O documento discute as diferenças entre o português europeu e o brasileiro. Apresenta vários traços linguísticos distintos entre as duas variedades, como o processo de vocalismo átono, a palatalização de consoantes e a colocação pronominal. Também discute como a sociolinguística é importante para entender a variação linguística dentro das sociedades e como ela deve ser abordada no ensino.
Descrição original:
Título original
Esame di Lingua e Linguistica portoghese e brasiliana (2) 6cfu - Prof.ra Livia Assuncao Cecilio
O documento discute as diferenças entre o português europeu e o brasileiro. Apresenta vários traços linguísticos distintos entre as duas variedades, como o processo de vocalismo átono, a palatalização de consoantes e a colocação pronominal. Também discute como a sociolinguística é importante para entender a variação linguística dentro das sociedades e como ela deve ser abordada no ensino.
O documento discute as diferenças entre o português europeu e o brasileiro. Apresenta vários traços linguísticos distintos entre as duas variedades, como o processo de vocalismo átono, a palatalização de consoantes e a colocação pronominal. Também discute como a sociolinguística é importante para entender a variação linguística dentro das sociedades e como ela deve ser abordada no ensino.
Esame di Lingua e Linguistica portoghese e brasiliana (2)
Prof.ra Livia Assunção Cecilio
Portoghese o brasiliano? Appunti per una didattica consapevole Dentro do quadro linguístico português existem variações significativas no uso e na percepção da língua. O português é falado por uma comunidade de mais de 240 milhões de pessoas espalhadas por quatro continentes diferentes. No entanto, o Brasil, como potência econômica e política em ascensão, representa a maior força motriz do prestígio linguístico do português. O Brasil, juntamente com Portugal, é o único país da CPLP que tem oficialmente o português como língua nacional. Atualmente, a língua portuguesa reconhece a existência de duas normas, a norma europeia e a norma brasileira. Todos os países lusófonos, claramente com exceção do Brasil, seguem oficialmente o padrão europeu. No âmbito do debate linguístico, se criou uma brecha entre: - Aqueles que consideram o português europeu e o português do Brasil como duas variedades da mesma língua, a língua portuguesa, que compartilham a mesma base morfossintática - Aqueles que afirmam que no Brasil há, sem dúvida, uma língua falada diferente da aquela do Portugal → esta afirmação tem uma base científica sólida, de facto existe uma enorme lacuna entre as formas de uso da língua portuguesa no Brasil e em Portugal. Traços linguísticos característicos que aparecem no PB em comparação com o PE Processo de vocalismo átono: mecanismo de redução de vogais que tende a neutralizar as vogais átonas. O vocalismo átono é um fenômeno que amplia a distância entre o PE e outras variedades do português, particularmente com o PB, que continua sendo uma língua com uma base vocálica sólida. Em contraste, por causa da sua articulação vocálica muito reduzida, o português europeu parece ser mais consonântico do que é o português brasileiro. Palatalização das consoantes /t/ e /d/ quando seguidas por [i] ou um fim de palavra [e] que, através de um processo de fricativização, são pronunciados como [tʃ] e [dʒ] → tia ['tʃia], dia ['dʒia], cidade [si'dadʒi] Sistema pronominal: desaparecimento no PB de vos substituídos por vocês, o uso de tu como traço regional substituído por um uso universal da você, o aumento da difusão do pronome a gente em vez de nós. Essa diferenciação resultou em transformações na conjugação verbal e no quadro dos pronomes clíticos e possessivos. No português brasileiro falado muitas vezes há uma mistura de tratamento, entendido como uma reorganização do quadro pronominal do português brasileiro (uso do pronome pessoal você + pronomes possessivos de tu) Colocação pronominal: no PB, os pronomes átonos são colocados antes do verbo principal (próclise), ao contrário do português europeu (ênclise). A mesóclise praticamente não é usada. Os brasileiros começam espontaneamente frases com clíticos, como em italiano. As diferenças entre o português europeu e o português do Brasil também são muito consistentes do ponto de vista pragmático: uma mesma construção sintática da língua