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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

ENEM
Aula 03 - Variação Linguística

Exasiu
Exasiu

Prof. Wagner Santos

AULA 03 – Variação Linguística 1

estrategiavestibulares.com.br
ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Sumário
INTRODUÇÃO 3

1 A RELAÇÃO DO FALANTE NATIVO COM A LÍNGUA 3

2 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA 5

2.1 A sociolinguística: como a língua se comporta socialmente 7

3 AS VARIANTES DO PORTUGUÊS 10

3.1 Variação história ou diacrônica 10

3.2 Variação regional, geográfica ou diatópica 11

3.3 Variação social ou diastrática 14

3.4 Variação situacional, diafásica ou estilística 17

4 O PRECONCEITO LINGUÍSTICO 19

4 VARIANTE CULTA VS VARIANTE POPULAR 20

3 EXERCÍCIOS 22

4 GABARITO 53

5 QUESTÕES RESOLVIDAS E COMENTADAS 54

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 111

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E aí, Bolas de Fogo?


Chegou a hora de falarmos sobre um dos assuntos mais cobrados no seu exame: a
variação linguística, que envolve uma série de elementos e de conhecimentos que temos
acerca da nossa língua e da utilização dessa língua. As diferentes formas de falar uma língua
são muito presentes em nossa vida e no nosso dia a dia. Para além disso, quero que vocês
entendam que a linguagem nos serve e não nós que servimos a ela.
Veremos, nessa aula, os seguintes conteúdos essenciais:
• A relação do falante nativo com a língua;
• As variantes do português;
• Tipos de variação linguística;
• O preconceito linguístico; e
• Norma culta vs Variante popular.

Bora que só bora?

Diferente do que muitas vezes pensamos, há uma relação intrínseca entre o falante
nativo de uma língua e sua língua. Em nosso caso, falaremos dos falantes do português, uma
vez que somos falantes nativos dela, pelo menos acredito que todos sejamos. Claro que é
necessário, antes de tudo, entender o que é um falante nativo. Para isso, lançarei mão de dois
conceitos extremamente importantes para a linguística:

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Tendo esses dois conceitos como base, conseguimos entender que, se aprendemos o
português como nossa primeira língua, somos falantes nativos dela e, posso dizer com base
na ciência, que somos falantes competentes dessa língua. Eis que surge outro conceito
importante para entendermos as variações e as construções que fazemos em língua
portuguesa: falantes competentes. Vamos entendê-lo, para que possamos seguir em frente.

Falantes competentes são todos os falantes de uma língua materna, ou seja,


todos os falantes nativos daquela língua. Em linguística, entendemos que há uma
série de elementos da língua que carregamos de forma inata e que nos faz usar a
língua em sua capacidade plena. Pensando na língua como um meio de
comunicação entre as pessoas em suas interações sociais, entendemos a
competência plena como a capacidade de se comunicar de forma ótima,
passando a informação comunicativa de forma a expressar claramente o que se
quer dizer.

Entendemos a apreensão de língua se dá da seguinte forma:

A partir desse conceito, entendemos que o uso pleno de uma língua está centrado na
capacidade que as pessoas terão de se comunicar de forma também plena. Pode ser que você
esteja se preguntando como isso se encaixa nessa nossa aula. E digo, sem medo, que é nessa
aula que isso se torna ainda mais claro: em uma sociedade que valoriza, cada vez mais, um
falar fundamentado na norma culta, entender que somos competentes mesmo quando
não usamos essa norma é importantíssimo para nosso entendimento.
A língua, ainda que não seja feita de forma normativa, plenamente possível em
determinados contextos de uso da linguagem, é uma forma múltipla de utilização, e é isso que
queremos compreender aqui e apresentar para vocês de forma mais clara. Não se esqueça de
que sua prova valoriza essa maneira de pensar com relação à linguagem.
Vale ressaltar que, ainda que essas ideias não apareçam dessa forma na sua prova, elas
são extremamente importantes para a compreensão da variação linguística. Essa afirmação se
comprova exatamente pela necessidade de entender os usos da linguagem como plenas,
ainda que extremamente influenciadas pelos fatores externos à linguagem.
Para finalizar, é interessante, ainda, entender um elemento importante para o seu
exame, dada a faceta política do idioma, incluindo, nesse caso, a diferenciação entre língua e
idioma. Vejamos.

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Assim, é importante que vocês pensem que a linguagem tem uma faceta política
importante para a compreensão da relação entre o falante e sua língua. Assim, é interessante
pensar que essa noção está intrinsecamente ligada a todos os povos e língua. Por exemplo,
para os povos indígenas, a língua tem o mesmo valor que o português para os povos que o
falam.
Pense, por fim, que a importância da língua é tamanha que, historicamente, os povos
dominadores acabaram por impedir que o povo dominado, ou colonizado, não utilizasse sua
língua materna. Foi assim no decorrer dos tempos e, por exemplo, no Brasil, com relação às
línguas indígenas e à língua geral, para a consolidação do português como idioma único do
país.

Falaremos, nessa seção, especificamente sobre a língua portuguesa, claro, mas, antes
de adentrarmos nas variantes do português, matéria, como dito, extremamente importante,
vamos apresentar alguns conceitos muito necessários para a nossa compreensão do tema.

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Para entendermos melhor essa noção, apresentarei dois exemplos que nos auxiliarão
nessa construção. Bora lá!

Os meninos pegaram o peixe.


Os menino pegou o peixe.

Não torça o nariz ainda para as duas construções encontradas no box. No caso, temos
uma variação sintática, porque temos modificação na construção do plural canônico do
português, em que marcamos (ainda que redundantemente) todos os termos, como na
primeira frase do exemplo. Na segunda frase, temos a marcação de somente o primeiro termo
no plural, que é capaz de pluralizar a compreensão inteira do trecho. Nesse caso, a ideia de
termos duas apresentações de um mesmo fenômeno, a concordância nominal, é um
exemplo de variação linguística. Note, assim, que estamos nos focando no fenômeno e não
nas formas apresentadas.
Quando olhamos para as duas frases, entendemos que a concordância ocorre de duas
formas. Cada uma dessas formas é considerada uma variante. Ou seja, o fato de variar é uma
variação e cada uma das frases, um exemplo de variante. Essa é uma parte importante desse
tipo de questão. Fiquem sempre atentos!
Interessa-nos, então, descobrir o porquê da variação das línguas, ou seja, porque elas
não se apresentam da mesma forma, dado que há, claramente, uma unidade linguística. Por
exemplo, em português, é inegável que nos faremos entender de forma competente em
qualquer lugar do país em que cheguemos e em que se fala português. Se é assim, por que
elas variam?
A resposta, ainda que renda uma boa parte de nosso conteúdo e compreensão com
relação à sociedade e à língua, é bastante ampla e interessante e, realmente, faz parte do
nosso conhecimento. Vamos observar como é que essa língua varia.

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A arte acima apresenta a ideia de que a linguagem se modifica conforme os elementos


externos ao sistema linguístico, a partir de fatores que são sociais e pessoais, por assim dizer.
É claro que você entenderá melhor daqui a pouco, quando aprofundaremos cada um desses
fatores, contudo, para que você já comece a compreender, imagine que a idade do falante,
um fator pessoal, modifica a forma de comunicação dele, enquanto sua escolaridade, um fator
de origem claramente social, modifica também sua relação.
Antes de continuarmos, por fim, vale entender que há uma área da linguística que lida
com essa parte: a sociolinguística, que analisa, a partir da sua construção, como é que a
linguagem é modificada em seu uso social, bem como busca entender a relação entre a
linguagem e os falantes em seus posicionamentos sociais. Por exemplo, é a sociolinguística
que apresenta a relação de contextos. Para entendermos melhor, vamos olhar um pouco
alguns conceitos importantes para essa área de pesquisa e como ela pensa o uso da
linguagem.

2.1 A sociolinguística: como a língua se comporta socialmente


Para entendermos um pouco melhor a sociolinguística, apresento, primeiro, o
pensamento de um dos seus pais, Edward Sapir. Vocês sabem que nem sou tanto de trazer
pensadores da linguagem a vocês, até porque acho que precisamos ser bem objetivos.
Contudo, acho que nesse caso, vale a lida rápida:

Desse trecho, acho interessante pensarmos alguns elementos: o caráter essencialmente


social da linguística e a ideia de que uma língua é um produto social e cultural. Esse ponto é,
por exemplo, o que configura a prova de diversos exames do país, por exemplo, o ENEM. É
pensar a linguagem a partir de sua concepção social que auxilia uma série de exames em sua
construção. Pode parecer uma besteira, uma vez que realmente sabemos que a linguagem se
emprega em muitos níveis na nossa construção social. Inclusive, é muito comum que
pensemos que nossa língua é essencialmente social, porque não conseguimos determinar
com clareza que pensamos em forma de linguagem. Ainda assim, são muitos os elementos
envolvidos em nossa construção de utilização da língua, não da linguagem geral nesse caso,
mas da língua em específico. Então, vamos pensar em elementos sociolinguísticos que nos
servirão para a ampliação de significados da linguagem.

