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1 INTRODUÇÃO
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existe um grande debate acerca da linguagem neutra, buscando a inserção
desta em todos os espaços, inclusive os acadêmicos.
Para entendermos melhor a necessidade ou não da inclusão da
linguagem neutra no cotidiano acadêmico, precisamos compreender o
papel social que esta realiza. Como já mencionado, existem pessoas que
não se identificam com os gêneros formalmente utilizados na sociedade,
como o feminino ou o masculino. Esses indivíduos, ao qual denominamos
agênero ou não binários, buscam sua representatividade na sociedade
através do reconhecimento da linguagem, como forma de existência.
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binária, que tem seus direitos de representatividade tirados no momento
em que seus pronomes de tratamentos são colocados como não aceito
na linguagem.
Diante de todos esses argumentos podemos perceber uma grande
guerra cultural, que ganha vários âmbitos, proporcionando diversos
debates dos reais benefícios ou não da inclusão do pronome neutro em
nosso cotidiano. Para podermos gerar questionamentos e argumentos para
este trabalho, pretendemos realizar uma pesquisa qualitativa com
professores de instituições de nível superior na cidade de Sobral, buscando
promover a problematização do pronome neutro e qual o impacto no
vocabulário. Para a partir dos resultados, podemos reconhecer as
dificuldades e/ou benefícios que poderíamos ou não ter em nossos
espaços acadêmicos ao acolhermos essa demanda como inclusão social.
Desta forma o que será produzido com a pesquisa será abordado
no trabalho como assuntos pertinentes ao estudo do gênero neutro e da
linguagem inclusiva e os impactos que esta possa vir a produzir no
Português brasileiro, buscando responder a seguinte pergunta: A
problematização da linguagem neutra, pode gerar quais impactos no
nosso vocabulário?
2 JUSTIFICATIVA
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Deste modo, o projeto de pesquisa se caracteriza como grande
potência social por se tratar não somente de um parâmetro linguístico,
como também evidencia uma construção social binária e promove um olhar
sociolinguístico através da perspectiva de professores da língua
portuguesa de nível superior, da cidade de Sobral.
Portanto, o mesmo irá esclarecer as inviabilidades que cercam a
execução prática do pronome neutro é possível inflexibilidade que
poderiam interferir na sua adesão linguística. Neste viés, esperamos dar
mais visibilidade à luta por inclusão linguística de pessoas não binária para
que o processo de aprovação do pronome neutro seja cultural e
constitucional.
Por fim, vale salientar que o tema está diretamente consolidado aos
princípios éticos estabelecidos pelo Conselho Federal de Psicologia, que
estabelecem defesa e combate a violência de gênero assegurados pela
resolução 08/2020. A vista disso, se acredita que a psicologia tenha o
papel ético e mediador de inserir o pronome neutro como forma de
respeitar a individualidade do sujeito, e deve está sempre em busca de
conhecimento para melhor incluir comunidades que têm seus direitos
apagados. A causa enfrenta grandes adversários, pois Foucault, se refere
em seu livro Microfísica do poder que é necessário haver uma "manobra"
para que determinada relação de força possa instituir-se, estabilizar-se e
avançar. Deste modo, será preciso quebrar tabus impostos por uma classe
dominante, que está arraigada na sociedade para que de fato a diversidade
sexual possa ser reconhecida e tenha a visibilidade de direito.
Citando ainda Paulo Freire, quando ele fala que à diversidade
devem ser dados passos largos para que os preconceitos possam ser
3 OBJETIVOS
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3.2 Objetivos Específicos
● Perceber qual o principal motivo pela não inclusão do pronome
neutro na visão dos professores entrevistados;
● Compreender o que consideram como as principais dificuldades que
a utilização do pronome pode implicar no vocabulário.
● Identificar como os professores poderiam utilizar uma linguagem
inclusiva sem a utilização do pronome.
● Conhecer a percepção dos professores em relação ao público não
binário.
4 REFERENCIAL TEÓRICO
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Como menciona Van Dijk, renomado linguista neerlandês conhecido por
suas contribuições aos campos da linguística textual e da análise do
discurso, ele escreve em seu ensaio publicado na revista Revista
Portuguesa de Humanidades no ano de 2015:
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mesmo artifício, que não se consegue representar a população daquele
espaço. Ou, para se referir a um grupo de crianças, muitas pessoas falam
“os meninos”, quando a prevalência é de meninas. Dessa forma,
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compreendido por “eles” ou “elas”. Tão logo podemos perceber que a
utilização de um pronome ou uma linguagem neutra não nos é distante,
como podemos ver tanto no latim, quanto no inglês.
Como Lau e Sanches (2019) já traziam, a utilização da LNB 1 seria
um constructo crítico sobre o uso da linguagem, assim todas as partes
envolvidas a usariam, não apenas uma camada da sociedade. Evitando
assim, algum tipo de exclusão de gênero em nossa fala em contextos
específicos.” (LAU; SANCHES, 2019, p. 95)
No entanto, nosso trabalho busca tratar sobre o olhar dos
professores de língua portuguesa acerca do assunto, da incrementação da
linguagem não binária ou neutra. Lau e Sanches (2019) em sua obra
trazem que
1
LNB se refere a Linguagem Não Binária, para englobar todos os gêneros sem sobrepôr nenhum
gênero.
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Com toda a discussão apresentada, temos que nos referir também
às pessoas que não se identificam com gênero algum, no caso, pessoas
não binárias ou agêneras – citadas anteriormente. Segundo D’Ávila (2022),
a não-binariedade é um termo “guarda-chuva”, que se refere a várias
identidades que se diferem da cisnormatividade (masculino e feminino).
Pessoas não-binárias buscam a aceitação e a utilização da LNB e
a sua inserção na sociedade. Porém, como já trazido anteriormente, a
sociedade brasileira é conservadora em seus princípios, e qualquer coisa
que fuja da heteronormatividade e da cisnormatividade é visto como algo
impróprio.
