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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Campus Pampulha- Faculdade de Letras

Introdução à Linguística

O estudo da Linguagem e seus Mecanismos

BELO HORIZONTE
20/04/2023

Docente: Lorenzo Teixeira vitral


Discente: Anderson de Brito ALmeida
1) Como visto nas aulas, os estudos sobre a linguagem são muito antigos. O
modelo grego-latino de se descrever a gramática das línguas é chamado de
gramática tradicional. Embora de muita riqueza, essa tradição traz em seu bojo
alguns problemas quando o aplicamos a outras línguas. Com base no texto de
Langacker(1972), faça um texto comentando o que acabamos de dizer levando
em conta um dos exemplos citados pelo autor
Heráclito, grande filósofo pré-socrático, afirmava que o ser humano é mutável,
logo, encontra-se em constante mudança. Assim como a teoria da mutabilidade
estabelecida por esse grande pensador, a língua também se encontra nesse contexto
de mudança, isto é, a língua não é eterna, ela sofre alterações constantes com o
passar das gerações, como a criação de novos léxicos, ou até mesmo a formulação
de uma nova língua a partir de um falar regional de uma determinada localização.
Pode-se afirmar então, que a língua, enquanto viva, se transforma através do tempo.
(Langacker,1972)

A língua portuguesa, principal foco dos estudos nesse trabalho, é derivada das
línguas antigas que, permeia gerações até chegar ao latim, este classificado como
língua Greco-latina, onde era predominante a gramática tradicional. Atualmente,
apenas algumas regiões ainda utilizam o latim, como a região do vaticano que
mantém o uso da língua nas Missas (Langacker 1972). Entretanto, a população da
nova geração já não compreende a gramática do latim como as antigas gerações,
sendo assim, essa ação pode causar um distúrbio na compreensão da linguagem
utilizada. Ao mesmo tempo, algumas línguas tradicionais se perpetuam, com a
criação de outras línguas alternativas, como é o caso do Sânscrito-língua antiga
utilizada na Índia- tal língua era usada nos anos de 1200-800 aC., pelos povos hindus
para praticarem sua religião. Ao passar dos séculos, tal língua começou a sofrer
modificações, entretanto, devido à pressão dos sacerdotes praticantes desse léxico,
a língua sânscrita foi preservada (Langacker 1972). Atualmente, a Índia é o país com
maior número de línguas faladas, cada qual com suas especificidades, por exemplo,
as gerações atuais não conseguem entender a gramática utilizada no sânscrito,
porém, a mesma é capaz de compreender a gramática do inglês, ou seja, a gramática
que estuda as estruturas formadoras de uma língua não pode ser a mesma para todas
as línguas, visto que cada uma possui especificidades que precisam ser estudadas e
classificadas de forma individual para que não haja dificuldade de desenvolvimento
da linguagem por parte dos falantes.
Percebe-se, pois, que o estudo da linguagem permite que a língua possa ser
desmembrada e estudada através de sua gramática e, dessa forma, passa a
concordar com o léxico de cada região e língua.

Assim como os exemplos apresentados sobre a mutabilidade da língua ao


passar dos séculos, existe, também nesse contexto, uma alteração gramatical que
não permite que o estudo da linguagem de uma língua em específico seja universal
para todas as demais línguas existentes atualmente, como era o desejo dos linguistas
tradicionais, visto que a configuração de verbo e pronome se difere em cada língua.
Além desse exemplo, pode-se citar as orações que não seguem uma ordem lógica
latina, até mesmo com o português quando se considera todas as variações de
linguagem utilizadas pelos países falantes dessa língua. Outro fator que explica o
motivo de não ser possível considerar a gramática do latim para estudar outras
línguas deve-se ao fato de a fala e a escrita serem atributos totalmente divergentes.

Mesmo existindo nos dias contemporâneos pensamentos divergentes entre os


linguistas sobre a forma como os gramáticos tradicionais estudavam a linguagem, as
contribuições desses indivíduos são inegáveis, uma vez que permitiram à geração
atual reconhecer o processo de entendimento de uma língua, bem como observar
que a sintaxe deve ser considerada em todas as fases desse aprendizado.

2) Estudamos que na linguística atual, a teoria Sociolinguística Variacionista


leva em conta o fenômeno natural de a língua variar e a partir daí poder sofrer
mudança. Faça um texto comentando exemplos de variação tratados no texto
de Vitral (2017), incluindo nesse texto alguns dos temas associados a esse
fenômeno: a dicotomia língua falada e língua escrita, descrição versus
normatização da língua; prestígio versus estigmatização de recursos da língua;
como fatores sociais, como faixa etária, gênero, classe social e região dialetal,
determinam a variação linguística.
As variadas transformações que a língua sofre ao longo dos anos pode ser
percebida através de levantamentos estatísticos que consideram diversos fatores
para saber as mudanças pela qual determinado léxico foi submetido, dentre eles,
encontram-se atores como a faixa etária da população que ainda usa determinadas
palavras, levando em conta o espaço-tempo, a região em que tais palavras são
faladas, ou seja, a diferença entre áreas urbanas e rurais e como esse fator afeta na
fala dos indivíduos localizados em cada região, além de outros aspectos, como o
gênero, são limitantes para ser possível a realização de um estudo mais aprofundado
e concreto sobre a língua estudada e, tais atores, recebem o nome de Teoria
Sociolinguística, que nada mais é do que a compreensão de fatores externos para se
entender a linguística interna de forma correta.