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É interessante notar que esses são somente os conceitos mais importantes da


sociolinguística para que tenhamos compreensão do que estamos estudando por aqui. Assim,
é interessante que notemos que, para nós, é essencial compreender cada um desses
elementos, para que possamos dar continuidade aos nossos estudos.
Dessa forma, partimos do pressuposto de que a língua é um sistema heterogêneo, e
não homogêneo, como pensam os defensores ferrenhos do uso corriqueiro da norma culta.
Como permanece sendo um sistema, é interessante notar que as regras são variáveis, mas
que existem essas regras. Assim, quando retomamos o exemplo da concordância que
apresentamos lá em cima: na variante menos prestigiada, a “Os menino pegou o peixe”, a
marcação é obrigatoriamente no primeiro elemento e não no segundo, por exemplo. Assim,
há regras.
Tais regras sofrem variações, conforme entendemos, principalmente com relação ao
contexto de uso dessa linguagem, que influenciará claramente na ideia de monitoramento
da linguagem. Esse monitoramento é a relação clara entre o cuidado que temos com a
linguagem em cada um dos momentos em que a utilizamos. Veja, a seguir, como funciona
essa relação.

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Antes de tudo, a ideia de continuum é relacionada diretamente à ideia de uma noção


de uso que se mantém, literalmente, contínua. Assim, sempre vamos e voltamos nessa linha
de uso de nossa linguagem. Mas, necessariamente, o que isso quer dizer?
Pensemos da seguinte forma: na nossa linha de uso, quanto mais perto do uso menos
monitorado, menor o cuidado que temos com a linguagem, dado que normalmente são usos
mais íntimos, com menor preocupação formal. O contrário acontece quando caminhamos
para o lado mais monitorado da língua. Imaginem o seguinte: estamos mais próximos do
extremo “menos” quando conversamos com nossos amigos; e mais próximos do extremo
“mais” quando escrevemos a redação dissertativa-argumentativa do exame. É essa a relação.
Contudo, perceba que, para a linguística, não temos uma relação de escrita e oralidade
como determinante nesses casos. O contexto varia independente da forma de utilização.
Podemos, por exemplo, escrever um bilhete mais íntimo e sem a norma culta obrigatória, da
mesma forma que podemos apresentar uma dissertação de mestrado de forma oral (que
chamamos de defesa de dissertação) e utilizarmo-nos de uma linguagem extremamente
formal.
Essa relação de monitoramento nos leva a outros dois conceitos essenciais. Vejamos.

Esses dois conceitos são essenciais para a construção de um pensamento


sociolinguista. Digo isso porque, nessa forma de pensar a linguagem, há um olhar inclusivo
para os múltiplos usos da linguagem. Como temos a ideia de que os contextos são
determinantes, não podemos acreditar na ideia de certo e errado. É claro que em contextos
como o da escrita de redações, em que a norma culta é utilizada, temos claramente a
possibilidade de pensarmos em certo e errado, porque tomamos a norma como base para a
correção. Contudo, sempre é necessário analisar o contexto de uso antes de indicar essa ideia
de certo e errado.
Agora que já entendemos esses conceitos essenciais, vamos dar uma olhada nos
elementos que são considerados como fatores modificadores da linguagem, gerando
variantes que serão identificadas por vocês no exame.

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Com relação ao português, nosso objetivo de estudo por aqui, é interessante


pensarmos em entender a língua portuguesa em um primeiro momento. Temos a língua
portuguesa como a língua oficial do país. Dessa forma, entendemos que ela é falada pela
esmagadora maioria dos brasileiros. Contudo, ainda que a unidade seja mantida, entendemos
que podemos ter modos diferentes de falar, fundamentados em fatores externos ao sistema
linguístico. Assim, vamos analisar cada um desses elementos para que possamos entender as
variantes que encontramos no português, que continua unitário.
Bora que só bora, bolas de fogo!

3.1 Variação história ou diacrônica


Para começarmos, analisamos um tipo de variação que é inerente à língua, a variação
diacrônica ou histórica, aparente em todas as línguas e indissociável nas relações de
modificação da língua como unidade. Podemos dizer isso, porque essa língua sofre
modificações ligadas ao tempo, ou seja, as relações linguísticas vão sendo modificadas com
o passar do tempo e, para sabermos como ocorrem, é necessário analisar as modificações de
um ponto de vista comparativo.
Esse tipo de variação ocorre essencialmente com palavras e expressões que não são
mais usadas e que podem pertencer tanto ao léxico quando à sintaxe. É mais comum que
ocorram com relação ao léxico, mas nada impede que algumas formações sintáticas também
sofram modificações. Há algumas construções, como as mesóclises, que claramente não se
encaixam mais em determinados contextos, dada sua extrema formalidade. Mas isso é assunto
para lá pra frente. Vamos a alguns exemplos do que podemos ver nessa variação.

É claro que, quando analisamos o uso da linguagem, por exemplo, em meio digital,
percebe-se que esse você já evoluiu para cê ou, ainda, c, sustentado na ideia de que o “nome”
da letra é a pronúncia que se deseja. No caso da fala, percebe-se, com muita produtividade,
o uso dessa última possibilidade “cê vai sair hoje, amor?”.

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Ali em cima, usei a ideia de “evoluiu” para uma forma considerada, pelos puristas, como
errada. Não se assuste, mas eu não errei, porque em linguística não consideramos que a língua
emburrece ou, ainda, que ela perde com processos de modificação como esse. Como sistema
vivo, entendemos a língua como em constante evolução. Isso mesmo, evolução.
Antes de seguirmos para a próxima variação, vamos ver um exemplo de uso poético da
variação diacrônica?

Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito


prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo
não sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficava longos meses
debaixo do balaio. E levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra
freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era de tirar o pai da forca, e não caíam
de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus
se faz uma canoa.
Fragmento de Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade

3.2 Variação regional, geográfica ou diatópica


Essa é, sem dúvidas, a mais conhecida das formas de variação, principalmente no que
tange às diferenças lexicais entre as diferentes regiões do país. Assim, podemos afirmar, antes
de tudo, que essa variação é “gerada” pela diferença de falares (quase a ponto de serem
dialetos do português) entre os falantes de regiões distintas. Exemplificando de forma mais
clara, o falar do Rio de Janeiro apresentará diferenças claras para o falar do Rio Grande do Sul.
Contudo, aqui, queremos ampliar a visão e sair um pouco somente da diferença lexical,
adentrando nas diferenças estruturais e gramaticais em muitos casos. Vamos lá!
Em um país como o Brasil, de tamanho continental, é inimaginável que todos falem
sempre da mesma forma. Sinceramente, a regularidade linguística em nosso país é realmente
surpreendente e merece ser explorada como um ponto positivo, principalmente quando
analisamos as particularidades e as construções que são criadas a partir das variações. Quero,
então, que prestemos atenção em alguns elementos bastante interessantes com relação aos
regionalismos.
Quero destacar, antes de entrarmos nas exemplificações, que mesmo dentro de uma
cidade, principalmente dentre as maiores, temos muitas construções que variam de bairro a
bairro, fato explicado pelas chamadas comunidades de fala. Essas comunidades são grupos
menores dentro de uma região e que acabam por se comunicar de forma particularizada, com
influências distintas e importantes para a da cidade. Em nossa aula em vídeo, abordo melhor
essa diferença.

Léxico
Como dito anteriormente, essa é uma das mais importantes e visíveis diferenças entre
os falares das muitas regiões do país. São as palavras que se apresentam diferentes em cada
região, como sinônimos das utilizadas em outras regiões. Dê uma olhada em alguns exemplos
desse tipo de mudança.

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Esses são alguns exemplos de variação lexical regional. Claro que temos mil outras
formas, que caberiam em um dicionário. Inclusive, há diversas publicações que trazem, por
exemplo, o léxico mineiro ou o léxico caipira para a diversão e o conhecimento dos leitores.
Por isso, só trouxemos alguns exemplos a vocês.

Sintaxe
Uma das variações regionais mais interessantes é a variação sintática. Temos, por
exemplo, o uso variante, em poucos lugares, do pronome “tu”, em lugar de “você”, que criou
um dos mitos mais combatidos na linguística; plurais específicos de Minas Gerais; construções
de concordância que, muitas vezes são colocadas como sociais, mas que são marcadamente
regionais, entre outros. Vejamos alguns exemplos.

As variações sintáticas com relação à sintaxe são, muitas vezes, menos notadas por nós, mas
existem e compõem a riqueza linguística das regiões.

Por exemplo, no Maranhão e no Pará, temos ainda o uso da segunda pessoa canônica, o tu,
com o verbo conjugado na segunda pessoa, na maior parte do tempo.

Ainda no Maranhão, é interessante notar que a maior parte das pessoas não utiliza artigos
diante dos nomes próprios, como em “Vou à casa de Maria” e não “Vou na casa da Maria”,
como é mais comum nos demais lugares.

