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All content following this page was uploaded by Salvia De Medeiros Souza on 17 December 2020.
ABSTRACT: In this article, our aim is to investigate how interculturality can contribute
to teaching English as a foreign language, based on the Base Nacional Comum
Curricular (BNCC). In this way, about foreign language teaching methods, we will take
Martinez (2009) and Silveira (1999). The works of Chomsky (1965), Hymes (1972) and
Kramsch (2017) will also serve as a theoretical contribution on the concepts of
linguistic, communicative and intercultural competence. This study allowed us to
conclude that assimilating issues such as the hybridity of the English language as a
lingua franca, for the mediation of social and intercultural practices, is a way found by
the BNCC for the role of the teacher in the classroom to approach interculturality in the
intercultural dimension axis. Regarding the development of students in the classroom in
the related competence, the same document adopted as a teaching strategy the
multiplicity of the English language uses in digital culture through Information and
Communication Technologies (ICT), in order to develop the intercultural competence
of students.
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A pessoa que não sabe latim é semelhante àquela que se encontra numa bela região
em templo nublado: seu horizonte é extremamente limitado, ela só vê com clareza o
que está próximo, e tudo o que se encontra poucos passos além se perde no
indeterminado (SCHOPENHAUER, 2016, p. 156).
Atualmente, podemos dizer que assim como o latim, nas palavras do filósofo, poderia
expandir horizontes de conhecimento, a língua inglesa tem ocupado um lugar semelhante,
proporcionando conexões entre pessoas, grupos, comunidades e, portanto, com diferentes
culturas ao redor do mundo. De acordo com Salzmann, Stanlaw e Adachi (2012), a língua
francesa exerceu a função de língua universal entre os séculos XVII e XIX e continuou sendo
a língua da diplomacia até a Segunda Guerra Mundial, quando a língua inglesa começa a ser
difundida ao redor do mundo. Essa difusão se deu ao longo das décadas que sucederam a este
fato histórico, abarcando fatores políticos, econômicos, científicos e tecnológicos que fizeram
dos Estados Unidos uma potência mundial.
Segundo Le Breton (2005, p. 20), “a Segunda Guerra Mundial é uma nova etapa na
consolidação das posições geopolíticas da língua inglesa. [...] A vitória soviética deixa aberta
as chances para o russo. Contudo, é o inglês – levado pela potência americana – que marca
novos tentos”. Desde então, de acordo com o mesmo autor, as indústrias culturais são
dominadas pelos Estados Unidos, tais como, o cinema, a moda, a TV, a música, os jogos online,
as redes sociais. Filmes, séries e músicas são sustentados e amplamente propagados por
plataformas como Netflix, Amazon Prime, Deezer e Spotify. Os jogos online, mesmo os que
não são traduzidos atraem jogadores de diversos países, sendo mais uma oportunidade de
interação entre participantes digitais nativos ou não da língua originária dessa forma de
entretenimento. As redes sociais YouTube, Instagram e Facebook por compartilharem, em alta
velocidade, um grande número de conteúdos em diversos formatos, perspectivas e ângulos
influenciam culturalmente seus usuários. Estes são exemplos de alguns dos espaços que foram
ocupados e permanecem com uma massiva influência da indústria americana, diariamente. A
influência da língua por estes instrumentos que trazem a cultura estrangeira sem sair de casa
proporciona uma discussão sobre a interculturalidade na prática docente, uma vez que podem
funcionar como recursos educacionais para o ensino da língua estrangeira (LE).
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O contato entre culturas não implica necessariamente o respeito entre elas, além disso,
suas diferenças e semelhanças muitas vezes podem não ser compreendidas facilmente. Essa
relação precisa ser construída didaticamente através da noção de interculturalidade, tal como
propõe a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que no Brasil reforça essa necessidade
enquanto documento de referência nacional, estabelecendo diretrizes, parâmetros e critérios
para a construção e organização de currículos e propostas pedagógicas para todas as etapas da
Educação Básica.
O referido documento se apoia no fundamento de que é preciso assegurar que os
discentes desenvolvam competências, isto é, mobilizem “conhecimentos (conceitos e
procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para
resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo
do trabalho” (BRASIL, 2018, p. 8) ao longo de todo o processo de Educação Básica.
A BNCC define as seguintes competências para o componente curricular língua inglesa,
nos anos finais do ensino fundamental:
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isso, os conceitos de competência linguística, competência comunicativa e competência
intercultural aqui serão estudados à luz de Chomsky (1965), Hymes (1972) e Kramsch (2017),
respectivamente. Acerca de métodos de ensino de LE fundamentaremo-nos em Martinez (2009)
e Silveira (1999). Além de visitar tais autores, para analisar a prática docente, no que tange à
interculturalidade, tomaremos por base o questionário online aplicado aos graduandos do curso
de Licenciatura em Letras – Português e Inglês, bem como registros de observação de suas
aulas.