5 METODOLOGIA
5.1 Descrição do método
De acordo com Gerhardt e Siveira (2009, p. 32), “na pesquisa
qualitativa, o desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O conhecimento
do pesquisador é parcial e limitado.
Segundo Bauer e Gaskell (2008), toda pesquisa qualitativa, social,
empírica, busca a tipificação da variedade de representações das pessoas
no seu mundo vivencial.
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A pesquisa foi realizada na modalidade qualitativa, utilizando
entrevista estruturada com o público definido de acordo com o tema
proposto.
Pesquisa de campo
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5. Falar de linguagem neutra significa falar sobre gênero e relações de
poder. Para você quais as principais dificuldades que a inclusão da
linguagem neutra enfrenta para ser inserida como uma regra
gramatical?
6. Você conseguiria utilizar outra forma de linguagem inclusiva que
abranja toda a população sem o marcador de gênero e sem a
utilização do pronome neutro? Se sim, de que forma?
7. Para você, olhando do ponto de vista de sua experiência em sala de
aula, quais os benefícios e/ou malefícios que a linguagem neutra
poderia trazer para o cotidiano em sala de aula?
8. Ao debater sobre linguagem neutra há uma divisão de opiniões em
que tal adesão é colocada como desserviço no campo da língua
portuguesa. Qual sua opinião profissional em relação a afirmações
dessa temática?
9. Quando se propõe uma adesão da linguagem neutra, você
consegue pensar em um tipo de usuário que será beneficiado ou
prejudicado com a inclusão da mesma? Se sim, quem seriam esses
indivíduos?
10. Em uma situação hipotética, se você fosse solicitada por algum
aluno a utilizar a linguagem neutra com o mesmo, qual seria seu
posicionamento?
6 RESULTADOS
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Ao observarmos as entrevistas realizadas com os professores de
nível superior, foi constatado algumas contradições nas falas, como foi
ilustrado pela entrevista realizada com le entrevistade Elu, que em dado
momento, relatou:
ENTREVISTADE ELU: “Como eu disse a gente não
pode é dar oficialmente porque não existe dentro da
gramática oficial…”.
Nesse trecho, pode-se perceber que o entrevistade considera a
linguagem neutra como inclusiva, mas ainda sim, ainda vê a oficialização
da língua como algo distante, que indiretamente é uma maneira de
questionar o uso dessa linguagem e por sua vez, sua não obrigatoriedade
em detrimento da não oficialização.
Nesse mesmo viés, le entrevistade Elix, apesar de dizer que
utilizaria o pronome neutro se solicitado, também coloca em pauta a não
oficialização, e nesta perspectiva pode-se perceber que há uma resistência
em tornar oficial a utilização da linguagem e do pronome neutro. Sugerindo
de forma implícita que essa linguagem só irá existir de fato, a partir de
regras gramaticais.
ENTREVISTADE ELIX: “...agora existe uma certa
legislação descritiva e prescritiva dentro da gramática
que ainda não aceita a linguagem neutra dentro da
sua escrita, aí nesse caso o tempo vai nos dizer se
vai ser aceito (...) Atualmente não utilizo a linguagem
neutra, não é uma linguagem que está dentro do meu
vocabulário, tá certo então no caso eu uso o
masculino no plural aí ele já abrange todo o
processo”.
Neste marcador, le entrevistade demonstra não achar necessário a
utilização da linguagem e do pronome neutro, pois segundo o mesmo, o
masculino no plural já inclui todos os indivíduos. Podendo concluir que
algumas opiniões são manifestas de formas sucintas para não discriminar
claramente um conservadorismo enraizado.
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Outro resultado que obtivemos a partir da pesquisa de campo, foi
que prática e teoria muitas vezes não conversam. Algumas das pessoas
entrevistadas, falavam que usariam a linguagem neutra, porém, nunca se
imaginaram na prática, caso alguma pessoa que se identifique como não-
binárie a peça para utilizar pronomes como elu/delu, por exemplo.
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fala ou ele vai puxar por um viés diacrônico que é a
evolução processual de toda a linha até chegar aqui,
então ele pega o processo da formação da linguagem
lá no latim que vem a se arrastando ao longo do
tempo a se desembocar na atualidade, então as
regras gramaticais elas são construídas a partir dessa
diacronia e não dessa sincronia, então nunca olhar
gramatical…”
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empodera com essa linguagem. Mesmo que, para
mim, ela seja definhada, seja menor, seja inferior…”
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Algumes entrevistades compreendem a fluidez da linguagem, uma
vez que é um processo que está relacionado à evolução humana, como é
possível observar nos seguintes trechos:
ENTREVISTADE ILE: “Sobre esse segundo ponto, a
língua portuguesa, o vocábulo, a fluidez, o surgimento
de novas palavras, está totalmente relacionado com o
próprio fato da nossa língua evoluir de acordo com a
humanidade. A forma como a gente se comunica na
atualidade é completamente diferente do século 18, e
completamente diferente dos anos 2000, da geração
de quem nasceu na década de 50. Então assim
podemos perceber as mudanças da língua
portuguesa, dos modos de falar a partir de uma visão
histórica, que a gente fala sempre do ponto de vista
linguístico de uma visão diacrônica, linguisticamente
falando é muito importante né exatamente para que a
gente não caia nesses equívocos que achar que
entrar nessa visão purista da gramática como algo
que não acompanha essas transformações (...)”
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tem que evoluir de acordo com o momento que se
vive certo.”
Dessa forma, podemos ver como mesmo os próprios aspirantes da
língua portuguesa concordam com um ponto em comum: a evolução da
língua de acordo com o contexto que se vive.
7 CONCLUSÃO
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8 REFERÊNCIAS
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nem rápido e nem sem reação”. 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/01/politica/1549050356_520619.html. Acesso em:
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19
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mar. 2023
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ANEXO
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é algo estanque, ela vai mudar, pois está em constante evolução de acordo
com a história da Humanidade. Todas essas transformações estão muito
mais no campo social que no campo semântico, no campo político do que
no campo gramatical.