No Rio Grande do Sul e em alguns lugares de Santa Catarina, utiliza-se a segunda pessoa, o
tu, como no Pará e no Maranhão, mas sem que tenhamos a conjugação do verbo na
segunda pessoa, mas na terceira, como em “Tu vai sair hoje, Piá?”

Alguns estudiosos apontam para a “morte” do plural canônico em São Paulo, principalmente
na capital, como em construções “Os mano foram ao jogo do Coringão”.

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Como destacamos, algumas dessas mudanças são entendidas por algumas pessoas
como uma marcação de variação social ou de escolaridade, como veremos mais à frente.
Contudo, por serem marcas extremamente fortes de determinadas regiões, podem ser
compreendidas a partir dessa construção regionalizada mesmo.

Fonética
Uma de minhas variações regionais preferidas para exemplificação da amplidão desse
fenômeno é a diferença fonética de algumas pronúncias, principalmente entre alguns estados
do Nordeste e, por exemplo, a pronúncia de Brasília. Não estou me referindo, claro, aos
sotaques, porque eles não entram como noção de variação linguística. Me refiro, por exemplo,
à pronúncia do /d/ e do /t/ em ambientes que vêm seguidos de /i/.
Para que vocês percebam isso, preciso que assistam à videoaula, onde eu apresento a
diferença de pronúncia. Você vai ver que realmente há variação.
Vamos ver alguns exemplos a mais da variação regional, além de uma parte teórica de
Ataliba Castilho, um dos maiores linguistas brasileiros de todos os tempos.

A famosa polêmica do biscoito X bolacha está ligada às variações regionais.

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Falantes do Português Brasileiro (PB), como de qualquer outra língua natural, procedem
de determinado espaço geográfico. Há uma correlação entre a região de origem dos falantes
e as marcas específicas que eles vão deixando em sua produção linguística. Portugueses e
brasileiros não falam do mesmo jeito. Brasileiros do Norte, do Nordeste, do Sudeste, do Centro-
Oeste e do Sul tampouco falam exatamente do mesmo jeito. Uma língua natural conterá,
portanto, diferentes dialetos, relacionados ao espaço geográfico que ele ocupa.
De todas as variedades do português, a variedade geográfica é a mais perceptível.
Quando começamos a conversar com alguém, logo percebemos se ele é ou não originário de
nossa região. Em Portugal e no Brasil, as diferenças assim notadas não dificultam a
intercompreensão, como ocorre em outros países europeus (CASTILHO, 2019, p. 198, grifos
meus).

Veja um exemplo de uso poético da variação regional:

“Que importa que uns falem mole descansado


Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?
Que tem si o quinhentos-réis meridional
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
Juntos formamos este assombro de misérias e grandezas,
Brasil, nome de vegetal!...”
Fragmento de Noturno de Belo Horizonte, de Mário de Andrade

3.3 Variação social ou diastrática


A variação social ou diastrática abarca uma série de elementos relacionados ao falante
com relação à sua “existência como ser social”, ou seja, leva em consideração uma série de
elementos, todos claramente ligados à sua definição social. Assim, consideramos as seguintes
características dos falantes para analisarmos esse tipo de variação: escolaridade, gênero,
idade, posição social, entre outras possibilidades. A seguir falaremos um pouco sobre cada
uma dessas possibilidades de construção.

Escolaridade
Essa é, sem dúvida, a característica mais considerada na hora da construção de
questões que trabalham com variação linguística. Como no país temos uma relação bastante
ampla entre qualidade de ensino e posição social, a escolaridade depende, claramente, de
relação com a posição social e econômica do falante. Nesse tipo de variante, encontramos as
incorreções da língua, quando considerada a norma culta. Dessa forma, construções como as
encontradas nas músicas a seguir são consideradas como exemplo desse tipo de variação.

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Ai se sêsse
Se um dia nóis se gostasse
Se um dia nóis se queresse
Se nóis dois se empareasse
Se juntin' nóis dois vivesse
Se juntin' nóis dois morasse
Se juntin' nóis dois drumisse
Se juntin' nóis dois morresse
Se pro céu nóis assubisse

Mas porém se acontecesse de São Pedro não abrisse


A porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvéz que nois dois ficasse
Tarvéz que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse
(Zé da Luz, musicada pelo Cordel do Fogo Encantado)

Zaluzejo
Pigilógico, tauba, cera lítica, sucritcho
Graxite, vrido, zaluzejo
Eu sou uma pessoa muito divertida

Tomar banho depois que passar roupa mata


Olhar no espelho depois que almoça entorta a boca
E o rádio diz que vai cair avião do céu
Senhora descasada namorando firme pra poder casar de véu
(...)
Quando for fazer compras no gadefour
Omovedor ajactu, sucritcho, leite dilatado, leite intregal
Pra chegar na bioténica, rua de parelepídico
Pra ligar da doroviária, telefone cedular
(...)
Quando fizer calor e quiser ir pra praia de cararatatuba
Cuidado com o carejangrejo
Tem que tá esbeldi, não pode comer pitz, pra tirar mau hálito
Toma água do chuveiro
No salão de noite, tem coisa que não sei
Mulé com mulé é lésba e homi com homi é gay
Mas dizem que quem beija os dois é bixcional
Só não pode falar nada
Quando é baile de carnaval
(Fernando Anitelli. O Teatro Mágico)

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Nesses dois exemplos, os meus preferidos sempre, encontramos variações de


construção que são usualmente ligadas à ideia de escolaridade. Contudo, não se esqueça que
de que esse tipo de variação é, antes de tudo, uma construção de variante social. Atente-se a
isso. Claro que, principalmente na música d’O Cordel, temos ainda uma influência severa
quanto ao regionalismo, mesclando as duas formas de variação.

Gênero
Essa é uma das variantes que têm sido mais estudadas nos últimos tempos. Em
momentos em que as relações de gênero são constantemente analisadas, temos uma
construção interessante nos estudos, que apontam para a ideia de que há diferença clara
quanto às expectativas e recepção do uso da linguagem por parte de homens e mulheres.
Hoje, acredita-se que há uma recepção muito direcionada pelo gênero do falante. Isso
se dá, por exemplo, por meio da análise de determinadas situações, como quando ouvimos
uma menina (ou mesmo uma mulher) falando palavras menos agradáveis e os mais velhos
fazem aquele comentário: isso é coisa de uma menina dizer? Claro que essas palavras são
normalmente malvistas na sociedade, mas a repreensão não é a mesma quando ditas por um
menino ou por uma menina. Pense aí e tente se lembrar desse tipo de repreensão.

Idade
Essa é uma das variantes mais legais que temos, principalmente porque se aproxima, e
muito, da ideia de gírias, inclusive quase sempre sendo pensada a partir dessas construções.
Contudo, aqui é necessário pensarmos um detalhe: não são só as gírias que entram como
modificação etária, mas alguns elementos morfológicos, como os pronomes pessoais do caso
reto. Além disso, nem toda gíria é necessariamente uma utilização etária, dado que pode ser
situacional, como as gírias internéticas. Vejamos exemplos da variação etária.

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É claro que, para muitos de nós, há uma mescla que dependerá do momento de
utilização da linguagem. Contudo, os estudiosos da sociolinguística apontam, agora, que essa
é uma modificação que se encaixa tanto na análise diacrônica quanto na análise geracional,
dado que é muito produtiva atualmente.

Posição social
Nesse tipo de variação, temos uma relação interessante com o uso da linguagem como
forma de marcação social. É muito comum, por exemplo, que em momentos mais “tensos”, o
nível de linguagem se modifique, “cresça”, por assim dizer. Ou seja, é comum que as pessoas
passem a falar de forma mais “difícil” quando temos um problema a resolver.
Essa é uma situação comum, por exemplo, em momentos em que tentamos resolver
problemas com operadoras de celular ou coisas do tipo. Conforme as coisas não são
resolvidas, vamos aumentando nosso nível de linguagem, como que para mostrar que temos
uma posição social de maior destaque. Além disso, muitos dizem que a linguagem
“empolada” dos advogados serve para esse fim também: mostrar que estão em uma posição
social diferenciada.
Vejamos mais um exemplo de variação social:

“Pisou na bola,
Conversa fiada malandragem.
Mala sem alça é o couro,
Tá de sacanagem.

