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Língua e poder
O que os governos podem fazer com os idiomas

Por Edleise Mendes % 30 set. 2022 & 616

«Muitos governos têm buscado desenvolver


políticas mais inclusivas para as línguas
nacionais de seus países.»

A dimensão da língua e da linguagem é a nossa


porta de entrada para o mundo e o nosso modo,
também, de nos dizer no mundo. Quem nós
somos e como vivemos as nossas vidas são
constituídos pela linguagem. Assim, ao nos
referirmos a uma língua em particular como o
português, compreendemos a sua estreita
relação com outras dimensões importantes da
vida social, como a cultura, a ideologia e a
política, por exemplo. Nessa perspectiva, as
práticas de linguagem que desenvolvemos
quando interagimos com o mundo são
orientadas por essas outras dimensões e
estruturadas por relações de poder, que se
processam em diferentes níveis, desde o das
políticas que são implementadas pelos
governos e instituições civis, até o nível das
relações individuais. Língua é poder.

Na perspectiva das políticas linguísticas que


são criadas pelos governos e outras instituições
civis, uma língua pode ser fator de
discriminação e de exclusão de outras línguas
que com ela convivem, especialmente quando
esta é língua majoritária e de prestígio social e
político. Na CPLP, por exemplo, mais de 330
outras línguas dividem o espaço com o
português e, de modo geral, não gozam do
mesmo status político, ainda que algumas delas
sejam majoritárias em algumas regiões e
países. Por isso, nesse contexto, muitos
governos têm buscado desenvolver políticas
mais inclusivas para as línguas nacionais de
seus países, especialmente no âmbito da
educação básica, compreendendo que elas
podem ser a ponte para a construção de uma
educação mais adequada ao perfil
sociolinguístico de sua população.

Em
outra

perspectiva, visões estereotipadas de língua e


de cultura podem reforçar relações desiguais de
poder, especialmente no contexto da educação
em língua portuguesa, de modo geral, no qual
uma determinada variedade ou norma é tomada
como modelo de referência e de prestígio,
atribuindo a outras variedades linguísticas e
culturais um status de desprestígio e de
subalternidade. As notícias recentes sobre
casos de discriminação em sala de aula são
abundantes e revelam que algumas estruturas
de poder atuam para desqualificar grupos e
classes sociais por causa do português que
usam, seja na perspectiva das relações entre os
diferentes países de língua portuguesa ou em
relação aos variados usos da língua no interior
de uma mesma norma de uso, como no
exemplo da tensão entre a tal “norma padrão”
idealizada e o português popular falado no
Brasil.

As línguas podem, de fato, ser instrumentos de


opressão, de exclusão e de discriminação. Mas
também podemos usar o seu poder e potencial
na construção de espaços onde o diálogo
intercultural seja a sua maior força. Que o
português seja, então, o nosso instrumento de
acolhimento e de respeito às diferenças!

Fonte
Crónica incluída no programa Páginas de Português
em 25 de setembro de 2022, na Antena 2.

Sobre a autora

Edleise Mendes
Professora associada
da Universidade Federal da Bahia,
especializada em graduação e no
Programa de Pós-Graduação em Língua
e Cultura (PPGLinC). Autora, entre
outras obras, de Diálogos interculturais:
ensino e formação em português língua
estrangeira e Vidas em Português:
perspectiva culturais e identitárias em
contexto de português língua de
herança (PLH).

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