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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

CAIO DIAS DE CASTRO


PEDRO ALEXSANDER PINHEIRO DA SILVA
SARA ANGELA DA SILVA RODRIGUES

ATIVIDADE AVALIATIVA DE LINGUÍSTICA II

NITERÓI
2022

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CAIO DIAS DE CASTRO
PEDRO ALEXSANDER PINHEIRO DA SILVA
SARA ANGELA DA SILVA RODRIGUES

TRABALHO DE LINGUÍSTICA II

Trabalho apresentado na disciplina de linguística II no


período de 2022.2 no Instituto de Letras da
Universidade Federal Fluminense, como parte dos
requisitos para a conclusão da disciplina.

Docente: Maria Jussara Abraçado de Almeida

NITERÓI
2022

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SUMÁRIO

1.O QUE É PRECONCEITO LINGUÍSTICO? .................................................4

2.A MARGINALIZAÇÃO DA LÍNGUA............................................................5

3.POLÍTICAS PÚBLICAS NO CAMPO LINGUÍSTICA...................................7

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 8

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1. O QUE É PRECONCEITO LINGUÍSTICO?

De acordo com William Labov, considerado o pai da Sociolinguística moderna, “A


linguagem é o instrumento que as pessoas utilizam para realizarem a comunicação no dia a
dia”. (LABOV, 2007). A partir deste viés, verifica-se que a Sociolinguística apresenta, dentre
os seus múltiplos vieses, o foco na análise do conhecimento da língua e sociedade. Dessa
forma, podemos dizer que quando nos referimos a uma determinada língua, nos referimos, do
mesmo modo, as variações e mudanças presentes na mesma.

Com o passar dos anos, a língua vai dispondo de modificações e, como sequência,
apresentando variações. Dentro do âmbito brasileiro, é possível mencionar que com os
avanços das sociedades, sendo esta composta por diferentes níveis sociais, a atuação de
discordâncias linguísticas foi crescendo e obtendo, como consequência, o que hoje
conhecemos como preconceito linguístico.

A palavra preconceito pode ser definida como: “Opinião ou sentimento desfavorável,


concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão; Atitude
emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando
simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos”. (MICHAELIS, 2022). O termo é
oriundo do latim composto pela preposição “pre” que significa antes, de maneira anterior e
“conceptus” que quer dizer conceito. Deste modo, pode-se dizer que o preconceito linguístico
é fruto de uma parcela da sociedade que prática tal ação devido às suas respectivas opiniões
sociais para com a língua falada por múltiplos indivíduos do que com a forma “correta”
subentendida por estes.

Devido a disposição de múltiplas facetas e variações apresentadas dentro de um


contexto linguístico, a concepção de correto e incorreto não consegue abranger e ser inserida
diante das incontáveis variações presentes dentro deste âmbito, mas sim a presença de termos
como adequado e inadequado. Menciona-se tal conjuntura, haja vista os plurais processos de
seu uso e as suas diferentes atuações nas diferentes camadas da sociedade. Por meio deste
viés, há a discussão entre a linguagem padrão no tange as diferentes perspectivas de linguistas
e gramáticos.

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Diante das numerosas conjunturas desenvolvidas e estudadas correlacionadas ao saber
de normas, o linguista Bagno acredita "que a norma- padrão não faz parte da língua, se por
língua entendermos a atividade linguística real dos falantes em suas interações". (BAGNO,
2021) Sendo assim, pode-se dizer que quando nos colocarmos diante de uma única norma,
estamos, de certo modo, excluindo as outras vigentes e, consequentemente, estipulando que
somente uma singular vertente se torne genuína. Já na visão do gramático Azeredo, a língua
correlacionada à norma-padrão é considerada como uma língua artificial, de fábrica.
(AZEREDO, 2018) Tal afirmação pode ser compreendida por meio do entendimento de que a
língua dispõe de normas, mas também apresenta variações em sua estrutura. Posto isto,
analisa-se que não se pode olhar uma língua diante de uma única perspectiva, mas sim
mediante a variadas.