Tá trincado é aquilo,
Se toca vacilão.
Tá de bom tamanho,
Otário fanfarrão.”
Fragmento de A gíria é a cultura do povo, de Bezerra da Silva

3.4 Variação situacional, diafásica ou estilística


As variações situacionais são aquelas que ocorrem a depender do contexto em que
decorre o processo comunicativo. Há situações em que se deve utilizar um registro formal e
outros em que é a preferência é para o registro informal.
Veja um exemplo de uso poético da variação situacional:

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Quadrinho do de Fernando Gonsales. Fonte: Mundo Letras

Nesse tipo de variação, encontramos, ainda, as gírias de internet, muito ligadas à idade
do falante, claro, mas que são utilizadas em contextos específicos. É comum, por exemplo,
que sejam utilizadas pelos mais jovens na internet, enquanto os mais velhos ainda mantêm um
uso mais próximo do tradicional, por assim dizer.
É, inclusive, muito comum o mito de que as pessoas escreveriam redações da mesma
forma que escrevem na internet, o que não se provou verdadeiro, dado que temos muito
poucas influências de uma parte da escrita, a internética, na outra. Parece-nos que se prova a
teoria de que o falante é plenamente capaz de selecionar, ainda que sem perceber, o tipo de
linguagem mais adequada a um determinado momento. Vejamos, então, alguns exemplos de
gírias na linguagem internética.

Gírias mais usadas na internet


Biscoiteiro Pessoa que faz de tudo para chamar a atenção na internet, seja com fotos ou
postagens.
Ex.: Você viu a foto que ele postou, que biscoiteiro?
Crush Pessoa por quem se sente algum tipo de atração, frequentemente platônica.
Ex.: Poxa, crush, por que não me nota?
Dar ruim Quando algo sai fora do planejado ou dá errado.
Ex.: Se a gente não estudar, vai dar ruim no vestibular.
Fada sensata Usada quando se quer elogiar alguém por ter dito algo correto.
Ex.: Disse tudo, fada sensata.
Lacrar Quando alguém “manda muito bem” em alguma situação. Usado frequentemente
como elogio.
Ex.: Você lacrou na resposta.
Miga Uma abreviação de amiga, que pode ser utilizada mesmo entre pessoas
desconhecidas. Admite variação de gênero para “migo”.
Ex.: Miga, vamos no cinema hoje?
Ranço Gíria usada para descrever o sentimento de desprezo ou raiva por algo ou alguém.
Ex.: Peguei ranço dele depois daquele dia.
Shippar Quando se deseja a união de duas pessoas, tanto da ficção quanto da vida real.
Ex.: Eu shippo muito vocês dois.

Nesse contexto, ainda temos a possibilidade de pensar em uso profissional da


linguagem, claramente um uso muito regular dentro dessa variação.
Ufa! Vamos em frente que ainda temos muito a discutir e treinar. Bora que só bora!

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

O preconceito contra alguém por conta do seu modo de falar é


conhecido como preconceito linguístico. Esse é um assunto que tem
sido bastante abordado pelos vestibulares. Quando essa expressão
aparecer em algum texto, saiba identificá-la! Um dos principais teóricos
do assunto é Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília (UnB)
especializado no que falamos lá em cima, a sociolinguística. Ele é esse
senhor aí logo ao lado, dono de um dos conhecimentos sobre a norma
culta mais sensacionais com os quais já mantive contato e, por isso, tão
habilitado para entender os demais usos da língua.
O preconceito, seja ele de que natureza for, é uma crença pessoal, uma postura
individual diante do outro. Qualquer pessoa pode achar que um modo de falar é mais bonito,
mais feio, mais elegante, mais rude do que outro. No entanto, quando essa postura se
transforma em atitude, ela se torna discriminação. É um grande erro, inclusive conceitual,
dizer que uma pessoa sabe falar melhor do que a outra. O que podemos ter, devido às
diferenças entre as pessoas, é o maior domínio, por exemplo, da variante culta da língua, fato
que não faz com que ninguém seja melhor falante do que o outro. É absurdo pensar que
teremos um falante mais competente do que o outro somente pela construção de
conhecimento formal que esse falante tem. Os falantes nativos são todos, como vimos,
competentes para a língua portuguesa.
No caso da língua, é imprescindível receber uma educação linguística crítica e bem-
informada, na qual se mostre que todos os seres humanos são dotados das mesmíssimas
capacidades cognitivas e que todas as línguas e variedades linguísticas são instrumentos
perfeitos para dar conta de expressar e construir a experiência humana neste mundo. Aqui,
faz-se importante uma esclarecimento: o preconceito linguístico que nos importe, como
conteúdo, é aquele que existe entre as pessoas com relação às variantes de uma mesma
língua, não aquele que existe contra falantes de outra língua.
Veja este trecho adaptado da obra de Bagno sobre preconceito linguístico:

PRECONCEITO LINGUÍSTICO
O preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no
curso da história, entre língua e Gramática Normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer
essa confusão. Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido,
um mapa-múndi não é o mundo... Também a gramática não é a língua. Enquanto a língua é
um rio longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática é apenas uma grande
poça parada, um terreno alagadiço, à margem da língua.
Ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola
tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos, negando
o caráter multilíngue de nosso país. O fato é que não existe nenhuma língua no mundo que
seja “una”, uniforme e homogênea.
Qualquer manifestação linguística que escape do triângulo escola-gramática-dicionário
é considerada, pela ótica do preconceito linguístico, errada, feia, estropiada, rudimentar,
deficiente, e não é raro a gente ouvir que “isso não é português”. As formas prestigiadas de

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

uso da língua estão tradicionalmente muito vinculadas à escrita literária, à língua escrita de
modo geral.
Porém, não existe nenhuma variedade nacional, regional ou social que seja
intrinsecamente “melhor”, “mais pura”, “mais bonita”, “mais correta” que outra. Toda variedade
linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam.
A Gramática Normativa tenta nos mostrar a língua como um pacote fechado, um
embrulho pronto e acabado. Mas não é assim. A língua é viva, dinâmica, está em constante
movimento – toda língua viva é uma língua em decomposição e em recomposição em
permanente transformação. É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a
ortografia oficial, mas não se pode fazer isso reprovando como “erradas” as pronúncias que
são resultado da história social e cultural das pessoas que fazem a língua em cada canto do
Brasil.
Fonte: BAGNO, 2009 (adaptado).

O preconceito é uma das formas mais comuns de cobrança da variação em questões


como as do ENEM, por exemplo. Fiquem atentos e detonem nessas respostas.

Um dos conteúdos mais cobrados de forma geral nos vestibulares e no ENEM é a


relação entre a variante culta e a variante entendida como popular, ou seja, as diferenças de
um uso mais despretensioso da língua versus um uso mais culto dessa língua. Antes de tudo,
é interessante que pensemos que não temos, de forma alguma, erro ao utilizarmos
determinada variante, que deverá, na realidade, estar condizente com o contexto de uso
indicado. Vamos, a seguir, indicar as características de cada uma delas, para que você possa
se “divertir” nas construções por aí.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Perceba que, para essa seção, preferimos a construção com nomenclatura mais próxima
à da sociolinguística, tratando, inclusive, a norma culta como uma variante da língua e não
como uma ideia de superioridade. Do quadro apresentado, sempre gosto de destacar que
temos uma noção clara de variante de prestígio. Essa é a definição que a norma culta recebe
dentro dos estudos sociais da linguagem, dado que há realmente um prestígio maior nesse
tipo de construção, quando a comparamos às demais formas de variação, quase sempre
tratadas com preconceito ou ironia por muitos falantes.

Agora é a hora de vocês treinarem um pouco para sabermos como foi a fixação desse
conteúdo tão importante.
Se jogue, bola de fogo!

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01. (ENEM – 2ª aplicação/2019)


Prezada senhorita,
Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de acordo com o que foi conversado
com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes, estabelecido à Rua
da Praia, número 632, dar por encerrados nossos entendimentos de noivado. Como passei
a ser o contabilista-chefe dos Armazéns Penalva, conceituada firma desta praça, não me
restará, em face dos novos e pesados encargos, tempo útil para os deveres conjugais.
Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da mancebia, como vinha
fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade
presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem
assim como representantes da Associação dos Varejistas e da Sociedade Cultural e
Recreativa José de Alencar. Sem mais, creia-me de V. S. patrício e admirador, Sabugosa de
Castro
CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu Bergatim não atravessou o Rubicon. Rio de
Janeiro: José Olympio, 1971.

A exploração da variação linguística é um elemento que pode provocar situações cômicas.


Nesse texto, o tom de humor decorre da incompatibilidade entre
(A) o objetivo de informar e a escolha do gênero textual.
(B) a linguagem empregada e os papéis sociais dos interlocutores.
(C) o emprego de expressões antigas e a temática desenvolvida no texto.
(D) as formas de tratamento utilizadas e as exigências estruturais da carta.
(E) o rigor quanto aos aspectos formais do texto e a profissão do remetente.

02. (ENEM – 2ª aplicação/2019)


É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e
entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a
identificação e a diferenciação de cada comunidade e também a inserção do indivíduo em
diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. A
fala tem, assim, um caráter emblemático, que indica se o falante é brasileiro ou português,
francês ou italiano, alemão ou holandês, americano ou inglês, e, mais ainda, sendo

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brasileiro, se é nordestino, sulista ou carioca. A linguagem também oferece pistas que


permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso
primário, universitário ou se é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o
indivíduo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou
social e seu grau de instrução, é frequentemente usado para discriminar e estigmatizar o
falante.
LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

Nesse texto acadêmico, as autoras fazem uso da linguagem formal para


(A) estabelecer proximidade com o leitor.
(B) atingir pessoas de vários níveis sociais.
(C) atender às características do público leitor.
(D) caracterizar os diferentes falares brasileiros.
(E) atrair leitores de outras áreas do conhecimento.

