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Aula 03 - Variação Linguística
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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)
Sumário
INTRODUÇÃO 3
2 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 5
3 AS VARIANTES DO PORTUGUÊS 10
4 O PRECONCEITO LINGUÍSTICO 19
3 EXERCÍCIOS 22
4 GABARITO 53
Diferente do que muitas vezes pensamos, há uma relação intrínseca entre o falante
nativo de uma língua e sua língua. Em nosso caso, falaremos dos falantes do português, uma
vez que somos falantes nativos dela, pelo menos acredito que todos sejamos. Claro que é
necessário, antes de tudo, entender o que é um falante nativo. Para isso, lançarei mão de dois
conceitos extremamente importantes para a linguística:
Tendo esses dois conceitos como base, conseguimos entender que, se aprendemos o
português como nossa primeira língua, somos falantes nativos dela e, posso dizer com base
na ciência, que somos falantes competentes dessa língua. Eis que surge outro conceito
importante para entendermos as variações e as construções que fazemos em língua
portuguesa: falantes competentes. Vamos entendê-lo, para que possamos seguir em frente.
A partir desse conceito, entendemos que o uso pleno de uma língua está centrado na
capacidade que as pessoas terão de se comunicar de forma também plena. Pode ser que você
esteja se preguntando como isso se encaixa nessa nossa aula. E digo, sem medo, que é nessa
aula que isso se torna ainda mais claro: em uma sociedade que valoriza, cada vez mais, um
falar fundamentado na norma culta, entender que somos competentes mesmo quando
não usamos essa norma é importantíssimo para nosso entendimento.
A língua, ainda que não seja feita de forma normativa, plenamente possível em
determinados contextos de uso da linguagem, é uma forma múltipla de utilização, e é isso que
queremos compreender aqui e apresentar para vocês de forma mais clara. Não se esqueça de
que sua prova valoriza essa maneira de pensar com relação à linguagem.
Vale ressaltar que, ainda que essas ideias não apareçam dessa forma na sua prova, elas
são extremamente importantes para a compreensão da variação linguística. Essa afirmação se
comprova exatamente pela necessidade de entender os usos da linguagem como plenas,
ainda que extremamente influenciadas pelos fatores externos à linguagem.
Para finalizar, é interessante, ainda, entender um elemento importante para o seu
exame, dada a faceta política do idioma, incluindo, nesse caso, a diferenciação entre língua e
idioma. Vejamos.
Assim, é importante que vocês pensem que a linguagem tem uma faceta política
importante para a compreensão da relação entre o falante e sua língua. Assim, é interessante
pensar que essa noção está intrinsecamente ligada a todos os povos e língua. Por exemplo,
para os povos indígenas, a língua tem o mesmo valor que o português para os povos que o
falam.
Pense, por fim, que a importância da língua é tamanha que, historicamente, os povos
dominadores acabaram por impedir que o povo dominado, ou colonizado, não utilizasse sua
língua materna. Foi assim no decorrer dos tempos e, por exemplo, no Brasil, com relação às
línguas indígenas e à língua geral, para a consolidação do português como idioma único do
país.
Falaremos, nessa seção, especificamente sobre a língua portuguesa, claro, mas, antes
de adentrarmos nas variantes do português, matéria, como dito, extremamente importante,
vamos apresentar alguns conceitos muito necessários para a nossa compreensão do tema.
Para entendermos melhor essa noção, apresentarei dois exemplos que nos auxiliarão
nessa construção. Bora lá!
Não torça o nariz ainda para as duas construções encontradas no box. No caso, temos
uma variação sintática, porque temos modificação na construção do plural canônico do
português, em que marcamos (ainda que redundantemente) todos os termos, como na
primeira frase do exemplo. Na segunda frase, temos a marcação de somente o primeiro termo
no plural, que é capaz de pluralizar a compreensão inteira do trecho. Nesse caso, a ideia de
termos duas apresentações de um mesmo fenômeno, a concordância nominal, é um
exemplo de variação linguística. Note, assim, que estamos nos focando no fenômeno e não
nas formas apresentadas.
Quando olhamos para as duas frases, entendemos que a concordância ocorre de duas
formas. Cada uma dessas formas é considerada uma variante. Ou seja, o fato de variar é uma
variação e cada uma das frases, um exemplo de variante. Essa é uma parte importante desse
tipo de questão. Fiquem sempre atentos!
Interessa-nos, então, descobrir o porquê da variação das línguas, ou seja, porque elas
não se apresentam da mesma forma, dado que há, claramente, uma unidade linguística. Por
exemplo, em português, é inegável que nos faremos entender de forma competente em
qualquer lugar do país em que cheguemos e em que se fala português. Se é assim, por que
elas variam?
A resposta, ainda que renda uma boa parte de nosso conteúdo e compreensão com
relação à sociedade e à língua, é bastante ampla e interessante e, realmente, faz parte do
nosso conhecimento. Vamos observar como é que essa língua varia.
É claro que, quando analisamos o uso da linguagem, por exemplo, em meio digital,
percebe-se que esse você já evoluiu para cê ou, ainda, c, sustentado na ideia de que o “nome”
da letra é a pronúncia que se deseja. No caso da fala, percebe-se, com muita produtividade,
o uso dessa última possibilidade “cê vai sair hoje, amor?”.
Ali em cima, usei a ideia de “evoluiu” para uma forma considerada, pelos puristas, como
errada. Não se assuste, mas eu não errei, porque em linguística não consideramos que a língua
emburrece ou, ainda, que ela perde com processos de modificação como esse. Como sistema
vivo, entendemos a língua como em constante evolução. Isso mesmo, evolução.
Antes de seguirmos para a próxima variação, vamos ver um exemplo de uso poético da
variação diacrônica?
Léxico
Como dito anteriormente, essa é uma das mais importantes e visíveis diferenças entre
os falares das muitas regiões do país. São as palavras que se apresentam diferentes em cada
região, como sinônimos das utilizadas em outras regiões. Dê uma olhada em alguns exemplos
desse tipo de mudança.
Esses são alguns exemplos de variação lexical regional. Claro que temos mil outras
formas, que caberiam em um dicionário. Inclusive, há diversas publicações que trazem, por
exemplo, o léxico mineiro ou o léxico caipira para a diversão e o conhecimento dos leitores.
Por isso, só trouxemos alguns exemplos a vocês.
Sintaxe
Uma das variações regionais mais interessantes é a variação sintática. Temos, por
exemplo, o uso variante, em poucos lugares, do pronome “tu”, em lugar de “você”, que criou
um dos mitos mais combatidos na linguística; plurais específicos de Minas Gerais; construções
de concordância que, muitas vezes são colocadas como sociais, mas que são marcadamente
regionais, entre outros. Vejamos alguns exemplos.
As variações sintáticas com relação à sintaxe são, muitas vezes, menos notadas por nós, mas
existem e compõem a riqueza linguística das regiões.
Por exemplo, no Maranhão e no Pará, temos ainda o uso da segunda pessoa canônica, o tu,
com o verbo conjugado na segunda pessoa, na maior parte do tempo.
Ainda no Maranhão, é interessante notar que a maior parte das pessoas não utiliza artigos
diante dos nomes próprios, como em “Vou à casa de Maria” e não “Vou na casa da Maria”,
como é mais comum nos demais lugares.
No Rio Grande do Sul e em alguns lugares de Santa Catarina, utiliza-se a segunda pessoa, o
tu, como no Pará e no Maranhão, mas sem que tenhamos a conjugação do verbo na
segunda pessoa, mas na terceira, como em “Tu vai sair hoje, Piá?”
Alguns estudiosos apontam para a “morte” do plural canônico em São Paulo, principalmente
na capital, como em construções “Os mano foram ao jogo do Coringão”.
Como destacamos, algumas dessas mudanças são entendidas por algumas pessoas
como uma marcação de variação social ou de escolaridade, como veremos mais à frente.
Contudo, por serem marcas extremamente fortes de determinadas regiões, podem ser
compreendidas a partir dessa construção regionalizada mesmo.
Fonética
Uma de minhas variações regionais preferidas para exemplificação da amplidão desse
fenômeno é a diferença fonética de algumas pronúncias, principalmente entre alguns estados
do Nordeste e, por exemplo, a pronúncia de Brasília. Não estou me referindo, claro, aos
sotaques, porque eles não entram como noção de variação linguística. Me refiro, por exemplo,
à pronúncia do /d/ e do /t/ em ambientes que vêm seguidos de /i/.
Para que vocês percebam isso, preciso que assistam à videoaula, onde eu apresento a
diferença de pronúncia. Você vai ver que realmente há variação.
Vamos ver alguns exemplos a mais da variação regional, além de uma parte teórica de
Ataliba Castilho, um dos maiores linguistas brasileiros de todos os tempos.
Falantes do Português Brasileiro (PB), como de qualquer outra língua natural, procedem
de determinado espaço geográfico. Há uma correlação entre a região de origem dos falantes
e as marcas específicas que eles vão deixando em sua produção linguística. Portugueses e
brasileiros não falam do mesmo jeito. Brasileiros do Norte, do Nordeste, do Sudeste, do Centro-
Oeste e do Sul tampouco falam exatamente do mesmo jeito. Uma língua natural conterá,
portanto, diferentes dialetos, relacionados ao espaço geográfico que ele ocupa.
De todas as variedades do português, a variedade geográfica é a mais perceptível.
Quando começamos a conversar com alguém, logo percebemos se ele é ou não originário de
nossa região. Em Portugal e no Brasil, as diferenças assim notadas não dificultam a
intercompreensão, como ocorre em outros países europeus (CASTILHO, 2019, p. 198, grifos
meus).
Escolaridade
Essa é, sem dúvida, a característica mais considerada na hora da construção de
questões que trabalham com variação linguística. Como no país temos uma relação bastante
ampla entre qualidade de ensino e posição social, a escolaridade depende, claramente, de
relação com a posição social e econômica do falante. Nesse tipo de variante, encontramos as
incorreções da língua, quando considerada a norma culta. Dessa forma, construções como as
encontradas nas músicas a seguir são consideradas como exemplo desse tipo de variação.
Ai se sêsse
Se um dia nóis se gostasse
Se um dia nóis se queresse
Se nóis dois se empareasse
Se juntin' nóis dois vivesse
Se juntin' nóis dois morasse
Se juntin' nóis dois drumisse
Se juntin' nóis dois morresse
Se pro céu nóis assubisse
Zaluzejo
Pigilógico, tauba, cera lítica, sucritcho
Graxite, vrido, zaluzejo
Eu sou uma pessoa muito divertida
Gênero
Essa é uma das variantes que têm sido mais estudadas nos últimos tempos. Em
momentos em que as relações de gênero são constantemente analisadas, temos uma
construção interessante nos estudos, que apontam para a ideia de que há diferença clara
quanto às expectativas e recepção do uso da linguagem por parte de homens e mulheres.