Portanto, para que a prática do ato discriminatório linguístico reduza, o escritor


Marcos Bagno afirma: “Para construir uma sociedade tolerante com as diferenças é preciso
exigir que as diversidades nos comportamentos linguísticos sejam respeitadas e valorizadas”.
(BAGNO, 2015)

2. A MARGINALIZAÇÃO DA LÍNGUA

Antes de nos atermos ao preconceito visível em nossas sociedades modernas, em


relação às variações de nosso português moderno, cabe um retorno ao Brasil Colônia, ainda
não versado nas formas do português, mas já matéria prima da língua a ser gerada aqui. Como
estabelece o professor Altemar Gonçalves da Silva, em seu artigo “Preconceito linguístico:
Um panorama histórico do Latim ao Português Brasileiro”, nas décadas iniciais do contato
entre portugueses e nativos, o contato se dava ou em alguma das línguas indígenas (mais de
300 eram faladas no território), ou em uma precoce língua de contato. Escreve o filólogo:

"Esse contato entre línguas sempre existiu na história da humanidade, no entanto, com
grandes navegações, os contatos linguísticos tomaram uma enorme proporção.
Línguas com troncos linguísticos completamente distintos passaram a ter contato."
(GONÇALVES DA SILVA, 2014)

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A questão a ser formulada a partir dessa informação é: Como uma comunidade
linguística que, num primeiro momento, baseava sua comunicação em línguas indígenas e de
contato, gerou outras tão linguisticamente excludentes quanto a nossa?

Para sabermos, basta observarmos o processo de transição daquele primeiro falar ao


que o sucederia. O século XVIII foi um intervalo de tempo decisivo para essa virada
linguística, portanto, voltemos a ele. O evento mais marcante para a comunidade linguística
da época foi a emissão do diretório dos índios. Neste documento, o secretário de Estado do
Reino de Portugal, Marquês de Pombal, estabelece uma série de protocolos relativos à
organização dos aldeamentos e à educação dos nativos. Entre o 6° e o 8° parágrafos, Pombal
emite comandos que dizem respeito à língua dos povos originários:

"(...)só cuidaram os primeiros Conquistadores estabelecer nela (colônia) o uso da


Língua, que chamaram geral; invenção verdadeiramente abominável, e diabólica, para
que privados os Índios de todos aqueles meios, que os podiam civilizar,
permanecessem na rústica, e bárbara sujeição, em que até agora se conservavam."
(DIRETÓRIO DOS ÍNDIOS, 1757)

Partindo dessa perspectiva, marcadamente colonialista, Pombal conclui que o curso de


ação ideal seria proibir o uso da língua geral, entre órgãos públicos e falantes. Essa guinada
linguística deixaria um sem-fim de falantes órfãos, inclusive entre os brancos não letrados,
maioria entre os que aqui viviam. É nesse infeliz contexto que a língua portuguesa passa a ser
amplamente lecionada no país. E essa “amplitude” só pode ser chamada assim em termos de
comparação com o ensino da língua no momento anterior, na prática, boa parte da população
se adaptou ao português de maneira errática e incompleta.

As consequências desse histórico são notáveis até hoje. Essa parcela da população que
não tinha acesso amplo à educação formal ou aos textos que circulavam na época, acabou por
gerar variações lexicais, fonéticas, morfológicas e de outras espécies na língua com que
passaram a interagir. Esse desenvolvimento é o principal responsável pelas variações que se
figuram na língua hoje. Um processo perfeitamente natural, apesar de, aos olhos de muitos
gramáticos, filólogos e humanistas dos últimos dois séculos, ele se pareça com uma agressão
ao português brasileiro, a esse que idealizam a partir de manuais, dicionários e gramáticas. Na
realidade, nossa língua ‘inculta e bela’ é capaz de nutrir todos seus falantes, e todos seus
falares, sem que murche a sua flor.

