperado e agressivo, Jason
prendeu Jake contra a parede, ainda o beijando. O loiro queria suspirar e
gemer, os corpos deles se esfregavam, os dois queriam aquilo e mais.
As mãos de Jason deslizaram pelo corpo de Jake, que se contorceu,
querendo mais toques. Suas mãos também não estavam paradas, ele queria
qualquer pedaço de Jason Brody que conseguisse. E Jason pensava o
mesmo de Jake.
Já estavam ficando duros, as ereções crescentes se esfregando.
Então Jason, sem o outro esperar, pegou Jake no colo. O loiro abraçou o
pescoço do moreno para se apoiar, mas não conseguiria parar de beijá-lo,
mesmo que sua vida dependesse disso.
— Onde deixo? — Jason perguntou.
— Aqui, querido — Rose Brody, avó de Jason, indicou o local. —
Obrigada.
O moreno se ajoelhou ao lado da avó e a ajudou a cuidar do jardim.
Sua avó morava em um bairro afastado do centro, em uma pequena
comunidade onde todos se conheciam e famílias moravam por gerações.
Sempre amou aquele lugar, foi no gramado dos fundos da casa que
aprendeu a jogar quando era pequeno. Seu avô, Noah Brody, era fã de
futebol americano e torcia para o Rhynos. Ter assinado com a equipe foi a
realização de um sonho, ele se lembrava dos olhos marejados do avô.
As últimas palavras de Noah para Jason, quando o mais velho estava
em seu leito de morte, foram que o amava e se orgulhava de quem ele era.
— Vai me falar o que está errado? — Rose perguntou alguns
minutos mais tarde, eles trabalhavam em silêncio.
— Não sei explicar. — Jason nem se atreveria a tentar mentir. Sua
avó o conhecia melhor do que qualquer um.
— Quando vou conhecê-lo?
— Conhecer quem?
— O rapaz que está te deixando desse jeito.
— Vó!
Seus avós sabiam que ele era gay, foram as primeiras pessoas da
família para quem contou. Também foram os primeiros a o abraçar e dizer
que estava tudo bem, era parte de quem ele era, e eles o amavam por
inteiro.
Na verdade, foram as únicas pessoas da família a fazerem isso. Seus
pais nunca aprovaram sua aptidão para o esporte. Como hobby até achavam
ok, mas não como carreira. Não importava se Jason tinha boas notas,
recebia prêmios, homenagens, tinha diversas atividades extracurriculares e
se dava bem em todas. Ele nunca seria bom para os pais “porque tinha algo
de errado com ele”.
— Doug me ligou, Brent se formou. Por isso, a família irá fazer uma
viagem pela Europa para comemorar — Rose contou. Doug era Douglas
Brody, pai de Jason. Brent era o caçula da família. — Não acredito que iria
me convidar, era só para que ficássemos sabendo.
— O que você respondeu?
— Perguntei se Brent estava tão mal dos estudos que eles precisam
comemorar que ele, finalmente, conseguiu se formar. — A idosa deu de
ombros.
— Vó! — Jason começou a rir. Rose parecia uma doce velhinha,
mas tinha uma língua afiada. — Como meu pai ficou?
— Nervoso, ficou resmungando e dizendo que a graduação era um
feito notável e deveria ser comemorado. Respondi que ele se formou no
ensino médio, o que já é esperado, principalmente quando se paga aquela
fortuna em uma escola particular. Que feito notável é ser pego dirigindo
bêbado, com drogas e não ser processado por nada, já que o pai é advogado.
Mas depois pedi perdão, porque quem fez isso foi Wade. Brent é aquele que
não conseguiu bolsa de estudos, e os pais tiveram que pagar para ele ser
admitido em uma boa faculdade.
— Eles pagaram? — Jason perguntou, surpreso.
Wade era o irmão do meio, que se metia em confusões, dirigia
embriagado, ia a festas clandestinas e vez ou outra usava drogas. Brent era
o caçula, mimado, tinha o que queria, quando queria, sem responsabilidade
nenhuma. Mas os dois ajudavam os pais na performance de família perfeita,
o que era importante para Douglas e Lisseth Brody.
— E como aquele garoto que precisa de calculadora para saber
quanto é dois mais dois teria entrado em uma universidade de elite? —
Rose zombou de Jason.
Mas o moreno não teria como saber, foi morar com os avós quando
tinha quinze anos, teve que mudar de escola e os pais nunca se preocuparam
se ele tinha como pagar a faculdade. Mesmo que Noah e Rose prometessem
dar um jeito, Jason tinha se dedicado e conseguido uma bolsa de estudos
como atleta. Além de cobrir os estudos, recebia um pouco de dinheiro para
seus gastos.
Foi uma época incrível, até Devon Butler estragar tudo.
— Wade me perguntou se ainda temos direito a ingressos dos
Rhynos, porque adoraria levar seus amigos do trabalho para assistir.
Respondi “claro, vou te enviar por e-mail o link para consegui-los”, então
enviei o link da bilheteria do estádio — Rose disse, sorrindo de canto.
— Ele já te bloqueou de novo?
— Estou torcendo para que sim. Se eu receber mais alguma
informação do casamento dele, cometerei um crime de ódio.
— Não sabia que ele iria se casar.
— Eu também não queria saber. — Ela suspirou dramaticamente.
Às vezes se sentia um pouco mal por não saber da vida dos irmãos,
mas essa tinha sido uma escolha deles. Quando convinha, eles lembravam
que eram irmãos mais novos do “Steamroller”, mas, na maior parte do
tempo, agiam como se Jason não existisse. A palavra “gay” pairava sobre a
família como um mau agouro, então era melhor fingir que nada tinha
acontecido.
— Já falamos de pessoas desagradáveis, agora podemos falar do seu
garoto?
— Eu não tenho um garoto — resmungou, juntando as ferramentas
de jardinagem.
Rose se orgulhava muito do seu jardim, era uma paixão que
compartilhava com Noah. Com a morte do marido, Jason assumiu esse
lugar, sempre ajudando quando podia. Era quase terapêutico, ajudava a
colocar a cabeça no lugar e recarregar as energias.
— Mas, pelo jeito, ele te tem, porque você não parou de pensar nele.
E como parar?
Por muito pouco, Jake e Jason não tinham transado na madrugada
anterior. Ele se lembrava muito bem daquele beijo, de todos eles. De como
segurou Jake em seu colo, como o loiro estava entregue, como o carregou
para o sofá. O outro estava sentado nele, mexendo-se, praticamente
rebolando em seu pau.
Já tinha perdido sua mente, eles estavam sem camiseta, e Jason não
conseguia se lembrar do momento em que foram tiradas. Quando sua boca
não estava contra a boca de Jake, estava pela pele do loiro. Pescoço,
mamilos, peito, abdômen. Todos tinham sido beijados, lambidos, mordidos
e, provavelmente, teriam marcas.
Cada som, cada gemido, cada toque, um mais delicioso que o outro.
Jason estava no limite, precisava de mais. Jake estava completamente
entregue, deixando o moreno fazer o que quisesse, gemia e rebolava em seu
colo. A situação era insana.
Mas um lapso de sanidade aconteceu, ele não podia continuar com
aquilo. Foi difícil se afastar de Jake, o loiro estava sem camiseta, calça
aberta, duro, lábios inchados, olhos brilhantes de excitação e respiração
ofegante.
— Preciso ir embora — Jason murmurou, recuperando a própria
camiseta.
— Jason, por favor, espera — Jake pediu, levantando-se.
— Não posso fazer isso com você, você não merece isso — falou,
saindo da casa.
— Não mereço o quê? Jason!
Mas o moreno não respondeu, já que entrou no seu carro e foi
embora.
Jason não tinha vergonha de admitir que fugiu. Não poderia ficar lá,
sua cabeça estava aérea, nunca tinha estado tão duro e desejou Jake com sua
alma. Percebeu que o plano de sair com alguém quando voltasse do boot
camp tinha ido pelo ralo. Podia não ter transado com Jake, mas sabia que
nenhum homem seria como ele.
Chegou desesperado em casa, correu para o chuveiro e tomou um
banho gelado. Não sabia o que fazer e, quando lembrou que no dia seguinte
embarcaria na viagem que o deixaria preso com o QB por duas semanas,
sentiu que teria um colapso.
Andou pela casa até ver o sol nascendo, enviou uma mensagem para
Jay dizendo que passaria o dia com sua avó e, por isso, ficaria sem celular.
Arrumou suas coisas e foi até um dos únicos lugares onde sempre fora
acolhido e sempre pudera ser ele mesmo. Onde ninguém o julgava, era
amado e que o fazia acreditar que tudo ficaria bem.
— Vamos lá, me conte — Rose disse enquanto tirava uma fornada
de biscoitos e os colocava sobre a mesa.
— O nome dele é Jake. — Suspirou.
— O Lewis? — perguntou, e Jason a olhou surpreso. — O quê? Eu
tenho TV e internet, acompanho as notícias do time. A neta da Celina fez
uma dessas redes sociais para mim, e estou te seguindo. Olha.
Jason estava perplexo, pegou o celular da avó e viu que ela estava
falando a verdade. Inclusive, o nome de usuário era “Nana Brody”, o que o
fez sorrir. Tinha uma única foto postada, era da formatura de ensino médio
de Jason, ele usava beca e capelo, estava entre Noah e Rose, os três sorriam
orgulhosos.
— Ontem estava mexendo e vi a foto que você postou, bonito ele —
Rose comentou, mordendo seu biscoito e tomando um gole de café. — Até
o segui.
— Vó. — Jason revirou os olhos, mas devolveu o celular para ela.
— Quando voltar para casa, te sigo. Deixei meu celular lá.
— Tudo bem, agora vamos falar do problema e do fato de ter fugido
desesperado.
— Não fugi — resmungou. Mas ele tinha fugido.
— Sou uma senhora idosa, posso morrer a qualquer minuto. E se eu
morrer hoje à noite? Quer mesmo que a última coisa que tenha me falado
seja uma mentira?
— Vai começar com o drama?
— Depende, vai me contar?
— Jake é o problema. Ele é incrível, lindo, inteligente, um ótimo
QB, provavelmente um dos melhores que já vi. É um líder nato, mas é
atencioso e carinhoso, além de ser muito divertido e fácil de conversar.
— Certo, qual o problema?
— Nós nos beijamos ontem — sussurrou. Não contaria o resto para
sua avó.
— Isso quer dizer que ele também te quer, então qual o problema?
— Rose era muitas coisas, paciente não era uma delas.
— Minha vida foi construída com cuidado para ninguém saber que
sou gay. Guardei isso comigo e vivo o tempo todo em alerta. Tenho essa
merda de passado e medo do que pode acontecer. Jake é um espírito livre,
não sei se ele é gay, bissexual ou só quis se aventurar, mas não quero trazê-
lo para a confusão que é a minha vida.
— Ou você está com medo de viver algo bom e está usando de
desculpa que quer protegê-lo, em vez de encarar o fato de que só está
tentando proteger a si mesmo? — ela perguntou antes de tomar um gole de
chá. Jason cerrou os olhos para ela, que deu de ombros. — A neta da Celina
me indicou um podcast de uma psiquiatra que fala sobre emoções, achei
muito interessante. Você deveria tentar.
— Não, obrigado, já faço terapia.
— Talvez devesse mudar então, porque não está fazendo muito
efeito, já que está convencido de que tem que se afastar de qualquer chance
de ser feliz.
— Não é isso — o moreno soou quase ofendido.
— Então é o quê? Você contou para Jake por que tem tanto medo e
por que prefere se manter no armário?
— Não.
— Então, vai preferir deixá-lo se sentir rejeitado a falar a verdade?
— Qual o nome desse podcast? Farei uma reclamação.
— Adoraria ver, aposto que a doutora Ana te usaria como exemplo
de alguém que tem medo das próprias emoções e foge delas, criando
justificativas que só você mesmo acredita.
— Sabe, não está ajudando.
— Prefere que eu minta?
— Quando o vovô falava que te ajudava a controlar seu
comportamento de “dragão”, eu ria, agora entendo.
— Sua sorte é que Noah não está aqui, ele te daria um bom tapa na
cabeça, te chamaria de covarde e chamaria Jake para jantar.
— Sim, mas porque ele era obcecado pelo Rhynos e amaria ter o
QB aqui.
— Provavelmente sim, mas lembre que ele odiava aquele com cara
de rato.
— Robbie? — Jason perguntou rindo.
— Sim, o homem não poderia fazer um passe decente, mesmo que
sua vida dependesse disso.
Jason começou a rir. Ele observou a mulher em sua frente. Rose
tinha os cabelos brancos e olhos do Gato de Botas, brilhantes e vivos. Ela
tinha um sorriso amável e outro debochado. Parecia apenas uma doce
senhora, mas era a mulher mais forte que conhecia.
— Querido, sei que o passado não foi bondoso com você, mas isso
não quer dizer que o futuro será ruim — ela disse, segurando a mão do neto.
— Confie em você como eu confio.
— Já errei feio no passado.
— Como todas as pessoas no planeta Terra. Mas a questão é
aprender com os erros e não deixar que eles te façam sofrer por cada dia de
sua vida. Não faça Jake pagar pelos erros de Devon. Quem perdeu a chance
de viver algo incrível e ser feliz com você foi Devon, ele merece todo o
nosso desprezo e desconfiança. Mas Jake não.
— Nem sabemos se Jake realmente quer viver algo comigo.
— Só tem um jeito de descobrir, não é? — Ela sorriu para ele,
fazendo carinho no seu rosto. — Apenas seja sincero.
— Vou tentar. — Ele suspirou.
— Assim como seu avô, eu te amo, meu menino. Te amo muito e
tenho muito orgulho de você. Você é uma pessoa maravilhosa e merece
todo o amor do mundo, mesmo que às vezes se esqueça disso.

Estava dirigindo de volta para casa, as palavras de sua avó não


saíram de sua mente. Talvez ele só estivesse fazendo drama, mas era difícil
colocar os pensamentos em ordem. Sabia que uma vez com Jake não seria
suficiente, mas, se tivesse cedido, teria apenas dois caminhos para seguir.
O primeiro era saber que essa confusão só vinha da parte dele, que
Jake só quis se divertir, e teria que seguir o resto do tempo sabendo que ele
não o queria do mesmo jeito. Como seria conviver com alguém por quem
está apaixonado sabendo que nunca teria a pessoa? Como sobreviver a isso
e, pior, ocasionalmente, vê-lo sendo feliz com outra pessoa?
O segundo caminho era saber que Jake sentia o mesmo, que eles
poderiam ficar juntos, mas sempre sendo o segredo sujo um do outro.
Sempre desviando a atenção, contando mentiras, provavelmente saindo em
encontros falsos. Quem estava nos bastidores sabia que aquilo era muito
mais comum do que as pessoas pensavam, que havia relacionamentos de
anos e anos que ficavam escondidos. Mas queria isso para si?
Estacionou na entrada de carros e percebeu que tinha alguém
sentado nos degraus da sua casa. Já era de noite, e a pessoa estava de
moletom preto, com o capuz puxado por cima da cabeça. Mexia no celular e
parecia entediada. Quando a pessoa ouviu seus passos e levantou o rosto,
Jason se espantou ao ver que era Jake.
— Jake? O que...
— Por favor, me deixe falar primeiro — ele pediu, levantando-se.
— Tudo bem, vamos entrar — Jason disse, passando por ele e
abrindo a porta da casa.
Não falaram nada, entraram no hall, e Jake esperou enquanto Jason
fechava a porta. Ao lado esquerdo deles ficava a escada que dava para o
segundo andar, à direita havia o que parecia ser um escritório. Apesar da
porta do escritório ser de vidro, o loiro não conseguiu ver nada, porque
seguiram pelo corredor até chegar à cozinha.
Era um cômodo muito amplo e aberto; cozinha, sala de jantar e sala
de TV eram divididas no mesmo espaço. Tudo era bonito, bem-organizado
e decorado. Jason deu a volta na ilha da cozinha e abriu a geladeira. Tirou
de lá duas cervejas e deu uma para Jake, que a recebeu sem saber o que
fazer. Ele tinha treinado seu discurso, mas agora não conseguia se lembrar.
— Sente-se. — Jason indicou os bancos da ilha da cozinha, o loiro
obedeceu. O moreno estava do outro lado, de pé, mas com o corpo apoiado
na ilha. Encararam-se por um tempo, mas ninguém disse nada. — Jake, não
precisava ter vindo aqui para...
— Não me arrependo! — o loiro exclamou.
— O quê?
— Não me arrependo do que fizemos ontem à noite. Fiz porque quis
e teria feito muito mais do que fizemos, se você não tivesse ido embora.
Inclusive, faria tudo de novo quantas vezes eu pudesse! — disse de uma vez
e fechou os olhos com força, não era aquilo que tinha planejado falar.
— Sério? — Jason perguntou com um sorriso de canto.
— Sim! Eu quero você desde a primeira vez que te vi jogar, e isso já
faz anos. Você se tornou minha paixão de adolescência, mesmo que já
estivesse terminando o ensino médio, mas você entendeu — respondeu,
irritado consigo mesmo por não conseguir falar do jeito que tinha ensaiado.
— Sinceramente, você foi o principal motivo de eu ter vindo para o Rhynos
e ter arrastado meus amigos comigo.
— Carson me contou.
— O quê? Aquele idiota! — esbravejou e bebeu alguns goles da sua
cerveja. — Eu quero você, de verdade. Não é só atração física, te acho
incrível, engraçado e muito inteligente. Então, sim, podemos dizer que
posso estar me apaixonando por você.
— Você é bem direto. — O moreno ainda sorria de canto, o que
fazia o loiro querer bater naquele rosto e beijar aquela boca.
— Não faço joguinhos, somos adultos e podemos resolver como
tais. Tenho sentimentos por você e não te culpo ou tenho qualquer tipo de
ressentimento por você não sentir o mesmo por mim. Ter você nessas
semanas como meu amigo foi muito bom, e não quero perder isso. Paixão
acaba em algum momento e prometo nunca mais ultrapassar nenhum limite
seu, se você não quiser. Só não quero que fique estranho entre nós e que
ainda possamos ser amigos.
— É um bom plano. — Jason deu de ombros, bebendo da sua
cerveja. Jake concordou, dando seu melhor para fingir que seu coração não
estava sendo quebrado. — Mas ele tem uma falha.
— Qual?
— Sinto o mesmo por você.
Jake demorou alguns segundos para que aquela informação
chegasse até seu cérebro. Jason sentia o mesmo? O mesmo que ele, Jake,
sentia por Jason? Ele tinha ouvido tudo o que o loiro tinha dito?
— Você sente? — o loiro perguntou murmurando. — O que
exatamente?
— Tudo que você disse que sente por mim, sinto por você. Bem,
exceto a parte de paixão da adolescência, porque quando eu era adolescente,
você ainda estava no fundamental e seria muito bizarro, além de crime.
Mas, também sinto que estou me apaixonando por você.
— Então, por que, caralhos, você fugiu? — Jake perguntou irritado,
fazendo o outro sorrir.
— Precisava colocar minha cabeça no lugar. Tinha medo de que, se
continuássemos, eu poderia te machucar no futuro.
— Você sumiu hoje, passei o dia achando que me odiava! Não
atendeu minhas ligações, Jay disse que você precisava de um tempo. Mas
eu estava surtando, então Sadie me passou seu endereço e vim para cá.
Estava te esperando, mas você nunca chegava — o loiro falava rápido,
desabafando sobre o dia horrível. Jason deu a volta na ilha e segurou o rosto
do QB com suas mãos.
— Eu nunca te odiaria — falou olhando em seus olhos.
— Por que me ignorou o dia todo? — sussurrou a pergunta.
— Não te ignorei, deixei meu celular em casa e fui para a casa da
minha avó.
— Sua avó?
— Toda vez que sinto minha cabeça fervendo, corro para lá.
Conversei muito com ela, também contei sobre nós — Jason falava
calmamente, mas os olhos de Jake se arregalaram.
— E o que ela disse?
— Que fugi de você porque tenho medo de viver coisas boas, que
preciso ser sincero com você e te falar sobre como me sinto e por que tenho
medo. Que ela te acha bonito e já é sua fã, que está te seguindo nas redes
sociais, que você é muito melhor que o “antigo QB com cara de rato que
tínhamos”. — O moreno fez as aspas com os dedos, o que fez Jake rir. —
Também disse que formamos um lindo casal, torce por nós e que, assim que
voltarmos do boot camp, é para eu te levar à casa dela que ela fará um
jantar especial para nós.
— Gosto da sua avó. — O loiro sorriu.
— Estou começando a ter medo de vocês dois juntos. — Jason riu,
sentando-se ao lado de Jake. — Me desculpe por ter feito você se sentir
rejeitado e por ter fugido. Deixei o medo falar mais alto.
— Apenas me explique — Jake pediu, segurando na mão de Jason,
que suspirou.
— Percebi que era gay bem novo, até tentei ficar com algumas
garotas, mas não parecia certo. Desde a primeira vez que beijei um garoto,
eu sabia que era. Meu pai é advogado, e minha mãe, uma cirurgiã torácica
conhecida na área dela, eles vivem o ideal de família perfeita. Por isso,
nunca me atrevi a contar. Mas um dos meus irmãos, Wade, descobriu e
contou.
— O que sua família fez? — o loiro perguntou, ele conhecia muito
bem essa história.
— O que famílias homofóbicas fazem. Chorar, drama, se
perguntarem onde erraram, o que tem de errado comigo. Passei do filho
invisível para a vergonha da família. Meu pai tentou me bater, mas eu já
jogava, então já era forte. Me renegaram e até quiseram me mandar para um
“acampamento de terapia comportamental”, para me fazer “voltar a ser
normal”.
— Cura gay.
— Sim. Esse foi meu limite, então liguei para meus avós paternos.
Meu avô chegou furioso, gritando para eu arrumar minhas coisas, porque eu
iria embora com ele. Meu pai contou que eu era gay, achando que isso
mudaria a ideia do meu avô e me faria ter vergonha, mas meus avós já
sabiam. Então o senhor Noah Brody, sargento de polícia aposentado, chutou
as bolas do meu pai, gritando que era para garantir que não tivesse mais
nenhum filho, já que ele não poderia amar os que tinha — Jason contou
com um sorriso no rosto, lembrando-se do homem que tanto amava.
— Ele parece ser incrível. — Jake sorriu.
— Era, faleceu dois anos atrás. Naquela noite, ele me levou para a
casa dele, e meus avós passaram o tempo todo me garantindo que me
amavam e tinham orgulho de mim. Desde então luto muito para ser o
melhor que posso, para que eles sempre tenham orgulho de mim. Foi do
meu vô que herdei o amor pelo futebol americano e pelo Rhynos. Era meu
objetivo jogar nesse time, e lutei por isso.
— Também fui rejeitado pela minha família — o loiro murmurou.
— Chase, Carson e eu viemos da periferia. Meu pai é do tipo que trabalha o
dia todo, chega em casa e precisa ser servido, enquanto arrota machismo e
homofobia. Chase também não se dava bem com a madrasta, e Carson tem
problemas com a mãe. Ela vivia em um ciclo de usar drogas, e ele teve que
morar com a tia, então a mãe aparecia, jurava que estava bem, passava
algumas semanas e voltava a usar. Um dia fui expulso de casa, porque meu
pai ouviu fofocas de que eu estava saindo com colega da escola e ele não
queria filho “viado”. Ele me bateu e me expulsou. Carson teria que voltar a
morar com a tia, e Chase perdeu a paciência com sua madrasta. A tia de
Carson se assustou quando viu nós três, mas nos recebeu e nos amou. Foi
assim que Maristela Herrera e seu marido, Mauricio, meio que nos
adotaram.
— Ela não é sua agente?
— Sim. — Jake riu. — Ela tem medo de que alguém tente nos
enganar e cuidou de tudo, toda semana recebemos um relatório detalhado
de tudo que ganhamos, do que está sendo investido e quanto temos
disponível. Quando nos mudamos para sua casa, tínhamos que dividir um
quarto pequeno. Mas Mauricio nos fez ajudá-lo a reformar o porão, e
conseguimos um quarto bom para três adolescentes enormes viverem. Ela
entrou em contato com as melhores escolas por perto e garantiu que tinha as
“futuras estrelas do futebol americano”, que seriam idiotas se não nos
dessem uma chance. Assim conseguimos ser aceitos em uma escola
incrível, tivemos uma educação de qualidade, conseguimos bolsas de estudo
e fomos para a universidade.
— Acho que minha avó e Maristela deveriam se conhecer.
— Deveriam. — O loiro sorriu. — Escute, o que aprendi é que
família só é família quando te ama. Minha mãe biológica diz que me ama, e
até a ajudo financeiramente quando posso, mas ela nunca me defendeu do
meu pai, então que tipo de amor é esse? Na única vez que vi meu pai depois
da expulsão, ele veio para cima de mim, mas Mauricio me defendeu.
Maristela e Mauricio são meus pais, assim como Rose e Noah são para
você.
— Eu entendo, mas preciso te contar o resto da história.
— Tudo bem — Jake o incentivou.
— Tinha o futebol americano como foco de carreira, então sabia que
teria que abrir mão e estava disposto. Minha sexualidade seria um
problema, então fui o mais discreto possível, só tinha relacionamentos fora
da universidade. Estava no time desde o primeiro ano, acabei ficando amigo
de vários jogadores e aos poucos percebi que um dos QBs e eu tínhamos
“gostos em comum”. Uma noite de festa, ficamos bêbados e acabamos
confessando que éramos gays. Foi a primeira vez que transamos.
— Começaram a namorar? — o loiro perguntou, fingindo que não
estava com ciúmes de alguém que nem sabia quem era.
— Não era bem um namoro no início, era mais uma forma de liberar
a tensão. Nós dois sabíamos que queríamos ir para a liga nacional, por isso,
estaríamos dentro do armário. Não tinha cobranças nesse aspecto. No
quarto semestre passamos a viver como colegas de quarto, então virou
quase um casamento. Percebemos que estávamos apaixonados e estávamos
vivendo isso do melhor jeito que podíamos.
— Mas algo deu errado.
— Era início do nosso último semestre, ele cursava business, e eu,
fisioterapia. Percebi que ele estava cada vez mais ciumento, de um jeito que
estava me sufocando, mas eu justificava que era porque estávamos
terminando a graduação e tínhamos diferentes planos para a carreira, já que
eu sempre quis vir para o Rhynos, e ele queria os holofotes. Mas descobri,
pelas redes sociais, que ele pediu a herdeira de uma família rica em namoro.
— O quê? Ele não te contou? Filho da puta!
— Explodi com ele e terminei o que tínhamos. Fugi dele como
pude, fiz mais horas de estágio, trabalhei, estudei, treinei mais. Não podia
mudar de quarto, mas dormia nos quartos de amigos, inventando desculpas,
dirigia horas para estar com meus avós. Uma noite, depois de um treino, ele
me encurralou atrás do campo, implorando para ouvi-lo. Disse que tinha
feito o precisava, que sabíamos que estaríamos no armário, que ele se
casaria com aquela garota no futuro, mas eu sempre seria aquele que ele
amava.
— Me diz que você o socou.
— Deveria. — Jason riu sem humor. — Mas fui idiota e o escutei,
deixei que ele falasse tudo que queria e tentei explicar que o que machucava
era ele não ter sido sincero comigo. Ele continuou pedindo perdão e,
quando não reagi, ele me beijou. Eu o empurrei e fui embora, mas o que eu
não sabia era que um professor, amigo do pai dele, viu e contou para o pai,
que exigiu explicações. Para não ser tirado do armário, meu “namorado”
disse que eu tinha o agarrado.
— Filho da puta! — Jake não estava mais com ciúmes, era pura
raiva.
— O reitor me chamou, e quase fui expulso por comportamento
inapropriado e assédio. Tentei me explicar e até tinha provas que tínhamos
um relacionamento. A situação se tornou crítica, o treinador teve que
interferir, e chegaram a um acordo. O pai dele queria minha expulsão e abrir
queixa contra mim. Eu avisei que, se tirassem minhas chances de chegar à
liga nacional, eu tiraria a do meu ex-namorado também, porque todos
saberiam que ele era gay, como eu. Meu técnico ficou do meu lado, então
minha única punição foi perder minha bolsa de estudos.
— Por que você foi punido? Não é justo!
— Não, mas é isso que se ganha quando se é o lado mais fraco da
corda. — Jason suspirou. — Faltei no jogo seguinte, passei aquela semana
com meus avós, isso quase custou a classificação do time. Voltei no
próximo como titular, meus avós e o técnico me ajudaram a pagar os meses
que faltavam, já que meu estágio não cobria todos os custos. Meu ex saiu
dos dormitórios, e para todo mundo nós tínhamos brigado a ponto de nos
socar, era esse o motivo da nossa distância. Ganhamos o campeonato
universitário e seguimos nossas vidas.
— Foi por isso que fugiu? Tem medo de que eu te trate como o seu
ex?
— Na única vez que me senti confortável com alguém, quase perdi
tudo pelo que batalhei. Em momento nenhum te comparei a ele, só que o
futuro me assusta.
— Por quê? — Jake perguntou, aproximando-se ainda mais de
Jason, seus corpos quase colados.
— Sei que meus sentimentos por você ficarão mais fortes bem mais
rápido. Mas também sei que será quase impossível vivermos isso em
público. Não quero te arrastar para meu mar de inseguranças e medos. Não
quero que você se sinta como meu segredo sujo e preso a isso.
— Sinceramente, quero fazer algumas coisas sujas com você. —
Jake sorriu provocador, suas mãos no ombro do moreno, que sorriu de
canto. — Eu entendo como nosso meio é bem machista e homofóbico, sou
bissexual assumido há muito tempo e sei que alguém pode descobrir isso a
qualquer minuto e me expor. Porém aprendi que tenho que lidar com esse
medo e não viver por ele. Eu quero você, Jason, com todas as
responsabilidades e os prazeres que vierem junto. Não sei onde isso vai dar,
mas podemos descobrir juntos, não é?
— Podemos — Jason respondeu sorrindo, então Jake o beijou.
Aqueles lábios perfeitos estavam de volta aos seus. Jason quase
gemeu de saudades quando o beijo começou. Ele tinha razão, Jake era
viciante, e ele estava pronto para isso. Dessa vez estava totalmente
consciente do que queria, o medo ainda estava lá, mas conseguiu abafar
essa voz com os ofegos que o loiro soltava.
Suas mãos desceram pela cintura do QB, contornando os quadris,
entrando por debaixo das roupas. Teve que parar quando Jake puxou sua
camiseta, mas aproveitou para tirar a camiseta e blusa dele. A boca do
moreno foi para o pescoço do loiro, que gemia baixinho.
Estavam descobrindo o corpo um do outro, acariciando, apertando,
arranhando, lambendo, mordendo.
— Faça o que você quiser — Jake gemeu contra a pele de Jason
quando ele ficou um pouco hesitante. — Preciso que você faça.
— E se eu não for tão bonzinho quanto pareço ser no resto do
tempo? — Jason o provocou. Sua mão passando pelo elástico da calça,
acariciando o pau do loiro por cima da cueca.
— Estou torcendo por isso. — Suspirou com as carícias.
— Tem certeza? — O moreno mordeu o ombro do outro. Queria
deixar marcas pelo corpo de Jake, mostrar a todos que ele era seu.
— Dê o seu melhor, Steamroller.
Jason levantou Jake, fazendo-o se sentar na ilha da cozinha, não
importando se uma das garrafas de cerveja caiu no chão e quebrou. Ele
puxou a calça do loiro para baixo, sorriu provocando enquanto Jake segurou
a respiração.
Primeiro lambeu, sentindo o gosto e peso contra sua língua. Assim
como o QB era alto, seu pau não era pequeno. Era perfeito, saboroso, e
Jason já estava chupando. Ele queria tirar cada ofego e gemido do loiro,
queria-o gozando em sua boca.
— Porra! — Jake exclamou, a cena era demais para sua sanidade.
Era Jason Brody, sua paixão da adolescência, o motivo de vários
sonhos quentes, chupando seu pau tão bem, tão gostoso, fazendo sons
obscenos, lambendo-o. Não era como a realização de qualquer um daqueles
muitos sonhos. Era muito melhor, era real, e Jason o fazia se sentir excitado
como nunca antes.
Jason se levantou, uma das mãos o masturbava rapidamente, de um
jeito duro e ritmado. A outra estava no rosto de Jake enquanto o moreno
atacava seu pescoço.
— Chupe como se estivesse chupando meu pau — Jason sussurrou
para Jake, que gemeu. O loiro segurou a mão do outro e chupou seus dedos
como ordenado.
Não era idiota, sabia o que estava por vir, isso fez seu pau tremer
com a antecipação. Lambeu e chupou muito bem, usando a língua e um
pouco de saliva extra. Tentou fazer como faria quando, finalmente, pudesse
ter o pau do moreno entre seus lábios.
— Bom menino — Jason sussurrou e Jake não teve vergonha
nenhuma de gemer alto.
Jason beijou o pescoço, peito e chegou aos mamilos de Jake, que já
estava choramingando. Em outro momento aproveitaria melhor aquela
parte, mas agora tinha outro foco, então voltou a chupar o loiro, que não
tinha pudor nenhum em beijar.
Jake já estava sensível, queria gozar, ao mesmo tempo que não
queria que aquilo acabasse. Mas sentiu o dedo de Jason em sua entrada,
rondando, pressionando, massageando o lugar. De um jeito um pouco
desastrado, conseguiu tirar o tênis e se livrou de uma das pernas da calça,
enquanto o moreno ria de seu desespero, mas não parava de fazer o que
estava fazendo.
Lá estava aquela cena de novo, Jason o chupando avidamente, mas
dessa vez um dedo ia tomando espaço em seu interior. Não aguentou e se
deitou na ilha, derrubando a outra garrafa, respingando cerveja neles, mas
ninguém se importou.
O loiro colocou um pé em um dos bancos da cozinha, dando mais
espaço para Jason, que aproveitou muito bem. Agora eram dois dedos
dentro de Jake, e o loiro segurava os cabelos do moreno como se pudesse
salvar sua vida.
— Jason, eu vou gozar — choramingou. O moreno aumentou os
movimentos, mas Jake o puxou pelo cabelo, vendo seu pau escapar aos
poucos da boca do outro. — Pare, eu vou gozar.
— Essa é a ideia — Jason respondeu com lábios inchados e sorriso
de canto. Mexeu os dedos dentro de Jake, que gemeu.
— Quero gozar com você dentro de mim.
— Jake...
— Não esperei você por tanto tempo para gozar com um boquete na
cozinha. Me foda agora mesmo, Jason Brody.
Os olhos de Jason escureceram, ele puxou Jake e o beijou duro. O
loiro sentiu que o moreno estava tão excitado quanto ele, isso o deixou
ainda mais ansioso. Principalmente sentindo o próprio gosto na boca do
outro.
— Vem. — Jason o ajudou a se livrar do resto das roupas e estava o
conduzindo pela casa.
— Ali tem um quarto? Vamos ali mesmo — choramingou, sabia que
não aguentaria muito. Tinha algo excitante em estar completamente nu
enquanto Jason estava parcialmente vestido.
— Não, ali é onde eu levo encontros casuais, não quero te comparar
a qualquer um deles — o moreno disse, prendendo-o contra a parede, eles
não conseguiam parar de se tocar e beijar.
— Presta atenção! — Jake disse sério, segurando o rosto de Jason de
um jeito quase punitivo. — Se é esse o problema, você vai me levar lá
agora e me foder com toda essa vontade que nós dois estamos sentindo.
Nunca serei igual a nenhum outro que você teve, porque sou eu que vou
ficar. Esses “encontros casuais” acabaram para nós dois.
— Prepotente. — Jason sorriu de canto, provocando.
— Realista — corrigiu. — Sei o que quero e sei que me quer
também — disse, inclinando o quadril, friccionando-o contra o de Jason.
— Me chamam de Steamroller, mas deveriam te chamar Hurricane.
— Me chame como quiser, só me foda agora — provocou.
No mesmo instante Jason o ergueu no colo, carregando-o pelo
corredor e o beijando. Tinham quase a mesma altura, mas Jason era muito
forte e não teve problemas. Entraram no quarto, e o moreno o colocou sobre
a cama de casal.
— Acho que você gosta de me pegar no seu colo — o loiro brincou.
— Principalmente quando sua bunda fica sobre meu pau —
respondeu tirando a calça. — Vem aqui.
Jake tinha aquele sorriso provocador e arrogante. Praticamente,
engatinhou pela cama, chegando na beira. Tudo nele provocava Jason, os
gestos, sorrisos, o tom de voz provocador, os olhares que deixavam claro o
que queria e, principalmente, aquela língua afiada. Mas, no momento, o QB
estava fazendo outro uso da língua, lambendo o pau do moreno.
O loiro queria mostrar que também era bom, sabia o que fazer e
queria deixar Jason no limite, precisando dele. Ele estava conseguindo. Era
a vez de Jason ser quem estava gemendo e ofegando, era ele que segurava
os cabelos do outro, que mexia o quadril desesperado, que não aguentava
mais, queria gozar ao mesmo tempo que estava aproveitando cada segundo.
Mas aquilo afetava o QB. Jason era o homem mais lindo e sexy que
já tinha visto, seu sabor era a coisa mais deliciosa que já tinha provado. Não
havia espaço para dúvidas, ele precisava desesperadamente do moreno em
todos os aspectos da sua vida.
— Depois disso não tem mais volta? — Jason provocou Jake,
ajoelhando-se na cama, seus rostos a centímetros de distância.
— Desde o draft não tem mais volta — o outro respondeu, sorrindo
arrogante.
Eles estavam se beijando, deitados na cama, mas não queriam
esperar mais. Jason virou o loiro, que gemeu com a brutalidade. Existiam
poucos homens que conseguiam ser mais fortes e o dominar daquele jeito, e
ele amava que Jason pudesse fazer isso facilmente. O moreno se esticou e
pegou lubrificante e camisinha.
Seus lábios estavam nas costas do loiro, beijando a pele branca e
sedosa, deslizando por ela. O outro gemia baixinho, mexendo-se um pouco,
antecipando o que viria. Jason deu pequenas mordidas na bunda perfeita e
suspirou só de imaginá-la engolindo seu pau.
Outro dia eles seriam mais calmos, então colocou a camisinha e
passou uma dose extra de lubrificante. Tinha preparado Jake, mas não
arriscaria machucá-lo.
— Vai logo, porra! — Jake esbravejou, irritado. Jason negou com a
cabeça, mas sorria com o seu garoto.
Penetrou com cuidado, sentindo a entrada do loiro se alargando,
recebendo-o, cedendo pouco a pouco. Jake gemia contra o travesseiro,
rebolando devagar, acostumando-se e aproveitando o momento.
— Isso! — o loiro gemeu alto quando tinha o pau inteiro de Jason
dentro de si.
O moreno suspirou, aquilo era muito melhor do que tinha
imaginado, a entrada do loiro era quente e apertava seu pau, os pequenos
movimentos de Jake quase eram suficientes para fazê-lo gozar. Mas o QB
tinha outra ideia, mexendo-se, empalando-se no pau de Jason, que não teve
alternativa a não ser segurar na cintura do outro e bater seu corpo de
encontro.
Os corpos deles colidiam com força, um sabia que o outro
aguentava, então ninguém estava tentando se conter. O barulho tomou conta
do quarto. Se tivesse mais alguém na casa, seria impossível não ouvir. Além
dos barulhos molhados, ainda havia os gemidos.
Jason fez questão de achar o ponto sensível de Jake, acertando
repetidamente ali, vendo o loiro se tornar uma bagunça abaixo de si. Sua
mão alcançou o pau do QB e o masturbou no mesmo ritmo das estocadas,
fazendo-o gritar.
Então o moreno virou o loiro na cama, Jake estava suado, corado,
olhos brilhantes e lábios inchados, a imagem mais perfeita que já tinha
visto.
Beijou-o furiosamente, sendo recebido do mesmo jeito. Penetrou-o,
e eles voltaram ao ritmo intenso, não conseguiam separar os lábios nem
para respirar, os gemidos eram abafados pelos beijos. O pau de Jake preso
entre eles, Jason o acertando no ponto certo, o moreno o beijando
necessitado, e seus braços o mantendo cada vez mais perto.
O prazer se construiu de modo forte, quase queimando, e quando
finalmente gozou, foi libertador. Gemeu muito alto, arranhando Jason, que
não parou seus movimentos, o que aumentou o prazer. O moreno não durou
muito mais, a entrada do outro o apertou tanto e as reações do corpo do
loiro eram tão cruas que não teve nem tempo de pensar, apenas gozou,
gemendo contra o pescoço de Jake.
Ficaram em silêncio por alguns minutos, mas era um silêncio
confortável. Apenas um curtindo o outro, Jason fazia carinho nos cabelos de
Jake, que estava deitado no peito do moreno. O único momento que tinham
se afastado um pouco foi quando Jason tirou a camisinha, deu nó e a jogou
fora.
— Somos atletas de alta performance. Treinamos pesado várias
horas por dia, quase todos os dias, e aguentamos um jogo extremamente
agressivo e muito competitivo por horas — Jake murmurou de olhos
fechados, recebendo carinho —, mas sinto como se meu coração tivesse
chegado muito perto de parar.
Isso fez Jason rir alto, virando-se para ficar de frente com o loiro.
Estavam aninhados na cama, pernas enroscadas e respirações voltando ao
normal. Jason tinha noção de que tudo poderia ser uma confusão dali para
frente, mas, naquele momento, não queria se preocupar com isso.
— Isso quer dizer que temos que ser menos intensos ou que é
melhor nunca mais transarmos? — provocou.
— O quê? Não mesmo, demorei quase oito anos para te ter na cama
comigo, acha que agora iria desistir? — Jake o olhou como se ele fosse
louco.
— Oito anos? — Jason perguntou sorrindo.
— Ah, não, nada de histórias constrangedoras — o loiro resmungou,
escondendo-se no vão do pescoço do moreno, que riu.
— Não é justo, eu te contei do meu momento mais vulnerável, e
você não vai explicar essa história?
— Sério, Jason? Chantagem emocional?
— Cada um usa as armas que pode. — Deu de ombros, rindo. —
Me conta ou pergunto para o Carson.
— Ele vai contar do jeito mais vergonhoso e humilhante possível.
— Revirou os olhos.
— Então fale. — Jason apoiou o cotovelo no colchão e a cabeça em
sua mão, vendo Jake suspirar antes de começar a falar.
— Te falei que tia Maristela conseguiu que fôssemos para uma boa
escola, mas foi um longo caminho até chegar lá. Carson, Chase e eu somos
de Florence, Kentucky. Tia Maristela morava em Mayfield, mas era uma
cidade ainda menor. Por isso, todos nós nos mudamos para Louisville, foi lá
que conseguimos melhores oportunidades. Nós com o futebol americano, e
Sofia com a música.
— Quem é Sofia? — o moreno perguntou.
— Prima de Carson, filha de Maristela e Mauricio, é como se fosse
nossa irmã mais nova. É uma cantora muito boa, está começando a carreira.
Bem, isso não importa muito para o assunto.
— Ok, continue.
— Então, percebemos que o mundo podia ser algo muito maior do
que foi na nossa infância. Nosso treinador nos levava para assistir a jogos
da liga universitária para que nos inspirássemos, ele queria que sempre
pensássemos no próximo nível. Então um dia fomos até a Universidade do
Kentucky, assistir a um jogo contra a Universidade de Durham. — Jason
sorriu, já imaginando onde Jake queria chegar. — Sempre presto muita
atenção no ataque, tento ver o que o QB está fazendo, entender a leitura de
jogo dele, absorver coisas que podem me ajudar a melhorar. E, não me
entenda errado, o QB até era bom, mas eu não conseguia tirar os meus
olhos da defesa.
Jake passou a mão pelo rosto, era raro se sentir com vergonha, mas
aquele era um desses momentos. Porém Jason puxou sua mão e a beijou.
— Então você gostou mais de assistir à defesa?
— Não à defesa, mas a um jogador. Tinha esse cara incrível,
ninguém parava ele. Era como se o QB do Kentucky nem tivesse chance, o
DE da Durham sabia onde correr e era muito forte e rápido. Conseguia,
praticamente, carregar outros jogadores com ele. Fiquei vidrado no DE
número 28. Na hora segui o time da Durham e procurei por ele. Mas
quando voltávamos para casa e o time postou as fotos do jogo, vi uma foto
do jogador 28 sem o capacete. Ele estava sorrindo, cabelo bagunçado e
suado. Acho que meio que me apaixonei ali.
Os dois se encaravam, Jake estava um pouco preocupado que o
outro o achasse louco. Bem, ele acharia. Mas Jason sorriu, aproximou-se e
o beijou.
— Você realmente veio para o Rhynos por minha causa?
— Poderia inventar desculpas e falar que tínhamos um plano de
carreira. Nos destacar em um time que não estivesse em evidência, valorizar
nosso passe e deixar nossas escolhas em aberto. Mas Chase pensou nisso só
depois que já tínhamos assinado o contrato, então sim, minha principal
motivação foi que eu queria te conhecer. — Jake sorriu amarelo, fazendo o
sorriso de Jason aumentar.
— Isaac sabia disso? Foi por isso que ele me fez ir até o draft?
— Posso ter mencionado que era muito, muito mesmo, seu fã. Não
tínhamos certeza para onde iríamos, apesar que secretamente eu já
soubesse. Então ele soube que era seu fã e resolveu jogar baixo. Maristela
disse que esse time deveria ganhar pontos só pela cara de pau.
— Meu Deus. — Jason riu, abraçando Jake, que sorriu. — Não
acredito que Isaac me levou para te convencer a assinar com o Rhynos.
— Já iríamos fazer isso, porque já tinha combinado com Chase e
Carson. Mas foi um belo bônus te ver lá, parado, me assistindo.
— E você, sem saber se eu me interessava por homens, se mudou
para a Carolina do Norte? — O moreno tinha um enorme sorriso no rosto.
— Digamos que sou muito otimista e teimoso. — Jake sorriu
arrogante
— Sabe que nada vai acontecer de um modo normal entre nós, não
é? Que tudo será um segredo da mídia, que, quando sairmos em público,
não podemos ser um casal. Não é todo mundo que aguenta isso.
— Você não acabou de me ouvir dizer que sou teimoso? — o loiro
perguntou fazendo o outro sorrir. — Sei como é e não ligo, esperei quase
oito anos para te ter, não é agora que vou desistir. Jason, quando eu quero
algo, vou até o fim. E quero você demais. Mas vamos deixar claro, não
quero só o “Steamroller”, é o pacote completo. O cara que é super
amigável, carinhoso, atleta dedicado, que sorri quando fala dos avós, mas
abaixa o olhar quando fala de momentos degradáveis. Que parece sempre
estar disposto a ajudar, mas tem língua afiada e zomba de tudo. Que,
claramente, rouba quando joga dardos e tem uma resistência invejável ao
álcool.
— Eu não roubei, você perdeu porque eu sou melhor que você —
Jason respondeu sério, tentando conter o sorriso.
— Impossível um DE ganhar de um QB em um jogo que depende
de mira! Você me distraiu!
— Como?
— Flexionando o braço, deixando os músculos à mostra, sorrindo de
canto. — Jake revirou os olhos, Jason riu e o puxou para um beijo.

— Como que cerveja pode se espalhar tanto? — Jake bufou.


Estavam limpando a bagunça que havia ficado na cozinha. A calça do loiro
estava molhada por causa da bebida, que escorreu. Por isso, Jason a colocou
para lavar e emprestou uma sua. Jake foi sincero falando que nunca
devolveria.
— Essa é a questão com os líquidos, eles escorrem — Jason
brincou.
— A gente sobe na vida, assina um contrato milionário e tem que
passar uma noite faxinando a cozinha. — O QB suspirou dramaticamente.
— Cursou o que na faculdade? Teatro? — brincou.
— Psicologia, tenho mestrado em análise comportamental. — Jake
deu de ombros. — Carson estudou Relações Exteriores, e Chase,
Tecnologia da Informação, algo assim, e Jogos Digitais. Ele é um tipo de
gênio da tecnologia.
— Estou um pouco surpreso pelas áreas que escolheram, mas a sua
faz muito sentido.
— Sempre gostei de estudar comportamento humano, queria
entender por que algumas pessoas são tão filhas da puta — o loiro
comentou, terminando de passar o esfregão pelo chão, enquanto Jason
limpava a ilha da cozinha. — Mas também me ajuda a ler melhor o jogo,
saber o que cada um vai fazer.
— Isso é muito inteligente — o moreno disse, aproximando-se do
QB. — Foi assim que percebeu que eu estava a fim de você?
— Quando há sentimentos, é mais difícil. Coloco minhas esperanças
na frente do pensamento racional e confundo — Jake respondeu,
envolvendo a cintura de Jason e o mantendo bem perto. Ele não conseguia
parar de sorrir por ter o moreno.
— Então como soube? — Jason perguntou, beijando o pescoço do
loiro.
— Não sabia, só fui cara de pau mesmo — respondeu sincero, e o
outro riu. — Se, em algum momento, você estivesse desconfortável, eu
recuava. Mas você começou a me mandar sinais confusos, ora parecia que
estava a fim, ora se afastava. Resolvi arriscar.
— Sinto muito por isso.
— Não sinta, todo mundo tem que ter seu tempo. O importante é
que já nos resolvemos e estamos juntos.
— Jake — Jason disse sério, segurando as mãos do loiro e olhando
em seus olhos. — Agora nós dois somos pessoas públicas, podemos não ser
tão famosos quanto Steve Alexander, mas tem muitos olhos em nós. Termos
um relacionamento será algo complicado
— Eu sei, não me importo.
— Não se importa agora, mas e daqui a um tempo? Entende que
teremos que nos esconder sempre? Que as chances de sairmos do armário
são quase zero? Que nossos agentes terão que lançar rumores falsos de
relacionamentos com mulheres para que não haja fofocas sobre nós dois?
Que teremos que levar algumas mulheres nos eventos para os quais formos
convidados?
— Jason, eu já sei de tudo isso, minha opinião ainda é a mesma: não
me importo.
— Não quero que perca sua liberdade por mim.
— Seja sincero, você gosta de mim? — Jake perguntou, impaciente.
— Sim, mas esse não...
— Se sente atraído por mim?
— Claro que sim.
— Faria sexo comigo de novo?
— Sim, quantas vezes pudermos.
— Então pronto, estamos juntos. — O QB deu de ombros e sorriu.
— Assim? Tão fácil?
— Para que complicar? Quero você, e você me quer, as pessoas que
são importantes para nós sabem, então está perfeito. Só temos que basear
nosso relacionamento em comunicação sincera, sexo e confiança.
— Comunicação sincera, sexo e confiança?
— Sim, nessa ordem, de preferência. — Jake sorriu de canto. — Eu
confio em você e quero que confie em mim. Nunca vou te desrespeitar ou
fazer qualquer coisa para te machucar, quero fazer parte da sua vida. Não
sou o seu ex filho da puta que, assim que eu descobrir quem é, vai se
arrepender amargamente do que fez para você. Vou cuidar do seu coração
com todo o meu amor, como se fosse o meu, porque estou te entregando o
meu.
Jason piscou, assimilando aquilo. Ele era real?
Jake Lewis podia ter quem quisesse, qualquer um que o tivesse visto
não conseguiria tirar os olhos dele. E lá estava ele, pedindo uma chance
para Jason, aceitando entrar em um relacionamento secreto e enfrentar todas
as merdas que poderiam vir, só para ficar com Jason.
— Só tem uma coisa que vamos deixar claro desde já, para não
haver confusões.
— Certo, pode falar — Jason assentiu.
— Isso entre nós é sério, não brinquei no momento que disse que
sou quem vai ficar. Sou um pouco possessivo com o que é meu, incluindo
minha família, amigos e você.
— Então eu sou seu?
— Jason, prometo nunca te magoar, nunca iria tentar te afastar de
nada ou querer mandar em você. Eu realmente sou apaixonado por você e
quero te ver feliz, te apoiar em qualquer decisão e ser aquele que estará com
você, seja para comemorar ou para te confortar. Mas, se alguém vier de
gracinha, seja te ofendendo ou achando que pode te ter, não responderei
muito bem.
— Não é um psicólogo com mestrado em comportamento humano?
— Jason brincou.
— Sou muitas coisas: psicólogo, atleta, QB da liga nacional, jogador
do Raleigh Rhynos e um grande hipócrita.
— Um hipócrita bem lindo, por acaso — o moreno disse, abraçando
o loiro.
— Além de tudo isso, também sou namorado de Jason Brody, o
melhor e mais gostoso DE de toda a liga nacional.
— É? — Jason riu.
— Talvez tenha me autoproclamado, mas é isso que contarei a
todos. Espero que nunca me desminta.
— Acho que ninguém o fará. — O moreno sorriu e beijou o loiro.
O beijo estava avançando, mas foram interrompidos pelo celular de
Jake, que atendeu irritado, o que fez o moreno rir.
— Sim... Sim... Carson, não vou falar disso! — exclamou.
— O que foi?
— Carson quer saber se você fode bem — Jake respondeu, irritado
com o amigo. Jason não sabia se ria ou ficava chocado. — E por que não
pediram... Minha vez? Chase está te enganando, é a vez dele... Ok, vou ver
com ele... Jason é meu namorado, que saco, é óbvio que ele vai estar
comigo o resto da noite... Já te aviso.
— Aconteceu algo?
— Hoje era uma daquelas noites de jogo que te contei. Carson quer
que eu volte para ele “chutar minha bunda” e é para levar pizza, porque
aqueles incompetentes não podem pedir sem mim, aparentemente.
— Tudo bem, pode ir, é um momento de vocês, e seus amigos
querem sua companhia. Amanhã nos vemos antes da viagem.
— Eu? Carson e Chase querem você. Tiveram a audácia de me dizer
que, se eu aparecesse sem você, era melhor nem ir. Inclusive, se eu nem
quisesse ir, tudo bem, mas você tem que estar lá. Tive que gritar que você é
o meu namorado e que vai passar a noite comigo, para ver se entendiam. —
Bufou, revoltado.
— Por que me querem lá? — perguntou, confuso, mas sorrindo por
ter sido chamado de namorado.
— Querem ganhar de você no videogame, os dois passaram o dia
falando que você não pode ser bom em tudo — Jake revirou os olhos. —
Não precisamos ir, é nossa primeira noite juntos.
— Mas é sua noite com seus amigos.
— Eles vão querer te monopolizar e contar minhas histórias
humilhantes.
— Isso me dá mais vontade de ir. — Riu. — Se lembre de que
passaremos duas semanas no boot camp.
— Sim, o boot camp. — O loiro sorriu imediatamente, deixando o
moreno confuso. — Você não olhou seu e-mail? Isaac nos mandou a
distribuição de quartos.
— Nem olhei meu celular ainda.
— Aqui — Jake entregou o seu, mostrando o e-mail.
Durante duas semanas, Jason e Jake dormiriam juntos.
— Cadê a pizza? — Carson perguntou quando abriu a porta,
ignorando que Jake e Jason estavam de mãos dadas.
— Jason ligou para o amigo dele, vão entregar em dez minutos. Ele
disse que é a melhor pizza da região — Jake respondeu, entrando na própria
casa, puxando o moreno com ele.
— Steamroller, meu amigo. A pessoa que eu queria ver — Chase
falou sorrindo assim que entraram na sala.
— Por quê?
— Porque quero jogar com você. Jake disse que você era quase um
profissional. Mas, para ele, tudo que você faz é perfeito. Você é perfeito.
Seu corpo é perfeito. Sabia que ele...
— Cala a boca! — Jake o interrompeu. — Sério, Jason, vamos
voltar para sua casa, eles são idiotas.
— Jason, não sai daqui até sabermos quem é o melhor! — Carson
respondeu, colocando algum jogo.
— Meu namorado! — o loiro resmungou, abraçando Jason,
mostrando que a posse era dele. Estavam sentados no sofá, Chase no chão e
Carson deitado no outro sofá.
— Namorado? — Carson e Chase os olharam ao mesmo tempo, até
que Carson bufou. — Não, Jason, devia ter feito Jake implorar por mais
tempo.
— Ele iria se humilhar fácil. — Chase riu.
— Me dá esse controle, quem vai chutar a bunda de vocês sou eu!
— o QB disse irritado.
Jason apenas ria de tudo.
— Não, pensando bem, Jason fez um favor para nós. — O running
deu de ombros. — Steamroller, você não tem ideia de como Jake é um saco,
só fala de você o tempo todo.
— Estamos nessa há anos, quem sabe agora temos paz? — Chase
comentou.
— Odeio todos vocês — Jake declarou. Jason riu e beijou seu rosto.
A pizza chegou logo depois. Como passariam as próximas duas
semanas na dieta rígida do time, aproveitaram para comer e beber bastante.
Tinham caixas de pizza, garrafas de cerveja e latas de refrigerante.
Conversavam muito, provocavam um ao outro, e Chase e Carson contavam
qualquer história constrangedora de Jake que conseguiam lembrar,
principalmente quando era o loiro que estava jogando contra eles, o que o
fazia se desconcentrar.
— Não é um dos jogadores mais concentrados atualmente, que
consegue ignorar qualquer outra coisa, só focar no próprio jogo e no que vai
fazer? — Jason o provocou. — Vai deixar que eles te distraiam assim?
— Você é a minha maior distração — resmungou.
— Por quê? — perguntou, fazendo-se de inocente.
— Você sabe — respondeu entredentes, vendo o moreno rir.
Jason beijou o pescoço de Jake, que tremeu levemente, o moreno riu
e voltou a assistir à acirrada competição entre Jake e Carson. Por mais que
brincasse, estava torcendo pelo loiro.
Quando estavam a caminho da casa dos três atletas, Jason ficou com
um pouco de medo. Não sabia como as coisas seriam, como agir ou o que
falar. Pensou que pudesse haver aquele momento estranho, mas não. Chase
e Carson realmente não se importavam. Na verdade, tratavam como algo
normal e gostavam deles juntos. Chase dizia que sempre os “shippou”.
Tudo continuava igual, exceto que agora Jake e Jason podiam se tocar, até
mesmo beijar. Estavam sentados lado a lado, corpos encostados. Em um dos
momentos que Jason ganhou, Jake o abraçou e o beijou para comemorar. A
única coisa que aconteceu foi a almofadada que receberam de Carson.
— Vidas solteiras importam! — gritou. — Não precisam esfregar na
nossa cara o casal perfeito que são.
Jake zombou dos amigos, o que acabou gerando mais piadas de
todos os lados, a ponto de Chase reclamar dramaticamente que mal
esperava que Jason levasse Jake embora para os outros terem paz. Eles riam
e se provocavam, incluindo o moreno nas brincadeiras. O DE participava de
tudo, mas pensava em como teria sido bom crescer com esse tipo de apoio.
As coisas teriam sido muito mais fáceis e menos dramáticas se ele tivesse
alguém com ele desde o início.
— Como? — Chase gritou revoltado.
— Eu disse que jogava bastante. — Jason deu de ombros depois que
ganhou de novo.
— Tem alguma coisa em que você não é bom? — Carson
perguntou, cruzando os braços. — Cozinha mal? Não sabe dançar? É
horrível com trabalhos manuais?
— Não, ele é ótimo com as mãos — Jake disse, sorrindo inocente.
Chase, que já estava sentado no chão, deitou-se de tanto rir e Carson
parecia confuso.
— É? O que você faz? Por que... Seu ridículo! Nojento! — o latino
gritou com Jake, que riu. Chase gargalhava no chão, a ponto de chorar.
Jason apenas sorria com a dinâmica deles. — Sério, Jake, tome no cu!
— Bem, eu já...
— NÃO! — Carson gritou, jogando todas as almofadas que pôde no
loiro. Jake estava rindo tanto que nem se defendeu, mas a única que
realmente atingiria seu rosto, Jason pegou no ar, antes que acertasse o alvo.
— Ah, pronto, nem posso tentar matar meu amigo, que o namorado dele
quer impedir.
— Ele é “Defensive End”, o que esperava? — Chase brincou. — Vai
defender mesmo.
— Não, a função dele é derrubar o QB, não proteger! — Carson
bufou.
— Pelo sorriso relaxado do Jason, a expressão de quem gozou muito
e quer mais do Jake, acho que nosso DE já “derrubou o QB”. — Chase deu
de ombros.
— Desisto de vocês! — Carson se jogou de volta ao sofá.
Jason ria, estava se divertindo muito, e a sensação de liberdade era
incrível. Jake estava deitado, com as pernas no colo do moreno, os amigos
ainda faziam piadas e jogavam. Ele relaxou completamente, sorrindo e
brincando junto, sempre ganhando. Era uma coisa simples, mas isso fazia
seu coração acelerar de um jeito bom, sentia-se feliz.
Mas aí os outros três entraram em um consenso e o proibiram de
jogar quando era competição, o que o fez rir. Foi então que olhou para seu
celular. No grupo de conversa com Sadie e Jay, tinha algumas mensagens
dos amigos perguntando se estava bem e preocupados que ele não tinha
dado notícias ainda.

Jay:
Jason, quando puder, nos fala como está. Você não contou o que aconteceu
ontem, mas sabe que estamos com você, né?

Jason:
Me desculpem, só tive um pequeno colapso mental e precisei ficar um
pouco com minha avó. Mas já está tudo bem

Sadie:
Quer vir para casa ou que vamos para a sua? Se precisar conversar,
estamos aqui
Jason:
Eu sei e agradeço, mas tudo está bem agora
Obrigado por serem amigos incríveis, eu amo vocês

Sadie:
Querido, nós amamos você também

Jay:
Vai nos contar o que aconteceu? Vimos as postagens de vocês no bar,
parecia tudo bem, aí você surtou

Jason respirou fundo, como contar tudo que tinha acontecido?


Olhou para Jake, relaxado, deitado e jogando, rindo das bobagens dos
amigos. Foi até patético como seu coração acelerou.

Sadie:
Se não quiser contar, tudo bem, só queremos saber como está

Jason:
Não é isso, só não sei como explicar
Bem, resumindo, Jake me beijou ontem à noite, e nós quase transamos na
casa dele

Ele viu que Jay e Sadie começaram a escrever várias vezes e em


todas desistiram. Sabia que não precisava ter jogado a notícia assim, mas
iria suavizar para quê? Foi exatamente o que aconteceu.
Jay:
O QUÊ?????
COMO???
Quer dizer, o “como” eu sei, quero saber como chegou a isso

Sadie:
Por isso Jake estava mal?
Jason, como estão? Conversaram? Precisa de alguma coisa?

Jason:
Calma, nós conversamos, sim, e falamos sobre tudo, tanto da minha parte
quanto da dele. Não falei o nome do Devon, porque não quero que ele se
envolva com essa parte podre do meu passado
Mas fomos sinceros sobre nossos sentimentos e expectativas

Sadie:
Ok, isso é muito bom, estou orgulhosa
E agora? Como estão?

Jason:
Acho que estamos namorando

Sadie:
O QUÊ?????????

Jay:
Ela me julgou por surtar e agora está gritando pela casa
Mulher hipócrita

Sadie:
Sempre shippei!
Eu estava certa desde o começo!
Eu sabia!

Jay:
Com licença?
Fui eu que contei sobre eles, eu que shippei primeiro!

Jason:
Acho que esse cargo é do Chase, mas Carson deve ser o segundo.
Aparentemente, Jake tinha sentimentos por mim há tempos

Sadie:
Ah, não, quero saber de tudo

**Sadie adicionou Jake Lewis ao grupo**

Jay:
Você adicionou o Jake?
Como vamos falar do Jake se ele está no grupo?

Jake:
Hã, oi?
Falar de mim?