03. (ENEM – 2ª aplicação/2019)

VERISSIMO, L. F. As cobras em: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 2000.

No que diz respeito ao uso de recursos expressivos em diferentes linguagens, o cartum


produz humor brincando com a
(A) caracterização da linguagem utilizada em uma esfera de comunicação específica.
(B) deterioração do conhecimento científico na sociedade contemporânea.
(C) impossibilidade de duas cobras conversarem sobre o universo.
(D) dificuldade inerente aos textos produzidos por cientistas.
(E) complexidade da reflexão presente no diálogo.

04. (ENEM – 2ª aplicação/2019)


Alegria, alegria
Que maravilhoso país o nosso, onde se pode contratar quarenta músicos para tocar um
uníssono. (Mile Davis, durante uma gravação)

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antes havia orlando silva & flauta, e até mesmo no meio do meio-dia. antes havia os prados
e os bosques na gravura dos meus olhos. antes de ontem o céu estava muito azul e eu & ela
passamos por baixo desse céu. ao mesmo tempo, com medo dos cachorros e sem muita
pressa de chegar do lado de lá.
Do lado de cá não resta quase ninguém. apenas os sapatos polidos refletem os
automóveis que, por sua vez, polidos, refletem os sapatos...
VELOSO, C. Seleção de textos. São Paulo: Abril Educação, 1981.

Quanto ao seu aspecto formal, a escrita do texto de Caetano Veloso apresenta um(a)
(A) escolha lexical permeada por estrangeirismos e neologismos.
(B) regra típica da escrita contemporânea comum em textos da internet.
(C) padrão inusitado, com um registro próprio, decorrente da criação poética.
(D) nova sintaxe, identificada por uma reorganização da articulação entre as frases.
(E) emprego inadequado da norma-padrão, gerador de incompreensão comunicativa.

05. (ENEM/2018)
Uma língua, múltiplos falares
Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos. Mesmo antes
da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era multilíngue. Havia cerca de 1,2
mil línguas faladas pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador tampouco
era uma língua homogênea, havia variações dependendo da região de Portugal de onde
ele vinha. Há de se considerar também que a chegada de falantes de português acontece
em diferentes etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por
exemplo, temos primeiramente o encontro linguístico de portugueses com índios e, além
dos negros da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas.
“Todo este processo vai produzindo diversidades linguísticas que caracterizam falares
diferentes”, afirma um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se
encontrar modos de falar distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas
composições o sotaque típico de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre
retroflexo, aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar
“cairne” e “poirta” característico do interior de São Paulo.
MARIUZZO, P. Disponível em:
www.labjor.unicamp.br. Acesso
em: 30 jul. 2012 (adaptado).

A partir desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil, um dos elementos de


identidade nacional, entende-se que a diversidade linguística é resultado da
(A) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas.
(B) interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes.
(C) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e indígenas.
(D) heterogeneidade da língua trazida pelo colonizador.

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(E) preservação dos sotaques característicos dos imigrantes.

06. (ENEM/2018)
O tradicional ornato para cabelos, a tiara ou diadema, já foi uma exclusividade feminina.
Na origem, tanto “tiara” quanto “diadema” eram palavras de bom berço. “Tiara” nomeava o
adorno que era o signo de poder entre os poderosos da Pérsia antiga e povos como os
frísios, os bizantinos e os etíopes. A palavra foi incorporada do Oriente pela Grécia e chegou
até nós por via latina, para quem queria referir-se à mitra usada pelos persas. Diadema era
a faixa ou tira de linho fino colocado na cabeça pelos antigos latinos, herança do derivado
grego para diádo (atar em volta, segundo o Houaiss). No Brasil, a forma de arco ou de laço
das tiaras e alguns usos específicos (o nordestino “gigolete” faz alusão ao ornato usado por
cafetinas, versões femininas do “gigolô”) produziram novos sinônimos regionais do objeto.
Os sinônimos da tiara.
Língua Portuguesa, n.
23, 2007 (adaptado).

No texto, relata-se que o nome de um enfeite para cabelo assumiu diferentes


denominações ao longo da história. Essa variação justifica-se pelo(a)
(A) distanciamento de sentidos mais antigos.
(B) registro de fatos históricos ocorridos em uma dada época.
(C) associação a questões religiosas específicas de uma sociedade.
(D) tempo de uso em uma comunidade linguística.
(E) utilização do objeto por um grupo social.

07. (ENEM/2018)
“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis
Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade

“Nhaí, amapô! não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu
picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de
pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.
Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado
afirma: É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma,
com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que
ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet,
tem até dicionário...”, comenta.
O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada, lançado no
ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1 300
verbetes revelando o significado das palavras do pajubá.

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Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente
uma relação ente o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do
Brasil colonial.
Disponível em: www.midiamax.com.br.
Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado).

Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como


elemento de patrimônio linguístico, especialmente por
(A) ter mais de mil palavras conhecidas.
(B) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.
(C) ser consolidado por objetos formais de registro.
(D) ser utilizado por advogados em situações formais.
(E) ser comum em conversas no ambiente de trabalho.

08. (ENEM/2017)
Pode um idioma considerado extinto e pouco documentado
ser novamente parte ativa do patrimônio linguístico?
A melhor maneira de saber como ocorre uma revitalização linguística é examinando um
marco na luta indígena: a recuperação da língua pataxó. Eni Orlandi, da Universidade
Estadual de Campinas, esteve na equipe que coletou e analisou evidências linguísticas que
ajudaram a reconstituir a variante do pataxó falada mais ao norte da região de Porto Seguro
(BA), a hãhãhãe.
“Os pataxós viveram perseguições e movimentos de dispersão. A partir dos anos 1980,
entretanto, conseguiram criar um espaço em que reivindicaram seu direito ao território
tradicional que haviam perdido. Outras perdas acompanharam essa. Entre os bens
perdidos, estava a língua. A posse da língua significa para eles o seu desejo de ser índio,
em um momento de ameaça de extermínio”, diz a pesquisadora. “A pesquisa foi feita em
condições difíceis: uma só informante, Baheta, muito idosa, sem interlocutores reais (só os
da memória, imaginados), e experimentando dificuldades de lembrar; em condições de
guerra à sua cultura; uma parte da identidade estigmatizada, já voltada ao esquecimento”,
diz Orlandi no livro Terra à vista. Graças às reminiscências de Baheta, foram coletados dados
suficientes para comparar as listas de palavras que já se possuía e estabelecer paralelos
com línguas próximas.
Disponível em: http://revistalingua.uol.
com.br. Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado).

O processo de busca de dados sobre a língua pataxó evidencia a importância da pesquisa


voltada para a
(A) reconstituição da língua de um povo, por meio de dados históricos.
(B) preservação da cultura de um povo, por meio do resgate de sua história oral.
(C) comparação de línguas consideradas “mortas”, por meio de registros escritos.

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(D) catalogação do léxico de uma língua, por meio da recuperação de documentos.


(E) valorização dos povos indígenas, por meio da tentativa de unificação de línguas
próximas.

09. (ENEM/2017)
Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não
compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro, além
disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela primeira vez, mais do que uma por
dia e, por isso, logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia eram uma espécie
de tontura, mas o Ilídio era forte.
Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra. O Ilídio
não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava ocupado a contar uma história
a um guarda-chuva, não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia os piores
momentos para chamá-lo, ele podia estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se
e, depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais
tarde, em casa, dizia que as pessoas da vila nunca tinham visto um menino tão velhaco. O
Ilídio ficava enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila, diziam ah,
reguila de má raça. Com essa memória, recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco.
Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.
PEIXOTO, J. L. Livro. São
Paulo: Cia. das Letras, 2012.

No texto, observa-se o uso característico do português de Portugal, marcadamente


diferente do uso do português do Brasil. O trecho que confirma essa afirmação é:
(A) “Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não
compreendia e esmoreceu.”
(B) “Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era
forte.”
(C) “Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.”
(D) “Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra.”
(E) “O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra.”

10. (ENEM/2017)
A língua tupi no Brasil
Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase
sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam
o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses,
implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”,
pois “aquela gente não se explica em outro idioma”.
Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou
no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios.


Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos
Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo
bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa
gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba
(lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua.
“Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o
historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso
mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de
outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma
espécie de tupi facilitado.
ÂNGELO. C. Disponível em:
http://super.abril.com.br.
Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado).

O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao papel


do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena
(A) contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos
dos lugares designados.
(B) originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical
também está a fala de variadas etnias indígenas.
(C) desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses,
vindos de Lisboa.
(D) misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros
nas investidas contra o Quilombo dos Palmares.
(E) expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram
a língua dos bandeirantes paulistas.