portuguesa pode ter interpretações distintas e efeitos comunicativos no Brasil e em Portugal. A possibilidade de mal-entendidos e mal-entendidos na comunicação torna necessária a existência de diferentes traduções para o português europeu e o português do Brasil, a fim de atender às diferentes necessidades linguísticas das comunidades linguísticas. Língua e sociedade: a sociolinguística As línguas, como produtos culturais, mudam, estão em contínuo movimento e transformação, nunca definitivamente terminadas. Língua e sociedade estão indissoluvelmente entrelaçadas, uma influenciando a outra. Por isso, para o linguista é impossível estudar a língua sem estudar a sociedade em que essa língua é falada. A realidade linguística nas sociedades é composta de dois grandes polos: - Norma-padrão: é um produto cultural, um modelo artificial de “língua certa”, de bem falar, criado justamente para tentar neutralizar os efeitos das variações. Ele constitui uma espécie de tesouro nacional, de patrimônio cultural que precisaria ser preservado da ruína e da extinção. - Variação linguística: representa a língua em seu estado permanente de transformação, de fluidez natural. Ora, as línguas são produtos sociocultural, elaborado ao longo de muito tempo pelo esforço de muita gente, e não correspondem aquilo que as línguas realmente são. Na concepção dos socio linguistas a língua é uma atividade social intrinsecamente heterógena, variável, instável, permanente e nunca concluída, a qual está sempre em deconstrução e em reconstrução. Ao contrário do que muita gente acredita, o suo funcionamento não é aquele que aparece nas gramáticas. Então, a variação e a mudança linguística são o estado natural das línguas. As línguas são faladas por seres humanos que vivem em sociedades também heterogêneos, diversificados, instáveis e sujeitos a transformações. Não existe uma língua perfeita, correta, bem-acabada e fixada em bases solidas. Ao contrário, a construção de uma norma-padrão, que representa um controle dos processos inerentes de variação e mudança, impede como uma barragem a transformação das línguas. Consequentemente, é essencial para analisar uma língua considerar a estreita relação entre o uso da mesma lingua, a cultura e a identidade de seus falantes. Depois de uma ampla discussão na política educacional, em 1997 o Ministério da Educação publicou uma coleção de documentos intitulados Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) onde estavam reunidas propostas para a renovação do ensino nas escolas brasileiras. Os PCN introduziram alguns conceitos fundamentais provenientes da sociolinguística, uma disciplina que estuda a variação e a mudança duma língua tendo em conta também da sociedade em que ela é falada. Ainda hoje essa nova concepção de ensino tem dois grandes obstáculos: - A resistência das pessoas muito apegadas as concepções antigas e as práticas convencionais de ensino - A falta de formação adequada dos professores Então, a variação linguística ou fica em segundo plano na prática docente ou é abordada de maneira insuficiente, superficial ou distorcida. Variação linguística: por que é importante estudar a variação linguística? Existem muitas razoes para que a variação linguística se torne objeto do ensino de língua, especialmente depois da transformação do perfil socioeconômico e cultural da população que frequenta as escolas públicas brasileiras → antes do 1960 as escolas brasileiras se concentravam nas zonas urbanas e eram frequentadas pelas pessoas das classes medias e medias altas das cidades. A partir de meados da década de 1960, começou em Brasil um processo que foi chamado democratização do ensino: havia um grande aumento quantitativo do número de escolas provocado pelo ritmo acelerado de urbanização da população brasileira. As consequências sociais desse processo rápido e desordenando de urbanização foram: - Surgimento das enormes periferias pobres nas grandes cidades - Desemprego - Violência urbana - Degradação física das cidades Outra grande consequência foi precisamente a transformação do perfil social dos alunos nas escolas. Como resultado de grandes pressões sociais, as crianças da classe baixa que se mudaram para as cidades, começaram a ter acesso à escolarização. Ao mesmo tempo, também começava a se modificar o perfil socioeconômico e