Jason olhou para o loiro, que segurava o celular, confuso. Jake o


olhou sem entender, e o moreno deu de ombros. Seus amigos eram loucos,
mas estavam com ele no pior momento, era justo estarem no melhor.
Jake ajudou Carson a levar garrafas e caixas para a cozinha, Jason
tinha se prontificado para ajudar, mas Chase exigiu uma revanche, e o loiro
falou para o moreno jogar. Ele precisava conversar com Carson em
particular e não queria que o moreno ouvisse.
— Comi tanto que, se o técnico pedir para correr em volta do campo
amanhã, desmaio antes do fim da primeira volta — Carson resmungou,
guardando as sobras, mas tomando mais um gole da cerveja.
— Car, lembra quando começamos a acompanhar os jogos da
Universidade de Durham? — perguntou em voz baixa.
— Quando você nos obrigou a acompanhar porque estava obcecado
por Jason? Sim, claro que me lembro. E por que estamos sussurrando? —
respondeu no mesmo tom de voz.
— Não quero que Jason escute.
— Ótimo jeito de começar um relacionamento. — O amigo negou
com a cabeça. — Olha aqui, eu gosto dele, se fizer alguma merda e o
perder, vou descer o cacete em você. Depois vou contar pra tia, e ela vai
fazer o mesmo.
— O quê? Não é nada disso! — o loiro respondeu, revoltado. Não
sabia se ficava feliz pelo amigo gostar tanto de Jason ou bravo por pensar
que ele faria algo para machucar o moreno. — Ele me contou umas coisas,
mas pulou uma informação de propósito, e quero saber o motivo.
— Estranho, mas te ajudo com a informação, porque quero a fofoca.
Do que você precisa?
— Qual era o nome do QB da Universidade Durham naquela época?
— Jake perguntou.
Carson tinha uma memória invejável, ele poderia falar escalações de
times inteiros de décadas atrás. Memorizava dados, estáticas, fichas
técnicas e o que mais fosse necessário com uma facilidade invejável. Como
ele amava futebol americano, dominava o assunto.
— Tinha dois, o reserva era o Leroy Murs, mas não chegou a fazer o
draft, hoje ele trabalha como cirurgião dentista ou algo assim. O titular está
na liga, até chegou ao Super Bowl ano passado.
— Qual o nome?
— Devon Butler.
Jake agradeceu e voltou para a sala depois de já ter terminado o que
estava fazendo. Algumas coisas fizeram sentido. Jason parecia
desconfortável toda vez que o nome de Devon era citado, Jay e Sadie
também não gostavam desse QB. Eles eram os melhores amigos de Jason e
eram bem protetores, Sadie parecia ser do tipo que virava uma leoa para
defender quem amava. Eles deviam saber de toda a história.
Sinceramente, ele também não gostava muito de Devon, sempre
sentiu uma energia estranha e odiava quando os comparavam. Devon
transmitia a imagem de perfeição, com sua noiva, roupas, carro e casa
perfeita. Jake nunca acreditou nele, porque sabia que, se alguém se esforça
para parecer algo, quer dizer que nunca foi. E agora, sabendo que ele havia
machucado Jason, Jake o odiava.
Se Devon Butler tentasse voltar para a vida de Jason ou fizesse algo
para o machucar ou prejudicar, Jake teria que mostrar que também não era
tão bom quanto todos achavam.
— Tudo bem? — Jason perguntou para o loiro, que estava sentado
ao seu lado.
— Sim, só pensando em algumas coisas do futuro.
— Algo que devo me preocupar? — O moreno sorria.
— Não mesmo. — Jake o abraçou e o beijou.
Já estava amanhecendo, resolveram que era hora de encerrarem a
noite, já que viajariam em algumas horas. Jake tinha conversado com Jay e
Sadie, contando bem mais do que Jason gostaria, mas não era ruim. O
moreno ainda tinha o medo de que tudo desse errado e não achava que
passaria, mas ele era sufocado pela felicidade que sentia.
— Melhor eu ir embora — disse pela terceira vez, encostado na
porta da casa, enquanto tentava se despedir de Jake.
— Daqui a pouco — o loiro respondeu mais uma vez, e eles
voltaram a se beijar.
Chase e Carson já tinham ido para cama, depois de se despedirem
do Steamroller e jurarem que venceriam na próxima vez. Jake e Jason
estavam na porta da casa, mas não conseguiam parar de se beijar.
Racionalmente, o moreno sabia que tinha que ir embora, mas seu corpo não
queria isso.
— Dorme comigo — Jake pediu manhoso, beijando o pescoço do
moreno. Ele precisava, urgentemente, saber qual era o perfume do
namorado, porque era muito bom.
— Tem certeza? Se quiser esse momento para...
— A única coisa que preciso agora, é de você na minha cama —
Jake disse sério, o que fez o moreno sorrir. Jason estava gostando de tudo
aquilo muito mais do que queria admitir. — Vem.
Jake o puxou pela mão, Jason percebeu que era uma coisa recorrente
naquele dia e estava se divertindo. O quarto do QB tinha as paredes cinza-
claras e uma preta, que era onde ficava a cabeceira da cama. Parecia
elegante, ao mesmo tempo descontraído. Jason gostou do que viu,
principalmente do pequeno mural de fotos que tinha em uma das paredes.
Além da iluminação principal, o quarto tinha uma que deixava o
ambiente um pouco mais escuro, e era essa que Jake tinha acendido. Depois
de trancar a porta, o loiro o conduziu para a cama, sempre o tocando e o
beijando.
— Quer que eu pegue um pijama para você ou prefere dormir sem
roupas?
— Como você quer dormir? — Jason perguntou, sorrindo.
— Aceito qualquer oportunidade que eu puder de ficar com você
sem roupas — respondeu, e outro riu.
Eles sabiam que não deveriam fazer nada, afinal tinham poucas
horas para dormir, terminar de arrumar as malas e ir para o estádio, de onde
o time sairia. Mas eles estavam sem roupas, deitados na cama, embaixo da
coberta, corpos se esfregando, línguas se tocando, foi inevitável.
— Jason... — Jake gemeu baixinho.
O DE tinha jurado que não passaria de um amasso, era só para ser
beijos e um pouco de provocação. Mas aí Jake pegou lubrificante na mesa
de cabeceira e despejou um pouco nos paus deles. Só para deslizar melhor,
ele disse. Então o moreno segurou os dois membros juntos, aumentando a
fricção, os gemidos sendo engolidos pelos beijos que não paravam.
Estava bom, eles estavam excitados, o prazer estava sendo
construído, só que não era mais o suficiente, e eles sabiam disso. Jake se
mexeu, para se ajeitar melhor. Jason o abraçou, e a bunda do loiro ficou
sobre o pau do moreno. Eles não estavam pensando muito bem, só
continuavam a se esfregar, beijar e morder o que conseguissem.
Com a mão, ainda suja de lubrificante, Jason tocou a entrada de
Jake. Era só para provocar, mas gemeu, lembrando-se de como era estar
dentro do loiro. Seus dedos deslizavam pela entrada, ainda mais depois de
colocar mais um pouco de lubrificante. Jake gemia contra a pele do moreno,
eles faziam o mínimo de barulho possível.
— Por favor... Jason..., por... favor... — implorava baixinho.
Aquilo não fazia bem para a sanidade do moreno, suas mãos
apertaram as coxas do loiro, que envolviam seu corpo, trazendo-o para mais
perto, também implorando. Jason penetrou Jake bem devagar, eles
suspiravam a cada nova investida.
Foi lento e intenso, não como a loucura da primeira vez, mas tão
bom quanto. Os corpos se tocando, movimentando-se juntos, acertando os
pontos certos, apertando, mordendo, beijando. Jason estava cada vez mais
perto de seu limite, mal começou a acariciar o pau de Jake e o loiro jogou a
cabeça para trás, gozando.
Ele achava o loiro a criatura mais linda que já tinha visto, mas
assim, entregue ao prazer, era a visão mais sexy que alguém poderia ter. Foi
ver o outro assim que o empurrou ao limite, e ele gozou, abafando seus
gemidos contra a pele do QB.
Estavam parados, ofegantes e suados, Jason distraído, beijando o
pescoço e ombro de Jake. O loiro sorrindo bobo, sentindo o torpor pós-
orgasmos e feliz. Quando tivesse um momento a sós, agiria como um
adolescente que beijou o ídolo e teria um pequeno surto com direito a pulos
e gritos de comemoração. Por enquanto, só queria aproveitar o momento.
— O que foi? — perguntou quando Jason pareceu tenso.
— Não usamos camisinha.
— Percebi, minha bunda está vazando. — O loiro riu.
— Isso não é um problema?
— Seria se fosse com outra pessoa, mas é com você, então tudo bem
— respondeu, alongando-se e se ajeitando para dormir. — Nunca transei
sem camisinha com ninguém. Somos atletas e fazemos exames regulares,
sei que estamos limpos. Está tudo bem.
— Também nunca fiz sem — Jason murmurou. A confiança que
Jake tinha nele era tão forte, que chegava a surpreender.
— Resolvido o surto, podemos dormir — o loiro brincou.
— Claro. — O outro suspirou mais calmo. Tinha que parar de temer
cada passo que dava, era Jake com ele. Mesmo que se conhecessem há
pouco tempo, confiava nele. Mais que isso, estava apaixonado.
Sem falar nada, Jason o abraçou por trás, beijando sua nuca. Jake
sorriu sonolento, gostava de dormir de conchinha, mas, por ser alto, sempre
queriam que ele fosse a concha de fora. Jason não perguntou, porque não
precisava, apenas o abraçou, deixando-o ser a concha de dentro, que era o
que o loiro realmente gostava.
Suspirou sorrindo, sabia há muito tempo que era apaixonado por
Jason. Agora que estavam juntos, descobriu que estava muito perto de amá-
lo. E estava pronto para isso.

Jake acordou com o despertador, olhou confuso em volta, estava


sozinho na cama. A porta do banheiro estava aberta, então Jason não estava
lá. Sentou-se ainda coçando os olhos, pegou seu celular e viu que tinha
novas mensagens de Jason. Sentiu seu corpo gelar, com medo do que seria,
mas sorriu ao ler.
Jason:
Você estava dormindo tranquilo, não quis te acordar. Mesmo tendo sido
muito difícil sair da sua cama, fui para casa terminar de arrumar minha
mala e deixar tudo organizado.
Sei que teremos que fingir que não somos nada quando estivermos em
público, mas quero deixar claro que não voltei atrás em nada do que falei.
Estou me apaixonando por você, e isso me assusta, mas com você tudo é
tão diferente e leve, que me faz querer arriscar.
Perdão se estou sendo confuso, me sinto assim desde que te conheci. Tudo
isso é novo para mim, então tenha paciência, por favor. Vou tentar não
deixar mais meu medo tomar conta. Não é só sobre o sexo, apesar de ele
ser muito melhor do que imaginei, é sobre como estar com você me faz
feliz.
Te vejo daqui a pouco, morrendo de vergonha por ter desabafado desse
jeito, mas também não vou apagar as mensagens. Quero que saiba como
me sinto, porque não quero mais ter que fingir ser algo que não sou.

Jake cobriu o rosto com o travesseiro para abafar o grito de alegria.


Agora realmente queria pular e gritar como adolescente. Jason era feliz com
ele, e olha que só estavam juntos havia menos de vinte e quatro horas.
Tia Maristela dizia que Jake era obstinado, que não existia nada que
ele quisesse que não conseguisse. De um jeito ou de outro, Jake vencia. Ele
era impulsivo com coisas pequenas e supérfluas, mas, quando tinha um
objetivo, traçava planos e metas e cumpria cada um deles até ter o que
queria.
Havia passado anos desejando Jason, e o sentimento só ficou mais
forte quando o conheceu, ele se apaixonou por cada pequeno detalhe que
aprendeu sobre o moreno. Agora que tinha sua grande chance, não a
desperdiçaria. Mostraria para o DE como ele era incrível, amado e tinha o
direito de ser feliz sendo quem era.
Jake:
Sinto o mesmo por você e vou te mostrar que esse risco vale a pena
Sei que teremos que fingir que somos apenas amigos, mas podemos
matar a saudade no quarto à noite. Até daqui a pouco

O loiro tomou seu banho, ainda sentindo um pouco as


consequências da noite anterior, mas feliz por elas existirem. Sua mala
estava quase pronta. Terminou de organizar seu quarto e colocou a roupa de
cama para lavar. Sentiu muito porque perderia o perfume do namorado do
travesseiro, mas passaria aquelas duas semanas sentindo o cheiro direto da
fonte.
Namorado.
Sorria ao pensar nisso. Quando foi para a casa de Jason, era para se
desculpar, talvez se humilhar implorando por perdão e propor fingir que
aquilo nunca tinha acontecido. Apesar de doer, seria menos dolorido do que
se afastar completamente.
Riu de si mesmo pensando que tinha vivido um dos piores dias da
sua vida no dia anterior, quando acreditava que Jason o odiava, agora estava
rindo de felicidade como um idiota, porque o moreno também tinha
sentimentos por ele.
— Como pode estar alegre? — Carson perguntou bufando quando o
loiro entrou na cozinha.
— Deve ter tomado um chá tão forte noite passada, que eliminou o
álcool de uma vez só — Chase murmurou, bebendo café.
— Não bebi tanto quanto vocês.
— Claro, o motivo de te deixar agindo como um chapado feliz
estava sentado do seu lado e te beijando — o running murmurou. Mesmo
estando dentro de casa, usava óculos escuros.
— Estão com inveja? — Jake perguntou, sorrindo malicioso.
— De ter tido uma transa tão boa que te fez renovar as energias e
estar de bom humor? Sim. De ter sido com Jason? Não. — Chase suspirou.
— Gosto dele, mas não desse jeito.
— Ainda bem, seria uma pena acabarmos com nossa amizade por
isso. — O loiro riu.
— O que eu falei sobre esfregar sua boa vida nas nossas caras? —
Carson perguntou com as mãos na cintura. — Estamos muito felizes por
você, agora vamos à fofoca. Por que queria saber sobre o QB da Durham?
— Não posso explicar, é uma história do Jason — Jake respondeu, e
os amigos o olharam com deboche. — Tá, o que posso dizer é que Devon
Butler fez algo horrível e quase ferrou com Jason.
— Então agora odiamos o Butler? — Chase tomou um longo gole
do café.
— Com todas as nossas forças — o QB garantiu.
— Odiamos ele por achismo ou temos provas? — Carson guardou
as coisas na geladeira. — Não vejo problemas em odiar alguém só por
achismo, para deixar claro. Odeio várias pessoas porque as vozes da minha
cabeça mandaram.
— Jason não disse o nome, mas tenho quase certeza de que é ele.
— Para mim, é suficiente. — O running deu de ombros.
Chamaram um carro por aplicativo, pegaram suas malas e foram
para o estádio. Cumprimentaram os outros jogadores e a equipe técnica,
assinaram as papeladas da viagem e receberam as informações. Jake ouviu
a risada primeiro, então se virou. Jason conversa com Jay, Kevin e mais
alguns, rindo de algo.
Jason usava roupas comuns, camiseta, jeans e tênis, mas estava
absurdamente lindo. O moreno o olhou naquele instante, os olhares se
cruzaram, e o DE sorriu de canto. O QB sorriu de volta, mal podia esperar
por aquela viagem.
O percurso demorou algumas horas. Eles foram divididos em dois
ônibus, Jake ficou chateado quando percebeu que Jason e ele não iriam no
mesmo. Mas entendeu, eles tinham que fingir que não eram namorados,
apenas amigos, colegas de trabalho. Seriam longas horas de viagem, talvez
devesse dormir um pouco.
— Jake, meu amigo. Agatha disse que você foi o melhor parceiro de
polo que ela teve. Isso magoa meu coração, sabia? — Jay brincou, passando
o braço por seus ombros e o tirando da fila de um dos ônibus, conduzindo-o
para a outra fila. — Temos que marcar outro dia para você ir para a minha
casa brincar com meus filhos enquanto eu descanso e tomo uma cerveja.
— Claro. — O loiro riu. Então perguntou sussurrando: — O que
está fazendo?
— Se eu não conseguisse te fazer entrar no mesmo ônibus que nós e
se sentar ao lado do Steamroller, ele fará minha viagem ser miserável. Não
queremos isso, não é? — respondeu no mesmo tom.
— Não, não queremos. — O QB sorriu.
— Meu garoto! — Jay riu, fazendo-o parecer um viking, como
sempre.
— Obrigado — Jason murmurou quando chegaram à fila do outro
ônibus, onde vários colegas conversavam. O DE e o QB se olharam,
sorrindo de canto.
— Olha isso, Chase, Jake se vendeu para a defesa — Carson disse
dramaticamente.
— É isso, cara? Já está nos trocando? — Chase negou com a cabeça.
— Sabe como é, ataque ganha jogos, mas a defesa ganha
campeonatos. — Kevin deu de ombros, e eles riram.
— Ainda zomba na nossa cara! — Carson declamou, revoltado, de
um jeito bem exagerado.
Todos entraram no ônibus, Jason parou em uma parte do corredor,
indicando duas poltronas a Jake, deixando que ele se sentasse na janela, e se
sentou ao seu lado. Kevin e Logan se sentaram do outro lado do corredor,
Chase e Carson atrás deles. O loiro sorriu para o moreno, os outros
jogadores ainda entravam e escolhiam seus lugares. Mesmo que
conversassem com as outras pessoas, as mãos deles estavam sobre o apoio
de braço que dividia as duas poltronas, seus dedos entrelaçados de um jeito
escondido.
— Foi mancada, sim. Foram ao Nashorn sem a gente! — Jay
exclamou.
— Nem conhecíamos o lugar, procuramos no Google algum bar
legal — Chase se defendeu.
— Não quero falar nada, mas Jason foi o pior. Ele foi convidado e
nem nos chamou — Kevin disse.
— Foi de última hora, tinha acabado de sair da coletiva de imprensa.
— Não justifica — Jay respondeu. — Fiquei sabendo porque vi a
foto que o Heinrich postou.
— Quando voltamos para casa, podemos marcar de sair todos
juntos, ir para Nashorn — Odell, um dos jogadores, sugeriu.
— Cara, quando eu voltar para casa, não vou querer ver a cara de
nenhum de vocês por dias — Kevin respondeu, e riram.
— Eu vou, quero revanche — Carson disse, apontando para Jason.
— Vocês desafiaram o Steamroller? — Tru, outro jogador, riu.
— Ele ganhou todas — Jake disse, revoltado. — Ganhou de mim no
dardo! Como?
— Vocês cometerem um erro de principiante muito comum, também
fiz isso ano passado — Tru falou em uma falsa compaixão, o que fez os
outros rirem. — Todo ano alguém desafia o Steamroller, mas ele sempre
ganha.
— Em tudo? — Carson perguntou, revoltado. — No bar jogamos
sinuca, pebolim e dardos. Ontem jogamos uns três jogos de videogame em
casa, ele ganha todas as partidas. Como?
— Ouviu isso, Kevin? Ainda fizeram campeonato de videogame e
não nos chamaram! — Jay bradou, revoltado.
— Falaram que Jake se vendeu para a defesa, mas acho que foi o
Jason que se bandeou para o ataque.
— Qual o próximo passo? Virar um running? — o ruivo acusou.
— Ei! — Carson protestou.
— Vocês são muito dramáticos. — Jason revirou os olhos. O
polegar dele fazia carinho na mão de Jake. O loiro estava se contendo para
não sorrir como bobo e acabar deixando alguém perceber. — Foram só
alguns jogos.
— E Jason ganhou todos — Chase voltou ao assunto. — Como ele
faz isso?
— Ele só é muito bom, mesmo, em tudo — Emmett, um jogador da
defesa comentou.
Os outros riram, mas Jake não gostou muito. Sentiu uma segunda
intenção na frase, mas não ia comentar. Chase apenas o olhou, e confirmou
com a cabeça. Ele também tinha entendido.
A viagem demorou quase seis horas, porque fizeram uma parada
para que pudessem ir ao banheiro. Quando voltaram da parada, a maioria
decidiu descansar, o ônibus ficou escuro e silencioso. Jake levantou a
divisória e deitou sua cabeça no ombro de Jason. Infelizmente, era o
máximo que poderiam fazer no momento, mas já significava algo.
— Só precisam pegar suas chaves e podem ir para os quartos, têm
um lanche para cada um de vocês lá. Amanhã nos encontramos no café da
manhã às oito e meia da manhã. Os treinos começam às dez. Boa noite —
Isaac os avisou quando, finalmente, chegaram.
Os atletas pegaram os cartões na mesa da recepção, estavam dentro
de envelopes com seus nomes e números dos quartos. Era mais de meia
noite, a maioria estava cansada e só queria a cama. O hotel era de porte
médio, mas tinha quartos para todos.
Ficaram no último andar, o mesmo de toda equipe técnica e staffs. O
quarto era simples, bem decorado e tinha espaço suficiente. Jake se
surpreendeu com as camas, era duas queen size de casal, quase chorou de
alívio ao ver que caberia confortavelmente.
— Ela é perfeita! — disse, jogando em uma delas. — É enorme.
— É menor que as que temos nas nossas casas. — Jason riu,
servindo os lanches na mesa, para que eles comessem antes de dormir.
— Sabe quantas vezes tive que dormir com mais três pessoas em
quartos com camas em que meus pés ficavam de fora?
— Claro que sei, também disputei o campeonato do high school e
do college. — Jason sorriu, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar.
— Já escolheu em qual delas vamos dormir? — o loiro perguntou
casualmente, fingindo estar distraído. Mas com expectativa pela resposta,
queria poder dormir com Jason todas aquelas noites.
— Acho que essa — o moreno apontou para uma delas, enquanto
ligava a televisão e procurava algo para assistirem. — Fica de frente para a
TV e mais perto do banheiro, facilita para a gente.
— Tudo bem. — Jake sorriu
Sair da cama não foi difícil pelo horário que o celular despertou, já
que até foi um pouco mais tarde do que nos dias comuns. Foi difícil porque
o corpo de Jason estava tão quentinho e acolhedor, seus braços à sua volta
os deixando juntos, que Jake lamentou ter que acordar.
— Bom dia — a voz rouca disse ao seu ouvido, e o loiro tremeu um
pouco.
— Bom dia — respondeu, virando-se para o loiro.
Tiveram que tomar banho separados, o moreno disse que, se
tomassem juntos se atrasariam. O loiro concordava, mas ainda assim
reclamou. Depois de um bom banho, já estava mais acordado, isso o ajudou
a voltar ao foco, que era o treino. Estavam ali para treinar, e isso era o mais
importante, não podia se distrair com mais nada.
A decisão se manteve até, antes de saírem do quarto, Jason o
prender contra a parede e o beijar como se estivesse faminto e só Jake
pudesse alimentá-lo.
— Bom dia — Carson disse malicioso quando se aproximaram.
— Isso é muito bom. — Chase indicou o bolo que estava comendo.
— Ele é doido por bolos — Jake explicou para Jason. — Se
pudesse, comia todo dia. E é viciado em programas tipo Cake Boss, Batalha
dos Confeiteiros e qualquer coisa parecida.
— Vou te levar para conhecer minha avó, ela adora assar bolos, mas
quase não tem ninguém para comê-los — Jason comentou, e os olhos de
Chase brilharam.
— Foda-se o Jake, estou dentro!
— Ei! — o loiro reclamou.

Sadie:
Updates?

Jay:
Estão tomando café da manhã e com cara de que dormiram muito bem a
noite toda
Jason:
Sabem que eu posso ler as mensagens, não é?

Sadie:
Dane-se
Jake, querido, como está sendo o primeiro dia?

Jake:
Legal, a comida é boa, e realmente dormi muito bem
Acho que tem outro jogador interessado no Jason

Jason olhou surpreso para Jake, que o ignorou, continuando a trocar


mensagens no grupo.

Jay:
Quem?

Sadie:
É o Emmett, não é?
Certeza que é ele

Jason:
Emmett?

Jay:
Acho que não, ele nunca falou nada
Jake:
Ele mesmo
Foi só um comentário, mas deu para perceber

Sadie:
Confie nos seus instintos, sempre sabemos

— Como assim? — Jason perguntou para Jake, que deu de ombros.


— Foi o jeito que ele falou.
— O que ele falou?
— Que você era bom em tudo. — Suspirou.
Não queria que o moreno pensasse que era um louco ciumento, só
estava sendo sincero. O jeito de falar de Emmett o fez acreditar que tinha
segundas intenções e não tinha gostado. Não iria brigar ou tirar satisfação,
ele o trataria normalmente, apenas ficaria de olho. Só estava chateado,
porque era óbvio que Jason não acreditaria nele e interpretaria errado. Jake
quis se bater, precisava aprender a se controlar melhor.
— Tudo bem — Jason disse por fim, voltando a comer.
— Tudo bem?
— Sim, se você diz, acredito em você. Vou ficar de olho para ele
não entender nada errado. — O moreno deu de ombros. — O que foi?
— Não achei que você acreditaria em mim.
— Por quê? — perguntou, como se aquilo não fizesse sentido.
— Porque parece loucura.
— Pode até parecer, mas o que aprendi sobre você é que você não é
louco. Sabe ler muito bem o comportamento das outras pessoas, então vou
confiar.
— E se eu estiver errado?
— Não sou próximo do Emmett, então não faz muita diferença. —
Jason sorriu, e Jake agradecia a confiança.
O café da manhã foi tranquilo, considerando o caos que mais de
quarenta jogadores de futebol americano juntos em um salão poderiam
causar. Depois tiveram momentos de instrução, foram divididos em ataque,
defesa e special team e foram para as áreas indicadas. Apesar de serem
próximas e todos poderem se ver, ainda tinham que estar focados no que
estavam fazendo.
De acordo com os técnicos, os primeiros dias eram mais leves,
porque serviam para a união do grupo. Quanto mais alinhados, melhores os
resultados. Jake não tinha problemas com Chase e Carson, estavam juntos
há muito tempo e tinham intimidade, quase pensavam igual. Não era difícil
Jake precisar mudar a jogada enquanto ela acontecia e seus amigos o
entenderem apenas o olhando.
O aproveitamento foi muito bom, e quase não erravam juntos, Jake
sabia que não teria o mesmo nível de sucesso com jogadores que não
fossem seus amigos, mas precisava tentar. Demorava para pegar o jeito,
mas estavam trabalhando.
Infelizmente, o almoço foi separado, não conseguiu passar o
pequeno intervalo com Jason. Então usou o tempo para se aproximar dos
novos colegas. Alguns eram legais e conversaram bastante, coisa que não
teriam feito na rotina normal. Ele era o capitão do ataque, precisava
conhecer melhor cada membro do seu time.
Jason também estava feliz com os resultados. Por ser capitão,
sempre era o exemplo, o primeiro a executar os exercícios, a ajudar os
outros e incentivá-los. Fazia questão de conversar com cada um, jogador,
equipe técnica ou staff, saber como estavam e o que acontecia em suas
vidas. Prestava atenção nas ordens e ajudava a montar treinos.
— Por isso, ele é nosso capitão, o preferido de todos — Jay brincou
quando Jason ajudava os novatos.
O time era sua vida, sempre soube que era onde queria chegar,
esforçou-se para isso. Rhynos significava tudo para ele, como se fosse o ar
de que precisava para respirar. Por isso, surpreendeu-se quando sentiu falta
de Jake. Nada jamais havia o distraído ou tirado, mesmo que minimamente,
o seu foco. Não era como se fosse uma competição, mas, de repente,
parecia que Jake poderia ocupar um espaço dentro de seu coração, do
mesmo jeito que o Rhynos ocupava havia anos.
Ele estava a alguns metros, lançando bolas certeiras para seus alvos.
Jason até evitava olhar, porque não queria ser flagrado admirando o QB,
mas ele era lindo quando estava sério, concentrado, com o maxilar trincado.
— Isso, você conseguiu — Jason parabenizou um dos novatos que
estava com problemas em um dos exercícios. Ele achava importante sempre
exaltar as pequenas vitórias para construir a confiança.
— Você é muito importante para eles — Isaac comentou, ficando ao
seu lado.
— Obrigado — respondeu, vendo o novato se distanciar aliviado
por ter conseguido. O DE sabia como era a pressão para não falhar, ainda
mais no primeiro ano.
— Para mim também — o treinador entregou uma garrafa de água
para o moreno, que agradeceu. — Esse time precisa muito de você.
— Sei que as coisas foram complicadas, mas agora estamos em um
lugar melhor.
— Também sinto isso. — Isaac sorriu, ele era como um pai para a
maioria ali. — Admiro muito você, tanto como atleta quanto como pessoa.
Você se dedica a isso e realmente ama o esporte. Não vê o Rhynos como
escada para algo melhor, você tenta transformar o Rhynos no melhor que
existe. Como técnico, nunca poderia ter pedido alguém melhor e sou grato
por você estar conosco.
— Obrigado — Jason respondeu, honrado e confuso sobre aquela
conversa.
— Jason, realmente gosto de você, como um dos meus filhos.
Quando seu avô estava no hospital e eu o visitei, ele pediu que eu cuidasse
do menino dele, e espero estar cumprindo. Por isso, quero que saiba que
sempre estarei do seu lado, que vou te apoiar em qualquer decisão, está
bem?
— Acho que sim, mas por que está falando isso agora?
— Só quero que seja feliz, não se sacrifique por nada. O caminho de
cada um só diz respeito a cada um, não carregue o peso de cuidar dos outros
se isso fizer com que se sacrifique. Você merece ser feliz e realizado como
todos que estão aqui. Então, seja feliz, vou te apoiar em cada momento.
Podemos lidar com qualquer tempestade que venha.
— Isaac, do que está falando?
— Sei que um dia conversaremos sobre isso e espero que me conte
que conseguiu toda a felicidade que merece. — O técnico sorriu, dando
tapinhas no ombro do moreno. — Até lá, apenas tenha em mente que estou
aqui por você.
O técnico foi embora, deixando Jason aturdido. Ele sabia, não tinha
como ter tido aquela conversa se não soubesse. Mas ele tinha acabado de
dizer que o apoiaria, independentemente de tudo?

— Cansado? — Jason o desafiou.


— Não mesmo! — Jake respondeu, irritado.
Eles estavam correndo, era fim de mais um dia de treino. Já estavam
lá havia cinco dias e tinham criado a própria rotina. Dormiam juntos todas
as noites, acordavam, tomavam café da manhã e iam treinar. Tentavam
almoçar juntos, às vezes conseguiam, outras não. Os treinos à tarde tendiam
a ser mistos; por isso, conseguiam conversar, mesmo que fosse com os
outros. No final da tarde, iam para a piscina ou praia e ficavam um pouco
por lá. Depois voltavam para os quartos e se arrumavam para o jantar.
Jantavam com os amigos, voltavam para o quarto e passavam aquele tempo
juntos, tendo um grande amasso ou só assistindo a um filme bobo.
Aquela voz irritante e assustadora tentava gritar que ele já tinha
vivido uma rotina parecida com um colega de quarto, que também era QB,
e tudo deu muito errado. Que ele deveria recuar, pedir para trocar de quarto,
fugir daquele lugar. Que, como da última vez, ele sairia machucado e
poderia perder tudo. Que Jake não era tão diferente de Devon e que tudo
pelo que lutou a vida inteira iria pelo ralo, junto de sua reputação e sua
carreira.
Nos raros momentos que a voz gritou tão alto que o assustou, sentiu
falta de ar e que vomitaria a qualquer momento. Jake, sem saber, resolveu o
problema. Na primeira vez, Jason ficou com vergonha de dizer a verdade e
disse que estava passando mal, mas que era para ele ver os amigos. Jake
passou a noite toda cuidando do moreno, verificando como ele estava,
fazendo carinho e o distraiu o obrigando a assistir a alguns episódios da
série do “Dr. Sexy”. Jason ainda achava a série chata e óbvia, mas teve que
dar o braço a torcer que Steve Alexander era um bom ator.
Na segunda vez que os pensamentos negativos o atingiram, estava
tomando banho, respirando fundo e se amaldiçoando por não conseguir ser
uma pessoa normal e ter um relacionamento de verdade. Então Jake entrou
no banheiro, completamente nu e perguntou se poderia se juntar ao banho.
Jason não sabia o que fazer, apenas abriu a porta do box. Jake entrou e o
beijou, dizendo que não aguentava mais de saudades. Então o moreno o
abraçou, puxando-o para mais um beijo, e tudo melhorou.
— Não! Não mesmo! — Jake gritou, fazendo Jason voltar à corrida
e rir do loiro.
— Acontece. — O moreno riu, ultrapassando-o por pouco e
vencendo a corrida.
— Como? Isso nem faz sentido! — o QB gritava ofegante.
— Eu disse, ele sempre ganha — Tru falou, e Jake ainda estava
espantado.
— Sério, que tipo de treinamento você faz? Que suplemento toma?
Tem que ter alguma coisa!
— Só consigo. — Jason deu de ombros.
— Nosso Steamroller é o melhor — Emmett brincou, levantando o
braço de Jason, como se ele tivesse ganhado uma luta. Jake não fez nada,
mas não gostou. Não tinha problemas quando era qualquer outro, mas
Emmett tinha uma malícia que o irritava.
— Obrigado — Jason disse educado, sorrindo, mas se
desvencilhando de Emmett, ficando entre Jay e Jake. — Posso descansar
agora?
— Escuta aqui, seu convencido — Carson disse de onde estava no
chão. — Espera até segunda, quando eu estiver recuperado. Vamos ver.
O treino do ataque, principalmente dos corredores, tinha sido
intenso. Nenhum running ou receiver estava com ânimo, Chase estava
deitado na grama, de óculos escuros, mãos em cima da barriga, e ninguém
sabia se ele estava vendo as estrelas ou estava dormindo.
— Talvez tenha morrido e estamos velando o corpo sem saber. —
Carson deu de ombros.
— Jason, o Devil vai lutar em Nova York, vamos? — Jay perguntou,
animado.
— Devil? — Jake se virou confuso para o moreno.
— Connor Rossell, ele é mais conhecido como Devil. É o melhor
lutador de MMA dessa geração e atual campeão — o DE explicou. — Acho
que ele tem recorde de nocautes.
— O cara parece um monstro no ringue — Jay disse brincando,
dando socos no ar, para ilustrar o que falava. — Para quem não está
acostumado, pode até ser assustador.
— Lembra quando ele lutou com aquele ruivo no ano passado, em
Las Vegas? — Kevin perguntou. — Não sei por que o Devil estava puto,
mas aquele cara apanhou feio.
— Quando é a luta? — Jason perguntou.
— Em duas semanas, no final de semana depois de voltarmos para
casa — Jay respondeu. — Vamos? Sadie disse que vai reservar nossos
lugares.
— Ela vai? — Jake perguntou, sorrindo.
— Quem você acha que nos viciou em MMA?
— Quer ir? — Jason perguntou para Jake. O loiro não acompanhava
muito as lutas, mas óbvio que iria, e o motivo principal nem estaria no
ringue.
— Claro. — Sorriu. — Contra quem ele vai lutar?
— Quem se importa? É o Devil que vai ganhar — o ruivo
respondeu, animado. — Quem mais quer ir?
— Conte comigo, mesmo que eu tenha sido excluído do passeio —
Carson avisou. — Coloca o nome do Chase. Se ele ressuscitar a tempo,
tenho certeza de que vai querer ir.
— Eu queria uma pizza — Chase disse do nada, assustando os
outros.
— Você está vivo? — Carson perguntou.
— Claro que estou. — Chase se sentou. — Quero ir à luta, sim. Já vi
o Devil lutar, ele parece uma besta dentro da jaula. Coitado do adversário.
Agora, o que tenho que fazer para conseguir uma pizza?
— Aquele cara está me irritando — Jake avisou.
Era sábado, estavam saindo do café da manhã e iriam para o treino.
Como era final se semana, os técnicos deixaram leve. Teriam uma
preparação, então simulariam jogo, que era a parte favorita de todos.
— O que ele fez? — Jason perguntou, tentando conter o sorriso.
— Acordou — respondeu malcriado.
— Se estivéssemos no nosso quarto, você pagaria caro por essa
resposta — o DE sussurrou para Jake, que engoliu em seco.
Jason gostou da reação, mas teve que se voltar para outras pessoas
que chamavam seu nome. Ele sorriu e respondeu com educação, fingindo
que não queria mandar todo mundo calar a boca e voltar a ficar sozinho
com Jake.
— Então Jake está com ranço do Emmett — Jay comentou. Eles
corriam em volta do campo para aquecer antes do treino.
— Ele te contou?
— Sadie contou. Inclusive, disse que sente o mesmo — o ruivo
revelou. — Acho que ela conversa mais com Jake do que comigo. Ontem
me fez esperar dez minutos para fazermos chamada de vídeo, porque estava
em ligação com seu garoto.
— Jay! — Jason olhou em volta, mas ninguém pareceu ouvir.
— Sei que precisam manter segredo do público e tal. Mas acha que
é justo manter isso dos outros caras? Somos um time, passamos metade do
ano juntos quase o tempo inteiro. Nos vemos mais do que vemos nossas
famílias.
— Eu sei, mas quanto mais gente souber, mais chance de isso vazar.
— Entendo isso, mas como que você, justo você, que todos
respeitam e admiram, vai mentir na cara deles todos os dias? A maioria já
sabe que você é gay, e ninguém vazou essa informação até hoje. Mesmo
Emmett, que, de acordo com minha esposa, é um grande idiota egocêntrico,
nunca contou para ninguém. Sinceramente, eu me sentiria traído.
— Odeio quando você tem razão — o moreno murmurou.
— Pode não parecer, mas sou um homem muito inteligente.
— Realmente não parece.
— Vai se ferrar! — Jay o empurrou.
Jason tropeçou, rindo, mas retomou o equilíbrio.
Isaac dividiu o time em duas partes, elas ficaram uma de frente para
a outra enquanto faziam o alongamento. Eles estavam abaixados, uma das
pernas esticadas paralela ao corpo e seguravam a ponta do pé. Jason olhou
para frente e viu Jake o olhando, o loiro mexeu as sobrancelhas, fazendo o
moreno rir baixinho.
Iam começar a simulação de jogo. Eles colocaram apenas os
capacetes, já que era um treino leve, alguns também estavam com as luvas.
Todos usavam camisetas com seus números, Jake exibia o número 3, seu
número da sorte, e Jason era conhecido pelo 28. Emmett fez piada, porque
seu número era 82, o número contrário de Jason. O QB revirou os olhos.
Os jogadores estavam com os técnicos, que davam as instruções.
Além das jogadas que tinham que treinar, ainda tinham as novas para serem
testadas. Tyson, o coordenador da defesa, mostrava o planejamento do que
fariam.
— Me deixa ser blitzer — Jason pediu.
— Quer correr direto para o QB já na primeira jogada? — Tyson
perguntou, achando divertido. — Tudo bem, vamos testar essa linha.
Jay riu, negando com a cabeça. Eles se posicionaram, Jake ordenou
a preparação. A linha de ataque se ajeitou à frente da linha de defesa.
Carson estava bem atrás de Jake, e Chase, ao lado do QB, os outros
jogadores todos em seus lugares. O loiro olhou rapidamente para a defesa,
vendo os posicionamentos, Jason sorriu de canto.
Jake gritou, ordenando o início da jogada, no tempo que o center
jogou a bola para ele e ele se posicionou, buscando para quem jogaria a
bola, Jason correu baixo, escapando da linha de ataque, desviando de um
jogador que o tentou parar e indo na direção do QB. O loiro já tinha
percebido e tentou escapar, correu e conseguiu lançar a bola antes que Jason
o agarrasse.
O moreno o abraçou pela cintura, girando seu corpo, mas não o
derrubando no chão. Eles deram um giro completo antes de pararem, um de
frente com o outro. Jason ria, Jake cruzou os braços, mas tentava conter o
sorriso.
— A linha não funcionou, Brody correu livremente, vocês
praticamente abriram espaço para ele! — Jefferson, coordenador do ataque,
gritou. — Se Lewis não tivesse conseguido pensar rápido, teria sido sacado.
O passe foi ruim, porque ele não teve tempo, ainda bem que Graham pegou,
mas o avanço seria mínimo.
— A confusão que você arrumou — Jake murmurou.
— Espera até a próxima jogada — Jason respondeu.
— Acho que isso se tornou um desafio — o loiro provocou.
Virou uma disputa, apesar de ser um treino descontraído, Jake e
Jason estavam levando a sério ganhar um do outro. Os que estavam de fora
de cada jogada paravam para assistir. Uma das vezes, Jake conseguiu
driblar Jason, mas o moreno se virou rapidamente, passando o braço pelo
abdômen do loiro e o puxando. O QB conseguiu ser rápido e lançar a bola
antes de cair em cima de Jason. Chase fez uma recepção incrível e correu,
quase fazendo o TD.
— Eu filmei isso! — Kevin gritou, animado.
— Essa vai para a página da equipe! — Kendra, uma das que
trabalhavam na equipe de relações públicas, exclamou, vendo o vídeo que
filmaram pela câmera. — Lewis, Brody, venham aqui. Preciso tirar uma
foto de vocês, tirem o capacete por favor.
Os dois obedeceram, os cabelos molhados de suor, os capacetes nos
braços e sorriam para as câmeras.

Foi depois do almoço que a confusão começou. Depois de toda a


intensidade, culpa de Jason e Jake, no treino da manhã, o da tarde foi mais
parecido com uma grande brincadeira. Ainda era simulação de jogo, mas
mais tranquila.
Pelo menos deveria ter sido.
Jason estava conversando com Reyes, um dos auxiliares técnicos da
defesa. Os coordenadores e o técnico principal estavam em reunião no
hotel. Já fazia um tempo que o treino estava acontecendo e, naquele dia,
seria encerrado mais cedo.
Reyes era novo na função, por isso, Jason estava o ajudando,
conversando sobre algumas ideias, quando ouviu vozes altas, virou-se para
trás e viu que o time não estava mais jogando, parecia brigar.
— Você é idiota? — Jake andava até os outros, arrancando o
capacete e apontava para Emmett.
Foi nesse momento, pelo jeito irritado do loiro, que Jason entendeu
que a situação era séria, mesmo que de onde estava não conseguisse ouvi-
los direito. Ele deixou o pobre Reyes falando sozinho e correu para onde os
outros estavam.
— Qual o seu problema?! — Emmett gritou.
— Meu problema? Qual o seu problema?! — Jake gritou de volta.
— Calma gente, não precisa disso. — Jay entrou no meio.
— Esse pirralho que veio para cima. — Emmett apontou para Jake,
que soltou o capacete no chão, pronto para brigar.
— Jake, se acalma, Emmett é só um idiota. — Kevin ficou na frente
do loiro.
— Pirralho? — Jake ainda encarava o outro. — Vai se foder!
— O que está acontecendo? — Jason perguntou em voz alta,
chamando a atenção de todos. Reyes e os outros auxiliares estavam por
perto, mas não sabiam o que fazer.
— O pirralhinho não sabe ouvir brincadeiras, isso que aconteceu —
o número 82 resmungou.
— Você que é um idiota, seu otário — Carson respondeu.
— Não seja uma menininha — Emmett zombou.
— Vou quebrar sua cara! — Jake avançou sobre o outro, mas Jason
o segurou.
— Jake, para!
— Vai defender seu amigo? — o loiro estava irritado, cuspia as
palavras. — Ele fala um monte de merda, e eu que tenho de parar?
— Era só brincadeira! — o outro zombou.
— Vai se ferrar! — Chase mostrou o dedo do meio para Emmett,
que tentou avançar contra ele, mas foi segurado.
— Todos vocês, parem agora! — Jason gritou e foi obedecido,
mesmo a contragosto. — O que aconteceu?
— Emmett está provocando os novatos, passou dos limites e deu
essa confusão. — Jay suspirou.
— Era só brincadeira. — Revirou os olhos.
— Peçam desculpas e se resolvam. — Jason ordenou, ainda
segurando Jake, que olhava mortalmente para Emmett. — Isso é um time
profissional, não um clubinho do ensino fundamental.
— Vai, cara, estou esperando — Carson disse para o outro.
— Por que eu tenho que ser primeiro?
— Porque é babaca há mais tempo, damos preferência pelo tempo
de experiência — Chase respondeu.
— Eu não fiz nada, vocês que parecem garotinhas na TPM e...
— Filho da puta! — Jake tentou avançar de novo, mas Jason o
segurou.
— Você não vai fazer nada.
— E por quê? Vai defender seu amiguinho mesmo? — Jake
perguntou irritado, empurrando as mãos de Jason. — Foda-se você também!
— Pare.
— O quê? Vai ficar com seus amigos, me deixa em paz. —
Empurrou-o, e Jason respirou fundo. Todos assistiam em silêncio.
— Não vou repetir, se acalme.
— Vai fazer o quê? Me deixe em paz, seu... JASON!
Brody rapidamente se inclinou e jogou Jake em cima do ombro,
prendendo-o ali. O moreno caminhou tranquilamente em direção aos
vestiários, enquanto o loiro se debatia e gritava, exigindo que fosse solto.
— Jay, você fica no meu lugar, por enquanto — Jason avisou sem
olhar para trás.
— Sabem o que isso significa? Todo mundo está ferrado agora! —
Jay gritou para os companheiros.
— Me solta, Jason! Me solta! — Jake batia no ombro do moreno.
Ele não entendia como aquilo podia estar acontecendo. Mesmo sendo muito
alto e forte, o DE o carregava como se não pesasse nada.
Jason entrou nos vestiários, mas não parou. Passou pela ala comum,
chuveiros, armários, a sala que o técnico usava, entrou no box para
deficientes e, só então, colocou o outro no chão e trancou a porta.
— Pronto, agora podemos conversar.
— Não vou conversar com você. Me... — Antes que terminasse de
falar, o moreno o prendeu contra a parede, uma perna entre as dele, os
quadris pressionados.
— Vai falar, sim.
— Me obrigue!
— Tudo bem. — Jason sorriu provocando.
Suas mãos entraram pela camiseta, chegando na cintura do loiro, os
dedos fazendo carinho na pele quente. Seus lábios já estavam naquele
pescoço, que ele queria muito marcar, mas não poderia.
— Isso não é justo.
— A vida não é justa, baby. Diga o que aconteceu.
— Você não vai acreditar mesmo — resmungou.
— Jake, não faça isso — Jason disse, segurando o rosto de Jake
entre as mãos. — Você pode me falar qualquer coisa, e vou acreditar em
você.
— Emmett disse mais coisas de que não gostei — murmurou por
fim. — Coisas ofensivas!
— Foi sobre você?
— Não...
— Carson? Chase? Sobre quem?
— Você — disse suspirando.
— Eu? Ele me ofendeu? — perguntou, confuso. Emmett era um
idiota, mas nunca tinha ultrapassado o limite.
— Não, pelo contrário. — Jake estava fazendo aquele biquinho que
amolecia o coração de Jason ao mesmo tempo que o enchia de tesão.
— O que ele falou?
— Ele fez piadas dizendo já que temos LGBTs no time, que estava
pensando em virar um — falou, irritado. — Eu te disse que ele é um
enrustido estúpido.
— Babe, o que isso tem a ver comigo? Ele zombou por eu ser gay?
— Pelo contrário, falou que, se fosse para provar, queria que fosse
com você, ok? — Jake explodiu, empurrando Jason e passando por ele. —
Que a noite de fogueira estava chegando e, quem sabe, depois de algumas
doses de tequila, vocês não fossem para o quarto.
— Foi isso? — O moreno estava tentando segurar a risada.
— É sério! Eu te disse que ele estava a fim de você! Eu avisei que
não era normal, que ele queria algo! Você não levou a sério!
— Levei, sim, só não pensei que isso fosse chegar a uma briga,
ainda mais por ciúme.
— Não é ciúme!
— Então o que é?
— Emmett acha que tem alguma chance com você e não tem! —
Jake respondeu, cruzando os braços.
— E por quê? Que eu saiba, estou solteiro — provocou.
Jason sorria para Jake, que respirava fundo, narinas infladas de ódio.
Então o loiro avançou sobre o moreno, foi sua vez de prendê-lo contra a
parede.
— Emmett não tem chance com você! Nem Devon! Nem ninguém!
— Você sabe...
— Sim, sei que o filho da puta que fez aquilo com você é o Devon
Butler. Foi fácil descobrir, ele era o QB da Durham que joga na liga. Nunca
gostei dele e agora o odeio mais.
— Você não precisa se envolver nisso. O que aconteceu entre ele e
eu ficou no passado.
— Não ficou, porque aquele merda te deixou traumatizado. Por
causa dele você tem tanto medo e acha que não tem o direito de ser feliz,
que tudo vai dar errado entre nós a qualquer momento.
— Como...
— Jason, eu sou psicólogo, lembra? Tenho mestrado! — Jake bufou,
irritado. — Eu odeio Devon e, se eu tiver a chance, um dia vou acertar as
contas com ele. E odeio Emmett por te ver como uma forma de “provar
coisas novas”. Enrustido do caralho, ele não vai tocar em você.
— E não é ciúmes? — O moreno sorriu de canto.
— Não! — Respirou fundo. — Emmett te enxergou com um pedaço
de carne! Se ele tivesse falado que era a fim de você, era uma coisa. Mas
ele falou que queria “provar se ser LGBT era bom”. Você não é a porra de
um teste, é o meu namorado!
— Sou? Porque não lembro de ter ouvido um pedido. E se nem eu
fui informado, não teria como ele saber.
— Quer isso? Porque, se quiser, eu vou agora e grito para quem
quiser ouvir que você e eu estamos juntos!
Jason e Jake se encararam, o moreno estava surpreso, porque sabia
que o loiro estava falando sério. Ele não tinha problemas em ir até o time
inteiro e esfregar na cara de todos que eles tinham um relacionamento. Seu
coração disparou, e ele engoliu em seco.
— Você sabe o que acontecerá se fizer isso.
— Eu sei como funciona, não sou burro. — Jake revirou os olhos,
afastando-se. — Não falei abertamente da minha sexualidade até agora para
te proteger.
— Como assim?
— Sou assumido desde o ensino médio, tive relacionamentos com
outros homens na faculdade, é só questão de tempo para alguém descobrir.
Mas não falei até agora porque sei que você não está pronto para ter essa
conversa com a mídia, e, quando for público que sou bissexual, vão atrás de
todos os jogadores de quem sou próximo para falar disso, você será um dos
primeiros. Não vou te pôr em uma situação que te deixe desconfortável — o
loiro respondeu como se tudo aquilo fosse óbvio.
O problema era que era óbvio, Jake já tinha dito que cuidaria de
Jason e o protegeria, que faria tudo aquilo valer a pena. Mas, ao mesmo
tempo, não era. Aquele relacionamento tinha apenas uma semana, e eles
estavam em uma espécie de bolha, onde o time estava separado do resto da
sociedade e apenas focado em treinar, sem as pressões externas.
— Mas você não vai querer viver assim para sempre, não é? —
perguntou, sentindo a boca seca.
— Claro que não. — Jake fez careta, como se aquilo fosse
impensável. — Eu realmente gostei daqui e desse time, mais do que achei
que gostaria. Não pretendo sair do Rhynos e sei que nem você, o que
facilita as coisas. Também sei que é muito provável que fiquemos nessa de
não confirmar nada até nos aposentarmos, o que será, no mínimo, uns dez
anos. Só que, depois disso, quero poder ser livremente quem sou. Poder sair
com você de mãos dadas e não do jeito escondido que teremos que fazer
nos próximos anos.
O cérebro de Jason estava a mil por hora, esperava ter um dia
tranquilo, não ter que resolver todo o seu futuro trancado no banheiro com
seu suposto namorado, que não havia pedido ainda, por acaso. E era
loucura, porque eles nem sabiam se estariam juntos no próximo mês, quanto
mais dali a dez anos.
— Isso tudo é loucura — murmurou. — Como pode ter tanta certeza
do futuro e do que acontecerá?
— Porque sei o que quero e faço de tudo para conseguir. Se eu tenho
uma chance de fazer isso — ele disse, apontando para os dois — dar certo,
eu farei.
— Não sei se é muita confiança ou arrogância.
— Chame como quiser. O fato é que sempre sei o que quero,
porque, se não souber, tenho que aceitar o que me for dado. E nunca aceito
menos do que mereço.
A frase o acertou com força, porque Jason percebeu que fazia muito
tempo que estava aceitando muito menos do que merecia, mesmo antes de
Devon.
— Não quero te impor nada, quero construir um futuro com você.
— Jake suspirou. — Pode me chamar de “emocionado”, impulsivo ou
confiante demais, mas sei o que quero para minha vida e te quero nela. Não
pela imagem que um fã pode ter sobre quem é o Steamroller. Quero o
Jason, neto da Rose, que adotou Agatha e Brandon como sobrinhos, que é
doce com todos ao mesmo tempo que é fã de um lutador conhecido como
“Devil”, e que me julga por ser fã de Steve Alexander, mas gosta dele
também.
— Eu disse que ele é um bom ator, não que gosto dele. — Jason
revirou os olhos, o que fez o sorriso de canto de Jake aparecer. — Estamos
convivendo há quase um mês, mas foi tempo suficiente para decidir nosso
futuro e ter certeza sobre tudo?
— Sim, sou conhecido pela minha teimosia, então não tem nada que
me faça desistir.
— E se tudo der errado?
— E se tudo der certo?
— As coisas são complicadas.
— E daí? Vamos anular as chances de dar certo pelo medo de dar
errado?
— Não aja como psicólogo comigo.
— Não estou agindo como psicólogo. Estou agindo como um cara
tentando convencer o homem por quem é apaixonado de que eles são muito
bons juntos e podem ser felizes. Ao mesmo tempo que estou morrendo de
medo que esse homem desista de tudo.
— Não acredito que chegamos a essa conversa por causa de
Emmett. — Jason riu com um pouco de desespero.
— Nem me lembre daquele idiota.
— E agora, o que fazemos?
— A decisão é sua, Jason, sempre foi — Jake disse, aproximando-
se. — Sempre fui claro no que quero, aceito não assumirmos nada durante
nossas carreiras como atletas. Mas depois não viveremos dentro do armário.
— Muita coisa para decidir de uma vez, não?
— Me perdoe por ser tão imediatista, mas não é justo com nenhum
de nós começarmos um relacionamento se não sabemos o que o outro quer
para o futuro. Não somos um casal comum que pode ter encontros e ver no
que dá. Teremos que manter tudo em sigilo, nossos amigos terão que nos
acobertar, não será apenas o nosso segredo. Isso não é algo casual, somos
você e eu pelo tempo que esses sentimentos existirem. É muita energia
investida para ficar pensando no “e se...”.
— Tem razão.
— E não é como se você não agisse como se eu fosse seu o tempo
inteiro, né? — Jake comentou, e Jason se fingiu de desentendido. — Por
favor, você me toca o tempo todo, cada momento livre passamos juntos, fez
questão de me desafiar na frente de todo mundo e, quando outro jogador
tentou provar que podia me derrubar, você nem o deixou tentar. Acabou de
me carregar na frente do time inteiro e está trancado comigo aqui dentro.
Fora que é eu citar Steve Alexander, que você faz careta.
— Não faço, não.
— Steve me mandou mensagem hoje, durante o almoço.
— E o que o Dr. Sexy quer? — perguntou debochado, então fechou
os olhos, percebendo o que tinha feito.
— Sabe que a única diferença entre nós é que eu verbalizo o que
sinto, não é? — o QB perguntou, convencido.
— Nada de anúncio, nota oficial, matéria em nenhum veículo de
comunicação ou entrevista — Jason respondeu por fim. — Deixe que as
pessoas descubram sozinhas.
— O quê?
— Depois de nos aposentarmos como jogadores, não quero nenhum
drama proposital. Sei que você será o queridinho das marcas e será
convidado para ser modelo, entrevistas e continuar na mídia. Não me
oponho, o que não quero é qualquer tipo de comunicado avisando que
estamos juntos.
— Mas se eu for perguntado, poderei confirmar? — Jake perguntou,
sorrindo.
— Claro. — Jason deu de ombros como se fosse algo simples,
mesmo sabendo que tinha acabado de mudar sua vida inteira.
Jake pulou sobre o moreno, abraçando-o e o beijando. Até tinha
esquecido a briga com Emmett, mesmo que ainda quisesse socar a cara do
número 82.
— Namorados, então?
— Não, porque esse seria o pior pedido de todos — Jason provocou,
indicando o pequeno vestiário em que estavam. — Mas aceito todo o resto.
— Está aceitando passar os próximos anos comigo, mas não meu
pedido de namoro improvisado?
— Sim. Você terá que se esforçar mais. — Sorriu e o beijou de
novo.
— Pelo menos finge — Jason brincou.
— Fingir o quê? Que não quero xingar todo mundo aqui? — O loiro
bufou. — Essa é a merda de namorar o favorito de todo mundo.
— Arrependido?
— Não inventa, não tem mais como escapar — resmungou.
Depois do treino, todos os envolvidos na confusão se resolveram,
mesmo que alguns claramente fossem obrigados. Emmett pediu desculpas,
e Jake praticamente rosnou seu pedido. Com os ânimos mais calmos,
encerraram as atividades do dia.
O domingo era o dia de descanso, alguns iriam passear pela cidade e
outros ficariam pelo hotel, curtindo a piscina ou indo à praia. Então, na
noite de sábado, após jantar, Jake e Jason resolveram passear pela praia, que
estava quase vazia naquele horário. A ideia era irem só os dois, mas alguns
jogadores ouviram, acharam uma ótima ideia e convidaram mais gente.
Agora estavam na praia, com uma fogueira, vários bebendo cerveja
contrabandeada, alguns tocavam violão, e todo mundo conversava.
Jake e Jason dividiam uma toalha de praia, os outros estavam
sentados em volta, alguns trouxeram suas próprias toalhas, outros estavam
sentados na areia. Era início do verão, estava quente e abafado, uns estavam
sem camiseta, os mais corajosos tinham entrado na água, mesmo que já
tivesse anoitecido.
— Meu futuro está bem diante dos meus olhos. Nunca mais terei um
tempo a sós com vocês. — Jake suspirou dramaticamente, Jason riu e jogou
seu braço por cima do ombro do loiro.
— Isso, perfeitos — Carson comentou, mexendo no celular.
— O que você está fazendo, baixinho? — o QB perguntou para
irritar o amigo.
— Usando vocês para conseguir engajamento nas minhas redes,
McCallister — o running respondeu sem olhar para eles.
— McCallister? — Jason perguntou, confuso.
— É, Kevin McCallister, de “Esqueceram de Mim”, lembra? Chase
e Carson me chamam assim para me irritar. — Jake revirou os olhos.
— Pronto, reposta o que marquei vocês — Carson avisou.
— E por quê?
— Porque quero ganhar seguidores para ganhar algum patrocínio
legal — respondeu como se fosse óbvio.
— Você tem um contrato milionário, por que quer patrocínio?
— Sabia que tem gente que ganha jogos de videogame antes de
serem lançados? Ou ganham linhas de roupa? Relógios? Entradas para
shows? Eric Blake está prestes a lançar um novo álbum, e eu quero ir ao
show de lançamento.
— Eu queria patrocínio da Délices. — Chase suspirou sonhador.
— A confeitaria? — Jason perguntou, surpreso.
— Sim, eu poderia comer um bolo deles todos os dias. — Mais uma
vez suspirou.
— Queria patrocínio de alguma cervejaria, mas não podemos — Jay
lamentou.
— Por quê? — um dos novatos perguntou.
— Não podemos aceitar patrocínio de coisas que vão contra o que o
esporte prega — Jason explicou. — Então nenhum tipo de droga, mesmo as
lícitas, medicamentos sem orientação médica, anabolizantes, suplementos
que não sejam regularizados ou coisas que afetam a imagem do time, como
nos associarmos a produtoras de conteúdo erótico, por exemplo. Também
não podemos fazer propaganda de qualquer produto que seja concorrente
direto de um dos patrocinadores do time. E é aconselhável não entrarmos
em polêmicas.
— Nossa, coisa pouca, não é? Sem pressão nenhuma — Carson
comentou.
— Comida pode? — Chase perguntou.
— Cara, qual seu problema com bolos? — O running negou com a
cabeça. O amigo deu de ombros. — Enfim, Jake, reposta a foto de vocês.
— Por que postou foto nossa? — perguntou, mas pegou seu celular
para fazer o que o amigo estava pedindo.
— Porque vocês dão engajamento, por que mais seria? Olhe a foto
que a conta do time postou, milhares de likes e comentários.
Não era uma foto, mas sim um pequeno vídeo de menos de cinco
segundos, foi o momento em que Jason passou o braço pelo ombro do loiro.
Podia ser algo íntimo ou só dois amigos brincando. Carson legendou com
“Nossos capitães” e marcou os perfis dos dois. Jake sorriu de canto e
repostou, sem legendar, afinal, não poderia dizer o que queria.
— Caramba — Jason murmurou por cima do ombro, eles estavam
vendo a foto postada por Kendra, Carson não tinha mentido.
Eram centenas de comentários, mesmo que a maioria fosse sobre o
time, coisas como “Agora sim”, “Rhynos está de volta”, e a famosa frase
entre a torcida do Rhynos: “Rhynos Rules”. Mas tinha outros como
“Gostosos”, “Não sei qual eu quero mais” ou “#TeamBrody” e
“#TeamLewis”.
— Por que estão se separando em times se nós somos do mesmo? —
O DE estava confuso.
— Estão escolhendo o favorito, quem eles acham mais gostoso. —
Jake riu.
— Hã? Você até entendo, mas eu?
— Jason, eu seria do seu time — Jay interrompeu a conversa,
beijando o rosto do moreno, fazendo todos rirem.
— Eu também — Emmett brincou, o riso de Jake morreu na hora.
— Sou #TeamLewis por tempo de convivência. E porque consigo
ganhar dele no Gran Turismo — Chase avisou.
— Mas eu ia te dar um bolo feito pela minha avó — Jason o
lembrou.
— Ok, sou #TeamBrody.
— Você me traiu por um pedaço de bolo? Nem sabe se a avó dele
cozinha bem.
— Jake, é um bolo de vó! Quais as chances de ser ruim? — Chase
perguntou como se fosse óbvio.
— Não são, os doces da vovó Rose são maravilhosos — Jay
garantiu.
— Viu?
— Não se preocupe, Jake, não vou mudar de time. Sou time
#TeamLewis na veia! — Carson garantiu.
— Eu também — Kevin concordou, e o olharam confusos. — O
quê? Ele é amigo do Steve Alexander, Nora é muito fã dele. Eu teria a
gratidão eterna da minha noiva se conseguisse que ela o conhecesse.
— Você é amigo do Steve Alexander? — perguntaram, abismados.
— Não diria amigo, só interagimos algumas vezes — Jake tentou
explicar.
— Ele não te mandou mensagem hoje? — Jason zombou, e o loiro
estreitou os olhos para ele.
— Sim, inclusive ele me convidou para jantar.
— Não falei! — Kevin gritou, e todos começaram a falar alto e ao
mesmo tempo.
Jason olhava sério para Jake, que sorria debochado. Então o moreno
se aproximou, como se não fosse nada, e sussurrou em seu ouvido.
— Espere até chegarmos no nosso quarto.
Jake engoliu em seco, mas sorriu de canto.
A noite foi divertida, mas havia os toques, os olhares, os sorrisos de
canto, as promessas não ditas. Era tarde, e alguns jogadores tocavam violão,
Odell era um deles. Ele cantava muito bem e no momento cantava uma
música de Eric Blake chamada “Hidden”, que falava sobre amar muito
alguém, mas em segredo. Jason e Jake se entreolharam, eles estavam
sentados um do lado do outro, mas sem se encostar.
Jason deslizou sua mão um pouco para o lado, seu dedo encostando
no dedo de Jake, fazendo carinho de leve, quase imperceptível. Podia
parecer quase nada, mas naquele momento era tudo.
— Minha vez — Carson disse, pegando o violão.
Ele cantou a música Burning, do Mason Callahan. O running
cantava surpreendentemente bem. Enquanto todos os olhos estavam nele,
ele dava olhares de canto e tinha aquele sorriso de quem sabia um segredo.
A música era sobre um sentimento avassalador que queimava e consumia
tudo.
— Vamos parar de cantar sobre amor, minha esposa está longe, e
vou ter que passar mais uma semana vendo as caras feias de vocês — Jay
resmungou no final da música, fazendo todos rirem.
Jake só queria ir para o quarto. Ali estava divertido, e era a primeira
vez que passava um tempo de lazer com vários daquele grupo, mas
precisava voltar para seu quarto acompanhado de Jason naquele momento.
— Pra mim já deu, galera — Chase disse, bocejando e se
espreguiçando, e alguns concordaram.
— Vai com eles, em alguns minutos eu chego no quarto. Então
vamos conversar sobre esse convite para jantar — Jason sussurrou para
Jake, que sentiu a pele se arrepiar.
— Vamos conversar? — murmurou a pergunta, provocando-o.
— Você sabe que não é isso que faremos — Jason disse, afastando-
se.
O loiro conteve a ansiedade, fingiu muito bem que estava cansado,
conversou com alguns jogadores, coçou o olhou e até bocejou, simulando
sono. Assim que entrou no quarto começou a arrancar as roupas, enquanto
ia para o banheiro. Nem esperou o chuveiro ajustar a temperatura e ficou
sob a água, limpando a areia da praia.
Seu celular estava sobre a bancada da pia. Secou as mãos e abriu o
aplicativo de música, colocando o último álbum de Eric Blake para tocar.
Tinha voltado para seu banho, usando aquele xampu cheiroso que fazia
Jason sempre elogiar o perfume dos seus cabelos.
Jason chegou no quarto, ele sabia ser silencioso quando queria.
Ouviu o barulho do chuveiro e sorriu ao ver a porta do banheiro aberta.
Apesar de estarem dormindo juntos todas as noites, beijarem-se em cada
oportunidade que tivessem e terem tido vários amassos, ainda não tinham
transado de fato. Boquetes tinham acontecido, mas nunca tinham tempo
para tudo o que queriam fazer.
Bem, agora eles tinham.
O moreno entrou no banheiro já sem camiseta, Jake estava delicioso
embaixo do chuveiro, água escorrendo pelo seu corpo. Quando o viu, o
loiro sorriu e abriu a porta do box, deixando claro o convite. Jason terminou
de se despir e entrou no box, aproximando-se do QB. Eles se olhavam nos
olhos o tempo todo.
— Você demorou — Jake murmurou. Jason estendeu sua mão,
tocando o abdômen do outro, deslizando pela pele molhada.
— Estava pensando no que fazer.
— Sobre o quê? — perguntou, suspirando com os toques.
— O que eu faço quando meu namorado marca de jantar com outro?
— Jason sorriu, provocando.
— Achei que eu era o ciumento.
— Normalmente não sou, mas, se você quer usar isso para me
provocar, então vamos jogar esse jogo.
Jason segurou Jake pela nuca e o beijou de forma punitiva, o loiro
nem teve tempo para reagir. Os lábios estavam pressionados, e as línguas se
esfregavam. Os braços do QB estavam em volta do pescoço do DE, tanto
para o deixar mais perto quanto para se equilibrar.
Jake amava cada parte de Jason, as gentis, as cuidadosas, as
educadas, as protetoras, as carinhosas, as apaixonadas e até mesmo as
inseguras. Mas quando ele entrava naquele modo predador, que o segurava
com força e o fazia ceder às suas vontades, enchia-o de tesão.
— Se você quer me provocar, vou ter que te lembrar a quem você
pertence — Jason sussurrou em seu ouvido, fazendo Jake gemer baixinho.
O moreno o virou com força, fazendo o loiro ficar de frente para a
parede. Ele amava a facilidade que Jason tinha de manipular seu corpo e
fazer o que quisesse com ele. Era o único que já tinha conseguido, como se
o DE soubesse exatamente o que fazer para o enlouquecer.
Jason pegou o sabonete e limpou Jake inteiro, usando a espuma para
explorar o corpo do loiro, dando atenção às suas partes íntimas. O QB
deitou sua cabeça contra o ombro do moreno, que estava com o peito
colado em suas costas. Jake não tinha forças para reagir, apenas ofegava
enquanto Jason usava a espuma para masturbar lentamente o loiro.
O pau do moreno deslizava pela parte interna das coxas de Jake, que
apertava suas pernas, procurando mais contato. Jason movimentou um
pouco o quadril, e agora seu pau se esfregava na bunda de Jake, chegando
tão perto de sua entrada, que o fazia gemer. O loiro sabia que não estava
preparado, então não aconteceria naquele momento, mas estava quase
chorando para ter o pau de Jason dentro de si.
Era loucura, porque, na verdade, tudo o que aconteceu foi que Jason
deu banho em Jake. O loiro já tinha feito coisas muito mais insanas na
faculdade, mas nada o havia deixado tão perto do limite. No fundo, ele
sabia que nada nunca seria comparado ao modo como Jason o deixava.
— Minha vez de me lavar — Jason murmurou provocador, e Jake
não entendeu na hora.
As mãos do loiro foram para a parede à sua frente, para lhe dar
apoio. Jason apreciou a visão da bunda do loiro, perfeita e quase pronta para
si. Passou sabonete muito rápido pelo corpo, mas deixando uma quantidade
de espuma no próprio pau, puxou Jake de volta para seu corpo, deixando
que a água do chuveiro os lavasse.
— Jason... — Jake gemeu, o pau do moreno deslizando por entre
suas nádegas, provocando-o diretamente. — Por favor...
— Eu nunca faria isso com você, baby, nunca tentaria te penetrar
sem te preparar direito. Depois que o banho terminar, vamos para nossa
cama e faremos tudo do jeito certo. — Usou um falso tom calmo e
preocupado, o que fez o loiro bufar frustrado.
— Acaba com esse banho! — Jake disse entre dentes, a mão de
Jason em seu pau.
— É apenas um banho para relaxarmos e dormirmos melhor.
Tivemos uma semana exaustiva.
— Jason Vince Brody, acabe com esse banho agora! — o loiro
ordenou, irritado.
Jason riu e virou o QB, segurando sua nuca, os dois se olhando.
Enquanto o moreno provocava, o loiro estava irritado.
— Se não aguenta ser provocado, não deveria tentar o mesmo
comigo — Jason falou calmamente e o beijou daquele jeito feroz.
Mas o loiro tinha razão, aquele banho tinha acabado. Jason fechou o
chuveiro e, praticamente, arrastou Jake para o quarto. Eles estavam
molhando o caminho todo e caíram molhados na cama, mas não se
importaram, estavam ocupados em se beijar.
O moreno tinha deixado o lubrificante na mesa de cabeceira, então
virou Jake de bruços e beijou suas costas enquanto pegava o frasco. Desde
o primeiro beijo tinha percebido que o loiro gostava quando usava sua força
nele e, por isso, fazia toda vez. E tinha o fato que nunca pudera ser
realmente bruto com alguém, sempre tinha medo de machucar a pessoa com
quem estava. Mas com Jake era diferente, ele gostava, aguentava, pedia por
mais.
— Jason..., por favor... — Jake implorava, fazendo o outro sorrir.
O DE beijou e mordiscou as nádegas do loiro, ele realmente amava
aquela bunda. Então chegou àquela entrada que, quase, implorava por ele.
A primeira lambida foi de surpresa para Jake, que pulou e gemeu. Ele usava
o travesseiro para abafar os sons, mas seu corpo tremia, fazendo o pau de
Jason vazar pré-gozo.
Jason usou a língua muito bem, a ponto de Jake choramingar,
mexendo o quadril, implorando por mais. Então vieram os dedos,
massageando, abrindo, deixando-o preparado para seu prêmio principal.
Jake afundava o rosto no travesseiro, gemendo, ofegando e
choramingando, muitas vezes o mordendo. Não podia se tocar, Jason não
deixava, e aquela parte do seu cérebro que se deleitava de prazer, cedendo
controle total ao moreno, exigia que Jake sempre o obedecesse. Era
desesperador, mas aumentava o prazer.
Então veio o que tanto esperava, a cabeça do pau de Jason estava
contra sua entrada, ganhando espaço e entrando devagar. Jake não via
problema nenhum em se empalar, era sua vontade, mas Jason sempre era
cuidadoso, fosse para não o machucar ou para o enlouquecer. Ele fez aquilo
de ir devagar, provavelmente assistindo ao seu pau sumir dentro do loiro. Se
ele gostava do show, Jake o deixaria ainda melhor, rebolando aos poucos,
cedendo mais espaço, apertando mais.
As mãos de Jason seguravam a cintura de Jake. O moreno tinha se
certificado de que todas as janelas estavam bem fechadas, a porta trancada e
o celular de Jake ainda tocava as músicas de Eric Blake. Tudo isso escondia
o barulho das peles se batendo e os gemidos abafados. Jason cobria Jake
com seu corpo, e o loiro gemeu com isso, não sabia que gostava tanto de
estar preso nos braços de alguém.
Estavam quase lá, a entrada de Jake apertando tanto Jason, que era
quase doloroso. O pau do loiro se esfregando contra o lençol. Os gemidos
do moreno eram abafados no cabelo molhado do QB, enquanto este usava o
travesseiro para isso.
A mão de Jason deslizou pelo braço de Jake, chegando até sua mão
e entrelaçando os dedos. A cabeça do loiro já não funcionava direito, mas
ele sabia que aquilo significava que eles eram muito íntimos, mais do que
transas, eram companheiros. O coração acelerado de Jason batia contra as
costas de Jake, ressoando no seu próprio, como se estivessem
sincronizados.
Então as palavras do moreno voltaram à mente o loiro.