11. (ENEM – 2ª aplicação/2017)


Querido Sr. Clemens,
Sei que o ofendi porque sua carta, não datada de outro dia, mas que parece ter sido
escrita em 5 de julho, foi muito abrupta; eu a li e reli com os olhos turvos de lágrimas. Não
usarei meu maravilhoso broche de peixe-anjo se o senhor não quiser; devolverei ao senhor,
se assim me for pedido...
OATES, J. C. Descanse em paz. São Paulo: Leya, 2008.

Nesse fragmento de carta pessoal, quanto à sequenciação dos eventos, reconhece-se a


norma-padrão pelo(a)
(A) colocação pronominal em próclise.
(B) uso recorrente de marcas de negação.
(C) emprego adequado dos tempos verbais.

AULA 03 – Variação Linguística 28


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(D) preferência por arcaísmos, como “abrupta” e “turvo”.


(E) presença de qualificadores, como “maravilhoso” e “peixe-anjo”.

12. (ENEM – 2ª aplicação/2017)


Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o de não entender nadinha do que
vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me
punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser
recanteado e meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, tinha ladineza
e entendimento. Na rua e na escola — nada; era completamente afrásico. As pessoas eram
bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo.
Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas descencei e perdi a influência
de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me passava e das lições marcadas
nos livros, fiquei sendo uma quarta-feira de marca maior. Alívio bom era quando chegava
em casa.
BERNARDES, C. Rememórias dois. Goiânia: Leal, 1969.

O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e utiliza construções
linguísticas próprias de determinada região, constatadas pelo
(A) registro de palavras como “estranheza” e “cegava”.
(B) emprego de regência não padrão em “chegar em casa”.
(C) uso de dupla negação em “não entender nadinha”.
(D) emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”.
(E) uso do substantivo “bichos” para retomar “pessoas”.

13. (ENEM – 2ª aplicação/2017 – Libras)


Yeda Pessoa de Castro — Durante três séculos, a maior parte dos habitantes do Brasil
falava línguas africanas, sobretudo línguas angolanas, e as falas dessas regiões
prevaleceram sobre o português. Antes se ignorava essa participação, se dizia que o
português do Brasil ficou assim falado devido ao isolamento, à predominância cultural e
literária do português de Portugal sobre os falantes negros africanos analfabetos. Eles
realmente não sabiam ler ou escrever português, mas essas teorias eram baseadas em
fatores extralinguísticos. Eu introduzi nessa discussão a prevalência e a participação dos
falantes africanos, sobretudo das línguas níger-congo, que são cerca de 1530 línguas. As
mais faladas no Brasil foram as do Golfo do Benim e da região banto, sobretudo do Congo
e de Angola.
SCARRONE, M. Por que a participação da família africana (de línguas) é tão
importante? Disponível em: www.revistadehistoria.com.br. Acesso em: 8 jun. 2015.

A importância das pesquisas linguísticas sobre a constituição do português do Brasil fica


evidenciada nesse texto, porque registra a
(A) importância de aspectos extralinguísticos na formação da língua.

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ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(B) proximidade entre aspectos da língua portuguesa e de línguas africanas.


(C) participação dos falares africanos na formação do português brasileiro.
(D) predominância dos falantes africanos em território brasileiro.
(E) supremacia do português de Portugal sobre os falares africanos.

14. (ENEM/2016)
O mistério do brega
Famoso no seu tempo, o marechal Schönberg (1615-90) ditava a moda em Lisboa, onde
seu nome foi aportuguesado para Chumbergas. Consta que ele foi responsável pela
popularização dos vastos bigodes tufados na Metrópole. Entre os adeptos estaria o
governador da província de Pernambuco, o português Jerônimo de Mendonça Furtado,
que, por isso, aqui ganhou o apelido de Chumbregas – variante do aportuguesado
Chumbergas. Talvez por ser um homem não muito benquisto na Colônia, o apelido deu
origem ao adjetivo xumbrega: “coisa ruim”, “ordinária”. E talvez por ser um homem também
da folia, surgiu o verbo xumbregar, que inicialmente teve o sentido se “embriagar-se” e
depois veio a adquirir o de “bolinar”, “garanhar”. Dedução lógica: de coisa ruim a bebedeira
e atos libidinosos, as palavras xumbrega ou xumbregar chegaram aos anos 60 do século XX
na forma reduzida brega, designando locais onde se bebe, se bolina e se ouvem cantores
cafonas. E o que inicialmente era substantivo, “música de brega”, acabou virando adjetivo,
“música brega” – numa já distante referência a um certo marechal alemão chamado
Schönberg.
ARAUJO, P. C. Revista USP, n. 87, nov. 2010 (adaptado)

O texto trata das mudanças linguísticas que resultaram na palavra “brega”. Ao apresentar
as situações cotidianas que favoreceram as reinterpretações do seu sentido original, o autor
mostra a importância da
(A) interpretação oral como um dos agentes responsáveis pela transformação do léxico
do português.
(B) compreensão limitada de sons e de palavras para a criação de novas palavras em
português.
(C) eleições de palavras frequentes e representativas na formação do léxico da língua
portuguesa.
(D) interferência da documentação histórica na constituição do léxico.
(E) realização de ações de portugueses e de brasileiros a fim de padronizar as variedades
linguísticas lusitanas.

15. (ENEM/2016)
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.

AULA 03 – Variação Linguística 30


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.


EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo
aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais.
E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco
atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um
cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado.
Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.
SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).

Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui
para
(A) marcar a classe social das personagens.
(B) caracterizar usos linguísticos de uma região.
(C) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
(D) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
(E) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.

16. (ENEM/2016)
Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem
Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções Cariocas
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção
do carioca, como também o ‘vacilão’.”
“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um
amigo pode até doer um pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.”
“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”
“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho inventado pelo carioca
para tratar bem quem ainda não se conhece direito.”
“O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”
SANTOS, J. F. Disponível em: www.oglobo.globo.com.
Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).

Entre as sugestões apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o


variado repertório linguístico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes situações
específicas de uso social. A respeito desse repertório, atesta-se o(a)
(A) desobediência à norma-padrão, requerida em ambientes urbanos.
(B) inadequação linguística das expressões cariocas às situações sociais apresentadas.

AULA 03 – Variação Linguística 31


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(C) reconhecimento da variação linguística, segundo o grau de escolaridade dos falantes.


(D) identificação de usos linguísticos próprios da tradição cultural carioca.
(E) variabilidade no linguajar carioca em razão da faixa etária dos falantes.

17. (ENEM – 2ª aplicação/2016)

A carta manifesta reconhecimento de uma empresa pelos serviços prestados pelos


consultores da PC Speed. Nesse contexto, o uso da norma-padrão
(A) constitui uma exigência restrita ao universo financeiro e é substituível por linguagem
informal.
(B) revela um exagero por parte do remetente e torna o texto rebuscado linguisticamente.
(C) expressa o formalismo próprio do gênero e atribui profissionalismo à relação
comunicativa.
(D) torna o texto de difícil leitura e atrapalha a compreensão das intenções do remetente.
(E) sugere elevado nível de escolaridade do diretor e realça seus atributos intelectuais.

18. (ENEM – 2ª aplicação/2016)


Como escrever na internet
Regra 1 – Fale, não GRITE!
Combine letras maiúsculas e minúsculas, da mesma forma que na escrita comum. Cartas
em papel não são escritas somente com letras maiúsculas; na internet, escrever em
maiúsculas é o mesmo que gritar! Para enfatizar frases e palavras, use os recursos de
_sublinhar_ (colocando palavras ou frases entre sublinhados) e *grifar* (palavras ou frases
entre asteriscos). Frases em maiúsculas são aceitáveis em títulos e ênfases ou avisos
urgentes.

AULA 03 – Variação Linguística 32


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Regra 2 – Sorria :-) pisque ;-) chore &-( ...


Os emoticons (ou smileys) são ícones formados por parênteses, pontos, vírgulas e
outros símbolos do teclado. Eles representam carinhas desenhadas na horizontal e
denotam emoções. É difícil descobrir quando uma pessoa está falando alguma coisa em
tom de brincadeira, se está realmente brava ou feliz, ou se está sendo irônica, em um
ambiente no qual só há texto; por isso, entram em cena os smileys. Comece a usá-los aos
poucos e, com o passar do tempo, estarão integrados naturalmente às suas conversas on-
line.
Disponível em: www.icmc.usp.br. Acesso em: 29 jul. 2013.