cultural das professoras e professores que começaram a considerar a profissão docente pouco atrativa. Assim, pessoas de outros estratos sociais, médios baixos e baixos, também passaram a ocupar os papéis de professores. Antes da democratização as pessoas que frequentavam a escola eram falantes das variedades linguísticas urbanas que tinham acesso a uma grande produção cultural e intelectual. A partir dos anos 1960 a grande massa de alunas e alunos das novas escolas públicas falava variedades linguísticas muito diferentes das variedades urbanas usadas pelas camadas sociais prestigiadas, diferentes ainda da norma-padrão tradicional, o modelo de língua correta que o ensino tentava transmitir e preservar. O ensino não era preparado para educar a nova população, muito maior e muito mais diversificada do ponto de vista sociolinguístico, sociocultural e socioeconômico. A variação linguística não entrava nos planos de ensino, mas era relegada ao submundo do erro. Assim, as mudanças ocorridas no perfil do alunado e do professorado nos últimos cinquenta anos exigem hoje um tratamento adequado, bem fundamentado, nas questões de variação linguística que ainda não existe. Qual são os fatores sociais que podem auxiliar na identificação dos fenômenos de variação linguística? A variação ocorre em todos os níveis da língua: - Variação fonético-fonologica - Variação morfológica - Variação sintática - Variação semantica - Variação lexical - Variação estilístico-pragmatica A variação não é aleatória, fortuita, caótica, pelo contrário ela é estruturada, organizada, condicionada por diferentes fatores. Nos falamos de heterogeneidade ordenada, ou seja, que tem regras. Uma regra é um sentido muito diferente daquele que aparece nas gramáticas normativa como uma lei que impõe o que é certo e condena o que é errado. Na perspectiva cientifica a regra é tudo aquilo que revela uma regularidade, algo que acontece na língua com regularidade, com previsibilidade, segundo uma lógica linguística coerente. A heterogeneidade ordenada é altamente estruturada, é um sistema organizado e sobretudo um sistema que possibilita a expressão de um mesmo conteúdo informacional através da regras diferentes, todas igualmente logicas e com coerência funcional. Os fatores que condicionam a variação linguística são: - Origem geografica - Status socioeconômico - Grau de escolarização - Idade - Sexo - Mercado de trabalho - Redes sociais As pesquisas linguísticas empreendidas no Brasil têm mostrado que o fator social de maior impacto sobre a variação linguística é o grau de escolarização que está muito ligado ao status socioeconômico. Geralmente a escola de qualidade é limitada a pessoas de renda econômica mais elevada. Os estudos sociológicos apontam que existe uma relação muito estreita entre escolaridade e ascensão social: empregos e postos de comando da sociedade estão reservados predominantemente aos cidadãos mais escolarizados. Variação estilística: como é a realidade dos usos da língua no Brasil? A gente pode estudar a língua falada por grupos sociais específicos; no entanto a variação linguística se mostra também no comportamento linguístico de cada indivíduo através dum monitoramento estilístico, ou seja uma escala continua, que vai do grau mínimo ao grau máximo, a depender de a formalidade da situação, a tensão psicológica, a pressão da parte do interlocutor e do ambiente, insegurança ou autoconfiança, intimidade com a tarefa comunicativa que temos a desempenhar. Os socio linguistas enfatizam sempre que não existe falante de estilo único: qualquer indivíduo varia à sua maneira de falar, monitora mais ou menos o seu comportamento verbal, independentemente de seu grau de instrução, classe social, faixa etária. O monitoramento opera não só na língua falada mas também na língua escrita; ele vai depender do grau de letramento do indivíduo, ou seja o grau de sua inserção na cultura da leitura e da escrita. A variação sociolinguística pode ser classificada: - Variação diatópica → se verifica na comparação entre os modo de falar de lugares diferentes - Variação diastrática → se verifica na comparação entre os modos de falara das diferente classes sociais - Variação diamesica → se verifica na comparação entre a língua falada e a língua escrita. È fundamental o conceito de gênero textual - Variação