Hoje, acredita-se que há uma recepção muito direcionada pelo gênero do falante. Isso
se dá, por exemplo, por meio da análise de determinadas situações, como quando ouvimos
uma menina (ou mesmo uma mulher) falando palavras menos agradáveis e os mais velhos
fazem aquele comentário: isso é coisa de uma menina dizer? Claro que essas palavras são
normalmente malvistas na sociedade, mas a repreensão não é a mesma quando ditas por um
menino ou por uma menina. Pense aí e tente se lembrar desse tipo de repreensão.
Idade
Essa é uma das variantes mais legais que temos, principalmente porque se aproxima, e
muito, da ideia de gírias, inclusive quase sempre sendo pensada a partir dessas construções.
Contudo, aqui é necessário pensarmos um detalhe: não são só as gírias que entram como
modificação etária, mas alguns elementos morfológicos, como os pronomes pessoais do caso
reto. Além disso, nem toda gíria é necessariamente uma utilização etária, dado que pode ser
situacional, como as gírias internéticas. Vejamos exemplos da variação etária.
É claro que, para muitos de nós, há uma mescla que dependerá do momento de
utilização da linguagem. Contudo, os estudiosos da sociolinguística apontam, agora, que essa
é uma modificação que se encaixa tanto na análise diacrônica quanto na análise geracional,
dado que é muito produtiva atualmente.
Posição social
Nesse tipo de variação, temos uma relação interessante com o uso da linguagem como
forma de marcação social. É muito comum, por exemplo, que em momentos mais “tensos”, o
nível de linguagem se modifique, “cresça”, por assim dizer. Ou seja, é comum que as pessoas
passem a falar de forma mais “difícil” quando temos um problema a resolver.
Essa é uma situação comum, por exemplo, em momentos em que tentamos resolver
problemas com operadoras de celular ou coisas do tipo. Conforme as coisas não são
resolvidas, vamos aumentando nosso nível de linguagem, como que para mostrar que temos
uma posição social de maior destaque. Além disso, muitos dizem que a linguagem
“empolada” dos advogados serve para esse fim também: mostrar que estão em uma posição
social diferenciada.
Vejamos mais um exemplo de variação social:
“Pisou na bola,
Conversa fiada malandragem.
Mala sem alça é o couro,
Tá de sacanagem.
Tá trincado é aquilo,
Se toca vacilão.
Tá de bom tamanho,
Otário fanfarrão.”
Fragmento de A gíria é a cultura do povo, de Bezerra da Silva
Nesse tipo de variação, encontramos, ainda, as gírias de internet, muito ligadas à idade
do falante, claro, mas que são utilizadas em contextos específicos. É comum, por exemplo,
que sejam utilizadas pelos mais jovens na internet, enquanto os mais velhos ainda mantêm um
uso mais próximo do tradicional, por assim dizer.
É, inclusive, muito comum o mito de que as pessoas escreveriam redações da mesma
forma que escrevem na internet, o que não se provou verdadeiro, dado que temos muito
poucas influências de uma parte da escrita, a internética, na outra. Parece-nos que se prova a
teoria de que o falante é plenamente capaz de selecionar, ainda que sem perceber, o tipo de
linguagem mais adequada a um determinado momento. Vejamos, então, alguns exemplos de
gírias na linguagem internética.
PRECONCEITO LINGUÍSTICO
O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no
curso da história, entre língua e Gramática Normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer
essa confusão. Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido,
um mapa-múndi não é o mundo... Também a gramática não é a língua. Enquanto a língua é
um rio longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática é apenas uma grande
poça parada, um terreno alagadiço, à margem da língua.
Ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola
tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos, negando
o caráter multilíngue de nosso país. O fato é que não existe nenhuma língua no mundo que
seja “una”, uniforme e homogênea.
Qualquer manifestação linguística que escape do triângulo escola-gramática-dicionário
é considerada, pela ótica do preconceito linguístico, errada, feia, estropiada, rudimentar,
deficiente, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”. As formas prestigiadas de
uso da língua estão tradicionalmente muito vinculadas à escrita literária, à língua escrita de
modo geral.
Porém, não existe nenhuma variedade nacional, regional ou social que seja
intrinsecamente “melhor”, “mais pura”, “mais bonita”, “mais correta” que outra. Toda variedade
linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam.
A Gramática Normativa tenta nos mostrar a língua como um pacote fechado, um
embrulho pronto e acabado. Mas não é assim. A língua é viva, dinâmica, está em constante
movimento – toda língua viva é uma língua em decomposição e em recomposição em
permanente transformação. É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a
ortografia oficial, mas não se pode fazer isso reprovando como “erradas” as pronúncias que
são resultado da história social e cultural das pessoas que fazem a língua em cada canto do
Brasil.
Fonte: BAGNO, 2009 (adaptado).
Perceba que, para essa seção, preferimos a construção com nomenclatura mais próxima
à da sociolinguística, tratando, inclusive, a norma culta como uma variante da língua e não
como uma ideia de superioridade. Do quadro apresentado, sempre gosto de destacar que
temos uma noção clara de variante de prestígio. Essa é a definição que a norma culta recebe
dentro dos estudos sociais da linguagem, dado que há realmente um prestígio maior nesse
tipo de construção, quando a comparamos às demais formas de variação, quase sempre
tratadas com preconceito ou ironia por muitos falantes.
Agora é a hora de vocês treinarem um pouco para sabermos como foi a fixação desse
conteúdo tão importante.
Se jogue, bola de fogo!
VERISSIMO, L. F. As cobras em: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 2000.
antes havia orlando silva & flauta, e até mesmo no meio do meio-dia. antes havia os prados
e os bosques na gravura dos meus olhos. antes de ontem o céu estava muito azul e eu & ela
passamos por baixo desse céu. ao mesmo tempo, com medo dos cachorros e sem muita
pressa de chegar do lado de lá.
Do lado de cá não resta quase ninguém. apenas os sapatos polidos refletem os
automóveis que, por sua vez, polidos, refletem os sapatos...
VELOSO, C. Seleção de textos. São Paulo: Abril Educação, 1981.
Quanto ao seu aspecto formal, a escrita do texto de Caetano Veloso apresenta um(a)
(A) escolha lexical permeada por estrangeirismos e neologismos.
(B) regra típica da escrita contemporânea comum em textos da internet.
(C) padrão inusitado, com um registro próprio, decorrente da criação poética.
(D) nova sintaxe, identificada por uma reorganização da articulação entre as frases.
(E) emprego inadequado da norma-padrão, gerador de incompreensão comunicativa.
05. (ENEM/2018)
Uma língua, múltiplos falares
Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos. Mesmo antes
da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era multilíngue. Havia cerca de 1,2
mil línguas faladas pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador tampouco
era uma língua homogênea, havia variações dependendo da região de Portugal de onde
ele vinha. Há de se considerar também que a chegada de falantes de português acontece
em diferentes etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por
exemplo, temos primeiramente o encontro linguístico de portugueses com índios e, além
dos negros da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas.
“Todo este processo vai produzindo diversidades linguísticas que caracterizam falares
diferentes”, afirma um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se
encontrar modos de falar distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas
composições o sotaque típico de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre
retroflexo, aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar
“cairne” e “poirta” característico do interior de São Paulo.
MARIUZZO, P. Disponível em:
www.labjor.unicamp.br. Acesso
em: 30 jul. 2012 (adaptado).
06. (ENEM/2018)
O tradicional ornato para cabelos, a tiara ou diadema, já foi uma exclusividade feminina.
Na origem, tanto “tiara” quanto “diadema” eram palavras de bom berço. “Tiara” nomeava o
adorno que era o signo de poder entre os poderosos da Pérsia antiga e povos como os
frísios, os bizantinos e os etíopes. A palavra foi incorporada do Oriente pela Grécia e chegou
até nós por via latina, para quem queria referir-se à mitra usada pelos persas. Diadema era
a faixa ou tira de linho fino colocado na cabeça pelos antigos latinos, herança do derivado
grego para diádo (atar em volta, segundo o Houaiss). No Brasil, a forma de arco ou de laço
das tiaras e alguns usos específicos (o nordestino “gigolete” faz alusão ao ornato usado por
cafetinas, versões femininas do “gigolô”) produziram novos sinônimos regionais do objeto.
Os sinônimos da tiara.
Língua Portuguesa, n.
23, 2007 (adaptado).
07. (ENEM/2018)
“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade
“Nhaí, amapô! não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu
picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de
pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado
afirma: É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma,
com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que
ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet,
tem até dicionário...”, comenta.
O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada, lançado no
ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1 300
verbetes revelando o significado das palavras do pajubá.
Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente
uma relação ente o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do
Brasil colonial.
Disponível em: www.midiamax.com.br.
Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado).
08. (ENEM/2017)
Pode um idioma considerado extinto e pouco documentado
ser novamente parte ativa do patrimônio linguístico?
A melhor maneira de saber como ocorre uma revitalização linguística é examinando um
marco na luta indígena: a recuperação da língua pataxó. Eni Orlandi, da Universidade
Estadual de Campinas, esteve na equipe que coletou e analisou evidências linguísticas que
ajudaram a reconstituir a variante do pataxó falada mais ao norte da região de Porto Seguro
(BA), a hãhãhãe.
“Os pataxós viveram perseguições e movimentos de dispersão. A partir dos anos 1980,
entretanto, conseguiram criar um espaço em que reivindicaram seu direito ao território
tradicional que haviam perdido. Outras perdas acompanharam essa. Entre os bens
perdidos, estava a língua. A posse da língua significa para eles o seu desejo de ser índio,
em um momento de ameaça de extermínio”, diz a pesquisadora. “A pesquisa foi feita em
condições difíceis: uma só informante, Baheta, muito idosa, sem interlocutores reais (só os
da memória, imaginados), e experimentando dificuldades de lembrar; em condições de
guerra à sua cultura; uma parte da identidade estigmatizada, já voltada ao esquecimento”,
diz Orlandi no livro Terra à vista. Graças às reminiscências de Baheta, foram coletados dados
suficientes para comparar as listas de palavras que já se possuía e estabelecer paralelos
com línguas próximas.
Disponível em: http://revistalingua.uol.
com.br. Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado).
09. (ENEM/2017)
Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não
compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro, além
disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela primeira vez, mais do que uma por
dia e, por isso, logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia eram uma espécie
de tontura, mas o Ilídio era forte.
Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra. O Ilídio
não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava ocupado a contar uma história
a um guarda-chuva, não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia os piores
momentos para chamá-lo, ele podia estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se
e, depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais
tarde, em casa, dizia que as pessoas da vila nunca tinham visto um menino tão velhaco. O
Ilídio ficava enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila, diziam ah,
reguila de má raça. Com essa memória, recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco.
Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.
PEIXOTO, J. L. Livro. São
Paulo: Cia. das Letras, 2012.
10. (ENEM/2017)
A língua tupi no Brasil
Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase
sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam
o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses,
implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”,
pois “aquela gente não se explica em outro idioma”.
Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou
no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos
O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e utiliza construções
linguísticas próprias de determinada região, constatadas pelo
(A) registro de palavras como “estranheza” e “cegava”.
(B) emprego de regência não padrão em “chegar em casa”.
(C) uso de dupla negação em “não entender nadinha”.
(D) emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”.
(E) uso do substantivo “bichos” para retomar “pessoas”.
14. (ENEM/2016)
O mistério do brega
Famoso no seu tempo, o marechal Schönberg (1615-90) ditava a moda em Lisboa, onde
seu nome foi aportuguesado para Chumbergas. Consta que ele foi responsável pela
popularização dos vastos bigodes tufados na Metrópole. Entre os adeptos estaria o
governador da província de Pernambuco, o português Jerônimo de Mendonça Furtado,
que, por isso, aqui ganhou o apelido de Chumbregas – variante do aportuguesado
Chumbergas. Talvez por ser um homem não muito benquisto na Colônia, o apelido deu
origem ao adjetivo xumbrega: “coisa ruim”, “ordinária”. E talvez por ser um homem também
da folia, surgiu o verbo xumbregar, que inicialmente teve o sentido se “embriagar-se” e
depois veio a adquirir o de “bolinar”, “garanhar”. Dedução lógica: de coisa ruim a bebedeira
e atos libidinosos, as palavras xumbrega ou xumbregar chegaram aos anos 60 do século XX
na forma reduzida brega, designando locais onde se bebe, se bolina e se ouvem cantores
cafonas. E o que inicialmente era substantivo, “música de brega”, acabou virando adjetivo,
“música brega” – numa já distante referência a um certo marechal alemão chamado
Schönberg.
ARAUJO, P. C. Revista USP, n. 87, nov. 2010 (adaptado)
O texto trata das mudanças linguísticas que resultaram na palavra “brega”. Ao apresentar
as situações cotidianas que favoreceram as reinterpretações do seu sentido original, o autor
mostra a importância da
(A) interpretação oral como um dos agentes responsáveis pela transformação do léxico
do português.
(B) compreensão limitada de sons e de palavras para a criação de novas palavras em
português.
(C) eleições de palavras frequentes e representativas na formação do léxico da língua
portuguesa.
(D) interferência da documentação histórica na constituição do léxico.
(E) realização de ações de portugueses e de brasileiros a fim de padronizar as variedades
linguísticas lusitanas.
15. (ENEM/2016)
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui
para
(A) marcar a classe social das personagens.
(B) caracterizar usos linguísticos de uma região.
(C) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
(D) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
(E) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.
16. (ENEM/2016)
Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem
Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções Cariocas
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção
do carioca, como também o ‘vacilão’.”
“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um
amigo pode até doer um pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.”
“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”
“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho inventado pelo carioca
para tratar bem quem ainda não se conhece direito.”
“O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”
SANTOS, J. F. Disponível em: www.oglobo.globo.com.
Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).
Na produção dos textos, orais ou escritos, articulamos as informações por meio de relações
de sentido. No trecho de fala, a passagem “brigaram... é lógico... porque todo
relacionamento tem uma briga”, enuncia uma justificativa em que "brigaram" e "todo
relacionamento tem uma briga" são, respectivamente,
(A) causa e consequência.
De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um “patrimônio imaterial”, pode
ser exposta em um museu. A relevância desse tipo de iniciativa está pautada no pressuposto
de que
(A) a língua é um importante instrumento de constituição social de seus usuários.
(B) o modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao grande público.
(C) a escola precisa de parceiros na tarefa de valorização da língua portuguesa.
(D) o contato do público com a norma-padrão solicita o uso de tecnologia de última
geração.
(E) as atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua melhoram com o uso de
recursos tecnológicos.
Primeiro evite esses coloquialismos de “fofo” e “moleza”, passe longe das gírias ainda
não dicionarizadas e de tudo mais que soe mais falar do que escrito. Isto aqui não é rádio
FM. De vez em quando, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote
do texto, mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor
pode se achar diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar
muito estranho, reescreva.
Quando quiser aplicar um “mas”, tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando
Pessoa, peça autorização ao sábio de plantão, e, por favor, volte atrás. É um cacoete
facilitador. Dele deve ter vindo a expressão “cheio de mas-mas”, ou seja, uma pessoa cheia
de “não é bem assim”, uma chata que usa o truque para afirmar e depois, como se fosse
estilo, obtemperar.
SANTOS, J. F. O Globo. 10 jan. 2011 (adaptado).
27. (ENEM/2015)
Assum preto
(Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor
31. (ENEM/2014)
Óia eu aqui de novo
Óia eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo para xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras
BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: www. luizluagonzaga.mus.br. Acesso em: 5 maio 2013
(fragmento).
32. (ENEM/2014)
Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou
com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso,
resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu
estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do
vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No
momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi
interrompido pelo alfaiate premiado, que disse:
— Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em:
http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.
33. (ENEM/2014)
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria
que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como
do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia
uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os
que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com
um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa
de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um
automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão
andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão
sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).
34. (ENEM/2014)
Evocação do Recife
Nas regras de etiqueta, a linguagem coloquial promove maior proximidade do leitor com
o texto. Um recurso para a produção desse efeito constitui um desvio à variedade padrão
da língua portuguesa. Trata-se do uso
(A) de palavras estrangeiras, como "darling" e "pet", pois afrontam a identidade nacional.
(B) do verbo "ter", que foi utilizado em lugar de "haver" com o sentido de "existir".
(C) da forma verbal "adorei", uma expressão exagerada de emoção e sentimento.
(D) do modo imperativo, típico das conversas informais.
(E) do substantivo "bate-papo", que é uma gíria inadequada para regras de etiqueta.
Essa tirinha tem como tema a nova ortografia da língua portuguesa e os diversos tipos de
linguagem hoje existentes. A situação apresentada no último quadrinho indica que
(A) o sobrinho não compreendeu a linguagem mais conservadora utilizada pelo seu tio.
(B) o tio não está familiarizado com a linguagem de chats e de mensagens instantâneas.
(C) a informalidade presente na linguagem do sobrinho impede a comunicação com o tio.
(D) o tio deve evitar utilizar a norma padrão da língua no contexto da internet.
(E) o sobrinho desconhece a norma padrão da língua portuguesa.
37. (ENEM/2013)
O cordelista por ele mesmo
Aos doze anos eu era
forte, esperto e nutrido.
Vinha do Sítio de Piroca
muito alegre e divertido
vender cestos e balaios
que eu mesmo havia tecido.
O trecho faz parte do romance A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Nessa parte
do romance, há um diálogo entre dois personagens. A fala transcrita revela um falante que
utiliza uma linguagem
(A) informal, com estruturas e léxico coloquiais.
(B) regional, com termos característicos de uma região.
(C) técnica, com termos de áreas específicas.
(D) culta, com domínio da norma padrão.
(E) lírica, com expressões e termos empregados em sentido figurado.
40. (ENEM/2012)
No Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações indígenas do país
falam cerca de 180 línguas, e as comunidades de descendentes de imigrantes cerca de 30
línguas. Há uma ampla riqueza de usos, práticas e variedades no âmbito da própria língua
portuguesa falada no Brasil, diferenças estas de caráter diatópico (variações regionais) e
diastrático (variações de classes sociais) pelo menos. Somos, portanto, um país de muitas
línguas, tal qual a maioria dos países do mundo (em 94% dos países são faladas mais de
uma língua).
Fomos no passado, ainda muito mais do que hoje, um território plurilíngue. Cerca de
1078 línguas indígenas eram faladas quando aqui aportaram os portugueses, há 500 anos,
segundo estimativas de Rodrigues (1993). Porém, o Estado português e, depois da
independência, o Estado brasileiro, que o sucedeu, tiveram por política impor o português
como a única língua legítima, considerando-a “companheira do Império”. A política
linguística principal do Estado sempre foi a de reduzir o número de línguas, num processo
de glotocídio (eliminação de línguas) por meio do deslocamento linguístico, isto é, de sua
substituição pela língua portuguesa. Somente na primeira metade do século XX, segundo
Darcy Ribeiro, 67 línguas indígenas desapareceram no Brasil — mais de uma por ano,
portanto. Das cerca de 1 078 línguas indígenas faladas em 1 500, ficamos com
aproximadamente 180 em 2000 (um decréscimo de 85%), e várias destas 180 encontram-
se em estado avançado de desaparecimento.
Disponível em: www.cultura.gov. Acesso em: 28 fev. 2012 (adaptado).
41. (ENEM/2012)
A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil,
corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa,
paralelo ao que já ocorrera em relação a ampliação do domínio de ter na área semântica
de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre
haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de
João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-
se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos
estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância,
lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali.
Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento
deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única
e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma
fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários?
Substitui-se uma norma por outra?
CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico:
do presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008.
Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).
Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que
(A) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica.
(B) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua.
(C) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da
norma.
(D) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos
linguísticos.
(E) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição
linguística.
42. (ENEM/2012)
43. (ENEM/2011)
Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela
comunidade sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de
complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram uma norma
nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as
normas do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas também as
chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se insistir na ideia de que
essas normas se consolidaram em diferentes momentos da nossa história e que só a partir
do século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em
consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em ambos os
territórios.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs).
Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado).
44. (ENEM/2011)
Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que, a depender do estrato
social e do nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até
mesmo em falantes que dominam a variedade padrão, pois, na verdade, revelam
tendências existentes na língua em seu processo de mudança que não podem ser
bloqueadas em nome de um "ideal linguístico” que estaria representado pelas regras da
gramática normativa. Usos como ter por haver em construções existenciais (tem muitos
livros na estante), o do pronome objeto na posição de sujeito (para mim fazer o trabalho), a
não-concordância das passivas com se (aluga-se casas) são indícios da existência, não de
uma norma única, mas de uma pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma
como conjunto de hábitos linguísticos, sem implicar juízo de valor.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs).
Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).