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Nos métodos mencionados até então, as situações de uso e as relações entre as culturas
da língua materna dos aprendizes e a estrangeira não são aspectos levados em consideração no
processo de ensino-aprendizagem. Logo, não se favorecia o intercâmbio comunicacional, tal
como existe hoje.
Para sanar as limitações dos métodos que vinham sendo usados, surgiu a abordagem
comunicativa que trouxe a noção de competência e desempenho. Para Chomsky (1965)
competência é o conhecimento tácito que o falante-ouvinte possui da estrutura da sua língua e
desempenho é o uso efetivo da linguagem em situações reais de comunicação. Já Hymes (1972)
propõe o conceito de competência comunicativa destacando o crescimento do interesse pelos
aspectos sociais da linguagem. Portanto, este pesquisador defende o conceito de que essa é a
habilidade de utilizar a competência linguística em diferentes situações de interação social. Em
suma, enquanto Chomsky equipara competência a conhecimento, para Hymes, conhecimento
passa a ser uma parte da competência.
Nos anos 70, graças ao impulso dado pelo movimento de valorização dos aspectos
sociais (uso) da linguagem e à forte imigração na Europa, o ensino de LE foi fortalecido pela
busca de métodos novos e mais significativos para diferentes contextos de ensino:
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organizando os conteúdos de acordo com as necessidades e interesses dos alunos. Como se
pode perceber, portanto, a abordagem comunicativa traz questões textuais e discursivas que
foram desvinculadas de abordagens e métodos mais tradicionais.
Neste início de século, pesquisas como a de Fleuri (2002) defendem o desenvolvimento
de uma abordagem intercultural, a partir do contexto de lutas contra os processos crescentes de
exclusão. Para o pesquisador é importante se reconhecer o sentido e a identidade cultural de
cada grupo social. Mas, ao mesmo tempo, valorizar o potencial educativo dos conflitos. Assim,
se busca desenvolver a interação e a reciprocidade entre grupos diferentes, como fator de
crescimento cultural e de enriquecimento mútuo. Nesta mesma perspectiva, Paulino (2009), no
ensino de língua inglesa, aponta para a necessidade de reconhecer outras representações da
realidade no mundo como forma de evitar generalizações de conceitos culturais, aceitando e
respeitando as diferentes identidades, resultando em maior tolerância cultural.
A referida abordagem não nega a necessidade de desenvolver a competência
comunicativa, mas ressalta a importância de que o falante de uma LE tenha consciência de que
aprender uma segunda língua implica um diálogo contínuo entre línguas e culturas. A exemplo
disso, um aprendiz de língua inglesa carrega em seu discurso marcas culturais de sua formação
na língua materna ainda que esteja vivendo em um país estrangeiro, por isso tem a necessidade
de desenvolver a competência de falar sobre sua cultura através da LE e das demais culturas
relacionadas à língua aprendida.
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estrutura de verbetes de dicionário, traduzindo expressões do português brasileiro para o inglês
(Figura 1).
Na Figura 2, o fragmento /não sei. só sei que foi assim/ foi traduzido por I don’t know,
I just know it was like that e definido por when someone tells a fantastic story and its veracity
is questioned. Trata-se de uma expressão falada por um dos personagens da obra brasileira “O
Auto da Compadecida”, escrita pelo dramaturgo pernambucano Ariano Suassuna, publicada
em 1955, e adaptada para o cinema pelo diretor Guel Arraes, no ano 2000. Mesmo se tratando
de um espaço em que se veicula a LE, a obra é utilizada para dar ênfase a aspectos típicos da
cultura brasileira em diferentes manifestações, nesse caso, mobilizando uma referência à
literatura e ao cinema do país.
No contexto da aprendizagem de uma LE, o aprendiz, ao se apropriar de uma língua,
precisa falar da cultura de seu país de origem em diferentes contextos, como também de outras
culturas. Para isso, é fundamental que recursos de aprendizagem proporcionem a compreensão
dessas relações interculturais. A Figura 2 mostra que a página promove um entendimento da
própria cultura brasileira sob a ótica da LE e é uma forma de auxiliar no aprendizado dessa
língua a partir do conhecimento local, partindo para o global.
O contato entre as línguas que é divulgado pela página, curtido e compartilhado pelos
seus seguidores traz a interculturalidade materializando uma quebra do purismo colonial, pois
“a mistura de códigos é a contrapartida linguística da miscigenação e que o purismo em relação
à linguagem é análogo ao racismo e igualmente abominável” (RAJAGOPALAN, 2011, p. 59).
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Figura 2 - Postagem da página Greengo Dictionary publicada em 07 de janeiro de 2020. Disponível em:
<https://www.instagram.com/p/B7BWMJzFqd3/>. Acesso em: 13 Jan. 2020.