O texto traz exemplos de regras que podem evitar mal-entendidos em comunicações


eletrônicas, especialmente em e-mails e chats. Essas regras
(A) revelam códigos internacionalmente aceitos que devem ser seguidos pelos usuários da
internet.
(B) constituem um conjunto de normas ortográficas inclusas na escrita padrão da língua
portuguesa.
(C) representam uma forma complexa de comunicação, pois os caracteres são de difícil
compreensão.
(D) foram desenvolvidas para que usuários de países de línguas diferentes possam se
comunicar na web.
(E) refletem recomendações gerais sobre o uso dos recursos de comunicação facilitadores
da convivência na internet

19. (ENEM – 2ª aplicação/2016)


Noites do Bogart
O Xavier chegou com a namorada mas, prudentemente, não a levou para a mesa com
o grupo.
Abanou de longe. Na mesa, as opiniões se dividiam.
— Pouca vergonha.
— Deixa o Xavier.
— Podia ser a filha dele.
— Aliás, é colega da filha dele.
Na sua mesa, o Xavier pegara na mão da moça.
— Está gostando?
— Pô. Só.
— Chocante, né? — disse o Xavier. E depois ficou na dúvida. Ainda se dizia “chocante”?
Beberam em silêncio. E ele disse:
— Quer dançar?

AULA 03 – Variação Linguística 33


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

E ela disse, sem pensar:


— Depois, tio.
E ficaram em silêncio. Ela pensando “será que ele ouviu?”. E ele pensando “faço algum
comentário a respeito, ou deixo passar?”. Decidiu deixar passar. Mas, pelo resto da noite
aquele “tio” ficou em cima da mesa entre os dois, latejando como um sapo. Ele a levou em
casa. Depois voltou. Sentou com os amigos.
— Aí, Xavier. E a namorada?
Ele não respondeu.
VERISSIMO, L. F. O melhor das comédias da vida privada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

O efeito de humor no texto é produzido com o auxílio da quebra de convenções sociais de


uso da língua. Na interação entre o casal de namorados, isso é decorrente
(A) do registro inadequado para a interlocução em contexto romântico.
(B) da iniciativa em discutir formalmente a relação amorosa.
(C) das avaliações de escolhas lexicais pelos frequentadores do bar.
(D) das gírias distorcidas intencionalmente na fala do namorado.
(E) do uso de expressões populares nas investidas amorosas do homem.

20. (ENEM – 2ª aplicação/2016)


eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer...
né... que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno
no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe tinha
cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezessete e ele foi
obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava...
com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu
transferência prum local mais perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por
engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em
Mossoró que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco
do Brasil e:: ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram
onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo
relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito interessante porque foi
uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até
hoje estão juntos... dezessete anos de casados…
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus, discurso & gramática: a língua falada e escrita
na cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998.

Na produção dos textos, orais ou escritos, articulamos as informações por meio de relações
de sentido. No trecho de fala, a passagem “brigaram... é lógico... porque todo
relacionamento tem uma briga”, enuncia uma justificativa em que "brigaram" e "todo
relacionamento tem uma briga" são, respectivamente,
(A) causa e consequência.

AULA 03 – Variação Linguística 34


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(B) premissa e conclusão.


(C) meio e finalidade.
(D) exceção e regra.
(E) fato e generalização.

21. (ENEM – 2ª aplicação/2016)


O acervo do Museu da Língua Portuguesa é o nosso idioma, um “patrimônio imaterial”
que não pode ser, por isso, guardado e exposto em uma redoma de vidro. Assim, o museu,
dedicado à valorização e difusão da língua portuguesa, reconhecidamente importante para
a preservação de nossa identidade cultural, apresenta uma forma expositiva diferenciada
das demais instituições museológicas do país e do mundo, usando tecnologia de ponta e
recursos interativos para a apresentação de seus conteúdos.
Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br. Acesso em: 16 ago. 2012 (adaptado).

De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um “patrimônio imaterial”, pode
ser exposta em um museu. A relevância desse tipo de iniciativa está pautada no pressuposto
de que
(A) a língua é um importante instrumento de constituição social de seus usuários.
(B) o modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao grande público.
(C) a escola precisa de parceiros na tarefa de valorização da língua portuguesa.
(D) o contato do público com a norma-padrão solicita o uso de tecnologia de última
geração.
(E) as atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua melhoram com o uso de
recursos tecnológicos.

22. (ENEM – 3ª aplicação/2016)


Escrever
A estudante perguntou como era essa coisa de escrever.
Eu fiz o gênero fofo. Moleza, disse.

Primeiro evite esses coloquialismos de “fofo” e “moleza”, passe longe das gírias ainda
não dicionarizadas e de tudo mais que soe mais falar do que escrito. Isto aqui não é rádio
FM. De vez em quando, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote
do texto, mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor
pode se achar diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar
muito estranho, reescreva.
Quando quiser aplicar um “mas”, tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando
Pessoa, peça autorização ao sábio de plantão, e, por favor, volte atrás. É um cacoete
facilitador. Dele deve ter vindo a expressão “cheio de mas-mas”, ou seja, uma pessoa cheia

AULA 03 – Variação Linguística 35


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

de “não é bem assim”, uma chata que usa o truque para afirmar e depois, como se fosse
estilo, obtemperar.
SANTOS, J. F. O Globo. 10 jan. 2011 (adaptado).

A língua varia em função de diferentes fatores. Um deles é a situação em que se dá a


comunicação. Na crônica, ao ser interrogado sobre a arte de escrever, o autor utiliza, em
meio à linguagem escrita padrão, condizente com o contexto,
(A) definições teóricas, para permitir que seus conselhos sejam úteis aos futuros jornalistas.
(B) gírias não dicionarizadas, para imitar a linguagem de jovens de baixa escolaridade.
(C) palavras de uso coloquial, para estabelecer uma interação satisfatória com a
interlocutora.
(D) termos da linguagem jornalística, para causar boa impressão na jovem entrevistadora.
(E) vocabulário técnico, para ampliar o repertório linguístico dos jovens leitores do jornal.

23. (ENEM – 3ª aplicação/2016)

Um menino aprende a ler


Minha mãe sentava-se a coser e retinha-me de livro na mão, ao lado dela, ao pé da
máquina de costura. O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da
qual, em letras graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar “es-to-
ma-go”, pronunciei “estomágo”. Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que
li, camelo e dromedário. Mas estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita como só
pode ser mãe jovem para filho pequeno, o rosto alvíssimo, os cabelos enrolados no
pescoço, parou a costura e me fitou de fazer medo: “Gilberto!”. Estremeci. “Estomágo? Leia
de novo, soletre”. Soletrei, repeti: “Estomágo”. Foi o diabo.
Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago. A cozinheira, os
estribeiros, os criados, Bernada, diziam “estambo”. “Estou com uma dor na boca do
estambo…”, “Meu estambo está tinindo…”. Meus pais teriam pronunciado direito na minha
presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o povo, sempre que pode, repele
proparoxítono.
AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.

No trecho, em que o narrador relembra um episódio de sua infância, revela-se a


possibilidade de a língua se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a passagem
em que se constata uma marca de variedade linguística pouco prestigiada é:
(A) "O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras
graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO".
(B) "Gilberto!". Estremeci. "Estomágo? Leia de novo, soletre". Soletrei, repeti: "Estomágo".
(C) "Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário".
(D) "Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago".

AULA 03 – Variação Linguística 36


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(E) "A cozinheira, os estribeiros, os criados, Bernada, diziam 'estambo".

24. (ENEM – 3ª aplicação/2016)

No texto, a diversidade linguística é apresentada pela ótica de um observador que entra


em contato com uma comunidade linguística diferente da sua. Esse observador é um
(A) falante do português brasileiro relatando o seu contato na Europa com o português
lusitano.
(B) imigrante em Lisboa com domínio dos registros formal e informal do português
europeu.
(C) turista europeu com domínio de duas variedades do português em visita a Lisboa.
(D) português com domínio da variedade coloquial da língua falada no Brasil.
(E) poeta brasileiro defensor do uso padrão da língua falada em Portugal.

25. (ENEM – 3ª aplicação/2016)


o::... o Brasil... no meu ponto de vista... entendeu? o país só cresce através da educação...
entendeu? Eu penso assim... então quer dizer... você dando uma prioridade pra... pra
educação... a tendência é melhorar mais... entendeu? e as pessoas... como eu posso
explicar assim? as pessoas irem... tomando conhecimento mais das coisas... né? porque eu
acho que a pior coisa que tem é a pessoa alienada... né? a pessoa que não tem noção de
na::da... entendeu?
Trecho da fala de J. L, sexo masculino, 26 anos. In: VOTRE, S.; OLIVEIRA, M. R. (Coord.). A língua falada e
escrita na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: www.discursoegramatica.letras.ufrj.br. Acesso em: 4
dez. 2012.

A língua falada caracteriza-se por hesitações, pausas e outras peculiaridades. As


ocorrências de “entendeu” e “né”, na fala de J. L., indicam que

AULA 03 – Variação Linguística 37


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(A) a modalidade oral apresenta poucos recursos comunicativos, se comparada à


modalidade escrita.
(B) a língua falada é marcada por palavras dispensáveis e irrelevantes para o
estabelecimento da interação.
(C) o enunciador procura interpelar o seu interlocutor para manter o fluxo comunicativo.
(D) o tema tratado no texto tem alto grau de complexidade e é desconhecido do
entrevistador.
(E) o falante manifesta insegurança ao abordar o assunto devido ao gênero ser uma
entrevista.