diafásica → é a variação estilística, o uso diferenciado que cada indivíduo faz da língua de acordo com o grau de monitoramento que ele confere ao seu comportamento verbal - Variação diacrônica → se verifica na comparação entre diferentes etapas da história de uma língua Variedades linguísticas Uma variedade linguística representa um dos muitos modos de falar uma língua que se correlacionam com fatores sociais como lugar de origem, idade, sexo, classe social, grau de instrução. Partindo da noção de heterogeneidade, a sociolinguística afirma que toda língua é um feixe (mazzo, gruppetto) de variedades → cada variedade linguística tem suas característica próprias que servem para diferencia-la das outras variedades. Além disso, todas as variedades linguísticas são plenamente funcionais, são um meio eficiente de manutenção da coesão social da comunidade em que é empregada. A ideia de que existem variedades linguística mais certas ou mais erradas é fruto de avaliações e julgamento exclusivamente socioculturais e decorrem das relações de poder e de discriminação que existem em toda sociedade. As variedades linguísticas costumam ser designadas por: - Dialeto → modo característico de uso da língua num determinado lugar, região, província - Socioleto → designa a variedade linguistica própria de um grupo de falantes que compartilham as mesma características socioculturais - Cronoleto → designa a variedade própria de determinada faixa etária, de uma geração de falantes - Idioleto → designa o modo de falar característico de um individuo, suas preferencias vocabulares, seu modo próprio de pronunciar as palavras, de construir as sentenças. Muita coisa da língua portuguesa não apresenta variação. As regras da língua que não apresentam variação são chamadas de regras categórica. Já as regras que apresentam variação são chamadas de regras variáveis. A noção de “erro” A variação linguística é um fenômeno capaz de explicar muitas coisas sobre a natureza das língua humanas, seu funcionamento e sobre os processos de mudança linguística. Por outro lado, ela faz surgir um conjunto de consequências sociais, culturais e ideológicas, provocando talvez serias e profundas divisões entre as pessoas, avaliações e julgamentos que opera com preconceitos, discriminações, humilhações e muito frequentemente com a exclusão social. Sobre o assunto da língua, de facto, existem na sociedade dois pontos de vista bem definidos que se contrapõem: - Discurso científico baseado nas teorias da linguística moderna que trabalha com as noções de variação e mudança - Discurso do senso comum, impregnado de concepções e preconceitos sociais sobre a linguagem e que opera com a noção de erro → surgiu na Antiguidade clássica junto com as primeiras descrições de a língua grega. Durante o helenismo, Alexandre Magno conquistou muitos territórios e fundou um grande impero. Surgiu a necessidade de normatizar a língua grega, ou seja de criar um padrão uniforme e homogêneo que se erguesse acima das diferenças regionais e sociais para se transformar num instrumento de unificação política e cultural. A construção de um padrão de correção unificada foi empreendida pelos filólogos. Começou a surgir a primeira gramática tradicional, um conjunto de noções acerca da língua e da linguagem que representou o início dos estudos linguísticos no Ocidente. A gramática tradicional combinava intuições filosóficas e preconceitos sociais contra as camadas sociais que falavam de um modo diferente do previsto na norma-padrão. Os formuladores da gramatica tradicional perceberam as características de variação e de mudança da línguas humana, mas essa percepção foi essencialmente negativa. Os primeiros gramáticos consideravam somente os cidadãos do sexo masculino, membro da elite urbana, letrada e aristocrática que falavam bem a língua. Todas as variedades regionais e sociais forma consideradas feias, pobres e defeituosas. Os primeiros gramáticos, comparando a língua escrita dos clássicos e a língua falada espontânea, concluíram que a língua falada era caótica, sem regras, ilógica, e que somente a língua escrita literária merecia ser estudada. Um problema sério da Gramatica Tradicional é que ela se limita ao estudo da frase, a analise gramatical da frase escrita. Mas a língua não se manifesta nem em palavras soltas nem