Ao longo dos anos, esse contato intercultural vem sendo considerado para o
desenvolvimento de abordagens e métodos, acompanhando o cenário geopolítico mundial e as
necessidades de comunicação intercultural em língua inglesa. No Brasil, o inglês é obrigatório
por lei (LDB, Art. 35-A, § 4º), compreendido como uma língua de caráter global assumindo
viés de língua franca. Em função disso, os professores precisam de preparo para ministrar aulas,
colocando em prática abordagens, métodos e técnicas de acordo com as competências propostas
na BNCC que, a partir de aspectos interculturais, visam a atender as necessidades dos
estudantes, seu nível de escolaridade e/ou proficiência.
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comunicativas mais refinadas sobre a língua inglesa, tão necessárias a um repertório teórico-
metodológico próprio que contribua para o seu agir docente e que não são contempladas durante
sua formação superior. Cabe ressaltar que embora os discentes tenham autonomia no seu
processo de aprendizagem, precisam ter, durante o curso, os fundamentos necessários para atuar
na educação básica, tal como é postulado nos documentos das diretrizes de ensino superior do
Ministério da Educação - MEC:
[...] o profissional em Letras deve ter domínio do uso da língua ou das línguas que
sejam objeto de seus estudos, em termos de sua estrutura, funcionamento e
manifestações culturais, além de ter consciência das variedades linguísticas e
culturais (BRASIL, 2007, p.2. Grifos nossos.).
A exemplo do que é proposto pelo MEC, o professor poderia compartilhar um link para
um vídeo do , como o “My daily routine and leisure time activities” (Figura 3), para alunos de
nível iniciante que em formato de entrevista a participante expõe um pouco de sua rotina e de
seus hobbies.
Figura 3 - Screenshot do vídeo My daily routine and leisure time activities. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=TrMyG3zt5AQ>. Acesso em: 13 Jan. 2020.
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Esse conteúdo, após assistido pelos estudantes, serveria de base para comentários de
uma interação entre falantes de língua inglesa que não a têm como língua nativa. Alguns alunos
podem ter certo estranhamento por ouvirem um sotaque americano ou britânico. Entendemos
que o objetivo desta proposta foi trazer falantes não nativos para mostrar que a língua inglesa
não se limita, por exemplo, aos países EUA, Inglaterra, Canadá, Nova Zelândia e Austrália e,
mais do que isso, que antigas convenções têm sido deixadas de lado.
Percebemos que a atividade não trata de assuntos referentes à cultura explicitamente,
mas, de forma transversal, o professor pode proporcionar um debate sobre diversidade cultural
de falantes de língua inglesa e fazer com que os alunos tenham contato com uma variante que
pode ainda não conhecida por alguns dos discentes. Esse reflexo do universo cultural da língua
deve estar presente em sala de aula de diferentes formas, afinal “se ensinarmos uma língua sem
ensinarmos, ao mesmo tempo, a cultura na qual ela opera, estaremos ensinando símbolos sem
significados, ou símbolos aos quais é vinculado um significado errôneo” (FERNANDES;
LIMA, 2009, p. 189).
Nessa proposta de atividade, há influência das TIC no processo de ensino-aprendizagem
de língua inglesa, por meio do uso do YouTube. Reforçamos, então, que elas têm possibilitado:
Há, portanto, uma abertura para outras manifestações culturais no mesmo veículo
utilizado, mobilizando a autonomia dos aprendizes e tornando o conhecimento da LE mais
próximo de suas atividades cotidianas, como: ver um vídeo em uma rede social, algo comum
atualmente para usuários de dispositivos de telefonia móvel com acesso à internet.
No que tange às abordagens e aos métodos de ensino de língua inglesa, verificamos que
a BNCC traz uma visão intercultural e desterritorializada que corrobora com o que vem sendo
defendido por pesquisadores como Rajagopalan (2011) e Kramsch (2017). A
desterritorialização, como explica Canclini (2008, p. 309), é “a perda da relação “natural” da
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cultura com os territórios geográficos e sociais”. A BNCC pontua “a relevância da língua
inglesa na mediação de práticas sociais e interculturais individuais e de grupo [...] focalizando
o processo de construção de repertórios linguísticos dos estudantes” (BRASIL, 2018, p. 484).
Diante das influências que a língua inglesa exerce no mundo e no Brasil, é preciso pensar
em como estabelecer relações saudáveis tanto com a nossa cultura como com a cultura do outro,
tal como está posto no eixo dimensão intercultural:
No referido eixo, há ênfase no cenário atual do inglês como língua franca que prioriza
as relações entre língua, identidade, cultura e o desenvolvimento da competência intercultural:
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O eixo dimensão intercultural, de acordo com a BNCC, visa uma reflexão sobre aspectos
relativos à interação entre culturas. Nessa perspectiva, o ensino da gramática, por exemplo,
deve ser contextualizado a partir do uso da língua.