45. (ENEM/2011)
História do contato entre línguas no Brasil
No Brasil, o contato dos colonizadores portugueses com milhões de falantes de mais
de mil línguas autóctones e de cerca de duzentas línguas que vieram na boca de cerca de
quatro milhões de africanos trazidos para o país como escravos é, sem sombra de dúvida,
o principal parâmetro histórico para a contextualização das mudanças linguísticas que
afetaram o português brasileiro. E processos como esses não devem ser levados em conta
apenas para a compreensão das diferenças entre as variedades linguísticas nacionais. O
próprio mapeamento das variedades linguísticas contemporâneas do português europeu
e, sobretudo, do português brasileiro, tanto no plano diatópico quanto no plano diastrático,
depende crucialmente de uma apurada compreensão do processo histórico de sua
formação.
LUCCCHESI, D.; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. (orgs.). O português afro-brasileiro.
Salvador: EdUFBA, 2009 (adaptado).
Glossário:
Autóctone: nativo de uma região.
Diatópico: referente à variação de uma mesma língua no plano regional (país, estado, cidade etc.).
Diastrático: referente à variação de uma mesma língua em função das diversas classes sociais.
1. B 16. D 31. C
2. C 17. C 32. C
3. A 18. E 33. B
4. C 19. A 34. D
5. B 20. E 35. B
6. E 21. A 36. B
7. C 22. C 37. E
8. D 23. E 38. D
9. D 24. A 39. B
10. A 25. C 40. A
11. C 26. E 41. E
12. D 27. B 42. E
13. C 28. B 43. C
14. A 29. B 44. B
15. B 30. A 45. B
Prezada senhorita,
Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de acordo com o que foi conversado
com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes, estabelecido à Rua da
Praia, número 632, dar por encerrados nossos entendimentos de noivado. Como passei a ser
o contabilista-chefe dos Armazéns Penalva, conceituada firma desta praça, não me restará, em
face dos novos e pesados encargos, tempo útil para os deveres conjugais.
Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da mancebia, como vinha
fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade
presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem assim
como representantes da Associação dos Varejistas e da Sociedade Cultural e Recreativa José
de Alencar. Sem mais, creia-me de V. S. patrício e admirador, Sabugosa de Castro
CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu Bergatim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1971.
Comentários:
A alternativa B está correta, porque não havia necessidade de uma linguagem tão
jurídica para colocar fim ao noivado. O nível de linguagem é incompatível com a necessidade
linguística. Além disso, temos que entender que os dois apresentavam o mesmo valor e papel
social. Não há diferença de extrato entre os dois.
Gabarito: B
LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque a proximidade com o leitor se daria por meio de
uma linguagem menos formal, dado que temos uma realidade linguística diferente da
apresentada pela norma culta.
A alternativa B está incorreta, porque as pessoas das classes de menor prestígio não
são alcançadas pelo uso de uma linguagem formal, usualmente ensinada nas escolas, lugar
que não faz parte da realidade das pessoas mais pobres.
A alternativa D está incorreta, porque os diversos falares brasileiros não podem, nem
devem, ser reduzidos à ideia de uma norma culta, considerada, inclusive, como artificializada
para representar a fala brasileira.
A alternativa E está incorreta, porque a relação para atrair pessoas de outras áreas de
conhecimento está ligado mais ao tema do que à linguagem, que serve para a ideia de uma
relação de validação da informação, por ser mais prestigiada.
Gabarito: C
VERISSIMO, L. F. As cobras em: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 2000.
No que diz respeito ao uso de recursos expressivos em diferentes linguagens, o cartum produz
humor brincando com a
Comentários:
A alternativa A está correta, porque a tirinha ironiza o fato de que cientistas muitas vezes
não são capazes de dialogar com a população, se valendo de jargões e palavras pouco
comuns, o que acaba afastando as pessoas do conhecimento científico divulgado.
A alternativa C está incorreta, porque em uma produção literária como as tirinhas não
há esse tipo de impedimento. Não é preciso basear-se unicamente no real.
Gabarito: A
Alegria, alegria
Que maravilhoso país o nosso, onde se pode contratar quarenta músicos para tocar um
uníssono. (Mile Davis, durante uma gravação) antes havia orlando silva & flauta, e até mesmo
no meio do meio-dia. antes havia os prados e os bosques na gravura dos meus olhos. antes
de ontem o céu estava muito azul e eu & ela passamos por baixo desse céu. ao mesmo tempo,
com medo dos cachorros e sem muita pressa de chegar do lado de lá. Do lado de cá não resta
quase ninguém. apenas os sapatos polidos refletem os automóveis que, por sua vez, polidos,
refletem os sapatos...
Quanto ao seu aspecto formal, a escrita do texto de Caetano Veloso apresenta um(a)
(D) nova sintaxe, identificada por uma reorganização da articulação entre as frases.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque não temos escolha de palavras diferentes e com
uso de palavras advindas de outras línguas. Essa alternativa não pode nem ser cogitada como
a resposta para essa questão.
A alternativa B está incorreta, porque não temos uma relação de proximidade com a
escrita de textos de internet que, inclusive, não seguem regras fixas, como se pensa.
A alternativa C está correta, porque a modificação está no estilo, com formas de escrita
que lembram a liberdade que a poesia proporciona ao escritor. Lembramos, sempre, que a
escrita é marcada por liberdade poética para a literatura.
Gabarito: C
05. (ENEM/2018)
Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos. Mesmo antes
da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era multilíngue. Havia cerca de 1,2 mil
línguas faladas pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador tampouco era
uma língua homogênea, havia variações dependendo da região de Portugal de onde ele
vinha. Há de se considerar também que a chegada de falantes de português acontece em
diferentes etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por exemplo,
temos primeiramente o encontro linguístico de portugueses com índios e, além dos negros
da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas. “Todo este
processo vai produzindo diversidades linguísticas que caracterizam falares diferentes”, afirma
um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar
distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas composições o sotaque típico
de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre retroflexo, aquele erre dobrado que,
junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” característico do interior de
São Paulo.
MARIUZZO, P. Disponível em:
www.labjor.unicamp.br. Acesso
em: 30 jul. 2012 (adaptado).
A partir desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil, um dos elementos de identidade
nacional, entende-se que a diversidade linguística é resultado da
Comentários:
O texto aponta que mesmo antes da chegada dos portugueses o Brasil já era
multilíngue, pois havia muita diversidade dentre os povos que viviam aqui. Além disso, o
português dos colonizadores também não era homogêneo. Ao primeiro encontro –
portugueses e indígenas – acresceu-se a população negra e, posteriormente, os imigrantes
italianos, japoneses, alemães e árabes. Assim, pode-se apontar que a diversidade linguística
resulta da interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes. A alternativa correta é a
alternativa B.
A alternativa C está incorreta, pois ainda que o português tenha se tornado a língua
oficial, isso não excluiu a contaminação das outras línguas.
A alternativa D está incorreta, pois isso é apenas um dos aspectos que faz com que o
Brasil seja multilíngue.
A alternativa E está incorreta, pois não se fala aqui sobre preservação de sotaques, mas
sim sobre colaborações e contaminações.
Gabarito: B
06. (ENEM/2018)
O tradicional ornato para cabelos, a tiara ou diadema, já foi uma exclusividade feminina.
Na origem, tanto “tiara” quanto “diadema” eram palavras de bom berço. “Tiara” nomeava o
adorno que era o signo de poder entre os poderosos da Pérsia antiga e povos como os frísios,
os bizantinos e os etíopes. A palavra foi incorporada do Oriente pela Grécia e chegou até nós
por via latina, para quem queria referir-se à mitra usada pelos persas. Diadema era a faixa ou
tira de linho fino colocado na cabeça pelos antigos latinos, herança do derivado grego para
diádo (atar em volta, segundo o Houaiss). No Brasil, a forma de arco ou de laço das tiaras e
alguns usos específicos (o nordestino “gigolete” faz alusão ao ornato usado por cafetinas,
versões femininas do “gigolô”) produziram novos sinônimos regionais do objeto.
No texto, relata-se que o nome de um enfeite para cabelo assumiu diferentes denominações
ao longo da história.
Comentários:
O mesmo objeto tinha seu nome alterado a depender de quem o utilizava. No caso
brasileira, a palavra “gigolote” faz referência às pessoas que as utilizavam, as cafetinas). Assim,
pode-se concluir que um objeto pode mudar de denominação a depender da sua utilização
por um grupo social. A alternativa correta é alternativa E.
A alternativa A está incorreta, pois não houve mudança nos sentidos antigos da palavra.
Elas seguem significando o mesmo objeto, que mantém a mesma função que no passado. São
apenas modos diferentes de falar sobre ele.
A alternativa B está incorreta, pois as palavras “tiara” e “diadema” ainda são utilizadas
nos dias de hoje. Elas não são parte de um momento histórico, ou seja, não são datadas.
A alternativa C está incorreta, pois não se pode presumir que seu uso fosse religioso
especificamente.
A alternativa D está incorreta, pois apesar de o tempo de uso ajudar a fixar a forma, isso
não é determinante para a distinção. O que determina os diversos sinônimos é seu uso social.
Gabarito: E
07. (ENEM/2018)
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade
“Nhaí, amapô! não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu
picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de
pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado
afirma: É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma,
com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que
ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem
até dicionário...”, comenta.
Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente
uma relação ente o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil
colonial.
Comentários:
A alternativa D está incorreta, pois os dialetos não são necessariamente ligados aos
advogados.
A alternativa E está incorreta, pois um dialeto pode ser regional também, não apenas
social.
Gabarito: C
08. (ENEM/2017)
“Os pataxós viveram perseguições e movimentos de dispersão. A partir dos anos 1980,
entretanto, conseguiram criar um espaço em que reivindicaram seu direito ao território
tradicional que haviam perdido. Outras perdas acompanharam essa. Entre os bens perdidos,
estava a língua. A posse da língua significa para eles o seu desejo de ser índio, em um
momento de ameaça de extermínio”, diz a pesquisadora. “A pesquisa foi feita em condições
difíceis: uma só informante, Baheta, muito idosa, sem interlocutores reais (só os da memória,
imaginados), e experimentando dificuldades de lembrar; em condições de guerra à sua
cultura; uma parte da identidade estigmatizada, já voltada ao esquecimento”, diz Orlandi no
livro Terra à vista. Graças às reminiscências de Baheta, foram coletados dados suficientes para
comparar as listas de palavras que já se possuía e estabelecer paralelos com línguas próximas.
(B) preservação da cultura de um povo, por meio do resgate de sua história oral.
(E) valorização dos povos indígenas, por meio da tentativa de unificação de línguas
próximas.