Então por exemplo, o supremo tribunal federal decretou que o pronome
deveria ser usado, dentro do dos discursos, isso gerou um enorme
burburinho. Porque não se discute que o supremo como algo que vai
representar algo maior socialmente. E não ta pautado obviamente no
campo da gramática normativa. É o estado quem vai falar nesse momento.
Então, a partir do lugar mesmo que o supremo ocupa, das representações
sociais que ele não pode deixar de levar em consideração, das nossas
camadas sociais, das nossas produções linguísticas. E é exatamente por
isso que no imaginário coletivo há essas falas equivocadas, porque a gente
não discute sobre isso ainda, se fala sobre discurso neutro, isso não existe,
não existe no trajeto discursivo. Acho que é o ponto sucral desse assunto.
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sem chama Nova gramática da Língua Portuguesa, que é uma gramática
atualizada que desconsidera alguns usos da norma da gramática
portuguesa que não se utiliza mais, como a próclises, a ênfase por
exemplo que são normas que representa os nossos colonizadores, não é
nossa, não faz parte dos nossos usos sociais cotidianos. É muito
importante a gente discutir isso né e como você enxerga a utilização do
pronome neutro é também um de entra, só reforçando o que eu falei
anteriormente sobre a utilização do pronome neutro, ele não está no
âmbito da gramática normativa de nenhuma modificação da gramática
normativa mas está dentro do campo discursivo social, sociocultural para
abarcar os sujeitos sociais que existem e levando em consideração
sobretudo o fato de que a língua é um instrumento de poder, ela também
precisa abarcar essas outras pessoas.
Sobre a pergunta qual foi a minha rela reação ao ver pela primeira vez a
utilização da linguagem neutra, eu nem consigo lembrar em qual momento,
dentro da minha área que é linguística aplicada, talvez tenha, como para a
maioria das pessoas, tenha soado um pouco estranha, mas também tem o
fato da gente discutir muito a linguagem em contextos sociais, de uma
maneira situada, e saber que as linguagens na verdade, são múltiplas, isso
faz já faz parte de um de discussões da minha vida académica, enquanto
professora, enquanto pesquisadora. Então não lembro, assim algo que
tenha me chocado ou algo do tipo, mas que com certeza eu sabia que
naquele momento estava sendo um momento de uma virada social, mas
também extremamente política. Falar sobre línguas é falar sobre política
não tem como.
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Você fez uma pergunta extremamente importante, eu até já mencionei
sobre. Falar de linguagem neutra significa falar sobre germe em relação de
poder, perfeito! Até mencionei anteriormente, que falar sobre a pluralidade
de linguagens, é falar sobre inclusão e sobretudo sobre relações de poder.
Acho que a principal dificuldade da inclusão dentro das nossas práticas
discursivas é a falta de discussões, nesse nível, a gente ainda é muito
arraigado a normas gramaticais de forma descontextualizada, embora as
gramáticas na atualidade trazem essa ideia de que eu não posso ensinar
gramática fora de um contexto de uso. Ainda existe muito dentro do ensino
da norma a gramática pura em si e ela se perde como todo o estudo e
talvez a maior dificuldade em se discutir seja essa sobre a inclusão, você
botou a inclusão aqui, mas é perceber isso né, que partindo dessa ideia
que a língua e as mais variadas linguagens é falar sobre relação de poder,
se a gente não tivesse a consciência a gente vai utilizar a nossa fala, o
nosso discurso para excluir o outro, se a gente não tiver essa consciência
isso vai acontecer. E ser inserida como uma regra gramatical é um assunto
bem mais delicado, porque quando a gente fala sobre pronome neutro, a
gente está falando mais no campo semântico discursivo, e não em um tipo
de mudança, não sei se isso vai acontecer posteriormente, dentro da
norma das regras gramaticais.
Nossa nunca tinha parado para pensar nessa pergunta, foi ótimo. Estou
aqui inclusive pensando sobre a pergunta de se utilizar a linguagem
inclusiva que abranja toda a população ser um marcador de gênero, mas é
algo que eu me preocupo, por exemplo mesmo que eu não fale o marcador
o pronome neutro, eu sempre quando vou proferir, alguma palestra algo do
tipo, ou até mesmo nas minhas práticas discursivas, eu tento na verdade
inclui todos, mas sou muito consciente que o assunto é polêmico e a gente
precisa saber para qual público que a gente está se direcionando. Sou
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muito consciente disso. Em qual situação comunicativa, a gente vai se
posicionar, a gente vai se colocar, e qual a forma qual que a gente vai fazer
isso. Eu sou muito consciente disso.
Nessa questão acho que até também já mencionei. Você consegue pensar
um tipo de usuário que seja bem beneficiado prejudicado? Não, não
consigo ver essas mudanças linguísticas sociais a partir dessa visão
dicotômica, eu só consigo ver mudanças, a partir de uma mudança social.
É simples, não existe, óbvio que a gente precisa problematizar, mas não a
partir dessa visão. A gente precisa ver o mundo como múltiplo, não existe
só essas duas visões, existem um campo social discursivo que é múltiplo,
em constante transformação.
10. Em uma situação hipotética, se você fosse solicitada por algum aluno
a utilizar a linguagem neutra com ele, qual seria seu posicionamento?
Eu não consigo imaginar esse tipo de situação, você até me fez pensar. Eu
perguntaria, por que seria tão importante eu utilizar essa linguagem e não
me direcionar para eles, diretamente a partir do lugar que ele ocupa, e não
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especificamente da linguagem neutra, eu chamaria pelo nome, ou
exatamente como ele se identifica, e não por uma terminologia , que ao
meu ver nem abrange ele como indivíduo, eu não diria rótulo, mas não
abarca ninguém, nem eu e nem você como um indivíduo único, com suas
pluralidades.