Se você quer me provocar, vou ter que te lembrar a quem você pertence

Jake gozou nesse momento. As estocadas de Jason estavam


erráticas, mas prolongavam o prazer do loiro. O moreno gozou logo depois,
gemendo e dizendo como Jake era perfeito, o que fez o QB sorrir.
Estavam uma bagunça na cama, molhados, suados e sujos de sêmen,
mas sorriam um para o outro. Jason fazia carinho no loiro, que estava com a
cabeça em seu peito.
— Fizemos uma bagunça. — Jake riu, olhando em volta.
— Tudo bem, eu limpo isso. Podemos dormir na outra cama —
Jason comentou, beijando o pescoço do loiro. Jake adorava como ele ficava
carinhoso após transarem, cuidando dele.
— Será a primeira vez que usaremos ela. — Sorriu.
— Precisamos voltar para o banho e nos limpar.
— Ah, não, nem pensar. Jason, nem consigo mexer minhas pernas.
— Manhoso! — Jason riu, beijando-o.
.

Era domingo à tarde, não tinham muito o que fazer, alguns haviam
ido passear, mas a maioria estava por lá. A praia do hotel era ótima, e o dia
estava quente, então estavam aproveitando. Jake estava deitado numa das
espreguiçadeiras, Carson e Chase estavam com ele. De manhã eles tinham
ligado e conversado com Maristela e Mauricio, os dois estavam
emocionados com a chegada do primeiro jogo da pré-temporada. Sofia, a
prima, também estaria lá.
— Mis hijos, estou tão orgulhosa — Maristela dizia feliz.
Ela e o marido sempre fizeram questão de enfatizar que o mérito era
deles, ignorando que só haviam tido oportunidades por causa dela e de
Mauricio. Chase, Carson e Jake eram gratos, amavam os dois e faziam de
tudo para devolver todo esse carinho. Quando eles pagaram a casa em que o
casal vivia com o primeiro salário que receberam, teve que ser escondido,
porque os tios não queriam receber de jeito nenhum.
— Vamos reservar um hotel perto do estádio, mas queremos que nos
levem para passear. Vimos as fotos naquele bar, parece bom — Mauricio
disse.
— Como assim? Vão ficar na nossa casa! — Carson respondeu,
revoltado. — Temos aquela casa enorme para receber vocês.
— Não queremos incomodar, chicos — Maristela explicou.
— Tia, por favor. — Chase revirou os olhos para a tela do celular.
— Vai ficar com a gente, sim!
— Tio, não é justo, montamos uma sala com videogame e
estávamos te esperando para jogar conosco — Jake apelou, ele sabia que os
convenceria desse jeito. — E, tia, Chase está há dias falando que está com
saudades da sua comida.
— Você joga muito baixo — a mulher resmungou, mas eles sabiam
que tinham ganhado a disputa. — Só não queríamos incomodar, tirar o
espaço de vocês.
— Não se preocupe, tia, se faltar espaço, despachamos Jake —
Carson respondeu alegremente.
— Por quê? — ela perguntou. Jake olhou para Carson, que sorriu
malvado. Antes que o loiro conseguisse impedir, o running, que segurava o
celular, afastou-se correndo pelo quarto.
— Tía, ¡Jake tiene un novio!
— Seu boca-aberta do caralho! — Jake gritou com ele.
— ¿Qué? ¿Quién? — Mauricio perguntou. A esposa e ele ficaram
chocados.
— Steamroller! — dessa vez foi Chase quem exclamou, e Jake
jurava que mataria os amigos.
— O jogador? — Mauricio estava atônito. — Jason Steamroller?
— Esse mesmo! — o running confirmou.
— Meu Deus, calem a boca, alguém vai nos escutar! — Jake
esbravejou.
Mesmo que eles estivessem no quarto que Carson estava dividindo
com Kevin, sem que este estivesse junto, e a porta estivesse fechada, o loiro
ainda ficava preocupado. Jason não tinha falado com o resto do time, e Jake
o apoiava a fazer isso no momento que estivesse pronto.
O loiro se sentia um pouco egoísta, a principal razão de querer
contar a todos sobre seu relacionamento era poder abraçar e beijar seu
namorado quando quisesse, sem se esconderem. E poder esfregar na cara de
Emmett que Jason era dele.
— Por isso que falei em espanhol. — Carson deu de ombros. —
Tíos, Jake y Jason están tan enamorados, que es un poco asqueroso —
finalizou fazendo uma careta.
— Imbecil — o loiro resmungou.
— Mi hijo, está feliz? — Maristela perguntou, sorrindo.
— Muito, tia.
— ¡Es lo importante! — ela concluiu. — Quando formos para a
cidade de vocês, queremos conhecê-lo. Quero saber se ele é bom para o
meu menino.
— Amada, é o Steamroller — Mauricio falou como se fosse algo
óbvio que a esposa não tinha entendido. — Jake é bom para ele?
— Tio! — Jake exclamou, revoltado, tendo que pegar o celular da
mão de Carson, já que ele e Chase estavam rindo tanto que quase caíram no
chão.
— Sem ofensas, mas é O Steamroller — o mais velho tentou se
justificar.
— Mais um para o fã-clube do Jason. — Jake revirou os olhos.
— Team Brody! — Chase disse de onde estava, encostado na
parede, ainda rindo
Quando contou a conversa para o moreno, o DE achou hilária.
Apesar de ficar um pouco nervoso por saber que ia conhecer as figuras
paternas do namorado. Tudo estava indo rápido demais, pelo menos na
visão do moreno, já o loiro estava tranquilo. Jake tinha tanta certeza de que
eles passariam o resto da vida juntos, que o moreno estava com medo de o
apresentar à sua avó e de saírem da casa de Rose com parte do casamento
planejado. Porque, se existia uma pessoa mais emocionada e impulsiva que
Jake Lewis, era Rose Brody.

Sofia:
Jake, seu namorado é um gostoso
Estava vendo as fotos, não é à toa que está todo apaixonado

Jake:
Do que você está falando? Você nem gosta de homem

Sofia:
Depende do homem, até gosto, só não teria um relacionamento com
nenhum. Não vale a pena
Se bem que seu namorado é um grande gostoso e tem um sorriso tão
bonitinho. Parece ser do tipo que conquista a família com gentileza, mas
fode com força quando chega no quarto

Carson:
Não!
Meus olhos estão sangrando!
Contenha-se, mulher, você é um neném!

Sofia:
Por Deus, sou só quatro anos mais nova que vocês, aceitem isso!

Chase:
Nunca!
Uma vez nossa pequena, sempre nossa pequena!

Jake:
Não vou falar mais disso com você

Sofia:
Mas estou certa, não é?
Jake:
Sim

Carson:
JAKE!!!!

— Você vai para o inferno, e, se continuar me irritando, eu mesmo


providencio isso — Carson resmungou.
Os três tratavam Sofia como o bebê deles, a princesa, cresceram
com ela e sendo protetores. Carson era o mais apegado, sempre estivera
com ela, era sua irmãzinha. Chase e Jake a viam como a prima mais nova
que eles amavam e protegiam. Mesmo que ela já estivesse no seu último
ano da faculdade de música e fazendo alguns shows.
— Querem jogar vôlei? — Tru os chamou. Alguns estavam jogando
vôlei de praia, Jason estava com eles.
— Não, mas vou assistir. — Jake sorriu. Estava de boné e com
óculos escuros, o que ajudava a ninguém perceber o quanto observava o
namorado.
— Torce por mim, não por ele — Jay brincou, indicando Jason, que
riu.
Eram três contra três. Jason estava sem camiseta, com uma bermuda
preta. O sol não estava forte, mas ele estava suado. Entre uma jogada e
outra, passava a mão pelos cabelos, que já estavam molhados de suor.
Como em toda coisa que ele se propunha a fazer, Jason estava indo muito
bem. Por ser tão forte, as pessoas tendiam a não achar que ele era muito
rápido, mas Jason não era chamado de Steamroller à toa.
— Vou pegar uma água de coco para mim e Jake. Quer, Carson? —
Chase perguntou.
— Não precisa — o loiro falou.
— Eu te conheço, deve estar olhando tanto para Jason atrás desses
óculos, que daqui a pouco vai começar a babar, aí vai desidratar. E já vou
comprar uma água para ele, porque do jeito que está secando, o cara vai
parar no hospital. — Chase deu de ombros, e o loiro desdenhou, mas era
verdade.
— Jake, quer jogar? — Kevin o chamou. — Você e Jason contra Jay
e eu.
— Eu aceito. — Jake sorriu, levantando-se.
— Ótimo, mais material para minhas redes! — Carson exclamou, já
pegando o celular.
— Você é idiota. — O loiro riu, deixando seus óculos com o amigo,
que os colocou na hora.
— Está brincando? Ganhei mais de três mil seguidores de ontem
para hoje. Os perfis @teambrody, @teamlewis, @rhynosupdates e
@jlewisnews já estão me seguindo.
— @jlewisnews? O que é?
— O perfil de updates que seus fãs fizeram e estou alimentando. —
Carson sorriu, Jake negou com a cabeça.
— Pronto? — Jason provocou Jake quando ele chegou perto.
— Para jogar com você? Sempre estou.
— Jake, acorda — Jason disse baixinho, para não assustar o loiro.
— Já deu o horário.
— Que merda — o loiro resmungou, tentando se esconder nas
cobertas.
— Não estaria assim se não tivesse esfregado sua bunda no meu pau
ontem à noite — brincou, beijando o pescoço do QB.
— Você fala como se eu estivesse arrependido — Jake murmurou.
— Me dá uns cinco minutos para acordar, para ver se não faço de novo.
— Aceitaria a oferta, mas sabe que não podemos. — O DE riu. —
Você tem que ir para a outra cama.
— Inferno.
No domingo à noite, após o jogo de vôlei na praia — que gerou
muitas fotos e pequenos vídeos, e alguns ficaram tão bons que Jake postou
na própria conta —, eles tinham ido jantar. Porém, enquanto todos estavam
indo para suas mesas, Isaac chamou Jason no canto para conversar.
— Não sei se te falaram, mas essas interações com o time estão
aumentando o engajamento nas redes sociais, o que tem nos trazido mais
visibilidade. Está sendo muito bom — o técnico comentou. —
Principalmente as suas com Jake.
— Carson disse algo parecido, que bom.
— A equipe de Kendra pretende fazer um vlog, ou sei lá como eles
chamam isso. Mas é acompanhar a rotina de treino de alguns jogadores,
desde que acordam até quando vão para o quarto — Isaac sussurrou como
se fosse um segredo. — Querem fazer um vídeo grande para o YouTube e
vários outros pequenos, como uma série para as outras redes sociais.
— Ah, parece legal. Acho que os torcedores vão gostar —
respondeu confuso sobre o porquê de o técnico estar contando isso. — Eles
já escolheram os jogadores?
— Você e Jake — ele respondeu olhando em volta para ver se
ninguém tinha ouvido. — Escuta, eles resolveram que seria “mais real” se
vocês não soubessem. Então amanhã vão bater à porta do quarto de vocês
para acordá-los, querem pegar vocês se levantando, se possível até
acordando. Já estarão com as câmeras ligadas e gravando, querem mostrar
como é o quarto, como vocês dividem espaço, essas coisas que eles acham
legal, mas eu chamo de invasão de privacidade.
Aquilo era insano, Jake e Jason dividiam a cama todas as noites. Se
entrassem no quarto, veriam que só uma estava sendo utilizada. Também
veriam que todas as coisas que se deixa na mesa de cabeceira e gavetas,
estavam ao redor de uma cama. Até mesmo as malas estavam juntas.
Qualquer um que entrasse naquele quarto naquele momento saberia que um
casal dividia o espaço
— Certo — Jason murmurou, engolindo em seco, mas fingindo um
sorriso.
— Achei melhor te avisar para vocês se preparem — Isaac disse,
indicando Jake com a cabeça. O loiro estava na mesa com os amigos, e
todos conversavam animados, mas esperava por Jason para começar a
comer.
De novo, ele sabia. O head coach cuidava de todos do time, Jason e
ele sempre tiveram uma relação próxima, então tinham carinho como pai e
filho. Mas o único motivo para chamar o DE de forma tão sigilosa e contar
a “surpresa” da equipe de comunicação seria ele saber que tinha algo no
quarto que Jason e Jake não queriam mostrar. De alguma forma, ele sabia
que eles estavam juntos.
— Isaac — Jason chamou, segurando o braço do treinador quando
ele estava se afastando —, você sabe, não é?
— Por que acha que te levei ao draft? — Ele deu de ombros. — Só
quero que seja feliz e não se esqueça de que vou te apoiar em tudo. Não
importa qual seja a decisão que vocês tomem — o mais velho disse, dando
tapinhas no ombro do moreno antes de se afastar.
Jason precisou de alguns minutos para se recuperar. Isaac, o técnico
principal do seu time, do Raleigh Rhynos, não só sabia que ele estava em
um relacionamento com outro jogador como os apoiava. Jason não era
burro, sabia o que “Não importa qual seja a decisão que vocês tomem”
significava. Mesmo se saíssem do armário, ele ainda os apoiaria.
Infelizmente, existiam poucos atletas profissionais fora do armário.
Na verdade, eram poucas as pessoas públicas assumidas comparadas às que
estavam escondendo quem realmente eram. Eric Blake, o cantor que,
quando atingiu o topo de vários charts e ganhou vários Grammys, assumiu
ser bissexual e anunciou o noivado com outro homem. Ele e seus amigos
Cole Brendon e Mason Callahan, que também tinham se assumido,
inspiravam milhares de pessoas ao redor do mundo. Recebiam ondas de
ataques homofóbicos e perderam alguns contratos, mas continuam firmes
na causa. Jason gostaria muito de ter a coragem deles.
Ouvir as palavras de Isaac o assustou um pouco, mas tirou um peso
dos seus ombros. Pelo menos dentro de seu time, não precisava mais mentir.
Certo, alguns já sabiam que era gay, mas nunca havia aparecido
acompanhando de nenhum outro homem, nunca tinha dado margem para
nenhum tipo de comentário. Jay tinha razão, deveria contar aos outros.
— Tudo bem? — Jake perguntou quando se aproximou
Jason contou tudo sobre a gravação surpresa, então, logo após o
jantar, foram para o quarto e tiveram que arrumar tudo. Jake ficou puto da
vida por ter que separar suas roupas das de Jason, ele usava de desculpas
que tudo estava misturado para furtar algumas peças do moreno, que fingia
não ver.
O DE arrumou o banheiro, separando os produtos de higiene do
loiro dos seus e se deu conta de quantas coisas Jake usava. As escovas de
dentes estavam no mesmo suporte, já que eles faziam tudo juntos, incluindo
escovar os dentes, mas até isso teve que separar.
Jake se recusou a dormir sozinho, portanto, colocaram o despertador
para tocar duas horas antes do normal, para o loiro ir para a outra cama.
Jason poderia ter feito, mas, dois dias antes, o QB tinha feito um story do
DE dormindo naquela cama. Era só uma brincadeira, mas, se saísse um
vídeo oficial da RP do time, os torcedores mais atentos entenderiam que
Jason tinha dormido na cama de Jake, pelo menos uma vez, e isso era mais
que suficiente para rumores começarem.
— Cama fria, odiei — Jake resmungou, deitando-se na outra cama.
— Culpa sua. — Jason riu.
— Você estava tão fofo tirando um cochilo, não consegui evitar.
— Precisava legendar com “Tão bonitinho dormindo na caminha
dele”? Agora tenho que ficar aqui, e você, aí.
— Por que não dormimos aqui noite passada e você acordou para
voltar para essa cama? — o loiro perguntou sonolento.
— Porque eu estava deitado aqui, mexendo no meu celular, você
saiu do banho e se sentou no meu colo, aí ficamos aqui mesmo.
— Ah, é. — Jake riu. — Só espero conseguir andar normal mais
tarde.
— Você ficou pedindo mais e mais forte.
— E não me arrependo. — O loiro bocejou. — Mal posso esperar
para voltarmos para casa e eu poder gemer e gritar à vontade.
Jake dormiu quase imediatamente, mas Jason demorou um tempo
para parar de imaginar Jake na sua cama, ofegante, gemendo e gritando seu
nome, enquanto o penetrava cada vez mais rápido.
— Isso, sorrindo — Carson murmurou atrás de Jake enquanto o QB
se preparava para lançar outra bola durante o treino.
— Eu vou te matar — resmungou.
— Mas me mate sorrindo para seus fãs.
As gravações continuavam, uma equipe acompanhava Jake, e a
outra, Jason. O moreno que atendeu a porta do quarto naquela manhã. Jake
fingiu que ainda dormia, e os dois fingiram surpresa por estarem sendo
gravados. O loiro percebeu que tinha dormido com a bermuda do DE, mas
esperava que ninguém notasse. Conversaram com a equipe, responderam às
perguntas, fizeram brincadeiras, Jason o chamou de bagunceiro, e ele nem
teve como se defender, porque era verdade.
Gravaram durante o café da manhã e os fizeram explicar até o que
estavam comendo. Os dois sorriam, mas estavam bem irritados. Aquilo
significava que teriam contato limitado, não podiam se provocar ou ficar se
tocando, não queriam arriscar que a câmera pegasse alguma coisa.
— Quando isso vai acabar? — Jake murmurou, irritado. Chase e os
outros recebedores faziam as rotas que estavam treinando, enquanto o QB
lançava a bola para que pegassem.
— A gravação termina hoje, mas sabem que terão que ser vigilantes
para ninguém descobrir nada, pelo menos até se assumirem — Carson
comentou, estava parado ao lado do amigo. Como os dois usavam
capacetes, as vozes eram abafadas e era impossível ler seus lábios. Por isso,
podiam conversar baixinho, que ninguém saberia o assunto.
— Sei, tivemos que arrumar o quarto noite passada para não
parecermos um casal, e vou ter que arrumar de novo hoje, porque minhas
coisas ficaram longe da cama em que dormimos. Estou louco para voltar
para casa, lá não preciso me preocupar com uma câmera na minha cara
quando saio do banheiro.
— Essa parte foi bizarra. — Carson fez careta.
— Isaac que os impediu de nos microfonar o tempo inteiro, porque
disse que poderia vazar alguma estratégia ou jogada que estejamos
mantendo em sigilo. Jason acha que ele só nos quis poupar da humilhação
de sermos flagrados xingando todo mundo.
— Você, né? Porque Jason é uma pessoa educada.
— Ele fala bastante palavrão também, vocês que nunca ouviram.
— Por favor, não quero saber da vida sexual de vocês.
— Você que começou o assunto — Jake respondeu, lançando mais
uma bola.
— Não, é você que usa qualquer oportunidade que possa para
esfregar na cara de qualquer um que tem um relacionamento com seu amor
de infância. E que ele fode bem para caralho.
— Mas é verdade. — Jake sorriu, tirando o capacete e passando a
mão pelo cabelo, que estava suado.
Na parte da tarde, tiveram simulação de jogo, tudo sempre gravado,
obviamente. Tyson e Jefferson tinham que escolher jogadas que não
entregassem nada do planejamento do time. Porém a equipe de
comunicação estava mais interessada em conseguir mais um vídeo de
“Lewis X Brody”, como eles chamaram. Aparentemente, o vídeo que
Kendra tinha feito, em que Jason conseguia agarrar Jake e o girava,
enquanto o QB lançava a bola, tinha viralizado no meio dos fãs de futebol
americano.
Isso os ajudou a entender por que o número de seguidores estava
crescendo tão rapidamente e por que as pessoas estavam se dividindo em
times. A equipe de comunicação queria usar mais vídeos assim, por isso,
precisava da maior quantidade possível de material.
Jason tentou explicar que não era garantido, que cada jogada era
única, por mais que as treinassem constantemente. Chase brincou que foi
ele que fez a catch perfeita, mas todo mundo só se importava com o DE e o
QB. Jake agradeceu ao amigo por tentar distrair os outros. Mas tudo o que
conseguiram foi que uma das equipes de filmagens revezasse entre focar
nos recebedores e na defesa. Mas a outra equipe estava focada em Jason e
Jake.
O fato é que lá estavam eles, Jake estava atrás do QB, Carson às
suas costas e Chase à sua esquerda. O loiro deu uma rápida olhada na
defesa enquanto dava o grito de comando para a jogada começar. Ele sabia
que Jason viria para cima e, por isso, girou o corpo, fingindo que ia tentar
escapar, mas entregou a bola para Carson. O running correu pela esquerda,
enquanto Jason chegava pela direita. Se fosse em um jogo para valer,
poderia ter conseguido segurar Carson, mas não arriscaria machucar alguém
em um treino.
— Foi muito bom — Jason murmurou para Jake, que sorriu,
orgulhoso de si.
— Até gosto quando você me agarra, mas prefiro quando estamos
sozinhos, não na frente de todo mundo — Jake respondeu baixinho, fazendo
o outro rir.
Jason tentou manter a paciência o tempo todo, mas estava difícil.
Gostava de ser blitzer de vez em quando, mas ele era DE, então passar o
treino inteiro fazendo uma coisa que não era sua função, só para pudessem
ter o “melhor vídeo”, realmente estava o irritando. Não demonstrava seu
estresse, entendia que a equipe de filmagem estava fazendo o trabalho dela,
e ele, o seu, era só um treino de muitos que tivera e ainda teria. Mas era um
saco.
O QB não estava diferente. O loiro era muito focado. Quando estava
em campo, mesmo em um treino, tendia a ser mais observador, gostava de
analisar os adversários, planejar os movimentos, escolher o que fazer. Mas
era difícil quando tinha uma câmera quase na sua cara, gravando cada
movimento seu.
— Jason, como você explica o futebol americano para quem não
conhece nada do esporte? — Kendra perguntou, ele sorriu para a câmera.
Tinha que lembrar que ela só estava fazendo o trabalho dela.
— Eu diria que em parte é como um grande jogo de xadrez vivo.
Nosso QB é no Rei, a quem temos que proteger. As linhas são os peões que
tentam segurar os avanços de ambos os lados, impedindo a passagem da
defesa, tentando travá-la. As peças atrás dos peões, como cavalo, bispo e
torre, são os jogadores com funções específicas, como o WR, corner,
linebacker ou running.
— Você seria como a rainha? A peça mais temida do jogo? — ela
brincou, e ele riu.
— A rainha só é temida se você não sabe preparar bem o seu jogo,
porque o cavalo e o bispo podem fazer muito estrago. Na verdade, se
realmente souber jogar, o peão pode ganhar o jogo.
— Quem você seria nesse jogo de xadrez? — ela insistiu.
— Acho que a torre, não sei por quê. — Riu. — Diria que a rainha
está mais para o running ou safety. Os dois, cada um do seu lado do campo,
podem fazer um grande estrago se não prestar atenção.
— Obrigada — ela disse e se afastou para fazer perguntas para
outras pessoas.
— Finalmente alguém valorizando meu esforço — Carson disse
dramaticamente.
— Sabia que podia contar com o meu garoto! — Jay exclamou,
puxando Jason e beijando o topo de sua cabeça. O moreno ria e empurrou o
amigo.
— Falei da posição safety, não especificamente de você.
— Mas eu sou o seu safety favorito — reclamou, agarrando-o e
beijando seu rosto.
— Cuidado, ou Kevin McCallister vai se vingar de você — Carson
cantarolou.
Jake estava alguns metros à frente, ouvia o que Jefferson dizia, mas
estava de olho no moreno. Mesmo que estivesse do outro lado do campo,
Jason sabia que ele e Jake sempre estavam de olho um no outro.

— Sério? — Kevin revirou os olhos.


— Tô de boa, o problema será se alguém me derrubar e eu me ralar
todo nessa areia. — Carson deu de ombros. — Vai arder.
— Jogar futebol americano na praia, amanhã todo mundo vai estar
morrendo de cansaço por ter corrido na areia. — Chase suspirou.
— Acho que deveríamos ganhar a manhã de folga — Jay opinou.
Era o final de tarde, e a equipe de filmagem teve a brilhante ideia de
gravar cenas dele jogando na praia. Era para ser descontraído, como uma
brincadeira de colegas de trabalho após o horário de serviço. Então vários
jogadores tiveram que se trocar e ir para a praia. Isaac pediu desculpas por
isso e pediu que eles entendessem que era o melhor para o time, que
precisavam da visibilidade por causa dos patrocínios e para recobrar a
confiança dos fãs.
Jason concordou e incentivou os colegas a participarem, era só por
aquele dia. Por confiarem tanto em Jason e respeitarem Isaac, os outros
aceitaram, mas o próprio DE já não estava aguentando mais.
— Não vou fazer blitz — avisou aos técnicos antes de começarem.
— Obrigado, Deus — Jake agradeceu. — Se eu tivesse que correr
de você na areia, nem começaria a temporada.
— Que bom para você, mas isso significa que ele vai atrás de mim.
Que merda — Chase xingou.
— Calma, pessoal, é só uma “brincadeira entre amigos”, não quero
ninguém machucado — Isaac tentou acalmá-los. — Não é para levar a
sério.
— Isso, vamos com calma — Carson pediu.
— Falem por vocês, eu não vou deixar ninguém passar e, se
tentarem, vou derrubar mesmo — Jay disse, apontando para os jogadores do
ataque.
Estava muito quente e abafado, o suor escorria pelo corpo. Por isso,
muitos tiraram as camisetas. Jake estava usando um boné virado para trás
porque seu cabelo estava todo bagunçado, de acordo com ele. Estavam
descalços na areia, que não estava muito quente, então era confortável.
Seria apenas um jogo de lançar a bola e correr. Era divertido, já tinham feito
isso antes. Só tinham que fingir que não havia câmeras lá.
Jason correu, sabia que Jake estava fingindo passar a bola para
Carson, mas que iria lançá-la. O moreno ignorou a rota que Carson estava
fazendo, indo direto no loiro, o QB percebeu que o moreno estava vindo e
se virou rápido, lançando a bola para onde sabia que Chase estaria. Não
tinha como o DE diminuir a velocidade, então, para não se chocarem,
abraçou Jake e os dois giraram na areia, quase caindo, mas não se
machucaram.
Mesmo assim, conseguiram ver Chase recebendo a bola e, como a
defesa tinha acreditado que a bola estava com Carson, o WR conseguiu
correr livre até onde seria o touchdown. Jay foi o único que percebeu que a
corrida era fake, mas não conseguiu impedir que Chase cruzasse a linha e
fizesse o TD.
— Isso! — Jake gritou em comemoração. Jason riu de tudo. Eles
estavam bem próximos, mas não realmente se tocando. Os dois sem
camiseta, o que fazia com que o calor de um irradiasse para o outro. — Para
quem não faria blitz, você não para de vir para cima de mim.
— Acho que não consigo evitar isso. — Deu de ombros, e o loiro o
empurrou, de brincadeira.
— Ok, conseguimos o que queríamos aqui — Kendra avisou. —
Graham, essa recepção e essa corrida foram incríveis.
— Obrigado. — Chase fez uma saudação exagerada.
— O running que se foda, não é? Enganei todo mundo, mas quem se
importa? — Carson bufou dramaticamente.
— Calma aí, baixinho — Jake brincou e o amigo ficou revoltado.
— Mas é um desgraçado. — Carson aproveitou que o loiro estava
rindo, pegou a bola de Chase e jogou contra Jake, quase o acertando.
O problema foi que Jason, que estava conversando com Jay, viu
antes de Jake o que estava acontecendo. Mesmo tudo sendo rápido, antes
que a bola acertasse o loiro, Jason esticou a mão e a pegou. Todos os
olharam, e tudo ficou em silêncio por alguns segundos.
— Ah, não, não vai roubar meu emprego, não! — Chase disse,
revoltado, fazendo todos rirem. Jason agradeceu ao WR com olhar, que deu
de ombros, sorrindo de canto.
— Me diz que filmou isso — Kendra implorou para um dos
cinegrafistas.
— Com certeza! — ele respondeu, orgulhoso.
— Pronto, nem posso agredir os amigos. — Carson negou com a
cabeça de forma dramática, chamando a atenção, logo o assunto tinha
mudado, e Jason estava aliviado. Não queria ter que explicar por que estava
super vigilante com tudo que acontecia com o QB.
Depois que foram liberados, puderam ir até o restaurante, a maioria
estava faminta. As gravações continuavam, por isso, mesmo que fosse
automático se sentarem um ao lado do outro, Jason se sentou algumas
cadeiras depois de Jake. Eles não gostavam disso, mas era uma coisa com a
qual teriam que aprender a lidar.
Todo dia Jake se perguntava quando a mídia iria fazer matérias
sobre ele ser bissexual e como isso repercutiria. Apesar de não ser uma
pessoa que expunha muito da sua vida pessoal, sabia que conseguiriam
achar posts ou uma ou outra foto por aí dele acompanhado de um cara.
Talvez não fosse tão famoso, a temporada nem tinha começado. Mas, se
conseguisse alcançar seu objetivo, que era chegar ao Super Bowl, sabia que
as especulações viriam.
Ele realmente não se importava, o mundo era uma merda e pior
ainda quando se era LGBT. Já havia passado por muita coisa e sentia que
não tinha o que perder. Seus tios o aceitavam, seus amigos estavam com
ele. Tinha realizado seu sonho de chegar à liga nacional, mas tinha
aprendido que os sonhos não deveriam custar sua saúde mental. Realizar
sonhos exigia sacrifícios, e tinha feito isso, mas nunca sacrificaria quem
era, porque a liberdade de ser ele mesmo era a maior realização.
Mas, apesar de tudo, tinha medo por Jason. O DE não estava pronto
para mostrar ao mundo quem era. Jake não se importou com sua família
biológica. Eles o rejeitaram, então o QB os rejeitou duas vezes mais forte.
Mas Jason ainda tinha insistido, ainda tinha tentado ser bom para eles.
As pessoas que conheciam o loiro, exceto seus tios e amigos,
achavam-no frio. Ele não sofria por ninguém, superava términos
rapidamente, não insistia para alguém ficar em sua vida e podia abandonar
facilmente o que estava lhe fazendo mal. Talvez ele realmente tivesse um
jeito frio de viver. Observava, analisava e decidia se valia a pena. Se não
valesse, partia para a próxima. Podia ser culpa de sua infância problemática
ou talvez fosse apenas sua personalidade, não importava. Era quem ele era.
Por isso, não sofreu com o abandono da família. Não mentiria
dizendo que não foi dolorido quando criança, mas, quanto mais crescia,
mais deixava de se importar. Porém sabia que Jason tinha uma visão
totalmente diferente do mundo. Ele era quem cuidava, protegia e tentava
fazer todos se sentirem bem.
Jason Brody era conforto, segurança, aquela pessoa que você
sempre podia procurar quando precisava de conselhos ou de ajuda. Ele era
incrível. Quando falava, todos ficavam atentos, as pessoas disputavam sua
atenção. O moreno tinha um sorriso lindo, que fazia os outros sorrirem
junto. Ele fazia os outros se sentirem importantes, porque prestava atenção
em tudo que falavam com ele.
Jake sabia que tinha muita sorte por ter Jason. Não só por tudo isso,
mas porque ele era inteligente, divertido e muito, muito gostoso. Jason era
sexy para caramba, e o loiro não entendia como o próprio moreno não
percebia isso. E, por ter essa sorte, o loiro não vacilaria. Enquanto Jason
protegia a todos, Jake seria quem o protegeria.
— Não vou dizer que não foi divertido, mas estou feliz de voltar
para casa. — Jake suspirou.
Estavam na noite da fogueira, era a última noite do boot camp. Isaac
tinha criado esse ritual para aproximar os jogadores, uma forma de ter boas
energias antes da pré-temporada começar.
Os jogadores estavam, em sua maioria, sentados na grama, Jake
estava entre Chase e Carson. Ele gostaria de poder deitar a cabeça no ombro
de Jason, mas era melhor não. O loiro tinha tentado manter um pouco de
distância do moreno quando estavam em público, o que era muito difícil.
Ainda mais quando, no final do segundo dia tentando isso, Jason o
encurralou no banheiro do quarto, exigindo saber o que estava acontecendo.
— Não quero que fique longe de mim — Jason disse sério depois
que o loiro explicou.
— Também não quero, mas estar abaixo do radar de todos é
importante para você. Não quero gerar rumores.
— Do que está falando? Está se afastando de mim para me ajudar?
— Não estou me afastando de você, é só quando estivermos em
público.
— Estamos com o time, não com o público.
— Você não tem medo de que alguém faça algum comentário e
nosso relacionamento vaze?
— Vários sabem que sou gay e nunca vazou. — Deu de ombros.
— Mas quando souberem que sou bissexual, todo mundo vai me
relacionar a você. E você mantém a sua vida pessoal muito bem separada da
profissional.
— Jake, quando estivermos de volta a Raleigh, principalmente
quando a temporada começar, já vamos ter que nos preocupar com isso.
Podemos encontrar um meio termo, pelo menos agora?
— Tudo bem — o loiro resmungou.
Era um pouco complicado, estavam naquele limbo de não saberem
como agir. Se estivessem com Carson, Chase e Jay, podiam fazer piadas,
dar as mãos, até se beijarem. Mas se Kevin, por exemplo, chegasse perto, já
teriam que voltar a fingir que eram apenas amigos. E com o time eles
podiam demonstrar um nível de intimidade, que talvez não pudessem
quando estivessem com outras pessoas.
Então, naquele momento, mesmo que estivesse morrendo de
vontade de deitar sua cabeça no ombro do moreno, apenas respirou fundo e
aguentou. Conversava com os amigos e com outros jogadores, Jason
conversava com alguns amigos da defesa, mas Jake conteve o sorriso
quando percebeu que, bem lentamente, Jason chegava mais perto dele, até
seus corpos estarem colados.
— Sei que é comum eu fazer um discurso sobre como tentaremos
dar o nosso melhor, como tentaremos ao máximo, mas agora é diferente —
Isaac fazia seu discurso. — Nunca fui uma pessoa religiosa, apenas acredito
nas pessoas e no que elas podem fazer. Acredito que tentamos ser nossas
melhores versões e temos que trabalhar duro para alcançar nossos objetivos.
Nosso time passou por muita coisa nos últimos anos, não estivemos na
nossa melhor fase. Mas eu acredito, com todo meu coração, que agora será
diferente. Expulsamos as más energias e abrimos espaço para o futuro.
— Jason expulsou no grito! — Jay falou alto, e todos riram.
— Não sei como será esse novo ano, podemos continuar lutando
para sobreviver ou termos nossa melhor temporada até agora. O que quero
que saibam é que estou orgulhoso de toda a evolução que tivemos nessas
semanas que estamos juntos. Obrigado aos antigos jogadores que
continuam aqui e não abandonaram o barco na nossa pior fase, juntos
atravessamos a tempestade e sobrevivemos. E obrigado aos novos, que
chegam como bálsamo e trazem esperanças para um futuro que me parece
muito promissor. — Isaac sorria emocionado. — Eu tenho orgulho de cada
um de vocês. Esse ano é o nosso ano! E, como sempre dizemos, Rhynos
rules!
— Rhynos rules! — os jogadores gritaram juntos.
Jake, Carson e Chase se entreolharam, agora eles se sentiam parte
do time. Agora o sonho era real, eles eram parte do Rhynos, daquela família
louca que precisava de uns ajustes e um rumo. Mas eles também precisaram
disso tempos atrás e conseguiram encontrar o caminho. Eles ajudariam o
Rhynos a voltar a ser grande e muito importante. E, como em quase todos
os momentos de suas vidas, eles estavam juntos.

— Mal posso esperar para chegar em casa, tomar um bom banho,


me deitar na minha cama e ficar lá, sem fazer nada. — Jake riu quando
entravam no ônibus que os levaria de volta para Raleigh.
Outer Banks tinha sido incrível, mesmo que tivesse passeado pouco
pela cidade, o lugar era lindo. Havia conseguido se conectar com seu time,
não era mais alguém de fora chegando, agora era um jogador do Rhynos. E
tinha conseguido se resolver com Jason, tiveram conversas sinceras, e
sentia que o moreno estava se abrindo mais com ele. Gostava do que
estavam construindo.
A maioria estava de ressaca, então usavam óculos escuros e
pareciam um pouco cansados. Depois do discurso de Isaac e o time se
comprometer a serem os melhores que poderiam ser, foi a hora das bebidas.
Era a primeira vez naquelas duas semanas que poderiam beber álcool, então
aproveitaram.
A reunião em volta da fogueira durou até a madrugada e depois
continuou na varanda do hotel. Eles estavam felizes e riam muito, como se
todos os jogadores e a equipe técnica sentissem que agora era diferente.
Dessa vez não eram palavras vazias, eles tinham certeza de que era uma
nova fase. O Rhynos vitorioso estava de volta.
Mas essa animação não deixou Jake desatento, ele percebia muito
bem quando Emmett, já alto de tanta cerveja, aproximava-se de Jason. O
QB estava atento, sempre surgindo junto, puxando Jason para outra
conversa, interrompendo e não deixando Emmett ficar abraçando o DE. O
moreno percebeu, então ele mesmo se afastava um pouco, não era rude, mas
não ficava sozinho com o outro jogador e recuava um pouco, para não
ficarem perto demais.
Carson, que ainda estava guardando um pouco de rancor, ajudou o
QB a não deixar Jason sozinho com Emmett. E Jay, que teve que prometer
para Sadie que não deixaria ninguém atrapalhar seu shipp, também os
ajudava. No final da comemoração, quando voltaram para seus quartos,
Emmett estava um pouco frustrado, e Jake dormiu nos braços de Jason.
— Vou chegar em casa, encontrar minha esposa, e vocês não
ouvirão falar de mim por dias! — Jay declarou, fazendo os outros rirem.
Jake admirava o relacionamento do ruivo com Sadie. Eles se
amavam, eram companheiros, tinham o mesmo senso de humor e não
precisavam de muitas palavras para se entenderem, como se estivessem
verdadeiramente conectados. Eles eram uma ótima surpresa que o Rhynos
tinha lhe trazido.
— Dois dias de folga, minha cama me aguarda de dia, e o bar, à
noite — Carson exclamou, e muitos concordaram. — E você, Jason, o que
vai fazer?
— Visitar minha avó e descansar, eu acho — ele respondeu
sorrindo.
— Nosso querido bom moço — Kevin brincou. — Nora e eu vamos
hoje mesmo para Charlotte e vamos passar os dias de folga lá. E você,
Jake?
— Ainda não sei, talvez eu descanse também. — Deu de ombros.
Jason sorriu de canto. Eles não tinham combinado nada ainda, mas sabiam
que queriam passar aqueles dias juntos.
— Abandonando os amigos para descansar? Que feio! — Carson
provocou.
— Parece que nem quer mais morar conosco. — Chase suspirou, e
Jake revirou os olhos.
A viagem era longa, dessa vez a maioria só queria descansar, então
logo o ônibus estava silencioso e escuro. De novo, Jason se sentou ao lado
do corredor, e Jake, na janela, que nesse momento estava fechada.
O loiro levantou a divisória das poltronas e deitou sua cabeça no
ombro do moreno. Estavam em silêncio, mas Jake brincava com os dedos
de Jason, entrelaçando-os e fazendo carinho. Era como se estivessem na
própria bolha e nada pudesse os atingir.
Jason se inclinou e, delicadamente, beijou a testa de Jake. Foi tão
afetuoso, que fez o loiro sorrir, sentindo seu coração acelerar. O QB
levantou os olhos, o rosto do moreno estava muito perto do seu, mas eles
não podiam se beijar. Era arriscado demais, mas o sorriso que
compartilharam, mesmo que mal conseguissem ver por causa da falta de
iluminação, foi o suficiente para saberem o quanto se queriam.
Jake voltou sua cabeça para o ombro do moreno, os dois relaxaram e
acabaram dormindo. Não estavam na situação ideal, mas estavam juntos,
então ficariam bem.
Algumas horas mais tarde, quando ninguém aguentava mais,
chegaram a Raleigh. Algumas pessoas esperavam por eles, como esposas e
namoradas. Jay pegou Sadie no colo e a beijou enquanto se abraçavam.
Jake riu, como os outros, mas pensou que era um pouco injusto não poder
ter a mesma reação quando visse o namorado.
— Jake! — Sadie abraçou o loiro com força. — Temos tanto que
conversar!
— Muita coisa mesmo. — Riu.
— Vamos marcar um café, só nós — ela o avisou, e ele concordou,
rindo.
— Estou sendo excluído da roda de fofoca? — Carson perguntou,
revoltado. — Logo eu, que documentei todos esses dias para você?
— Desculpa, quando disse “só nós”, queria dizer sem eles. — Sadie
indicou Jay e Jason. O marido estava revoltado, o DE revirou os olhos.
— Estaremos lá — Chase confirmou.
— Muito bem, tudo combinado, agora vamos, porque estou
morrendo de saudade da minha mulher — Jay falou, abraçando a esposa e a
levando para longe enquanto ela ria.
Muita gente em volta cumprimentava, conversava, crianças
chamavam os pais. Era uma pequena recepção animada, então muita coisa
acontecia ao mesmo tempo, mas logo eles puderam pegar as malas e foram
liberados.
— Meu carro está no estacionamento — Jason falou baixo, e Jake
concordou, segurando o sorriso.
— Ótimo, temos carona. — Carson sorriu, jogando os braços por
cima dos ombros de Jake e Jason. — Só deixar Chase e eu em casa, e pode
levar Jake com você. Nem precisa devolver.
— Podíamos montar um cinema no quarto dele — Chase comentou.
— Às vezes me pergunto se vocês realmente me amam — Jake
falou, enquanto os quatro caminhavam para o carro de Jason. Foi
automático, Carson e Chase se sentaram no banco de trás, Jake e Jason, na
frente.
— Sabe que amamos, mas podíamos usar seu quarto para alguma
coisa legal. — Carson deu de ombros.
— Eu sou a “coisa legal”! — o loiro exclamou, revoltado.
Jason ria dos três, enquanto dirigia.
— Sim, mas você é a “coisa legal” do Jason, que, torcemos, ele
levará para casa dele em breve — o running explicou como se fosse óbvio.
— Por favor, podem parar com isso? Estamos juntos há duas
semanas! — o QB disse entredentes.
— Essa questão de tempo é relativa, vocês estão namorando há duas
semanas, mas você o ama há oito anos. — Chase deu de ombros, e Jake não
sabia onde se enfiar para se esconder da vergonha que estava passando.
Jason realmente achava tudo divertido, e era engraçado ver as
reações do loiro. Com qualquer outra pessoa, em qualquer outra situação,
Jake era frio, debochado, atrevido. Se o provocassem, ele devolvia pior. Era
divertido e educado, mas não se importava de ser irônico quando precisava.
Mantinha um comportamento passivo-agressivo em quase todos os
momentos. Mas, com Chase e Carson, eram só três amigos de infância,
quase irmãos, que se provocavam e se humilhavam.
— Não ria, você os motiva a continuar com isso — Jake resmungou
para Jason, que riu ainda mais e levou um tapa no braço.
— Olhem para cá e sorriam — Chase os chamou enquanto o
semáforo estava fechado. O WR tirou uma foto deles virados para trás,
sorrindo, e Carson ao lado, fazendo careta. — Ótimo, ficou perfeita.
— O que vai fazer?
— Imitar Carson e usar vocês para aumentar meu engajamento. Eu
quero aquele patrocínio! — respondeu, digitando no celular.
— Da confeitaria? Sério? — Carson negou com a cabeça.
— Não são só bolos! — defendeu-se. — Também tem tortas. Eles
fazem uma banoffee pie divina!
— Devíamos levar esse cara para a terapia — o running disse para o
QB, que concordou.

— Vamos lá? — Jason perguntou para Jake quando estacionou o


carro.
— Bem, fugir não dá mais tempo. — O loiro deu de ombros,
fazendo o outro rir.
Era o dia seguinte, dia de Jason visitar sua avó. Jake tinha dormido
na casa do DE e feito piadas sobre finalmente conhecer seu quarto. Apesar
de serem cores frias e um pouco sóbrias, o quarto todo era muito
aconchegante, do tipo que dava vontade de ficar o dia inteiro na cama.
A cama era alta e macia, com edredons fofos e travesseiros que
pareciam nuvens. As paredes tinham prateleiras de livros, fotos e algumas
medalhas. De frente para a cama tinha uma grande TV e um videogame.
Em cima da cabeceira da cama, preso na parede, estava uma grande foto em
preto e branco emoldurada.
— É a construção do Dutran? — Jake perguntou.
— Sim, meu avô trabalhou lá, quando ainda tinha outro nome. —
Jason sorriu.
Dutran Stadium era o nome do estádio do Rhynos. Dutran era o
nome de uma empresa internacional, principal patrocinadora do time havia
quase dez anos. Apesar de todas as melhorias, a aura do lugar continuava lá,
Noah Brody, avô de Jason, tinha trabalhado lá por um tempo. Ele precisava
do dinheiro extra para pagar pelos seus estudos, mas também foi para sentir
que estava fazendo algo pelo time que amava. Jason jogar pelo Rhynos o
fazia se sentir honrando a memória do seu avô.
— Isso é incrível! — Jake sorria para a foto, uma área de quando
estavam na metade da obra, mas já dava para ver partes da arquibancada e
onde seria o campo. — Seu avô deve ter ficado muito feliz quando você
começou a jogar pelo Rhynos.
— Ele chorou de felicidade — Jason respondeu e indicou uma foto
que estava na prateleira. Era de Jason com seus avós, ele usava a camiseta
do Rhynos. Era do dia da assinatura do contrato, Noah e Rose tinham os
olhos vermelhos e sorriam orgulhosos. — Acho que foi um dos momentos
em que ele mais se orgulhou.
— Isso é lindo, esse amor que vocês compartilham pelo esporte e
passam de geração para geração. — Jake sorria. — O único tipo de amor
que eu poderia ter herdado do meu avô e do meu pai é o amor pelo álcool e
tratar os outros mal.
— Sinto muito por isso.
— Tudo bem, já foi. — O loiro deu de ombros, eles estavam se
deitando na cama. — Um dia serei pai e serei um pai de verdade, não como
eles foram.
— Meu pai também não foi um pai para mim, talvez tenha sido para
meus irmãos, mas para mim não. Porém meu avô sempre foi incrível, então
acho que tive sorte — o moreno disse, abrindo os braços para que o outro se
aconchegasse a ele.
— Tio Mauricio também é, mas ele é muito seu fã, então talvez
tenhamos problemas.
— Por quê?
— Porque ele é muito seu fã, vai ficar puxando seu saco. Já tenho
Carson e Chase te elogiando o tempo todo, agora vou ter que te disputar
com meu tio?
Na manhã seguinte, acordaram cedo, Jason tinha que ir para casa de
Rose. A avó havia convidado Jake para ir, e o moreno teve aqueles
segundos em que o medo queria aparecer de volta, mas se conteve. Nunca
tinha apresentado alguém para Rose, nem mesmo Devon, mas, se queria ter
um relacionamento de verdade, precisava superar o passado. Jake era
totalmente diferente de qualquer um que havia passado pela sua vida.
O loiro não hesitou em aceitar. Rose era importante para Jason,
então esperava que ela gostasse dele. Havia poucas coisas de que Jake tinha
medo, julgamento alheio não era uma delas. Nunca havia se importado com
opiniões ou ofensas, ele sabia de sua capacidade e tinha certeza de quem
era. Não se importava com nada que viesse de fora de sua bolha de
confiança. Mas, se Jason estava prestes a fazer parte dela, então seria bom
conquistar Rose.
A casa era muito bonita, parecia aquelas casas de famílias de filmes.
Até tinha a cerca branca com um lindo jardim em volta. Parecia um bairro
tranquilo, as poucas pessoas que passavam cumprimentavam Jason
sorrindo. Jake sorria também, deveria ter sido muito legal crescer em um
lugar assim.
— Meninos! — Rose exclamou quando entraram na casa.
Ela era bem mais baixa que eles e tinha os cabelos brancos e
cacheados, cortados na altura dos ombros. Abraçou-os com força, sorrindo
e perguntando como estavam, dizendo que estava com saudades de Jason e
tinha feito café da manhã para todos. Ela realmente cheirava a rosas, e Jake
gostou dela no instante em que a viu.
— Tão bom conhecer o rapaz que roubou o coração do meu menino
— Rose disse, sorrindo e servindo café para eles.
— Vó! — Jason exclamou.
— Ouvi tanto sobre você, Jake, que você é lindo, inteligente,
divertido, profissional. Até acho que a palavra sexy foi citada. — Ela se fez
de pensativa.
— Ah, não, vó, por favor. — O DE bufou, enquanto Jake ria. — Eu
não falei isso. Vó, por favor, se controla.
— O quê? Estou apenas tentando conhecer seu garoto. — Rose
sorriu inocente.
— Querida Rose, saiba que já te amo. — Jake sorriu, segurando a
mão da senhora.
— Que bom, querido, também gosto muito de você. — Ela sorria o
tempo todo, dando leves tapinhas na mão do loiro. — Segui vocês nas redes
sociais, ri muito daquela foto que seu amigo Chase postou ontem à noite.
— Que foto?
— Chamando vocês de “papai e mamãe”. — Ela riu.
No mesmo instante, Jake pegou o celular e viu que o amigo o tinha
marcado em um story. Era a foto que tinha tirado no carro. Tinha marcado
Jason, Jake e Carson. Sob cada nome tinha uma descrição, Jason era papai,
Jake era mamãe, Carson era o irmão caçula irritante.
— Mas que filho da... Desculpa! — interrompeu-se.
— Não se preocupe, aqui somos adeptos do palavrão como forma de
expressão — ela disse tranquila. — Inclusive, Jason, pode relembrar ao
neto da Hillary que ele não pode jogar bitucas de cigarro nas minhas rosas?
Se aquele corno matar uma planta minha, vou rasgar a cara dele com minha
tesoura de jardinagem.
— Claro, depois falo com ele. — Jason suspirou. Sua avó conseguia
ir de uma doce velhinha a uma assassina psicótica em segundos. Só
esperava que Jake não se assustasse. — O que está fazendo?
— Repostando a foto e colocando que ele é o irmão inconveniente e
viciado em bolos — o loiro respondeu, terminando de digitar.
— Bolo? Eu fiz um de maçã para nós, está esfriando. — Rose
indicou a forma em cima do balcão.
Jake gostou mesmo do lugar. Passaram o dia inteiro ali. Rose fez
questão de cozinhar as refeições, Jason a ajudou, e o loiro descobriu que ele
era um ótimo cozinheiro. À tarde, enquanto Jason tinha uma conversa séria
com o neto de uma das vizinhas, Rose mostrou a Jake fotos da infância do
moreno. Os pais e irmãos do DE apareciam em algumas, mas Rose não
perdeu tempo falando deles.
— Quando vou conhecer sua família? Quero conhecê-los.
— Eles irão para Lasing para nosso primeiro jogo e virão para o
jogo em Raleigh, na semana seguinte. Estamos tentando convencê-los a se
mudarem para cá, ainda mais que minha prima está pensando em morar na
Califórnia.
— A trabalho?
— Sim, Sofia está começando a carreira como cantora e
compositora, então fica mais fácil estando na Califórnia — Jake respondeu,
eles tomavam chá.
— Me diz o nome dela, que agora que aprendi a mexer nesta coisa
— falou, indicando o celular — estou seguindo todo mundo.
— Sofia Herrera — ele disse, sorrindo para Rose, que já pesquisava.
— Essa? Ela é muito bonita. — Rose colocou um dos vídeos, era
um cover de uma música romântica. Era uma música antiga, o que fez a
senhora sorrir. — Ela canta muito bem, sua prima é muito talentosa.
— Obrigado, ela é nosso bebê, mesmo falando que não. Temos
muito orgulho dela. — O loiro sorriu como um irmão orgulhoso.
— Poderia pedir que ela cantasse Everything I Do, do Bryan
Adams? — Rose pediu com seus olhos brilhantes. — Era uma das minhas
músicas favoritas com Noah. Faz tempo que não escuto alguém cantar, e
deve ficar linda na voz dela.
— Vou pedir — Jake prometeu e beijou a testa da senhora.
Quando Jason e Jake foram embora, já tinha anoitecido. A senhora
os fez levar potes de comida e um bolo de laranja inteiro que fez
especialmente para o amigo viciado em bolos.
— Chegaram a tempo de sair conosco — Carson disse quando
entraram na casa do QB.
— Vamos ao Nashorn com uns caras do time, querem ir? — Chase
perguntou.
— Eu prefiro ficar em casa hoje. Você quer ir? — o QB perguntou,
colocando a comida na ilha da cozinha para poder guardar na geladeira.
Como tinha muita comida, acharam melhor deixar na casa do loiro.
— Prefiro assistir a um filme e ficar de boa. É nosso último final de
semana de folga, semana que vem começa a pré-temporada, e depois, a
temporada regular — Jason respondeu, ajudando Jake.
— Exatamente, último final de semana de folga — Carson insistiu.
Devíamos comemorar.
— À vontade, mas vamos ficar em casa — Jake disse. — Chase, a
avó do Jason mandou para você.
— Um bolo? E de laranja! — ele exclamou, feliz.
— Não! Você não vai me trocar por um bolo! — Carson falou,
guardando o bolo no armário.
— Mas é de laranja! — Chase choramingou.
— Eu disse que temos de levar esse cara para a terapia. — O
running negou com a cabeça. — Não nos esperem acordados e não transem
no sofá.
— Boquete pode? — Jake perguntou.
— Seu nojento! — Carson gritou de volta enquanto saía da casa
com Chase.
— Ele não disse “não”. — Jake deu de ombros, e Jason riu,
abraçando-o.