Através do estudo sociolinguístico de uma determinada língua, como o


português, é possível identificar a dicotomia entre fala e escrita, uma vez que o
aprendizado requer uma junção das duas modalidades, porém estas são estudadas
separadamente nas escolas. Isso se deve ao fato de que na língua falada, algumas
estruturas podem ser acrescentadas ou diminuídas sem interferirem na
compreensão, como é o caso de (você e cê), ambas formas podem ser faladas a
depender do grau de formalidade da conversa ou até mesmo da região do falante,
mas, tal forma não é aceita na escrita formal, uma vez que não está no dicionário, isto
é, não existe a forma gramática de (cê) para referir-se à (você) na norma culta da
língua portuguesa. Da mesma forma, em contextos formais, é requisitado o uso da
norma padrão do português, mesmo em ambientes onde a fala sobrepõe a escrita.
Em contrapartida, em ambientes informais, como um almoço de família, se o indivíduo
falar; -”mãe, por obséquio, passa-me a travessa de salada”-, este estará contrariando
a linguagem que geralmente é esperada para se usar em um ambiente familiar e
informal (Vitral, 2017).

Ademais, para além da diferença de fala e escrita, alguns fatores já citados


acima podem provocar variações na língua, como o ator regional, temporal, social e
educacional do indivíduo que pratica a fala e escrita. Pode-se citar como exemplo a
gramática utilizada em um texto de artigo de opinião publicado em um jornal, meio de
comunicação formal e que exige um certo nível de escolaridade e compreensão por
parte dos leitores, com palavras da norma culta, muitas já entradas em desuso, o
que pode não ser compreendida por indivíduos da geração Z, como é o caso desse
trecho: “Consciente da distinção entre comunidade política e comunidade religiosa,
base da sadia laicidade, a Igreja não deixará de se preocupar pelo bem comum dos
povos e, em especial, pela defesa de princípios éticos não negociáveis porque estão
arraigados na natureza humana” (Vitral, 2017). Outra variação é a regional, devido à
existência de dialetos variados de acordo com a localidade, como no Brasil, que
existem, em média, 12 dialetos, o que causa diferenciações, principalmente na fala,
como em: (banana) e (bânana-utilizado em algumas regiões do interior de Minas
Gerais). Para além disso, o fator temporal também se encontra como determinante
de tal variação, como é perceptível nesse texto datado do século 14; “Que
soidade...quando me nembra d’ela qual a vi e que me nembra que bem a oi falar, e,
por quanto bem d’ela sei, rogu’eu a Deus, que end’ há o poder, que mh-a leuxe, se
lhi rouguer” (Vitral, 2017). Para os indivíduos contemporâneos, essa nomenclatura
utilizada por um texto do século 14, não pode mais ser compreendida. Desse modo,
conclui-se que a linguagem, mesmo dentro de uma mesma língua, sofre grandes
mudanças ao passar dos anos e séculos. E essa diferença torna-se ainda maior
quando se considera os diferentes países que falam a mesma língua, como o
português que é falado por 9 países, segundo dados do IBGE, cada qual com sua
gramática linguística.

3) Com base no texto de Caligri (1989), faça um texto comentando sobre a


relação entre a abordagem de ensino tradicionalmente defendida pela escola no
ensino de língua portuguesa e a constatação do fenômeno da variação
linguística. Como você concebe a relevância (ou irrelevância) do que vimos até
aqui no que se refere à sua formação como futuro (a) fonoaudiólogo (a) ?

A língua, enquanto transformadora da sociedade, é compreendida pelos praticantes


de diversas maneiras, mas, em particular, as crianças iniciam sua fase de
aprendizado de uma língua logo nos meses iniciais de vida, seja através dos sinais
recebidos pela mãe ou os percebidos pelo sistema sensitivo. Essa língua passa a ser
conhecida como materna, uma vez que é originária do local de nascimento do
indivíduo.

Ao entrar para os centros educacionais, esses indivíduos infantis passam a ter contato
com a gramática de sua língua materna de uma forma mais mecânica e robotizada,
onde passam a estudar as regras gramaticais, como verbo, advérbio, pronome,
sujeito, substantivo, e diversas outras nomenclaturas que estão inclusas no estudo
da gramática. Assim, a língua, que antes parecia ser fácil e tranquila de ser falada,
começa a apresentar obstáculos significativos para a criança. E nesse sistema
educacional de ensino, as variações linguísticas existentes, bem como o tempo de
aprendizado gradual e diferente para cada criança, são marginalizadas. Desse modo,
muitos indivíduos passam de 11 a 12 anos nas escolas e ao saírem ainda não sabem
as regras gramaticais utilizadas no português, por exemplo. Tal fator é perceptível,
devido ao fato de as escolas ao utilizarem esse método tradicional não ensinam como,
por exemplo, a diferenciação de palavras ambíguas, que são estudas com a
apropriação das áreas da semântica, como é o caso da ambiguidade existente na
palavra (manga), podendo se referir à fruta ou a parte superior de uma camiseta, ou
ao uso da morfologia das palavras para conseguir realizar a classificação de verbos
no plural e no singular. Isso termina por acarretar prejuízos aos estudantes que saem
do ensino médio com pouca bagagem de aprendizado da língua portuguesa
(Caligri,1989).

Ao estudar tais temas, percebe-se a sua relevância na formação profissional da


fonoaudiologia, uma vez que a linguagem é um instrumento de ensino e aprendizado
dentro da área fonoaudiológica. Desse modo, saber aplicar esses conceitos no
serviço laboral e buscar formas alternativas de ensinar as crianças e adolescentes a
respeito da linguagem dentro do sistema escolar é um grande diferencial para o futuro
profissional fonoaudiólogo.

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