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Então, a maneira de você dar aula, não é a maneira que eu comecei há 30
anos porque têm os comportamentos, as necessidades, os gêneros vão
mudando, então, para mim é uma evolução que a linguagem também tem
que acompanhar. 5. Falar de linguagem neutra significa falar sobre gênero
e relações de poder. Para você quais as principais dificuldades que a
inclusão da linguagem neutra enfrenta para ser inserida como uma regra
gramatical? R> é porque tem que passar por todo o processo de aceitação,
é uma comparação com um acordo. O acordo ortográfico, foi acordado por
8 países e nem todo país aceitava, um país que tinha uma linguagem mais
pura, não achou legal, tanto que foi um processo. A lei foi aprovada e para
realmente se seguir, precisou de vários anos, então eu acho que existe a
possibilidade, porque é a mesma opinião: a língua ela tem que acompanhar
os tempos. Então, se não existe só masculino e o feminino, se existem
pessoas de outros gêneros, por que não incluir também na linguagem?
Acho que a linguagem não é estática, ela tem que evoluir de acordo com o
momento que se vive certo. 6. Você conseguiria utilizar outra forma de
linguagem inclusiva que abranja toda a população sem o marcador de
gênero e sem a utilização do pronome neutro? Se sim, de que forma? R>
eu usaria. Teria que fazer um estudo, uma pesquisa. Eu até pesquisei
nesse Manual aqui, eu achei excelente, porque tem a tabela aqui de todos
os pronomes e assim, toda transformação é consensual. As regras do
Novo Acordo, eu estudava há 20 anos as mesmas regras e de uma hora
para outra muda. O hífen é infinito, né, a gente aprende o hífen duma vez?
Não. Eu como professora de português e uma pessoa que acompanha ao
meu tempo, aos poucos, poderia facilmente incluir na minha escrita, na
minha fala. Inclusive, andei pesquisando que ela é muito mais usada na
fala do que na escrita, então a possibilidade de a gente usar é na fala é
bem mais fácil, então acho isso aí vai dar um caminho, um norte melhor
para a gente se adaptar e usar. 7. Para você, olhando do ponto de vista de
sua experiência em sala de aula, quais os benefícios e/ou malefícios que a
linguagem neutra poderia trazer para o cotidiano em sala de aula? R> o
benefício é acompanhar os tempos, ser contemporâneo, é manter a
inclusão. É processual, tudo na educação não se transforma de uma hora
para outra e a gente sabe que toda mudança é polêmica tem uns que
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aceitam ou não aceitam, eu como muitos, não tenho nem teria nenhuma
dificuldade porque é uma questão de adaptação e acho que só assusta no
começo, par as pessoas não para mim, eu acho isso normal, havendo a
aceitação da lei, das regras, ficaria mais fácil no âmbito geral, mas eu
utilizar, não vejo nenhum problema eu só vejo benefício porque a gente vai
se adaptar ao momento que se vive. 8. Ao debater sobre linguagem neutra
há uma divisão de opiniões em que tal adesão é colocada como desserviço
no campo da língua portuguesa. Qual sua opinião profissional em relação a
afirmações dessa temática? R> toda mudança assusta, o acordo autora foi
o foi um terror, tem alguns países mais tradicionais que não achavam que
não tinha necessidade, mas foi uma maneira de unificar, então com a gente
pensando na questão da inclusão, eu acho que ela só vai trazer benefícios,
porque aí vai atingir todos os públicos, todas pessoas, às maneiras de se
falar. 9. Quando se propõe uma adesão da linguagem neutra, você
consegue pensar em um tipo de usuário que será beneficiado ou
prejudicado com a inclusão da mesma? Se sim, quem seriam esses
indivíduos? R> a grande questão da linguagem neutra é sair desse
tradicionalismo do masculino e do feminino, então quem não se sente
dentro desse padrão, acho que isso vão ser os mais beneficiados, que
muitas das vezes, essas pessoas estão à margem da sociedade, com
pessoas que ainda não têm esse pensamento de acompanhar seu tempo,
de ver e aceitar. Eu acho que o grande problema de quem não aceita, é
ainda viver no tradicionalismo e não entender que a língua se movimenta,
ela tem que se adequar de acordo com a necessidade, com o momento
que se vive, com o tempo moderno. Então, acho que só tem benefícios
para essas pessoas que vão se sentir incluídas dentro desse processo,
inclusive na linguagem, porque acredito que a linguagem não é estática,
ela tem um movimento de acordo com o que o mundo vai evoluindo 10.Em
uma situação hipotética, se você fosse solicitada por algum aluno a utilizar
a linguagem neutra com o mesmo, qual seria seu posicionamento? R>
usaria, com a ressalva que na fala como eu disse, ela é usada mais na fala,
tem até alguns casos que eu andei pesquisando aqui e que é impossível
que é o caso do x que é colocado em algumas palavras, o @, então estou
na fala isso aí é muito fácil, fazendo a ressalva, que oficialmente esse tipo
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de linguagem ainda não existe da nossa gramática, mas que não teria
nenhuma dificuldade em utilizar e fazer essa inclusão dentro da sala de
aula, mesmo nas minhas conversas formais ou informais
Minha idade é... 48 anos. Eu vou fazer agora em junho. Eu tenho desde
96, né? Eu me formei em... Eu me formei em 2003, mas desde quando
eu assumi o normal, eu fiz o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto,
normal e normal especial. E daí, com o curso normal, com o normalista,
eu resolvi fazer letras. Eu sempre gostei de literatura, de poesia, né? E aí
eu fui e entrei no curso de letras, já atuando na educação de jovens e
adultos, no Fundo de Ocupado de Trabalhador, junto ao Serviço Social da
Indústria, aqui em Sobral, no ano de 96. E o primeiro projeto que eu
trabalhei foi um desenvolvimento de linguagem, um projeto aí com cena
com as crianças, na primeira infância, que era um projeto piloto que o
César lançou. E aí eu comecei a minha vida como professora e depois, à
tarde, eu ensinava particular o ensino de reforço às crianças, né, que vem
da escola. Em 98, eu iniciei na educação de jovens e adultos, em 2003,
terminei a faculdade e aí fiz minha especialização em inglês com o ensino
do português, depois mestrado, doutorada e adentrei no campo do ensino
superior em 2003. Mais ou menos tipo isso, né?