Uma semana tinha se passado, eles estavam no vestiário do estádio


do Lasing Alligators. Era o primeiro jogo oficial de Jake, Chase e Carson,
apesar de ser apenas a pré-temporada. Por ter credencial, Maristela
conseguiu entrar na concentração do time, abraçou e abençoou cada um dos
seus meninos.
— Vem aqui — chamou Jason, que estava ao lado. Tinham sido
apresentados um ao outro rapidamente quando Jake assinou o contrato, mas
não tinham conversado ainda. — Rápido, feche os olhos.
— Ok — ele falou, incerto, olhando para Jake, que deu de ombros,
então a obedeceu.
— Dios los bendiga y los proteja. En el nombre del Padre, del Hijo
y del Espíritu Santo — Maristela disse, fazendo sinal da cruz e beijando a
testa de Jason. — Agora podem jogar.
— Tia te aceitou na família. — Carson sorriu. — Bem-vindo aos
Herrera.
— Isso vai ficar muito bom. — Jason ouviu Kendra murmurar.
Quando a olhou, ela estava com o celular na mão e parecia ter filmado o
que tinha acontecido.
Como tiveram o domingo e a segunda depois do boot camp de folga,
só voltaram para os treinos na terça. Os treinos eram totalmente focados nos
jogos, tinham que estudar o adversário, assistir a vídeos de jogadas,
entender o que estava errado e melhorar.
Jason e Jake tinham dormido juntos quase todos os dias, ficavam
separados no treino, mas passavam quase todo o tempo disponível. Tinham
feito compras, ido ao cinema, ao Nashorn e levado Rose ao jardim botânico
para comprar mais mudas. Eles sabiam que em algum momento algum
rumor surgiria.
Na quinta, após o treino, o moreno disse a Jake que precisava fazer
uma coisa antes de irem. O QB ficou o esperando com os amigos, já que
tinha virado rotina que Carson, Chase e ele sempre pegavam carona com o
DE. Jason foi até o terceiro andar, para a sala da equipe de relações
públicas, e bateu à porta de Lindsay, que estava trabalhando no seu
computador.
— Oi, pode entrar — ela disse, sorrindo.
— Não vou demorar, só preciso te falar uma coisa. — Ele estava na
porta, meio sem saber o que fazer.
— Aconteceu algo? — perguntou, preocupada.
— Você disse que, quando acontecesse, era para te avisar.
— Sobre aquilo? — ela perguntou quando entendeu, e ele
confirmou com a cabeça. — Então aconteceu?
— Sim e ainda está acontecendo. Na verdade, acho que vai
acontecer por muito tempo.
— Foram discretos ou devo me preparar?
— Com certeza, deve se preparar. — Ele suspirou, e ela passou a
mão pelo rosto.
— Tudo bem, posso lidar com isso, obrigada pelo aviso. O que quer
que eu faça?
— Eu não sei.
— O melhor jeito de abafar rumores é criando outros. Apenas
preciso que achem que estão com outras pessoas, e será suficiente para
quem vir a verdade ser chamado de louco, mesmo que a verdade seja óbvia.
— Sinceramente, não queria nada disso.
— Já viu as redes sociais? Quando procuramos pelo time, o nome de
vocês sempre está em alta. Cada post que fazemos com vocês, juntos ou
separados, engaja muito. Posso continuar isso ou será desconfortável?
Porque, quanto mais pessoas de olho em vocês, mais rápido alguém vai
perceber algo.
— Não me importo que usem minha imagem e acho que ele também
não, o que não quero é o resto. Encontros falsos, histórias falsas para fingir
que nada está acontecendo e, principalmente, envolver outras pessoas.
— Certo, vamos fingir que nada está acontecendo e lançar notícias
do time se algum rumor aparecer. Vou desviar a atenção, mas me ajudem
ganhando os jogos. — Ela sorriu, e Jason também, aliviado.
— Isso nós podemos fazer.
— Não posso controlar todos os repórteres, então terão que lidar
com eles em algum momento.
— Tudo bem, podemos dar um jeito nisso.
A equipe estava lançando os vídeos que fizeram durante o boot
camp e na sexta, um dia antes do jogo, liberaram um vídeo no YouTube. A
estratégia estava dando certo, o número de seguidores em todas as redes
estava subindo, principalmente os de Jake e Jason. Agora eles tinham fã-
clubes, páginas dedicadas a eles, e alguns users os faziam rir, como
@brodydaughter ou @rhynospoison.
— @jakelewiscum? Que nojo! — O loiro riu alto.
Os ingressos de todos os jogos estavam esgotando rapidamente. Até
a loja oficial do time estava tendo mais pedidos que o normal. Jason tinha
fãs antes, mas agora o número estava subindo, e não eram só pessoas de
Raleigh. A estratégia de Lindsay tinha funcionado tão bem que muitos
vídeos tinham furado a bolha e chegado para muito mais gente do que os
jogadores previam.
Mas nada importava agora. Eles estavam perto da saída do vestiário,
e, mesmo lá dentro, podiam ouvir o barulho da torcida. A música escolhida
tinha sido “We Will Rock You”, do Queen, um clichê, mas eles precisavam
de algo assim no momento. Os torcedores batiam os pés e mãos no ritmo da
música. Mesmo existindo um mar verde, com a camiseta do Alligators, o
preto e amarelo estava ali, com um rinoceronte no peito.
A voz de Freddie Mercury soava pelo estádio, acompanhada pelos
torcedores, que gritavam a música. Jake e Jason lideravam os jogadores.
Eles se olharam por aqueles segundos, era como se a energia do estádio
estivesse viva e corresse por suas veias, os corações disparados e a
adrenalina circulando pelos seus corpos.
Isaac deu o aviso, e eles saíram do corredor. O mascote do Rhynos
estava na lateral, as líderes de torcida gritavam e sacudiam os pompons. A
torcida berrava seus nomes, a fumaça preta e amarela saía das máquinas,
transformando tudo em um momento quase etéreo.
Jake e Jason se entreolharam. Mesmo com o capacete, ambos
sabiam que o outro sorria. Aquele era o momento deles, o momento que os
dois estavam esperando. Era hora de provar do que o Rhynos era feito.
“Rhynos rules! Rhynos rules! Rhynos rules!”
O estádio vibrava enquanto a torcida gritava o lema do time.
Faltavam apenas 30 segundos para acabar o jogo, estava 53 a 11 para
Rhynos. Foram sete TDs, cada um valia seis pontos. Seis conversões de um
ponto e uma de dois. E ainda teve um chute, valendo três pontos. Alligators
tinha feito dois TDs e uma conversão de um ponto. Na segunda tentativa,
Jason interceptou a bola, que voltou para a mão de Jake. E este, com três
passes incríveis e uma corrida inesquecível de Carson, ganhou jardas
suficientes para que Chase fizesse o último TD da noite.
O time do Alligators era bom, e eles tentaram, a defesa estava
avançando bem, e a linha de ataque teve problemas para segurá-los. Mas a
defesa do Rhynos parecia estar em uma sintonia perfeita. Os narradores até
falavam que o os TDs do Alligators foram mais por conta de erros na defesa
Rhynos do que de acertos do ataque anfitrião.
— Será que estamos assistindo ao renascimento de uma das
melhores franquias do passado? — Every Mars, um dos narradores,
perguntou.
— É só o primeiro jogo da pré-temporada, mas, pelo que vimos na
divulgação e no show que tivemos nesta noite, Rhynos não está para
brincadeira neste ano. Ainda mais sob os comandos de Jason Brody, capitão
da defesa, e Jake Lewis, capitão do ataque e um dos melhores QBs que já vi
em campo — Jalen Days, o outro narrador, comentou.
— Como os torcedores do Rhynos dizem, papai e mamãe estão em
casa! — Every gritou. Seus bordões eram lendários, e era apenas questão de
tempo para isso pegar.
— Lewis tem posse de bola, faltam trinta segundos. No futebol
americano isso pode significar muito, mas eles já estão ganhando de lavada.
Provavelmente irá se ajoelhar e terminar a partida.
— Será? Pelos jogos que vimos quando ele era um Gator, na
Universidade da Flórida, Lewis não era de se ajoelhar. E faltam apenas
vinte jardas para o TD.
— Será que ele se arriscaria por mais um TD, sendo que já estão
ganhando de lavada?
O juiz apitou, o center passou a bola para Jake, ele sorria de canto.
Chase saiu caminhando, então acelerou, ao mesmo tempo que Carson
passou correndo pelo QB, indo para o lado direito. A defesa do Alligators
comprou essa jogada e correu com Carson, ao mesmo tempo que Jake fez
um passe longo para Chase.
O WR correu, desviando-se da única marcação do adversário que o
acompanhava. Chase quase se desequilibrou, mas se recuperou. Mais
jogadores do Alligators estavam chegando, mas não iria dar tempo. Ele
pulou para frente e rolou um pouco, mas estava dentro da end zone.
Os árbitros apitaram com os braços para cima, era o sinal do TD.
— ELE NÃO SE AJOELHOU! — Every gritava.
— Jake Lewis não se ajoelhou e nos proporcionou um espetáculo.
Confesso que estava desconfiado desse suposto retorno do Rhynos à corrida
pelo Super Bowl. Mas, se continuarem nesse caminho, não tenho dúvidas
que teremos uma das melhores temporadas pela frente — Jalen disse.
Kim Deacon, o kicker do Rhynos, entrou. O time estava enrolando
para queimar os segundos que faltavam. Ele chutou e fez a conversão, mais
um ponto para Rhynos, além dos seis que tinham acabado de fazer. Rhynos
fecharia o placar com 60 pontos. Todos já comemoravam na lateral do
campo.
Jake observava, tinha tirado o capacete e colocado seu boné, estava
de braços cruzados, vendo a defesa entrar em campo. Alligattors tinha oito
segundos para fazer algo, eles tinham uma chance. Não que fosse fazer
diferença, mas, se fosse Jake no lugar deles, tentaria até o fim.
As pessoas já tinham percebido que não deveriam cumprimentá-lo.
Para Jake o jogo acabava com o apito final, até lá ele estaria focado. Viu a
defesa se posicionando e como o ataque estava desmotivado, era certeza
que cometeriam algum erro bobo.
Os olhos do loiro estavam em Jason, que estava posicionado, o olhar
fixo no QB do outro time. O juiz apitou, e o ataque começou sua jogada,
ninguém conseguiu parar o Steamroller, que abraçou o QB antes mesmo de
ele lançar a bola e o derrubou no chão. O juiz apitou e fez sinal de fim, o
jogo tinha acabado.
Rhynos pulava e comemorava, aquela vitória tinha sabor de
campeonato. Cumprimentavam Jake, abraçavam-no, mas ele queria chegar
até uma pessoa específica. Jason também estava chegando até ele, tendo
que rir e abraçar outras pessoas. Finalmente eles chegaram cara a cara.
Jake abraçou Jason com força, mesmo que eles estivessem com os
equipamentos. Sem pensar, o loiro segurou o rosto do moreno, os dois
sorriam, Jason ainda tinha suor escorrendo pelo cabelo e segurava o
capacete.
— Você é o melhor! — Jake disse, mesmo com todo o barulho em
volta, e Jason riu.
— Nós somos! — ele respondeu.
Não podiam se beijar, por isso, abraçaram-se de novo.
Jay gritou algo e pulou sobre eles, abraçando-os, então vieram
Kevin, Tru, Chase, Carson e muitos outros, gritando e comemorando como
se realmente tivessem ganhado um campeonato. Talvez parecesse exagero,
mas só eles sabiam o que tinham passado para chegar até lá e não tirariam o
direito de eles gritarem o quanto quisessem.
Assim que o pessoal se afastou, Jake e Jason nem tiveram tempo de
fazer o mesmo antes que Jay e Chase, seguindo a tradição do futebol
americano, virassem o enorme cooler cheio de gelo sobre os capitães.
Instintivamente, Jason tentou proteger Jake, mas os dois acabaram
molhados.
— Hoje podem comemorar, saiam com suas famílias, jantem,
bebam, vão para uma balada, usem proteção — Isaac avisou, e eles riram.
— Esse final de semana vamos comemorar, segunda conversamos sobre os
erros e como acertá-los. Ainda estamos em pré-temporada, mas nosso
próximo adversário será difícil, vamos trabalhar com mais afinco. Esse é o
nosso ano! Rhynos rules!
— Rhynos rules! — todos gritaram.
Estavam no vestiário no pós-jogo, tomariam um banho rápido e
todos tinham planos. Maristela Herrera estava na arquibancada com o
marido e a filha, eles levariam Carson, Chase, Jake e Jason para um jantar
de comemoração. O DE estava tão feliz, só queria sair, poder beijar o
namorado e comemorar. A adrenalina ainda estava alta, e ele sentia que
podia gritar de felicidade. Conseguiram escapar de dar entrevistas, mas a
equipe de comunicação avisou que eles não teriam a mesma sorte na
semana seguinte.
— Vamos cumprir a tradição — o treinador disse, pegando uma das
bolas que usaram no jogo. — Quem ganha a bola do jogo esta noite no
ataque?
— Lewis. — Jefferson apontou para o QB, que sorriu e se levantou.
Os outros gritavam, batiam palmas. Jake recebeu a bola, fez pose
para a câmera que filmava tudo, e riu. Jason estava orgulhoso. Quando Jake
se sentou ao seu lado, eles deram um soquinho, era o máximo que podiam
fazer.
— Da defesa? — Isaac perguntou.
Antes que Tyson conseguisse responder, o time gritava:
— Brody! Brody! Brody!
— Brody. — Tyson deu de ombro, rindo.
— Obrigado, obrigado — Jason brincou.
Kim ganhou como Special Team e o melhor jogador da partida foi
um empate, então Chase e Carson ganharam juntos. Nenhum dos
coordenadores quis falar muito, todos agradeceram e disseram que no treino
iriam resolver o necessário. Alguns jogadores brincaram fazendo drama,
mas todos estavam muito felizes.
Finalmente saíram do vestiário, depois de tomar banho. Jason sorriu
quando percebeu como eram diferentes os jeitos de se vestir dele e de Jake.
O DE era muito básico, calça jeans e uma camiseta. Jake se vestia bem,
usava uma regata preta e uma camisa de manga curta transparente, também
preta, por cima. Na camisa tinha desenhos de rosas espalhados.
— Jake! — alguém gritou no corredor e uma garota com cerca de 20
anos pulou sobre ele.
O loiro a segurou, praticamente, no colo. Ela tinha cabelos escuros,
mas com várias mechas coloridas, piercing no nariz e usava roupas tão
estilosas quanto ele, mas com a camiseta do Rhynos por cima.
— Estava com saudade! — ela dizia, abraçando-o com força.
— Eu também! — ele respondeu. — Temos tanto o que conversar.
— Olá! — Um homem com ascendência latina sorriu e estendeu a
mão para Jason, que agradeceu, já que estava se sentindo deslocado. — Sou
Mauricio, minha esposa está nos esperando para jantarmos. Estou muito
feliz de te conhecer!
— Eu também ouvi muito sobre você. — Jason sorriu.
— Acredite, não tanto quanto eu de você. — O homem riu.
— Tio! — Jake o abraçou com força.
— Estamos muy orgullosos de ti, hijo — Mauricio sussurrou para o
loiro, que concordava, feliz.
— Você não sabe como eu queria te conhecer! — a garota disse para
Jason. — Sou a Sofia.
— A prima, sim. — O DE sorriu para esconder o fato de que não
tinha pensado que poderia ser ela e já estava com ciúmes. Não que ele fosse
admitir, claro. — Sou o...
— Eu sei quem é você. — Ela riu e o abraçou. — Jake é meu irmão,
isso nos faz cunhados.
— Não vai começar, não é? — O loiro suspirou.
— Não, mami disse para esperarmos estar no restaurante, com
privacidade. Então, você tem alguns minutos de paz. — Sofia sorriu.
— Ignore ela, essa criatura é pior que Carson — Jake implorou.

Maristela tinha conseguido uma reserva em um ótimo restaurante.


Não era caro demais, tinha decoração simples e comida que parecia caseira.
Jason achava a dinâmica de toda a família engraçada. Jake, Carson e Chase
não tinham o sobrenome Herrera, mas eram tão filhos de Maristela e
Mauricio quanto Sofia. E ninguém podia dizer o contrário.
A família era bagunceira, ria muito, todos falavam ao mesmo tempo
e se provocavam. Mas cada um deles obedecia aos comandos de Maristela
sem hesitar, até mesmo Mauricio. Ele disse que sabia escolher muito bem
suas batalhas e só se entrava em uma briga com uma latina quando se tinha
certeza de que ganharia ou que aquilo valeria muito a pena. Senão, era
melhor ficar quieto
— Vamos para Raleigh na quinta, ficamos até domingo, depois
vamos com Sofia para a Califórnia, terminar a mudança — Mauricio
explicava os planos.
— Achei que iriam conosco amanhã — Carson comentou.
— Queríamos, mas temos que terminar de organizar nossa mudança
também. Agora teremos que ficar viajando atravessando o país — Maristela
respondeu. — Vamos comprar um apartamento em Raleigh e outro em
Torrance, que fica perto de Los Angeles. Achei que, com vocês crescidos,
íamos ter paz, mas só nos dão mais gastos.
— Já falamos, não precisam comprar apartamento, fiquem conosco
— Jake falou. Jason percebeu que era uma conversa que já tinham tido
antes.
— Eu disse isso também, mas acho que eles querem se livrar de nós.
— Sofia deu de ombros.
— Minha casa também está à disposição — Jason ofereceu.
— Não queremos incomodar. — Maristela sorriu para ele.
— Não é incomodo nenhum, minha casa tem quatro quartos, mas
moro sozinho. Vocês teriam bastante privacidade, moro a quinze minutos do
centro, mas em uma área residencial — o DE respondeu sincero. — Tenho
um escritório que você poderia usar. Como eles morarão em pontas opostas
do país, acho que vai trabalhar muito no computador.
— Ah, bem, se o Steamroller insiste tanto, não vejo por que não
aceitar. — Mauricio deu de ombros.
— TIO! — Jake, Chase e Carson exclamaram ao mesmo tempo.
— O quê? É o Steamroller! — ele respondeu como se os três não
estivessem vendo o óbvio.
— Jason tem um quarto no térreo que ele não usa para nada, só
vamos terminar de comprar móveis novos para o lugar, e poderão usar —
Jake resmungou, e Jason sorriu de canto. Era o quarto aonde Jason levava
seus encontros casuais. Jake tinha sido bem taxativo que aquilo tinha
acabado e o quarto não seria mais usado para isso.
— Esse quarto fica perto da cozinha e da garagem, então terão
liberdade de ir e vir sem se preocupar — o DE comentou. Foi a vez de Jake
sorrir de canto, estava feliz que Jason tinha entendido.
— Se não for incomodar, podemos usar, pelo menos por enquanto
— Maristela ponderou.
— Viu isso, Chase? Jason roubou Jake e agora rouba nossos tios. —
Carson negou com a cabeça dramaticamente.
— Se ele me der mais bolos, vai me roubar também. — Chase deu
de ombros.
— Sério, cara, qual o seu problema?
Depois do jantar, todos foram ao hotel. Jason e Jake estavam
dividindo o quarto. A adrenalina estava alta, e eles passaram a noite toda se
controlando. Assim que a porta estava fechada, já estavam se beijando e
arrancando as roupas. Era desesperador, tinha muita tensão e muito o que
comemorar, não estavam pensando direito, só queriam sentir um ao outro.
Jason empurrou Jake na cama, beijou seu pescoço, mordendo e
raspando os dentes. Enquanto isso, abria a calça do loiro, empurrando-a
para fora do caminho. O DE não se demorou, beijou e mordeu o abdômen
do namorado, logo chegando aonde queria.
Jake mordeu a mão para não gritar. Jason o chupava com aspereza,
esfregando sua língua. O moreno o conhecia bem demais, estavam juntos
havia cerca de um mês, e era como se sempre tivesse feito aquilo. O DE
sabia empurrar os limites do loiro, sabia como ele gostava, sabia ser bruto
na medida certa, sabia o fazer implorar, sabia revidar a provocação e calar o
QB quando precisasse.
— Por que você faz isso? — Jake choramingou, depois de quase
gozar pela terceira vez, mas Jason parava abruptamente.
— Porque eu quero. — O moreno sorriu cafajeste. Era uma merda
como ele sabia como isso afetava o loiro, porque Jake se sentia perdido em
suas mãos. E amava isso.
Não era o momento de pensar nisso, mas sabia que amava Jason,
apenas não tinha verbalizado. Amava tudo sobre o moreno, o jeito, o
sorriso, as palavras, os toques, admirava a inteligência, o foco, o cuidado, o
humor. E amava os momentos íntimos, os beijos, as provocações, as
palavras sujas, como ele se transformava e dominava tudo. Jake não se
submetia a ninguém, nunca aconteceu e nunca aconteceria. Mas com Jason
ele sentia prazer em se perder, em fazer o que o outro quisesse, em desafiar
apenas para ser punido depois.
A verdade é que Jake amava cada pequeno detalhe de Jason.
— Estava pensando em uma coisa — Jason falou como se fosse
uma conversa normal e não estivesse com os dedos dentro da entrada de
Jake, enquanto o preparava para o receber. — Em todas as vezes que
transamos, você nunca foi o top.
O loiro estava com as costas coladas no peito do moreno, contendo-
se para não gemer alto, e Jason queria conversar? Sério?
— É, percebi isso — respondeu ofegante. Jason tirou seus dedos da
entrada do loiro, ajeitando seu pau ali, mas sem penetrar, o que quase fez o
outro chorar de raiva.
— Você quer ser o top em algum momento? — o DE perguntou,
beijava a nuca do loiro, sua mão no pau do namorado, enquanto o próprio
pau se esfregava na entrada do QB, que rebolava buscando mais contado.
— Sim, claro. — Jake ofegou. Eles estavam deitados de lado na
cama, os corpos colados, esfregando-se, mas aquilo não era suficiente. O
loiro necessitava de mais!
— Você quer?
— Caramba, Jason, em algum momento eu vou querer. Mas esse
momento não é agora, então me fode logo! — esbravejou.
— Como você quiser, amor.
O coração de Jake disparou, e ele não teve tempo de reagir, queria
perguntar para Jason se ele tinha noção do que havia falado, mas o moreno
o penetrou, e aí não tinha mais condições. O ritmo deles era intenso,
começava calmo e forte, mas sempre acelerava, os corpos batendo e os
gemidos sendo contidos para ninguém ouvir.
Jason virou Jake de bruços, puxando seu quadril, e estavam,
praticamente, de quatro na cama. As estocadas eram rápidas, agressivas,
acertando o ponto exato que deveriam acertar. O loiro mordia o travesseiro
para não gritar de prazer como queria. Era tudo intenso demais, quente
demais, prazeroso demais. E, mesmo assim, ele sempre parecia precisar de
mais.
Jake foi o primeiro a gozar, sentindo seu corpo perder as forças,
enquanto o prazer tomava conta. Jason veio logo depois, então os dois
caíram na cama, suados, ofegantes e sorrindo como bobos.
— Você... — Jake murmurou quando estava deitado no peito do
moreno. As respirações voltando ao normal e os corações se acalmando.
— Sim — respondeu.
— Mas você sente?
— Sinto. — Jason beijou os cabelos do loiro, fazendo carinho no
seu rosto.
— Mas ainda não está pronto para conversar sobre isso, não é? —
perguntou, compreensivo.
— Ainda não, só preciso de um tempo — respondeu sincero, e o
loiro sorriu, beijando-o.
— Você tem todo o tempo de que precisa. E eu também sinto o
mesmo.
— Eu sei. — Jason sorria, então o beijou de novo.
— Já estão cansados? Uma vitória e já estão preguiçosos? —
Jefferson perguntou.
Era quarta, estavam no intervalo de treino do time. Os vídeos da
vitória tinham se tornado virais, o que trouxe mais visibilidade para todos
os jogadores e para o próprio time. Os jogadores estavam tentando não
deixar isso chegar a eles, continuando sua rotina normal e treinando. Mas
várias contas surgiam o tempo todo, pessoas mandavam mensagens, e
algumas eram com conteúdo bem explícito.
A piada sobre “papai e mamãe” tinha pegado, e havia até um
pequeno debate sobre quem seria o “papai” e quem seria a “mamãe”. Havia
fãs que asseguravam que Jason seria o pai, como Chase havia dito, e outros
que ele era o mais cuidadoso e, por isso, seria a mãe.
Os dois apenas riam disso, e outros jogadores continuavam a piada,
postando fotos deles e dando suas próprias opiniões, incentivando. Jay foi
chamado de “tio legal”, alcunha que ele abraçou e usava até nas hashtags
das suas fotos. Isso chegou até Sadie, que agora era chamada de “tia
favorita”, e aos filhos, que eram chamados de “primos”.
Tudo foi muito rápido, mas a maior parte era brincadeira. Todos
estavam apenas se divertindo. Houve quem acusou Jake e Jason de “fazer
queerbaiting”, por causa das brincadeiras, mesmo que não tenham sido eles
que fizeram a maioria. O negócio escalonou tanto que Eric Blake, Nathan
Grant e Steve Alexander saíram em defesa dos jogadores.

@ericblake
Parece que as pessoas aprenderam palavras novas e querem usar em
tudo. Achei que vocês já tinham saído do ensino fundamental, galera.
Queerbaiting é uma estratégia de marketing para produtos FICCIONAIS,
séries, livros, filmes... Jake Lewis e Jason Brody são pessoas REAIS, então
é impossível serem um queerbaiting

@ericblake
Sabiam que dá para procurar informações na internet, além de usarem as
redes socais para falar merda? Deveriam tentar se informar antes de
saírem atacando alguém porque são burros demais para entender o
significado de uma palavra

@ngrant
Pessoas burras me irritam. Acusar pessoas reais de queerbaiting? Vocês
não sentem vergonha de se mostrarem tão estúpidos?

@stevealexander
Sinto muito pelos ataques que Jake Lewis e Jason Brody sofreram, sendo
que, claramente, era uma brincadeira entre amigos. O verdadeiro problema
não é como pessoas reais agem, e sim um sistema que oprime e aprisiona
pessoas LGBT no armário. É necessário brigar pelo que acreditamos, mas
saibam escolher as batalhas

— Caramba! — Jason exclamou, vendo a discussão acontecer


online.
— Lindsay disse para não respondermos, que isso era esperado, já
que estamos chamando a atenção. Mas eu curti os comentários deles, para
pelo menos mostrar que agradeço o apoio — o loiro comentou.
— Vou fazer isso também — o DE concordou.
— Isso que Steve falou me fez pensar, não quero estar no armário
para o time — Jake disse um pouco hesitante.
— Quer falar com eles?
— Não quero fazer uma nota oficial, me explicar ou “me assumir”
para eles. Só não quero ter que mentir, até porque em algum momento todos
vão saber que sou bissexual, e não quero que se sintam traídos. Mas achei
melhor conversar com você primeiro.
— Jake, não quero que se sinta preso por minha causa. Meus
traumas são meus, não carregue o fardo disso, ok? A vida é sua, e se você
se sente confortável para falar abertamente sobre isso, apenas fale. Vou te
apoiar.
— Não é abertamente, é só para o time. Não tem como chamarmos
de “família Rhynos” se eu não posso ser sincero com eles. Não quero te
pressionar em nada, apenas ser sincero sobre mim.
— Tudo bem, não tem problema nenhum. Sei que os que sabem que
sou gay vão ligar as coisas e os que não sabem podem desconfiar. Mas isso
vai acontecer em algum momento. Pode falar quando quiser.
— Estava com medo de que você entendesse que era uma forma de
te pressionar. — Jake suspirou aliviado. — Não vou falar do nada, só
quando surgir um momento em que o assunto vier à tona.
Jason sorriu, concordando e beijando o namorado, sem saber o que o
momento em que o assunto viria à tona seria no dia seguinte, quando o time
estava conversando no intervalo do treino sobre relacionamentos.
Todos estavam no gramado, alguns sentados na grama, descansando.
Jason estava de pé, ao lado de Jay. Jake estava sentado entre Carson e
Chase, de frente para Kevin, que no momento contava como havia
conhecido sua noiva e os planos do casamento.
— Sério? — Carson perguntou para Kevin.
— Sim, conheci minha noiva quando era criança. Éramos amigos, e
sempre fui apaixonado por ela, mas nunca tive coragem de falar. Então,
quando fomos para a faculdade, nos separamos. Dois anos depois ela se
transferiu para a minha universidade. Voltamos a conversar, e uma noite
confessei que era apaixonado por ela na adolescência. Ela começou a me
bater e disse que também era apaixonada por mim, mas, como eu nunca
falei nada, achou que eu não era a fim dela. — Kevin riu contando.
— Mas por que ela nunca tentou algo? — Chase perguntou.
— Pior que ela tentou, eu que fui lerdo e não entendi. — O
linebacker deu de ombros. — Mas a chamei para um encontro na mesma
noite. Em fevereiro deste ano, a pedi em casamento, e vamos nos casar em
dezembro, no aniversário do nosso primeiro beijo. Só vamos sair em lua de
mel depois que a temporada acabar.
— Fala sério, achou que iríamos ser ruins de novo e em janeiro já
estaríamos eliminados, então poderia viajar. Agora que percebeu que não
será assim, teve que mudar os planos — Jay zombou, e todos riram.
— Quer dizer que você só teve um relacionamento a vida toda? —
Tru perguntou para Kevin.
— Não, tive namoradas antes dela. O que isso tudo quer dizer é que
só amei uma pessoa a minha vida inteira e a amo desde a minha
adolescência.
— Isso foi lindo, cara — Chase falou.
— Você teve sorte, a minha paixão da adolescência era louca.
Ameaçava terminar cada vez que eu não fazia o que ela queria, quis que eu
saísse do time de futebol americano porque “não ia dar futuro”, que eu
fosse para a faculdade que ela escolheu, fazer o curso que ela queria e
depois nos casaríamos. Quando terminei com ela, a doida quebrou meu
carro com pé de cabra — Odell contou, negando com a cabeça. — Só me
fodo na vida amorosa.
— Nunca tive isso — Jake comentou, rindo.
— Uma paixão de adolescência? — Kevin brincou.
— Não, isso eu tenho desde os dezesseis. — Jake sorriu de canto, e
Jason negou com a cabeça, sorrindo. — A ex-namorada louca. No meu caso
foi ex-namorado.
— Hã? — A maioria do time ficou confusa.
— Sou bissexual, nunca contei? — ele perguntou, fazendo-se de
inocente.
Ficou um silêncio, os coordenadores e jogadores pareciam
espantados, mas ninguém queria ser o primeiro a dizer algo. Lentamente,
algumas cabeças se viraram para Jason, que continuava quieto, apenas
olhando para Jake, como se também esperassem que ele terminasse a
história. Era óbvio que as pessoas estavam fazendo contas e ligando uma
coisa à outra, mas ninguém perguntou.
— Nossa, lembrei, foi aquele cara que jogava lacrosse, não é? —
Carson perguntou, e Jake confirmou. — Nunca gostei dele, chato pra
caramba, nem sei por que você namorou aquele infeliz.
— Eu era um jovem estúpido — Jake se defendeu.
— Isso foi há dois anos, toma vergonha na sua cara — Carson
retrucou. Eles conversavam, ignorando que o resto do time estava quieto.
Alguns olhavam de Jake para Jason, mas os dois ainda fingiam não ver.
— Não era Roy alguma coisa? — Chase perguntou.
— Ron — o loiro o corrigiu.
— Tanto faz, lembra que ele ficou com ciúme de você comigo e quis
tirar satisfação? Me encheu a paciência. — O WR revirou os olhos e se
voltou para os outros, que ainda assistiam à conversa. — Ele veio para cima
de mim, querendo me bater, achando que eu estava dando em cima do Jake.
O cara é meu irmão, pensar que eu daria em cima do Jake ou do Carson é
nojento!
— E o que aconteceu? — Tru perguntou.
— Ri da cara dele, o empurrei e contei para Jake, que terminou na
hora. Sorte de ele ter vindo para cima de mim, porque sou mais calmo.
Carson é estressado, já tinha sido expulso até de universidade.
— E nem fez sentido, eu morava com vocês dois, por que será que
ele pegou birra de você? — Jake perguntou.
— Nenhum sentido mesmo, porque, de nós três, sou o único hetero.
— Chase deu de ombros.
— Olha ele me tirando do armário. — Carson riu. — Também sou
bissexual.
Era sexta, um dia antes do jogo contra o Madison Steel, um jogo
para o qual Jake estava bem ansioso, por acaso. Não porque o time era um
dos atuais favoritos para o Super Bowl, mas porque era o time liderado por
Devon Butler, que, por acaso, tinha tentado entrar em contato com Jason
nos últimos dias.
Os Steel chegariam a Raleigh no início da noite, e, se Devon achava
que poderia se aproximar de seu namorado, Jake o faria entender que era
melhor desistir. Com educação, óbvio.
No dia anterior Maristela e Mauricio chegaram a Raleigh. Jake e
Jason os levaram para jantar com Rose. Os três se deram tão bem que no
final o casal ficou hospedado na casa da avó de Jason. Rose também
garantiu que uma casa do mesmo quarteirão que morava seria posta à venda
em breve. E, como o casal adorou a vizinhança, ela conversaria para
venderem a casa para Maristela e Mauricio.
— Quem vai se mudar? — Jason perguntou. Era uma vizinhança
que morava no mesmo lugar fazia anos, alguns estavam ali havia gerações.
— Hillary — Rose respondeu, servindo mais chá para os
convidados.
— Ela sabe disso? — o DE insistiu.
— Logo saberá. — A doce velhinha sorriu. — Celina e eu estamos
cuidando disso.
De noite, quando voltaram para a casa de Jason, estavam deitados,
assistindo a um filme do Keanu Reeves, quando o celular de Jake apitou
notificando uma mensagem. Os dois estavam passando todo o tempo de
folga juntos, ficando mais na casa do moreno, mas saindo com os outros
jogadores e dormindo algumas vezes na casa do loiro.
Jason estava confortável com a rotina, Jake respeitou todos os seus
limites e seu tempo. Eles foram aprendendo a lidar um com o outro e
conversavam sobre cada nova etapa. A sensação de que tudo acabaria
errado ainda existia, principalmente depois que contas que os “shippavam”
surgiram.
Quando surgiu na internet a teoria de que os dois estavam em um
relacionamento secreto, Jason achou que vomitaria. Mas, tão rápido veio,
tão rápido foi embora. Ok, algumas pessoas achavam que eles namoravam e
usavam os pequenos vídeos e fotos para provar. E, bem, eles estavam
certos, mas, até que confirmassem, era apenas uma teoria.
E foi divertido acompanhar os posts, edits e fotos manipuladas.
Havia umas fotos em que os fãs usaram Photoshop tão bem, que Jason
quase acreditou que eram reais. Jake brincou que, se eles vazassem fotos
reais, as pessoas não saberiam diferenciar o que era real ou não. O moreno
riu e não duvidou que Jake fizesse isso.
O caso era que, apesar de alguns vídeos dos treinos e do último jogo
terem viralizados, o alcance ainda estava restrito. Eram alguns milhares,
mas pouquíssimo comparado aos milhões que os vídeos de Steve Alexander
conseguiam, por exemplo.
— Caramba! — Jake se sentou na cama, espantado, ao mesmo
tempo que o celular notificava uma mensagem. — Steve Alexander acabou
de nos convidar para jantar com ele amanhã à noite.
— O quê? — Jason perguntou, confuso, abrindo a mensagem que
havia recebido.
— Steve Alexander, Scott Andrews, Nathan e Logan Grant querem
nos encontrar para jantar amanhã à noite! — O loiro estava abismado. —
Isso é um encontro de casais?
— Espera, como assim um ator premiado, um bilionário e seus,
provavelmente, respectivos companheiros querem jantar conosco? Assim?
Do nada?
— Também não sei, ele só me mandou o convite, disse que seria
muito legal se fossemos e mandou o endereço.
— Calma, vamos ver... Porra! — Jason exclamou. A mensagem que
tinha recebido era de Nathan Grant.

Olá, Jason
Sou Nathan Grant, não nos conhecemos pessoalmente ainda, mas gostaria
de corrigir isso. Creio que Steve já falou com Lewis, então estou mandando
o nome e endereço do restaurante que reservei para nós. Além de nós
quatro, estarão meu marido e Scott Andrews. Será algo reservado, apenas
para nós seis. No sábado, reservei um camarote para assistirmos ao jogo
do Rhynos.
Não sei sabe, mas meu marido nasceu e viveu boa parte da vida em
Raleigh. Então o Rhynos faz parte das boas memórias de sua infância, o
que também o faz ser importante para mim.
Mandarei a mesma mensagem no direct de uma de suas redes sociais para
saber que sou eu mesmo. Também pode salvar meu contato, Logan e eu
iremos muito para Raleigh, e seria bom ter amigos na cidade.
Até amanhã, Nathan

— Uau! — Jake exclamou ao seu lado. — Percebeu que ele não


perguntou se poderíamos ir, apenas confirmou o jantar?
— Ele é Nathan Grant, poderia comprar o Rhynos se quisesse. —
Jason deu de ombros. Conferiu em sua rede social, e a mensagem estava lá
mesmo. Inclusive, Nathan tinha compartilhado o perfil do restaurante na
mensagem, para não haver erros. — Isso é surreal.
— Nós vamos, não é?
— Não costumo sair de casa na véspera de um jogo, mas não sei se
temos como recusar esse convite. — O moreno suspirou. Quando sua vida
havia se tornado aquela loucura?
Ele olhou para o lado e viu o loiro alto de olhos claros e soube a
resposta.
Então na sexta-feira tiveram apenas uma reunião e repassaram
algumas estratégias, tudo muito mais teórico do que prático, já que Isaac
não iria correr o risco de algum jogador se machucar. Jake estava saindo
com Chase, onde alguns jornalistas os esperavam. Criou-se uma grande
expectativa para o jogo entre Rhynos e Steel, algumas pessoas, inclusive
repórteres esportivos, juravam que a “boa sorte” do Rhynos era passageira e
eles quebrariam fácil contra o Steel.
Vários jogadores, principalmente Jake, levaram isso para o pessoal e
estavam dispostos a fazer todas essas pessoas quebrarem a cara. E, se
pudesse quebrar a cara de Devon Butler junto, melhor ainda.
— Lewis! Graham! — um dos jornalistas os chamou. Eles sorriram
educados e chegaram perto. Jason disse que o blog no qual aquele repórter
trabalhava tendia a fazer perguntas pessoais demais, por isso, era para tomar
cuidado. — Qual as expectativas de vocês para o próximo jogo?
— As melhores, estamos treinando para isso — Chase respondeu.
— Estão com medo de enfrentar o Madison Steel?
— Nem um pouco, é apenas outro adversário — Jake falou com
calma, mas sério. Eles já tinham respondido a essas mesmas perguntas
várias vezes.
— Lewis, o que acha do shipp “Jase”? — o repórter perguntou,
mudando o rumo das perguntas do nada.
— Jase? — o loiro perguntou confuso. — Chase e eu?
— Cara, isso é nojento. — Chase fez cara de nojo.
— Não, Jase é o shipp entre você e Jason Brody, seus fãs chamam
vocês de Jase Brodis.
— Jase? — O QB ficou revoltado, e Chase colocou a mão no rosto,
escondendo as risadas. — Usaram só uma letra do meu nome?
— Bem..., sim..., mas... — O repórter parecia confuso com a reação.
— Os nomes de vocês começam do mesmo jeito.
— Colocaram três letras do nome do Jason e só uma do meu? — O
loiro realmente não acreditava naquilo. Do seu lado, Chase teve que recuar
para controlar as risadas. — A palavra tem quatro letras, e três são do nome
do Jason?
— Sim, mas é o nome do shipp — o jornalista tentou voltar ao
assunto. — O que você acha dos seus fãs shippando vocês?
— Não acredito. — Jake bufou. — Uma letra só!
— É como Stett — o repórter tentou explicar, já sem saber o que
fazer.
— Mas Stett são três letras de Steve e DUAS de Scott. E Scott nem
é famoso, mas tem direito a mais letras que eu? — O loiro negou com a
cabeça, então se virou para a câmera. — Vou ser sincero com meus fãs,
estou decepcionado. Uma letra só? Por que não Jaske? Jakon? E como é o
sobrenome?
— Brodis, mas o final é com “IS”, como o final de Lewis — o
jornalista se adiantou, e Jake cerrou os olhos.
— Então no primeiro nome, Jase, tem três letras de Jason e UMA de
Jake. Com o sobrenome são QUATRO letras do sobrenome dele e DUAS
do meu? E a pronúncia é igual a se tivesse acrescentado apenas o “S” do
meu sobrenome? Decepcionado com vocês — disse para câmera e se virou,
saindo de perto.
Chase fez sinal de V com os dedos, rindo e se afastou, deixando o
repórter sem saber o que fazer.
O restaurante era refinado, tinha um nome conhecido, mas prezava
pela privacidade dos seus clientes. Jason e Jake chegaram juntos, os dois
estavam um pouco nervosos e não sabiam o que esperar. O moreno tinha
levado algumas camisetas do time. Era para ser apenas um presente para
Logan, aí Jake resolveu que era uma ótima ideia dar uma com seu nome e
número para Steve. Então, de pirraça, pegou para Scott. Aí resolveu que
seria injusto dar camisetas para os três e nenhuma para Nathan.
Nathan Grant!
Ele nem acreditava que estava prestes a conhecer o bilionário
Nathan Grant. O cara era um gênio, uma lenda. Tinha servido ao grupo de
forças especiais, voltou para os Estados Unidos e assumiu as indústrias
Grant, no lugar do pai. Jason não tinha ideia nenhuma de como quantificar a
importância dessas empresas, mas todos os seus amigos que estudavam na
área de negócios sonhavam em trabalhar no Grupo Grant.
E agora o próprio Nathan Grant estava o convidando para jantar!
Certo, convidar era uma palavra gentil, ele havia exigido. Mas ele
tinha viajado de Nova York só para assistir ao jogo. E, se tivesse todo o
poder, influência e dinheiro dele, Jason não saberia se agiria diferente.
Principalmente na questão de agradar quem amava.
— Por aqui. — A hostess indicou o caminho.
Seguiram por um caminho lateral ao salão do restaurante, chegando
a um corredor com várias cabines, algumas fechadas com cortinas e outras
abertas, mostrando pessoas jantando e conversando. A hostess os levou até
a última.
— Estão esperando por vocês. Volto em alguns minutos para buscar
os pedidos, tenham uma boa noite. — Ela sorria educada.
A hostess abriu a cortina, deixando-os passar, e a fechou atrás deles.
Era um local bonito, bem-iluminado, mas não a ponto de incomodar. Uma
das paredes era de vidro, dando uma bela visão do alto da cidade de Raleigh
à noite.
— Que bom que chegaram! — Steve Alexander os recebeu,
abraçando-os como se fossem velhos amigos.
Ele era alto, mas não tanto quanto Jake ou Jason, que deviam ser as
pessoas mais altas da sala. Steve parecia ter saído de um conto de fadas ou
uma comédia romântica digna do Oscar. Seus olhos eram claros e
brilhantes, e o sorriso feliz parecia iluminar o lugar. Jason teria que dar o
braço a torcer de novo, Sadie e Jake tinham razão. Steve Alexander era
lindo, e ele entendia por que tantas pessoas eram loucas pelo ator.
— Venham, vou apresentar os outros. Este é Nathan — Steve
indicou o outro homem, todos tinham se levantado para recebê-los.
Nathan era o tipo de pessoa que exalava poder. Não era alguém para
se ter medo, mas alguém para não se provocar. Jason sabia que a mãe dele
era de Porto Rico, e ele tinha puxado a aparência dela. Os traços latinos
eram fortes, tinha o cabelo cacheado e castanho. Seus olhos eram escuros,
quase negros, e atentos.
— É um prazer conhecê-los — Nathan disse. — Este é meu marido,
Logan.
— Caramba, vocês são mais altos pessoalmente. — Logan riu. Ele
era mais baixo, cabelos ondulados marrons como chocolate e rosto
desenhado e delicado. Apesar de parecer mais novo, Jason sabia que eles
tinham a mesma idade, e chegava a ser engraçado como eram diferentes.
— E vai falar isso para mim? — o loiro comentou. O DE sabia
quem era ele, tinha visto muitas fotos de Scott Andrew, o fotógrafo favorito
das celebridades, enquanto pesquisava sobre Steve Alexander.
— Este é o Scotty — Steve falou tão carinhosamente, e com a mão
na base das costas do loiro, que não deixava dúvida de como eram
próximos.
— Jake, já ouvi falar tanto de você que sinto que te conheço —
Scott brincou.
— E eu já li tanto sobre você, que digo o mesmo. — Jake riu.
— Por favor, ignorem tudo aquilo. Nem tudo que dizem a nosso
respeito é verdade. — O fotógrafo suspirou.
— Sei muito bem disso — o QB disse, compreensivo.
Eles se sentaram à mesa. No começo Jason estava apreensivo,
apenas falando quando perguntavam algo. Meia hora depois, estavam
conversando como velhos amigos e riam uns dos outros.
— É sério, ele me faz passar cada vergonha. — Scott revirou os
olhos para Steve, que sorria de canto.
— Nathan é especialista nisso. — Logan negou com a cabeça. —
Ele comprou a loja que eu trabalhava, só para demitir o gerente que me
humilhava.
— Não te fiz passar vergonha, te vinguei — Nathan se defendeu.
— Você tinha que ter feito o gerente se sentar na sua frente enquanto
você lia uma lista gigante com todas as ofensas que ele tinha me dito?
Amor, eu escrevo roteiros, mas você é muito dramático. — Logan suspirou,
e todos riram, exceto Nathan, que não achava que tinha feito nada demais.
— Em San Juan temos dois amigos, eles são agentes da polícia e são
incríveis. Realmente, acho que não existe nada que o Comandante e o
Detetive Maverick, eles são casados, não consigam resolver. Mas Chris
Maverick é doido, é sério, não tem como aquela criatura ser normal. Ele
roubou o helicóptero do Nathan só para divertir as crianças na festa de
aniversário do filho.
— Ele roubou um helicóptero? — Jason perguntou, espantado.
— Sim, mas nem era o mais novo — Nathan disse como se não
fosse nada. — E devolveu depois.
— É desse tipo de amigo que eu preciso — Scott comentou.
— Eu também — Jake concordou.
— Nathan passa pano para qualquer coisa que Comandante
Maverick faça. — Logan ria. — Vocês precisam passar algumas semanas
conosco em San Juan. O lugar é lindo e sempre tem algo caótico
acontecendo.
— Ainda mais agora que Chris ficou amigo da família Mitchell —
Nathan comentou tranquilo, como se o caos não fosse nenhum problema.
— Nem me lembre dele e Alex juntos. — O marido riu. — Já
assistiram a “The Mentalist”? Tem um bilionário nas primeiras temporadas,
ele aceita qualquer loucura do Patrick Jane só para sentir adrenalina.
— Walter Mashburn — Jason falou. — Eu adoro essa série.
— Sim, esse. — O roteirista sorriu. — Nathan é como esse cara
quando se trata do Maverick. E do Mitchell, agora. Só que em vez da
adrenalina, ele quer o caos.
— Achei um exagero — o bilionário falou. Mas, pelo seu sorriso de
canto, ninguém acreditou.
— Você os deixou pegar um carro, sabendo que eles iriam explodir.
— Logan riu, todos assistiam espantados. Aparentemente, só Steve estava
acostumado com Nathan, porque ria junto.
— Eu nem usava — o bilionário justificou. — Foi quase um
presente para eles.
— Eu trouxe camisetas do time e achei que seria um presente legal.
Agora não tenho certeza — Jason disse, fazendo os outros rirem.
— Camisetas do Rhynos vindas diretamente dos jogadores? —
Logan sorria, como se tivesse recebido o melhor presente de todos.
— Agora, meu amigo, você acabou de ganhar a gratidão eterna de
Nathan Grant. Divirta-se com sua nova vida — Steve falou, dando tapinhas
no ombro de Jason.
A comida era deliciosa, e eles riram muito. Scott tinha levado sua
câmera e fez algumas fotos. Passou um bom tempo tentando convencer
Jake a fazer um ensaio fotográfico com ele. O QB ria, mas disse que no
futuro poderia pensar nisso.
— Sério? — Steve riu da história que Jason contava. — Sua amiga
batizou a filha em homenagem a Agatha Morissette?
— Sim, ela fazia uma série que a Sadie amava e maratonou a
gravidez inteira. Mas ela detestava o nome da personagem, e como Agatha
é uma das atrizes favoritas dela, Sadie e Jay batizaram a primeira filha de
Agatha, em homenagem.
— Se a Mori souber disso, nunca mais vai calar a boca. — Scott riu.
— Estou tão animado para o jogo amanhã — Logan falou. — Meu
próximo livro será sobre futebol americano, com certeza.
— Posso ser seu consultor e te dar passe livre para o estádio, quando
quiser — Jake garantiu.
— Sério? — Os olhos do escritor brilharam.
— E agora Jake ganhou Nathan. — Scott riu.
— Sinceramente, eu amo os seus livros. “Escuridão” é um dos
melhores livros que já li na vida. Aquele plot twist quando revelam quem
armou todo o plano me deixou chocado, e me surpreender é algo muito
difícil — o QB confessou.
— Ele ama tanto os livros, que me fez comprar e ler todos — Jason
completou. — Disse que ninguém pode estar em sua vida sem ter lido os
livros de Logan Grant.
— Ah, que engraçado. Sabia que Steve acha inadmissível alguém
estar na vida dele e não saber quem é Jake Lewis? — Scott contou, sorrindo
irônico.
— Imagino, Jake também me fez assistir quatro temporadas do Dr.
Sexy porque “Quem não conhece o Dr. Sexy?” — Jason respondeu do
mesmo jeito, e eles sorriram. Acharam alguém que os entendia.
— Ignore-os — Jake disse. — Surgiu um rumor uma vez que
“Escuridão” seria lançado como minissérie ou filme, mas nunca mais
falaram nada. Se um dia isso acontecer, eu vou amar. A história é muito boa
e eu... O quê?
Steve fez cara de quem ia falar algo, mas fechou a boca. O ator
olhou para Logan, que olhou para Scott e Nathan. O loiro riu e negou com a
cabeça, pegando sua bebida. Logan também riu, e Nathan bufou.
— É por isso que não podemos te contar um segredo, você sempre
dá um jeito de entregar. — Nathan revirou os olhos.
— Não falei nada — Steve se defendeu, Scott dava tapinhas nas
suas costas, confortando-o.
— E precisou? — o bilionário perguntou
— Prometo não contar nada, mas, quando meus amigos souberem,
vão surtar. Lemos juntos na faculdade, sempre imaginamos o Steve como
Evan — Jake comentou. Steve fechou os olhos, e ele arregalou os seus. —
Sério?
— Nem eu posso te defender agora. — Scott deu de ombros.
— Não é oficial, por isso, não pode vazar — Logan pediu, Jake e
Jason concordaram. — Bem, você deve ter pensado no Steve porque
começou como uma fanfic do Steve.
— Agora fez muito sentido — o QB comentou. — O Hank ser loiro
e amar fotografia tem algo a ver?
— Não, isso foi coincidência mesmo. Só conheci o boca-aberta aqui
neste ano — Scott respondeu, indicando Steve.
— Scotty! — o ator disse, revoltado.
— Essa noite está mais divertida do que achei seria. — Nathan riu.
— Concordo. — Jason sorriu.

— Tem um segundo andar? — Jake perguntou, revoltado.


— Tem, é tipo uma área VIP que o Heinrich reserva para eventos,
mas mandei mensagem explicando que temos convidados especiais, e ele
vai abrir para nós — Jason explicou.
Depois do jantar, decidiram estender a noite. Jason e Jake eram
responsáveis, queriam estar na cama antes da uma da manhã. Precisavam
ter uma boa noite de sono, alimentarem-se corretamente no dia seguinte e
estarem dispostos para o jogo. Não tinham bebido nada alcoólico no jantar,
mas, quando resolveram ir para o Nashorn, aceitaram tomar uma cerveja.
No estacionamento do restaurante, entregaram as camisetas. Logan
e Steve ganharam peças com o número 3 e o nome Lewis na parte de trás.
Nathan e Scott tinham o número 28 e nome Brody. Além delas, Jason deu
uma camiseta comemorativa para Logan, era uma edição limitada, que não
tinha como comprar. O escritor quase chorou, abraçou-o e agradeceu várias
vezes. Depois o DE se perguntou se Nathan realmente não conseguiria
comprar uma.
O bar estava animado, em véspera de jogo era assim mesmo. Jason
percebeu que Scott não queria ser reconhecido. Por isso, entregou seu boné
para ele, já que Jake tinha dado o seu para Steve. Todos entraram, mas,
assim que as pessoas reconheceram Jake e Jason, eles foram puxados, havia
gritos, fotos e muitas pessoas queriam falar com eles.
Os quatro convidados ficaram no canto, Jason foi o primeiro a se
livrar da multidão e os levou para o segundo andar, onde Heinrich os
esperava.
— Steamroller! — O alemão, dono do bar, abraçou-o. — Deixei
tudo pronto para vocês e seus amigos.
Assim que os olhos do homem sorridente reparam em Steve, ele
tomou um susto. Então viu Nathan e demorou apenas segundos para
entender quem eram os convidados de Jason. Heinrich praguejou em
alemão, o que fez os outros rirem.
— Vou buscar Jake, já volto. — Jason riu.
Recuperar o loiro foi um pouco difícil, já que todo mundo queria o
parabenizar pelo jogo ou ensinar alguma superstição que, com certeza, daria
certo e os faria ganhar.
— É divertido, mas é loucura — Jake falou enquanto subiam as
escadas.
— Você ainda é a novidade, em algum momento passa — Jason
garantiu.
Na parte de cima, havia uma mesa de sinuca, dardos e um pequeno
bar. Eles jogaram bastante e, em algum momento da noite, Nathan começou
a fazer drinques para todos. Ninguém ali, exceto Logan, tinha conhecimento
de que Nathan sabia fazer drinques, com direito a malabarismo com as
garrafas.
— Cuidado, ele tem mais ciúmes dessas câmeras do que de mim —
Steve disse para Logan enquanto Scott o ensinava a usá-la.
— As câmeras me obedecem perfeitamente, você me estressa na
maioria das vezes — Scott respondeu, fazendo todos rirem.
— Mas você me ama!
— Steve! — Scott exclamou quando o ator o pegou no colo,
sentando-o no balcão do bar e o beijando.
— É, se tinha alguma dúvida ainda, acho que acabou — Jake
brincou, e Jason riu.
Logan tirou uma foto do beijo e dos sorrisos, também tirou uma foto
do momento em que Jake beijou Jason, quando o moreno ganhou de Nathan
na sinuca. E Scott fez uma sequência de fotos de Nathan virando uma
garrafa de bebida na boca de Logan e o beijando logo depois. A cena toda
foi sexy, e o fotógrafo ficou feliz de ter registrado.
Jake e Steve perderam um jogo contra Jason e Scott e tiveram que
descer até a parte de baixo do bar e pedir bebidas. Era óbvio que seriam
reconhecidos, então os outros quatro ficaram olhando escondidos nas
escadas. Jason contou até três, e os gritos na parte de baixo começarem.
— Então vocês são namorados? — Scott perguntou para Jason,
estavam sentados em um dos sofás. Nathan jogava dardos com Logan,
enquanto Steve e Jake ainda estavam presos na parte de baixo, com os fãs.
— Na verdade, não. Sei que agimos assim, mas não houve um
pedido, estou esperando — o moreno brincou.
— Te entendo, Steve e eu somos não-namorados. Não houve pedido
do namoro, mas aquele louco já está planejando nossos próximos dez anos.
— O loiro negou com a cabeça.
— Jake também! Qual o problema deles?
— Não sei, devíamos levá-lo para fazer alguns exames! — Scott
exclamou, parecia feliz de ter alguém que o entendia. — Qual o problema
de um relacionamento que segue a ordem normal? Namorar primeiro,
depois planejar casamento?
— Exatamente! — Jason sorriu. — E como eles sabiam que
ficaríamos com eles desde o início? Jake sabia, desde a primeira vez que
conversamos, que ficaríamos juntos. Ele nem sabia se eu era gay!
— Steve também! Na verdade, nem eu sabia, mas ele resolveu
arriscar.
— Igual ao Jake!
Jake e Steve demoraram quase quarenta minutos para conseguirem
voltar para cima, de tantas fotos que tiveram que tirar com fãs. Assim que
subiram, Jake se jogou nos braços de Jason e o beijou.
— Não! Não mesmo! Como? — Steve resmungou quando Jason
ganhou deles nos dardos.
— Não seja um mau perdedor. — Scott riu.
— Jason também ganha de mim — Jake disse, revoltado.
— Revanche! — Nathan exigiu.
— Por que me envolvi com um homem tão competitivo? — Logan
negou com a cabeça.
— Me pergunto o mesmo — Scott concordou.
— Não posso falar nada, porque sou mais competitivo que Jason. —
Jake suspirou.
— Scotty, vamos para Nova York no domingo? — Steve perguntou
após perder, de novo, nos dardos.
— O que vamos fazer em Nova York? — O loiro riu.
— Nós vamos assistir a uma luta — Jason explicou.
— “Nós” quer dizer vocês ou “nós” quer dizer todos nós? — Logan
perguntou.
— Todos nós. — Nathan sorriu de canto, e o marido riu, abraçando-
o e o beijando.
— Acho que vamos para Nova York então. — Scott riu.
A noite estava perfeita, eles se divertiram muito, mas Jake e Jason
tinham que ir embora. Já era quase uma da manhã, e Isaac os mataria se
soubesse que eles não estavam descansando.
— Temos um pequeno problema. — Logan mostrou o celular, as
fotos de Jake e Steve já circulavam na internet. Havia paparazzi esperando
do lado de fora do bar.
— Merda — Scott praguejou.
— Meus seguranças estão no bar, posso fazer com eles os afastem
para passarmos — Nathan sugeriu.
— Seus seguranças estão aqui? — Jason perguntou, surpreso.
— Meus seguranças sempre estão ao meu redor ou de Logan —
Nathan disse como se fosse óbvio.
— Não podemos sair sem muitos seguranças, eles sempre estão por
perto, mas à paisana. O restaurante estava cercado, e o bar também. Tem
vários aqui dentro desde que avisamos que estávamos vindo — Logan
explicou. Jason, Jake, Steve e Scott fizeram a mesma cara de entendimento,
porque era uma coisa óbvia que ninguém tinha pensado. Como se deixava
um bilionário e seu marido andado por aí desprotegidos?
— Tenho uma ideia — Steve disse, e Scott já parecia que ia negar.
— Escutem, já sabem que Jake e eu estamos aqui. Saímos primeiro,
chamamos a atenção, e vocês saem depois.
— Faz sentido — Nathan disse, e Jason não gostou nada disso.
Eles podiam sair pela saída dos funcionários, daria na lateral, de
qualquer jeito teriam que passar pelos repórteres para chegar aos carros.
— Jason veio com o carro dele, Logan e eu vamos com Steve e
Jake. Os paparazzi os verão entrando em nosso carro. Enquanto isso, Jason
leva Scott para o carro dele — Nathan falou, o DE não queria dar o braço a
torcer, mas era um bom plano.
— Podemos nos encontrar na minha casa — Jason respondeu, e
todos concordaram.
— Vai ficar tudo bem, a gente já se vê — Jake brincou e beijou o
moreno.
Os quatro desceram as escadas, as pessoas os viram,
cumprimentaram e fizeram fotos. Os torcedores até avisaram sobre os
repórteres do lado de fora e perguntaram se Jake precisava de ajuda para os
espantar. O QB sorriu agradecido, mas recusou.
Deram apenas alguns passos antes que os flashs os acertassem e
alguns jornalistas os cercassem. Três seguranças de Nathan apareceram na
hora e os ajudavam a chegar até o carro, que estava metros à frente.
— Lewis! Alexander! Uma palavra, por favor! — um dos repórteres
pediu.
— Nunca é uma palavra — Jake resmungou, e Steve concordou.
— Lewis, amanhã você vai jogar contra Devon Butler, está com
medo?
— Não.
— Mas Butler chegou ao Super Bowl na temporada passada.
— E perdeu. — Jake deu de ombros. Steve segurou a risada.
— Jogar contra um QB mais experiente não te deixa apreensivo?
— Nem um pouco.
— Ele quase foi campeão nacional no ano passado.
— Mas não foi, o que deixa nós dois com o mesmo número de
vitórias em um Super Bowl — Jake falava calmamente. Steve sorriu,
batendo no seu ombro.
— Então você está pronto para essa disputa? — outro repórter
perguntou, por que eles insistiam tanto nisso?
— Eu nasci pronto.
— Esse é meu campeão — Steve brincou, e eles riram.
— Lewis qual o seu diferencial para estar tão confiante, enfrentando
um time experiente?
— Confio na minha capacidade, sei o que posso fazer. Confio nos
meus colegas e na nossa sintonia. O ataque, a defesa e o special team do
Rhynos estão em perfeita conexão. Então eu tenho Chase, Carson, Kim,
Jay, Kevin comigo, entre outros. Além disso, eu tenho Jason Brody, e
Devon Butler não.
Nathan ria atrás deles, e Logan se escondeu no marido para não
gargalhar. Eles não sabiam exatamente o que era, mas Jake parecia detestar
o tal Butler. Os repórteres os perceberam. Na primeira tentativa de fazerem
perguntas para Nathan ou Logan, um segurança entrou na frente.
Steve, que não era sutil com a risada, estava sorrindo para as
câmeras até um dos repórteres perguntar se era verdade que ele estava
namorando Nina Raven e quando assumiriam o namoro. A mudança de
expressão foi clara, mudando de sorridente para fechada.
— Não estou namorando Nina, nem nenhuma outra mulher que
vocês inventem. Ela está se mostrando uma boa atriz. Apenas trabalhamos
juntos, não há nenhum interesse romântico ou pessoal — respondeu sério.
Agora era Jake que tinha o sorriso debochado no rosto com a
resposta de Steve. Ele realmente sabia responder sem mentir.
— E Scott Andrews, o fotógrafo, vocês também apenas trabalham
juntos? — outro perguntou. Imediatamente Steve sorriu.
— Scott é… incrível, é o melhor fotógrafo que conheço, e me sinto
grato por tê-lo do outro lado da lente — respondeu, ainda com o sorriso no
rosto.
— Da lente — Jake repetiu debochado. Steve, Nathan e Logan
riram.
— Acho que vamos precisar de um bom fotógrafo no camarote
oficial amanhã — disse Nathan. — Talvez eu devesse chamar Scott, será
que ele está com a agenda livre?
— Não sei, acho que ele tinha um compromisso importante, melhor
ver com ele — Steve respondeu, e eles riram de novo.
Jake viu o carro de Jason passando do outro lado da avenida, já se
afastando. Ele indicou com a cabeça, e Nathan entendeu. O bilionário
sussurrou algo no ouvido do segurança. Imediatamente os seguranças
abriram espaço, deixando o caminho livre para o carro.
Porém, antes que Steve conseguisse entrar no veículo para irem
embora, uma jornalista o chamou e começou a falar rápido sobre alguma
hashtag, e isso chamou sua atenção.
— Estamos transmitindo ao vivo, já estamos com 50 mil pessoas, e
não param de entrar mensagens de fãs, estão levantando uma tag que diz
#juntoscomsa. Gostaria de comentar?
Steve sorriu de canto, como se tentasse conter o sorriso orgulhoso,
mas fosse impossível.
— Sim. Essa é a única corrente que vale a pena. Eu tenho muito
orgulho e amo cada um de vocês. Obrigado por nunca terem soltado minha
mão, Alexanders.
O segurança fechou a porta do carro, e Jake passou o endereço de
Jason.
— O que foi isso? — Jake perguntou para Steve.
— Precisava dar uma resposta, foi o que consegui pensar na hora.
— Ele riu. — Você vai conseguir o que te pedi?
— Sim, já mandei mensagem para Lindsay, e ela confirmou que está
tudo certo.
— O que estão aprontando? — Logan perguntou.
— Amanhã você verá — Steve respondeu sorrindo.
De novo estavam no corredor que ligava os vestiários ao campo. Os
gritos da torcida eram muito mais altos agora, estavam na casa do Rhynos, e
a sua torcida estava lá. Os acordes da música soavam, o estádio levou
alguns segundos para entender qual era, mas gritaram quando a
inconfundível guitarra começou.
Jason e Jake estavam na frente, o moreno olhou para o loiro, e
ambos sorriram, a música tinha sido escolhida por Steve Alexander, e ele e
Jake tinham feito questão de fazer um post juntos informando isso. Se as
pessoas não entendessem agora, talvez nunca mais entendessem.