Comentários:
Foi preciso contar com a memória de uma senhora idosa para conseguir realizar um
levantamento de dados acerca da língua, o que demonstra que há pouca catalogação formal
do assunto. Foi a partir dessa pesquisa – e da comparação com outros documentos que ainda
se mantinham preservados – que se foi capaz de catalogar um léxico e reconstruir a língua
pataxó. Assim, a alternativa correta é alternativa D.
A alternativa A está incorreta, pois não foram apenas dados históricos os acessados,
como também as experiencias pessoais.
A alternativa B está incorreta, pois a preservação aqui está ligada na fixação da língua
em uma forma escrita, durável, como um léxico, evitando manter apenas na oralidade.
Gabarito: D
09. (ENEM/2017)
Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não
compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro, além
disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela primeira vez, mais do que uma por dia
e, por isso, logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de
tontura, mas o Ilídio era forte.
Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra. O Ilídio
não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava ocupado a contar uma história
a um guarda-chuva, não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia os piores
momentos para chamá-lo, ele podia estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se e,
depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais tarde,
em casa, dizia que as pessoas da vila nunca tinham visto um menino tão velhaco. O Ilídio ficava
enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila, diziam ah, reguila de má
raça. Com essa memória, recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco. Essa certeza
dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.
(A) “Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não
compreendia e esmoreceu.”
(B) “Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte.”
(C) “Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.”
(D) “Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra.”
Comentários:
A construção “estava a falar”, presente em “Se calhar estava a falar de tratar da cabra”,
representa uma diferença entre português de Portugal e do Brasil. No Brasil, utiliza-se o
gerúndio para essas situações. Aqui, esse trecho seria redigido como “Se calhar estava falando
de tratar da cabra”. A alternativa correta, portanto, é alternativa D.
Brasil Portugal
Fila Bicha
Maiô Fato de banho
Ônibus Autocarro
Presunto Fiambre
Quadrinhos Banda desenhada
Time Equipa
Trem Comboio
Gabarito: D
10. (ENEM/2017)
Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase
sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o
português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a
Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela
gente não se explica em outro idioma”.
“Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o
historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso
mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros
idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de
tupi facilitado.
(A) contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos
dos lugares designados.
(B) originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical
também está a fala de variadas etnias indígenas.
(C) desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses,
vindos de Lisboa.
(D) misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros
nas investidas contra o Quilombo dos Palmares.
Comentários:
Percebe-se pelo texto que o tupi contribuiu muito efetivamente para a construção da
língua na região de São Paulo: muitas palavras que utilizamos até hoje são de origem tupi. Um
dos usos destacados no texto é justamente a atribuição do nome dos lugares de acordo com
a ação que ocorria lá. A alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois o que se falava na época sequer era português, mas
sim algo definido como tupi facilitado.
A alternativa C está incorreta, pois a língua não foi imposta ou ensinada pelos padres
portugueses. Inclusive, pedia-se que fossem enviados padres que soubessem falar a chamada
“língua geral dos índios”.
A alternativa E está incorreta, pois não se pode dizer que português falado pelo
colonizador tenha expandido da mesma maneira. Essa era a língua falada na época no Brasil.
Caminho do Peabiru
Você já ouviu falar do Caminho do Peabiru?
Era uma trilha que os indígenas sul-americanos utilizavam desde antes da chegada dos
europeus. Esses caminhos ligavam o litoral ao interior do continente, chegando até a
Cordilheira dos Andes. O caminho mais famoso ligava a região da cidade de Cusco, no Peru,
à Capitania de São Vicente – atual estado de São Paulo.
Isso demonstra que os indígenas sul-americanos deveriam ter algum tipo de relação entre si,
o que com certeza também impactou nas línguas e nos modos de falar dos grupos na época.
Gabarito: A
Sei que o ofendi porque sua carta, não datada de outro dia, mas que parece ter sido
escrita em 5 de julho, foi muito abrupta; eu a li e reli com os olhos turvos de lágrimas. Não
usarei meu maravilhoso broche de peixe-anjo se o senhor não quiser; devolverei ao senhor,
se assim me for pedido...
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois isso só indica o teor da mensagem, não o uso da
norma padrão.
A alternativa E está incorreta, pois os adjetivos, assim como as escolhas lexicais, não
impactam no sequenciamento temporal aqui.
Gabarito: C
tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e
meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, tinha ladineza e
entendimento. Na rua e na escola — nada; era completamente afrásico. As pessoas eram
bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo.
Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas descencei e perdi a influência
de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me passava e das lições marcadas nos
livros, fiquei sendo uma quarta-feira de marca maior. Alívio bom era quando chegava em casa.
O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e utiliza construções
linguísticas próprias de determinada região, constatadas pelo
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois essas palavras não apresentam nenhum indício de
regionalismo.
A alternativa B está incorreta, pois apesar de nesse caso a regência do verbo “chegar”,
segundo a gramática normativa, isso é uma variante da linguagem popular, não ligada
necessariamente a uma região específica.
A alternativa C está incorreta, pois essa dupla negação é uma construção aceita na
gramática normativa, comum a diversas regiões, sem distinção.
Gabarito: D
Yeda Pessoa de Castro — Durante três séculos, a maior parte dos habitantes do Brasil falava
línguas africanas, sobretudo línguas angolanas, e as falas dessas regiões prevaleceram sobre
o português. Antes se ignorava essa participação, se dizia que o português do Brasil ficou
assim falado devido ao isolamento, à predominância cultural e literária do português de
Portugal sobre os falantes negros africanos analfabetos. Eles realmente não sabiam ler ou
escrever português, mas essas teorias eram baseadas em fatores extralinguísticos. Eu introduzi
nessa discussão a prevalência e a participação dos falantes africanos, sobretudo das línguas
níger-congo, que são cerca de 1530 línguas. As mais faladas no Brasil foram as do Golfo do
Benim e da região banto, sobretudo do Congo e de Angola.
SCARRONE, M. Por que a participação da família africana (de línguas) é tão
importante? Disponível em: www.revistadehistoria.com.br. Acesso em: 8 jun. 2015.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque os estudos feitos até o momento apontam para a
influência a partir de fatores extralinguísticos e não linguísticos, como deveria ser em relação
à análise do falar brasileiro.
A alternativa B está incorreta, porque o texto não aponta para a direção da necessidade
de compararmos os dois falares. A ideia é apontar para a percepção da influência dos falares
na formação da língua portuguesa falada no Brasil.
A alternativa C está correta, porque o texto aponta para uma participação efetiva dos
falares africanos na formação do português brasileiro, que consegue vencer claramente o falar
padrão do português europeu. Essas pesquisas servem para a percepção de que o português
brasileiro é bastante diverso do português europeu.
A alternativa D está incorreta, porque o texto aponta para uma grande mesclagem de
falares no país. Além disso, a importância do texto e das pesquisas linguísticas está na
A alternativa E está incorreta, porque não podemos afirmar, a partir da leitura do texto,
que houve uma supremacia do português falado em Portugal com relação às demais línguas.
Afirma-se, inclusive, que o português padrão não era falado em nossas terras.
Gabarito: C
14. (ENEM/2016)
O mistério do brega
Famoso no seu tempo, o marechal Schönberg (1615-90) ditava a moda em Lisboa, onde
seu nome foi aportuguesado para Chumbergas. Consta que ele foi responsável pela
popularização dos vastos bigodes tufados na Metrópole. Entre os adeptos estaria o
governador da província de Pernambuco, o português Jerônimo de Mendonça Furtado, que,
por isso, aqui ganhou o apelido de Chumbregas – variante do aportuguesado Chumbergas.
Talvez por ser um homem não muito benquisto na Colônia, o apelido deu origem ao adjetivo
xumbrega: “coisa ruim”, “ordinária”. E talvez por ser um homem também da folia, surgiu o
verbo xumbregar, que inicialmente teve o sentido se “embriagar-se” e depois veio a adquirir
o de “bolinar”, “garanhar”. Dedução lógica: de coisa ruim a bebedeira e atos libidinosos, as
palavras xumbrega ou xumbregar chegaram aos anos 60 do século XX na forma reduzida
brega, designando locais onde se bebe, se bolina e se ouvem cantores cafonas. E o que
inicialmente era substantivo, “música de brega”, acabou virando adjetivo, “música brega” –
numa já distante referência a um certo marechal alemão chamado Schönberg.
O texto trata das mudanças linguísticas que resultaram na palavra “brega”. Ao apresentar as
situações cotidianas que favoreceram as reinterpretações do seu sentido original, o autor
mostra a importância da
(A) interpretação oral como um dos agentes responsáveis pela transformação do léxico do
português.
Comentários:
Fica claro que o nascimento da palavra “brega” está ligado à oralidade. Por ter
dificuldade de falar o nome em alemão, houve uma adaptação em português, aproximando-
se ao máximo do som do nome original. O mesmo vai ocorrendo com as outras
transformações da palavra. Assim, pode-se dizer que a interpretação oral é um dos agentes
responsáveis pela transformação do léxico do português. A alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois aqui é mais uma questão de dificuldade da fala do
que de compreensão do som. Além disso, a criação de novas palavras aqui está ligada a um
processo histórico.
A alternativa C está incorreta, pois não se escolhem as palavras que serão frequentes
ou representativas, elas apenas se tornam populares ao longo do tempo.
A alternativa E está incorreta, pois o processo de formação dessa palavra não foi uma
ação pensada com um objetivo, apenas aconteceu.
Gabarito: A
15. (ENEM/2016)
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo
aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E
o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás
dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da
molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio
há de proteger minha pobreza e minha devoção.
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui
para
Comentário:
As palavras destacadas são típicas da região nordeste no Brasil e, por isso, representam
uma variação linguística regional. A alternativa correta é alternativa B
A alternativa A está incorreta, pois regionalismos não são marcadores de classe social.
A alternativa C está incorreta, pois o que enfatiza a relação familiar são as expressões
como “minha irmã” no vocativo.
A alternativa D está incorreta, pois estas expressões nada têm a ver com gênero.
Gabarito: B
16. (ENEM/2016)
Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção
do carioca, como também o ‘vacilão’.”
Entre as sugestões apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o variado
repertório linguístico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes situações específicas
de uso social. A respeito desse repertório, atesta-se o(a)
Comentários:
Os itens típicos do falar carioca no texto estão muito ligados aos aspectos culturais do
local: as relações sociais, o lazer, o modo de tratar conhecidos e desconhecidos etc. Assim, a
alternativa correta é alternativa D.
A alternativa A está incorreta, pois isso não é um requisito para ambientes urbanos, mas
sim uma possibilidade quando se pensa nos falares regionais.
A alternativa B está incorreta, pois não há inadequação nas situações apresentadas. Não
há problema nenhum em desobedecer às normas nesses contextos.
