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bncc-propoe-para-o-ensino-do-ingles

Publicado em NOVA ESCOLA 29 de Novembro | 2018

O que mudou

O que a BNCC propõe


para o ensino do Inglês?
Base considera o contexto social e político do inglês, e a
língua como uma ferramenta de comunicação em um
mundo globalizado

De língua estrangeira para língua franca: na Base, essa é uma mudança de


conceito importante para o ensino do Inglês. O que isso significa? Língua
franca é a língua de várias pessoas, que falam idiomas diferentes, adotam
para se comunicarem entre si. Nesse sentido, a BNCC legitima o Inglês, não
só como a língua falada em países como nos Estados Unidos ou na Inglaterra,
mas como uma oportunidade de acesso ao mundo globalizado. Com esse
conhecimento, todos os jovens e crianças podem exercer a cidadania e
ampliar suas possibilidades de interação nos mais diversos contextos.

Nessa perspectiva de língua franca, o Inglês deixa de ser apenas dos falantes
nativos (onde é ensinada como língua materna), e passa a ser uma língua que
varia, com diferentes contextos, que dependem do lugar onde é falada. Esse
fator favorece o ensino da língua inglesa com mais interculturalidade.

"Nessa proposta, a língua inglesa não é mais aquela do


“estrangeiro”, oriundo de países hegemônicos, cujos falantes servem
de modelo a ser seguido, nem tampouco trata-se de uma variante
da língua inglesa. Nessa perspectiva, são acolhidos e legitimados os
usos que dela fazem falantes espalhados no mundo inteiro, com
diferentes repertórios linguísticos e culturais, o que possibilita, por
exemplo, questionar a visão de que o único inglês “correto” – e a ser
ensinado – é aquele falado por estadunidenses ou britânicos"

— trecho de texto da Base Nacional Comum Curricular


O novo status de língua franca implica em deslocar a língua de um modelo
ideal de falante para um modelo mais real, considerando suas diferenças
culturais e as variações linguísticas decorrentes das situações de uso e das
comunidades que a falam. A proposta da BNCC é a de reconhecer os diversos
repertórios linguísticos presentes em sala de aula e fora dela, ampliando as
noções do que vem a ser "certo" e "errado" no uso da língua.

Essa concepção muda de forma estratégica a maneira de entender o


componente e, principalmente, de como o inglês deve ser ensinado em aula.
Alexandre Badim, coordenador do Centro de Línguas da Universidade Federal
de Goiás, ajuda a elucidar as principais alterações trazidas pelo novo
documento. Veja:

STATUS DA LÍNGUA

Como era nos PCNs:


Língua estrangeira

Como ficou na Base:


Língua inglesa

Na prática:
A língua é legitimada como uma oportunidade de
acesso ao mundo globalizado e um conhecimento que o
aluno precisa para exercer a cidadania e ampliar suas
possibilidades de interação em diversos contextos.

STATUS DA LÍNGUA

Como era nos PCNs:


Língua estrangeira

Como ficou na Base:


Língua franca

Na prática:
Na perspectiva de língua franca, o inglês deixa de
pertencer apenas aos nativos (onde a língua é ensinada
como materna, na Inglaterra, Canadá ou Estados
Unidos, por exemplo), e passa a ser incorporado pelas
pessoas em contextos variados, e em práticas e
interações reais. O inglês é usado para maior inserção
no mundo acadêmico, cultural e mercadológico.

ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO

Como era nos PCNs:


Quatro eixos de conteúdo, divididos em conhecimento
de mundo, conhecimento sistêmico, tipos de texto e
atitudes.

Como ficou na Base:


Os eixos são oralidade, leitura, escrita, conhecimentos
linguísticos e dimensão intercultural.

Na prática:
O ensino de inglês, de acordo com a BNCC, deve
colaborar para desenvolver competências que vão além
de ler, interpretar e resolver problemas. Nesse
contexto, o eixo da oralidade é bastante ampliado e
envolve as práticas de linguagem com foco na
compreensão (escuta) e na produção oral (fala), com ou
sem contato face a face.

No eixo Leitura e Escrita são abordadas práticas de


linguagem decorrentes da interação do leitor com o
texto escrito e as práticas de produção de textos,
respectivamente.

Os conhecimentos linguísticos estão relacionados à


análise e à reflexão sobre a língua, sempre de modo
contextualizado, articulado e a serviço das práticas de
oralidade, leitura e escrita.