I want to break free, I want to break free


I want to break free from your lies
Enquanto a voz de Freddie Mercury cantava “I want to break free”,
o Rhynos saiu do corredor, em meio à fumaça preta e amarela, gritos das
líderes de torcida, chegando ao campo e sendo ovacionado pela sua torcida.
Na frente de todos, já em campo, com todos os olhares sobre eles,
Jake e Jason trocaram um soquinho. Era o substituto de se abraçar e se
beijar, já que ainda não poderiam fazer isso em público. A torcida berrou, a
ponto de ser impossível ouvir a música.
Na noite anterior, depois que saíram escondidos do bar, Jason e
Scott foram direto para a casa do moreno. Eles realmente tinham se dado
bem e conversaram sobre serem shippados, o que era engraçado, mas às
vezes dava medo pelas carreiras que tinham.
— Eu não tenho problemas, ninguém se importa se o fotógrafo é
gay ou não, meu medo é por Steve. Ele tem problemas com o agente dele. E
sabemos como a indústria é homofóbica — Scott disse quando chegaram à
casa. Jason pegou uma cerveja para o loiro e uma água para si.
— Estou melhorando isso em mim, mas sempre tive um medo
aterrorizante de me assumir. Sabemos o que acontece quando um atleta se
assume. — O moreno negou com a cabeça. — Enfiei minha cabeça no
trabalho, treinei e me tornei o melhor possível para apagar essa parte de
mim.
— Não consigo imaginar como é se sentir assim. Só descobri que
sentia atração por homens com aquele louco. E nem sei se me atraio por
homens em geral ou só pelo Steve. — O fotógrafo revirou os olhos.
— Já é difícil ser gay em um universo muito machista e
homofóbico; no meu caso, os esportes, no do Steve, o show business. Mas
tive uma experiência bem traumática, então piorou. Tive vários encontros
casuais, mas tudo escondido. Só agora com Jake que estou me sentindo
mais livre.
— É louco, eles chegam, entram nas nossas vidas, se recusam a sair,
mudam tudo, e ainda nos apaixonamos por eles — Scott comentou, e Jason
concordou, então os dois riram.
— Eles estão demorando, não é? — o moreno comentou.
— Se Jake for como Steve, pararam para falar com os repórteres.
Ainda mais que os jornalistas têm muito que perguntar agora.
— Sim, essa coisa toda do shipp. — Jason riu.
— Isso, próximo filme, projetos, o próximo jogo. Ainda mais que
vocês vão jogar contra um líder da conferência que esteve no Super Bowl
na temporada passada. — Scott deu de ombros. O sorriso de Jason morreu e
seus olhos se arregalaram. — Você está bem?
— Ah, não. — O moreno passou a mão pelo rosto. — Eu tinha
esquecido.
— O quê? Que vai jogar amanhã?
— Contra quem vamos jogar — corrigiu. — É o Madison Steel.
— Eu sei. Qual o problema?
— O QB do Steel é Devon Butler, meu ex-namorado e minha
experiência traumática. — Na hora que falou, Scott fez careta,
compreendendo-o.
— Se Jake é um pouco parecido com Steve, terá pelo menos uma
indireta um pouco direta para Butler.
— Jake não é um pouco parecido com Steve, eles são muito
parecidos.
Scott deu tapinhas no ombro de Jason. Os dois se entendiam,
estavam no mesmo barco.
Agora, ali no campo, vendo Jake apertando as mãos de Devon, no
clássico cumprimento entre QBs, Jason sabia que seria quase uma guerra
em campo.
— Ouvi muito sobre você — Devon disse para Jake. Os dois
estavam com todos os equipamentos do jogo, incluindo o capacete, mas
próximos o bastante para se ouvirem. — Me disseram que somos parecidos.
— Não somos parecidos — Jake respondeu e se aproximou um
pouco mais, ainda segurando a mão de Devon. — Fiz o que você nunca
teve capacidade de fazer. Ele é meu agora.
O loiro se afastou o suficiente para ver o rosto do adversário. Devon
estava confuso, então olhou para Jason, que estava do lado de Jake, de
braços cruzados, sério, assistindo à interação. O loiro se deliciou com o
momento em que o outro QB entendeu. Então os olhos de Devon se
voltaram para Jake, e havia ódio neles.
Steel começou atacando, e na primeira jogada, quando Devon
lançou uma de suas bolas certeiras para seu WR, Jason, com sua leitura de
jogo perfeita, correu e bateu na bola. Os olhos presos no lance, os
narradores estavam loucos, a bola no ar e os jogadores a disputando. A bola
cairia no chão, mas Jason conseguiu passar a mão por baixo, segurando-a.
— Interceptação? Foi uma interceptação?! — Every, o narrador,
gritava no microfone.
— Estamos esperando os juízes, mas eu acho que foi — Jalen falou.
— Onde que iríamos imaginar que, na primeira jogada, Rhynos iria
interceptar os Steel?
— Isso porque ainda estamos na segunda semana da pré-temporada.
— Every ria. — Eu disse! Essa será a melhor temporada de todas! A
temporada do impossível!
— Os árbitros decidiram, e foi... interceptação! No primeiro lance!
— Papai não está para brincadeira!
O Rhynos comemorou, Jake andou pelo campo, tomando seu lugar,
passou por Jason, e eles trocaram um soquinho. O QB não tinha tempo para
dizer o quão orgulhoso estava do namorado.
O ataque dos donos da casa era rápido em se posicionar, muitas
vezes não dava tempo de a defesa se organizar. Isso era umas das coisas que
Jake tinha pegado muito nos treinos; quanto mais rápidos, menos tempo de
resposta o outro time teria. Chase se divertia, fazendo movimentos
desnecessários, como se fosse correr para um lado ou outro, confundindo os
adversários, porque nunca sabiam para onde ele iria.
A primeira jogada do Rhynos foi uma corrida espetacular de Carson,
que correu mais vinte jardas antes que a defesa do Steel o fizesse parar. Isso
queria dizer que eles já tinham percorrido metade da distância para fazer o
TD. Jake olhou para Devon, que estava na lateral do campo. O QB estava
sem capacete, usando o boné do Steel. Sua expressão era fechada, braços
cruzados, e bufava. Jake sorriu.
Não foi fácil, a equipe adversária era muito boa, não era à toa que
eles eram os favoritos para chegar até o Super Bowl. Mas quando, segundos
antes de terminar o primeiro tempo, Chase entrou correndo na end zone,
garantindo o terceiro TD do Rhynos, todo mundo já sabia que o Rhynos
estava de volta à corrida pelo pódio.
— Depois dessa conversão belíssima do Deacon, Rhynos encerra o
primeiro tempo com 21 pontos, contra 10 dos Steel — Jalen narrou. — Eu
juro, Every, quando saí de casa hoje para vir ao estúdio, não pensei que
estaria narrando esse placar.
— Não sei nem se o Rhynos pensou. — Every riu. — Mas, vendo o
preparo técnico do time, é admirável a evolução. O Rhynos da temporada
passada não chega aos pés do de hoje.
— Olha, não sei se o placar vai se manter, até porque os Steel são
conhecidos pelas viradas no segundo tempo, mas que está dando gosto de
ver o Rhynos jogando, está.
Os times estavam no vestiário. Isaac falava que não era para abaixar
a guarda, os coordenadores conversam com seus atletas sobre erros
específicos. Não era para ninguém relaxar, ainda tinha um jogo
acontecendo, e uma diferença de 11 pontos no futebol americano não queria
dizer nada, ainda mais tendo mais trinta minutos de jogo.
Todos lembravam de uma virada histórica onde um time estava
perdendo por cerca de trinta pontos. Mas no segundo tempo virou,
empatando o jogo e garantindo mais um TD para concretizar a vitória.
Então um jogo nunca estava vencido até que soasse o apito final.
— Jake — Lindsay o chamou e indicou o corredor que dava para o
campo com a cabeça.
O loiro sorriu, e no mesmo instante a torcida inteira começou a
gritar do nada. Ninguém entendeu o que estava acontecendo, mas o barulho
era tão alto, que ressoava no estádio. Nos jogos regulares, sempre tinha uma
atração nos intervalos. Dança, música, algo assim, mas Jason não se
lembrava de nada programado para aquele dia.
— O que aconteceu? — Jason perguntou para Jake, que sorria.
— Acho que o Sr. S.A. não está mais solteiro — o loiro respondeu,
enigmático.
— ACABOU! — Every gritou. — Os times estavam empatados
com 31 pontos, e com esse field goal do Rhynos, faltando TRÊS segundos
para acabar o jogo, Rhynos ganha do Steel!
— Sinto pelo Steel, que perdeu, mas todos os fãs do esporte que
assistiram a esse jogo saíram ganhando — Jalen comentou.
— Papai e mamãe não estão para brincadeira!
Os times tinham que se cumprimentar, era o ritual depois de todos
os jogos. Jake não teve problema em apertar as mãos de Devon, eles
estavam sem capacete, então podiam ver as expressões um do outro.
Tinham que se conter, porque as câmeras estavam em cima deles, mas o
brilho de ódio no olhar estava ali. E Jake adorava isso.
— Bom jogo — Devon disse sorrindo, dando tapinhas no ombro de
Jake.
— Sim, ótimo jogo — o loiro respondeu.
— Não se ache muito — o outro sussurrou no seu ouvido.
— Não se preocupe, se eu me perder, tenho Jason para me trazer de
volta. Principalmente quando estamos na cama. — De novo, o loiro sorriu e
se afastou para cumprimentar outras pessoas.
— Você foi incrível — Devon disse para Jason quando o
cumprimentou.
— O Rhynos foi incrível, sou apenas uma parte dele.
— Não seja modesto, você está na sua melhor fase — o QB
adversário insistiu.
— Tenho ótimos motivos para isso — Jason respondeu. Antes que
saísse, Devon o abraçou, como se estivesse se despedindo.
— Ele não é a pessoa para você.
— Meça suas palavras para falar do meu namorado — Jason rosnou
e viu como isso acertou Devon em cheio, direto como um soco. — Apenas
se afaste e nos deixe em paz.
— Com licença — Jake disse, rindo. — Precisamos do nosso
capitão da defesa de volta.
Sem esperar resposta, Jake puxou Jason de lá, levando-o de volta
para os outros jogadores do Rhynos. Jason não conseguiu falar nada antes
que virassem o cooler de gelo nele e em Isaac.
No vestiário comemoraram, carregaram Kim no colo e o jogaram
para cima. Todos estavam felizes, riam e faziam piadas. Jason sentia que
tinha algo com Jake e esperava que Devon não tivesse nada a ver com isso.
Depois do banho, saíram e encontraram Maristela, Mauricio, Sofia e Rose,
todos emocionados, abraçando-os e dizendo o quanto o time tinha sido
incrível.
Sofia fez stories com o Jason, brincando que ele havia sido o melhor
do jogo, deixando os primos enciumados. Steve, Scott, Nathan e Logan se
aproximaram, e todos foram apresentados. Então Jake correu e conseguiu
trazer Jay e Sadie para perto. Ela surtou quando conheceu Steve Alexander
e viu que ele estava do lado de Scott Andrews.
— Meu lado Setts está chorando de felicidade! — ela disse,
abraçando o ator.
— O meu também — o ator respondeu.
— Sr. S.A.! Eu sabia! — ela gritou e o abraçou de novo.
— Dessa vez, acho que perdi minha mulher. — Jay suspirou.
O final da noite foi na casa de Jake. Pediram pizzas e bebidas,
mesmo Rose bebeu. Já tinha passado da meia noite quando todos foram
embora. Nathan estendeu o convite para a viagem que fariam no dia
seguinte para Carson e Chase, que aceitaram na hora. Eles nem sabiam
quem iria lutar, mas não recusariam uma viagem a Nova York de graça.
— Tudo bem? — Jason perguntou quando voltaram para sua casa.
— O que Devon falou para você?
— Ele é só um idiota.
— Concordo, um imbecil que perdeu a chance de ter você na vida
dele. Mas ele sabe que fez merda e sabe o que perdeu, vai continuar
correndo atrás de você como um cachorro atrás do pneu. Mas, como no
caso do cachorro, se ele te tivesse, não saberia o que fazer.
— E você sabe o que fazer? — Jason o provocou.
— Péssimo momento para me provocar — Jake o avisou.
— E por quê?
— Eu te disse que sou territorialista e prezo muito por tudo que é
meu. Ver aquele filho da puta pondo as mãos me deixou furioso — o loiro
falava sério. Seus olhos estavam brilhantes de raiva, e Jason estava achando
muito mais sexy do que deveria.
— Por quê?
Jake prendeu Jason contra a parede e o beijou furiosamente. Ele
amava se deixar levar por Jason, mas não naquela noite. Segurou o rosto do
moreno pelo queixo e o beijo com fúria, para que ele nunca se esquecesse.
— Ainda me pergunta o motivo?! — exclamou, irritado, mordendo
a pele do pescoço de Jason. A mão livre foi para dentro da calça do moreno,
masturbando-o e lembrando a quem ele pertencia.
— E por quê? — Jason teve a ousadia de perguntar, mesmo
ofegante.
— Porque você é meu!
Então abruptamente o virou de frente para a parede, colando seu
peito nas costas dele. Estavam completamente vestidos, Jake se esfregava
em Jason, seu pau duro separado da bunda do outro por aquelas camadas
tecido.
— Eu sou seu, não é? — o moreno perguntou ofegante. A mão do
loiro estava dentro da sua calça, o movimento era áspero e o fazia gemer.
— Sim! — Jake foi taxativo, mordendo o pescoço do outro, que
gemeu.
— Então o que vai fazer agora?
Jake puxou Jason em direção à cama, onde o jogou e se sentou em
cima do seu quadril, os dois duros e se esfregando, precisando de mais.
— Você vai me receber tão bem... — o loiro disse, subindo a
camiseta de Jason e passando as pontas dos dedos por seu abdômen. —
Tenho certeza de que vai me apertar tanto...
— Sim. — O DE ofegou, tirando a própria camiseta e a jogando em
algum canto do quarto.
— Vai gemer alto? Vai gritar meu nome? — o QB perguntou com
aquele maldito sorriso provocador enquanto abria a calça de Jason.
— Me faça gritar.
— Vou adorar.
Eles se beijaram de novo, com mais raiva ainda. Tinha muita
adrenalina para tirarem do organismo, muita raiva e tesão. Livraram-se das
roupas restantes, quase as rasgando. Não se importavam se deixariam
marcas um no outro, mordiam-se, beijavam-se, arranhavam-se e se
lambiam. Jake mordeu e deixou um chupão no pescoço de Jason, o que fez
o moreno gemer, o loiro sabia que a marca estaria ali no dia seguinte e
gostava disso.
— Jake... Porra... JAKE! — Jason gemia enquanto o loiro o chupava
e o preparava. Os dedos tocando no lugar certo, os choques de prazer
percorrendo o corpo.
O loiro engoliu o pau do moreno, esfregava sua língua e deixava os
dentes rasparem de leve. Sentia o gosto do pré-gozo, que vazava da fenda, e
o lambia. Queria tudo, mas, principalmente, queria sentir a entrada de Jason
o apertando quando o moreno gozasse.
Jake gostava daquela visão, Jason destruído na cama, ofegante,
suado, cabelos bagunçados e, mesmo assim, implorando por mais. Jake
gostava muito daquilo e gostava mais ainda de saber que ele que estava
fazendo isso com o moreno.
Passou mais lubrificante na entrada dele e no próprio pau, então o
penetrou. Não sabia o que era mais delicioso de assistir, seu pau sendo
engolido ou a expressão de prazer de Jason.
O ritmo era forte, sem tempo para respirar ou pensar. Mesmo assim,
Jake não deixava de lamber e beijar o corpo do moreno, sugar seus mamilos
ou beijar sua boca. Os corpos não paravam, o barulho molhado, os gemidos
altos e gritos de prazer.
Viraram-se na cama, e Jason cavalgava em Jake, tudo era
desesperado, forte e intenso. O loiro passava suas mãos pela coxa do
moreno, segurava sua cintura, seu quadril ia de encontro com a bunda do
DE. O pau do loiro acertando o ponto exato do moreno era o que o fazia
gemer tão alto. Jason se inclinou e beijou Jake, daquele mesmo jeito
desesperado. O prazer era muito forte, e acabaram gozando juntos.
Eram uma bagunça, meio abraçados, ofegantes, sorrindo como
idiotas, suados e pernas entrelaçadas. O torpor pós-orgasmo estava se
desfazendo, conseguiam pensar melhor e muita coisa passava pela cabeça
de Jason. Ele queria falar, mas não sabia como e quis se agredir. Lá estava
seu trauma, aparecendo de novo e o impedindo de algo.
— Você está bem? — Jake perguntou, preocupado. — Te
machuquei ou fiz algo errado?
— Não queria ser essa pessoa quebrada que não consegue dizer o
que sente. — O moreno sabia que estava estragando um momento perfeito e
se sentia horrível por isso.
— Mas demonstra, isso é muito importante — o loiro respondeu, e
Jason o olhou confuso. — Você não percebeu que sempre que jogam algo
em mim, seja brincadeira ou não, você entra na frente? Sejam as almofadas
de Carson, bolas no treino ou até mesmo o gelo no final dos jogos. Tem
mania de abrir as portas, sejam do carro ou de casa, para mim. Quando pega
algo na geladeira, sempre pega dois, para me dar um. Ou como compra
chocolate meio-amargo sempre que vai no mercado, mesmo que seja
sozinho, só porque é o meu favorito.
— Eu não tinha percebido — murmurou.
— Eu sei, porque, assim como eu, você teve pouco afeto, então
cuida muito bem do que ama. Você faz qualquer coisa que Rose queira, a
trata como rainha e, se ela quisesse, gastaria seu dinheiro inteiro com ela.
Nossa diferença é que você é gentil e delicado, eu sou bruto e impaciente,
talvez debochado — Jake falou, e Jason riu baixinho. — Nós nos
entendemos, então sei o que sente sem que precise me falar. Não tenho
problemas de falar, porque estava esperando você estar pronto. Mas eu te
amo.
— Eu também te amo — Jason sussurrou, quase surpreso de ter
conseguido falar. Então olhou nos olhos do loiro, que sorria emocionado e
conseguiu usar o tom de voz normal. — Eu te amo, Jake Lewis.
— Também te amo, Jason Brody.
— Caralho! — Carson gritou e fez careta quando sangue espirrou na
arena.
Jake entendeu por que chamavam Connor Rossell de Devil, não
tinha outra forma de descrever o jeito como ele lutava. Ele não recuava,
tinha uma expressão quase demoníaca e era muito agressivo, ainda mais do
que todos os lutadores que tinham passado por aquele ringue.
A postura de Connor não era só violenta, era quase vingadora. Jake
não sabia muito bem quem era o adversário do Devil, mas achava que havia
alguma questão muito pessoal. E, bem, não seria justo ele que o julgaria,
caso fosse isso mesmo.
Era o domingo após o jogo, mal tiveram tempo de se despedirem de
Maristela, Mauricio e Sofia e embarcaram no jatinho de Nathan para Nova
York. Jay, Sadie, Kevin e Nora tinham sido convidados e estavam
aproveitando o momento. Nora, noiva de Kevin, nem gostava de lutas de
MMA, mas não era louca de recusar uma viagem de jatinho patrocinada por
Nathan Grant e tendo Steve Alexander como companhia. Ele não se fez
tímido e tirou várias fotos com todos que quiseram, quase como se quisesse
deixar registrado que estava naquela viagem.
A comissária ofereceu algumas bebidas, e Carson brincou dizendo
que ser amigo de Jake, finalmente, estava dando frutos, enquanto a
comissária lhes servia champagne.
— Falei que devíamos comprar um maior, assim acomodamos os
outros com mais conforto — Nathan comentou para o marido.
— Está usando-os de desculpa, não precisamos de outro jatinho. —
Logan riu, estava sentado no colo de Nathan, comendo musse de chocolate.
— Esse é o tipo de conversa que eu quero ter — Carson comentou, e
Scott concordou.
— Vou emprestar esse para Maverick, então precisaremos de outro
— o bilionário resmungou.
— Por que não dá de presente, logo? — Logan brincou e Nathan
pareceu concordar.
— Ele está falando sério? — Jason perguntou para Steve, que deu
de ombros.
— Nunca se sabe, ele é tipo um Tony Stark latino e gay — o ator
respondeu.
Chegaram rapidamente ao destino, mas não era no aeroporto
comum, era um menor, apenas para pessoas milionárias. Já era fim de tarde,
por isso, uma limusine os levou para um restaurante. Em momento nenhum
tiveram que pagar algo.
Apesar das brincadeiras, fotos e pequenos vídeos, tinham que tomar
alguns cuidados. Scott não deveria estar naquela viagem, então ele não
poderia aparecer em nada. Jake e Jason não podiam aparecer demonstrando
nenhum tipo de carinho. Mas, em um momento de brincadeira, quando
ninguém estava filmando e estavam fora da visão dos outros clientes, Jason
provocou Jake, que o beijou.
— Espera, o quê? — Kevin exclamou, espantado.
— Eu sabia! Eu sabia! — Nora gritou, feliz. — Desde que vi vocês,
eu sabia! Assim como suspeitei de vocês desde aquelas fotos! — Nora
disse, apontando para Steve e Scott.
— Calma, então aquelas histórias de fãs são verdadeiras? — Kevin
perguntou, desnorteado.
— Quando você disse que Nora tentou mostrar que era a fim e você
era lerdo para entender, você quis dizer lerdo mesmo, né? — Chase negou
com a cabeça.
— Ele contou que, no nosso primeiro encontro, eu que tive de beijá-
lo, por que nem isso ele entendeu? — Nora perguntou.
— Mentira! — Carson riu.
— Eles estão juntos! — Kevin apontou para Jake e Jason. — Desde
quando?
— Antes do boot camp. — Jake deu de ombros.
— Antes? — O linebacker estava fazendo as contas. Jay e Jason o
puxaram para um canto para conversar e explicar a situação. O DE não
queria que Kevin ficasse chateado, sentindo-se excluído.
— Jake é bissexual, Jason é gay. Estão sempre juntos, se tocando e
rindo. As pessoas o chamam de “papai e mamãe”, eles têm o shipp mais
famoso nos esportes, dormiram no mesmo quarto por duas semanas,
chegam e saem juntos do treino, e Kevin não entendeu? — Carson negou
com a cabeça.
— Viu o que passo? — Nora perguntou.
Com tudo resolvido, foram para o local da luta. Haveria algumas
naquela noite, eram combates de diferentes categorias, a última era a mais
esperada, porque Connor Rossell estava defendendo o cinturão de campeão.
Era tão importante, que estava sendo transmitida na televisão. Por isso,
Scott estava usando boné e tentava se esconder. Ele deveria se sentar longe
de Steve, mas o ator tinha outros planos.
Os lugares que Sadie tinha conseguido eram bons, mas Nathan
conseguiu lugares muito melhores, eles se sentaram exatamente na frente do
ringue. Na primeira fileira estavam sentados Chase, Carson, Jake, Jason,
Steve e Nathan. Exatamente atrás deles estavam Kevin, Nora, Sadie, Jay,
Scott e Logan.
— Uou! — todos gritaram quando Devil chutou o adversário, que
bloqueou. Mas, mesmo com a perna sendo segurada, Connor girou o corpo
e acertou um chute com a perna livre.
Quando o ruivo caiu no chão, Devil foi para cima, dando uma
sequência de socos violentos. O homem no chão tentava se defender, mas
Connor parecia uma fera indomável, que só recuou quando o juiz o tirou de
cima.
— Entendi por que você é fã desse cara — Jake sussurrou para
Jason. — Ele é muito bom.
— E nem estamos no último round. — O moreno riu.
— E você disse que ele é tranquilo. — Scott bateu no ombro de
Steve quando Connor acertou o adversário com força suficiente para
quebrar um osso.
— Ele é, quando você não está no ringue com ele. — O ator deu de
ombros. — Depois que a luta acabar, levo vocês para o conhecer, ele é de
boa. Só não provocar.
— Me sinto muito mais seguro agora. — Logan riu, e Nathan o
olhou como se fosse loucura do marido achar que alguém poderia fazer algo
com ele.
— Ai! — todos exclamaram com o golpe que Connor deu no ruivo.
— Sinceramente, espero que esse cara conheça um bom cirurgião
plástico, porque isso não vai ficar normal — Carson comentou.
— E que consiga um bom desconto, porque vai ficar caro arrumar a
cara depois dessa — Chase completou, e todos concordaram.

— Olá, vocês vão entrar no camarim, não é? — um rapaz bem mais


baixo que a maioria os chamou. Ele era bem magro, tinha cabelos castanhos
ondulados e olhos verde-claros. Usava um moletom amarelo que
combinava com ele. — Sou Taylor, o assistente do Sr. Black, vou levá-los
até ele.
O assistente os conduziu por um corredor, fazendo-os andar pelos
bastidores da luta, até entrarem no camarim de Connor Rossell. O lugar era
espaçoso e tinha um grande sofá negro em um canto. Devil ainda estava
com o calção que usava na luta e estava terminando de vestir uma camiseta.
Jake não perdeu o olhar faminto que o lutador deu para seu assistente assim
que Taylor entrou.
— Steve! — Devil cumprimentou o ator, e logo eles estavam
conversando enquanto o ator apresentava todas as pessoas que estavam com
ele.
— Com licença, você é o Steamroller, não é? — Taylor perguntou
hesitante. Ele estava encostado na parede oposta de onde Connor recebia os
convidados. Scott tinha levado sua câmera e registrava alguns momentos.
— Sou, sim. Você gosta de futebol americano? — Jason perguntou,
simpático.
— Um pouco, mas é que..., bem, pode parecer besteira..., mas queria
te agradecer.
— Me agradecer?
— Minha irmã tem leucemia, ela está internada e, bem, as coisas
não foram fáceis. Em umas das noites que passei com ela no hospital,
estava com insônia e escutei um podcast do qual você participou. Você
estava falando de como foi lidar com a doença do seu avô. Foi muito
importante para mim, foi tão bonito e reconfortante, me deu forças. Então,
obrigado. — Taylor sorriu triste, e Jason sentiu muito por ele. Sem pensar, o
DE abraçou o mais baixo, e Taylor parecia precisar daquele abraço.
— Não estou dizendo que será fácil, nem que será rápido, mas tudo
passa. O bom e o ruim — Jason murmurou, e Taylor o abraçou mais forte.
— Se mantenha forte, seja feliz quando tiver momentos bons, sinta a dor
quando ela vier. Viva cada momento, processe o sentimento, assimile ele e
você vai sobreviver. Quando for demais, busque apoio.
— Não tenho uma rede de apoio muito extensa. — Taylor suspirou.
— Agora você tem a mim, tudo bem? — Jason o soltou e fez
carinho no cabelo do outro, que tinha olhos úmidos, mas sorria. — Salve
seu número no meu celular e mande uma mensagem para você, para salvar
o meu. Quando precisar conversar, me liga ou manda uma mensagem, tudo
bem?
— Sim. — Taylor aceitou o aparelho e fez o que o outro pedira. —
Sabe, as camisetas do Rhynos são bonitas, principalmente aquela que é toda
amarela.
— Você gosta de amarelo, não é? — Jason perguntou rindo,
indicando o moletom, e Taylor sorriu, concordando e devolvendo o celular
para o DE. — Vou te mandar uma dessas camisetas de presente.
— Sério? — Os olhos dele brilharam. — Obrigado!
— Belcher! — Connor chamou sério. — Já acabou de conversar?
— Ops. — Taylor riu, e Jason o acompanhou.
— Este é Jason Brody, o famoso Steamroller — Steve o apresentou
quando o moreno chegou perto de Connor.
— Prazer em conhecê-lo — Jason disse sorridente, estendendo a
mão para o lutador. — Sou seu fã há tempos.
— Obrigado — Connor resmungou.
O lutador apertou a mão de Jason muito mais forte do que precisava
e o encarava com o cenho franzido. O DE não era burro, percebeu o
desafio, era uma ameaça não tão velada, só não entendia o que tinha feito.
Então Jake colocou a mão sobre o ombro de Connor, encarando-o sério.
— Solte — Jake ordenou, e Connor o olhou do mesmo jeito que
olhava Jason antes.
— Então, Connor, esse é Jason, namorado de Jake — Steve disse,
apaziguando a tensão, e o lutador pareceu confuso. — Assim como Scott e
eu, os dois ainda não assumiram o relacionamento, mas estão juntos e se
amam.
— Se estivéssemos no velho oeste, agora estaria rolando um fardo
de feno — Carson comentou.
— Se estivéssemos velho oeste, Connor teria atirado em Jason, e
Jake teria metralhado Connor — Chase completou, e a maioria riu, mesmo
que fosse desespero com a tensão.
— Cara, não quero arrumar confusão — Jason disse com calma.
— Acho que entendi errado — Connor respondeu, recuando. Jake
ainda estava ao lado do namorado, parecia pronto para brigar. Por fim,
Devil ergueu as mãos em sinal de paz. — Está tudo bem.
— Isso, que bom que resolvemos esse mal-entendido. Agora tudo
bem, ninguém vai brigar — Steve falou.
— Até porque ninguém quer ver um lutador de MMA e um jogador
da liga profissional de futebol americano saindo na mão — Jay brincou.
— Não seria uma luta de verdade — Connor respondeu, ainda
olhando para Jake.
— Não mesmo — o loiro falou, devolvendo o olhar.
— Vocês sabem que os dois estão quase brigando pela mesma coisa,
só a pessoa que é o foco que é diferente, não é? — Scott perguntou, e os
dois olharam para ele. — O quê? Não entenderam ainda ou estão fingindo
para se enganarem.
— Eu sei por que estou assim, você sabe? — Jake perguntou para
Connor.
— Pelo amor de Deus, parem com isso, Jason e Taylor só estavam
conversando, seus idiotas. Ninguém precisa ficar com ciúmes. — Nathan
bufou, irritado. — Agora podem parar de agir como crianças para sairmos
para beber?
— Senhor Black, não é melhor terminar de se vestir? — Taylor
interveio e o lutador concordou.

— E lá vem o Rhynos! Cara, estou empolgado com esse jogo! —


Every narrava.
— No primeiro jogo oficial da temporada, Raleigh Rhynos irá jogar
contra San Diego Vipers, na casa dos Vipers. Esse é o mesmo tipo que
eliminou os Rhynos na temporada passada — Jalen comentou. — Será que
virá a redenção do Rhynos?
— Depois de uma pré-temporada perfeita, da qual saíram invictos,
inclusive, ganhando de um dos atuais favoritos, espero tudo neste jogo —
Every respondeu.
A música era de Eric Blake, o time tinha escolhido “I'm still here”,
porque falava de continuar de pé quando ninguém acreditava e voltar ainda
mais forte. Era uma mensagem clara, eles não tinham desistido, tinham
vontade e sede de vitória.
Tinha se passado algumas semanas, haviam jogado mais duas
partidas na pré-temporada e ganhado ambas. Depois da confusão com
Connor Rossell, a noite foi tranquila, apesar de Jake ter ficado um pouco
enciumado de Jason com Taylor. Mas, como o lutador pareceu ter o mesmo
pensamento, Jake não soltou Jason, e Connor não soltou Taylor, o que fez
os amigos soltarem piadas durante a noite.
— Ainda está bravo? — Jason perguntou quando chegaram à sua
casa. Eles dormiram na enorme cobertura de Nathan e, na manhã seguinte,
voltaram para Raleigh, afinal tinham treinos.
— Não diria bravo — Jake resmungou. Jason o abraçou e os dois
caíram no sofá.
— Diria puto da vida? — o moreno brincou.
— Não sei se fico puto por você ter abraçado aquele assistente ou
porque o Connor ficou irritado por você ter abraçado o assistente e quis te
bater.
— Eu nem tinha percebido que o Devil tinha sentimentos pelo
Taylor. Só conversei com ele e o abracei, porque o garoto precisava. Não
achei que fosse virar aquela confusão. — O DE riu.
— Por favor, assim que entramos no camarim, Connor comia Taylor
com os olhos. Na hora que ele percebeu que vocês estavam afastados, não
conseguia prestar atenção em mais nada do que falávamos, sempre olhando
para vocês. Quando você o abraçou, e eu vi que foi você que o abraçou,
achei que o Devil fosse pular em você.
— Não percebi mesmo.
— Você e essa sua mania de cuidar de todo mundo — Jake
resmungou, enquanto Jason ria.
— Você com ciúme é fofo. — O moreno beijou o rosto do loiro.
— Que bom, né? Porque o Devil com ciúme é assustador, e você
irritou o cara. — O QB revirou os olhos. — Quem sabe com isso, pelo
menos, ele toma alguma atitude.
— Viu? Serviu para alguma coisa.
— O senhor que não me irrite. — Jake bufou, e Jason riu de novo.
— Que merda, não quero que ache que sou do tipo ciumento e controlador.
— Não acho. Se pensasse isso de você, esse relacionamento já teria
acabado.
— Eu sei. — O loiro suspirou. — Não acho que você vai me trair e
essas merdas, mas sinto ciúme às vezes. No fundo é só uma insegurança,
porque não tive ciúme, mesmo quando Devon tentou falar com você. Mas
do Taylor, um garoto que eu nunca tinha visto na vida, senti.
— Você cresceu tendo pouco o que chamar de seu, por isso, cuida
muito do que tem. Me ver dando afeto e atenção a outra pessoa, sem
entender qual o nível da minha conexão com essa pessoa, te assustou. Ficou
com medo de que pudesse ser maior do que a minha com você.
— E eu que sou o psicólogo. — Jake bufou de novo, escondendo o
rosto no vão do pescoço de Jason.
— Também me sinto assim. Sabia que senti ciúmes na primeira vez
que vi Sofia? — o moreno confessou, e o loiro o olhou confuso. — Ainda
não sabia quem ela era. Mas ela pulou no seu colo, e vocês conversavam
com intimidade, me assustou um pouco.
— Eu tinha ciúmes da sua amizade com Jay e Sadie — o QB
murmurou. — Eles tinham você de verdade, sua atenção, brincadeiras,
carinho, sorrisos verdadeiros, e eu só tinha seus sorrisos educados antes de
você encontrar alguma desculpa para fugir de mim.
— É claro, eu estava apavorado com você. Não conseguia parar de
pensar em você, e você me provocava sempre. Não sabia se estava me
zoando ou falando sério.
— Acho que só consigo ser frio e calculista no campo. Quando se
trata de você, fico meio idiota.
— Mas é um idiota lindo — o moreno brincou, fazendo o outro rir.
— Tudo é muito novo, e ninguém aqui é perfeito, também tenho meus
problemas. Só temos que sempre conversar.
— E nunca dormir brigados. Quando um casal se acostuma a dormir
sem resolver as brigas, acaba ficando mais perto do término. É sério,
aprendi isso na faculdade. — Jake deu de ombros. — Mas confesso que
prestava mais atenção em coisas que poderia usar em campo.
— Fez psicologia só para ser um atleta melhor?
— Ser jogador era a única coisa que eu imaginava para a minha
vida, tudo o que fiz ou estudei foi para me ajudar a melhorar. Fui para área
de estudo do comportamento humano para entender meus adversários.
— Quando escolhi fisioterapia, foi porque sempre quis trabalhar
como o esporte. Imaginava que, depois que me aposentasse, poderia
trabalhar na recuperação de atletas.
— Sempre querendo cuidar dos outros. — Jake negou com a cabeça,
sorrindo. — Somos dois ferrados que só imaginavam a carreira, mas nunca
a vida pessoal, não? Porque eu nem pensava no que faria depois de me
aposentar.
— Agora pensa?
— Sinceramente? Quero uma família. Marido, casa, filhos, cachorro
ou gato, espero que seja um gato, mas aceito o que vier. — O QB deu de
ombros.
— Jake Lewis quer uma casa com cerca branca e uma família? —
provocou-o.
— Quem diria? — Riu. — Quero viajar e curtir antes, mas quero
uma família. Quero o pacote completo: viagens, férias, rotina, escola,
cuidar, educar, apoiar e amar. Acho que serei um bom pai.
— Tenho certeza. — Jason sorriu e o beijou. — Nunca me imaginei
em um relacionamento longo, construindo algo. Mas talvez a ideia pareça
boba.
— Não é boba. Temos muito tempo para pensar em algo.
Jason concordou, sorrindo. Tudo ainda era um grande talvez, mas a
ideia não o assustava mais ou o fazia sofrer. Então era um ótimo começo.
Dessa vez, foi Jake que sorriu e beijou o namorado.
— Jalen, me segura, que atropelo foi esse? — Every narrava o jogo.
— Rhynos veio com tudo, derrubou e passou por cima do Vipers.
Que início de temporada, meus amigos, que início!
O jogo se encerrou com um placar de 47 a 12. Os QBs se
cumprimentaram, e Trent Williams, QB do Vipers, conversava alegre com
Jake. Não havia ressentimento, Trent reconhecia que o time adversário tinha
jogado muito bem. Ainda brincou que na próxima o resultado seria
diferente.
A vitória foi comemorada com gosto, fizeram bagunça no hotel,
beberam um pouco, e tudo virou uma festa. Jake e Jason só conseguiram
comemorar a sós quando voltaram para Raleigh e tiveram uma folga, que
passaram trancados na casa do moreno e ignorado o mundo exterior.
A rotina continuava como sempre: treinavam, visitavam Rose uma
ou duas vezes por semana para jantar. Muitas vezes tinham que levar Chase,
porque ele faria um inferno se fosse deixado de lado, já que Rose era uma
das pessoas favoritas dele. Mas, então, Carson reclamaria por ter sido
excluído, então também tinham que o levar. Nesses momentos, Jason sentia
que o apelido “papai e mamãe” fazia um pouco de sentido.
Os jogos continuavam acontecendo, um por semana. Alguns tinham
sido realmente difíceis, tanto que por um tempo os adversários estiveram à
frente no placar. O jeito como o time parecia sintonizado, como se a defesa
obedecesse a qualquer comando que Jason desse pelo olhar, ou como o
ataque parecia saber o que Jake estava pensando em fazer, estava ficando
conhecido. Os jogos estavam sempre lotados, os produtos oficiais do
Rhynos estavam sempre se esgotando, e o agente de vários jogadores do
time, incluindo Jason, estava tendo problemas para gerenciar a quantidade
de propostas para publicidade.
— Deveria trocar aquele Albert e contratar a tia Maristela — Jake
opinou em uma das noites que estavam na casa do moreno.
— Nunca precisei que precisaria de um bom agente, Albert foi bom
até agora, mas ele é meio antiquado. Só assinei com ele porque já estava no
time mesmo.
— Quando o contrato com ele acaba?
— Dezembro — Jason respondeu, sentando-se ao lado do QB,
segurando o balde de pipoca, do qual o outro já tinha se apoderado, como
sempre fazia.
— Ah, nem falta tanto. Fale com a tia, ela iria adorar cuidar da sua
carreira. — O loiro deu de ombros, ajeitando-se ao moreno para assistirem
a “Rogue One”. Eles tinham decidido que naquela semana maratonariam
todos os filmes da saga “Star Wars”. Mas Jason deixou claro que não veria
“Han Solo”, independentemente do que acontecesse.
Era outro assunto não comentando, mas eles estavam morando
juntos. Não tinha sido nada oficial, mas Jake tinha mais coisas na casa de
Jason do que na sua. O moreno tinha lhe dado uma chave para “facilitar”.
Ainda passavam tempo na outra casa, mas era só para jogar ou sair com
Carson e Chase. Além disso, Jake e Jason quase nunca dormiam separados.
— Mais uma thread provando que estamos em um relacionamento.
— Jake riu, mostrando o celular para o moreno.

@jasechild
Jase Brodi – A linha do tempo
Desde que assisti a um dos vídeos virais do jogo deles, fiquei obcecada por
eles. Então pesquisei tudo, indo fundo mesmo, e reuni fotos, vídeos e datas
para provar que eles são um casal muito feliz e nem fazem questão de
esconder.
Segue o fio

@jasechild
Jake ainda estava em Louisville e estava prestes a ganhar um campeonato
nacional. O time assiste a um jogo da Universidade de Durham, e
adivinhem quem jogava pela Durham?
Ganhou um doce quem disse “Jason Brody”

— Por que você estava com o cabelo descolorido? — Jason riu da


foto, que era um print de uma postagem antiga da rede social do colégio em
que Jake estudava. No print, o time de Jake estava assistindo ao jogo da
Durham, a pessoa tinha grifado a data, o local e a legenda.
— Porque éramos adolescentes burros, e o time inteiro fez isso. —
O QB revirou os olhos.
A pessoa fez uma thread completa, óbvio que alguns detalhes
estavam errados ou fora de contexto, mas, em geral, ela tinha pesquisado
bastante, o que devia ter dado um bom trabalho. Algumas pessoas
acrescentavam fatos ou fotos, como fotografias do time em que eles
aparecessem no fundo sendo carinhosos um com o outro.
Havia algumas pessoas que as chamavam de loucas, até mesmo
fetichistas. Jake e Jason queriam poder defender os fãs, eles tinham se
apegado ao shipp e gostavam de ver as postagens. Era bom saber que,
mesmo não assumidos, eles tinham apoio.

@kathxx
Vocês viajam muito. Eles não podem ser amigos? Por que tem que enfiar
shipp no meio de tudo?

@jasechild
É a minha opinião, que postei no meu perfil. Se não gostou, é só ignorar

@taypistol
Agora não podem postar foto juntos que já são um casal? Então está
dizendo que nessa foto que o Jason está abraçando esse cara, ele está
namorando o cara?

@elevenx
Esse cara de amarelo é o Taylor, assistente do Connor Rossell, que, por
acaso, tem fotos deles com o Jason, porque são todos amigos. E essa foto é
de uma luta semanas atrás, sabem quem mais estava lá? Jake Lewis

A pessoa postou uma das fotos que Scott tinha tirado, e Jason nem
sabia quem tinha postado. Era de uma mesa do bar, e algumas pessoas
faziam careta para a foto, outros estavam sérios. Na foto apareciam Taylor,
Connor, Nathan, Logan, Jake e Jason.
@jasechild
Engraçado que nessa foto tem dois casais e dois “amigos”, né?
Mas é a gente que viaja

Jake sorriu daquele jeito de quem ia aprontar, Jason só negou com a


cabeça e sorriu.
— Vai em frente — Jason disse, porque realmente não se importava
mais. O medo não falava mais por ele.
— Vou pegar leve — Jake disse, beijando o rosto do namorado, mas
o moreno duvidava.

@jlewis
Incrível como as pessoas só enxergam o que querem, mesmo que a verdade
esteja bem diante dos seus olhos
Ou no fundo das fotos...

Jason riu quando viu o post. Talvez seu “eu” passado ficasse
mortificado se algo assim fosse dito, mas o “eu” do presente estava achando
muito engraçado. Jake bloqueou o celular, aconchegou-se nos braços do
namorado, e começaram a assistir ao filme.
— O que estão achando da temporada do Rhynos até agora? — o
apresentador do programa esportivo perguntou.
— O que tem para achar? Eles estão invictos — um dos
comentaristas respondeu. — Depois das últimas temporadas, nunca
imaginei que diria isso, mas Rhynos é um dos times mais chances de chegar
ao Super Bowl.
— Não acha cedo para falar isso? — outro perguntou.
— Cedo? Estamos chegando aos playoffs, e nem sinal do Rhynos
diminuir o ritmo — a comentarista, única mulher do programa, disse. —
Escutem o que estou falando e podem me cobrar depois: Rhynos estará no
Super Bowl e, provavelmente, será o vencedor.
Eram quatro comentaristas, três homens e uma mulher, além do
apresentador. Dois dos comentaristas reclamaram, dizendo que era cedo,
que muita coisa ainda poderia acontecer, já que faltavam quase dois meses
para os playoffs.
— Eu sei, mas vocês vêm algum time com essa linearidade? Já na
pré-temporada eles bateram de frente e venceram os Steel.
— Mas pré-temporada não conta. — Um deles bufou.
— Ok, o próximo jogo é contra o Sand Storm, atual campeão do
Super Bowl — o comentarista que concordava com a colega falou. —
Veremos qual a situação do Rhynos, mas concordo com Sandra. Não vejo
nenhum time capaz de pará-lo.
— O que podemos concordar é que a saída de Robbie Brendel fez
muito bem para o time. O que Hill conseguiu fazer com os jogadores essa
temporada foi surreal. E, como os fãs dizem, “papai e mamãe” estão sendo
implacáveis.
— Gosto mais de Jase. — Sandra riu.
— A união de Jason Brody e Jake Lewis foi a melhor coisa que
pôde acontecer. Estou falando como atletas, até porque se forem mesmo um
casal, não temos nada a ver com isso e aceitamos, mesmo que eu ache
muito difícil ser verdade. Mas que eles mudaram o Rhynos, isso é óbvio —
o apresentador disse.
— “Acho difícil ser verdade” — Jake desdenhou, desligando a TV.
— E ainda é apresentador de um programa esportivo. Deveriam dar o
programa para a Sandra George, ela é muito mais inteligente.
— Será que sua opinião não está baseada em ela ser uma grande fã
sua? — Jason riu. Ele estava colocando a louça do jantar na lavadora.
— Nossa — Jake o corrigiu. — Ela acabou de dizer que nós
estaríamos no Super Bowl.
— Mas fez um vídeo para as redes sociais dela explicando por que
acha que você é um dos maiores QBs da geração atual.
— Bem, ninguém pode culpá-la por ter bom gosto. — O loiro deu
de ombros e beijou rapidamente o namorado, que ria. — Quer sorvete?
— Aceito.
Mais algumas semanas se passaram, o ritmo de treinos continuava
intenso, o Rhynos ainda não havia perdido e queria manter assim. O assédio
da mídia estava um pouco mais forte que o comum, Lindsay tinha lidado
muito bem com tudo. Rumores sobre a sexualidade de Jake tinham surgido,
supostas fontes diziam que ele tinha tido relacionamentos com homens
durante a faculdade, mas ninguém tinha mostrado o seu rosto ou teve seu
nome revelado.
Chase tinha conseguido entrar em contato com uma amiga deles da
universidade, ela entendeu o que estava acontecendo e postou uma foto
beijando Jake com a legenda “Quando você tem 20 anos e nem imagina que
seu namorado da universidade se tornará um astro da liga nacional de
futebol americano”. Na verdade, eles nunca namoraram, beijaram-se de
brincadeira em uma festa de ano novo, mas a mídia não sabia.
Jake agradeceu a ajuda, porque isso lhe deu mais tempo para pensar
no que fazer, mas tinha sido desconfortável. O loiro odiava ter que esconder
quem era e sentia como se estivesse mentindo para todos. Jason se sentia
mal porque sabia que Jake só estava aceitando isso por ele. O que os rendeu
longas e sinceras conversas.
Lindsay, Isaac, Jake e Maristela tiveram reuniões secretas. Jason só
teve acesso a elas, porque o loiro não queria esconder nada do namorado.
Carson acabou participando de algumas. Jake e Carson queriam poder falar
livremente da sua sexualidade, por isso, estavam pensando em como
preparar o terreno.
A RP queria estar pronta para qualquer bomba que pudesse aparecer
e, por isso, já estava elaborando um plano. Inclusive, estava aos poucos
ligando o time a causas sociais, já colocando que apoiavam a comunidade
LGBT e preparando o terreno. Isaac estava conversando com os outros
coordenadores e comissão técnica, tendo pequenas conversas com diretores
e preparando aos poucos.
Uma coisa que tinha impactado a mídia foi que Steve Alexander, o
sonho molhado de muita gente, tinha saído do armário da maneira mais
escandalosa que conseguiu. Lindsay até brincou que depois do que ele fez,
não tinha como Jake ser pior.
Então, por enquanto as coisas estavam normais. As teorias
continuavam a rolar na internet, eles continuavam a sair juntos, sendo só os
dois ou com os outros. Tinham ido encontrar Steve, Scott, Nathan e Logan
algumas semanas antes. Jogaram na quinta-feira e passaram o final de
semana seguinte com eles e alguns amigos.
Em um dos dias, acabaram bebendo em uma sala de um karaokê.
Todos já tinham bebido a ponto de ficarem bem altos, e o ponto alto da
noite, pelo menos para Jake, foi quando Jason, Nathan e Steve cantaram
Locked Out Of Heaven, do Bruno Mars. Era para ser um tipo de declaração
de amor para Jake, Logan e Scott, mas na parte que diz que “o seu sexo me
leva ao paraíso”, as intenções já tinham mudado. Então, veio “I Wanna Be
Your Slave”, do Maneskin, e tudo desandou.
Apesar de Jake ter certeza de que a música tinha sido ideia de Steve,
Jason e Nathan não ficaram tímidos. A performance deles foi como
prenúncio do que viria mais tarde. Jake estava com muito calor e sentindo
sua calça ficando apertada, bastou um olhar para o lado para ver que Logan
e Scott estavam do mesmo jeito.
Os três devolveram as provocações e, um pouco mais tarde, cada
casal estava em um canto da sala de karaokê e decidiram ir para o
apartamento de Nathan, porque todos precisavam de algum lugar privado
antes que fosse tarde demais e acabassem vendo mais dos outros do que
gostariam. Não que já não estivessem muito perto disso. Ninguém precisou
falar nada, cada casal foi para um quarto, e ficaram lá por horas.
Jake e Jason transaram algumas vezes naquela madrugada e de
manhã, a primeira foi para descontar todo o tesão que estavam sentindo e
todas as provocações que ambos tinham feito durante a noite. Jason fez Jake
implorar, apenas porque gostava dos choramingos desesperados.
Mas quando transaram de manhã, ainda estavam sonolentos. Foi
muito mais íntimo que as outras, mesmo com toda a loucura. Foi lento,
cheio de beijos e declarações de amor. Jason segurava a mão de Jake, seus
dedos entrelaçados, enquanto penetrava o loiro, beijando seus lábios e
pescoço, dizendo o quanto o amava. Jake sorria e retribuía os beijos,
sussurrando que também o amava, que sempre havia amado.
Agora estavam focados no próximo jogo, San Antonio Sand Storm
eram os atuais campeões do Super Bowl. Também não tinham perdido
nenhum jogo até então e eram o favorito da maioria de chegar à final de
novo. Quando ganharam do Steel, foi na pré-temporada, então não contava
como uma grande vitória, já que usava de desculpas que não tinham
realmente se esforçado, porque não valia pontos na competição.
— Carson disse que comprou a nova versão daquele jogo de que
vocês estavam falando na semana passada — Jake comentou enquanto
tomavam sorvete e assistiam à série Sherlock. — Ele disse que vai jogar
todos os dias, para treinar bastante, antes de vocês jogarem juntos.
— E vai falar que não jogou ainda, né? — Jason riu, e o loiro
confirmou.
A tradição das noites de jogo se mantinha, eles tentavam fazer
quando podiam, mas como mais gente participava agora, como Kevin, Jay,
Odell e outros jogadores, eles criaram duas. Uma vez por mês todos os
jogadores do time que quisessem participar eram bem-vindos, o que queria
dizer que às vezes a casa ficava tão cheia quanto se estivessem dando uma
festa.
Mas, pelo menos uma vez por mês, eram apenas Carson, Chase,
Jake e Jason. O moreno desconfiava que só tinha sido incluído por ser
namorado de Jake, mas Carson respondeu que era Jake que tinha sorte de
estar namorando o DE, porque ele — Carson — e Chase só queriam jogar
contra Jason. Eles estavam levando a sério tentar derrotar Jason e
comemoravam cada pequena vitória, mesmo que no final o verdadeiro
campeão sempre fosse o moreno.
O celular de Jason notificou algumas mensagens, e ele o pegou,
distraído. Jake e ele estavam combinando de levar Rose a uma feira para
amantes da jardinagem que teria em alguns dias. Maristela e Mauricio
estariam de volta a tempo, então poderiam ir todos juntos. Mauricio estava
aprendendo jardinagem com Rose e estava muito empolgado com o jardim
da nova casa, aquela que ficava na mesma vizinhança.
— O que foi? — Jake perguntou quando percebeu a expressão
estranha de Jason. — Alguma notícia ruim?
— Meu irmão, Wade, quer falar comigo — o moreno respondeu,
mostrando o celular para o namorado.
— Wade é o babaca ou o inútil? — o loiro perguntou, deixando as
vasilhas de sorvete em cima da mesinha de centro.
— O babaca — Jason respondeu, rindo baixinho. Aquelas eram as
definições que Rose tinha ensinado.
— Eu não sabia que ele tinha seu número.
— Nem eu. — O moreno parecia confuso.
— Isso está estranhando, Rose nunca passaria seu contato para
ninguém da sua família.
— Não, mas não acho que para eles tenha sido difícil conseguir.
— Não gosto disso — Jake comentou. — Se fosse algo normal, teria
conversado com Rose e ela teria te passado o contato. Ele cortou caminho.
— Também estou achando estranho — Jason falou, lendo as últimas
mensagens.
— O que ele quer?
— Aparentemente, “reconectar”.
— Reconectar? Como assim?
— De acordo com ele, Wade percebeu que sente minha falta e quer
conversar. Ele quer voltar a ter um relacionamento de irmãos comigo.
— Voltar? Vocês já tiveram um?
— Na cabeça dele, sim. — Jason suspirou. — Não sei o que fazer.
— Bem, você pode ignorar. Também pode mandá-lo tomar no cu e
depois bloquear, que é o que eu faria. Mas, é o que eu acho mais a sua cara,
podemos marcar um jantar em um lugar neutro e escutar o que ele tem a
dizer.
— Podemos? — o DE perguntou sorrindo, puxando o loiro pela
cintura.
— Não seja louco de pensar que vou te deixar sozinho nessa. E não
aja como se fosse diferente caso fosse eu quem estivesse prestes a me
encontrar com alguém da minha família.
— É, eu iria junto — Jason ponderou. — Vou marcar com Wade
aqui em casa. Quero que seja no meu território, onde posso expulsá-lo caso
aconteça alguma coisa.
— Quer marcar na minha casa? Carson e Chase aceitariam ficar na
parte de cima e me ajudariam a dar uma surra no seu irmão. Se fosse
necessário, óbvio.
— Primeiro que espero que o lance da surra não seja necessário.
Segundo: sua casa? Jake precisamos mesmo falar disso?
— Não recebi um convite oficial para morar aqui, então ainda moro
lá — Jake resmungou, pegando seu sorvete de volta.
— E precisa?
— Sim, precisa. E um pedido bem legal. Steve Alexander colocou o
padrão lá em cima. Se vira.
— Pensarei em algo. — Jason sorriu e beijou o rosto do namorado.
— Vou marcar com Wade na próxima quarta, não interfere nos treinos.
— Estarei o tempo todo junto e não prometo me comportar!

— Ainda bem que está aí, porque não estou gostando disso — Rose
disse.
— Também não, mas Jason precisa de um encerramento — Jake
respondeu. Eles estavam em ligação enquanto esperavam Wade chegar.
O loiro achou muito estranho que o irmão, que havia rejeitado Jason
por anos, marcasse o encontro para o dia seguinte a quando o DE respondeu
a mensagem. Era muito desespero para seu gosto, e ele deixou isso claro
para Jason, que concordava. Mas o QB entendia o moreno.
Jason nunca tivera um encerramento, as coisas nunca foram
conversadas, seus pais o mandaram para fora, e foi isso. Houve encontros
ocasionais e conversas superficiais sem interesse de nenhum dos lados.
Então o moreno estava vendo aquilo como sua chance de, possivelmente,
encerrar aquela história de uma vez.
Sentia-se melhor porque tinha Jake do seu lado, ele o fazia se sentir
seguro e amado, o que fazia muita diferença. Jason havia passado os
primeiros quinze anos da sua vida implorando pelo amor da sua família, até
que desistiu deles. Agora, com Jake, não precisava implorar, não tinha
sofrimento, eram só os dois vivendo e sendo felizes.
Noah, seu avô, dizia que, se não fosse fácil, não seria amor. Que
você pode estar no meio de uma guerra, lutando para sobreviver, exausto e
com medo, mas que os braços da pessoa que ama deveriam ser seu lugar
seguro. Se a pessoa que está com você não te faz se sentir assim e se você
não faz essa pessoa sentir o mesmo em seus braços, não é amor.
Enquanto Jason andava até a porta para atender a campainha, olhou
para Jake fofocando com Rose no celular e sorriu. Ele sabia que o que tinha
com Jake era amor.
— Jason! — Wade sorriu assim que o moreno abriu a porta.
O irmão o abraçou, mas Jason não correspondeu. Wade estava
sempre bem-vestido, com seu terno sob medida e cinto e sapato
combinando. Fazia anos que o DE não o via pessoalmente, não parecia que
ele tinha mudado, e era um pouco triste olhar para seu irmão e não sentir
nada. Mas ficou feliz porque isso incluía não sentir mágoa. Olhar para
Wade era como olhar para alguém que você acha parecido com alguém que
conhece. Aquela pessoa lembra alguém do seu passado, mas, na verdade,
ela mesma não é ninguém importante.
— Wade acabou de chegar — Jake sussurrou para Rose. —
Caramba, ele se parece com Jason, só que uma versão feia.
— Jason teve sorte que puxou Noah, Wade tem olho muito junto,
sabe o que dizem sobre pessoas de olho junto — a senhora respondeu
bufando.
— Vou desligar para ir até eles, te ligo mais tarde com atualizações.
— Certo, cuide do nosso menino.
— Não se preocupe, Rose, vou cuidar — Jake garantiu e desligou.
— Olá, sou Jake.
— Sim, sim, Jake Lewis. Eu acompanho as notícias. — Wade sorriu,
para o loiro, e isso o fez parecer uma fuinha. Eles apertaram as mãos
educadamente. — Você é considerado um dos melhores QBs da última
década. Dizem que é o que salvou o Rhynos. — Wade riu.
— Isso é exagero, Rhynos já tinha Jason. Apenas ajudei o ataque,
porque a defesa já tinha o melhor capitão da liga.
— Claro, meu irmão sempre foi o melhor — Wade disse, colocando
a mão no ombro de Jason. Jake não gostou nada daquilo; depois de tudo o
que havia acontecido, ele achava que era só chegar e tinha o direito de pôr
as patas imundas em Jason?
— Vamos jantar? — Jason sugeriu, escapando do toque de Wade.
— Vamos? Achei que seríamos só nós dois — o irmão comentou,
olhando de Jason para Jake.
— Hoje não — o loiro respondeu.
— Sinto muito Wade, muita coisa aconteceu e não me sinto
confortável de jantarmos só nós dois. O que precisar dizer para mim, pode
dizer na frente de Jake.
— Até porque, vai que Jason precisa de uma testemunha, não é
mesmo? — Jake disse, dando de ombros enquanto dava a volta pela mesa.
— Estou brincando, é claro.
— Claro — Wade concordou, incerto. — Sei que tudo foi difícil,
mas eu quero voltar a ter um relacionamento com você. Jason, você é meu
irmão, pode confiar em mim.
— Eu nunca pude, Wade, e esse sempre foi o maior dos nossos
problemas — Jason respondeu, sentando-se ao lado de Jake. — Mas estou
disposto a te ouvir.
— Obrigado — Wade murmurou, sentando-se. — Como as coisas
estão indo? Estou acompanhando as notícias, o time está indo muito bem.
— Sim, estamos. Domingo enfrentaremos nosso maior desafio por
enquanto, mas estamos focando em um jogo de cada vez — Jason
respondeu educado enquanto eles se serviam da macarronada que Rose e o
moreno haviam feito.
Na verdade, praticamente, só Jason tinha cozinhado. Jake e Rose
ficaram conversando o tempo inteiro e, em algum momento, abandonaram
o DE na cozinha para que Rose mostrasse a Jake a série antiga do Zorro, da
década de 60, que tinha no Disney+ e ela amava assistir quando era criança.
Os dois assistiram a vários episódios e combinaram de assistir tudo juntos
na folga dos treinos.
Jake observava a interação dos irmãos. Jason respondia
educadamente e dava a impressão de que estava interessado na conversa,
mas suas respostas eram apenas algumas variações das respostas que dava
para jornalistas que sempre perguntavam as mesmas coisas.
Wade falou que tinha se arrependido de como tratara o irmão, que
sentia sua falta e havia ficado com vergonha de entrar em contato. Jake teve
que tomar um grande gole de água para não comentar que era coincidência
a “vergonha” ter acabado justamente quando Jason estava se consagrando
um dos melhores jogadores da temporada.
— Até comentei com Brent que viria para cá, ele lamentou que está
na faculdade e não poderia vir.
— Não, espere — Jason o interrompeu. — Aceitei me encontrar
com você, e podemos conversar para tentar criar algum tipo de
relacionamento, mas não quero contato com o resto da família.
Principalmente Douglas e Lisseth.
— Papai e mamãe se arrependem de tudo, eu vejo isso toda vez que
seu nome é citado ou que aparece em alguma notícia.
— Não me importo, não quero contato. E, se você forçar algo, te
cortarei também — avisou.
— Claro, vamos nos seus termos. — Wade sorriu, e Jake quis
revirar os olhos. Podia ser implicância, mas não confiava em Wade.
O jantar acabou, e o loiro achou que teriam que enxotar Wade da
casa, mas ele acabou indo embora. Agora Jake e Jason estavam na cama,
conversando sobre aquilo.
— É normal eu não sentir nada? — o moreno perguntou.
— Como vai sentir algo por um estranho? — o loiro perguntou. —
Quando eu ia para minha cidade natal e via minha mãe, ela sempre me
abraçava, dizia que me amava, que estava orgulhosa de mim. Mas ainda
estava casada com meu pai, ainda morava na mesma casa e ainda dava
pequenas desculpas para tudo o que ele fazia. Não há amor que sobreviva.
— Você ainda a ajuda?
— Teoricamente sim, mas é tia Maristela que cuida disso. Ela separa
um valor para minha mãe e a mãe de Chase. Para a mãe de Carson, ela paga
a reabilitação toda vez que Esmeralda, a mãe dele e irmã mais velha da tia,
jura que vai mudar. O que, infelizmente, nunca acontece. Então ajudamos
nossas famílias biológicas, mas não temos muita interação. O único que vê
alguém é Chase, porque tem uma irmã mais nova e gosta dela.
— Mesmo depois de tudo, vocês ainda os ajudam, não é todo
mundo que faria isso.
— Não me ache um bom samaritano. Eu ajudava minha mãe, mas
estava cansado, porque sei que nunca vai mudar. Foi tio Mauricio que nos
convenceu a sempre ajudar. Ele disse que no futuro seríamos jogadores
famosos e, quando alguma rede de televisão fosse fazer reportagem, não
iríamos querer que parecesse que somos arrogantes e abandonamos a
família. Então era bom ter os recibos. — Jake deu de ombros, o que fez
Jason rir.
— Obrigado — o moreno sussurrou antes de beijar o loiro.
— De nada, mas pelo que está me agradecendo?
— Por ser assim e por estar aqui.
— Esperei oito anos para estar bem aqui, ninguém me tira daqui. —
Jake indicou a cama do moreno, o que fez Jason rir ainda mais. — Olha,
pode ser que seu irmão realmente teve uma crise de consciência e resolveu
reatar uma “irmandade” que só existiu na cabeça dele. Pode ser que sua
família esteja elaborando um plano obscuro e nefasto que precisa de você.
Ou alguém precisa de um rim, sei lá. Não sabemos o que é, mas estamos
juntos nessa. Assim, como você tem a mim, têm Rose, Chase, Carson, tia
Maristela, tio Mauricio, Sofia, Jay, Sadie, as crianças. E agora temos gente
famosa do nosso lado. Temos até um bilionário na nossa lista de contatos e
nos convidando para passar as férias com ele.
— Isso é surreal. — Jason sorriu.
— Sim. — Jake riu. O loiro se virou e se sentou no colo de Jason,
olhando em seus olhos. — A questão é que, depois de tudo o que aconteceu,
tudo que conquistou e tudo que tem agora, principalmente as pessoas que
têm na sua vida agora, sua família não importa. Eles escolheram esse
caminho, não você, então não se culpe por nenhuma consequência. Se eles
querem estar na sua vida de novo, eles que corram atrás e conquistem seu
afeto e confiança. Deixe que eles se esforcem, a única coisa que você tem
que fazer é julgar se esses esforços estão valendo a pena. E, se no final você
achar que não, corte eles da sua vida sem remorso nenhum.
— Não dizem que o perdão é uma coisa importante? — o moreno
provocou, fazendo carinho no rosto do loiro.
— Se eles não tivessem sido uns merdas com você, não precisariam
de perdão — Jake desdenhou. — Quem precisa de segunda chance é quem
fez a merda. Porque quem foi machucado tem que passar pelo processo de
cura e quando estiver bem, como você está, no caso, tem que seguir em
frente e fazer o melhor para si. Você não precisa dar uma segunda chance
para ser machucado de novo. Eles que corram atrás e provem que nunca
mais farão isso, e, se você não estiver convencido, mande irem se foder.
Você não precisa deles!
Jake falava com tanta certeza que aqueceu o coração de Jason. Até
porque o loiro tinha razão, o moreno não precisava deles. Jason o puxou e o
beijou.
Ele precisava da sua família verdadeira, aquela que havia escolhido,
por perto. E Jake era sua família.