A alternativa C está incorreta, pois não se aponta que esse seja um traço de classe social,
mas sim regional do carioca.
A alternativa E está incorreta, pois, não se aponta que esse seja um traço de faixa etária,
mas sim regional do carioca.
Gabarito: D
(A) constitui uma exigência restrita ao universo financeiro e é substituível por linguagem
informal.
(B) revela um exagero por parte do remetente e torna o texto rebuscado linguisticamente.
(D) torna o texto de difícil leitura e atrapalha a compreensão das intenções do remetente.
(E) sugere elevado nível de escolaridade do diretor e realça seus atributos intelectuais.
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois o texto não conta com palavras inusitadas ou de
pouco uso, como seria coerente com um texto rebuscado linguisticamente. O texto apenas
assume a formalidade que um texto profissional deve ter.
A alternativa D está incorreta, pois a norma padrão serve justamente para que todos
possam compreender aquilo que se pretende dizer, uma vez que é a regra compartilhada por
todos.
A alternativa E está incorreta, pois a escrita na norma culta da linguagem não significa
um realce de atributos intelectuais. Ele está apenas adequado ao contexto situacional.
Gabarito: C
Combine letras maiúsculas e minúsculas, da mesma forma que na escrita comum. Cartas
em papel não são escritas somente com letras maiúsculas; na internet, escrever em maiúsculas
é o mesmo que gritar! Para enfatizar frases e palavras, use os recursos de _sublinhar_
(colocando palavras ou frases entre sublinhados) e *grifar* (palavras ou frases entre asteriscos).
Frases em maiúsculas são aceitáveis em títulos e ênfases ou avisos urgentes.
Os emoticons (ou smileys) são ícones formados por parênteses, pontos, vírgulas e
outros símbolos do teclado. Eles representam carinhas desenhadas na horizontal e denotam
emoções. É difícil descobrir quando uma pessoa está falando alguma coisa em tom de
brincadeira, se está realmente brava ou feliz, ou se está sendo irônica, em um ambiente no
qual só há texto; por isso, entram em cena os smileys. Comece a usá-los aos poucos e, com o
passar do tempo, estarão integrados naturalmente às suas conversas on-line.
(A) revelam códigos internacionalmente aceitos que devem ser seguidos pelos usuários da
internet.
(C) representam uma forma complexa de comunicação, pois os caracteres são de difícil
compreensão.
(D) foram desenvolvidas para que usuários de países de línguas diferentes possam se
comunicar na web.
(E) refletem recomendações gerais sobre o uso dos recursos de comunicação facilitadores
da convivência na internet
Comentários:
A alternativa D está incorreta, porque não há indicação de que as regras servem para a
comunicação de pessoas que falam idiomas distintos. A ideia é que tenhamos o melhor
relacionamento possível ao usar a internet, em especial entre os usuários do português.
Gabarito: E
Noites do Bogart
O Xavier chegou com a namorada mas, prudentemente, não a levou para a mesa com
o grupo.
— Deixa o Xavier.
— Pô. Só.
— Chocante, né? — disse o Xavier. E depois ficou na dúvida. Ainda se dizia “chocante”?
E ficaram em silêncio. Ela pensando “será que ele ouviu?”. E ele pensando “faço algum
comentário a respeito, ou deixo passar?”. Decidiu deixar passar. Mas, pelo resto da noite
aquele “tio” ficou em cima da mesa entre os dois, latejando como um sapo. Ele a levou em
casa. Depois voltou. Sentou com os amigos.
— Aí, Xavier. E a namorada?
VERISSIMO, L. F. O melhor das comédias da vida privada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
Comentários:
A alternativa A está correta, porque o tipo de gíria utilizado pela namorada não se
emprega a uma relação amorosa entre uma pessoa mais velha e uma mais nova. Na realidade,
já entendemos como problema a forma como os amigos do namorado veem o
relacionamento. No final, a namorada parece entrar na onda dos amigos e utiliza expressões
que não estão relacionadas com o momento de namoro em que se encontram.
A alternativa B está incorreta, porque não temos uma relação de discussão formal sobre
o relacionamento. Na realidade, o humor se dá exatamente pelo uso de expressão
completamente informal por parte da namorada.
A alternativa C está incorreta, porque o humor está no uso das expressões da namorada
e não na análise linguística dos amigos do namorado, que estão no bar.
A alternativa E está incorreta, porque esse uso é possível e não causa nenhuma forma
de humor. Na realidade, como apresentado, as expressões da namorada para o homem mais
velho é que causam essa visão mais bem-humorada.
Gabarito: A
eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né...
que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso...
era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe tinha cinco anos...
né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezessete e ele foi obrigado a
trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número
de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais
perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão
entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente
o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e:: ela foi parar na rua
do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum
tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei
esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se
conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados…
Na produção dos textos, orais ou escritos, articulamos as informações por meio de relações
de sentido. No trecho de fala, a passagem “brigaram... é lógico... porque todo relacionamento
tem uma briga”, enuncia uma justificativa em que "brigaram" e "todo relacionamento tem uma
briga" são, respectivamente,
Comentários:
A alternativa B está incorreta, porque não temos uma premissa que nos leva a uma
conclusão lógica, como ocorre em relações nas quais se constroem premissas e conclusões.
A lógica é necessária a ela.
A alternativa C está incorreta, porque não temos uma apresentação nem de meio, nem
de finalidade, dado que ocorre uma generalização ao apresentar que em todos os
relacionamentos ocorrem brigas e uma confirmação por essa ter ocorrido.
A alternativa D está incorreta, porque não temos uma noção de exceção no fato de que
a briga ocorre. Perceba que, se em todo o relacionamento ocorrem brigas, temos uma regra,
contudo, o fato de a briga ter acontecido não é uma exceção, mas uma confirmação da regra.
A alternativa E está correta, porque, ao apresentar a ideia de que houve a briga, temos
a um fato, a briga, que, por ocorrer de forma geral, “em todo relacionamento”, aponta uma
especificidade de uma generalização. Perceba que temos o uso do generalizador “todo”. Essa
é uma questão capciosa, com possibilidades de dúvidas.
Gabarito: E
De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um “patrimônio imaterial”, pode ser
exposta em um museu. A relevância desse tipo de iniciativa está pautada no pressuposto de
que
(B) o modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao grande público.
(E) as atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua melhoram com o uso de
recursos tecnológicos.
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois o museu se dedica a valorizar a língua, não a optar
por uma variante específica.
A alternativa C está incorreta, pois a escola tem o objetivo de ensinar a língua, não
necessariamente valorizá-la.
A alternativa D está incorreta, pois não se pode presumir que a norma-padrão seja o
foco do museu.
A alternativa E está incorreta, pois os recursos tecnológicos são apenas o modo como
se apresentam os assuntos do museu.
Patrimônio material
Também chamados de tangíveis, se inserem nessa categoria objetos, edifícios, monumentos
e documentos. Podemos dividi-los em bens móveis, como obras artísticas, coleções arqueológicas,
fotografias, vídeos, entre outros; e em bens imóveis, como centros urbanos, edifícios, sítios
arqueológicos e paisagísticos.
Patrimônio imaterial
A categoria inclui as expressões de vida e tradições de comunidades, grupos e indivíduos em
todas as partes do mundo, recebidas pelos seus antepassados e transmitidas para os descendentes.
O patrimônio imaterial revela saberes, ofícios e modos de fazer; festas e celebrações tradicionais;
formas de expressão cênicas, plásticas musicais ou lúdicas; bem como lugares onde se manifestam
práticas culturais.
BRASIL, Patrimônio Cultural. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234#:~:targetText=Os%20bens%20culturais%20de%20natureza,que%20
abrigam%20pr%C3%A1ticas%20culturais%20coletivas>)
Gabarito: A
Escrever
Primeiro evite esses coloquialismos de “fofo” e “moleza”, passe longe das gírias ainda
não dicionarizadas e de tudo mais que soe mais falar do que escrito. Isto aqui não é rádio FM.
De vez em quando, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote do texto,
mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor pode se achar
diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar muito estranho,
reescreva.
Quando quiser aplicar um “mas”, tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando
Pessoa, peça autorização ao sábio de plantão, e, por favor, volte atrás. É um cacoete facilitador.
Dele deve ter vindo a expressão “cheio de mas-mas”, ou seja, uma pessoa cheia de “não é
bem assim”, uma chata que usa o truque para afirmar e depois, como se fosse estilo,
obtemperar.
(A) definições teóricas, para permitir que seus conselhos sejam úteis aos futuros jornalistas.
(B) gírias não dicionarizadas, para imitar a linguagem de jovens de baixa escolaridade.
(C) palavras de uso coloquial, para estabelecer uma interação satisfatória com a
interlocutora.
(D) termos da linguagem jornalística, para causar boa impressão na jovem entrevistadora.
(E) vocabulário técnico, para ampliar o repertório linguístico dos jovens leitores do jornal.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque não temos o foco nessas definições. Na realidade,
o texto prescinde da utilização de definições teóricas. Perceba que o texto é fluido como é
típico das crônicas, que devem atingir a público mais amplo, causando prazer na leitura.
A alternativa D está incorreta, porque a crônica versa sobre a forma de escrita a partir
de uma suposta pergunta. Na realidade, o autor não precisa causar essa boa impressão, dado
que seu texto se apresenta claro e direcionado àqueles que irão escrever.
A alternativa E está incorreta, porque não temos aplicação de vocabulário técnico com
essa intenção. A ideia é que o texto flua de forma naturalizada, como apresenta o autor.
Gabarito: C
(A) "O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras
graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO".
(B) "Gilberto!". Estremeci. "Estomágo? Leia de novo, soletre". Soletrei, repeti: "Estomágo".
(C) "Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário".
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque “carcunda” é uma forma pouco usual para
“corcunda”. Perceba que não temos uma variante, nesse caso, relacionada com os aspectos
menos privilegiados da língua.
A alternativa B está incorreta, porque nesse caso há somente a migração da sílaba tônica
para outra sílaba, não sendo um uso corriqueiro de pessoas de classes menos privilegiados.
A alternativa E está correta, porque a palavra que demonstra essa marcação menos
privilegiada é exatamente a variante “estambo”, em lugar da considerada correta, estômago.
Gabarito: E
(A) falante do português brasileiro relatando o seu contato na Europa com o português
lusitano.
(B) imigrante em Lisboa com domínio dos registros formal e informal do português
europeu.
(C) turista europeu com domínio de duas variedades do português em visita a Lisboa.
Comentários:
A alternativa E está incorreta, porque não temos a ideia de que há a defesa do uso
padrão da língua. Na realidade, esse observador contrasta o português falado em Portugal
com o português falado no Brasil, de forma direta com o vocabulário das duas línguas.