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plurais e diversos e quando a gente fala da linguagem, a gente não fala só
da escola, só do ensino, só da norma, só da regra, né? Tendo em vista
que dentro da gramática, quando a gente começa a estudar a gramática,
nós temos cinco ciências, a fonologia, a fonética, a morfologia, a sintaxe e
a semântica. Isso são ordens gramaticais da língua, mas não
necessariamente uma ordem do cumprimento da fala. Então, pensar na
sociedade é pensar nesse movimento de linguagem, né? Porque nós,
seres humanos, nós somos formados de linguagem. Agora, dentro de um
padrão escolar é que nós vamos aprendendo, eu não digo nem que é
aprender a ensinar ou entender a língua portuguesa. Quando nós
entramos na escola, na verdade, nós começamos a desaprender, né? A
gente começa a desaprender porque nós entramos dentro de um, vamos
dizer assim, de um farol que vai nos direcionar a normas, as regras, né?
Então, nós, enquanto sujeito social, nós não somos formados, nós
precisamos das regras e das normas para viver dentro de um
estabelecimento social, mas não necessariamente é essa linguagem que
vai me enquadrar, embora ela seja exclusiva ou inclusiva, né? Exclusiva
ou inclusiva, né? E entender isso, entender a diversidade, a pluralidade, a
própria questão sociolinguística, né? Tem uma disciplina que eu vi na
graduação que ela vai trabalhar a metalinguagem. Então, o grupo de
pastor, a própria igreja, quando ele vai chamando aquele grupo de
pessoas, então ali ele tem um curso de linguística, neurolinguística, vai se
comportando. Então, a gente vai dizer que essa linguagem é exclusiva,
ela exclui o outro, né? Porque ele não fala bonito, mas esse falar bonito
nem sempre é falar bem, né? Falar bem é estar dentro de um determinado
contexto e me enquadrar naquele contexto para que a mensagem chegue
ao outro. Então, pensar na neutralidade é exatamente pensar nessa
desordem social, né? Nessa diversidade que tem, que existe, que há, né?
Enquanto fazemos isso.
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Bem, eu penso que, como eu havia falado anteriormente, eu penso que
esse pronome, ele é importante, certo? Mas ele também não define o
movimento da linguagem, o movimento da sociedade. Porque, se nós
formos observar, nós estamos todo tempo aprendendo e, ao mesmo
tempo, desaprendendo, né? Quando eu penso que eu, dentro da escola,
dentro das minhas relações sociais, os grupos, as pessoas, elas estão a
todo instante se comunicando pelos seus códigos, pelos seus jargões, né?
Então, eu penso que essa diversidade plural, né? Ela é muito importante
para que a comunicação se recolha, desde que a gente respeita essa
diversidade e essa sociolinguagem, né? Que a gente vai trabalhar dentro
da linguagem, do campo da língua portuguesa, a gente chama
sociolinguística, o respeito à diversidade, né? Ao entendimento, ao
pensamento, ao raciocínio e organização da linguagem cultural desse
sujeito que também fala, né? Então, eu penso que a linguagem é muito
mais do que uma ordem, do que uma regra, né? E eu penso e acredito
que a gramática, enquanto um ponto de vista, vamos dizer assim,
organizacional, estrutural, ela é importante dentro de uma escrita. Mas na
linguagem verbal, na comunicação, na conversa que joga fora, no diálogo,
eu penso que esse respeito dessa neutralidade e dessa diversidade, ela
vai para além da ordem gramatical.
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movimento bi. Bilateral, ele vai e volta. Então, quando eu compreendo
essa linguagem e não estranho, mas acho ela diferente, né? Eu começo a
compreender que essa diversidade existe. Você quer espirrar? Não, eu
quero me espirrar. Desculpa, desculpa. Eu queria atrapalhar, desculpa.
Eu pensava que você queria me espirrar. Ela espirrou. Muito estranho,
né?
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muito importante a gente entender. E eu penso que uma das barreiras, que
é o maior impedimento, é essa não compreensão. E esse impedimento da
norma gramatical sempre vai ter, porque a gramática é sobre ordem, sobre
regra. O que é que difere uma gramática do ensino fundamental com o
ensino médio? As normas, elas são as mesmas. O que vai diferenciar é o
nível de atividades. O nível de atividade do ensino fundamental para o
ensino médio, mas as normas e regras, elas se pré-estabelecem como
mesmo. Elas vão só alterando o nível de atividades. Enquanto que nós
sujeitos, que falamos a linguagem, nós não temos essa norma, porque o
nosso aparelho formador funciona diferentemente da gramática. Então,
nós somos livres. Agora, cabe a nós, dentro de determinados contextos,
obedecer dependendo do sujeito com quem a gente fala, com quem a
gente está se comunicando. Então, sempre vai ter barreiras. Às vezes, é
uma questão de controle de poder, sim, do sujeito. Muita gente utiliza a
linguagem ou utiliza o discurso e fala bonito diante de uma situação para
dizer que é o meu conhecimento. É sobre isso, sou eu que dou a ordem,
sou eu que falo. Isso é uma relação de poder para ludibriar quem escuta.
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[00:13:55] Pessoa 2 Para você, olhando do
ponto de vista de sua experiência em sala de aula, quais os benefícios e
os malefícios que a linguagem neutra poderia trazer para o cotidiano em
sala de aula?
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opinião profissional em relação às afirmações dessa temática?
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[00:19:25] Pessoa 1 No meu ver, os indivíduos
que são silenciados ainda são os que não se utilizam da norma curta da
língua. Esses são os definhados, são os esquecidos. São os que
precisam realmente, por isso que eu digo, a importância da valorização e o
respeito cultural e linguístico do outro. Porque é a partir desse saber,
vamos dizer popular, que eu posso reverberar e renascer ou proferir outras
linguagens. Sem eles, eu não tenho a capacidade. Por exemplo, quando a
gente escuta os mais velhos. Eu percebo que eu gosto muito de trabalhar.