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3. POLÍTICAS PÚBLICAS NO CAMPO LINGUÍSTICO

Vale salientar que o preconceito linguístico se deriva do preconceito social, logo


muitos processos linguísticos que são descriminalizados vem de comunidades minoritárias
justamente por existir uma estruturação de preconceito com as mesmas. Deste modo, a
linguagem neutra acaba sendo bastante hostilizada no meio social justamente por tentar
incluir pessoas que fogem do espectro binário de gênero. Muitos dos argumentos contra a neo
linguagem vem de uma criação de “corrupção” ou “destruição” da língua portuguesa,
trazendo uma ideia de língua intocável e que não pode ser mexida pela população, ou neste
caso, pela população LGBTQ+.

Outro argumento bastante comum para contrariar a adesão da linguagem neutra na


sociedade, seria a ideia de que seria um modelo de linguagem artificial sendo imposta de
maneira não-natural na sociedade. Tal pensamento acaba sendo um equívoco pois quem se
utiliza desta falácia enxerga a língua padrão da norma-culta ensinada na escola como uma
língua válida, porém ela também possui de origem artificial que atende uma demanda social e
histórica. Além de que não existe uma obrigatoriedade envolvendo o uso do pronome neutro,
apenas uma questão de respeito, mas existe a proibição deste uso como podemos ver nas
notícias em colégios de Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, tornando assim o preconceito
tanto linguístico quanto LGBTQ+ institucionalizado pelo governo.

Fiorin aborda sobre uma certa imposição do bem falar que existe em nossa sociedade,
levando o aluno a sentir vergonha de sua língua a partir de julgamentos de valor entre certo x
errado. Esse julgamento de valor implica numa vergonha não apenas linguística mas também
da própria identidade do falante. Sendo assim, ela reforça o status-quo da língua elitizada,
retirando assim o contexto populacional, e permite a injustiça linguística (afinal nós falamos a
língua dos colonos). Deste modo, julgar a língua, fazer você sentir vergonha do seu falar, é
julgar sua identidade. Julgar a língua do falante é encurtar a vida do mesmo, pois identidade
também é um processo de manusear sua vida. Trazer a morte do falante, sendo ele parte do
povo, a maioria absoluta, faz com que a elite se mantenha confortável pois como diz Paulo
Romão: “Nessa verdadeira guerra, como em todas as demais, a morte do inimigo configura-se
da vitória de um dos lados. Sendo assim, a sobrevivência de uma manifestação linguística
acaba por fundamentar-se na destruição de suas variadas e estigmatizadas contrapartes”.
(2021)

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As políticas públicas podem vir a ser um modo de combater essa manutenção
governamental que promove uma minoria elitizada da população e nos fornece recursos para
ressignificar o meio linguístico. No presente trabalho pensamos em três principais pontos:
Ministério de preconceito linguístico (Afinal se tratarmos o preconceito linguístico como uma
parte do preconceito social, ele deve ser combatido de maneira institucional.)
Desburocratização de documentos (Muitos direitos não chegam a população pois são escritos
no processo burocrático de uma maneira que não atende ao povo) e pensar que livros chegam
para os indivíduos, pois isso modifica nossa perspectiva social, linguística e o processo de
letramento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Parábola,
2021.

BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico. 56ª edição, 10ª reimpressão: novembro de 2021.
São Paulo, SP. Parábola Editorial, janeiro de 2015.

BORTONI, Stella. Marcos Bagno fala sobre preconceito linguístico. Disponível em:
https://www.stellabortoni.com.br/index.php/entrevistas/1414-maaios-bagoo-fala-sobai-paiiooi
iito-lioguistiio-78894042 Acesso em: 15 de novembro de 2022.