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De acordo com Kramsch (2017):
Nas aulas de língua estrangeira (LE), que acontecem fora de qualquer contato com
nativos da língua, cultura é, na maioria das vezes, compreendida em seu aspecto
prático, turístico, em que há instruções de como agir no país-alvo. Os alunos de LE
aprendem sobre a cultura estrangeira como uma curiosidade exótica, à qual buscam
se adaptar ou temporariamente adotá-la quando viajam ao país. Já nas aulas de
segunda língua (SL), [...] cultura também pode assumir o formato de debates e
questões de relevância a nativos da língua no país-alvo ou de discussões sobre as
condições de moradia e trabalho para imigrantes (KRAMSCH, 2017, p. 143).
No entanto, a cultura em sala de aula não deve ser associada apenas a aspectos turísticos,
é preciso também, como explica Moita-Lopes (2003, p. 45):
A atenção centrada somente em aspectos turísticos em sala de aula pode favorecer uma
compreensão folclórica que não desconstrói estereótipos. Já quando as discussões permitem
que os alunos possam refletir sobre essas questões a partir de elementos da sua comunidade e
do seu país, é possível que eles possam ter uma ótica mais realista e entendam que diferentes
culturas podem ter algumas práticas semelhantes e outras não.
Para o 6º ano do ensino fundamental, por exemplo, o eixo em estudo estabelece três
habilidades enquanto metas a serem cumpridas como forma de auxiliar no desenvolvimento do
pensamento crítico em relação às diferentes culturas, como vemos a seguir:
É importante destacar que a primeira habilidade mencionada acima não fomenta uma
discussão em torno do ILF e, da forma como foi posta, parece orientar somente para uma
identificação dos países que o têm como primeira ou segunda língua sem uma reflexão sobre a
expansão do idioma no mundo. Já a segunda traz um diálogo a respeito da língua e da influência
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que ela exerce na realidade dos alunos. Assim como a anterior, a terceira traz uma perspectiva
crítica em relação aos aspectos culturais que foram absorvidos da cultura de países de língua
inglesa dentro do ambiente em que os alunos estão inseridos.
Considerando que essas habilidades serão tomadas como modelo para a construção de
referenciais curriculares em estados e municípios, é preciso questionar como eles têm
interpretado e posto em prática as orientações do documento, especialmente no eixo em estudo.
Em termos de sala de aula, os professores devem estar conscientes do que tem sido
exigido e devem colocar em prática. Não se trata de uma tarefa fácil: para que esses docentes
possam empoderar seus estudantes, orientando a aprendizagem do ILF, precisam estar seguros
sobre como o eixo dimensão intercultural pode ser inserido ou aprimorado (caso já seja
trabalhado) na escola, de modo a auxiliar no desenvolvimento de habilidades cognitivas, em
um diálogo com os demais eixos estabelecidos para o componente curricular.
CONCLUSÕES PRELIMINARES
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É preciso salientar, no entanto, que em algumas habilidades do eixo conhecimentos
linguísticos, por exemplo, ainda permanecem aspectos relacionados ao vocabulário e à
gramática, que pela disposição apresentada na tabela 1 favorece o trabalho destes conteúdos de
forma isolada. A disposição dos eixos separadamente não contribui para a compreensão de que
precisam ser trabalhados de forma integrada e intercultural.
Baseado em Souza (2019) vimos que, para a maioria dos professores e uma parte dos
discentes, a cultura no processo de formação de estudantes da graduação não é considerado um
aspecto importante para o ensino de língua inglesa, estando inclusive em oposição aos objetivos
das diretrizes do MEC. Um professor que nunca esteve em um país onde pudesse se comunicar
interculturalmente, por meio dos atuais recursos de TIC será capaz de se apropriar de novos
conhecimentos culturais e proporcionar o ensino do ILF. Assim, é possível fugir do
tradicionalismo, muitas vezes restrito ao ensino de gramática e vocabulário de uma LE. Isto
pode ser exemplificado com o vídeo “My daily routine and leisure time activities” (Figura 3),
com uma atividade em que um professor pode inserir a cultura em sala, sem que ela seja o
objeto específico. O vídeo permite mostrar aspectos como a variação linguística, de forma
transversal, fazendo com que os alunos compreendam que não é possível dissociar cultura de
língua e que essa relação poderá fomentar reflexões sobre seu papel enquanto falantes do ILF.
Ponderamos que ainda é preciso questionar como as proposições do documento têm
chegado aos professores já atuantes na educação básica, como elas têm sido interpretadas e
aplicadas nos diversos contextos do ensino público do país, já que na própria formação dos
recém-graduados não têm sido dada relevância a aspectos culturais e, por consequência, são
eles que em breve também estarão atuando na educação básica.
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