No mestrado, eu trabalhei com a memória dos velhos ciganos. Como a
linguagem cigana é rica, a cultura em si cigana é muito rica, a linguagem,
a forma, diferentemente do português, uma expressão que é dita de uma
forma interpretada de três, quatro. Então, trabalhar com a memória, por
exemplo, dos velhos é uma riqueza. E eu acho que essas pessoas nos
próprios abrigos, nos hospitais, as crianças, também existem crianças que
se isolam do espaço escolar por questões de tratamentos. Eu acredito
que o desenho é uma forma também de expressar uma linguagem muito
bonita e que pode estar levando para essas crianças que vivem nesse
estado de saúde, que elas se isolam e você vai escutar muita coisa bonita
delas. Os mais velhos, as pessoas que também estão perdendo a
memória, como o Alzheimer. Eu acho que essas pessoas merecem uma
escuta sensível. E, sobretudo, as pessoas também que estão esquivadas
da sociedade ou esquecidas. Eu penso que são pessoas que ainda são
prejudicadas por não terem um olhar. As pessoas que vivem nos abrigos.
De tanta forma, não é só você chegar e perguntar, mas existem outras
formas de linguagem que elas podem ser expressadas. A fotografia. Eu
gosto muito de trabalhar com o desenho porque eu acho que ele fala muito.
É uma linguagem que dá oportunidade ao outro de um espaço de fala.
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[00:22:05] Pessoa 1 Usar a linguagem neutra
com quem?
Com ele.
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[00:23:05] Pessoa 2 É. Se você quiser ver a
entrevista que a gente vai transcrever, a gente…
1. Qual sua idade, tempo de formação e quanto tempo atua como professor
de língua portuguesa?
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legislação descritiva e prescritiva dentro da gramática que ainda não aceita
a linguagem neutra dentro da sua escrita, aí nesse caso o tempo vai nos
dizer se vai ser aceito ou não.
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rastejar muito tempo e você tem também da nobreza da palavra o Silveira
bueno ele fala que as palavras elas tendem a ser modificadas a
dependendo do grau de importância então por exemplo ao longo do tempo
a gente foi palatalizado as palavras com L e com I, então antigamente do
latim dizia velea e ela se talatalizou ficou velha, aranea ficou aranha e hoje
em dia o pessoal fala como teia , vea, araia, palavras tendem a diminuir e
tendem a esticar. Então quando eu vejo questão dos pronomes neutros
dentro da linguagem acredito que vai ter um legado muito extenso de
aceitação bote aí mais de 500 anos no processo de evolução da língua
para que venha ser aceito dentro da gramática a não ser que haja uma
espécie de interposição das academias de letras, das academias da língua
portuguesa começarem a colocar dentro da escrita, do dicionário às vezes
um escritor muito famoso também que possa projetar esse tipo de escrita
pra ver uma certa aceitação social, mais eu acho muito dificil ainda na
atualidade.
4. Qual foi sua reação ao ver pela primeira vez a utilização da linguagem
neutra?
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5. Falar de linguagem neutra significa falar sobre gênero e relações de
poder. Para você quais as principais dificuldades que a inclusão da
linguagem neutra enfrenta para ser inserida como uma regra gramatical?
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7. Para você, olhando do ponto de vista de sua experiência em sala de
aula, quais os benefícios e/ou malefícios que a linguagem neutra poderia
trazer para o cotidiano em sala de aula?
R= Olha aí vem outro ponto importante a linguagem neutra tem sim suas
desvantagens certo, porque veja ela atende uma parcela importante da
sociedade mais ela pode acabar também dificultando uma outra parcela,
exemplo alunos que têm dislexia no Brasil nós temos 10 por cento dos
alunos com dislexia então imagine por exemplo uma pessoa que já tem
dificuldade de entender a fala normal a fala normativa, então eu passo a
usar o pronome neutro então o pronome neutro vai gerar uma ambiguidade
interpretativa com ela e ela não vai conseguir entender o sistema
comunicativo, outra pessoa também uma pessoa surda ela se comunica
olhando nos seus lábios você passa a usar o pronome neutro vai haver
uma dificuldade também de interpretação, certo então eu acredito que a
linguagem neutra apresenta essa desvantagem principalmente para
pessoas que têm dislexia e pessoas que têm surdez.
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segregar alguém dentro da linguagem então muitas vezes a linguagem
neutra ela pode sim ser uma parte segregadora porque a pessoa passa se
utilizar e o outro não se utiliza vai haver um atrito social aí porque um não
pode exigir que o outro o utilize e o outro não pode exigir que ela não o
utilize, eu vejo a linguagem neutra na verdade com uma consequência de
uma série de atos que já vem acontecendo ao longo do tempo então veja
por exemplo nós temos uma carga social que às vezes tendência a chegar
pra você e dizer olha sabia que essa palavra ela é racista esse uso dessa
palavra é racismo se eu chegasse pra você e dissesse assim olha essa
cabeceira que vc usa ela se chama criado mudo, criado mudo é uma
palavra racista só que aí veja a palavra é e aí alguém inventou isso,
alguém criou essa coisa até hoje investigo de quem foi, que meu estudo e
entorno dentro da palavra como sou etimologista eu estudo a historia das
palavras o criado mudo não tem nada haver com escravidão alguem meteu
essa ideia que caiu como uma luva para sociedade e a gente vive hoje o
chamado cancelamento das palavras eu costumo dizer oque palavras não
são racistas, palavras não são segregadoras pessoas são as pessoas é
que são não a palavra então posso nenhum momento dizer que a palavra é
isso porque ela não é. Então isso foi acontecendo a sociedade foi
aceitando foi entendendo o pessoal foi cancelado na internet se você
palavra tal você está cancelado se você expressão tal tá errado então
começou haver um policiamento na fala das pessoas porque as pessoas
hoje não falam mais elas escrevem ne e no momento que você escreve
fica registrado e as pessoas vão e batem em cima ai mete o cancelamento
ai não pode falar criado mudo não falar feito nas coxas ah não pode falar
doméstica e começa a haver uma politização da fala então a linguagem
neutra ela também surgiu como um processo de consequência a isso por
ela ter surgido a partir desse movimento e que muitas vezes para alguns
torna invalido que a partir do momento que você analisa todo o contexto de
surgimento dela ela acaba perdendo suas bases de argumentação central
mais já no atual momento que ela se encontra eu já acredito que é invalido
também você querer sair derrubando e dizer que ela não tem cabimento
nenhum ela já se solidificou dentro do seu processso.