— Olá, rapazes, tudo bem? — Albert, o empresário de vários


jogadores do Rhynos, disse.
Eles estavam no vestiário, prontos para voltar para o treino pós-
intervalo de almoço. Isaac tinha chamado Jake e Jason para conversar,
como o próximo jogo era contra o atual campeão, eles estavam tomando
mais cuidado, traçando estratégias. O ataque da Sand Storm era conhecido
por quase não falhar. Por isso, naquele momento, estavam sozinhos no
vestiário, já que os outros já estavam em campo, treinando.
— Oi, Albert — Jason o cumprimentou. Ele estava sentado no
banco, amarrando sua chuteira, Jake de pé ao seu lado.
— E aí? — Jake cumprimentou o mais velho.
— Preparados para o fim de semana? O jogo vai ser difícil.
— Sim, mas vamos dar nosso melhor — o QB respondeu sorrindo, e
Jason segurou a risada. Tinha virado uma piada interna deles dar respostas
assim para perguntas óbvias, mas tinha que parecer gentil.
— Claro, estou torcendo por vocês. Jason, posso falar com você? É
uma coisa em particular.
— Entendi, te espero lá fora — Jake disse, tocando o ombro de
Jason, que concordou, mesmo que confuso. — Até mais, Albert.
— Até mais. — O mais velho acenou enquanto Jake saia do
vestiário. Então eles estavam sozinhos, e Jason sentiu que não gostaria
daquela conversa. — Sabe, Jason, gosto de você como filho, não?
— Nos conhecemos há um tempo — o moreno disse para não
responder de fato. A única pessoa de quem aceitava essa conversa era Isaac,
porque sabia que, quando vinha do técnico, era verdadeiro. Albert nunca o
tratara como filho ou algo assim. Era uma relação estritamente comercial.
— Sim, por isso, me importo com você — Albert disse, sentando-se
ao lado de Jason. — Sei que você gosta de estar com os outros jogadores,
saem juntos e que tem uma ótima relação com o time. É importante para
que joguem melhor, eu entendo completamente. Mas preciso que pense
mais em você neste momento.
— Do que você está falando?
— Não sei bem como te dizer. — O mais velho parecia teatral, ele
sabia muito o que queria dizer, só ficava dando voltas para parecer que se
importava. — Jake Lewis é um garoto legal e um jogador valioso, mas
neste momento não faz bem para você ser próximo dele.
— Como assim? — Jason perguntou, segurando toda a raiva, apenas
se mantendo sem expressão, mesmo que fervesse por dentro.
— Não estou dizendo que vocês não podem ser amigos, porque é
claro que podem. Sei que são amigos próximos, mas com todos esses
rumores sobre a sexualidade de Jake e esse “shipp” de vocês, que tem
ganhado cada vez mais força na internet, as coisas têm ficado complicadas.
— Complicadas como?
— Sabe que estou sempre em contato com patrocinadores e
investidores, não é? Gente importante, e eles estão descontentes. Não estão
gostando dessa nova abordagem de “inclusão”. — Albert fazia aspas com
os dedos, e Jason queria vomitar. — Não estou dizendo que não é
importante, mas eles não querem que um time tão tradicional de futebol
americano seja ligado a arco-íris. Raleigh Rhynos é um time com mais de
50 anos, não precisamos desse tipo de divulgação.
— Certo, e porque devo me afastar de Jake? — perguntou,
engolindo em seco, seu estômago revirando.
— Não é que deve, mas seria bom, pelo menos aos olhos da mídia.
Muitas marcas não gostam desse tipo de estética, elas querem alguém que
represente o esporte. Então você já está perdendo algumas chances ótimas
de publicidade e perderá mais. Jake Lewis, neste momento, é um pouco
ruim para sua imagem.
— Mas Jake é considerado um dos melhores QBs da década. Ele
teve a melhor estreia de uma temporada, e estamos na metade dela. Jake já
quebrou recordes e já foi MVP da partida mais de uma vez. Ganhou o
campeonato nacional do high school e do college, agora está liderando o
Rhynos para o Super Bowl — Jason falou com o máximo de calma que
conseguiu, mas por dentro se sentia afogando.
— Sim, e não tiro o mérito dele. Mas estive em uma reunião recente
com Caleb Bradshaw, o presidente da Dutran Company, e até ele estava
insatisfeito com essa situação. Alguns até falaram de retirar patrocínio.
— Por causa dos rumores sobre a sexualidade de Jake?
— Bem, você não pode ter sua principal estrela sendo ligada a algo
que você não concorda, não? Mas não se preocupe, eles não chegarão a
extremos, até porque todos têm muito o que perder, só foi um desabafo
sobre a insatisfação. Por isso, acho bom dar uma afastada da imagem dele,
não queremos que respingue em você e saia prejudicado, não é?
— Não quero que nada respingue em mim — Jason murmurou.
— Ótimo, sabia que você entenderia. Você sempre foi o mais fácil
de conversar. — Albert sorriu, dando tapinhas no ombro do moreno e se
levantando. — Sabia que você faria o melhor.
— Certo, vou treinar agora — o DE respondeu.
— Arrase em campo, Steamroller — Albert brincou e saiu do
vestiário, deixando o moreno sozinho.
Jason apoiou a cabeça nas suas mãos, o mundo girava ao redor, ele
sentia que iria desmaiar. Queria gritar e quebrar alguma coisa. Queria ajuda,
ser abraçado, consolado. Queria que alguém mentisse que tudo ficaria bem.
Aquilo não era justo!
Jake era o melhor, todos sabiam disso, era questão de tempo para
entrar no Hall da Fama do Futebol Americano. O cara tinha saído do nada e
mudado a própria realidade. Jake era focado, treinava muito, estudava cada
jogada, assistia aos jogos dos adversários, observava cada movimento,
criava estratégias, e, mesmo assim, rumores sobre sua sexualidade se
sobressaíam a tudo.
Não importava quem Jake era, como era, do que era capaz. Apenas
os rumores sobre ser bissexual já superavam o fato de ele ser um dos atletas
mais talentosos de sua geração. Jason teve que pegar sua garrafa e tomar
longos goles de água gelada para que não vomitasse.
Foi por esse pensamento que ficou preso no armário por toda a sua
vida, foi esse pensamento que levou Devon ao desespero de quase destruir a
carreira e a vida de Jason.
Ele andava pelo vestiário vazio, tentando respirar e bebendo água.
Todo o esforço de uma vida não valia de nada. Voltou a se sentir aquele
garoto medroso, inseguro, que lutava por um pouco de validação dos pais.
Só que em vez dos pais, agora eram empresários milionários e
preconceituosos.
Sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, encostou a testa num
armário de metal e fechou os olhos. Devon tinha lhe prometido o mundo,
mas quase o fez perder tudo pelo desespero de o temido segredo ser
revelado. Qual o problema de ser gay? Por que as pessoas não conseguiam
entender que era só uma característica?
Então era isso, pelo menos aos olhos do público, teria que se afastar
de Jake e viver uma vida de mentira, assim como Devon? Teria que se
afastar da pessoa que amava e o fazia feliz todos os dias desde que se
encontraram? Teria que escolher entre seu amor pelo esporte e o amor da
sua vida?
Ele amava Jake, queria se casar com ele, ter filhos com ele, ter sua
família e amá-la. Queria poder viver com ele pelo resto da sua vida e, por
causa do preconceito, teria que desistir de tudo isso? Seu amor teria que ser
tratado como um segredo sujo?
Jason limpou o rosto e abriu seu armário, mexendo em sua mochila
e pegando seu celular. Não, ele estava farto de ser quem cedia, quem se
escondia, quem não podia viver.
— Olá, Jason — Nathan disse quando atendeu a ligação. — Iria te
ligar, Logan está animado para ver o próximo jogo, então vou levar minha
família inteira.
— Nathan, preciso de ajuda — Jason sussurrou.
— Me fala o que é, e resolveremos — o bilionário disse sério,
mudando totalmente de como estava antes.
Jason contou toda conversa, tudo o que Albert tinha dito. Contou
sobre coisas de antes, desabafou sobre Devon, sua vida e coisas que nunca
pensara em contar para ninguém. Nathan ouviu tudo e parecia digitar no
computador, Jason perguntou se ele estava ocupado, não queria o atrapalhar,
mas Nathan disse para continuar contando, ele estava apenas se adiantando.
Então Jason contou, inclusive sobre a ameaça da Dutran de deixar o time.
— Certo, escute o que faremos — Nathan disse depois que Jason
terminou de desabafar. — Te mandarei o contato de uma advogada, é a
mesma que está cuidando do caso de Steve. Ela é muito competente e de
uma família à qual confio minha vida. Ela resolverá tudo sobre seu contrato
com esse Albert e com seus patrocínios. Não precisa se preocupar com
custos, eu pago por tudo. Mandei um e-mail para ela adiantando o assunto,
ela está entrando em contato com Maristela Herrera para que Maristela
assuma sua carreira. Inclusive, pretendo contratar essa mulher,
principalmente agora que precisarei.
— Do que está falando? — Jason perguntou, confuso e agradecido
por Nathan o ajudar.
— Acabei de ver que o Rhynos vale 3.8 bilhões de dólares, achei
que valia mais — Nathan comentou, mas parecia que era mais para ele do
que para Jason. — Faça o que quiser, apenas não comente sobre essa
conversa com pessoas fora do seu círculo de confiança. Resolveremos tudo,
e você será livre.
— Obrigado — Jason respondeu, sentindo que podia chorar de
novo.
— Não precisa me agradecer, estava pensando no que dar para
Logan de Natal mesmo. — O bilionário riu. — Escute, entendi seus traumas
e inseguranças, também passei por coisas assim. Mas agora está tudo bem,
você tem suporte. Faça o que precisar, e, se alguém for homofóbico,
conheço alguns agentes que podem resolver isso para nós.
— Tudo bem. — O DE riu, aliviado.
— Nos vemos domingo, Jason Brody, e é bom que ganhem para
fazer esse investimento valer a pena.
— Nós vamos!
Eles encerraram a ligação, e Jason respirou fundo. Nathan tinha
razão, precisava parar de se esconder e ser quem era.
— Jason, você está bem? — Isaac o chamou, preocupado.
— Me perdoe pela demora, precisei de um momento para resolver
algumas coisas.
— Filho, aconteceu algo? Precisa de ajuda? — O treinador
realmente estava preocupado.
— Você me disse que me apoiaria, independentemente da minha
escolha. Isso ainda continua, mesmo que eu faça uma loucura?
— Isso nunca mudou nem mudará. Estou com você! — Isaac disse,
apertando o ombro do Jason, mostrando que estava ali por ele. — E o que
seria a vida sem algumas loucuras?
— Que bom, porque vou fazer uma agora mesmo. — Jason riu
enquanto eles saíam do vestiário em direção ao treino
— Ok, faremos juntos. — Isaac sorriu.
— RHYNOS! — Jason gritou, chamando a atenção de todos, que o
olharam confusos. Pequenos grupos estavam em treinos específicos, Jake
estava prestes a lançar uma bola, mas todos pararam o que estavam fazendo
para prestar atenção. — Aqui, precisamos conversar. Sentem-se.
Os jogadores estavam sem entender nada, mas obedeceram, ainda
mais porque Isaac confirmou a ordem. A comissão técnica e os
coordenadores do time também não estavam entendendo nada, mas todos se
aproximaram. A maioria dos jogadores ficou no chão, outros, de pé, todos
em frente a Jason e esperando para saber o que estava acontecendo.
— Tive uma conversa com meu futuro ex-empresário. Ele estava me
contando as reações ao shipp Jase, que todos sabem que é como os fãs
chamam Jake e eu. Aparentemente, muita gente não gosta e não quer ver o
Rhynos ligado a "esse tipo de coisa". Ele não estava falando dos jogadores
ou equipe técnica, mas quero saber de vocês. Alguém aqui tem algum
problema com isso?
Os próximos segundos foram de silêncio. Ninguém falou nada;
mesmo confusos, não perguntaram. Se Isaac estava aprovando aquele
discurso, não seriam eles que interromperiam.
— Se alguém tiver algo contra e não quiser estar ligado a um
possível romance entre dois homens, é melhor falar de uma vez para
resolvermos isso. — Jason estava sério. Jake não estava entendendo o que
tinha acontecido, só estavam separados havia quase uma hora, o que tinha
acontecido nesse meio tempo?
— Cara, ninguém liga para isso — Jay foi o primeiro a falar algo, e
muitos concordaram com ele.
— Eu acho até divertido — Tru opinou.
— Quando a gente vai mal no jogo, é só postar uma foto de vocês,
que os fãs piram e ninguém lembra dos erros. — Odell riu, sendo
acompanhado pelos outros.
— Bom saber — Tyson comentou, aumentando as risadas.
— Os Jase shippers me fizeram ser notado por aquela confeitaria,
sou agradecido por isso — Chase comentou.
— Escutem, não toleramos preconceito aqui. Eu defenderei cada um
de vocês do que for. Somos uma família, e é essa união que está nos
fazendo ir longe — Isaac disse. — Aqui é nosso espaço seguro, e não aceito
nenhum tipo de preconceito, entenderam?
— Nós sabemos de tudo isso e não ligamos por sermos vistos como
um time que tem um shipp gay tão forte. Enquanto os outros zombam, nós
ganhamos de todos, não vejo problema — Kevin comentou, e vários
concordaram. — Só não entendi o porquê de tudo isso.
— Simples — Jason disse, estendendo a mão para Jake e o ajudando
a levantar. O QB ficou ao seu lado, mas estava confuso, só percebeu o que o
moreno estava fazendo porque Jason não soltou sua mão.
— Jason, não precisa fazer isso — sussurrou.
— Preciso, sim — o DE respondeu, entrelaçando os dedos com os
do QB. — Se tem alguém que não sabe ainda, sou gay. — Os que não
sabiam, arregalaram os olhos, os que sabiam olharam de Jake para Jason, já
entendendo a situação. Carson, Chase, Kevin e Jay sorriam felizes e
orgulhosos. — Então, para esclarecer, esse shipp, Jase, é real. Nós não
estamos só namorando, como eu o amo com todo o meu coração e espero
que no futuro próximo nos casemos.
— Ei, você não deveria dizer isso para mim? — Jake brincou.
— Eu te amo — Jason murmurou e o beijou na frente do time
inteiro.
— Sei lá, achei que ia ser mais difícil — Carson comentou, sentado
do lado de Jake e Chase.
— Talvez o Dancy faça muita falta — Chase ponderou.
— Mas o time todo está mais ou menos, esperava mais do atual
campeão — Jake falou, e os amigos concordaram.
Tinha chegado o tão esperado jogo contra San Antonio Sand Storm
e, bem, estava decepcionante. Eles tinham se preparado muito, mas o time
não estava jogando como se esperava. A primeira coisa é que de cara
souberam que Jesse Dancy, o tight end do Sand Storm e um dos motivos de
eles terem chegado até o Super Bowl na temporada passada, não iria jogar.
Ainda não tinham explicado, mas o time ficava bem prejudicado.
O tight end, ou TE, ficava na ponta da linha do ataque. Então servia
para proteger o QB ou correr e receber a bola. Dancy era forte e muito
rápido, suas corridas eram difíceis de serem paradas, mas, sem ele lá, o TE
que o substituiu não dava conta de segurar Jason ou Kevin, e o QB de San
Antonio não tinha ninguém tão rápido.
— Isso que dá basearam o time todo em um jogador só. — Chase
negou com a cabeça.
Todos sabiam que Chase e Carson eram os homens de confiança de
Jake, mas o QB treinou bastante com os outros recebedores e corredores,
queria estar em sintonia com todos.
— Lá vai Jason sacar o QB de novo. — Carson apontou para o jogo.
Jason correu pela linha, conseguiu chegar até o QB do Sand Storm, que não
teve chance de correr. Jason o agarrou e o girou, jogando o homem no chão.
— Seu marido está na fúria hoje, hein? Fez ele dormir no sofá e ele está
descontando no San Antonio?
— Babaca. — Jake riu.
Agora que o time inteiro sabia que eles estavam juntos, era tudo
mais simples. Nada de fingir, nada de se esconder, podiam chegar de mãos
dadas, conversar, até beijos rápidos antes e depois dos treinos. O time
brincava com eles e, para todo mundo, já estavam casados.
Sadie tinha arrastado Jay para casa de Jason naquela noite, puxado
Jake para o quarto e fofocado com ele por muito tempo. Enquanto isso, Jay
e Jason ficaram na sala, jogando videogame e cuidando de Agatha e
Brandon.
Até Emmett tinha chamado Jake para conversar e pedido desculpas.
Disse que na época do boot camp, quando falou de Jason, não sabia que
eles estavam juntos e percebeu como tinha soado ofensivo. Depois falou
com Jason, todos se acertaram, e ficou tudo bem. Apenas Carson
resmungou que não tinha gostado, ele queria um pouco mais de caos e
sangue.
Como o time inteiro sabia sobre o relacionamento deles, contando
com jogadores e equipe técnica, dava cerca de cinquenta pessoas sabendo
sobre aquele segredo. Contando que cada um deles contaria para alguém,
então logo seriam cem pessoas. Eles sabiam que estava cada vez mais
próximo o dia que isso vazaria, mas não se importavam de verdade.
Nathan estava armando alguma coisa, tanto que Maristela ligou para
Jason já no dia seguinte à conversa com o bilionário, dizendo que estava
feliz em cuidar da carreira dele. Maristela fez um acordo com Nathan, o
empresário tinha acertado que o mesmo empresário que cuidava da carreira
de Steve Alexander e Eric Blake cuidaria de Sofia. Então Maristela só
ficaria na área esportiva, morando em Raleigh, coisa que Carson, Chase e
Jake agradeciam. E Mauricio estava muito feliz que poderia se dedicar ao
seu jardim, com a ajuda de Rose. No fim, todos saíram ganhando. Jason
ainda não tinha visto Albert, então ele não sabia se o empresário já tinha
conhecimento da mudança, mas como não recebeu um e-mail ofensivo,
achava que não.
— Quem quer uma fofoca? — Blend, um dos assistentes do
treinador do ataque, perguntou.
— Meu amigo, sempre queremos uma boa fofoca — Carson
respondeu.
— Não sei o que exatamente aconteceu, mas parece que Jesse
Dancy está fora por vários jogos. Tenho um amigo que trabalha no San
Antonio. Seja o que for que tenha acontecido, Dancy não volta tão cedo.
— Como assim? Ele é um dos melhores da equipe e sempre pareceu
de boa — Jake comentou, espantando.
— Meu amigo disse que também não entende, mas ninguém ali tem
reclamação do Dancy. Ele trata todo mundo bem, é na dele e respeita as
ordens. Treinou normalmente na sexta, mas ontem não embarcou na viagem
para cá. — Blend deu de ombros. O jogo estava acontecendo em Raleigh.
Por isso, o San Antonio tinha viajado para lá.
Nesse momento, Jay correu do fundo do campo, acompanhando a
jogada. Ele pulou na frente do recebedor do Sand Storm, agarrando a bola e
correndo o que pôde, chegando até a linha de 40 jardas, o que foi um
avanço enorme, antes de ser derrubado.
— Ataque, vão! — Jefferson gritou.
Como sempre, quando estavam correndo para a troca de ataque e
defesa, Jake e Jason iam para o mesmo lado, para se encontrarem no
caminho e trocarem um soquinho. Tinha virado um ritual, como um beijo
de boa sorte. Os fãs ficavam loucos com isso, sempre havia várias fotos
desses momentos nas redes sociais.
Na primeira jogada, Jake lançou uma bola longa, Chase a recebeu e
correu muito pela lateral do campo, até ter que sair dele para fugir de um
ataque da defesa. Antes faltavam 40 jardas para o TD, mas com aquela
jogada perfeitamente executada, agora faltavam apenas cinco.
Na segunda jogada, Jake simulou jogar para Chase, que correu para
o lado esquerdo. Mas, na verdade, Jake soltou a bola para trás, que foi
segurada por Carson, que correu pelo meio. Conseguiram pular sobre a
perna do QB, mas ele esticou a mão e a bola passou da linha. O apito soou,
e os juízes levantaram as mãos, era TD.
— Tudo bem? — Jake perguntou para o amigo quando saíram do
campo para o special team entrar.
— Sim, um pouco de gelo resolve — respondeu, massageando o
joelho. — Estou mais chateado porque só ficamos duas jogadas em campo.
Agora a defesa vai enrolar um monte para devolver a bola para a gente.
— Nos perdoe se somos bons — Jay zombou.
— Estamos ganhando, só temos que queimar o tempo agora, sem se
arriscarem. Não quero ninguém machucado na metade do campeonato —
Tyson avisou.
— E o que está achando deste jogo? — Every perguntou para Jalen.
— Morno, e não é por causa do Rhynos, mas até eles deram uma
pisada no freio — Jalen respondeu. — E não julgo, o placar está 28 a 6, e já
estamos no segundo tempo, não tem por que o time de Raleigh arriscar uma
lesão, sendo que já estão à frente no placar. Já vimos vitórias maiores que
essa, mas com o ataque que o Sand Storm está apresentando, não irão
conseguir.
— Lembrando que o ataque não acertou um TD até agora. Os 6
pontos vieram de dois chutes que Jewell, kicker de San Antonio,
talentosamente marcou — Every completou a informação. — Parece que só
o special team do Sand Storm lembrou que estão jogando pela liga nacional,
o resto do time tirou férias essa semana.
— Não sei o que houve com o ataque, mas Jesse Dancy está fazendo
falta. Mas até a defesa está viajando. Jake Lewis segurou a bola por quase
cinco segundos antes que alguém da defesa conseguisse chegar perto dele.
— É, para quem jurou que San Antonio estaria de volta no próximo
Super Bowl, se continuar desse jeito, tenho péssimas notícias para vocês.
Faltavam só alguns segundos para acabar o jogo, a posse de bola era
do Rhynos, mas não tinham que se esforçar. O jogo já estava ganho. Por
isso, quando Isaac chamou Jake para a lateral e mandou Kim entrar.
Estavam a uma distância boa de field goal, então Isaac mandou Kim chutar
a bola, pelo menos ganhariam mais três pontos.
— Jogo mais ou menos, hein? — Jay comentou. — Não sei se a
gente se preparou demais ou eles, de menos.
— Acho que os dois. O ataque estava totalmente perdido — Jason
respondeu enquanto viam Kim se preparar para chutar. — A defesa até
tentou, mas a linha deles estava horrível.
— Nunca tinha visto Isaac pedir para irmos devagar — Kevin falou
depois de Kim fazer o ponto. — Bem, agora é voltar para casa e relaxar.
— Diga por você, eu tenho filhos. — Jay riu. Apesar de qualquer
brincadeira, ele amava seus filhos mais do que tudo.
O time se cumprimentou, apesar da felicidade de terem ganhado do
atual campeão, tinha aquele sentimento de que a vitória nem contava muito.
Parecia que o San Antonio tinha mais culpa de ter perdido do que o Rhynos
de ter ganhado.
— Preparado para conhecer o clã Grant? — Jake riu para Jason.
Nathan tinha trazido sua família para assistir ao jogo e queria
apresentá-los para Jake e Jason. Eles sabiam que a família Grant era
composta por seus pais e um casal de irmãos mais novos, todos lindos e
bilionários.
— Não vou comentar sobre o jogo, jogamos e ganhamos. Como
sempre, há erros que precisam ser acertados. Também não vamos nos
vangloriar por termos ganhado do atual campeão. San Antonio era um dos
únicos times que ainda estavam invictos e perdeu isso hoje, mas sabemos
que eles perderam para eles mesmos. O psicológico dos jogadores do Sand
Storm falhou, por isso, eles falharam. Isso não vai acontecer conosco,
entenderam? Nunca deixam que nada de fora do campo abale o jogo. Vocês
não estão no ensino médio, aqui é a liga nacional — Isaac falava com o
time no vestiário.
— Não parece que ele sabe de algo? — Jake sussurrou para Jason,
que concordou.
— Tudo bem? — Jason perguntou para Isaac depois que todos já
tinham tomado banho e se trocado e agora estavam saindo do vestiário.
— Conosco sim, mas sinto por aquele garoto. — O treinador
meneou a cabeça, pesaroso.
— Quem?
— Jesse Dancy. — Isaac suspirou. — Ele irá precisar de apoio.
— Do que está falando?
— Logo todos irão saber, infelizmente. Mas não pense nisso agora,
aproveitem o resto da noite. — O mais velho deu tapinhas no ombro de
Jason e se afastou. O moreno olhou para Jake, os dois estavam sem
entender.
— Vamos? — Chase perguntou, chegando com Carson.
— Oi! — Logan foi o primeiro a recebê-los no camarote,
abraçando-os. Ele usava a camiseta com o nome e o número de Jason. —
Vocês foram incríveis! Parabéns pela vitória!
— Obrigado — o loiro respondeu.
— Aqui, eu trouxe a camiseta que prometi — Chase disse,
entregando uma camiseta com “Graham” escrito e o número 10 em
destaque.
— Obrigado! Vou usar no próximo jogo! — Logan sorriu e abraçou
Chase. Carson e Jake o olharam feio, porque o amigo tinha passado a perna
nos outros e ganhado a amizade de Logan Grant.
— Venham, vou apresentar minha família. — Nathan os conduziu
para dentro. — Estes são meus pais, Reed e Micaela, meu irmão, Austin, e
minha irmã, Charlotte.
Reed era tão alto quanto Nathan, parecia forte, mesmo tendo
passado dos 60. Sua pele era clara, os cabelos loiros se misturavam com os
brancos, dando nuances como se estivesse iluminado. Tinha olhos azuis e
espertos, como o filho. Micaela era de Porto Rico, e isso estava no seu
rosto, seus traços caribenhos e os grossos cabelos escuros que caíam em
ondas pelas costas. Nathan tinha puxado muito de sua aparência.
Já Austin e Charlotte se pareciam mais com o pai. Os dois tinham os
cabelos claros e olhos azuis de Reed, mas o sorriso era da mãe. Austin tinha
a mesma idade que Jason, mas trabalhava na empresa da família, Nathan o
estava preparando para ser um dos diretores no futuro. Charlotte era um
pouco mais nova, não trabalhava nas principais empresas da família, mas
tinha aberto um escritório de arquitetura com uns amigos da faculdade.
— Podem me chamar de Lottie — Charlotte disse, cumprimentando
os jogadores. — Logan tem razão, é muito divertido assistir ao jogo ao
vivo.
— Esse foi meio ruim, a adrenalina será quando começarem os
playoffs. — Carson deu de ombros, e ela ficou confusa.
— Playoffs são as quartas de finais — Jason explicou. — Esses
jogos por enquanto somam pontos. Os melhores vão para os playoffs.
Depois disso não se contam mais pontos, quem ganhar continuará, quem
perder é eliminado.
— Caramba! Isso deve ser muito louco! — Ela sorriu.
— Louco para ver o Super Bowl! Logan não para de falar do
Rhynos, então é bom chegarem lá. Até porque, se não conseguirem, vão
decepcionar Logan, e Nathan não lida bem com quem faz isso — Austin
brincou.
— Um dia eu ainda te demito — Nathan murmurou, e todos riram.
— Vamos jantar, temos que comemorar — Micaela disse animada.
— Carson, meu filho disse que sua família é do México.
— Sim, a família da minha mãe é de Sonora, e a do meu pai é de
Zaratecas, mas eles nasceram aqui nos Estados Unidos. Se conheceram no
Novo México e moramos boa parte do tempo no Kentucky — Carson
respondeu, sem perceber que estava falando de Maristela e Mauricio, coisa
que acontecia muito com Chase e Jake.
Jake sabia dizer a árvore genealógica quase inteira da família
Herrera, os parentes de Mauricio que ainda moravam no México torciam
pelo loiro e ligavam sempre no seu aniversário. Os pais de Mauricio e
Maristela o chamavam de neto, e, se ele não pedisse bênção quando se
viam, era capaz de ficar de castigo. Às vezes as pessoas estranhavam que
um rapaz branco, loiro e de olho claro tinha uma família mexicana, mas os
Herrera eram sua família, só isso.
Os parentes biológicos de Jake nunca falaram nada sobre os abusos
que ele sofria ou sobre ele ser expulso de casa, só foram atrás quando
descobriram que ele tinha assinado um contrato milionário com o Rhynos.
Mas Maristela fez questão de deixar claro que eles nunca mais deveriam
entrar em contato.
— Eles estão aqui no estádio? Ótimo, chame-os para irmos juntos
— Micaela disse animada. — Será divertido, não?
— Claro, mi amor. — Reed sorriu. Ele era, claramente, muito
apaixonado pela esposa.
— Nathan herdou a cadelice do papi. — Austin deu de ombros. A
maioria riu, mas ele levou dois tapas na nuca, um de Reed e outro de
Nathan.
O jantar foi privado de novo, todos estavam comendo e bebendo
enquanto conversavam. Maristela e Micaela se deram bem de cara e
falavam espanhol muito rápido, riam alto e pareciam velhas amigas. Reed e
Mauricio tentavam acompanhar o assunto, mas estava difícil. Os outros
estavam tranquilos.
— Não tem como ser verdade. — Austin negou com a cabeça.
— Estou falando, Jason ganha todas — Carson repetiu.
— Qual é? Não tem como ele ser tão bom em todos os jogos —
Austin insistiu.
— Não sou bom em todos — Jason tentou explicar.
— Só nos que ele joga. — Chase bufou.
— Me convidem para a próxima noite de jogos — o Grant mais
novo disse, Chase e Carson concordaram.
— Mais um para ficar me enchendo o saco tentando me vencer. —
Jason revirou os olhos.
— Quem mandou ser tão bom? — Jake brincou e beijou os lábios
do namorado.
— Definitivamente, meu próximo livro será sobre futebol americano
— Logan comentou, fazendo alguns rirem.
Então os celulares de Jake, Jason, Carson e Chase começaram a
apitar repetidamente, muitas notificações chegando ao mesmo tempo. Foi
estranho, mas então os celulares de Nathan e Maristela também fizeram o
mesmo. Jake tentava ver o que era, mas eram muitas marcações ao mesmo
tempo, muita gente mandando mensagem. Sabia que era algo sobre futebol
americano, mas não conseguiam entender o quê, já que nem houve tempo.
— Quem é Jesse Dancy? — Nathan foi o primeiro a conseguir ver o
assunto.
— Um jogador do time que enfrentamos hoje, mas ele não estava lá
— Jason respondeu. — O que houve?
— Ele acabou de ser arrancado do armário — Nathan disse sério.
Aquele era o pior pesadelo de qualquer pessoa LGBT que estivesse
dentro do armário, principalmente quando se era uma figura pública. Jake
conseguiu entrar em uma das redes sociais e viu que o nome de Dancy já
estava no topo dos assuntos mais comentados.

@elleryder
Quem diria que, de todos, seria justo o Jesse Dancy que fosse uma bicha?
Jurava que seria aquele do Rhynos, que tem cara de viado

@mostree
O Jake Lewis? Também jurava que ia ser ele

@jeffstorm
Nojo de ter comprado a camiseta de jogo dessa bicha! Espero que seja
demitido do time! Ele que vá para aquele time de viados do Rhynos!

@trishxxx
Espero que Jesse Dancy fique bem, sinto por tudo que está acontecendo
com ele. Ninguém merece passar por isso #respectfordancy

@tinihigh
Agora que tem outro jogador gay, quem sabe o Jake Lewis saia de cima do
Jason Brody e fique com esse Jesse Dancy?

@jasenews
Nós, do perfil de uptades Jase, estávamos comemorando a vitória do
Rhynos e surtando com as fotos do nosso casal. Foi então que vimos o que
aconteceu com Jesse Dancy e sentimos por ele. Isso foi cruel e desumano,
esperamos que ele fique bem e prestaremos apoio no que pudermos

Não foi necessário rolar um pouco mais do feed para achar do que
estavam falando. Eram fotos e mais fotos de Jesse Dancy com o suposto
namorado. Eles juntos, viajando, na praia, jantares românticos, beijando-se.
Tinha até um vídeo deles em uma festa, onde se beijavam encostados em
uma parede. Era nítido que eram eles e os dois não sabiam que estavam
sendo filmados, já que era um momento íntimo.
Jake e Jason se entreolharam, Dancy estava sendo atacado por todos
os lados. Logo perfis de pessoas públicas começaram a opinar, alguns
prestavam apoio ao jogador, outros o atacavam. Naquele momento, os
jogadores do Rhynos não podiam fazer nada, a não ser lamentar por ele.

A entrevista coletiva continuava, Jake suspirou com aquelas


perguntas. O escândalo envolvendo Jesse Dancy, o tight end do San
Antonio Sand Storm, ainda estava em todo lugar. Tinham se passado duas
semanas, mas o assunto continuava em alta. Ainda mais que, antes que o
jogador conseguisse inventar alguma desculpa, o suposto namorado veio a
público falar do relacionamento, trazendo provas e testemunhas.
Jesse estava preso no meio do furacão, tinha sido afastado do seu
time e corria o risco de ser demitido. A nota oficial dizia que o time apenas
estava dando tempo para que o jogador resolvesse sua vida pessoal, mas
quem estava nos bastidores sabia que não era isso. A vida pessoal do
homem estava exposta, ele podia perder a carreira, já que todos sabiam que
dificilmente outro time o contrataria. E, além de tudo isso, estava recebendo
inúmeros ataques homofóbicos.
Todos os outros times estavam tentando se esquivar da polêmica,
evitando qualquer pergunta que pudesse chegar perto do assunto. Mas isso
não impediu que vários jogadores e parte de equipes técnicas usassem as
redes sociais para falar sua opinião sobre o assunto, a maioria de forma
desrespeitosa.
— Lewis, qual sua opinião sobre o que está acontecendo com Jesse
Dancy? — um dos repórteres perguntou, e Jake suspirou.
Ele estava entre Carson e Chase, Carson resmungou baixinho,
xingando em espanhol. Chase revirou os olhos. Isaac e Lindsay Brooks
iriam cortar a pergunta, mas Jake fez sinal com a mão para pararem.
— Minha opinião é que, enquanto Jesse Dancy, pessoalmente, não
fale comigo e peça minha opinião sobre o assunto, devo ficar calado — o
jogador respondeu tranquilamente. — Opinião é para gostos pessoais, não
para a vida das outras pessoas.
Jason assistia à entrevista coletiva da lateral, onde os jornalistas não
o viam, como fazia todos as vezes. Ele tinha cumprido aquela promessa que
havia feito a Jake durante a primeira entrevista dele. O DE estava de braços
cruzados, não demonstrava expressão nenhuma, mas estava orgulhoso.
Sabia que Jake não baixaria a cabeça.
O namorado tinha ficado mexido com aquela situação e ele o
entendia. Jesse Dancy havia sido arrancado do armário e traído pelo
namorado, que usou o momento para conseguir atenção. Pelo que sabia, o
tal “namorado” até já tinha assinado com uma agência e estava fazendo
algumas publicidades. Jesse poderia perder a carreira, enquanto o outro, a
pessoa que ele amava, estava construindo uma nova em cima da sua dor.
Aquele sempre tinha sido o maior medo de Jason, a exposição.
Amava o esporte acima de tudo e nunca tivera outro plano para sua
vida, não ser um jogador era o mesmo que não viver. Porém agora ele tinha
Jake, e muita coisa havia mudado. Agora tinha planos para o futuro, iria se
assumir e poder ter um relacionamento público. Eles até falavam de
casamento e filhos.
Por causa dos rumores da sexualidade de Jake e o shipp entre eles
ser tão forte, havia ainda mais cobranças em cima do QB. Maristela,
Lindsay, Nathan e Jake tinham tido uma longa reunião. Muita coisa foi dita,
e o loiro parecia melhor. Depois houve uma reunião entre Maristela,
Lindsay, Isaac, Jake, Jason, Carson e Chase.
Nathan se tornaria patrocinador do time ou algo assim em breve,
isso já estava quase certo, e os papéis estavam sendo assinados. Por isso,
eles teriam mais segurança caso quisessem se assumir ou sofressem o que
Dancy estava passando. Chase até tentou argumentar que era hétero, então,
teoricamente, não teria como ser tirado do armário, mas a conversa
continuou.
Jason ficou o tempo todo de mãos dadas com Jake. O DE estava
muito orgulhoso de si, antes era tão medroso e agora mal podia esperar para
aquele tormento acabar e ele poder gritar para quem quisesse ouvir o quanto
amava Jake Lewis. Pela primeira vez, ele não era só um jogador de futebol
americano.
As perguntas da coletiva continuavam pressionando Jake, Chase e
Carson a comentar sobre a situação de Jesse. Aquilo doía em Jason, e ele
não conseguia sequer imaginar como o outro estava se sentindo. Ele
precisava saber que tinha pessoas que realmente o apoiavam.
— Vocês estão transformando a vida de um cara legal, um ótimo
jogador, em um inferno por causa de algo com que todos já deveriam estar
acostumados. — Carson negou com a cabeça. — Pessoas LGBT existem
desde sempre, superem isso. E quantos casos de agressões domésticas
temos dentro do nosso esporte? Quantos jogadores já foram acusados e até
julgados por crimes? Vocês não fazem esse escândalo todo, então deixem
Jesse em paz.
— Eu não entendo — Chase disse. — Se eu me ajoelhar no campo
em protesto contra racismo, serei atacado. Dirão que assuntos de fora não
devem ser levados para o campo, que, quando estamos em jogo, a única
coisa que importa é o esporte, não é? Mas, quando um jogador tem sua vida
pessoal exposta, aí podemos trazer assuntos de fora? Aí estamos liberados
para discutir as vidas pessoais e os impactos das atitudes fora de campo.
Agora não é mais sobre esporte?
Ficou um silêncio desconfortável na sala de imprensa, Jason sorriu
de canto. Chase e Carson estavam visivelmente irritados com aquela
história, vários jogadores do Rhynos se posicionaram a favor de Jesse.
Jason também tinha falado sobre isso, coisa que não faria antes, mas agora
era uma pessoa segura de si e confiante.
Foi então que reparou no namorado, Jake estava quieto, sem
expressão e com o olhar um pouco perdido. Mesmo que disfarçasse muito
bem, Jason o conhecia e sabia que estava perdido em pensamentos. Aquela
situação toda tinha sido um divisor de águas, o QB tinha tomado um choque
de realidade sobre como o mundo esportivo, que tanto amava, podia ser
cruel.
Jason teve medo de que Jake ficasse muito mal, até que
desenvolvesse depressão. Por uns dias, depois do treino, ele ficava deitado
no sofá ou na cama, às vezes vendo o que as pessoas estavam falando de
Dancy e outras vezes ignorando a situação. Tudo que o DE pôde fazer foi
consolar, confortar e ficar lá por Jake, mostrando que o amava e que o loiro
nunca estaria sozinho.
Jake abaixou a cabeça por um segundo, respirando fundo. O moreno
sabia que ele fazia isso antes de decidir algo importante. Então Jake o
olhou, diretamente nos olhos, e ele soube o que era.
Aquilo o desarmou, Jake o estava deixando decidir, e ele tinha
segundos para dar a resposta. Enquanto Chase afirmava que adoraria jogar
com Jesse e que o Rhynos teria muita sorte de ter um jogador como ele,
Jason estava ganhando tempo.
Seu coração estava disparado, e sua boca, seca. Sempre tivera medo
da possibilidade de descobrirem publicamente que era gay. E ele odiava
Devon e o pai, até sua própria família, por fazê-lo se sentir assim. Não
ouvia mais barulho de câmeras, gravadores, vozes, nada mais existia para
ele, além de Jake.
Jake era o corajoso, ele sabia o que poderia acontecer, sabia a
tormenta que enfrentaria, mas não se importava. A liberdade de ser quem
era e amar quem amava era mais importante. Foi muito fácil para Jason se
assumir e beijar o namorado na frente do time. Era sua segunda família,
protegiam um ao outro, tinham o mesmo objetivo, conviviam todos os dias.
Mas se assumir diretamente para a mídia para que o mundo inteiro soubesse
era completamente diferente.
Scott tinha razão, Jake era mais parecido com o Steve do que
pensavam.
Jason estava esperando por uma resposta. Mesmo querendo negar e
fugir, ainda estava ali, porque amava Jake acima de tudo. No final do dia,
era Jake que estava com ele. Era o loiro que cuidava dele quando estava
mal, confortava-o quando estava triste e comemorava com ele quando
estavam alegres.
Não era mais o “lobo solitário” que era antes, tendo apenas Jay,
Sadie e duas crianças como amigos. Tinha acabado de ser convidado por
Nathan Grant, dono da décima quinta maior fortuna do mundo, para passar
o Natal em sua casa no Caribe. Tinha pessoas famosas e influentes como
amigas, ainda tinha sua avó com o melhor chá e o melhor bolo do mundo,
sempre o esperando.
Nathan tinha razão, era hora de ser livre, e, se as pessoas
acreditassem que ele e Jake tinham um namoro, tudo bem, porque eles
tinham mesmo. Talvez não pudesse se assumir ainda, Lindsay o mataria por
ter que lidar com tudo ao mesmo tempo, mas não precisava esperar até a
aposentadoria. Não iria adiar sua felicidade nunca mais. E foda-se se o
mundo não gostasse.
Jason sorriu sincero e concordou com a cabeça, isso fez aquele
sorriso de canto aparecer nos lábios do namorado. O moreno não sabia
exatamente como o loiro faria, mas sabia que mudaria muita coisa.
E ele estava pronto para isso.
— Como atleta — Jake respondeu a uma pergunta antes que
Lindsay o impedisse —, minha visão é que é decepcionante o
comportamento de várias pessoas e de alguns responsáveis, tanto pelo
campeonato quanto pelo San Antonio Sand Storm. Esporte é para unir e
beneficiar a todos. Jesse sempre foi uma pessoa boa e ótimo jogador, mas
estão o punindo por ter uma orientação sexual diferente do que queriam
para ele. Décadas atrás negros não podiam praticar esportes com brancos,
hoje sabemos que esse comportamento é inaceitável. Mesmo assim, vamos
segregar pessoas LGBTs de pessoas héteros? Tratar qualquer jogador
diferente e, pior, puni-lo por ser LGBT é um retrocesso gigante. Sempre
falamos que todos deveriam ser quem são, mas isso só vale se eles são
como nós queremos? Jesse Dancy já chegou a dois Super Bowls e ajudou a
ganhar um, ele já era LGBT nessa época, e sua orientação sexual não
interferiu no seu trabalho, por que agora seria diferente?
Os repórteres murmuravam, anotando e falando coisas nos
gravadores, todos os olhares estavam em Jake. Ele estava seguro, com sua
pose levemente arrogante de sempre. Aquele sorriso de canto de quem sabia
que deixaria todos loucos com as próximas palavras.
— E a visão pessoal? — um repórter finalmente perguntou. — Você
disse que aquela é sua visão como atleta, e a visão pessoal?
— Minha visão pessoal é que eu, como um homem bissexual
assumido, sinto um misto de raiva, decepção e medo com o que estão
fazendo com Jesse. Mas, diferentemente do meu colega, tenho sorte de estar
no Rhynos, um time que, verdadeiramente, respeita e protege seus atletas.
Eles não se importam com quem divido minha cama e se meu namorado é
um homem, eles apenas me apoiam e me ajudam a ser a melhor versão de
mim.
Então a entrevista foi encerrada.
— Então, Sandra, o que realmente sabemos sobre a atual situação do
Raleigh Rhynos? E essa dança das cadeiras que teve na Liga Nacional? — o
apresentador perguntou.
— Primeiro vou falar do que está certo, isso foi confirmado por
fontes oficiais — a jornalista esportiva disse. — Havia uma movimentação
da Grant Group de compra de ações do time do Rhynos. Para quem não
sabe, Logan Grant, esposo de Nathan Grant, CEO da Grant Group, é de
Raleigh e sempre foi apaixonado por dois esportes, corrida de motos e
futebol americano, mais precisamente pelo Rhynos. Grant comprou a
Belmont, uma equipe do Moto GP, no ano passado, e estrearam neste ano,
estão indo muito bem.
— Com licença, só para explicar essa parte para as pessoas que
estão em casa — o colega de Sandra pediu permissão. — Belmont era uma
equipe que já estava no vermelho há tempos, então quando Grant comprou
ninguém dava muita coisa, eu mesmo acreditei que era um tiro no pé.
Porém Grant, que sempre teve visão de negócios, contratou uma equipe
nova, um ótimo chefe de equipe e Ethan Mitchell como piloto principal.
Ethan foi aquele piloto do Moto2 que sofreu um atentado. Então, em alguns
meses essa equipe passou de desacreditada a estar no pódio várias vezes.
— Sim, depois da compra da Grant Team, se esperava que Nathan
Grant sossegasse um pouco, mas vimos que não. Ele já estava negociando
ações do Rhynos, comprou um camarote no estádio, que antes se chamava
Dutran e agora não sabemos como será, já vou explicar isso — Sandra
continuou. — Mas, depois que Jake Lewis se assumiu bissexual em uma
entrevista coletiva há duas semanas, muita água rolou por debaixo dessa
ponte. A primeira coisa é que algumas empresas que patrocinavam o time
romperam contrato imediatamente. Caleb Bradshaw, presidente da Dutran
Company, principal patrocinadora do Rhynos e responsável pelo estádio
que leva seu nome, ligou para a direção do Rhynos. Apesar da assessoria
dele ter negado, houve, sim, uma reunião com os diretores do time,
incluindo o head coach Isaac Hill, exigindo uma postura firme do time
sobre a situação de Jake Lewis. O time resolveu defender o QB e se
pronunciar a favor da diversidade. Lewis não só continua como no time,
como ainda é titular.
— Lembrando que a postura do Rhynos foi completamente oposta
ao San Antonio Sand Storm, que, não tem como dizer de outra forma, jogou
Jesse Dancy aos leões e o demitiu sem nada — o apresentador falou. —
Conheço Bradshaw, ele é um republicano bem conservador, então não deve
ter reagido bem.
— Foi tão mal que ele, simplesmente, colocou à venda o Dutran
Stadium — Sandra disse, e todos os jornalistas do programa fizeram careta.
Dutran era a casa do Rhynos havia quase quarenta anos. — Mas aí vem o
plot twist. Lembram que falei que Nathan Grant estava comprando ações?
Ele não só aproveitou a baixa das ações do Rhynos para se tornar um dos
principais acionistas como comprou o estádio. Claro, com muitos trâmites
legais, acordos comerciais, muita burocracia. Mas, atualmente, o dono do
Raleigh Rhynos é a Grant Group.
Jake estava na sua cama, com a bolsa de gelo no joelho, assistindo
ao programa esportivo de TV, que falava da sua vida. As últimas duas
semanas tinham sido um turbilhão tão grande que ele nem sabia como
assimilar.
Primeiro que mal podia usar seu celular, tudo ficou tão louco que o
aparelho travava se ele tentasse. Jake não tinha ideia do tamanho do seu
alcance até ver que veículos de outros países faziam matérias sobre ele ter
se assumido. O loiro precisou usar o celular de Jason por um tempo. E eles
tiveram que desinstalar todas as redes sociais do aparelho, já que marcavam
muito Jason, mesmo que uma quantidade um pouco menor que Jake.
Segundo que a onda de ódio que recebeu, ameaças de morte, pragas,
maldições, pessoas desejando que ele tivesse uma morte horrível e
dolorosa, foi intensa. Nos primeiros dias, Jason e ele ganharam dois dias de
folga para que pudessem ficar em casa se recuperando. O moreno tentou
impedir que o loiro olhasse a internet ou visse programas que estivessem
falando dele, mas Jake queria saber. Ele foi chamado de muitas coisas e até
viu uma publicação de um homem queimando e cuspindo na camiseta do
número 03.
Jason e ele ficaram deitados na cama, abraçados. Jake sabia que
seria ruim, e foi pesado. Mas seu maior medo era como refletiria no time, o
que os outros jogadores estavam pensando dele e, principalmente, se Jason
ficaria com raiva. As teorias de que eles estavam juntos estavam mais
fortes, mais gente tentando provar que era verdade.
— Eu te amo e estou tão orgulhoso de você — o moreno murmurou,
beijando o namorado. — Agora as coisas estão confusas, mas nada disso é
sua culpa. E pensa em quantas pessoas você inspirou. Quanta gente estava
sofrendo, odiando ser quem é, e você deu esperanças.
— Você acha? — Jake perguntou com os olhos úmidos.
— Se, quando eu era mais novo, alguém tivesse tido a coragem que
você teve, as coisas teriam sido diferentes para mim. Eu não teria crescido
com essa ideia fixa de que, se não estivesse no armário, perderia tudo. Você
me fez entender que tudo bem ser quem sou, que posso amar quem amo,
que não preciso me esconder.
— Eu amo você — Jake sussurrou.
Sempre tinha se achado tão forte e independente, mas percebeu que,
se não fosse por Jason, não teria conseguido passar por tudo aquilo. Foram
apenas dois dias infernais, e teve muito medo de como seria o futuro,
mesmo que tivesse certeza de que as pessoas que amava o apoiariam.
Mas, assim que decidiu que não poderia continuar escondido e
voltou a treinar e levar sua vida normal, teve uma surpresa. Ninguém que
estivesse no seu convívio, mesmo que minimamente, odiava-o. Quando
voltou para o treino, a maioria dos jogadores dizia que estava orgulhosa
deles ou fazia piadas, brincando com o assunto. Alguns até agradeceram
que não precisavam mais guardar segredo.
— Sabe o que eu descobri? — Ripon, um dos jogadores da linha
defesa, ria contando a história. — Que minha mulher não me leva a sério.
Eu tinha contado que Jake era bissexual, ela achou que era brincadeira. Só
percebeu que era sério quando o Jake falou na TV. Ela teve a cara de pau de
olhar na minha cara e dizer que achou que eu tinha brincado.
— Meu irmão ficou puto comigo — Abraham, outro jogador, falou.
— Ele é gay e, assim que viu que Jake era bi, surtou porque eu nunca tinha
contado. Disse que se soubesse que tinha chances com Jake, teria tentado.
Mas falei pra desistir, porque você já tem namorado. Só que, quando ele
descobrir que é o Jason, vai surtar de novo.
— Não é ele que shippa Jase? — Carson perguntou.
— É, mas disse que aceitaria fazer parte do trisal. — Abraham deu
de ombros.
— Não sabia que seu irmão é gay — Jake comentou, e Abraham
deu de ombros.
— Acho que nunca surgiu o assunto, mas, sinceramente, quem é
hétero hoje em dia? — o jogador falou naturalmente, os outros
concordaram e continuaram o assunto. Jake estava espantado e olhou para
Jason. O moreno sorriu e deu de ombros. Aquilo fez o coração do loiro se
acalmar.
O treino foi normal, no domingo teriam outro jogo, e sua vida
pessoal não poderia interferir. Eles tinham um campeonato para ganhar, e
isso mudou a visão de Jake, em vez de brigar para ser aceito, ele ganharia o
campeonato, iria para o Super Bowl e seria campeão. E aqueles
preconceituosos ignorantes, teriam que engolir o fato de que uma pessoa da
comunidade LGBT tinha vencido o evento esportivo mais visto e mais
lucrativo do mundo.
Steve e Nathan encabeçaram a defesa de Jake na internet, logo
várias celebridades se juntaram a eles. Até Damon Wright, que tinha um
Prêmio Michael Jackson Video Vanguard, três Oscars por melhor trilha
sonora, vários Grammys e era considerado um dos músicos mais influentes
da atualidade, estava o defendendo e dizendo o quanto ele era importante.
Jake surtou quando Henry King, atual diretor da Gucci, disse que Jake era
inspiração e adoraria trabalhar com ele.
A discussão mudou quando Connor Rossell se pronunciou. Ele
também era bissexual e tinha um relacionamento com outro homem.
Connor disse que toda essa discussão era ridícula, a sexualidade de Jake não
mudava sua trajetória como atleta e nem seu caráter. Jason desconfiava que
havia sido Taylor e os amigos que o ajudaram a escrever aquelas palavras.
Mas, no final, o lutador desafiou qualquer homofóbico que ainda estivesse
enchendo o saco dizendo que pessoas LGBT não eram boas o bastante ou
que não poderiam ser atletas, que fosse lutar com ele para tirar a prova.
Obviamente, ninguém encheu o saco.
— Acho que essa parte foi ele mesmo — Jake comentou, e Jason
concordou.
Apesar do caos na internet e o sossego em sua bolha pessoal, Jake
descobriu que na vida real tudo estava bem. Os vizinhos conversavam com
ele normalmente, ele ia ao mercado, ao Nashorn, banco, cinema, e tudo era
como antes. O máximo era que tinha que tirar fotos com alguns fãs e
recebia mais abraços de pessoas que diziam que antes eram fãs do esporte,
mas agora eram fãs dele.
— Eu te disse, o mundo ama Jake Lewis — Jason sussurrou para o
loiro, que sorriu.
O irmão de Jason sempre mandava mensagens e até fez alguns
comentários um pouco rudes sobre a situação de Jake, praticamente o
acusando de ferrar com o time. O moreno respondeu irritado que se Wade
continuasse com aquilo, iria bloqueá-lo imediatamente. O irmão pediu
desculpas e disse que só estava preocupado com a carreira de Jason, já que
o DE tinha batalhado tanto por aquilo.
Isso atingiu Jake, porque foi em um dos momentos em que estava
vulnerável. Mas Jason falou que Nathan discordava, já que estava
aproveitando o momento para comprar as ações do time. Quando Jake ainda
teve dúvidas, Rose o olhou revoltada.
— Você está preferindo acreditar nas palavras de um babaca
alienado e podre do que em um bilionário conhecido mundialmente pela
visão de negócios? Querido, você está bem mesmo? Precisa de um
chazinho?
— Babaca alienado e podre? — Jason riu. — Vó, ele é seu neto, se
lembra?
— Isso não muda em nada a podridão daquela alma. — A senhora
negou com a cabeça. — Às vezes olho para seu pai e penso que deveria ter
feito teste de DNA há muito tempo, não é possível que aquela pessoa tenha
vindo de mim e Noah. Mas aí olho para você, que é uma cópia do seu avô, e
fico na dúvida.
— Vó, já conversamos sobre isso. Douglas Brody é seu filho, sim.
— Será que ele não sofreu um acidente que afetou o cérebro? —
Jake perguntou. — Vi uns casos de alguns homens que sofrem um acidente
e parece que algum dano neurológico os faz mudar de personalidade. Tem
até um ator que era famoso na época e virou assassino, mas dizem que antes
do acidente, ele era uma pessoa gentil.
— Isso faz muito sentido — Rose concordou.
Jake e ela ficaram conversando sobre essa possibilidade e chegaram
à conclusão de que tudo era culpa do acidente de esqui que Douglas sofreu
no segundo ano da faculdade. Que, “por coincidência”, foi um pouco antes
de ele começar a namorar Lisseth, a atual esposa.
Jason apenas negava com a cabeça.
Mas aí chegou o domingo, era o jogo contra o Aurora Shield. Os
torcedores estavam fazendo uma campanha bem agressiva contra Jake, com
muitas falas homofóbicas. Apesar de o time ter se posicionado
publicamente contra, muitos jogadores discordavam.
Estavam acertando Jake para machucar, fazendo muitas faltas neles,
e, quando o QB do Rhynos foi jogado no chão de modo que machucasse
seu joelho, o jogador do Shield riu.
— Vai chorar, sua bicha? — o jogador sussurrou para o loiro, que
estava no chão.
— Me deixa entrar! — Jason pedia, irritado.
— Você é da defesa, Brody! — Jefferson respondia.
— Foda-se, me deixa entrar!
— Defesa! — Jefferson apontou para Jason. — Ataque! — Apontou
para os jogadores no campo.
— Isaac!
— Esquece, Brody, você não treinou com eles, não vai entrar. Sei
que quer proteger Jake, mas vai acabar atrapalhando.
— Ótimo! Essa semana vou treinar com o ataque também, vou
aprender as jogadas e quero ver quem vai me impedir de entrar! — Jason
esbravejou.
— Não sabe marcar falta, não? É só jogar a flag pra cima e deixar
cair no chão, assim ó. — Jay jogou sua touca no chão, e o árbitro que estava
na lateral do campo o olhou feio.
— Controle seus jogadores — ordenou para Isaac.
— Então marque as faltas quando elas acontecem — o técnico
devolveu.
— Zebra dos infernos! — Jason disse, irritado.
O jogador do Shield avançou sobre Jake, ele girou o corpo, soltando
a bola para Carson, que passou correndo e avançou pelo campo. Mas o
número 77 do Shield não parou, mesmo que Jake não estivesse mais com a
bola. O QB não estava olhando para sua direita, já que o running corria pela
esquerda e era o que estava vendo. O número 77 o acertou pela lateral do
seu corpo, girando-o, mas os cravos da chuteira estavam no gramado, o que
não deixou que o pé deslizasse.
Jake caiu no chão com o outro jogador por cima dele, a dor foi
instantânea, e ele tentava se sentar e segurar o joelho, fazer massagem ou
qualquer coisa que fizesse a dor passar. O loiro escutou o apito e os gritos
de comemoração dos jogadores do Rhynos e da torcida, mas seu cérebro
não assimilava.
A dor era tanta, que arrancou o capacete para tentar respirar. Puxava
o ar, e não vinha direito. Escutou gritarem seu nome, outros jogadores
estavam em volta, e os árbitros chegaram perto. Falavam com ele, mas Jake
não conseguia responder, sua respiração estava alterada, e a dor irradiava do
joelho para a perna inteira. Lágrimas se acumulavam nos cantos dos olhos,
mas ele não choraria.
— Estou aqui — Jason disse, segurando o rosto de Jake, que
concordou, finalmente percebendo algo em volta. — Vou mexer no seu
joelho, vai doer, mas eu preciso saber o que está acontecendo.
— Está doendo muito... — Jake murmurou, tentando segurar a
careta de dor.
— Sinto muito, sinto mesmo, mas preciso mexer, só aguenta um
pouco.
Jason era formado em fisioterapia. Além disso, era gentil e nunca o
machucaria. Por isso, Jake concordou. O moreno tirou suas luvas e segurou
a perna direita do QB. Todos os jogadores à volta estavam de joelhos, como
era a tradição quando alguém se machucava. A equipe médica do Rhynos
estava perto, mas o loiro confiou no moreno.
Jake gritou e jogou o corpo para trás, deitando-se na grama e
tapando o rosto com as mãos. Sabia que o que Jason estava fazendo era para
o ajudar, mas aquilo doía muito. O medo tomou conta do seu coração. E se
fosse algo grave? E se perdesse a temporada? E se tivesse que parar de
jogar?
— Amor, escuta — Jason sussurrou para Jake, que se sentou com a
ajuda de Carson e Chase —, aparentemente não quebrou nem rompeu
ligamentos, mas eles vão te levar até o hospital para fazer os exames. Vão
me fazer ficar aqui, mas já vou te encontrar.
— Vamos chutar a bunda desses caras e vamos te encontrar —
Carson garantiu, e Jake concordou com a cabeça.
A equipe médica entrou com o carrinho para levar Jake ao vestiário.
Colocaram-no na maca, mas, quando foram levantá-la, Jason e Jay, cada um
de um lado, que a levantaram. Enquanto o ajeitavam, Jake levantou o
punho, ele e o moreno trocaram um soquinho.
— Achei que éramos dois times profissionais, mas se é para agirem
como animais irracionais, vamos devolver do mesmo jeito — Jay falou para
os jogadores do Shield.
— Cara, foi um acidente. Sinto muito por ele, mas... — o capitão da
defesa tentou falar.
— Quando esse jogo acabar e seu QB estiver no chão, fale para ele
agradecer ao 77 — Jason o avisou.
O DE pegou o capacete de Jake, que ainda estava no chão, e voltou
para a lateral. Jason deixou o capacete do QB no banco, onde ele deveria
estar sentado, e esperou o special team converter mais um ponto, depois do
TD que Carson tinha feito.
— Serei blitzer até o fim — Jason murmurou para Tyson.
— Atropele eles — o coordenador da defesa respondeu.
Quando a defesa se posicionou, os olhos de Jason estavam no QB,
que não olhou em seus olhos, talvez fosse medo. O DE percebeu que a linha
de ataque estava se fechando no lado que ele estava, todos tinham medo do
que o número 28 faria. E era bom terem.
Kevin estava um pouco à frente, com a mão nas costas, indicou por
qual lado iria correr, o que deixava Jason livre para correr na brecha que
abriria. O juiz apitou, o center tirou a bola do chão para fazer o snap, e
Jason já estava correndo. O QB mal teve de receber a bola e o DE estava
sobre ele, virando-o e jogando-o para trás com força.
— É só o início — Jason avisou.
Não estava preocupado com a força que usava ou se iria machucar.
Tinham machucado Jake de propósito e não tinham tido uma punição
adequada, então a defesa do Rhynos se responsabilizaria por isso. Além de
não conseguirem avançar, tinham perdido jardas. Em uma jogada, Jason e
Kevin abraçaram o QB do Shield ao mesmo tempo e o arrastaram para trás,
fazendo-o recuar tanto, que estava quase na própria end zone.
— Vai lá, garoto, nos traga esses pontos — Jay murmurou atrás de
Jason, que concordou.
De novo não conseguiram segurá-lo, mesmo que tenham tentado. O
QB tentou fugir, mas Jason o agarrou pela cintura e o jogou no chão, dentro
da end zone. A torcida do Rhynos comemorou, derrubar um QB dentro da
própria end zone era um safety e valia três pontos.
Jason olhou para o QB no chão, o jogador estava cansado e
respirando pesado, o que deixou o DE feliz. O moreno negou com a cabeça,
virou-se de costas e saiu de perto, sem ajudar o outro, o que, normalmente,
era uma coisa que faria.
Leighton Diggs, o QB reserva do Rhynos, entrou em campo. Jake
não era uma “estrela arrogante” e sabia que algo poderia acontecer a
qualquer momento, por isso, precisava que seu substituto estivesse tão bem
em sintonia com o time quanto ele. Diggs era bom, não tinha o olhar frio do
titular, mas conseguiu bons avanços.
Até o fim do jogo, Kim conseguiu mais dois chutes de field goal, o
que deu mais seis pontos juntos, e Carson, nos últimos minutos, fez uma
corrida espetacular e garantiu mais um TD.
Como faltavam menos de dois minutos, Isaac liberou Jason, que
correu para o vestiário, tomou banho, trocou de roupa, pegou suas coisas e
as de Jake e correu para o hospital que a equipe tinha informado.
Teve um pequeno problema, porque, como ele não era parente
direto, o hospital não queria liberar sua entrada. Jason teve que ligar para
Maristela, que ligou para o hospital para resolver. O moreno já estava quase
ligando para Nathan, porque o bilionário, aparentemente, conseguia
resolver todos os problemas do mundo. Mas no final teve sua entrada
permitida e recebeu a identificação como acompanhante, sendo liberado
para ficar com o loiro.
— Oi — Jason disse, entrando no quarto. Jake estava sozinho e
sério, mas seu rosto suavizou quando viu o namorado entrar. — Como está?
— Me deram algo para dor, e fiz alguns exames, estou esperando o
médico — o loiro respondeu, dando espaço para que o moreno se sentasse
com ele. — Como o jogo foi?
— Ganhamos — o DE respondeu, passando a mão pelos cabelos
loiro e beijando a testa do namorado.
— Você sacou o QB deles?
— Não só eu. Jay disse que o objetivo era que aquele QB ficasse
mais tempo com os pés para cima do que no chão — Jason contou, e Jake
riu. — Também fiz um safety.
— Um safety? — O loiro sorriu, ajeitando-se ao lado do namorado.
— Deveria ter feito um TD.
— Está diminuindo minhas conquistas? — ele se fez de ofendido.
— Não, mas um TD é um TD. — Riu.
— E o que eu ganho se fizer um TD da próxima vez?
— Não vou fazer piadas sexuais, porque no sexo você pode ter o
que quiser, a qualquer hora. Dou até sem você precisar pedir. — Jake deu de
ombros, e Jason começou a rir. Ele estava muito aliviado de ver o loiro bem
e fazendo piadas.
— Certo, se eu fizer um TD, nós vamos nos casar, e o casamento vai
ser como eu quiser — Jason o desafiou, e o QB ficou aturdido. Apesar das
brincadeiras, era a primeira vez que falavam sério disso.
— Casamento?
— Sim, completo, com aliança, juiz e o “até que a morte os separe”.
— Lutei tanto por isso, que nem a morte separa. — Jake riu. — Eu
aceito a aposta. Só não vai escolher algo muito brega, e tem que ser até o
Super Bowl desta temporada.
— Vai ser do jeito que eu quiser — o moreno repetiu para provocar,
e eles deram as mãos, selando o acordo.