A Dimensão intercultural nasce da compreensão de que


as culturas, especialmente na sociedade
contemporânea, estão em contínuo processo de
interação e construção, esse é um aspecto que deve ser
tematizado em sala de aula.
PRÁTICAS
COMUNICATIVAS

Como era nos PCNs:


A ênfase do documento estava nas práticas de leitura e
escrita.

Como ficou na Base:


A BNCC reconsidera essa posição e a amplia ao tratar a
língua de forma discursiva, compreendendo outras
dimensões (incluindo as habilidades) tão importantes
para o desenvolvimento da competência linguístico-
discursiva dos estudantes por meio da língua inglesa.

Na prática:
A Base traz a visão de que a criança e jovem aprendem
na prática comunicativa e em contato com a língua real.
A maneira de ensinar também muda, pois ressignifica a
relação entre falantes, língua (materna ou estrangeira) e
contexto geográfico-cultural. Por outro lado, no que diz
respeito ao eixo da Leitura, a Base aborda práticas
diversas a serem trabalhadas com os alunos, com foco
na construção de significados, com base na
compreensão e interpretação dos gêneros escritos em
língua inglesa, que circulam nos diversos campos e
esferas da sociedade.

OBJETIVOS

Como era nos PCNs:


A aprendizagem da língua estrangeira estava
relacionada, principalmente, com o desenvolvimento
integral do letramento do aluno — aprender a ler textos
escritos em outra língua era o foco.

Como ficou na Base:


Ao propor o ensino do Inglês nessa nova configuração,
com ênfase no caráter formativo e numa perspectiva de
educação linguística consciente e crítica, a BNCC traz a
visão de multiletramento do aluno.
Na prática:
Parte-se do pressuposto de que a formação é concebida
nas práticas sociais do mundo digital — no qual saber a
língua inglesa potencializa as possibilidades de
participação e circulação —, que aproximam e
entrelaçam diferentes linguagens (verbal, visual,
corporal, audiovisual), em um contínuo processo de
significação contextualizado, dialógico e ideológico,
como descrita no documento oficial. O inglês é visto não
apenas como língua estrangeira ou do outro, mas um
bem cultural mundial que pode ser incorporado de
variadas formas, para usos diversos, por falantes
multilíngues a expressarem suas múltiplas culturas.

CONTEÚDOS

Como era nos PCNs:


Predominava uma visão tecnicista de ensino do inglês,
com o estudo da língua direcionado para suas
estruturas linguísticas e de vocábulos.

Como ficou na Base:


Há uma ampliação na abordagem da língua para
oportunizar uma exposição mais real à língua via textos
variados e multimeios autênticos e para trabalhar
gêneros diversos, que aproximam da sala de aula
práticas reais do uso da língua, de acordo com as
necessidades locais.

Na prática:
O estudo do léxico e da gramática tem como foco levar
os alunos, de modo indutivo, a descobrir o
funcionamento sistêmico do inglês. Isto traz outro
desafio, o metodológico, uma vez que torna
imprescindível que o professor trabalhe de outras
formas em sala, não mais no ensino exclusivo de regras,
numa abordagem mais tecnicista, mas do uso discursivo
da língua, com materiais variados e atendendo às
diferentes necessidades de seu contexto escolar e
social. O trabalho com gêneros verbais e híbridos,
potencializados principalmente pelos meios digitais,
possibilita vivenciar, de maneira significativa e situada,
diferentes modos de aprender a língua.

CONTEÚDOS

Como era nos PCNs:


Não havia uma determinação clara para o trabalho, em
classe, que possibilitasse o conteúdo com a língua viva.
Como consequência, nos meios acadêmicos, as aulas de
inglês partiam de uma língua padrão, de países
hegemônicos.

Como ficou na Base:


A língua é entendida como expressão da cultura. Daí a
ideia de uma língua do mundo e a orientação e o
estímulo ao trabalho com várias fontes indutivo — o
inglês de vários lugares e suas variantes.

Na prática:
Os conteúdos, em sala de aula, devem estar inseridos
em diferentes contextos culturais, desvinculando,
inclusive, da noção de pertencimento a um único
território e, consequentemente, a culturas típicas de
comunidades específicas. Com isso, se legitima o uso do
inglês em contextos locais. Os textos estudados em sala
não precisam ser recortes, que deslocam a língua para
um modelo ideal, mas devem ser textos originais, tais
quais circulam nas mais diversas esferas sociais, já que
a língua é entendida como prática social. Devem ser
consideradas as diferenças culturais e as variações
linguísticas decorrentes de seus diferentes usos e
variadas comunidades de fala, acolhendo os diversos
repertórios linguísticos presentes em sala de aula e fora
dela.

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