em frases isoladas e descontextualizadas. A gramática tradicional não leva isso em conta e se preocupa somente da língua escrita, das línguas dos grandes autores clássicos e o mundo da língua falada fica desprezado. Por isso, a gramática tradicional merece ser estudada como um importante patrimônio cultural do Ocidente, mas não para ser aplicada cegamente como única teoria linguística válida ou como doutrina tradicional nem, muito menos, como instrumental adequado para ensinar gramatica como mera analise de frases descontextualizadas sem nenhum objetivo claro. A gramatica é para ensinar apena se por gramatica entendemos o estudo sem preconceitos do funcionamento da língua, do modo como todo ser humano é capaz de produzir linguagem e interagir socialmente através dela, por meio de textos falados e escritos, portadores de um discurso Tradição da queixa → a criação de um padrão de língua muito distante da realidade dos usos fez surgir uma milenar tradição de queixa (lamentela). Em todas as sociedades ocidentais sempre aparecem aqueles que lamentam e deploram a ruína da língua, a corrupção do idioma. Mas na perspectiva das ciências da linguagem logicamente não existe erro na língua porque a linguagem é entendida como um sistema de sons e significados que se organizam sintaticamente para permitir a interação humana, então qualquer manifestação linguística é plenamente funcional. Todas as classificações sociais e culturais de “certo” e “errado” são resultante de visões de mundo, de juízos de valor, de crenças culturais, de ideologia e, por isso, estão sujeitas a mudança no tempo. Nenhuma ideia sobre “certo” ou “errado” se pode explicar por algum fenômeno empiricamente comprovável ou por alguma “lei da natureza”. Eles derivam exclusivamente de leis culturais, das relações de poder, dos conflitos sociais, das imposições e distribuição desigual dos bens materiais e culturais Em contraposição a noção de erro, e tradição de queixa derivada dela, a ciência linguística oferece os conceitos de variação e mudança. A linguística reconhece a língua como uma realidade intrinsecamente heterogênea, variável, mutante, em estreito vínculo com a dinâmica social e com os usos que dela fazem os seus falantes. Ao contrario da Gramatica Tradicional, que afirma que existe apenas uma forma certa de dizer as coisas, a Linguistica demonstra que todas as for-mas de expressao verbal tem organizacao gramatical, seguem regras e tem uma logica linguistica perfeitamente demonstravel. Tudo o que e chamado de "erro" tem uma explicacao cientifica, tem uma razao de ser, que pode ser de ordem fonetica, semantica, sintatica, pragmatica, discursive etc. Juízos de valor como estigma o prestígio atribuídos as formas linguísticas são avaliações sociais lançadas sobre os falantes. Geralmente, quanto mais alto estive a pessoa na escala socioeconômica e também quanto mais elevado foi o seu grau de escolarização, maior será o prestigio atributo a sua maneira de falar. Inversamente, o menor prestigio social de determinados falantes vai ser correlato da visão pejorativa e depreciativa com que seu modo de falar será avaliado. Por exemplo: pessoas sem instrução formal, residentes nas periferias das grandes cidades ou na zona rural tem muito poco prestigio, principalmente numa sociedade como a brasileira, extremamente injusta na distribuição da renda e marcada por um alto grau de exclusão. Por isso, onde tem variação sempre tem também avaliação, que é essencialmente social, não é propriamente a língua que está sendo avaliada má a pessoa que está usando a língua daquele modo. Gramática prescritivas e gramática descritivas Durante a análise linguística, um linguista tem que registrar um fato linguístico como isso se mostra. Geralmente, a gente não escreve como fala, mas emprega uma variedade da língua adequada a situação do momento. Então nós precisamos que fazer uma oposição entre: - Gramaticas prescritivas (ou normativas) → tentam estabelecer o que é “certo” e o que é “errado” na língua, mostrando como as pessoas devem falar ou escrever. - Gramáticas descritivas → procuram descrever como é que as pessoas realmente falam ou escrevem. Através da gramatica descritivas o linguista registra como se fala realmente, retratando e sistematizando os fatos da lingua - Gramaticas internalizadas → São um