— Me mudar para Raleigh? Quando? — Bruno, um colega de


faculdade de Jason, perguntou.
O médico tinha voltado com o diagnóstico, Jake teve uma entorse
no joelho. Poderia ter sido pior, mas o médico disse que o primeiro
atendimento foi fundamental para o quadro ser leve. Ele teria que ficar
afastado dos jogos por, pelo menos, três semanas, teria que fazer
fisioterapia e musculação para reforçar a musculatura do joelho.
Obviamente, Jake não queria ficar todo esse tempo fora do campo,
mas Jason o convenceu a aceitar, prometendo que tentaria trazer o melhor
fisioterapeuta que conhecia.
Bruno Fernandes tinha sido seu colega de classe e era um bom
amigo. Ele era brasileiro, mas tinha se graduado nos Estados Unidos e ainda
morava por lá. Atualmente estava no Arizona e trabalhava em um time de
futebol. Da última vez que tinham se falado, Bruno tinha contado que
estava um pouco insatisfeito e pensando em mudar de emprego. Por isso,
Jason não hesitou em ligar para ele.
— Hoje, se possível — Jason respondeu à pergunta do amigo.
— Hoje? Está louco? Como?
— Nosso QB sofreu uma lesão e precisa de tratamento.
— Jake Lewis, né? Eu estava assistindo ao jogo. O que ele teve?
— Uma entorse.
— Uma entorse? Sério? Você quer que eu atravesse o país para
tratar uma entorse?
— Bruno, por favor. Jake está a caminho de ser campeão da liga.
Nós já estamos classificados para os playoffs, mas depois é mata-mata. Ele
tem que estar bem.
— Eu agradeço por ter pensado em mim, mas o time deve ter
fisioterapeutas ótimos. Ou deve ter algum na cidade. Se eu sair daqui para
tratar só o Jake Lewis, como vou me manter?
— Nós pagamos você.
— “Nós” é o time ou “nós” é você e ele? Porque eu tenho internet e
sei desse shipp.
— Bruno. — O moreno bufou.
— Ok, mas eu vou largar tudo para passar três meses e aí? Fico
desempregado?
— Prometo que não vai ficar. Tem que ser alguém de confiança, e
eu confio em você. — Jason suspirou. — Olha, passa uns dias na minha
casa, conhece ele, veja o caso, conhece o time, depois resolve.
— O problema é que eu te conheço muito bem, Steamroller, vou
para Raleigh, aí você me olha com esses olhos do Gato de Botas, e eu acabo
cedendo.
— O plano é esse. — O DE riu.
— Que ódio de você. — Bruno bufou. — Manda tudo que tiver do
prontuário para meu e-mail. Vou ver se consigo chegar até quarta, e é você
que vai pagar minha passagem.
— Eu pago — Jason disse feliz.
— Meu Deus, você deve estar muito apaixonado. E não tente me
enganar. Na temporada passada, quando o outro QB se machucou, te
perguntei se ele estava bem e você respondeu “Ele sobrevive”. Aí hoje o
Jake tem só uma entorse, e você fica desesperado.
Jason riu. Apesar de serem amigos, nunca tiveram uma conversa
real sobre sexualidade. Cada um tinha indícios do outro, mas, como
ninguém deu o primeiro passo, não falaram nada.
Jake foi liberado para voltar para casa com o resto do time. O DE
fez questão de empurrar a cadeira de rodas pelo aeroporto, mesmo o loiro
jurando que não era sério, já que poderia usar muletas. Enquanto estavam
na sala de embarque, Carson e Chase roubaram as muletas e fingiram estar
em uma luta medieval, que terminou com a “morte” de Carson e ele se
jogando no chão dramaticamente, enquanto todos riam.
Chegando em casa, Jason transferiu várias coisas para o quarto do
térreo, para que Jake não ficasse subindo as escadas. O loiro passou por
mais uma avaliação médica e teria que ficar a primeira semana em casa.
Mauricio e Rose ficavam com ele, enquanto Jason estava treinando e
Maristela tendo que trabalhar no escritório do Rhynos, já que tinha sido
contratada por Nathan para gerenciar a carreira de alguns jogadores.
Albert tinha sido demitido, o que o fez dar um chilique enorme,
quebrando coisas e jurando que Jason e os outros, que também o
dispensaram, nunca seriam alguma coisa sem ele. Isso fez com que Nathan
criasse um escritório de gestão esportiva, com sede no Rhynos e chefiado
por Maristela. A carreira de Sofia estava nas mãos de John Harper, o
mesmo empresário de Steve Alexander e Eric Blake.
— Seu fisioterapeuta é gostoso, hein? — Carson comentou com
Jake, que negou com a cabeça.
Bruno Fernandes tinha 1,65, cabelos cacheados um pouco
compridos, mas que não chegavam até os ombros e ele mantinha longe do
rosto com uma bandana. Cada dia era uma cor diferente. Seus cabelos e
olhos eram castanhos, e sua pele, bronzeada. Era do tipo que sorria aberto e
nem um pouco tímido.
Mesmo sendo o mais baixo dali, não tinha problema nenhum em
enfrentar de igual para igual qualquer outro, principalmente quando era para
ter suas orientações obedecidas. Era um excelente profissional e se
orgulhava disso.
— Esquece, não é para o seu bico — Chase respondeu, e o amigo
revirou os olhos.
— Tomara que Bruno faça você se humilhar para conseguir algo —
Jake falou para Carson, que desdenhou.
O primeiro jogo sem Jake como titular foi um pouco difícil, ainda
conseguiram vencer, mas foi penoso. O ataque teve problemas para se
encontrar, o que conseguiu fazer só no último quarto. A defesa que teve que
segurar muito o outro time. Jake assistiu a tudo de casa, sendo
acompanhado por Bruno, Sadie e as crianças. Sentiu-se horrível, mas não
havia o que fazer.
O segundo jogo foi um pouco mais fácil, mas era óbvio como
estavam perdidos e perderam ótimas oportunidades. Jake resolveu anotar
tudo o que precisava ser resolvido. Estava focado no tratamento, tomando
remédios, fazendo exercícios, compressas de gelo e se alimentando do ódio
de não poder jogar.
Bruno o liberou para viajar com o time para acompanhar o terceiro
jogo, o que foi um alívio, já que seria justo no Dia de Ação de Graças.
Então, após o jogo, poderiam jantar todos juntos. Na verdade, Jake queria
passar aquele dia com Jason, mas aceitava jantar com o time primeiro.
Quando pisou no campo, acompanhado do fisioterapeuta, a torcida
se levantou e o aplaudiu. Jake demorou dois segundos para entender que era
para ele, então sorriu e acenou para os torcedores. Aquilo o motivou a ser
melhor ainda.
— Se está sentindo, não pode jogar agora — Jefferson insistiu com
Carson, que estava reclamando de dor na panturrilha.
— Senta nesse banco agora e me deixa ver isso — Bruno brigou
com ele. — Agora!
— Ok, mandão — Carson resmungou, mas obedeceu.
— E você também, tá há meia hora movimentando o ombro, me
deixa ver isso. — Bruno apontou para Jay, que no momento estava fora da
jogada por causa da dor no ombro. O ruivo apenas se sentou ao lado de
Carson, obedecendo ao brasileiro.
— Isaac, pelo amor de Deus, contrata esse homem! — Jefferson
indicou Bruno, que estava atendendo os jogadores.
O loiro riu e voltou a assistir ao jogo. Foi liberado de usar muletas,
mas teve que ficar sentado quase o tempo inteiro. Usava calça e blusa de
frio do Rhynos, como roupas de passeio, já que não iria jogar. Seus óculos
escuros impediam que qualquer um visse que ele não tirava os olhos do
número 28, que, no momento, corria e batia na bola que o QB adversário
tinha acabado de lançar, fazendo-a cair no chão.
Jake sorriu de canto, ainda mais quando Jason olhou para ele e
piscou.
Jake foi liberado para voltar a campo no dia 2 de dezembro, um dia
antes do aniversário de Jason. O moreno falou que era um presente de
aniversário. O loiro estava muito feliz, mesmo que Bruno tivesse avisado
que ele não poderia jogar o tempo inteiro. Mas o loiro estava muito
animado do mesmo jeito; além de ser a véspera de aniversário do
namorado, era em Raleigh, na casa dos Rhynos.
Para comemorar seu retorno aos campos, o fato de que o estádio
estava mudando de nome oficialmente e que Rhynos tinha abraçado a causa
LGBT, já que até então Jake Lewis era o único atleta assumidamente da
comunidade, Steve e Nathan convidaram diversas celebridades para estarem
no camarote principal, apoiando o time.
Como se isso já não fosse grandioso, marcaram um almoço na
véspera do jogo, para algumas pessoas. Scott avisou Jason para não cair
nesse papo, que ele tinha visto a lista e tinha gente pra caramba. Só não
estaria tão lotado, porque várias celebridades só poderiam chegar no
domingo de manhã, direto para assistir ao jogo. E Logan falou para o
moreno se preparar, porque Nathan sabia que seria aniversário de Jason e
estava armando uma festa.
Ele estava bem, a estrela daquela reunião era Jake, que estava um
pouco nervoso sabendo que tanta gente importante tinha viajado até Raleigh
apenas para o conhecer.
— Respira — Jason pediu.
— Estou respirando, mas não está dando certo — Jake sussurrou em
resposta.
— Acho que vou me assumir também — Carson comentou do nada.
— Jake está ganhando esse almoço maneiro, terá um monte de celebridade
LGBT. Se eu me assumir, talvez ganhe alguma coisa.
— Você não deveria sair do armário para inspirar os jovens atletas e
mostrar que eles podem ser eles mesmos? — Chase perguntou.
— Isso também, mas qual é? Nathan Grant é um bilionário, ele deve
dar alguma coisa de presente — Carson respondeu como se fosse óbvio.
Nathan queria fazer um jantar, mas os jogadores eram proibidos de
sair nas noites anteriores aos jogos, porque deveriam descansar e se
concentrar. Por isso, mudaram para um almoço. A comemoração seria no
pós-jogo. Nathan e Steve juraram que era algo pequeno, então, além deles,
Jake, Jason, Chase e Carson, o convite foi estendido apenas para Sadie e
Jay, porque ela morreria se soubesse que eles almoçaram com Steve
Alexander e Eric Blake sem ela.
— Jake! — Steve o recebeu na entrada. A ideia de “reunião íntima”
caiu por terra logo ali, Nathan tinha reservado a parte superior inteira de um
restaurante para o encontro. — Venha, a maioria já chegou. Estamos
esperando apenas Ethan. Olá, Jason! Chase, Carson.
— Ethan? — Jason perguntou, confuso. Quantas pessoas estariam
naquele almoço?
— Sim, Ethan Mitchell, o piloto. Ele e seus namorados estão
chegando. Enquanto isso, venham conhecer as outras pessoas. — Steve
sorria, como sempre.
— Jake! — Sadie o chamou, ela e Jay já tinha chegado, a morena
parecia emocionada.
— O convidado de honra chegou — Scott, namorado de Steve, o
cumprimentou. — Estes são meu irmão, Tom, e seu marido, Jeremy. Meu
cunhado é fã de vocês, principalmente do Steamroller aí, então meu irmão
me infernizou para trazê-los. Mas, se quiser que sejam expulsos, não
fiquem tímidos. Uma palavra, e mando o segurança levá-los.
— Nem nos sonhos eles conseguiriam — Tom disse sorrindo,
apertando a mão de todos.
— Oi, me chamo Michael, mas podem me chamar de Mike — um
rapaz os cumprimentou.
— Eu sei quem você é, sigo você e Lilly Blake há muito tempo,
vocês foram um dos motivos pelos quais descobri que sou bissexual — Jake
respondeu, fazendo o outro rir. Já Jason, que conversava com Scott, só
levantou a sobrancelha.
— Lilly vai adorar saber disso — Mike falou, e a loira surgiu.
— Vou adorar saber do quê?
— Você e eu somos o motivo de Jake Lewis entender que era
bissexual.
— Se eu soubesse que tinha chances, teria evitado tantos problemas.
— Ela suspirou e afagou dramaticamente sua pequena barriga de grávida.
— Não estou gostando dessa conversa — Eric Blake disse,
aproximando-se e abraçando seu noivo.
Jake, Carson e Chase respiraram fundo e fingiram que tudo estava
bem, mesmo estando na frente de uma das maiores estrelas da música da
atualidade. Eric Blake tinha olhos azuis profundos e cabelos cor de mel,
como se fossem loiros escuros ou castanhos bem claros. Ele tinha um
sorriso de canto e uma voz inconfundível. Quando ele se assumiu
publicamente bissexual, tinha impactado diretamente a vida de milhões de
jovens pelo mundo, Jake e Carson eram alguns dos exemplos.
E ele estava ali, na frente deles, abraçando e beijando o rosto de
Mike, seu noivo. E todos conheciam a história deles, que mais parecia
enredo de um filme romântico. Mike era melhor amigo de infância de Lilly,
irmã mais nova de Eric. Como sempre estavam juntos, Eric e Mike
acabaram se apaixonando e agora estavam prestes a se casar.
— Jake, olha. — Logan chegou animado, mostrando a camiseta que
usava. Era a camiseta do Rhynos, tinha o número 03 e o sobrenome Lewis
escrito atrás, mas tinha arco-íris nas mangas, e os números tinham efeito
holográfico. Dependendo de como a luz batesse, eles ficavam coloridos. —
Nathan disse que é a que vocês usarão amanhã e vai estar à venda no site
depois do jogo. Parte das vendas será revertida para uma instituição que
acolhe crianças LGBTs.
— Isso é incrível. — O loiro estava maravilhado.
— Jason, numa das nossas saídas, você disse que tinha uma ideia de
fazer uma fundação para ajudar no tratamento da saúde mental de crianças,
não é? — Nathan perguntou para o moreno.
— Sim, queria dar o nome do meu avô, já que ele se preocupava
muito com os outros.
— Ótimo, semana que vem conversamos sobre isso — o bilionário
disse. Era quase possível ver as engrenagens funcionando dentro da cabeça
dele.
— Posso tirar uma foto de vocês? Vocês formam um casal lindo —
Mike pediu, segurando sua câmera. Assim como Scott, ele era fotógrafo. —
Não fiquem com essas caras, todos sabemos que estão juntos.
— Então tudo bem. — Jake riu, abraçando Jason e sendo
fotografado pelo cacheado.
— Eric e eu também temos um shipp, os fãs nos chamam de Meric.
— Você não acha ofensivo como só tem uma letra do seu nome e o
resto é o nome dele? — o loiro perguntou.
— Sim, meu Deus, sim! Quer dizer, é fofo que os fãs tenham todo
esse carinho conosco. Mas por que só uma letra? Ainda mais que o nome
completo é Meric Clake, só uma letra de novo.
— Sim! Conosco é Jase Brodis, eu te entendo! — Jake exclamou
feliz, finalmente tinha alguém que o entendia. Então eles começaram a
conversar animados, enquanto Jason e Eric reviraram os olhos e riam.
— Cheguei, espero que não tenham começado sem nós — uma voz
veio de trás deles. Três pessoas estavam se aproximando, uma moça e dois
rapazes.
— Ethan, chegaram na hora certa — Nathan falou. — Estes são os
Mitchell’s. Ethan, meu principal piloto, Elijah, um bombeiro conhecido
pelos seus brilhantes salvamentos em San Franciso, e Jenn, por enquanto
estagiária na minha equipe, mas futura psicóloga.
Todos estavam se cumprimentando alegremente, os garçons serviam
bebidas, e tudo estava indo bem. Até Jenn cumprimentar o irmão e cunhado
de Scott e tomar um susto.
— Porra, eu achei que você fosse o Chris e estivesse traindo o
Benny, já ia ligar para o Alex. — Ela disse com a mão no coração. — O que
é isso? Ataque dos clones?
— Hã? — Tom riu da garota.
— Love, o que foi? — Elijah perguntou.
— Lembra quando fomos para o Caribe e eu achei um sósia do Alex
com a mesma cara de quem está pronto para fazer a pior e mais
inimaginável loucura? Achei outro. — Ela apontou para Jeremy, e o
bombeiro olhou confuso.
— Mais um? Como você faz isso? — o bombeiro perguntou,
espantado.
— Não sei, parece que não posso viajar sem encontrar versões
alternativas do Alex. Se bem que esse parece mais com o Chris.
— Cara, se me disser que esteve em alguma força armada, ligo para
meu irmão agora — Ethan avisou, rindo.
— Estive sim, mas por quê? — Jeremy perguntou, confuso, e o
trisal se entreolhou.
— Ei, seu irmão não é o Chris Allen? Eu o conheci, também sou
professor — Tom o cumprimentou.
— Que mundo pequeno — Elijah comentou, ele e Jenn trocaram
olhares de novo.
— Esse é o tipo de loucura de que eu gosto — Carson riu.
— Loucura? Ainda está faltando parte do grupo — Lily brincou. —
Os amigos do meu irmão não conseguiram chegar a tempo, mas virão para
assistir ao jogo.
— Amigos do seu irmão, o que inclui seu noivo — Mike brincou,
mas a loira desdenhou.
— Alec disse que também virá com sua família — Eric os lembrou.
— Jake, esse é o melhor dia da minha vida! — Sadie disse,
segurando o braço do loiro.
— Ei, achei que tivesse sido quando nos casamos — Jay reclamou.
— Steve Alexander, Eric Blake, Ethan Mitchell e Nathan Grant —
Chase enumerou —, não tem como competir.
— Não mesmo. — Jake riu, e Jason estreitou os olhos para ele.
— Steve Alexander e Eric Blake? — Jenn perguntou, só então
olhando em volta. — Porra! Elijah, quero mudar a minha lista!
— Não mesmo! — o bombeiro disse de braços cruzados.
— Engraçado, não preciso mudar a minha, por que sabem quem
estava nela? — Ethan sorriu, provocando, indicando Steve e Eric com a
cabeça. Eric estava conversando com Jason e Mike, Steve estava beijando o
namorado.
— Tom não é namorado do Jeremy? Por que o Steve Alexander está
beijando ele? — Jenn perguntou. — Se for um trisal, não estou julgando.
— Tom é meu irmão — Scott respondeu rindo.
— Esse é meu Andrews, o outro Andrews é do Jeremy — Steve
brincou, apontando para Tom e Jeremy, que conversavam com Nathan e
Logan.
— Deve ser legal ter uma família grande. — Jake sorriu.
— Nem sempre — Elijah brincou. — Tenho quatro irmãos e uma
irmã mais nova. Todos intrometidos e fofoqueiros, as coisas tendem a sair
do controle.
— Eu sei como é isso. — Scott suspirou dramaticamente.
— Mas é divertido. — Jenn riu. — Você tem família aqui?
— Não tenho família de sangue, só meu time.
— Cuidado, se um Mitchell te escuta, daqui a pouco já está adotado
e usando o sobrenome Mitchell na camiseta — Jenn o aconselhou.
— Ela não está brincando. — Ethan deu de ombros.
— Não acho que será esse sobrenome que ele usará em breve —
Carson brincou, dando um tapinha no ombro de Jason.
— Tudo bem, Jason não tem família, fica tudo certo. — Jay riu alto,
e Jason queria matá-lo.
— Vocês também são as únicas garotas no meio de um monte de
homens? — Lilly perguntou para Sadie e Jenn.
— Bem, sou a única, literalmente, no meio deles — Jenn indicou
Ethan e Elijah. — Mas tenho apoio das minhas cunhadas, que são incríveis.
— Eu sou, até converso com as namoradas de outros jogadores, mas
como sempre estou com estes aqui, dos quais meu marido é o único hétero,
acabo sendo a única mulher adulta entre eles — Sadie deu de ombros.
— Ei, sou hetero — Chase reclamou.
— Eu te disse, só não encontrou o cara certo ainda — Carson fingiu
consolá-lo.
— É tão legal como todos estão se dando bem. — Logan sorriu
feliz.
— Vamos almoçar? — Nathan perguntou, indicando a linda e
enorme mesa que estava pronta os esperando.
— Jake, você já modelou? — Eric perguntou. Todos já estavam
comendo e conversando.
— Não, não acho que seja bom nisso — respondeu tímido.
— Discordo, seu rosto seria perfeito para um ensaio fotográfico —
Scott comentou. — Quando quiser, meu estúdio e eu estamos sempre à sua
disposição.
— Acho que já vi essa história antes — Tom provocou.
— Com licença? — Steve levantou a sobrancelha para o namorado,
que riu e o beijou.
— Meu amigo Mason e eu estamos abrindo uma marca de roupas
em prol da comunidade LGBT, estamos pensando em modelos para a
primeira coleção. Queremos pessoas que representam algo na comunidade
— Eric explicava. — Seria muito bom ter você como um dos rostos da
nossa coleção.
— Caramba, isso seria incrível. Vou falar com a minha agente. —
Jake sorriu, Jason apertou sua mão de leve, em apoio.
— Eric está tentando convencer Nathan, mas ele se recusa. —
Logan riu.
— E vou continuar recusando — o namorado respondeu.
— Steve e Ethan já aceitaram. Quanto mais gente influente, melhor
— Mike falou.
— Carson também é bissexual, ele pode participar — Chase
comentou tranquilo, e quase todos os olhares se voltaram para Meneses.
— Cara, você acabou de me arrancar do armário na frente de todo
mundo. — Carson passou a mão pelo rosto.
— Você estava no armário? — Chase perguntou, surpreso.
— Era segredo? — Steve perguntou, culpado, fazendo vários rirem.
— Falando em armário, Jason, você tem planos de se assumir até o
dia dos namorados? Porque eu ia amar fazer um ensaio com você e Jake. —
Scott sorriu.
— Estamos conversando sobre isso. Com tanta atenção no time, não
sabemos se é melhor me assumir agora ou esperar a temporada acabar —
Jason respondeu sincero, sentindo-se confiante para falar sobre isso em um
local onde ninguém o julgaria.
Jake estava orgulhoso e beijou o namorado. Foi um beijo rápido,
mas eles estavam se beijando em público, perto de pessoas que não
conheciam até algumas horas antes. Isso foi um passo muito grande, e
ambos estavam felizes.
— Não se apresse, faça isso no momento em que estiver mais
confortável. Sair do armário pode ser complicado, o importante é saber que
não está sozinho. — Steve sorriu, confortando-o.
— Vai no seu tempo. Quando estiverem bem, me avisem, que eu
marco o ensaio — Scott brincou.
— Conhecendo o seu estilo de foto, sei que vou amar esse ensaio.
— Jenn riu. Algumas pessoas concordaram.
— Jenn. — Elijah negou com a cabeça.
— O quê? Olha como eles são gostosos juntos, sem ofensas.
— Foi o que eu disse no primeiro dia do Jake no Rhynos, quando
Jason ainda repetia que Jake não era a fim dele — Sadie falou, revirando os
olhos.
— Por isso que Jason está se dando bem com meu irmão, é lerdo
igual — Lilly comentou, e as três riram cúmplices.
— Se elas conhecerem a Mori, estaremos ferrados — Scott
comentou com o namorado, que concordou.
— Sabe, teoricamente eu tenho um irmão chamado Jason — Ethan
comentou para Jason, que ficou confuso.
— Teoricamente?
— Uma pessoa desagradável que gosto de fingir que não divido
DNA, longa história. — O piloto fez sinal com a mão, como se aquilo não
fosse nada. — Então, eu o trocaria por você facilmente. Seria legal ter um
irmão jogador de futebol americano, conhecido como Steamroller.
— Também tenho “teoricamente” dois irmãos, mas aceitaria sua
oferta. — O atleta riu.
— Que incrível, vou contar para Chris e Becky, meus outros irmãos,
que substituímos um Jason por outro. — Ethan sorria.
— Eu falei, só dar uma brecha, que é adotado pelos Mitchell’s —
Jenn brincou.
— Vocês estão indo para os playoffs, não é? — Eric perguntou.
— Sim, o próximo jogo é o último da temporada por pontuação,
quem tiver mais pontos passa para a segunda fase. O primeiro lugar de cada
conferência não precisa jogar na primeira semana dos playoffs e ainda
estamos invictos, então teremos uma semana de folga. Mas na outra começa
— Jason explicou.
— Vou começar a acompanhar mais, alguns da minha banda são
obcecados por futebol americano, então assisto de vez em quando. Como
minha família é britânica, sempre assisti mais ao futebol mesmo — o cantor
explicou.
— Meu amigo é brasileiro, então também acabo assistindo um
pouco de futebol — o DE comentou.
— Sorte que o jogo de amanhã é às duas da tarde. Se fosse o último
do dia, algumas pessoas não poderiam vir — Lilly falou. — Alec, Cole e
Damon, por exemplo, vão assistir ao jogo e voar direto para os shows deles.
— Alec, Cole e Damon? — Jake perguntou, fingindo normalidade,
mas se segurando para não surtar por dentro.
— Perdão, vocês conhecem tanta gente, e eu jogando nomes assim
— ela pediu desculpas sinceras. — Alec Thompson, Cole Brendon e
Damon Wright.
— Ah, que pena que eles não vão poder ficar na comemoração — o
loiro comentou tranquilo. Mas olhou para Chase e Carson, e os três estavam
se segurando para não surtar ali mesmo.

Estavam no corredor dos vestiários em direção ao campo, o coração


já estava disparado, bombeando a adrenalina para todo o corpo. Jake
respirou fundo, e Jason apertou sua mão, dando-lhe apoio. A voz de Dan
Reynolds, do Imagine Dragons, soou pelo estádio, a torcida gritava,
cantando a música. Então como combinado, quando chegou a parte exata,
eles correram para fora, passando em meio às cheerleaders, o mascote os
acompanhando.

Thunder, feel the thunder


Lightning then the thunder
Thunder, feel the thunder
Lightning then the thunder, thunder

A torcida do Rhynos quase lotava o estádio, uma onda amarela e


preta tinha tomado o lugar. As pessoas se levantaram e aplaudiram, Jake
acenou para eles. Estava emocionado, mas não pôde se deixar levar pelos
sentimentos, tinha um jogo para ganhar.
Montgomery Helmet era um bom adversário. Eles também tiveram
problemas com lesões durante a temporada, mas não estavam muito abaixo
na classificação, então tinham boas chances de passar para os playoffs. Mas
o Rhynos não se deixaria abater.
Os adversários estavam se valendo de que Jake não poderia correr,
mas a linha estava mais atenta, cercando-o melhor. Carson e Chase ainda
eram os homens de confiança do QB, mas ele tinha expressado a
necessidade de ter mais alguém ao seu lado, protegendo-o e sendo um
backup, caso seus jogadores principais não estivessem disponíveis.
Jason assistia ao jogo da lateral, observando cada movimento do
namorado. Bruno estava ao seu lado, mandando-o calar a boca e dizendo
que confiava no próprio trabalho, que, se tinha liberado Jake para jogar, era
porque o loiro estava pronto.
— Por que todo baixinho é invocado? — Jay perguntou. — Sadie é
do mesmo jeito.
— Me irrita pra ver se não fica no banco o resto do tempo — Bruno
resmungou.
— Eu amo esse cara. — Tyson riu.
Teoricamente, Bruno não era da equipe do Rhynos, era para ele só
acompanhar o caso de Jake, mas foi ficando, ajudando com outros
jogadores, vendo outros casos... Agora fazia parte da equipe e usava a
camiseta da comissão técnica.
E, o mais importante, recebia por isso.
— Eu sei! Mas não será necessário — Jefferson respondeu a Jason.
— Se precisar, eu vou — o moreno insistiu.
Jason realmente estava treinando com o ataque, aprendendo jogadas
e feito alguns testes com Leighton Diggs. Era quase uma dupla jornada,
mas estava levando a sério. Quando Jake pôde voltar a treinar, foi mais
fácil, Jason já tinha ideia do que fazer e, só pela movimentação de corpo do
loiro, já imaginava o que ele queria fazer. Não era melhor que os jogadores
que sempre treinavam naquela posição, mas se sentia melhor por poder
ajudar o namorado.
— Sério, vou conversar com seu marido, você era mais fácil de lidar
antes. — Jefferson bufou.
— Fácil porque não era você que lidava com ele. Agora se vira. —
Tyson riu.
Nesse momento, Carson deu uma arrancada, passando pelo meio da
linha, girando o corpo para desviar dos adversários que tentaram derrubá-lo.
Carson era muito rápido. Por isso, era difícil acompanhá-lo, mesmo nos
treinos Jason tinha dificuldade. Chegando perto da end zone, o safety do
Helmet correu até Carson e se jogou para agarrar suas pernas. Carson pulou
sobre ele, quase dando um mortal por cima do jogador e caindo dentro da
end zone, rolando no chão, mas com a bola em mãos.
— Ele é muito exibido. — Bruno negou com a cabeça enquanto a
torcida gritava, comemorando. — Eu falei que, se ele continuar de
gracinhas, vai acabar se machucando e é ele que vai ficar de fora dos jogos.
Jason riu, ainda mais quando Carson passou por eles, mandando
beijinho para Bruno, que revirou os olhos. Jake tinha razão, seria divertido.
Quando o placar estava confortável para o Rhynos, Jake teve que
ficar no banco e Diggs assumiu. Obviamente o loiro não queria aquilo, mas
teve que engolir a raiva, era por uma causa maior. Sua lesão tinha sido leve,
mas, se forçasse, ficaria ainda maior, e não podia deixar isso acontecer.
Tinha planos concretos de chegar até o Super Bowl e ser o primeiro QB
assumido a ganhar a taça.
— Bom jogo! — Wade disse, abraçando o irmão. Jason retribuiu o
abraço, mas se distanciou um pouco.
Wade ainda mandava mensagens e ligava toda semana, Jason era
cordial e respondia. Jake revirava os olhos toda vez que via o nome de
Wade nas notificações. O irmão tentava ser mais próximo do DE, mas Jason
tinha imposto limites e explicado, mais de uma vez, que aquilo era um
longo processo.
— Podemos sair para comemorar seu aniversário, o que acha? Só
nós dois — Wade disse, e Jake entendeu que era uma forma de avisar que
ele não estava incluído, o que o loiro agradecia.
— Hoje não posso, temos compromisso, mas quem sabe essa
semana, tudo bem? — Jason perguntou. O irmão tinha pedido ingressos
para o jogo, e Jason tinha entregado, mas nada de camarote ou tratamento
especial.
— O que farão?
— Iremos sair com uns amigos.
— Ah, então posso ir junto. — Wade sorria, e Jake sabia que era
falso.
— Sinto muito, mas não somos nós que estamos organizando, tem
uma lista de pessoas que podem entrar.
— E ele vai? — O irmão indicou Jake.
— Claro que vou — Jake disse como se pensar o contrário fosse um
absurdo.
— A festa é mais pelo retorno dele e por ter se assumido do que
para mim. — Jason riu.
— E dão festas para isso? — Wade tentou segurar o veneno, mas foi
óbvio.
— Você pode enfiar seu...
— Ok, temos que ir — Jason disse tapando a boca de Jake, que
revirou os olhos. — Depois nos falamos, Wade. Carson, Chase, vamos!
— Injusto — Jake reclamou quando deixaram o irmão de Jason no
corredor do estádio e caminharam para o camarote de Nathan Grant.
— Só não queria perder tempo ali.
— Que bom que chegaram. Venham, preciso apresentá-los a muitas
pessoas — Nathan disse assim que os quatro entraram.
O camarote principal estava lotado, tinha muito mais gente do que
eles pensavam que teria. Além das pessoas que estavam no almoço do dia
anterior, tinha celebridades que eles nunca pensaram em conhecer. Todos
usavam as camisetas do Rhynos, de qualquer jogador que fosse, alguns
tinham corações amarelos e pretos na bochecha, outros usavam maquiagem
com as cores do time ou tinham as unhas pintadas.
— Oi, eu me chamo Henry, este é meu marido Scott, nossos filhos
estão em algum lugar. — Henry King riu, apresentando-se a eles.
Henry King, diretor criativo da Gucci, dono da própria marca com
um dos filhos, que também estava lá, estava com o marido,
cumprimentando-os. Então vieram os filhos, que eram tão famosos quanto
eles: Alec, Matthew, Diana e Alice Thompson. Matthew estava
acompanhado do namorado, um rockstar mundialmente conhecido. Aí tinha
Damon Wright e o marido. E Jake estava achando que poderia ter um
ataque de fã a qualquer momento.
— Jason, olha o que Connor me deu. — Taylor sorriu, mostrando a
camiseta nova do Rhynos, em apoio à comunidade.
— Ficou muito bem em você — Jason respondeu, vendo que o outro
tinha escolhido a que tinha o número 28. Então podia imaginar Connor
rangendo os dentes, mas comprando para agradar o mais baixo.
— Vocês foram incríveis, e parabéns adiantado pelo seu aniversário.
— Taylor o abraçou. Connor apareceu na mesma hora, e, assim que o
abraço acabou, puxou, delicadamente, Taylor pela camiseta.
Connor também usava uma camiseta do Rhynos, mas era com o
número e o nome de Jay.
— Oi, desculpa ser rápido, mas tenho que ir para um show — Cole
Brendon se apresentou, abraçando-os. — Mas virei com mais calma no
próximo, e Nathan nos disse para abrir a agenda no Super Bowl.
— Me deixa tirar uma foto de vocês — Mike pediu. Jason e Jake
concordaram, sem saber o que fazer.
— Vamos organizar isso, quem quiser tirar fotos com os jogadores
vem aqui e já tiramos. Depois podemos aproveitar — Scott falou alto,
chamando a atenção de todos.
Quando Jake viu, todas aquelas pessoas famosas, pessoas que ele
admirava e nunca havia sonhado em conhecer, aproximando-se para tirar
foto com ele, que não sabia como reagir. Sabia que, depois, precisaria de
um minuto, aquelas pessoas estavam ali para apoiá-los, e aquilo não tinha
preço.
— Jay, você também é jogador, larga esse prato e vai tirar foto —
Nathan chamou o ruivo, que estava no canto dele, comendo. — Chase, tem
um bolo só pra você, agora apareça nas fotos!
— Gosto dele mandão — Logan comentou, e as pessoas em volta
riram.
No camarote havia uma pintura com o símbolo do Rhynos, e foi ali
que as fotos foram tiradas. Scott e Mike tiraram várias, mas tiveram que
aparecer em algumas. Quando a sessão estava quase acabando, mais uma
pessoa chegou e ficou conversando com Nathan e Maristela, até que
chegasse sua vez.
— Aquele não é Jesse Dancy? — Chase perguntou.
— É ele, sim — Jason confirmou, confuso.
— Será que ele veio dar apoio ao Jake? — Kevin, que também
estava lá, sugeriu.
— Creio que todos conhecem Dancy, não é? — Nathan apresentou,
e os jogadores confirmaram. — Depois de uma negociação um pouco difícil
e abrindo uma brecha na lei, conseguimos fechar o contrato ontem. Jesse
Dancy é a nova contratação do Rhynos. Vamos anunciar com a foto de
vocês, tudo bem?
— Claro — Jake foi o primeiro a responder.
— Oi — Jesse disse tímido, segurando uma camiseta do Rhynos.
Ele ocupou o lugar do meio, ficando entre Jake e Jason, Kevin e Jay
nas pontas, Carson e Chase abaixados na frente, apontando para a camiseta
que Jesse segurava. Era a parte de trás de uma camiseta de jogo do Rhynos.
Tinha Dancy escrito no topo de 08 no meio.
— Eu avisei! — Sandra George interrompeu o apresentador, e todos
riram.
— Ok, aconteceu o que ninguém esperava, menos a Sandra — o
apresentador se corrigiu. — Em uma decisão inédita, o presidente da liga
nacional liberou que um jogador trocasse de time durante a temporada.
Jesse Dancy saiu do San Antonio Sand Storm, como todo mundo já sabia, e
foi para Raleigh Rhynos.
— Jesse Dancy é um tight end habilidoso e, como Jake Lewis está
se recuperando de uma lesão, vai fazer diferença — um dos repórteres
comentou. — Podemos ver como ele faz falta para o Sand Storm, que desde
sua saída perdeu três dos cincos jogos que disputou. E as duas vitórias
foram muito apertadas.
— E vamos falar que foi muita coincidência termos dois jogadores
assumidamente LGBTs na liga. Um foi ferido, e outro, demitido pelo Sand
Storm — Sandra opinou, e todos ficaram calados, não querendo se
comprometer com o assunto polêmico. Apenas ela teve coragem de falar o
que todos estavam pensando. — Não estamos insinuando nada, claro.
— Claro que não, apenas pontuamos uma “coincidência” — o
apresentador falou.
— O importante é que Jesse Dancy, um excelente jogador,
encontrou sua nova casa — um dos comentaristas comentou. — Ele não
deve estrear até os playoffs, provavelmente só em janeiro, porque precisará
treinar com o time, mas estamos ansiosos para isso.
— Que ano Raleigh Rhynos está tendo, hein? Saiu de uma
temporada fracassada e indigna para a história do time, conseguiu um novo
capitão de ataque, o time parece que renasceu das cinzas e se tornou a maior
promessa do Super Bowl desta temporada, estando invictos até agora.
Tiveram uma crise quando o QB titular se assumiu bissexual, quase
perderam o próprio estádio, foram comprados por um bilionário, Jake
Lewis se machucou, mas já está de volta, e agora terão essa semana de
folga, porque são os melhores da sua conferência. — O apresentador
suspirou, como se estivesse cansado. — Que ano!
Jake e Jason estavam deitados na cama, assistindo à TV e com
preguiça de fazer qualquer coisa. A festa programada por Nathan tinha
durado boa parte da madrugada. Ele fechou um bar só para a comemoração,
e eles tiveram bebidas de graça a noite toda. Com tantos cantores famosos,
além do DJ tocando, ainda havia apresentação ao vivo. Cantaram parabéns
para Jason, com direito a um bolo gigante, o que fez os olhos de Chase
brilharem.
Em determinado momento, Jason estava sentado em um dos sofás
do lugar, Jake em seu colo, enquanto assistiam a uma apresentação de Eric
Blake. O cantor cantava sobre amar e se jogar na paixão, perder-se no
sentimento para encontrar a felicidade. Era mais uma das muitas
declarações de amor para o noivo, mas o DE sentia isso também.
Ele apertou o loiro em seus braços, Jake sorriu e o beijou. Pela
primeira vez em toda a sua vida, Jason mal podia esperar para poder contar
ao mundo que era gay e deixar todos saberem o quanto amava Jake. Estava
ansioso para poderem sair de mãos dadas, para poderem se beijar sem ser
escondido e viver aquilo de verdade.
O moreno estava feliz e nem se lembrava de como era antes de se
sentir assim. A voz do medo que habitava sua cabeça havia sumido, e ele
nem sabia dizer quando aquilo tinha acontecido. Ele só se sentia mais forte
e corajoso e achava que isso refletia em campo. O Rhynos era um time mais
forte, unido e imparável. Não era perfeito, mas eram os melhores.
— Se sairmos escondidos e fomos para casa, será que alguém nota?
— Jake sussurrou para o namorado.
— E por que você quer escapar da festa? — provocou.
— Porque preciso urgentemente ir para casa, chegar na nossa cama,
tirar nossas roupas e que você me foda — respondeu.
— É, acho que podemos ir.
Os dois se levantaram e disfarçaram, indo em direção à saída. As
pessoas falavam com eles, que inventavam desculpas dizendo que iriam
buscar algo para beber ou qualquer coisa assim e escapavam. Estavam no
corredor da saída e viram Steve e Scott, o fotógrafo estava encostado na
parede, e o ator, na sua frente, beijando-o. Jake e Jason tentaram passar
despercebidos, mas o Scott os viu e riu.
Jake colocou os dedos nos lábios, pedindo segredo, Steve e Scott
concordaram, rindo, e o fotógrafo fez sinal para irem embora logo. Os dois
aproveitaram a chance, saindo do bar e quase correndo para o carro, apenas
cumprimentaram silenciosamente um dos muitos seguranças de Nathan.
— Essa noite foi muito louca. — Jake riu enquanto o moreno
dirigia.
— Espera até ganharmos o Super Bowl — Jason disse, entrelaçando
os dedos com os do namorado.
— Será incrível — o loiro prometeu.
Mal passaram pela porta de casa e estavam se beijando, subiram as
escadas tropeçando, porque não queriam se separar. Algumas peças de
roupa ficaram pelo caminho, mas a única coisa com que se importavam era
se livrarem delas. Jason caiu na cama, trazendo Jake com ele, o moreno
tomava alguns cuidados para evitar machucar o joelho do loiro. Não que
Jake estivesse se importando com alguma coisa naquele momento.
Eles amavam aquela bagunça gostosa, os beijos e mordidas
enquanto o moreno preparava o loiro. Jason aproveitava que as pessoas
sabiam que Jake tinha um namorado, apesar de não terem certeza de quem
era, e deixava pequenas marcas em seu pescoço e ombros.
Os gemidos do loiro o deixavam ainda mais duro, Jason saboreava o
momento, beijando a boca de Jake, esfregando sua língua na dele,
engolindo seus ofegos. Seus lábios foram para a pele do pescoço, chupando
uma parte sensível, enquanto seus dedos estavam dentro do QB,
preparando-o para seu pau. As pontas dos dedos pressionavam uma área
que fazia o loiro gemer mais alto, e era delicioso.
Jason passou mais lubrificante em seu pau, beijou a parte interna das
coxas do namorado e lambeu seu comprimento. Queria chupá-lo, aquilo era
uma coisa que amava fazer. Amava sentir o sabor e o peso do pau do loiro
em sua boca, mas, naquele momento, precisavam demais.
Penetrou-o com calma, como gostava. As unhas de Jake, mesmo
muito curtas, estavam arranhando suas costas. Jason gostava de sentir
aquele ardor, porque a causa era o desespero de Jake preso no meio de tanto
prazer. O loiro olhou em seus olhos, a boca aberta, de onde escapavam os
ofegos, então aquele sorriso provocador foi tomando seu rosto. Jason não
tinha outra coisa a fazer, senão beijar aqueles lábios perfeitos.
— Feliz aniversário — Jake sussurrou entre gemidos.
— Este aniversário está sendo o melhor de todos — Jason
respondeu, estocando o namorado com mais força.
Jason puxou Jake pelo cabelo, expondo o pescoço do namorado e
deixando uma marca do outro lado. O loiro gemeu, ele gostava quando o
moreno era possessivo. E os movimentos não paravam, acertando de novo e
de novo no ponto que o fazia gemer alto.
Jake foi o primeiro a gozar, mas Jason veio logo depois. Ficaram um
tempo na cama, tentando voltar a respirar novamente e se beijando
preguiçosos. Jason encheu a banheira e ficaram um bom tempo lá, apenas
relaxando e se curtindo.
Tinham uma semana de folga dos jogos, Isaac deu os primeiros dias
para descansarem e depois treinariam normalmente, já que estariam
oficialmente nos playoffs. Jake estava ansioso para treinar com Jesse,
tinham conversado pouco, mas ele parecia um cara legal, apenas um pouco
fechado. E, depois de tudo pelo que havia passado, ninguém poderia culpá-
lo por isso.
— Seu irmão está ligando — Jake desdenhou na manhã seguinte,
enquanto estavam deitados na cama, assistindo à TV e sem previsão de
saírem dali.
O loiro tinha trazido o café na cama para o moreno, para comemorar
o aniversário. Até tinha encomendado cupcakes com glacê amarelo e preto,
que Jason tinha amado. Certo que parte do glacê acabou em uma certa parte
do corpo de Jake, sendo chupado pelo aniversariante, o que resultou em
uma transa no chuveiro, mas isso eram eles aproveitando a folga de
aniversário, e à noite jantariam com Rose, Maristela e Mauricio.
— Olá, Wade — Jason atendeu a ligação, rindo do desprezo do
namorado. — Hoje não posso... Não, não tem como... Sim, com a vovó... É,
acho melhor você não aparecer lá.
Jake sorriu pensando em Wade chegando na casa de Rose e ela o
recebendo com a água quente do macarrão. O loiro sabia que a senhora
sentia muito que seu único filho e dois dos seus netos tinham se
transformado em pessoas tão mesquinhas. Ele a entendia e, por isso, tentava
ser o melhor neto substituto que poderia e a amava. Rose era o tipo de avó
que todos sonhavam em ter. Bem, pelo menos quando ela amava o neto. O
que não era o caso de Wade ou Brent.
— Eu sei... — Jason continuou falando com o irmão. — Certo, na
quarta... Mas só você, não é? Não quero falar com Douglas ou Lisseth....
Não é desconfiar, é deixar claro que não quero saber deles... Ok, mas Jake
vai comigo... Não, não irei sem ele.
— Eu não quero ir — Jake choramingou.
— Ok, se vou levar Jake, é justo que leve Brent, mas não quero
saber da família. Só quero poder ter esse tempo de irmãos para comemorar
meu aniversário.
— Tempo de irmãos? Sério? — O loiro negou com a cabeça,
trocando de canal, depois que Jason desligou.
— Foi como ele chamou.
— Tempo de irmãos eu tenho com Chase e Carson. Nos
provocamos, disputamos o videogame e contamos histórias humilhantes uns
dos outros para outras pessoas. Isso aí com Wade é só encheção de saco até
ele pedir alguma coisa. Rose e eu estamos pensando no que será que ele
quer.
— Chegaram a alguma conclusão? — o moreno perguntou,
abraçando o namorado.
— Primeiro pensamos que ele precisava de um rim ou parte do
fígado, algo assim. Até perguntei para Bruno se ele achava que seu irmão
estava doente precisando de algum órgão. — Jake deu de ombros, e Jason
riu. — Mas ele disse que não parecia, então pensamos em dinheiro ou
algum favor.
— Meus pais estão muito bem financeiramente.
— Mais do que você? Não sei se você lembra, mas, atualmente, um
dos nossos melhores amigos é bilionário. Ontem um monte de celebridades
veio nos ver, inclusive aceitamos fazer ensaio fotográfico, participar de
clipe, ser modelos de divulgação do novo livro do Logan e, de acordo com
Henry King e Matthew Thompson, seremos inspiração para nova coleção
da KT, a marca de roupas deles.
— Não me lembro de metade disso. — Jason escondeu seu rosto no
cabelo do namorado.
— Não se lembra, mas tia Maristela só foi anotando e passando o
contato dela para todo mundo. — O loiro riu. — Fora que nosso rosto está
no jornal direto. Connor disse que temos sorte de morarmos em uma cidade
relativamente tranquila. Se morássemos em uma grande capital, tipo Los
Angeles ou Nova York, estaríamos ferrados com a quantidade de paparazzi
atrás de nós.
— Fez as pazes com Connor? — O moreno sorriu.
— Paz é um termo forte, mas estamos indo bem. Ele ainda morre de
ciúme de você, ainda mais porque sabe que você direto conversa com
Taylor. Mas estamos melhorando, ninguém está se ameaçando mais.
— Isso é uma evolução — Jason concordou.
— Ah, Steve contou para Nathan que Devon é seu ex-namorado e
que foi um merda com você, agora Nathan cortou qualquer chance do Steel
de ficar bem conosco. Aparentemente, alguns times viram a popularidade
do Rhynos e queriam promover eventos conosco, para limpar as imagens
deles.
— Por que o Steve contou isso para Nathan? — o moreno
perguntou, confuso.
— Não faço a menor ideia, Scott disse que talvez nunca saibamos.
Mas então Nathan contou para Logan, que decidiu que o vilão do livro
sobre futebol americano se chamará “Burt Devon”. Perguntei se não ia ficar
muito na cara, mas ele deu de ombros e disse “Ele vai fazer o quê? Me
processar?”.
— Esse povo é doido. — Jason riu.
— Doido foi o Carson babando no Bruno dançando, o baixinho nem
disfarçou, e eu te disse, tenho sérias desconfianças sobre eles. — Jake
suspirou.
— Isso eu vi. — O moreno ainda ria. — Passei uma parte da noite
ajudando Chase a fazer Jesse se sentir em casa.
— Amor, você estava tentando fazer Jesse se sentir em casa, Chase
estava tentando fazer Jesse ir para a casa dele.
— Hã?
— Não é à toa que eu tive que, praticamente, te dizer que queria
transar com você, para você entender. — Foi a vez do loiro rir.

Era quarta à noite, Jake e Jason estavam indo para seu encontro com
Wade e Brent. Na segunda tinham jantado com Rose, Mauricio e Maristela
como planejado. Rose tinha adicionado fotos de todos eles, Carson, Chase e
Sofia às fotos da família na parede. Jason sentiu muito orgulho de ver sua
foto com Jake ao lado da foto dos seus avós.
Ele queria muito que Noah estivesse vivo para ver tudo o que
moreno tinha conseguido. Seu avô teria amado Jake, certeza de que teriam
se tornado grandes amigos e até jogariam um pouco juntos. Onde quer que
Noah Brody estivesse, Jason esperava que estivesse assistindo e estivesse
orgulhoso.
Na terça à noite marcaram uma noite de videogames, Jason e Jake
chegaram na casa dos amigos e, além de Carson e Chase, Bruno e Jesse
estavam lá. Eles poderiam comentar que a camiseta de Jesse era de Chase
ou que a bermuda que Bruno usava era de Carson, mas decidiram apenas
ficar quietos e seguir com o resto da noite.
Enquanto Carson e Bruno eram barulhentos, provocavam todo
mundo e se ofendiam toda hora, Chase e Jesse eram mais calmos, riam de
tudo, soltavam piadas ocasionais e se provocavam mais veladamente. Jake e
Jason se entreolharam e riram.
Então quarta-feira chegou, arrumaram-se e foram até o endereço que
Wade tinha passado. Segundo ele, era uma casa que tinha alugado em um
bairro nobre de Raleigh. Jason se perguntou se deveria cancelar e ir embora,
mas Jake disse que era melhor resolverem aquilo de uma vez.
Ao tocarem a campainha, Jason respirou fundo, e Jake segurou sua
mão, mostrando que estava lá por ele. Aquele jantar podia apenas ser mais
um encontro monótono ou terminar de um jeito catastrófico, eles ainda não
sabiam. Mas o importante era que estavam juntos, e isso não mudaria.
— Oh, olá — Wade disse, abrindo a porta. Ele sorria um pouco
nervoso, e aquilo não era um bom sinal. — Que bom que chegaram.
— Tudo bem? — Jason perguntou, desconfiado, entrando na bonita
e elegante casa.
— Claro, por que não estaria? — o irmão respondeu. — Oi, Jake.
— Wade. — O loiro o cumprimentou com a cabeça.
A casa enorme e elegante era bem-decorada, mas era impessoal,
como casas para passar finais de semana ou feriados, não para se viver,
como Wade disse que pretendia.
— O jantar foi servido, lá fora. — Wade indicou a porta de vidro do
outro da sala, que dava para a área da piscina. — Vamos lá.
— O que está fazendo? — Jason perguntou para o namorado, que
digitava algo no celular.
— Avisando Nathan que, se não respondermos em meia hora, é para
mandar aqueles seguranças assustadores e chamar aqueles agentes loucos
amigos dele — o loiro respondeu, terminando de enviar a mensagem.
Jason riu, puxou o namorado e beijou seus cabelos, mas sua risada
morreu quando chegaram ao lado de fora. Em volta da mesa, estavam
Brent, Lisseth e Douglas Brody.
— Estamos saindo — Jason avisou sério.
— Jason, espere, por favor — Wade implorou.
— Nunca mais fale comigo — o moreno o interrompeu.
— Jason, por favor, nos escute — Lisseth implorou.
— Jason, por favor! — Brent implorou.
— Como vocês têm coragem de me pedir alguma coisa? — Jason
estava irritado.
— Amor, se acalma — Jake pediu. — Escute o que eles têm a dizer.
— Quer que eu dê uma chance para eles? — perguntou, revoltado e
se sentindo traído.
— Claro que não, quero que todos eles vão para a casa do caralho.
Escute apenas para entender que o problema sempre foi eles. Você carrega
esse peso dentro de você por culpa dessas merdas. Olhe para eles,
miseráveis, te implorando por atenção. Dê essa chance para você, diga tudo
o que quer e encerre esse ciclo. Tudo bem?
— Certo — o moreno resmungou
— E quem é você? — Douglas Brody perguntou, irritado.
— Não me irrita, porque é graças a mim que ele vai dar quinze
minutos de atenção para sua família. Apenas falem logo.
— Como você está, querido? Faz tanto tempo que não nos falamos.
— Lisseth tentou encostar em Jason, mas ele recuou, ficando ao lado de
Jake.
— Eu disse para não perderem tempo, vamos ao assunto principal
— Jake falou, cruzando os braços.
— Quem é esse... esse... — A mulher procurava uma palavra boa o
bastante para ofender o loiro, que apenas revirou os olhos.
— “Esse” é o amor da minha vida, minha família. E, se vai ofendê-
lo, estou saindo.
— Jason, espera — Wade pediu. — O que queríamos falar com você
é que a família não está muito bem e precisamos de ajuda.
— Ajuda no quê? — perguntou entredentes. — Querem dinheiro?
— Não, quer dizer, talvez, é complicado. — Wade suspirou. — Vou
me casar em alguns meses, a família da minha noiva é muito rica e
influente. O casamento será grandioso, e eu vou te chamar para ser meu
padrinho, mas as coisas estão complicadas.
— Fale logo!
— Meu futuro sogro tem ligações com vários políticos, ele vem de
uma linhagem conservadora, e sabe como todos dizem que tenho carisma.
Ele quer que eu me candidate nas próximas eleições para dar um futuro
confortável para sua filha, primeiro para deputado e, quem sabe, logo um
senador. E eu realmente preciso disso, porque as coisas no escritório da
nossa família não estão bem. Só que eu preciso de um apoio popular para
que as pessoas me conheçam e confiem em mim.
— Você quer que eu te apoie publicamente nas eleições? — Jason
perguntou, confuso.
— Eu preciso disso, porque as pessoas não me conhecem, e não tem
como eu usar só do meu carisma para convencer milhões de pessoas a votar
em mim. Mas meu sogro é de uma família muito conservadora, e toda essa
atenção que seu time tem recebido não combina muito.
— Amor — Jake chamou o namorado, usando aquela palavra de
propósito —, ele quer que você pare de apoiar a comunidade LGBT, seja
contra o que Rhynos vem falando e fique no armário por toda sua vida, para
que ele seja eleito.
— É isso? — Jason perguntou de um jeito frio para o irmão, que
engoliu em seco, sem saber como responder.
— Não é só isso — Lisseth disse. — Brent está em uma faculdade
de ponta, ele está cursando direito, mas suas notas estão indo mal. Ele
precisa ser aceito em um programa de estudos para não reprovar. Para ser
aceito precisa de indicações. Se você fizer uma carta dizendo o quão
próximos são e o quão inteligente e dedicado ele é e pedir para alguns
amigos fazerem, os coordenadores do curso verão que Brent merece essa
vaga.
— Amigos, tipo Nathan Grant?
— Sim. — Lisseth sorriu aliviada, achando que Jason tinha a
entendido. — Também precisaremos de ajuda financeira. Com o casamento,
a faculdade e esse programa de estudos, estamos gastando muito mais do
que pensamos. Não precisa pagar todas as nossas contas, só assumir a
educação de Brent.
— Só? — Jason riu sem humor. — Vocês me descartaram como
lixo, nunca me trataram com alguém da família e, na primeira oportunidade,
me jogaram fora. Passaram mais de dez anos ignorando a minha existência
e, quando eu finalmente estou bem, prestes a conseguir chegar ao meu
maior objetivo, que é o Super Bowl, vocês precisam de mim?
— Jason, não é isso. Nós...
— Sinto muito, amor, mas eles não precisam de você, precisam do
que você pode fornecer a eles — Jake disse. — Não se importam com você
ou com o que sente, só se importam com a maneira como você pode servi-
los.
— Cale a boca! — Douglas Brody gritou, levantando-se.
— Vai se foder — Jake disse olhando nos olhos do homem mais
velho. — Jason, foi isso que eu quis dizer. Você precisava ouvir, para
encerrar esse assunto. Eles não são família, nunca foram.
— Tem razão. — O moreno suspirou.
— Não ouça as merdas que esse moleque diz! Nós somos sua
família! É a nós que você deve lealdade!
— E quando foram leais a mim?! — Jason estourou com o pai. —
Querem que eu fique preso no armário por toda minha vida só para que
Wade, supostamente, conquiste alguma coisa?
— Famílias se sacrificam um pelo outro, é a sua vez!
— Minha vez? E quando não foi a minha vez? — Jason negou com
a cabeça. — Vocês nem valem o esforço.
— Jason, pare de drama — Wade insistiu. — Já ficou no armário até
agora, o que custa ficar mais tempo?
— Você é um dos maiores imbecis que já vi na minha vida. — Jake
negou com a cabeça.
— Vamos embora, espero nunca mais ver vocês — Jason avisou e se
virou para sair.
— Não! Você não pode fazer isso! — Wade entrou em sua frente.
— Saia do meu caminho e suma da minha vida! — Jason vociferou
para Wade.
— Você precisa me ajudar, sou seu irmão! — o outro respondeu.
— Se lembrou disso agora? — O DE estava irritado. — Onde estava
quando precisei? Onde estava quando seu pai me expulsou de casa? Onde
estava quando sua mãe bateu na minha cara e me chamou de aberração?
Onde estava em cada momento bom ou mau da minha vida? Não fale
besteiras, Wade, você não é nada meu, muito menos meu irmão.
— Você precisa superar!
— Superar o quê, exatamente? O fato de a minha família escolher
fingir que eu não existia em vez de aceitar que sou gay? — Jake segurava o
braço de Jason tentando confortá-lo de algum jeito.
— Por que você não pode entender? Foi difícil, só isso.
— Difícil? Foi difícil para mim, vocês continuaram suas vidas
estúpidas! Você não sabe de nada! Nunca precisou se preocupar e nunca se
importou, de qualquer forma.
— Jason...
— Não se atreva! — Jason interrompeu Lisseth, que ficou surpresa
pela rispidez.
— Não fale com sua mãe assim! — Douglas brigou.
— Ela não é minha mãe, como você não é meu pai. — As palavras
de Jason atingiram os pais e irmãos, e isso o irritou. Como se eles tivessem
o direito de ficar ofendidos com qualquer coisa.
— Jason, sei que não era isso que você pensou, mas podemos
conversar — Wade insistiu.
— Você me enganou, disse que me queria de volta na sua vida. Mas
o erro foi meu de ter cogitado essa hipótese.
— Queremos você de volta — Lisseth insistiu. — Só precisamos
que você faça alguns sacrifícios pela família.
— Agora que estou prestes a jogar o Super Bowl é fácil me querer,
não é? Agora que meu nome está em todos os lugares, que tenho amigos
muito mais ricos e influentes que vocês, me querem de volta. Agora que
Nathan Grant dá entrevistas dizendo que sou amigo dele, vocês conseguem
“superar” o fato de que sou gay. Mas só se eu não contar para ninguém que
sou gay e namoro um homem, não é?
— Não é isso! — Wade disse como se estivesse ofendido, e Jake riu
debochado. — Não se meta em assunto de família, sua bicha!
— Não! — Jake segurou Jason, que quase socou o irmão. Não que
Wade não merecesse, o medo de Jake era que Jason não parasse. — Jason é
minha família!
— Você nem deve saber o que é isso. — Douglas bufou.
— Sei muito bem reconhecer uma família, e a sua é um dos piores
exemplos que já vi. — Jake indicou Wade, Lisseth e Brent, que até agora
estava quieto. Então se virou para Wade. — Você armou para seu irmão vir
aqui achando que esse teatrinho estúpido e muito mal-executado iria o
convencer. Vocês são tão burros que acham que Jason voltaria correndo
para seus braços. Olha o que ele construiu, olha como as pessoas o
admiram, olha o que falam dele, olha ele! Ele é incrível e tão bom em tudo,
que chega a ser irritante. Vocês são nada perto dele, então porque Jason
“Steamroller” Brody precisaria de vocês para algo?
— Você...
— Não, espera. Vocês servem para uma coisa, sim. Para fazer Jason
rir do quão patéticos são. — Jake deu seu famoso sorriso provocador, um
dos vários que Jason amava. — Também servem para ele ser agradecido por
não ter se tornado um de vocês.
— Sou grato por isso — Jason concordou.
— Se fosse minimamente parecido com isso — o loiro fez careta de
nojo, indicando Wade — nosso relacionamento nem teria começado. Vamos
sair daqui e comprar um belo buquê de rosas para a vovó Rose.
— Vai deixar que ele fale assim de nós? — Douglas Brody indicou
Jake quando usou a palavra “ele” carregada de nojo e desprezo.
— Vou embora com Jake e espero nunca mais ver nenhum de vocês.
Vou bloquear seus contatos e tratá-los exatamente como me trataram até
agora. Não tentem entrar em contato, não perguntem de mim e, mesmo que
estejam no leito de morte, não falem comigo. Não me importo.
— Não pode fazer isso, somos sua família! — Lisseth gritou. —
Precisamos de você, o futuro dos seus irmãos depende de você!
— Que azar, né? — Jake riu.
— Azar? — O moreno riu. — Espere até ver como a família
influente e conservadora da noiva de Wade reagirá quando eu me assumir
gay na frente de todo mundo.
— Você não pode fazer isso! — Douglas falou bravo, Wade estava
com os olhos arregalados. — Sabe que, se souberem que é gay, você não
vai conseguir nada. Nunca chegará a algum lugar.
— Você tem muito medo de que seus amigos saibam que tem um
filho “bicha”, não é? — O moreno sorriu de canto. — Passou o tempo que
eu fazia alguma coisa para agradar vocês. Vocês não terão minha ajuda em
nada, nem da minha influência, meu apoio ou meu dinheiro. Apenas
saberão de mim quando todos os lugares noticiarem que me assumi gay ou
quando noticiarem que ganhei o Super Bowl.
— Não! Você não pode fazer isso! — Brent começou a berrar, como
uma criança pequena fazendo birra. Enquanto isso, Wade estava pálido,
meio esverdeado, parecia que ia vomitar ao perceber que Jason não ajudaria
mesmo. — Papai! Mamãe! Vocês prometeram! Jason, você tem que fazer
isso!
— Não — Jason disse, sorrindo. — Como seus pais sempre me
disseram quando eu pedia qualquer coisa, mesmo que fosse ajuda no dever
de casa, “cresça e se vire sozinho”.
— Não! — Brent jogou a cadeira contra o gramado, em um ataque
de fúria.
— Vai virar as costas para sua família? — Douglas perguntou,
vermelho de raiva, Lisseth tentava controlar o filho mais novo.
— Claro que não, sempre cuidarei da minha família. Mas minha
família é composta por minha avó e por meu namorado — o DE respondeu,
Jake sorriu feliz.
— Seu imbecil, por que não podia superar o passado e seguir em
frente? — Wade esbravejava, mas Jason e Jake estavam saindo. — Ele vai
te largar, vai achar outro idiota, e você vai ficar sozinho! Seu imbecil! E
aposto que nem vão ganhar! Só estão indo bem nesta temporada, mas vão
se ferrar nas outras, como sempre!
— Sabe, até pode ser — Jake disse, virando-se para ele. — Pode ser
que não ganhemos nesta, mas, ganhando ou não, vamos continuar tentando
ser o melhor que pudermos. Mas quando acabar o dia, Jason e eu
continuaremos milionários. E vamos continuar fazendo essas publicidades
que nos rendem mais dinheiro. Quando nos aposentarmos, antes dos 40
anos, ainda teremos amigos influentes e ricos e nós seremos ricos. Podemos
aproveitar nossa aposentadoria onde quisermos. Enquanto vocês estarão
falidos. O karma é uma vadia, não é?
— Vai se arrepender de escolher ele! — Lisseth gritou, chamando a
atenção de todos. — Sangue é mais espesso que água, e é o nosso sangue
que corre pelas suas veias. Nós somos sua família!
— Isso era para fazer algum sentido ou me comover? — Jason a
olhou como se ela fosse louca.
— Até que ela tem razão. Sangue é mais espesso que água, mas sabe
o que é mais espesso que sangue? — Jake sorriu debochado. — Porra!
Porra é bem mais espessa que sangue. Então, não tenho o sangue de Jason,
mas tenho uma quantidade considerável da porra de Jason em mim toda
noite, acho que dá na mesma. Até nunca mais!
— Pelo poder investido a mim, eu os declaro marido e mulher — o
juiz disse, e todos aplaudiram quando Kevin abraçou Nora e a beijou.
Era o final de semana de folga dos jogos, quase o time inteiro estava
no casamento do linebacker. Jason era um dos padrinhos, ficando logo
depois do irmão de Kevin. A madrinha que entrou com ele até tentou dar
em cima dele, mas Nora deu uma bronca, e a outra parou.
O casamento estava lindo, Nora tinha muito bom gosto. A
decoração era toda clara, mas não de um jeito enjoativo. A cerimônia foi
realizada em um espaço, depois os convidados apenas andaram por um
corredor para chegar aonde seria a recepção. A ideia original era que fosse
feito do lado de fora, mas era inverno, então não quiseram arriscar.
Jason usava um conjunto de terno de três peças preto, camisa
branca, gravata borboleta preta e uma flor amarela e branca na lapela, como
todos os outros padrinhos. Jake era convidado, então usou terno preto com
detalhes em amarelo. Como seu estilo nunca era muito formal, ele tinha
mostrado as fotos do que queria usar para Nora, que amou.
Os noivos não tinham crianças na família, os filhos de Jay que
foram os floristas, então Agatha usava uma réplica do vestido da noiva, mas
em uma versão mais confortável para a menina. Sadie tinha postado uma
foto de Jason, Jake e as crianças, o que gerou furor e até teorias de que eram
eles que estavam se casando. Os dois achavam engraçado.
— Essa será a capa de várias fanfics — Sadie brincou sobre a foto.
Ela estava linda em seu vestido azul claro. — Até vou tirar mais fotos para
abastecer os Jase shippers.
— Eles a tratam como uma rainha, até mandam presentes pra ela —
Jay contou.
— Por que dão presentes para você e não para nós? — Jake
perguntou, revoltado.
— Porque eu sou especial. — Ela deu de ombros e riu. — E porque
eles sabem que podem contar comigo para estarem atualizados, já que, se
não for algo divulgando o próximo jogo, vocês nem lembram como se posta
uma foto.
— Isso é verdade, a tia pegou a senha das redes deles para postar as
fotos que o Scott tirou — Chase falou.
— Só esses dois imbecis para ter fotos feitas por um fotógrafo
famoso, que todo mundo morre para conseguir um horário com ele, e não
postar. — Carson negou com a cabeça.
— Tudo certo por aqui? — Kevin perguntou, sentando-se com eles.
Todos responderam que sim e elogiaram o casamento.
— Tenho uma pergunta — Jay avisou. — Se não estivéssemos em
primeiro lugar, não teríamos esse fim de semana de folga, então teríamos
jogo amanhã. Por que você marcou seu casamento em um sábado? Ou tinha
muita fé de que iriamos muito bem nesta temporada ou já tinha desistido e
ligou o foda-se se iríamos jogar no outro dia.
— Não. — Kevin riu. — O casamento estava marcado para sexta-
feira, ontem, porque, se jogássemos na quinta, domingo ou segunda, não
iria interferir. Aí na pré-temporada estávamos indo bem e ainda ganhamos
do Steel, então falei para Nora que podia mudar para o sábado, como ela
queria. — Ele deu de ombros.
— Então foi fé mesmo. — Jake riu.
— Imagina se dá merda e a gente não consegue ficar em primeiro?
— Carson brincou. — Oito da noite, e todo mundo, incluindo o noivo,
tendo que ir para a concentração.
— Isso se o jogo fosse aqui em Raleigh. Se não fosse, teríamos
embarcado, com sorte, logo após a cerimônia — Jason completou.
Na mesa estavam Jason, Jake, Jay, Sadie, Carson e Chase. Nora
conseguiu colocar Jesse e Bruno também. A noiva tinha ficado amiga do
fisioterapeuta, já que ela também era da área médica. Jesse continuava
calado, mas estava se abrindo mais, conversando mais, e isso era um bom
sinal.
— Semana que vem acabou a folga — Isaac os avisou, chegando
perto.
— Aproveitei demais a minha folga, não fiz nada — Jay falou, e
eles riram.
— Joguei videogame, fiquei na cama e comi, foi perfeito. — Carson
sorriu. — Não vou nem perguntar o que “Jase” fez na folga, mas e você,
Isaac? O que fez?
— Terminei um curso que estava fazendo havia meses, mas, como
nunca tinha muito tempo, consegui finalizar agora. — O técnico deu de
ombros. — Nada demais, mas sinto que vou usar em breve.
— Ok, mestre dos magos — Jake brincou, e todos riram.
Quando a pista foi liberada, alguns do grupo foram dançar. Bruno
era um excelente dançarino e estava com Sadie e Nora ensinando alguns
passos. A maioria nem se atrevia a tentar imitar, mas todos estavam se
divertindo. Quando começou a música lenta, vários casais se juntaram na
pista. Jason estendeu a mão para Jake, que aceitou, sorrindo.
— People fall in love in mysterious ways. Maybe just the touch of a
hand — Jason surrava a música que dançavam no ouvido de Jake, que
sorria. — Well, me, I fall in love with you every single day. And I just wanna
tell you I am.
Enquanto dançavam “Thinking Out Of Loud”, do Ed Sheeran, eles
não estavam se importando se teriam fotos e vídeos disso, se alguém os
filmasse dançando e postasse. Não se importavam com os olhares curiosos
de quem estava na festa e não os conhecia. Eles não tinham medo. Jason
não tinha mais medo.
E isso era a melhor coisa de todas.