Gabarito: A
o::... o Brasil... no meu ponto de vista... entendeu? o país só cresce através da educação...
entendeu? Eu penso assim... então quer dizer... você dando uma prioridade pra... pra
educação... a tendência é melhorar mais... entendeu? e as pessoas... como eu posso explicar
assim? as pessoas irem... tomando conhecimento mais das coisas... né? porque eu acho que a
pior coisa que tem é a pessoa alienada... né? a pessoa que não tem noção de na::da...
entendeu?
Trecho da fala de J. L, sexo masculino, 26 anos. In: VOTRE, S.; OLIVEIRA, M. R. (Coord.). A língua falada e
escrita na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: www.discursoegramatica.letras.ufrj.br. Acesso em: 4 dez.
2012.
(C) o enunciador procura interpelar o seu interlocutor para manter o fluxo comunicativo.
(E) o falante manifesta insegurança ao abordar o assunto devido ao gênero ser uma
entrevista.
Comentários:
A alternativa B está incorreta, porque, ainda que existam palavras que não são
construtoras de significados nas interações verbais orais, há palavras que servem para testar o
grau de comprometimento dos interlocutores, chamando a atenção deles para a relação
dialógica.
A alternativa C está correta, porque os elementos utilizados servem como teste de canal
e manutenção de atenção por parte dos falantes. Na realidade, o que temos em eventos de
coloquialidade e de oralidade é a necessidade de manter o canal aberto para que saibamos
que a relação se mantém aberta.
A alternativa E está incorreta, porque não temos processo de insegurança por parte do
falante com relação ao gênero de entrevista.
Gabarito: C
E: Diva … tem algumas … alguma experiência pessoal que você passou e que você poderia
me contar … alguma coisa que marcou você? Uma experiência … você poderia Contar agora
…
I: É … tem uma que eu vivi quando eu estudava o Terceiro ano científico lá no Atheneu… né..
é:: eu gostava muito do laboratório de química … eu … eu ia ajudar os professores a limpar
aquele material todo … aqueles vidros … eu achava aquilo fantástico … aquele monte de coisa
… né … então … todos os dias eu ia … quando terminavam as aulas eu ajudava o professor a
limpar o laboratório … nesse dia não houve aula e o professor me chamou pra fazer uma
limpeza geral no laboratório … chegando lá … ele me fez uma experiência … ele me mostrou
uma coisa bem interessante que … pegou um béquer com meio d’água e colocou um
pouquinho de cloreto de sódio pastoso… então foi aquele fogaréu desfilando… aquele
fogaréu … quando o professor saiu … eu chamei umas duas colegas minhas pra mostrar a
experiência que eu tinha achado fantástico … só que … eu achei o seguinte … se o professor
colocou um pouquinho … foi aquele desfile … … imagine se eu colocasse mais … peguei o
mesmo béquer … coloquei uma colher … uma colher de cloreto de sódio … foi um fogaréu
tão grande … foi uma explosão … quebrou todo o material que estava exposto em cima da
mesa … eu branca … eu fiquei … olha … eu pensei que eu fosse morrer sabe … quando … o
colégio inteiro correu pro laboratório pra ver o que tinha sido …
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal:
EdUFRN, 1998.
Comentários:
Gabarito: E
27. (ENEM/2015)
Assum preto
(Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Comentário:
Na alternativa A, “vorta” tem o mesmo movimento, mas “veve” provoca troca entre
vogais.
Gabarito: B
Como estamos na “Era Digital”, foi necessário rever os velhos ditados existentes e adaptá-los
à nova realidade. Veja abaixo…
(E) dificulta a compreensão do texto por quem não domina a língua inglesa.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, ainda que sejam expressões mais relacionadas
com a informática, não restringem a compreensão somente aos especialistas nessa área de
conhecimento. É interessante notar que são expressões de conhecimento mais geral.
A alternativa B está correta, porque temos uma brincadeira com os ditados anteriores,
tentando criar uma aproximação bem humorada entre o texto e os leitores em geral.
A alternativa C está incorreta, porque, ainda que sejam expressões mais relacionadas
com a informática, não restringem a compreensão somente aos especialistas nessa área de
conhecimento. É interessante notar que são expressões de conhecimento mais geral.
Gabarito: B
E, portanto, é com muito prazer que teço algumas considerações sobre o tema
apresentado. Escolhi como tema como os fundadores da Academia Brasileira de Letras viam
a língua portuguesa no seu tempo. Como sabem, a nossa Academia, fundada em 1897, está
agora completando 110 anos, foi organizada por uma reunião de jornalistas, literatos, poetas
que se reuniam na secretaria da Revista Brasileira, dirigida por um crítico literário e por um
literato chamado José Veríssimo, natural do Pará, e desse entusiasmo saiu a ideia de se criar a
Academia Brasileira, depois anexada ao seu título: Academia Brasileira de Letras.
Nesse sentido, Machado de Assis, que foi o primeiro presidente desde a sua
inauguração até a data de sua morte, em 1908, imaginava que a nossa Academia deveria ser
uma academia de Letras, portanto, de literatos.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque a norma culta é, ainda que utilizada em momentos
mais específicos, uma forma de aproximação dos falantes e não uma maneira de tornar a
mensagem somente entendida por uma parte dos falantes. Isso ocorre, normalmente, com o
uso de um vocabulário específico.
A alternativa C está incorreta, porque a fala, ainda que se utilize em sua maior parte de
regras da norma culta, não se aproxima da escrita, dado que, linguisticamente, a norma culta
modifica a língua como um todo e não somente uma forma de uso.
A alternativa E está incorreta, porque o público está muito próximo do palestrante, por
isso, não podemos entender que ele usa a norma culta para afastar-se do público, mas para
que possa organizar melhor sua fala e ser reconhecido.
Gabarito: B
Mudança linguística
Ataliba de Castilho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é parte
da metamorfose natural da língua.
Para Castilho, no entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que
precisamos na língua. Será a internet. O jeito eh tc e esperar pra ver?
(A) ilustrar a linguagem de usuários da internet que poderá promover alterações de grafias.
(C) evidenciar uma forma de exclusão social para as pessoas com baixa proficiência escrita.
(D) explicar que se trata de um erro linguístico por destoar do padrão formal apresentado
ao longo do texto.
Comentários:
A alternativa C está incorreta, porque não temos uma relação de exclusão social das
pessoas pelo uso das expressões escritas a partir da internet. Não se deixe levar pela ideia de
que as pessoas de menor renda não têm acesso à internet.
A alternativa D está incorreta, porque o autor defende a ideia de que há uma adequação
do uso da linguagem. Logo, não podemos entender que há erro linguístico no trecho.
Inclusive, a noção de erro, conforme a concebemos, como quebra de norma culta, não é
necessariamente um erro linguístico.
Gabarito: A
31. (ENEM/2014)
Isso é um desaforo
Vestida de chita
Comentário:
A única alternativa que apresenta expressão regional é “Vou mostrar pr’esses cabras”,
já que “cabras” se equivale a “homens”. A alternativa correta é alternativa C.
A alternativa A está incorreta, pois o trecho destacado está escrito de acordo com a
norma culta.
A alternativa B está incorreta, pois apesar de conter uma marca de oralidade em “tou
aqui”, a questão pergunta especificamente sobre falar popular regional. Preste sempre
atenção aos enunciados.
A alternativa D está incorreta, pois o trecho destacado está escrito de acordo com a
norma culta.
A alternativa E está incorreta, pois o trecho destacado está escrito de acordo com a
norma culta.
Gabarito: C
32. (ENEM/2014)
Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou
com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso,
resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu
estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor.
Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega
do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado,
que disse:
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois não há, normalmente, a ideia de valor sobre as
marcas do falar coloquial, pelo contrário: esse falar é muitas vezes fruto de preconceito
linguístico.
A alternativa B está incorreta, pois aqui o objetivo não é produzir uma crítica, mas sim
gerar um efeito de humor.
A alternativa D está incorreta, pois o texto não produz crítica aos modos de falar, apenas
aponta a diferença entre a forma escrita e a forma oral da língua.
A alternativa E está incorreta, pois o texto não promove um incentivo a outras formas de
falar, apenas relata uma situação.
Gabarito: C
33. (ENEM/2014)
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria
que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como
do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma
parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os
que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com
um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de
banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um
automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão
andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua
esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
(A) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
(D) a pronúncia e o vocábulo são aspectos identificadores da classe social a que pertence o
falante.
(E) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas
as regiões.
Comentários:
O texto aponta para modos de falar ligados às diferenças geracionais. Dizer “sua
senhora” ao invés de “sua mulher”, por exemplo, aponta para um modo de falar que era mais
comum no passado. Muitas vezes, porém, pessoas mais velhas não perdem alguns hábitos
linguísticos e seguem falando do modo como se falava anteriormente. Isso demonstra que, na
comparação entre diferentes gerações, pode-se perceber bem as inovações no léxico. A
alternativa correta é alternativa B.
A alternativa A está incorreta, pois o texto apenas aponta as diferenças, sem incentivar
nenhum dos usos especificamente.
Gabarito: B
34. (ENEM/2014)
Evocação do Recife
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
(A) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua
portuguesa autêntica.
(C) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção
linguística.
(D) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
Comentários:
A alterativa B está incorreta, pois o poeta não indica que devemos imitar a sintaxe
portuguesa, tampouco tentar nos aproximar dela.
A alterativa E está incorreta, pois a variante linguística das ruas é a própria reelaboração
do português, mas à maneira do povo
Gabarito: D
Nas regras de etiqueta, a linguagem coloquial promove maior proximidade do leitor com o
texto. Um recurso para a produção desse efeito constitui um desvio à variedade padrão da
língua portuguesa. Trata-se do uso
(A) de palavras estrangeiras, como "darling" e "pet", pois afrontam a identidade nacional.
(B) do verbo "ter", que foi utilizado em lugar de "haver" com o sentido de "existir".
(E) do substantivo "bate-papo", que é uma gíria inadequada para regras de etiqueta.
Comentários:
A alternativa B está correta, porque o verbo ter no sentido de existir é uma das
incorreções mais comuns com relação ao uso culto da língua. Sua própria utilização,
exagerada na fala, tem sido considerada ainda um erro com relação à norma culta. Não se
esqueça de que a questão está tratando de uso de formalidade, com necessidade de norma
culta.
A alternativa C está incorreta, porque o verbo “adorar” pode ser utilizado como
determinador de intensidade de gosto, como seu sinônimo com uma intensidade maior. Não
se confunda com o uso oralizado em que a entonação faz diferença para o uso.