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9. Quando se propõe uma adesão da linguagem neutra, você consegue
pensar em um tipo de usuário que será beneficiado ou prejudicado com a
inclusão da mesma? Se sim, quem seriam esses indivíduos?
R= A linguagem neutra tem sim suas desvantagens certo, porque veja ela
atende uma parcela importante da sociedade mais ela pode acabar
também dificultando uma outra parcela, exemplo alunos que têm dislexia
no Brasil nós temos 10 por cento dos alunos com dislexia então imagine
por exemplo uma pessoa que já tem dificuldade de entender a fala normal
a fala normativa, então eu passo a usar o pronome neutro então o pronome
neutro vai gerar uma ambiguidade interpretativa com ela e ela não vai
conseguir entender o sistema comunicativo, outra pessoa também uma
pessoa surda ela se comunica olhando nos seus lábios você passa a usar
o pronome neutro vai haver uma dificuldade também de interpretação,
certo então eu acredito que a linguagem neutra apresenta essa
desvantagem principalmente para pessoas que têm dislexia e pessoas que
têm surdez
10.Em uma situação hipotética, se você fosse solicitada por algum aluno a
utilizar a linguagem neutra com o mesmo, qual seria seu posicionamento?
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1. Qual sua idade, tempo de formação e quanto tempo atua como
professor de língua portuguesa?
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questão de que ela é variável e mutável, ela vai atender a dinâmica
social, só que que ela também tem sua questão estrutural, tem as
questões relacionadas à morfologia e a sintaxe da língua que a
gente precisa também respeitar alguns parâmetros, pra gente poder
estudar ela. Por exemplo, eu não tenho nenhum problema, estar
dentro dum universo de amigos que não se identificam com essas
questões de masculino e feminino eu não tenho nenhum problema
de utilizá-los, Porque a minha visão de linguagem, é que a
linguagem precisa contemplar as relações, então é evidentemente
que na sala de aula isso entra com muito cuidado. Pois, eu também
não posso ser
Irresponsável nesse aspecto. A língua muda por uso. Então as
primeiras coisas têm que ser utilizadas pra que elas entrem nos
princípios normativos também. É claro que dentro de um de um de
uma questão muito mais pragmática da língua você vai fazer uso de
o que a gente chama de linguagem inclusiva, por isso que em
algumas situações as pessoas falam boa noite a todas e a todo, isso
quer dizer na prática uma tentativa de inclusão pela linguagem, é
entender que se eu se eu neutralizo tudo pelo masculino então eu
vou trazer o feminino pro início como forma de dizer, “mulheres
existe, a reivindicação das mulheres é importante” Porque, por
exemplo, tem até uma frase interessante que diz assim, “se tiver três
mulheres e um cachorro andando na rua e elas e eles sofrerem um
acidente, você vai usar o eles”. Ou seja, as três mulheres são
apagadas e o cachorro ganha toda a visibilidade.
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Em relação à linguagem inclusiva isso já faz mais tempo. Porque
também, é uma área de interesse minha de estudos que é análise
do discurso, então esse debate é mais tranquilo porque está no
campo relacionado às ideologias, a linguagem comum, como a
prática social, que tem essa dinâmica social que está envolvida.
Então é um ponto e eu também faço parte de grupos que
reivindicam esse uso. Então automaticamente essas pessoas falam.
Todas as vezes que isso é colocado em debate eu tento ir
ponderando. Eu já tive essa conversa com outros amigos que são
da área, ou mesmo outras pessoas que colocaram esse debate em
questão, quando vai ser relacionado pro ensino aí a gente tem que ir
com muita cautela. Mas em relação ao uso no cotidiano, de
reconhecer essas identidades e essas pessoas, a existência dela.
Porque o mundo é feito de linguagem, por linguagem. Então a
linguagem pode ser inclusiva ou exclusiva, né vai depender de
quem, somos nós que vamos escolher. A gente quer reconhecer o
sujeito ou a gente quer excluir esses sujeitos? E aí também tem
outra questão importante, que as coisas uma coisa não precisa
acontecer pra outra também acontecer. Primeiro vamos resolver
questões maiores, depois a gente resolve isso, eu acho que isso
pode acontecer simultaneamente, sabe? Não tem nenhum problema
não. Dando as devidas ponderações a gente vai caminhando, não
precisa esperar uma coisa acontecer pra outra acontecer de jeito
nenhum.
Ela vai ter dificuldade porque primeiro precisa partir do uso, pra
entrar como regra gramatical pro ensino. Pra língua, tem que ter a
questão da recorrência, do grupo social começar a utilizar isso aos
poucos ser socialmente aceita.
Está relacionado com essas questões de poder, porque no final das
contas a linguagem é poder, se a gente domina a linguagem a gente
domina o mundo, e aí se eu se eu reconheço a existência dessas
pessoas eu vou ter que lidar com todas as questões que virão
depois disso. Aí a sociedade vai dizer “opa! não vamos reconhecer
isso não”. Agora em relação a ser incluída como norma gramatical
isso vai demandar tempo e inclusive dificuldades porque por
exemplo quem já viu algumas orações fazendo uso do “ille” e do
“elu”, vai percebendo que as coisas não são tão simples. Há
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também essas questões de uso de arroba(@), do X na internet, e vai
ter o problema com as pessoas que têm deficiência auditiva, os
próprios computadores, por exemplo, não consegue ler arroba, etc.