sistema de regras, unidades e estruturas que o falante de uma língua tem programado em sua memória e que lhe permite de usar sua língua; é parte do nosso conhecimento do mundo. O português são três É preciso reconhecer na realidade sociolinguística brasileira uma divisão tripartida: Norma-padrão: não faz parte da língua, não corresponde a nenhum uso real da língua, se constitui muito mais como um modelo, uma entidade abstrata, um discurso sobre a língua, uma ideologia linguística que exerce evidentemente um grande poder simbólico sobre o imaginário dos falantes em geral. Historicamente, especialmente no período colonial, a norma- padrão tem sido um instrumento político de dominação e de exclusão, sempre fez parte de um projeto autoritário de imposição de uma cultura, de uma língua, de manutenção do poder nas mãos de uma pequena elite, que fez do seu modo de falar o único bonito e correto. Ela é um construto sociocultural, por isso, não é correto usar os termos língua-padrão porque ninguém fala a norma-padrão, nem mesmo ad pessoas altamente escolarizadas em situações de interação verbal extremamente formais. No entanto, os linguistas não consideram o processo de constituição de uma norma-padrão como uma coisa intrinsecamente negativa, eles simplesmente chamam a atenção sobre a normatização da língua por necessidades políticas e culturais. Uma norma-padrão poderia ser considerada como um auxílio da pesquisa cientifica, com base em projetos sociais democráticos a não excludentes. Não se pode confundir a norma-padrão com a norma culta. Eles são duas entidades sociolinguísticas muito diferentes. Norma culta: é o conjunto de variedades linguísticas efetivamente empregadas pelos falantes urbanos, mais escolarizados e de maior renda econômica, e nelas aparecem muitos usos não previstos na norma-padrão, mas que já caracterizam o verdadeiro português brasileiro prestigiado. Por outro lado, os precessos de mudança, iniciados na língua falada mais espontânea, pouco a pouco vão ganhando terreno, até se afirmar também na escrita mais monitorada. - Progetto NURC: o projeto NURC – Norma Urbana Colta – realizado por diferentes universidades brasileiras, foi criado com o objetivo primordial de documentar a língua real de falantes educados, entendidos como aquele grupo de pessoas com diploma universitário, oriundos das cidades de Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Este projeto possibilitou a publicação de novas gramáticas do português brasileiro, incluindo Gramatica do Portugues Falado e Nova Gramatica Portugues Brasileiro. Norma popular ou vernácula: variedades estigmatizadas, representam o estilo de língua falada em que a pessoa monitora o mínimo possível sua produção verbal. Com vernáculo se entende o estilo em que se presta o mínimo de atenção ao monitoramento da fala. Cada grupo social tem o seu vernáculo, ou seja o estilo que, na variedade linguística própria dessa comunidade, representa a fala mais espontânea, menos monitorada e que emerge sobretudo nas interações verbais com menor grau de formalidade e/ou com maior carga de emotividade. O vernáculo pode ser sintetizado como uma maior atenção ao conteúdo do que um falante está contando mais que a forma como está falando. O vernáculo é a fonte mais segura para a investigação dos fenômenos de mudança linguística, através este estudo podemos identificar quais são as regras gramaticais que realmente pertencem ao português brasileiro contemporâneo, aqueles que são as mais usualmente empregadas pelas pessoas em suas interações cotidianas. Ao mesmo tempo, podemos identificar quais são as regras que estão deixando de ser usadas, caindo em obsolescência com probabilidade de desaparecer da língua num futuro próximo. Como analisar uma interação verbal Tradicionalmente a realidade linguística brasileira tem sido analisada em termos de língua padrão/língua não padrão, língua culta/língua popular, língua escrita/língua falada, língua formal/língua coloquial. Este procedimento esconde o caráter dinâmico e mutante das situações de interação verbal. Uma das soluções para superar esse problema é investigar a situação de uso, o momento em que ocorre a interação: quem está dizendo o que, a quem, onde, quando, dentro de que relações da hierarquia social, com que intenção..? Os sociolinguísticas se concentram