LABOV, William. Sociolinguistics: an interview with William Labov. Revista Virtual de


Estudos da Linguagem - ReVEL. Vol. 5, n. 9, agosto de 2007. Disponível em:
https://web.archive.org/web/20180410025208id_/http://www.revel.inf.br/files/entrevistas/reve
l_9_interview_labov.pdf Acesso em: 15 de novembro de 2022.

PRECONCEITO. In. MICHAELIS, Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Editora


Melhoramentos Ltda, 2022. Disponível em:
https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/preconceito/
Acesso em: 15 de novembro de 2022.

REZENDE, Antônio Martinez de. BIANCHET, Sandra Braga. Dicionário do Latim Essencial.
2ª edição revista e ampliada. 4ª reimpressão. Belo Horizonte, MG. Autêntica, 2021.
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WIEDEMER, Marcos Luis. DE OLIVEIRA, Mariangela Rios. Texto e Gramática: Novos
contextos, novas práticas. 1. ed.– Campinas, SP: Pontes Editores, 2021. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Marcos-Luiz-Wiedemer/publication/356818051_Texto_e
_Gramatica_novos_contextos_novas_praticas/links/61aee3e6fb3b7258a0a25f1e/Texto-e-Gra
matica-novos-contextos-novas-praticas.pdf#page=15 Acesso em: 15 de novembro de 2022.

NOGUEIRA, Clara. SILVA, José. VISCARDI, Janaisa. Gênero neutro: o fim da língua
portuguesa? Mimimidias em Prosa, 2020. Disponível em:
https://mimimidias.podbean.com/e/031-genero-neutro-o-fim-da-lingua-portuguesa-com-jana-
viscardi/ Acesso em: 19 de novembro de 2022.

JUVI. Pronome Neutro. Oi, Juvi, 2020. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=o6zRCQtj4rc Acesso em: 19 de novembro de 2022.

LINCK, Alexandre. Linguagem Neutra nos Quadrinhos? Quadrinhos na Sarjeta, 2022.


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ThWTlihZ8s8 Acesso em: 19 de
novembro de 2022.

MARCIONILO, Marcos. GUIMARÃES, Thayse. GONZALEZ, Clarissa. PAULO, Luiz.


Estudos Queer em Linguística Aplicada INdisciplinar. Parábola Editorial, 2022. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=hb3heSOD0wg Acesso em: 19 de novembro de 2022.

FIORIN, José. José Luiz Fiorin fala da polêmica sobre livro didático. Editora Contexto, 2010.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pOkhXDRRxSc Acesso em: 19 de
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Governo de SC proíbe linguagem neutra em escolas públicas e privadas. G1 & NSC, Santa
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https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2021/06/18/governo-de-sc-proibe-linguagem-ne
utra-em-escolas-publicas-e-privadas.ghtml Acesso em: 19 de novembro de 2022.

MANSOINNAVE, Fabiano. Governo proíbe linguagem neutra em escolas do Mato Grosso do


Sul. Folha de São Paulo. São Paulo, 3 de jan. 2022. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2022/01/governo-proibe-linguagem-neutra-em-escol
as-do-mato-grosso-do-sul.shtml Acesso em: 19 de novembro de 2022.

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ROMÃO, Paulo. NECROPOLÍTICA E LINGUAGEM: O MAL-ESTAR DO PRECONCEITO
LINGUÍSTICO. Bahia. Editora Bordô-Grená, 2021. pp.27-41.

HERREJON, Elvira. QUEERALTERIDADE LINGUÍSTICO-SEXUAL. Bahia. Editora


Bordô-Grená, 2021. pp. 78-96.

DA SILVA, Altemar Gonçalves. Preconceito linguístico: um panorama histórico do latim ao


Português Brasileiro. Brasília. Universidade de Brasília, 2014.

BRASIL. Leis, Decretos, etc - Diretório dos índios. Secretaria de Estado dos Negócios do
Reino, no livro da Companhia Geral do Grão Pará, e Maranhão, a fol. 120. Belém a 18 de
Agosto de 1758

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