Você vai entrando nessas questões técnicas, seja da língua, ou seja
das tecnologias. Então as coisas vão demandar um pouquinho mais
de tempo.
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também você não pode gerar um modismo. Porque você gera um
modismo esvaziado você vai pegando a pauta desses ideais, desses
indivíduos que de fato estão reivindicando um lugar, uma existência
no mundo. E isso eles estão fazendo isso reivindicando um
pronome. Mas não é o pronome que eles querem. Eles querem
existir, ser reconhecidos. Aí se você vai anular isso, você vai anular
os sujeitos também, né? Então, isso existe e você não pode
empobrecer o debate. Então, pra isso a gente não pode empobrecer
o debate e pegar coisas sérias e brincar com elas. Aí, às vezes, por
exemplo, você percebe, nos próprios movimentos, esse processo de
banalização. E se você banalizar você vai ajudar o algoz, né? A
gente não pode banalizar o debate, ele é importante, ele tem que ser
feito em cima de fundamentação, teórica, filosófica de boa vontade
também, né? Porque no final das contas essas questões têm que
partir de uma filosofia de, “pô, vamos viver no XXI, vamos esquecer
a Idade Média, deixar ela pra lá”. E assim, a gente precisa ter
conhecimento, não banalizar, fortalecer o debate em torno disso,
sensibilizar que as coisas não podem ser jogadas nesse lugar do “
Porque hoje eu quero ser tratada assim, amanhã quero ser tratada
assado”. As coisas não são assim. Porque quando você faz assim,
parece que gera uma modinha. Nós tivemos esse problema lá na
escola. Alguns alunos, por exemplo, querendo se auto-afirmar. Eu
estou falando de adolescente de treze, quatorze anos. Ele se diz,
“eu quero tratar de ser tratado pelo nome social”. Mas, existe uma
lei, dentro do município que tenta contemplar isso ou que contempla
isso. Mas as coisas não são assim. Eu não posso pegar o menino e
decidir o que hoje ele é Pedro, amanhã ele é Maria. Estou usando
essa questão de gênero pra poder exemplificar a linguagem. Aí você
vai fazer com que o menino ou a menina que seja um trans, que
esteja nesse processo sério, complexo, que mexe questões
familiares, emocionais, ele vai sofrer preconceito, bullying e tudo
mais. Se você não fizer a sensibilização da importância disso, você
vai empobrecer o debate e você vai fazer com que a gente reforce, e
dê armas pra quem quer atacar. Eu até achei interessante porque
hoje, teve algo bem curioso lá na escola. A escola entrega
absorvente pras meninas. É Um projeto, e aí na sala que tem um
menino que é um homem trans, ele sai pra pegar o absorvente,
óbvio. Então, na hora que ele e as meninas estavam saindo, os
meninos fizeram uma brincadeira relacionada, dizendo “sai também
pra pegar”. Aí eu falei, “gente, isso é uma piada machista, vocês
estão esquecendo que vocês têm um colega trans dentro da sala e
ele na condição dele, precisa utilizar absorvente. Vocês sabem que
homens cis não têm vagina e não menstruam. Então, se você faz
essa brincadeira, vocês constrangem o colega”. Só que vocês
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sabem que homem cis não usa absorvente. Um homem, que não
tem vagina, não vai menstruar. Só que se você faz essa brincadeira
com o colega, você o constrange.
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No caso dessas propostas de neutralização, acho que as pessoas
com deficiência auditiva, e deficiente visual. Acho que tá muito mais
nesse campo.
Algumas pessoas irão se prejudicar em relação a isso. Eu acho que
os jovens são muito fáceis de lidar com tudo isso. Eles tiram isso de
letra. Eu acho que geral, são os adultos que complicam as coisas.
Vou complicar um pouquinho, mas os grupos de amigos que eles
lidam com a adversidade de uma forma tão tranqüila você vão
perceber muito mais preconceito na exceção, do que na regra e isso
acontece em geral o oposto com os grupos mais velhos, mais
tradicionais, mais conservadores em relação a isso. Porque essa
tentativa de conservadorismo dentro da língua é também uma forma
de querer fazer com que a sociedade permaneça do mesmo jeito,
não é uma defesa da língua. Eu vivi algo recente que eu achei muito
curioso, essas pessoas que fazem projetos de lei contra o uso da
linguagem neutra essas pessoas não se preocuparam quando a
biblioteca nacional pegou fogo, então o problema não é a língua, a
conservação da língua, sabe? É a preservação de valorizar arcaicos.
E outra coisa, é por isso que a questão de discurso entra aí, na
Ideologia. Tudo está por trás disso é uma ideologia conservadora
excludente de sociedades. Nada, além disso!
10. Em uma situação hipotética, se você fosse solicitada por algum aluno a
utilizar a linguagem neutra com o mesmo, qual seria seu
posicionamento?
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tem que ser conscientizado de que isso é uma questão entre eu e ele.
Entre o coletivo a gente tem que ir com calma Porque tem o ensino da
língua. Aí a gente pode problematizar isso, falar sobre a importância da
linguagem ser inclusiva. Isso é um ponto. Outro ponto é que a gente é pisar
no terreno que a própria lingüística, ainda tentando botar os pés, è tanto
que esse livro da linguagem neutra é o primeiro livro que está tentando
trazer à tona esse debate. E é um debate muito espinhoso. Exatamente
porque a língua não modifica por decreto de uma comunidade,
evidentemente que uma comunidade reivindica o uso, ela vai começar a
utilizar. Até então está restrito aquele espaço da daquele aquele grupo
social pra isso se transformar numa norma isso tem que ser feito uso muito
maior, porque não é assim que as coisas funcionam, um grupo, um
pequeno grupo pode utilizar, a gente pode se comunicar entre amigos, mas
o ensino disso na escola, Como é que a gente vai fazer isso? Até porque
não tem nem estudos ainda mais aprofundados a respeito disso, até quem
propõem o uso do pronome “ILE” ainda está muito no início desse debate.
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