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VARIAÇÃO LINGUÍSTICA – BREVE • A variação diacrônica (ou histórica)

INTRODUÇÃO ocorre através do tempo. São as pessoas


do mesmo grupo social ou da mesma
Língua é a linguagem verbal (oral/escrita)
região mudando a maneira de falar com
utilizada por um grupo de indivíduos que fazem
o decorrer dos anos.
parte de uma comunidade. É uma construção
humana e histórica, que constitui a identidade Sobre a variedade padrão
dos seus usuários, sendo ela que dá unidade a
uma cultura, a uma nação. O julgamento sobre o valor de uma
variedade linguística está associado à imagem
Uma língua viva é dinâmica, por isso está que se tem sobre os falantes ou grupos que a
sujeita a variações. utilizam.
Variação linguística é o fenômeno comum Como ao longo do tempo os escritores
às línguas de apresentar variações em função da literários sempre foram tomados como
época, região, situação de uso e das referencial de uso cultivado na língua, esse
particularidades dos falantes. A língua usada por modelo tem sido tomado como “variedade
um grupo social específico, com características padrão”. Essa variedade, no entanto, se trata de
próprias, constitui uma variedade linguística. uma idealização.
Sendo assim, falar de padrão linguístico
uniforme é pura ilusão, visto que as línguas são Assim, não se pode falar sobre
heterogêneas. “inferioridade” ou “superioridade” entre dialetos
geográficos ou sociais ou entre registros, pois
Tipos de variação linguística: todos têm a mesma validade como instrumento
de comunicação.
• A variação diatópica é a variação
regional. É uma mesma língua sendo Portanto, adequar-se linguisticamente
falada de forma diferente dependendo da significa empregar a variedade adequada a cada
localidade. contexto de uso. Sendo assim, a variedade de
• A variação diafásica é a variação que prestígio deve ser ensinada na escola com bom
ocorre em situações de fala senso e sempre ancorada na realidade.
(situacional). A mesma pessoa muda a
Desse modo, entender o fenômeno da
sua maneira de falar dependendo do
variação linguística é importante porque mostra
ambiente (formal ou informal).
às pessoas que elas não devem ser
• A variação diastrática (ou social) se
preconceituosas quando ouvirem alguém falar
refere às diferenças entre os estratos
diferente. Ao reconhecer que a língua é formada
socioculturais, ou seja, são as variações
por um conjunto de variedades – inclusive a
que acontecem de um grupo social para
conhecida como padrão -, podemos combater o
outro. Relaciona-se a um conjunto de
preconceito linguístico, promovendo uma
fatores que têm a ver com a identidade
abordagem mais inclusiva e realista dos estudos
dos falantes e também com a
gramaticais.
organização sociocultural da
comunidade de fala. Assim, é possível
apontar alguns fatores relacionados às
variações de natureza social: a) classe
social; b) idade; c) sexo.
Sobre o preconceito linguístico
O linguista Marcos Bagno publicou em 2002 MITO 2 – Brasileiro não sabe português/ Só
uma importante obra intitulada Preconceito em Portugal se fala bem português
linguístico – o que é, como se faz, que aborda,
Esse mito encontra-se diretamente relacionado
entre outras questões, a mitologia existente em
ao nosso processo de colonização, o que nos faz
torno do tema. Segundo ele, apesar de, nos dias
pensar erroneamente que o português que
de hoje, observarmos forte tendência à luta
falamos em nosso país é uma forma “errada” ou
contra as mais variadas formas de preconceito,
“corrompida” do português de Portugal. Na
esta parece não se estender ao aspecto
verdade, o que acontece é que nosso português é
linguístico.
diferente, apresenta características próprias não
O autor observa que “o que vemos é esse só no vocabulário, como na sintaxe e na
preconceito ser alimentado diariamente em morfologia.
programas de televisão e de rádio, em colunas de
Segundo Bagno, o brasileiro sabe “o seu
jornal e revista, em livros e manuais que
português, o português do Brasil, que é a língua
pretendem ensinar o que é ‘certo’ e o que é
materna de todos os que nascem e vivem aqui,
‘errado’, sem falar, é claro, nos instrumentos
enquanto os portugueses sabem o português
tradicionais de ensino da língua: a gramática
deles. Nenhum dos dois é mais certo ou mais
normativa e os livros didáticos.”
errado, mais feio ou mais bonito: são apenas
No entanto, é importante reforçar que o objetivo diferentes um dos outros e atendem às
não é simplesmente eliminar os estudos necessidades linguísticas das comunidades que
gramaticais das salas de aula, mas sim torná-los os usam (...)”
mais coerentes e conectados à realidade
MITO 3 – Português é muito difícil
linguística dos falantes.
Esse mito decorre do fato de que nosso ensino de
Destacaremos, a seguir, alguns dos mitos que,
língua sempre se baseou na norma gramatical de
segundo Bagno, se encontram enraizados na
Portugal, ou seja, as regras que aprendemos
imagem que os falantes do português brasileiro
muitas vezes não correspondem à língua que
têm de si mesmos e da língua que falam.
realmente falamos e escrevemos aqui no Brasil.
MITO 1 – A língua portuguesa falada no
De acordo com Bagno, “no dia em que nosso
Brasil apresenta uma unidade surpreendente
ensino de português se concentrar no uso real,
Segundo Bagno, esse mito é prejudicial à vivo e verdadeiro da língua portuguesa do Brasil,
educação “porque, ao não reconhecer a é bem provável que ninguém mais continue a
verdadeira diversidade do português falado no repetir essa bobagem.”
Brasil, a escola tenta impor a norma linguística
O autor reforça que “todo falante nativo de uma
como se ela fosse, de fato, a língua comum a
língua sabe essa língua. Saber uma língua, no
todos os milhões de brasileiros,
sentido científico do verbo saber, significa
independentemente de sua idade, de sua origem
conhecer intuitivamente e empregar com
geográfica, de sua situação socioeconômica, de
naturalidade as regras básicas de funcionamento
seu grau de escolarização, etc”.
dela.”
É preciso, portanto, que não só a escola, mas
todas as instituições voltadas para a educação e
cultura abandonem esse mito e passem a
reconhecer a verdadeira diversidade linguística
do Brasil, pois só assim poderá ocorrer a inclusão
dos falantes das variedades não-padrão que se
encontram marginalizados.

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