muito menos nas questões linguísticas, estruturais, e muito mais no modo como os atores sociais comunicam. Eles estudam a variação linguística utilizando um modelo baseado sobre o conceito de continuum. Neste modelo, toda situação de interação verbal pode ser analisada com base em três continua: - O continuum rural-urbano que representa os antecedentes sociais e culturais do falante: ter nascido e vivido na zona rural ou numa grande metrópole são fatores que influenciam muito a visão de mundo da pessoa, suas crenças e valores, sua relação com o meio ambiente e seu modo de falar a língua. - O continuum oralidade-letramento nos indica se a atividade verbal naquele momento da interação está mais próxima das práticas orais ou mais próxima das práticas letrada, - O continuum de monitoramento estilístico nos indica o grau de atenção que o falante presta ao que está sendo. Quanto mais monitorado o estilo de fala, mais provável é a ocorrência das formas prescritas pela norma-padrão, de construções gramaticais mais elaboradas e de vocabulário considerado mais requintado e erudito. Com esse modelo de análise fica mais fácil compreender a ocorrência de variação linguística numa mesma interação verbal. O que deveria fazer a escola no ensino do português? Primeiro, diante dessas diferenças entre PE e PB, é necessário abandonar a noção de "uma língua" e reconhecer a familiaridade linguística entre os dois países, mas não a identidade linguística, para que o ensino do português falado no Brasil seja mais democrático e realista, sem o peso do fardo colonial. Secundo, as línguas, como produtos culturais, mudam, estão em contínuo movimento e transformação, nunca definitivamente terminadas. Consequentemente, é essencial considerar a estreita relação entre o uso da língua, a cultura e a identidade de seus falantes; a gramática não é suficiente para uma comunicação eficaz. É necessário que todos os professores envolvidos no processo de ensino/aprendizagem da língua portuguesa tenham uma visão adequada à realidade linguística do português no mundo, que abandonem a ideia de uma suposta superioridade linguística do português europeu que tende a julgar negativamente a língua falada pelos brasileiros, considerando as formas de uso linguístico divergentes da legislação como erros de uma língua aleijada. A reeducação sociolinguística é uma proposta de pedagogia da variação linguística que leva em conta as conquistas das ciências da linguagem mas, também, as dinâmicas sociais e culturais em que a língua está envolvida. Respeito aos fenômenos de variação e mudança na educação em língua materna, é necessário reconhecer que a escola é o lugar de interseção inevitável entre o saber erudito-cientifico e o senso comum, e que isso deve ser empregado em favor do estudante e da formação de sua cidadania. Não é possível desprezar as necessidades dos falantes da língua, também não é possível deixar as coisas dominadas por uma ideologia linguística autoritária e excludente. Aos professores de língua portuguesa cabe o trabalho de reeducação sociolinguística de seus alunos e de suas alunas. Eles tem que formar cidadão conscientes da complexidade da dinâmica social e das relações entre pessoas por meio da linguagem. Com reeducação se intende a transformação da linguística primaria em saber formalizado e sistematizado per meio de conceitos e teorias. As crianças vão aprender que a língua pode ser um objeto de estudo sistemático e que todas suas manifestações verbais estão sujeitas ao julgamento social e avaliações. A língua não é simplesmente um meio de comunicação, mas ela é um poderoso instrumento de controle social, de manutenção ou ruptura dos vínculos sociais, de inclusão ou de exclusão. A língua é lugar e meio de conflito porque a sociedade em que vivem os seus falantes também é conflituosa. O discurso do linguista não pode dispensar o discurso do sociólogo, do antropólogo, do psicólogo, do pedagogo. Por isso a gente fala de uma reeducação sociolinguística, uma reorganização dos saberes linguísticos que permite aos alunos de tomar consciência sobre a escala de valores que existe na sociedade, sobre o utilizo da língua como elemento de promoção social e também de repressão e discriminação, promover o reconhecimento da diversidade linguística como uma riqueza da cultura brasileira.