Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/339600265
CITATIONS READS
0 197
2 authors, including:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
CYBERKILOMBAGENS: o YouTube como plataforma de discursos identitários da diáspora africana no Brasil View project
All content following this page was uploaded by Ana Carolina Costa dos Anjos on 01 March 2020.
Jornalistas x Língua:
Conflitos, Preconceito e Desserviço
Andréia Rocha 1
Ana Carolina Costa dos Anjos 2
Introdução
1
Bacharel em Comunicação Social /Jornalismo pela Faculdade Integrada do Ceará (FIC), licenciada em Letras pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE). Aluna de Especialização em Comunicação e Temas Contemporâneos do
Observatório de Pesquisas Aplicadas ao Jornalismo e ao Ensino (Opaje) da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Email: jornalistaandreiarocha@gmail.com
2
Graduada em Comunicação Social/Jornalismo pela UFT (2012), Especialista em Comunicação, Jornalismo e Ensino
(Opaje-UFT, 2017), Mestra em Ciências do Ambiente (2015), Doutoranda em Sociologia (Universidade Federal de São
Carlos, 2018-2022). E-mail: carolcdosanjos@gmail.com
3
Linguística é uma ciência que trata da linguagem, cujo surgimento data do início do século XIX. Está subdividida
em diversas áreas, cujas linhas de investigação dialogam com outras ciências como a Sociologia e a Psicologia.
Andréia Rocha; Ana Carolina Costa dos Anjos | 97
4
Marcos Bagno é Doutor em Filologia e pesquisador no campo da Sociolinguística. Suas obras tratam de mitos acerca
da língua e dos juízos de valor emitidos no âmbito social sobre os desvios gramaticais, questionando as concepções
sobre o que seja “certo” ou “errado”.
98 | Comunicação e Extensão em Jornalismo
5
Norma padrão: termo utilizado para designar a língua que foi escolhida como a “língua modelo”. Também chamada
de norma culta.
100 | Comunicação e Extensão em Jornalismo
Uma das reservas que pode manifestar contra as definições da língua que a
reduzem a um “instrumento de comunicação” é que elas podem levar a crer
em uma relação neutra entre o falante e sua língua. Um instrumento é real-
mente um utensílio de que se lança mão quando se tem necessidade e que se
dispensa em seguida. Com efeito, existe todo um conjunto de atitudes, de sen-
timentos dos falantes para com suas línguas, para com as variedades de
línguas e para com quem as utilizam, que torna superficial a análise como
simples instrumento. (CALVET, 2002, pág. 57)
Fiat Lux. E a luz se fez. Clareou este mundão cheinho de jecas-tatus. À direita,
à esquerda, à frente, atrás, só se vê uma paisagem. Caipiras, caipiras e mais
caipiras. Alguns deslumbrados, outros desconfiados. Um - só um - iluminado.
Pobre peixinho fora d’água! Tão longe da Europa, mas tão perto de paulistas,
cariocas, baianos e maranhenses. (apud Bagno, 2015, pág. 119 – 120)
são alguns exemplos. Além disso, o professor endossa que a língua portu-
guesa é privilégio de poucos. “Não perca tempo em perguntar por quê,
caro leitor; basta não esquecer que estamos estudando a língua portu-
guesa.” (SACONNI, 2011, p. 14).
Outro exemplo é o do professor Napoleão Mendes Almeida, conhe-
cido no mercado editorial de gramáticas. Em seu “Dicionário de questões
vernáculas”, o gramático chega a escrever:
O princípio que guia a maioria das ideias sobre língua no senso comum é o do
erro. Isso se deve a uma longuíssima tradição iniciada no século III antes de
Cristo, quando surgiu a disciplina chamada gramática, uma tentativa dos
grandes escritores do passado. Feitas essas escolhas, todos os demais usos, a
Andréia Rocha; Ana Carolina Costa dos Anjos | 113
Considerações Finais
acerca do tema. Pensemos, por exemplo, que uma doença, como a febre
amarela, tivesse sido alvo de estudos de especialistas e, com isso, novas
formas de tratamento e prevenção tivessem sido descobertas desde o sé-
culo passado. A doença, em debate neste início de 2017, devido ao surto
que atinge alguns estados brasileiros, entre eles, Minas Gerais, continuasse
sendo tratada pela mídia sem que essas descobertas fossem mencionadas,
ou reforçadas. Pensemos ainda que determinada matéria sobre astrono-
mia trouxesse a afirmação de que o sistema solar tem nove planetas.
Situações que seriam facilmente rebatidas no meio da comunicação, na
comunidade acadêmico-científica, ou, quem sabe, pela própria sociedade
em geral. Não é difícil imaginar que essas matérias fossem polêmicas e os
jornalistas fossem criticados, pela falta de apuração.
A língua na mídia é abordada sobre o mesmo referencial: a gramá-
tica. Sem apurar, pesquisar e confrontar dados, matérias são publicadas
apenas com uma versão dos fatos, colaborando para que a língua seja cada
vez mais vista pela sociedade como mero compêndio de regras, cuja gra-
mática é a sua única representação. Não é incomum que jornais
mantenham colunas para dar dicas sobre como utilizar o português “cor-
reto”, ou publiquem obras no estilo “plantão gramatical” para colaborar
com a preservação da língua e coibir os “infratores”. A palavra “infratores”
aqui é utilizada numa tentativa de expressar o caráter de lei que a língua
tem para muitos profissionais da comunicação.
Seguindo essa ideia, vê-se que seria possível trazer para as matérias
que tratam dos erros gramaticais a análise de um linguista com conheci-
mento sobre a língua, enquanto objeto científico, e não apenas, a avaliação
de um profissional com domínio sobre a gramática. Essa mudança de
abordagem colaboraria muito para que alguns mitos fossem desfeitos e a
sociedade fosse construindo sua opinião, conhecendo de maneira mais
profunda sua língua materna.
Referências
CALVET, Louis-Jean. Sociolinguística- Uma Introdução Crítica. São Paulo: Parábola Edi-
torial, 2002.
SACONNI, Luiz Antonio. Não erre mais. 31ª edição. São Paulo. Nova Geração, 2011
Pitty é criticada por erro de português e samba na cara de internauta. Disponível em:
https://rd1.com.br/pitty-e-criticada-por-erro-de-portugues-e-samba-na-cara-de-
internauta/. acesso em 15/01/2016