— Primeiro jogo dos playoffs do Raleigh Rhynos, o que podemos


esperar, Jalen? — Every perguntou para o colega.
— Eu diria que qualquer coisa, principalmente depois do jogo
espetacular que tivemos mais cedo entre Lightning e o Pumas, em que o
Lightning deu aquela virada inacreditável. Porém estamos falando do
Rhynos, que tem se mostrado um adversário quase impossível de ser
superado. Se Harpy quiser continuar com a boa campanha agora, terá que
suar muito.
— Se, meses atrás, alguém me dissesse que Raleigh Rhynos seria
um dos favoritos para o próximo Super Bowl, eu iria rir. Mas aqui estamos
nós.
— Não só é favorito, como é o único invicto desta liga. Na outra
liga, Steel e Scorpions também estão, mas eles irão se enfrentar na semana
que vem, e isso mudará. E vamos lembrar que, mesmo que não conte para a
temporada regular, Rhynos ganhou do Steel na pré-temporada.
— Resumindo, ninguém sabe o que esperar desse campeonato. Fãs
do esporte, não saiam daí, porque logo estaremos de volta para mais um
jogo sensacional da liga nacional de futebol americano. Não saiam daí!
O jogo contra o Poison foi o início da verdadeira batalha, antes eles
estavam jogando para marcar mais pontos e se manterem na liderança,
agora era pela sobrevivência dentro do campeonato. Nessa parte, teriam que
jogar com outros times que já tinham enfrentado e também passaram. Essa
eliminação continuaria até as semifinais, quando sairiam os dois times que
disputariam a final. Quem ganhasse não só seria o campeão de sua própria
liga, mas iria para o Super Bowl.
— É um erro comum — Carson estava explicando para Bruno. —
Muita gente acha que Super Bowl é a final do campeonato, mas o SB é um
campeonato fechado de um único dia.
— São duas ligas de futebol americano, dois campeonatos
acontecendo simultaneamente. Cada uma tem seu próprio campeão, que
ganha taça, premiação etc. Então existe o Super Bowl, que é um
campeonato que tem apenas um jogo e é realizado uma vez ao ano. O
campeão de cada liga disputa com o outro para saber quem é o melhor.
Quem vencer ganha a taça do Super Bowl, e cada jogador do time vencedor
ganha um anel com um símbolo desenhado especialmente para comemorar
aquela temporada — Jason completou a informação.
— Equipe técnica também ganha anel? — Bruno perguntou.
— Acho que não — Chase disse, pensativo.
— Que sem graça. — O brasileiro bufou.
— Hora de ir, vão! — Isaac gritou.
Como sempre, depois que saíram do túnel que dava para o campo,
Jake e Jason trocaram um soquinho. A torcida foi à loucura e gritou. Os
capitães foram até o centro do campo, para se encontrarem com os capitães
do outro time e os árbitros.
— Pode escolher — Jake brincou com Jason, que riu. — Como você
sempre ganha?
— Não sei, só acontece. — O moreno riu depois que o juiz jogou a
moeda e deu cara, exatamente como Jason tinha escolhido. — Começamos
atacando.
— Certo, bom jogo para todos — o árbitro falou, Jake e o outro QB
deram as mãos em um cumprimento.
O jogo tinha começado, defesa e special team estavam na lateral,
assistindo ao ataque avançar. A defesa do Poison estava bem agressiva,
mas, quando um time se destacava, isso tendia a acontecer.
— Tem que reforçar o lado direito do Lewis — Jesse disse, era o
primeiro jogo ao qual ele assistia em campo, mesmo que ainda não pudesse
jogar. — Precisam de alguém ali.
— O Virgil está lá — Jefferson disse.
— Não, precisa de algo especificamente ali, bem ao lado do Lewis.
O DE do Poison tem vício de movimento, se alguém estiver no caminho,
atrapalha ele — Jesse insistiu. Surpreendeu Jason como Jesse tinha uma
leitura clara da movimentação dos jogadores, mesmo com pouco tempo de
jogo. Não era à toa que era um dos melhores.
— Jefferson, já sabe — Jason o lembrou.
— Ok, se tiver um sack, você entra para proteger seu marido. — O
coordenador do ataque revirou os olhos.
— Jason, olha só. — Jay bateu no seu braço e indicou três garotas
que estavam nas primeiras fileiras.
Elas gritaram quando viram Jason as olhando e mostraram a
camiseta que usavam por cima da blusa de frio. Era branca, com vários
corações pretos e amarelos, tinha uma foto de Jake e Jason no casamento de
Kevin estampada no meio. O DE não sabia quem tinha tirado aquela foto e
postado, mas eles estavam meio abraçados e rindo um para o outro.
Jason sorriu para elas e fez joinha com as mãos, mesmo que usasse
as grossas luvas. Elas gritaram mais ainda, uma quase chorava, então
indicaram dois pacotes que seguravam. Como estavam longe, tudo era por
mímica, mas ele entendeu que era um presente para ele. O moreno fez sinal
de depois, e elas concordaram, gritando felizes.
— Foco no jogo. — Isaac deu um tapinha na nuca de Jason, então se
virou para as meninas. — É bom ter algo pra mim também.
O jogo não estava relativamente difícil, só estava um pouco
agressivo. Jason até entendia, Poison tinha passado para os playoffs por
pouco, então precisava daquela vitória. Mas isso não justificava a violência
exagerada.
Em uma determinada jogada, derrubaram Carson pela perna, quase
acertando seu joelho. O running teve que se jogar no chão para evitar uma
lesão séria, mas foi obrigado a ficar um bom tempo fora da partida. Pelo
menos até Bruno ter certeza de que estava seguro.
A defesa também não estava sendo poupada, um jogador do ataque
segurou Jason pela camiseta e o jogou no chão. Aquilo era um holding, uma
falta, mas o juiz não deu. O cúmulo foi quando, para defender o QB, um
jogador da linha de ataque do Poison puxou o DE pela máscara do capacete.
Isso virou uma discussão, e quando o árbitro estava pensando em não dar a
falta, Jason tirou o capacete, mostrando o rosto arranhado.
O VAR mostrou que era mesmo falta, o Poison perdeu jardas, e o
Rhynos perdeu a paciência. Na primeira tentativa de o segurarem, Jason
bateu nos braços do adversário e conseguiu bater na bola que o QB lançou.
Mas Tru, jogador do Rhynos, alcançou a bola e a segurou. Ele ainda teve
tempo de correr várias jardas antes de ser derrubado pelos jogadores do
time adversário.
— Faz esse TD — Jason disse, passando por Jake, enquanto
trocavam o soquinho.
— Não se preocupe — o loiro respondeu.
Foram necessárias apenas duas jogadas para que Jake cumprisse o
que havia dito.
Já estavam no último quarto, Rhynos tinha aberto uma boa
vantagem no placar, o que deixava os adversários mais nervosos. E, por
isso, combinado à postura fria e até um pouco arrogante de Jake, os
defensores tendiam a ir com mais raiva para cima dele.
— Jefferson, você prometeu — Jason o lembrou.
— Não teve sack! — o coordenador respondeu.
Mas, bem nessa hora, um jogador do Poison conseguiu furar a linha
de ataque, agarrar Jake pelo ponto cego e o derrubar no chão. Jason encarou
Jefferson, que negou com a cabeça, praticamente pedindo paciência aos
céus.
— Inferno! Vai logo e manda o Vaugh de volta. E se você deixar
sacarem o Lewis, espero que ele te deixe dormindo no sofá por uma
semana! — Jefferson gritou enquanto Jason corria pelo campo.
— O que está fazendo aqui? — o loiro perguntou, sorrindo.
— Testando a teoria de Jesse. — Jason piscou para o namorado.
— É isso mesmo que estou vendo? Jason Brody entrou para jogar
pelo ataque? — Every perguntou, surpreso.
— Sim, Steamroller irá jogar como TE, pelo jeito. Não sei que
jogada maluca é essa, mas agora estou mais animado para ver — Jalen
respondeu.
— Meu coração Jase palpita de felicidade, papai e mamãe jogando
lado a lado! — Every exclamou. — Se separados são imparáveis, imagina
juntos.
— Acho que juntos eles ganham o Super Bowl — Jalen brincou.
A jogada começou, Jake se movimentou pelo espaço, esperando o
momento exato de poder lançar. De novo o jogador veio pelo seu ponto
cego, mas, antes que ele encostasse no QB, Jason o acertou, e ele rolou pelo
chão. Então o loiro lançou uma bola perfeita, recebida por Chase, que
correu tanto, que agora só faltavam cinco jardas para o TD.
Jake olhou para o namorado e estendeu o punho fechado, Jason fez
o mesmo, e trocaram um soquinho.
Nada dava errado quando eles estavam juntos.

Na noite de Natal, dias depois do jogo, Jake tirou uma foto sua
usando a camiseta que tinha ganhado das fãs naquele dia. Era apenas a
silhueta de Jason e Jake dando um soquinho no campo. Em volta havia
corações desenhados, alguns amarelos, outros pretos e alguns com as cores
da bandeira bissexual. No pacote, tinha os nomes de usuário das garotas, ele
as marcou na foto e desejou um Feliz Natal na legenda.
— Nathan nos convidou para passar uns dias no Caribe depois que a
temporada acabar — Jason disse, abraçando Jake.
Eles estavam na sala da casa, Rose dormia em um dos quartos de
hóspedes. Tinham jantado juntos e montado uma grande árvore de Natal.
Na manhã seguinte, o resto da família chegaria para tomar café da manhã.
Mauricio e Rose fariam um almoço especial, e muita coisa já estava quase
pronta.
O time tinha conseguido escapar de jogar no Natal, mas jogaria
justo na noite do dia 31 de dezembro. Então eles estavam aproveitando o
feriado em casa.
— Ele sempre fala do Caribe e como ama Porto Rico — Jake
respondeu, bebendo seu chocolate quente. — Logan disse que Nathan quer
levar algum jogo da liga para lá.
— Contando que um dos times seria o nosso, aposto que os outros
vão se matar para serem escolhidos. — O moreno riu.
Jason havia passado quase todos os Natais da sua vida com Rose e
sempre os amou, mas ter a família Herrera/Meneses/Graham/Lewis o fez
amar ainda mais. Como Maristela e Mauricio eram de famílias mexicanas,
seguiam muitas tradições, então foi divertido. Eles falavam alto, eram
bagunceiros, mas eram muito carinhosos. Então tudo foi perfeito.
O jogo no dia 31 foi em Utah. Eles estavam tão perto de Las Vegas,
que Jason pensou mais de uma vez se seria tão ruim escaparem para a
“cidade do pecado” e talvez, só talvez, tornarem oficial o relacionamento
deles. Mas focou no jogo e na comemoração pela vitória. Eles estavam
muito perto de conseguir realizar o maior sonho de todo jogador de futebol
americano.
No meio da festa de virada de ano, quando a contagem regressiva
acabou, Jake e Jason se beijaram. Eles estavam realizando tudo o que
sonhavam juntos, mesmo aquilo que eles nem sabiam que podiam sonhar.
O primeiro jogo de janeiro também era o primeiro jogo de Jesse
Dancy no time. Ele estava nervoso, mas os companheiros tentavam acalmá-
lo. Jake estava calmo, tinham treinado bastante, e ele confiava no seu
potencial. O time estava ansioso, faltavam mais dois jogos, e então seria a
final da liga.
Depois disso, o Super Bowl.
— Como você consegue ser tão calmo? — Carson perguntou. —
Não é à toa que te chamam de Coração de Gelo.
— Só confio em mim mesmo e no time. Sei que todos treinamos
muito, nos preparamos, e tenho consciência de que, neste momento, somos
melhores que o adversário — Jake respondeu, dando de ombros.
— Se ele não teve medo quando enfrentou Devon Butler, não tem
medo de mais nada — alguém brincou.
— Devon Butler é só mais um jogador que deu sorte de estar em um
time bom. Mesmo que ele fosse tudo que falam dele, se não tivesse uma
boa equipe, também perderia — Jake respondeu, e Jason sorriu de canto.
O ataque parecia um pouco hesitante no início do jogo, o que rendeu
uma boa bronca de Jake em todos. Depois eles se alinharam, e as coisas
começaram a fluir.
Jesse, que estava com tanto medo, se deu muito bem na função. A
confiança que Jake e o resto do ataque tinham nele ajudaram-no a confiar
em si mesmo. Depois de tudo que havia acontecido, Rhynos tinha aberto as
portas e o acolhido, ele não decepcionaria ninguém.
Mais uma vitória, mais uma comemoração, mais perto do sonho.
Todos estavam ansiosos. Quanto mais passava o tempo, mais a expectativa
aumentava. Cada jogador tentava se distrair como podia, passeando com a
família, fazendo hobbies, indo a shows, o que funcionasse.
Jake e Jason foram a um show de Mason Callahan, namorado de
Cole Brendon e um dos melhores amigos de Eric Blake. Apesar de não
terem ido sozinhos, afinal seus amigos estavam em volta, ali ganharam uma
música dedicada a eles. E, enquanto Mason cantava sobre deixar o passado
para trás e seguir sendo uma pessoa mais forte, corações amarelos e pretos
apareciam no telão.
Então chegou o dia da grande final, o dia que eles estavam
esperando havia tempos. Mas, como nada podia ser tranquilo, o adversário
deles era San Antonio Sand Storm, o antigo time de Jesse.
— Vocês sabem como eles são, não quero moleza, e nem precisam
ser gentis. Se eles usarem de violência com vocês, devolvam com violência
— Isaac disse antes do jogo. — Eles irão para cima de Lewis e Dancy, os
protejam. Vamos falar a verdade, são uns preconceituosos nojentos e não
aceitam que somos invictos enquanto eles tiveram que ter sorte para chegar
até aqui.
— Defesa, lembram do último jogo contra eles? — Jason perguntou.
— Como Jay disse, o objetivo é que o QB do San Antonio fique mais
tempo com os pés para cima do que no campo.
Faltando poucos segundos para acabar o jogo, Rhynos ganhando por
apenas um ponto, o ataque estava a três jardas do TD. Eles se posicionaram,
Jake deu o comando, a bola foi jogada para ele, mas, em vez de lançar,
virou-se de costas abraçando a bola. O ataque se fechou em volta do QB,
protegendo-o e empurrando. Eles avançaram lentamente, era uma confusão,
até os juízes levantarem os braços, apitando.
Eles tinham feito o TD, eles tinham ganhado o campeonato.
Eles iriam para o Super Bowl.
Os jogadores pulavam, comemoravam, abraçavam-se e choravam.
Eles tinham esse direito, eram os campeões. Então, no meio da
comemoração, câmeras e pessoas à volta, com milhões de pessoas
assistindo, Jason chegou até Jake. Os dois se abraçaram, sorrindo felizes.
— Nós conseguimos! — Jake exclamou, então sussurrou. — Eu te
amo.
— Não precisa sussurrar para ninguém ouvir, eu não tenho mais
medo. — Jason sorriu, então falou em alto e bom som, para que as pessoas
à volta ouvissem: — Eu te amo!
Jake arregalou os olhos, mas sorria, muitos olhares estavam nele
agora, então Jason fez o que queria fazer havia tempos.
Beijou seu namorado.
Era isso.
Todo o tempo que se prepararam, que treinaram, que sonharam, que
sacrificaram coisas, que perderam tempo com suas famílias foi para chegar
até aquele dia.
A atmosfera estava diferente, eles sabiam disso. Já eram campeões
da liga, já tinham feito história, mas queriam mais. Queriam a taça do Super
Bowl, eles mereciam aquilo e lutariam até o último segundo por ela.
Caminharam pelo túnel em direção ao campo. Quando pisaram no
gramado de San Diego, a torcida gritava. A música da vez era “It’s Time”,
do Imagine Dragons. Dan Reynolds cantava como se chegasse aos seus
corações.

And now it's time to build from the bottom of the pit?
Right to the top, don't hold back

A fumaça preta e amarela os cercava, o mascote os acompanhava, as


cheerleaders pulavam, e a torcida gritava, a ponto de quase não poderem
ouvir a música. Todos respiravam fundo, era uma sensação quase
esmagadora estar ali, tão perto de realizar um sonho, e um medo enorme de
não conseguir realizá-lo.
— Rhynos rules! Rhynos rules! — O estádio vibrava com o cântico
da torcida. Os jogadores pediam para gritarem mais alto, e o público não
negava.
Jake e Jason trocaram o famoso soquinho que tinha virado uma
tradição. Algumas semanas atrás, o público começou a colocar o punho
para frente também, como se fizessem parte daquele momento.
— Rhynos rules! — todos gritavam juntos. — Rhynos rules!
Fazia duas semanas desde que tinham ganhado o campeonato da
liga e que Jason havia se assumido na frente do mundo inteiro ao beijar
Jake. A internet explodiu, as “Jase shippers” ainda estavam jogando na cara
de todo mundo que estavam certas o tempo todo. Tinham recusado
entrevistas, o máximo que a imprensa recebeu foi uma nota escrita por
Lindsay junto de uma foto inédita que Scott tinha tirado deles.
Eles foram o tema central de matérias ao redor do mundo,
programas esportivos de outros países que nunca tinham falado de futebol
americano agora falavam dele. Conservadores ao redor do globo os
amaldiçoaram, pastores de igrejas intolerantes incentivavam seus fiéis a se
desfazerem das camisetas do time. Outros jogadores foram procurados para
comentar, e a resposta de Jay foi a que se tornou mais conhecida.
— Sério mesmo que vocês não tinham entendido que eles eram um
casal? Tem que ser muito cego ou burro para não ter percebido — o ruivo
disse, revirando os olhos sem paciência.
Mas, na pequena e saudável bolha em que viviam, nada mudou de
fato. Só que agora poderiam andar de mãos dadas e se beijar em público.
Jason estava amando cada segundo, e Jake sorria sempre que via o
namorado tão feliz. Ocasionalmente alguma foto deles andando pela rua
tirada por algum fã surgia, mas era tranquilo.
Eles tinham ido em uma loja para comprar algumas coisas para a
casa, que era oficialmente dos dois, e Jason fez questão de dizer que ele e o
namorado queriam uma coberta nova, ele e o namorado queriam comprar
um novo conjunto de louças, que o namorado dele amava comida
mexicana, por isso precisavam de uma boa panela para fazer chili.
Enquanto o moreno aproveitava qualquer chance para apresentar o loiro
como seu namorado, Jake apenas sorria feliz.
A família Brody tinha mandado um longo e chato e-mail para Jason,
já que era a única forma de contato que ainda conseguiam ter. Douglas e
Lisseth se diziam extremamente decepcionados com a atitude de Jason, com
a forma como ele havia envergonhado a todos. Disseram que o sogro de
Wade estava repensando o casamento, já que o noivo tinha “genes gays” na
família e não queria que isso fosse passado para seus netos. Já Brent
reprovaria e, por isso, teria que se transferir para uma faculdade de menos
prestígio, o que era uma vergonha. E um monte de outras coisas sobre a
imagem deles. Em momento nenhum mencionaram a vitória do Rhynos.
Quem respondeu o e-mail foi Kate Mitchell, advogada de Nathan,
então a família Brody nunca mais entrou em contato, o que Jake lamentou
um pouco. Ele mostrou o e-mail para Carson e Chase, e os três se
divertiram por dias com aquilo.
A festa de comemoração do campeonato tinha sido intensa, as
pessoas na rua comemoravam, bares ficaram lotados. Mas, de acordo com
Nathan, nada iria superar a festa que ele estava planejando para o Super
Bowl. Todas as celebridades que tinham ido ao jogo em apoio a Jake
também estavam lá. Todos tinham feito postagens em apoio ao Rhynos. Os
fãs do time e fãs dessas pessoas usavam a hashtag #rhynosrules, que se
tornou o assunto mais comentado nas redes sociais, com um coração
amarelo e outro preto.
— Agora é até feio perder, né? — Carson comentou, vendo tantas
postagens.
Steve tinha mandado uma mensagem para Jake antes de o time
embarcar. Ele desejava boa sorte, dizia que sabia que eles já eram
campeões, que assistiria ao jogo no estádio e que depois todos
comemorariam juntos. Também disse que tinha uma surpresa que entregaria
para Jake e Jason depois do jogo. Dez minutos depois, mandou a foto de
dois anéis que tinham formato da cabeça de um rinoceronte, nos olhos
tinham minúsculas pedrinhas amarelas, e disse que não aguentou esperar.

Steve:
Sei que os ganhadores do Super Bowl ganham anéis, então sei que vocês
ganharão algum modelo rebuscado, elegante e caro. Mas Scott e eu
compramos esses para serem únicos, iguais a vocês

Jake:
Eles são perfeitos
Obrigado

O jogo seria realizado em San Diego, um campo neutro para os dois


times, o que Jason considerava poético, já que foi naquele mesmo estádio
que o Rhynos tinha sido eliminado na temporada passada. No ano anterior,
Jason se sentia derrotado e desesperançoso, agora ele estava de volta e se
sentindo a pessoa mais poderosa e sortuda do mundo.
O show do intervalo seria de uma banda famosa, mas eles não
assistiram de qualquer jeito, já que teriam que ficar concentrados. Era o
jogo de suas vidas, e eles estavam preparados para isso. Eles não eram
pessoas de meio termo, então era tudo ou nada.
— Cara ou coroa? — o árbitro perguntou.
— Amor, você escolhe — Jake disse na frente de Devon, que
trincou o maxilar ouvindo aquilo.
— Cara — Jason escolheu.
— Deu cara, Rhynos escolhem — o juiz avisou.
— Ataque.
— Certo, Raleigh Rhynos começa atacando. Bom jogo.
Os QBs se aproximaram e apertaram as mãos, Devon tentou usar
mais força do que o necessário, mas isso apenas fez Jake sorrir de canto. O
outro era louco se achava que poderia intimidá-lo com algo tão patético,
então devolveu com a mesma força.
— Não vai ganhar desta vez — Devon sussurrou.
— Mesmo que eu não ganhe a taça, eu ganhei o mais importante —
Jake respondeu. — Você sempre será o segundo lugar, alguém que quase
conseguiu, mas nem é lembrado.
O loiro sorriu e se afastou, voltando para perto do seu time.
— É isso mesmo, meus amigos, depois dessa temporada espetacular,
com a maior quantidade de reviravoltas que já tivemos, chegamos a uma
conclusão épica — Every disse.
— Madison Steel e Raleigh Rhynos fizeram uma temporada quase
impecável, são os dois maiores times de cada liga. Seus QBs, Devon Butler
e Jake Lewis, possuem uma habilidade inegável. Não tem como prever
quem será o campeão — Jalen falou. — Em um jogo com ataques surreais,
talvez a decisão fique com a defesa.
— Se for assim, acho que o Rhynos tem mais chances. Jason Brody
é um jogador completo e liderou como ninguém a defesa do seu time.
Brody joga na defesa, ataque, se deixar ele lança a bola e ele mesmo recebe.
Esse homem é um pacote completo, lava, passa e cozinha. Que homem,
meus amigos, que homem! — Every brincou, e todos riram.
Cada ponto era mais difícil que o outro. As duas defesas faziam de
tudo para impedir os avanços, e os ataques lutavam. Várias vezes Jason
chegou perto de Devon, atrapalhando seu jogo. Os dois times tinham
pontuado, e o placar mudava muito, em cada momento era um time que
estava na frente.
No final do segundo tempo, enquanto Carson corria direto para o
TD, já estava a poucas jardas de distância, era quase certo que nada o
pararia. Então um jogador do Steel pulou sobre ele, acertando o joelho e o
fazendo cair. O pior não foi só ter acertado, foi cair sobre a perna do
running.
Assim que o corpo bateu no gramado, a dor irradiou por completo, e
ele não conseguiu respirar por alguns segundos. Carson empurrou o jogador
para fora, mas não tinha forças. Chase foi o primeiro a chegar até o amigo e
arrancou o jogador adversário de cima dele, jogando-o agressivamente de
lado. Isso quase causou uma briga entre os dois times.
Jason correu e entrou no meio, discutindo e gritando com os
adversários. Bruno foi o primeiro da assistência médica que chegou. Ele
examinava Carson, que respirava fundo de dor. Jake e Chase ficaram ao
lado do amigo o tempo todo. Os jogadores do Rhynos se ajoelharam em
volta, em sinal de respeito.
— Não, não me leva para o hospital — Carson implorou.
— Acabou por hoje, não tem como você voltar ao jogo — Bruno
tentou explicar.
— Eu sei, me deixa na lateral, por favor. Tomo remédio, faço
compressa, depois eu deixo você mandar em mim, mas só por agora me
deixa assistir ao jogo com meu time, por favor — o running pediu.
— E se for algo sério?
— E se essa for minha única chance de estar aqui e ser campeão?
Jay e Jason carregaram Carson para a lateral do campo. Os árbitros
se reuniram e decidiram que, como era óbvio que teria sido TD caso o
jogador do Steel não tivesse usado força excessiva, não só consideraram
como um TD, como o jogador foi ejetado da partida.
Apesar da pontuação fazer diferença no placar, ninguém do Rhynos
comemorou. Carson estava machucado, fora da partida, e, como não sabiam
qual a gravidade da sua lesão, também não sabiam em quanto tempo ele
voltaria a jogar.
O clima durante o intervalo estava pesado, mas Jake disse que eles
não podiam ficar assim e entregar o jogo. Carson xingou todo mundo,
dizendo que, se tivesse lesionado seu joelho e eles ainda perdessem o jogo,
iria matar todo mundo e que nunca era para duvidar de um latino puto da
vida.
— Escutem, cada um sabe o que passou até chegar aqui. Alguns
foram dores públicas, outros não dividiram o que estavam passando —
Jason disse sério. — Mas estamos aqui, faltam dois quartos de jogo,
estamos na frente e podemos nos tornar os campeões do Super Bowl dessa
temporada. Foda-se o que está acontecendo, foda-se o medo, somos nós que
estamos aqui e não vamos desistir!
— Rhyons rules! Rhynos rules! — o time gritou.
Ninguém iria desistir.
— Faltam dois minutos para acabar o jogo. Steel está na frente por
apenas um TD. Porém eles estão a uma jarda de fazer mais um, acha que
esse jogo fenomenal acabou? — Every perguntou.
— Bem, o Steel não vai se arriscar, estão a uma jarda do TD. A
linha vai se fechar em volta de Butler e o empurrar. Não vejo como Rhynos
conseguiria reverter essa situação. Sinceramente, só um milagre agora —
Jalen respondeu.
A linha de ataque do Madison Steel tentou se fechar em volta de
Butler, para o proteger. Devon virou-se de costas, e o Steel faria a mesma
jogada que o próprio Rhynos já tinha feito algumas semanas antes,
praticamente empurrar o QB até passar pela linha para fazer o TD. E, no
caso de Butler, seria ainda mais fácil, afinal era só uma jarda que tinham
que avançar.
O que ninguém contava foi com a rapidez de Kevin e Jason, que,
cada um de um lado, conseguiram chegar até Devon antes que ele fosse
protegido. Isso o obrigou a tentar fugir, já que os braços de Kevin estavam
quase o alcançando. Então, do nada, Jay surgiu quase por cima da linha de
ataque, acertando um jogador e o empurrando contra Butler.
O impacto foi suficiente para derrubar não só Butler e outro jogador,
mas vários ali. A bola foi jogada para o ar, alguns pularam para tentar pegá-
la, mas foi Jason que teve o reflexo mais rápido. Ele estava com a bola em
suas mãos, e o juiz não tinha apitado, o que queria dizer que a jogada ainda
estava acontecendo. Então ele correu.
Jason Brody correu para o lado oposto do campo com toda
velocidade que tinha. Sentia seu coração disparado no peito, e não era pelo
exercício. Eles estavam no Super Bowl, aquela jogada poderia definir o
campeonato.
Sabia que tinha pessoas correndo atrás dele, não sabia se eram do
seu time ou adversários. Pelo canto do olho, viu alguém pulando sobre si, e
faltavam várias jardas para chegar à end zone. Jason girou o corpo bem a
tempo de escapar de ser derrubado. O jogador adversário caiu no chão, mas
Jason continuou correndo.
O DE não via nada, não escutava nada, sabia que a torcida gritava,
que havia movimentação nas laterais e nas arquibancadas, mas tudo estava
borrado. Seu cérebro só conseguia ver a end zone, o único som que ouvia
era da sua própria respiração. Mas, pelo canto do olho, viu que, na lateral
do campo, alguém vestido com o mesmo uniforme preto e amarelo que ele
corria junto, gritando e o incentivando. Quer dizer, tinha mais gente, mas
um deles se destacava, e foi esse que o fez acelerar.

Faltavam apenas 20 jardas.

15 jardas...

10 jardas...

5 jardas...

1 jarda...

Quando ele colocou os pés na end zone e olhou os juízes com os


braços levantados, indicando o TD, Jason soltou a bola e caiu de joelhos.
Jay, Kevin e Tru, que tinham corrido e o protegido pelo campo
inteiro, pularam sobre Jason. O moreno ria e tentou se levantar, mas outro
par de braços o segurou com força. Ele se virou no abraço para tirar o
capacete e encarar Jake, que sorria orgulhoso.
— Você conseguiu! — Jake murmurou.
— Nós conseguimos! — Jason respondeu. — E eu ganhei a aposta.
— Que aposta? — o loiro perguntou, e o moreno bateu no dedo
anelar. Jake se lembrou e começou a rir. — Ok, vamos ganhar esse jogo e
depois falamos do casamento brega que você quer organizar.
Eles trocaram um selinho rápido, já que tinham que sair do campo,
porque o jogo continuava. O special team tinha que entrar, tinham que
converter e ganhar. O jogo estava empatado, e eles, perto de alcançarem um
sonho. Jake tinha os braços em volta de Jason, conduzindo-o até o banco,
fazendo carinho no namorado. Estavam felizes e não se importavam se
milhões de pessoas estavam assistindo.
— ELE CONSEGUIU! BRODY ACABOU DE FAZER HISTÓRIA
NO FUTEBOL AMERICANO! — Jalen, que sempre era o narrador mais
contido, gritava.
— O PAPAI CHEGOU! CHEGOU JÁ MOSTRANDO QUEM É
QUE MANDA! — Every também gritava, já tinha levantado da cadeira,
pulado e parecia tão louco quanto a torcida no estádio. — Com esse TD,
que foi o mais bonito que esse narrador que vos fala já viu, Brody,
praticamente, garantiu o empate, faltando apenas alguns SEGUNDOS para
o final do jogo.
— Este Super Bowl entrará para a história! Rhynos está a apenas
um ponto do empate. Eles não vão correr o risco de perder esse ponto.
Deacon se mostrou um kicker talentoso e será fácil. O que eu quero ver é
depois, porque, como todos sabem, depois que um TD é marcado, a bola
passa para o ataque do time adversário. Ou seja, Butler, que estava a UMA
jarda da vitória, agora terá menos de um minuto para percorrer metade do
campo e chegar perto de, pelo menos, fazerem um chute.
— Butler já conseguiu fazer algo parecido no passado, mas nunca
contra este Rhynos. Será que teremos prorrogação ou será um embate
resolvido pelos dois atuais melhores QBs da liga?
Deacon não teve problema em chutar a bola, agora o placar estava
empatado. Qualquer um dos times tinha menos de um minuto para fazer
qualquer quantidade de pontos ou iria para prorrogação. Não que fosse
ruim, mas, quanto mais tempo tivessem, maior poderia ser a vantagem de
pontos que um dos times poderia abrir.
— Eu...
— Vai ficar aí, sim! — Tyson ordenou para Jason, obrigando-o a se
sentar. — Lewis, cuida do seu marido.
— Jason, por favor! — O loiro ajeitou a máscara de oxigênio no
rosto do moreno.
Depois de correr 99 jardas a toda velocidade que pôde e sem hesitar,
Bruno fez Jason se sentar no banco, cobriu-o com o manto térmico e
colocou uma máscara de oxigênio em seu rosto. Era fevereiro, inverno, e
estava fazendo 2°C. Ele não ia arriscar mais um jogador fora da partida.
— Você foi incrível, mas, se não se comportar, vou te deixar de fora
pelo resto da partida — o fisioterapeuta o ameaçou, e o DE revirou os
olhos.
— Depois você diz que eu que sou um paciente difícil — Carson
provocou. Estava sentado ao lado deles, um banco apoiando sua perna e
compressas de gelo por cima.
— Você é insuportável, ele só é chato às vezes — Bruno retrucou.
— Assim você magoa meu coração. — Carson colocou a mão no
peito dramaticamente.
Jake se sentou ao lado do namorado, segurando sua mão, os dois
entrelaçaram os dedos como puderam, mesmo usando as grossas luvas.
Tyson tinha proibido Jason de voltar ao campo por enquanto, então o
moreno teria que assistir à defesa segurando o ataque do Madison Steel.
— Jay! — Jake gritou. — Preciso de uma interceptação!
— Deixa comigo. — O ruivo piscou para o loiro.
Na primeira jogada, Steel avançou cinco jardas. Na segunda foi
passe incompleto, na terceira era um lançamento longo, já que eles
precisavam ganhar mais cinco jardas, no mínimo.
Butler lançou a bola para Hammer, seu homem de confiança, que
estava bem-posicionado e tinha escapado da marcação individual. Porém,
Jay surgiu por trás de Hammer, sua mão entrando entre a bola e a mão do
WR, puxando-a para si. Os dois rolaram no chão, já que se trombaram no
ar, mas o ruivo levantou a mão, mostrando que segurava a bola.
— INTERCEPTAÇÃO! — Every pirava, gritando.
— Jake Lewis tem uma, no máximo duas, jogadas para provar do
que é feito, ou iremos para a prorrogação — Jalen falou.
— MAMÃE ESTÁ NA ÁREA! — Every exclamou.
— Me deixa ir, por favor — Jason implorou para Jefferson.
— Você é da defesa, homem!
— Já joguei no ataque, me deixa ajudar.
— Você vai desmaiar!
— Aí vocês ganham um tempo durante meu atendimento médico.
Me deixa ir!
— Você é um saco! Uma jogada só! — Jefferson se rendeu, e Jason
colocou o capacete, correndo para Jake. — Lewis, seu marido é
insuportável!
— Eu sei. — O loiro riu.
— Fica no lugar do Carson! — o coordenador do ataque gritou
enquanto Jason colocava o capacete e se juntava ao ataque.
— Como se ele tivesse a minha classe para ficar no meu lugar —
Carson comentou.
— Tem certeza? — Jesse perguntou quando o ataque se posicionou.
— Óbvio — Jake respondeu.
— Estou com você — Jason murmurou para o QB, estando
exatamente atrás dele e atento a seus movimentos.
— Eu sei — o loiro respondeu, sorrindo.
Era isso, ele ia para o tudo ou nada. Jake não era do tipo que ia pelo
seguro, ele se arriscava e se jogava. Não seria conhecido como o atleta que
fez tudo o que pôde. Ele seria conhecido como o que realizou o impossível.
Jake estava em modo alerta, como se tudo estivesse em câmera
lenta. Ele bloqueou os sons externos, nada além daquele jogo existia
naquele momento. Eles tinham uma chance de atravessar 45 jardas, e ele
conseguiria.
Era um dia anormalmente frio para a cidade, mesmo estando no
inverno, a Califórnia não era tão fria como estava. Uma garoa fina caía
junto, molhando as roupas aos poucos, deixando tudo gélido, dificultava
correr e atrapalhava com a bola. Os passes poderiam sair erráticos e as
recepções, instáveis, era muito fácil a bola deslizar por entre os dedos
Jake respirou fundo, demorou menos de um segundo para observar a
defesa do Steel. Todos os olhares estavam nele, e ele não podia errar. Não
precisou se virar para sentir a presença de Jason atrás de si. Seu namorado
daria o tempo de que precisava para fazer a loucura que planejava.
O QB deu o comando, o center jogou a bola, e Jake a recebeu.
Imediatamente, ele foi para trás de Jason, que o protegeu com o próprio
corpo, jogando o DE do Steel longe.
Chase, o homem de confiança de Jake, cruzou o campo quase de
uma lateral a outra, três jardas atrás da linha de defesa. O loiro girou seu
corpo, como se fosse lançar para ele. Chase voltou, como se não fosse
conseguir pegar a bola, e a defesa o seguiu. Vários o cercaram e pularam
com ele quando o WR se jogou para a frente para, supostamente, pegar a
bola.
Porém ninguém percebeu Jesse Dancy correr em linha reta esse
tempo todo. Jake escapou de mais um jogador, dando a volta em Jason, que
o protegia habilmente. Era quase uma dança coordenada, como se cada um
soubesse o movimento que o outro faria.
Mesmo que tivessem passado apenas alguns segundos, eles estavam
ficando sem tempo. A linha tinha feito o melhor para segurar a defesa do
Steel o quanto pôde, mas estava difícil. Jake estava contando os segundos
mentalmente, ele sabia em quanto tempo cada recebedor cruzava o campo,
então só precisava de mais dois segundos para que Jesse estivesse na
posição ideal.
Jason teve que se jogar em cima de um dos adversários que
conseguiram furar a linha de ataque, tentando chegar a Jake. O QB girou o
corpo e estava quase lançando, quando um jogador da defesa pulou sobre
suas pernas, derrubando-o. No instante que percebeu que iria cair, Jake
girou o braço com muita velocidade, a bola saiu de sua mão antes que seu
corpo atingisse o gramado
O estádio prendeu a respiração, os narradores não sabiam o que
falar, prestando atenção, atônitos. A bola que Jake lançou atravessou 35
jardas e caiu nas mãos de Jesse, como se aquele fosse o lugar dela.
Jesse não parou de correr, havia um ou outro jogador atrás dele, mas
ninguém foi capaz de pará-lo. Assim como nunca se deixara ser parado por
quem falava que ele nunca conseguiria ser alguém importante ou que sua
carreira estava acabada, ele continuou firme.
Então Jesse Dancy cruzou a linha e se jogou de joelhos na end zone.
Os juízes levantaram as mãos, o apito final soou.
Raleigh Rhynos tinha acabado de ganhar o Super Bowl.
— Ganhamos! — Jason gritou, e Jake se virou, aturdido, finalmente
entendendo o que tinha acontecido.
— Nós vencemos! — Jake gritou, jogando-se contra o namorado, os
dois caindo para trás, no gramado gelado.
O estádio estava ensurdecedor, a torcida gritava, pulava, e tudo
parecia tremer. Outros jogadores do Rhynos invadiram o campo, alguns se
jogaram nos capitães, outros correram para Jesse. Este ainda estava de
joelhos, chorando, Chase tinha sido o primeiro a chegar e o abraçar.
Enquanto Scott tirava fotos de Jake e Jason abraçados, rindo, tirando
o capacete e se beijando na frente de todos, Mike tirou fotos de Chase e
Jesse, de joelhos e abraçados.
— RALEIGH RHYNOS É O NOVO CAMPEÃO DO SUPER
BOWL!!! — Every berrava repetidamente. — LEWIS NÃO PRECISOU
DE DUAS CHANCES. PRORROGAÇÃO AQUI NÃO!
— Posso dizer, com toda certeza, que essa jogada pode não ter sido
a Hail Mary mais longa que já vimos, mas, com certeza, foi a melhor
executada. Acabamos de ver a história acontecendo bem diante dos nossos
olhos.
— E olha como o mundo dá voltas. Jesse Dancy, que viveu uma
crise pessoal, sofreu ataques homofóbicos, quase perdeu a carreira, foi
acolhido no Rhynos, por iniciativa do próprio Lewis, que também recebeu
os mesmos ataques e ficou um mês afastado dos campos por uma lesão,
acabou de fazer o TD da vitória do Super Bowl. O mundo não gira, ele
capota!
O campo estava cheio de pessoas, familiares e amigos próximos dos
jogadores. Jay carregava os dois filhos nos ombros, e as crianças gritavam
animadas. Rose estava lá, ela abraçou o neto, chorando. Sofia gritou e pulou
no colo de Chase, que a segurou rindo. Maristela estava cuidando de
Carson, que estava apoiado em Bruno e na tia; e Mauricio, abraçado a Jake,
chorando emocionado por su hijo.
— Foto de família! — Scott, que tinha sido contratado por Nathan,
chamou-os. Eles eram uma família bagunçada, emocionada, orgulhosa e
muito feliz. — Jesse, vem!
— Não, não quero atrapalhar — o TE disse.
— Vem logo! — Sofia o puxou, Carson não deixou Bruno sair,
então Maristela só ficou de olho na movimentação.
— O vô estaria orgulhoso — Jason disse com lágrimas nos olhos.
— Meu querido, seu avô já estaria orgulhoso de você há muito
tempo. Desde o momento que se deu uma chance de ser feliz. — Rose
sorriu e beijou a testa do neto.
Um pequeno palco foi levado para o campo, muito confete voando,
gritos da torcida e aplausos. O presidente da liga falou algumas palavras,
então passou o microfone para Jake, o QB teria que fazer o discurso da
vitória.
— Essa vitória é para todas as crianças que estão presas em algum
tipo de situação, ouvindo que não são boas o bastante, que nunca serão nada
e que não deveriam sonhar — Jake disse, olhando para a câmera. — Todos
eles estão errados, sempre estiveram. Sejam quem são, sonhem o que
sonharem, lutem pelo que acreditam. Também falaram que nós nunca
conseguiríamos, e nós vencemos do mesmo jeito. Apenas não desistam!
O presidente entregou a Taça dos Campeões para Isaac, os jogadores
comemoraram, mais confete foi lançado neles. Enquanto a taça era erguida,
e todos comemoravam, Jake e Jason se aproximaram. Eles se beijaram na
frente de todos, em meio à maior comemoração de suas carreiras, porque
sabiam que tinham ganhado muito mais do que o campeonato.
A festa continuava e eles nem sabiam que horas eram. A música
estava alta, bebiam, comiam, gritavam, conversavam, havia confetes e
serpentinas pretos e amarelos por todos os lugares. Alguém tinha trazido
tinta de rosto com glitter dourado, muita gente já estava brilhando. Tudo era
um caos delicioso, Damon Wright cantava com alguns jogadores no
pequeno palco, e ninguém se importava se o tom estava certo, eles só
queriam comemorar. Tinham acabado de ganhar o Super Bowl!
Depois de tudo que passaram, tudo o que havia acontecido, ataques,
lutas, não terem desistido, mesmo quando tinham motivos, eles tinham
ganhado. Jesse não conseguiu ficar quieto no seu canto, foi arrastado para a
festa, todos o abraçavam, parabenizaram e diziam o quanto ele era
importante. Jake viu o momento em que Jesse se afastou emocionado e
como Chase foi atrás, abraçando-o e o confortando.
Cole Brendon estava cantando agora, era uma música animada e
falava sobre curtir, do lado sexual, por isso, tinha coreografia. Quem sabia a
fazia na pista de dança, quem não sabia até tentava imitar, mas era uma
bagunça. Bruno estava solto, dançando e bebendo. Jake viu Carson olhando
para o fisioterapeuta como um babaca e riu. Aquilo seria divertido.
Mas, diferentemente do loiro, que reparava em tudo, Jason só tinha
olhos para o QB.
Jake estava feliz, sorria, ria, pulava e comemorava. Ele merecia o
mundo, e Jason estava orgulhoso de seu garoto. Seu peito parecia prestes a
explodir de felicidade, e, quando Jake o olhou sorrindo, Jason soube o que
tinha que fazer.
O DE o puxou para seus braços, o loiro riu e envolveu o pescoço do
moreno. Eles se beijaram no meio de todo mundo, era como se a confusão
em volta não existisse, como se o mundo à volta não existisse. Não
importava se um monte de gente estava gravando e postando em suas redes
sociais, eles queriam mesmo era que o mundo soubesse que se amavam.
— Casa comigo? — Jason pediu.
— O quê? — Jake perguntou, rindo.
— Casa comigo? — o moreno repetiu a pergunta, fazendo carinho
no rosto do loiro.
— Quando você quiser — o QB respondeu.
— Que tal agora?
— Agora? — Jake olhou o confuso, mas sorria. — Como? Você
quer fugir da festa? Não sei se tem algum lugar aberto em San Diego a essa
hora.
— Estamos a menos de uma hora e meia de voo de Las Vegas, tem
tanta gente milionária com jatinho particular aqui, alguém empresta pra
gente. — Jason riu, ainda abraçado à cintura do loiro.
— Chamamos Nathan pra ser padrinho, e ele dá uma carona. —
Jake sorria, seus olhos brilhavam.
— Sei que não é o casamento enorme e brega que você esperava —
o moreno provocou, fazendo o outro rir —, mas eu te amo muito, e não tem
por que adiar. Quero me casar com você e começar todos os nossos planos.
— Não é enorme? Tem mais de cem pessoas aqui, um monte de
cantor famoso, fotógrafo, nosso time e nossa família toda. Só vamos
inverter e festejar primeiro, e nos casar depois. E já passou da meia noite
faz tempo, quer dizer que hoje é dia 14 de fevereiro, Valentine's Day. Tem
coisa mais brega que se casar no Valentine's Day? — o loiro provocou.
— Vamos? — Jason perguntou, estendendo a mão para Jake.
— Vamos! — O loiro aceitou a mão do moreno. Eles sorriam como
bobos.
Os dois correram até Nathan, que estava no canto abraçado com
Logan e conversando com Scott e Steve. Quando o bilionário os viu
chegando correndo, rindo e com os olhos brilhantes, ficou desconfiado, mas
sorriu.
— O que foi? — perguntou.
— Podemos pegar seu jatinho emprestado? — Jason pediu.
— E por quê?
— Queremos ir para Las Vegas para nos casarmos! — Jake
exclamou.
— Agora? — Logan perguntou, animado
— Oh, meu Deus, parabéns! — Steve os abraçou apertado. Então se
virou para as pessoas por perto, gritando — Gente! Eles vão se casar!
Agora!
— Bem, se o plano era escapar furtivamente, já era. — Scott deu de
ombros e abraçou os dois.
— Parabéns! — as pessoas em volta gritaram, muita gente os
abraçava, o que fez com que mais pessoas percebessem o que estava
acontecendo, e, de repente, todo mundo sabia que eles pretendiam se casar.
— Crianças crescem tão rápido — Sadie disse chorosa, abraçando
Jake e Jason.
— Como vamos nos dividir para ir a Vegas? Porque eu não vou
perder esse momento! — Carson avisou.
— Pela quantidade de gente, é melhor irmos de carro. Vai demorar
mais, mas todo mundo vai assistir — Cole Brendon sugeriu, e muitos
concordaram.
Jake e Jason se entreolharam, não era aquilo que estavam
planejando, mas também não tinham como impedir.
— Espera aí — Scott falou. — Somos umas cem pessoas, não é
possível que não tenha alguém que possa fazer ou conheça alguém que
possa realizar o casamento. Nem que seja uma videochamada.
— Este é meu momento! — Isaac levantou a mão, pegando o celular
e mostrando um e-mail. — Fui ordenado pelo estado da Carolina do Norte
como juiz de paz para casamentos.
— Era esse o curso que você estava fazendo? — Tyson perguntou,
rindo.
— Desde que começaram os treinos e vi o jeito como esses dois se
olhavam, achei melhor me preparar. — Isaac deu de ombros.
— Sinto que fui jogado numa emboscada — Jason murmurou contra
a nuca de Jake, que riu. — Acho que ele queria nos juntar desde o início.
— Levou você no draft, nos fez ter reuniões sozinhos, dormimos no
mesmo quarto no boot camp e em todos os jogos — o loiro respondeu.
— Certo, já temos o juiz de paz, temos comida e bebida — Steve
enumerou.
— Fotógrafo. — Scott levantou a mão.
— Dois — Mike corrigiu.
— Música — Eric avisou.
— Isso a gente tem para caramba — o cunhado de Eric brincou,
abraçando a noiva.
— Precisa de algo novo, algo velho, algo emprestado e algo azul —
Nora avisou.
— Eu tenho algo novo! — Henry disse, animado. Ele e o filho
pegaram algo em sua bolsa. — Era um presente, mas vocês podem usar.
Ele entregou duas camisetas. Eram da nova coleção da KT, a marca
de Henry com o filho, Matt. Era estilizada, na estampa tinha o desenho de
um rinoceronte correndo. Na ponta do chifre estava presa uma longa faixa
de arco-íris, que dava a volta na camiseta. A peça era preta e branca, exceto
pela faixa.
— Algo velho — Rose disse colocando no pescoço de Jason seu
colar.
Era um pequeno coração, tinha sido o presente de Noah no primeiro
encontro deles, décadas atrás. Jason teve que se abaixar para que a avó
conseguisse prender o fecho. Quando ela terminou, ele se virou para a Rose,
e os dois se abraçaram, emocionados.
— Algo emprestado — Mauricio disse, tirando seu relógio e o
entregando a Jake.
O loiro o colocou no próprio pulso. Aquele relógio era de uma
marca pela qual Mauricio sempre fora apaixonado, mas nunca pudera ter
por causa do preço. Então, durante a faculdade, Jake, Chase e Carson
trabalharam por alguns meses para juntar dinheiro e dar de presente de dia
dos pais.
— Algo azul! — Sadie gritou. Ela tirou as duas presilhas com flores
azuis do cabelo da filha e prendeu na camiseta de Jake e Jason. Agatha
olhou a mãe feio, mas não comentou nada.
— Podem servir de alianças — Scott sugeriu, entregando os dois
anéis de rinoceronte.
— Qual música querem? — Eric perguntou.
— Everything I Do — Jason respondeu, sorrindo
— Do Bryan Adams? Claro, um monte de cantor famoso aqui, e
pedem música de quem não está — Alec resmungou, sentando-se na
bateria. — Sofia, para de conversar com a minha irmã e vem para o palco,
eu vi que você já cantou essa.
— Claro — a garota concordou, aturdida, indo até o local e ficando
entre Damon Wright, que estava com o baixo, e Eric Blake, que estava com
a guitarra e iria cantar com Sofia. O marido de Damon assumiu o teclado.
— Eu vou ser padrinho, sim, não quero saber — Carson avisou,
pegando um dos anéis da mão de Jason.
— Então eu sou o outro. — Jay pegou o outro anel.
— Eu filmo, e você fotografa? — Mike perguntou para Scott, que
concordou.
— Ok, vamos começar! — Nathan gritou.
A banda improvisada começou a tocar a música. Os convidados
fizeram um corredor para que Jake e Jason passassem. Eles andaram de
mãos dadas até o "altar", que na verdade era uma bonita decoração preta e
amarela sobre o Super Bowl.
Enquanto Isaac fazia um lindo discurso sobre o amor, Jason só tinha
olhos para Jake. O loiro era como o Sol, iluminando sua vida e o mantendo
vivo.
— Agora os votos — o técnico falou.
— Caramba, eu nem sabia que ia me casar hoje, então não pensei
em nada. — Jake riu. — Jason, eu me apaixonei por você na primeira vez
que te vi, há oito anos, e estou apaixonado desde então. Passei todos esses
anos te acompanhando de longe, apenas imaginando como seria estar com
você. Mas, quando te conheci, percebi que a imagem que tinha de você não
era nem um terço de quem você é. Você é a pessoa mais carinhosa, gentil,
inteligente, protetora e linda que conheço. Te amar é a coisa mais fácil que
já fiz, porque você é incrível, e eu amo cada pedacinho seu. Mesmo sem ter
certeza se você ia me querer, me agarrei à esperança, porque eu sabia que
qualquer risco que eu corresse para estar ao seu lado valeria a pena. Só
tenho dó do Nathan, que vai ter que mandar refazer todas as minhas
camisetas, para ter o sobrenome Brody agora. — Jake deu de ombros, e
todos riram. Jason sorriu emocionado, a troca de sobrenome nunca tinha
sido algo que conversaram, nunca havia passado pela sua cabeça. Mas, pelo
jeito, Jake já tinha pensado nisso. — Eu te amo e, sinceramente, acho que
só uma vida juntos ainda seria pouco.
— Todos sempre me viram como o corajoso, alguém para se apoiar,
o líder, o forte. Mas você me enxergou como sou de verdade, até aquelas
partes que eu nunca quis mostrar para ninguém. Você me fez entender que
era normal ter medo, que podia enfrentar e vencer o medo. Você me ensinou
que eu tinha o direito de ser feliz e que alguém podia me amar. O amor era
uma ideia tão abstrata, que achei que nunca entenderia. Você me mostrou
que ele é uma coisa real. Sem você, eu não teria chegado até aqui e não
estou só falando em ser campeão do Super Bowl — Jason disse, e vários
riram. — Antes eu tentava ser minha melhor versão, agora eu sou essa
versão, porque sou feliz. Eu te amo.
— Eu também te amo — Jake sussurrou, emocionado.
— Não é possível, eles ensaiaram isso — Carson resmungou, e
todos riram, mesmo as pessoas que choravam emocionadas.
— Certo, hora das alianças — Isaac disse, pigarreando para limpar a
garganta, já que ele era um dos que estava com lágrimas nos olhos.
Jake foi o primeiro a pegar a aliança de Carson e colocar no dedo
anelar esquerdo de Jason, depois ele beijou o dorso da mão do futuro
marido. Jason fez o mesmo, também beijando a mão de Jake. Eles teriam se
beijado, mas Carson e Jay os seguraram, Isaac os repreendeu com o olhar, e
os convidados riram.
— É com muito prazer e amor, que declaro que vocês dois, Jake e
Jason, estão casados — o técnico disse, e enfim puderam se beijar.
Mal tiveram tempo de se afastar e foram puxados, abraçados e
beijados no rosto pelos amigos. Os caras do time os jogaram para cima,
gritando e comemorando.
— O buquê! — Scott gritou.
— Não tem buquê — Jake respondeu.
— Toma, é a cara de vocês — Sadie entregou uma bola de futebol
americano toda desenhada com flores, brilhos colados e uma bandeira de
arco irias desenhada.
— Sempre tenho meu kit pronto, mas tive ajuda — Matthew
Thompson disse, indicando Agatha e Brandon, que sorriam felizes.
— Ok, hora do buquê, todo mundo que não é casado se junta aí, que
vou tirar foto — Scott avisou.
Jake e Jason subiram ao pequeno palco, muita gente estava na
frente, esperando pela “bola buquê”. Jake fechou os olhos, as pessoas
contaram até três, e o loiro lançou a bola, ainda de olhos fechados. A bola
voou até o lado esquerdo, caindo nas mãos de Steve Alexander.
— Ah, meu Deus! — Scott exclamou.
— Não se preocupe, eu filmei tudo. Inclusive a sua cara de choque.
— Mike riu.
A festa continuou. Nathan deu de presente uma lua de mel, e o casal
agradeceu. Connor e Taylor também estavam lá, agora que Connor e Jake
tinham se resolvido, estavam se dando bem. O lutador deu passe livre por
toda a temporada, e Jason faltou chorar de emoção.
— Então, senhor Brody, o que está achando deste dia? — Jason
perguntou para Jake enquanto dançavam uma música lenta na pista de
dança.
— Acho que este é o melhor dia da minha vida — Jake disse,
envolvendo o pescoço do marido com os braços e o beijando. — E estou
gostando muito disto.
— Do quê? De ser campeão? De ser casado?
— De ser seu marido. — O loiro sorriu e beijou Jason de novo. —
Que tal fugirmos, voltarmos para nosso quarto de hotel e começarmos a
noite de núpcias?
— Acho seu plano excelente. — Jason sorriu. — Inclusive, acho
que deveríamos colocá-lo em prática neste exato momento.
Jake sorriu para Jason, e eles se beijaram na pista de dança antes de
escaparem pela lateral da festa. Jason queria poder dizer para sua versão de
um ano antes, que estava com medo de que as coisas não ficassem bem, que
agora tudo estava perfeito.
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