A alternativa D está incorreta, porque não há uma relação de ligação clara entre o
imperativo e as conversas informais. Inclusive, muitos textos extremamente formais se utilizam
desse tipo de verbo, como ocorre com as bulas de remédio, por exemplo.
A alternativa E está incorreta, porque a palavra “bate-papo”, ainda que tenha sido
incorporada pela informática, não se apresenta como um uso não recomendado pela norma
culta.
Gabarito: B
Essa tirinha tem como tema a nova ortografia da língua portuguesa e os diversos tipos de
linguagem hoje existentes. A situação apresentada no último quadrinho indica que
(A) o sobrinho não compreendeu a linguagem mais conservadora utilizada pelo seu tio.
(B) o tio não está familiarizado com a linguagem de chats e de mensagens instantâneas.
(D) o tio deve evitar utilizar a norma padrão da língua no contexto da internet.
Comentários:
A alternativa B está correta, porque o último quadrinho mostra que o tio pensa que o
sobrinho não sabe escrever. Quando olhamos a fala do sobrinho, percebemos que temos
claramente uma variante muito comum na internet, em salas de bate-papo e aplicativos, mais
modernamente, de conversas. Como se assusta com esse uso, percebe-se que o tio não está
realmente familiarizado com essa variante muito comum.
A alternativa D está incorreta, porque o foco do último quadrinho está focado no tipo
de linguagem utilizada pelo sobrinho, que é considerada adequada ao contexto internético,
sem uma relação de que o tio deverá utilizar necessariamente a norma culta nesse contexto.
A alternativa E está incorreta, porque o uso da variante internética não indica claramente
que o sobrinho desconhece a norma padrão. Essa, inclusive, é a ideia que o tio parece ter,
mas não se sustenta a partir de um pensamento linguístico, extremamente necessário à
realização da prova do ENEM.
Gabarito: B
37. (ENEM/2013)
Comentários:
O trecho em que se percebe uma variante regional do português é “nas cacimbas onde
passava”.
A palavra “cacimba” significa Poço artesanal, lugar de guardar água feito no chão. É
uma expressão típica do nordeste brasileiro.
Gabarito: E
— Ora dizeis, não é verdade? Pois o Sr. Lúcio queria esse cravo, mas vós lho não podíeis dar,
porque o velho militar não tirava os olhos de vós; ora, conversando com o Sr. Lúcio, acordastes
ambos que ele iria esperar um instante no jardim...
MACEDO, J. M. A moreninha. Disponível em: www.dominiopublico.com.br.
Acesso em: 17 abr. 2010 (fragmento).
O trecho faz parte do romance A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Nessa parte do
romance, há um diálogo entre dois personagens. A fala transcrita revela um falante que utiliza
uma linguagem
Comentários:
A alternativa B está incorreta, porque não temos uma variação linguística identificável
no trecho. O uso vocabular, que indicaria essa noção regional, é comum às diversas
variedades do português padrão.
A alternativa E está incorreta, porque não temos nenhuma figura de linguagem nesse
trecho. Perceba que todas as informações se utilizam de linguagem denotativa e não
linguagem conotativa, típica do sentido figurado.
Gabarito: D
Comentários:
Gabarito: B
40. (ENEM/2012)
No Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações indígenas do país
falam cerca de 180 línguas, e as comunidades de descendentes de imigrantes cerca de 30
línguas. Há uma ampla riqueza de usos, práticas e variedades no âmbito da própria língua
portuguesa falada no Brasil, diferenças estas de caráter diatópico (variações regionais) e
diastrático (variações de classes sociais) pelo menos. Somos, portanto, um país de muitas
línguas, tal qual a maioria dos países do mundo (em 94% dos países são faladas mais de uma
língua).
Fomos no passado, ainda muito mais do que hoje, um território plurilíngue. Cerca de
1078 línguas indígenas eram faladas quando aqui aportaram os portugueses, há 500 anos,
segundo estimativas de Rodrigues (1993). Porém, o Estado português e, depois da
independência, o Estado brasileiro, que o sucedeu, tiveram por política impor o português
como a única língua legítima, considerando-a “companheira do Império”. A política linguística
principal do Estado sempre foi a de reduzir o número de línguas, num processo de glotocídio
(eliminação de línguas) por meio do deslocamento linguístico, isto é, de sua substituição pela
língua portuguesa. Somente na primeira metade do século XX, segundo Darcy Ribeiro, 67
línguas indígenas desapareceram no Brasil — mais de uma por ano, portanto. Das cerca de 1
078 línguas indígenas faladas em 1 500, ficamos com aproximadamente 180 em 2000 (um
decréscimo de 85%), e várias destas 180 encontram-se em estado avançado de
desaparecimento.
As línguas indígenas contribuíram, entre outros aspectos, para a introdução de novas palavras
no português do Brasil. De acordo com o texto apresentado, infere-se que a redução do
número de línguas indígenas
(B) manteve a preservação de nosso patrimônio linguístico e cultural, porque, assim como
algumas línguas morrem, outras nascem de tempos em tempos, o que contribui para a
conservação do idioma.
(C) foi um processo natural pelo qual a língua portuguesa passou, não significando,
portanto, prejuízos para o patrimônio linguístico do Brasil, que se conservou inalterado
até nossos dias.
(E) representou uma fase do desenvolvimento da língua portuguesa, que, como qualquer
outra língua, passou pelo processo de renovação vocabular, que exige a redução das
línguas.
Comentários:
Tendo-se em vista que uma língua é um patrimônio cultural de um povo, pode-se dizer
que o desaparecimento de uma língua significa o apagamento da herança cultural desse
grupo de pessoas. Assim, a alternativa correta é alternativa A.
A alternativa B está incorreta, pois não houve conservação dos idiomas, mas sim seu
desaparecimento, sua não preservação.
A alternativa C está incorreta, pois o processo não é natural, mas fruto de um extermínio
da população indígena do país, que gerou prejuízos ao patrimônio linguístico do Brasil.
A alternativa D está incorreta, pois essa já era a política linguística desde a colonização,
não sendo possível dizer que houve mudança de atitude.
A alternativa E está incorreta, pois o texto não fala sobre renovação vocabular, mas sim
sobre o desaparecimento programado de uma cultura.
Gabarito: A
41. (ENEM/2012)
Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que
(C) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma.
(D) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos
linguísticos.
Comentários:
A alternativa B está incorreta, pois, segundo a autora, muitas vezes esses estudos
deixam os aspectos dos usos cotidianos e da oralidade de lado.
A alternativa C está incorreta, pois a norma, segundo o texto, parte muito da pesquisa
documental histórica, não das variantes.
A alternativa D está incorreta, pois a norma de fato é uma só, porém não se pode
considerar que os usos fora da norma estão incorretos, mas sim reconhecer sua importância
para a compreensão de uma língua.
Gabarito: E
42. (ENEM/2012)
(E) conservador, representado por uma fala arcaica para a geração atual.
Comentários:
A alternativa C está incorreta, pois em nenhum momento faz-se referência à classe social
dos falantes, mas sim à idade.
A alternativa D está incorreta, pois em nenhum momento faz-se juízo de valor sobre os
falantes, como se alguma das características conferisse status de especial.
Gabarito: E
43. (ENEM/2011)
Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela
comunidade sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de
complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram uma norma
nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as
normas do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas também as
chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se insistir na ideia de que
essas normas se consolidaram em diferentes momentos da nossa história e que só a partir do
século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em
consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em ambos os
territórios.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática:
descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado).
(A) desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta.
(C) existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do Brasil, distinta da
de Portugal.
(E) necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem ser
aceitos.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois o texto defende que se deve considerar os modos
de falar populares do país ao pensar em uma língua.
A alternativa B está incorreta, pois o texto aponta para a bifurcação das variantes
continentais, não para a difusão do português.
Gabarito: C
44. (ENEM/2011)
Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que, a depender do estrato
social e do nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até mesmo
em falantes que dominam a variedade padrão, pois, na verdade, revelam tendências
existentes na língua em seu processo de mudança que não podem ser bloqueadas em nome
de um "ideal linguístico” que estaria representado pelas regras da gramática normativa. Usos
como ter por haver em construções existenciais (tem muitos livros na estante), o do pronome
objeto na posição de sujeito (para mim fazer o trabalho), a não-concordância das passivas com
se (aluga-se casas) são indícios da existência, não de uma norma única, mas de uma
pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma como conjunto de hábitos
linguísticos, sem implicar juízo de valor.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino
de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).
(A) estudantes que não conhecem as diferenças entre língua escrita e língua falada
empregam, indistintamente, usos aceitos na conversa com amigos quando vão elaborar
um texto escrito.
(B) falantes que dominam a variedade padrão do português do Brasil demonstram usos
que confirmam a diferença entre a norma idealizada e a efetivamente praticada, mesmo
por falantes mais escolarizados.
(D) pessoas que se julgam no direito de contrariar a gramática ensinada na escola gostam
de apresentar usos não aceitos socialmente para esconderem seu desconhecimento da
norma padrão.
Comentários:
A língua falada e a língua escrita são diferentes. Na oralidade, permitem-se uma série
de práticas que seriam consideradas incorretas segundo a norma culta. Meus falantes mais
escolarizados podem incorrer nesses usos que muitas vezes são referidos como “incorretos”.
Assim, a alternativa correta é alternativa B.
A alternativa D está incorreta, pois ainda que se conheça a norma padrão, pode-se
incorrer em fugas à norma culta na oralidade, uma vez que o importante é a mensagem a ser
passada aqui.
A alternativa E está incorreta, pois não há incorreção nessa substituição na língua falada,
uma vez que os falantes são capazes de compreender-se mutuamente.
Gabarito: B
45. (ENEM/2011)
Do ponto de vista histórico, as mudanças linguísticas que afetaram o português do Brasil têm
sua origem no contato dos colonizadores com inúmeras línguas indígenas e africanas.
Considerando as reflexões apresentadas no texto, verifica-se que esse processo, iniciado no
começo da colonização, teve como resultado
(B) a constituição do patrimônio linguístico, uma vez que representa a identidade nacional
do povo brasileiro.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, pois as influências dos idiomas africanos sobre a língua
portuguesa não significam a aceitação da escravidão.
A alternativa C está incorreta, pois não houve isolamento dos indígenas, ainda que
tenha havido perseguição e extermínio de muitas populações.
A alternativa D está incorreta, pois a língua vai se formando de modo que todos têm
acesso a ela, com pequenas particularidades.
A alternativa E está incorreta, pois o texto não faz juízo de valor, apontando que os
colonizadores seriam melhores que os indígenas.
Gabarito: B