26. (ENEM – 2ª aplicação/2015)


E: Diva … tem algumas … alguma experiência pessoal que você passou e que você poderia
me contar … alguma coisa que marcou você? Uma experiência … você poderia Contar
agora …
I: É … tem uma que eu vivi quando eu estudava o Terceiro ano científico lá no Atheneu…
né.. é:: eu gostava muito do laboratório de química … eu … eu ia ajudar os professores a
limpar aquele material todo … aqueles vidros … eu achava aquilo fantástico … aquele
monte de coisa … né … então … todos os dias eu ia … quando terminavam as aulas eu
ajudava o professor a limpar o laboratório … nesse dia não houve aula e o professor me
chamou pra fazer uma limpeza geral no laboratório … chegando lá … ele me fez uma
experiência … ele me mostrou uma coisa bem interessante que … pegou um béquer com
meio d’água e colocou um pouquinho de cloreto de sódio pastoso… então foi aquele
fogaréu desfilando… aquele fogaréu … quando o professor saiu … eu chamei umas duas
colegas minhas pra mostrar a experiência que eu tinha achado fantástico … só que … eu
achei o seguinte … se o professor colocou um pouquinho … foi aquele desfile … … imagine
se eu colocasse mais … peguei o mesmo béquer … coloquei uma colher … uma colher de
cloreto de sódio … foi um fogaréu tão grande … foi uma explosão … quebrou todo o
material que estava exposto em cima da mesa … eu branca … eu fiquei … olha … eu pensei
que eu fosse morrer sabe … quando … o colégio inteiro correu pro laboratório pra ver o
que tinha sido …
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal:
EdUFRN, 1998.

Na transcrição de fala, especialmente, no trecho “eu branca… eu fiquei… olha … eu pensei


que eu fosse morrer sabe…”, há uma estrutura sintática fragmentada, embora facilmente
interpretável… sua presença na fala revela
(A) distração e poucos anos de escolaridade.
(B) falta de coesão e coerência na apresentação das ideias.
(C) afeto e amizade entre os participantes da conversação.
(D) desconhecimento das regras de sintaxe da norma padrão.
(E) característica do planejamento e execução simultânea desse discurso.

AULA 03 – Variação Linguística 38


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

27. (ENEM/2015)
Assum preto
(Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor

Tarvez por ignorança


Ou mardade das pió
Furaro os óio do assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mió

Assum preto veve sorto


Mas num pode avuá
Mil veiz a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá.

As marcas da variedade regional registradas pelos compositores de Assum preto resultam


da aplicação de um conjunto de princípios ou regras gerais que alteram a pronúncia, a
morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é resultado de uma mesma regra, a:
(A) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”.
(B) pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”.
(C) flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”.
(D) redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata em frô”.
(E) pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá”.

28. (ENEM – 2ª aplicação/2015)


Como estamos na “Era Digital”, foi necessário rever os velhos ditados existentes e adaptá-
los à nova realidade. Veja abaixo…

1. A pressa é inimiga da conexão.


2. Amigos, amigos, senhas à parte.
3. Para bom provedor uma senha basta.
4. Não adianta chorar sobre arquivo deletado.

AULA 03 – Variação Linguística 39


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

5. Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.


6. Quem clica seus males multiplica.
7. Quem semeia e-mails, colhe spams.
8. Os fins justificam os e-mails.
Disponível em: www.abusar.org.br. Acesso em: 20 maio 2015 (adaptado).

No texto, há uma reinterpretação de ditados populares com o uso de termos da informática.


Essa reinterpretação
(A) torna o texto apropriado para profissionais da informática.
(B) atribui ao texto um caráter humorístico.
(C) restringe o acesso ao texto por público não especializado.
(D) deixa a terminologia original mais acessível ao público em geral.
(E) dificulta a compreensão do texto por quem não domina a língua inglesa.

29. (ENEM – 2ª aplicação/2015)


Em primeiro lugar gostaria de manifestar os meus agradecimentos pela honra de vir
outra vez à Galiza e conversar não só com os antigos colegas, alguns dos quais fazem parte
da mesa, mas também com novos colegas, que pertencem à nova geração, em cujas mãos,
com toda certeza, está também o destino do Galego na Galiza, e principalmente o destino
do Galego incorporado à grande família lusófona.
E, portanto, é com muito prazer que teço algumas considerações sobre o tema
apresentado. Escolhi como tema como os fundadores da Academia Brasileira de Letras
viam a língua portuguesa no seu tempo. Como sabem, a nossa Academia, fundada em
1897, está agora completando 110 anos, foi organizada por uma reunião de jornalistas,
literatos, poetas que se reuniam na secretaria da Revista Brasileira, dirigida por um crítico
literário e por um literato chamado José Veríssimo, natural do Pará, e desse entusiasmo saiu
a ideia de se criar a Academia Brasileira, depois anexada ao seu título: Academia Brasileira
de Letras.
Nesse sentido, Machado de Assis, que foi o primeiro presidente desde a sua
inauguração até a data de sua morte, em 1908, imaginava que a nossa Academia deveria
ser uma academia de Letras, portanto, de literatos.
BECHARA, E. Disponível em: www.academiagalega.org. Acesso em: 31 jul. 2012

No trecho da palestra proferida por Evanildo Bechara, na Academia Galega da Língua


Portuguesa, verifica-se o uso de estruturas gramaticais típicas da norma padrão da língua.
Esse uso
(A) torna a fala inacessível aos não especialistas no assunto abordado.
(B) contribui para a clareza e a organização da fala no nível de formalidade esperado para
a situação.

AULA 03 – Variação Linguística 40


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(C) atribui à palestra características linguísticas restritas à modalidade escrita da língua


portuguesa.
(D) dificulta a compreensão do auditório para preservar o caráter rebuscado da fala.
(E) evidencia distanciamento entre o palestrante e o auditório para atender os objetivos do
gênero palestra.

30. (ENEM – 2ª aplicação/2015)


Mudança linguística
Ataliba de Castilho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é
parte da metamorfose natural da língua.
— Com a internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o
que ocorreu com “você”, que se tornou o pronome átono “cê”. Agora, o interneteiro pode
ajudar a reduzir os excessos da ortografia, e bem sabemos que são muitos. Por que o acento
gráfico é tão importante assim para a escrita? Já tivemos no Brasil momentos até mais
exacerbados por acentos e dispensamos muitos deles. Como toda palavra é
contextualizada pelo falante, podemos dispensar ainda muitos outros. O interneteiro
mostra um caminho, pois faz um casamento curioso entre oralidade e escrituralidade. O
internetês pode, no futuro, até tornar a comunicação mais eficiente. Ou evoluir para um
jargão complexo, que, em vez de aproximar as pessoas em menor tempo, estimule o
isolamento dos iniciados e a exclusão dos leigos.
Para Castilho, no entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que
precisamos na língua. Será a internet. O jeito eh tc e esperar pra ver?
Disponível em: http://revistalingua.com.br. Acesso em: 3 jun. 2015 (adaptado).

Na entrevista, o fragmento “O jeito eh tc e esperar pra ver?” tem por objetivo


(A) ilustrar a linguagem de usuários da internet que poderá promover alterações de grafias.
(B) mostrar os perigos da linguagem da internet como potencializadora de dificuldades de
escrita.
(C) evidenciar uma forma de exclusão social para as pessoas com baixa proficiência escrita.
(D) explicar que se trata de um erro linguístico por destoar do padrão formal apresentado
ao longo do texto.
(E) exemplificar dificuldades de escrita dos interneteiros que desconhecem as estruturas
da norma padrão.

31. (ENEM/2014)
Óia eu aqui de novo
Óia eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo para xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras

AULA 03 – Variação Linguística 41


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Que eu ainda dou no couro


Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar
Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raquel
Diz que eu tou aqui com alegria

BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: www. luizluagonzaga.mus.br. Acesso em: 5 maio 2013
(fragmento).

A letra da canção de Antônio de Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e


cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma característica do falar popular regional
é
a) “Isso é um desaforo”
b) “Diz que eu tou aqui com alegria”
c) “Vou mostrar pr’esses cabras”
d) “Vai, chama Maria, chama Luzia”
e) “Vem cá morena linda, vestida de chita”

32. (ENEM/2014)
Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou
com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso,
resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu
estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do
vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No
momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi
interrompido pelo alfaiate premiado, que disse:
— Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em:
http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.

AULA 03 – Variação Linguística 42


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato


envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva
(A) evidenciar a importância de marcas linguísticas valorizadoras da linguagem coloquial.
(B) demonstrar incômodo com a variedade característica de pessoas pouco escolarizadas.
(C) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor.
(D) criticar a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos.
(E) estabelecer uma política de incentivo à escrita correta das palavras.

33. (ENEM/2014)
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria
que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como
do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia
uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os
que falam assim:
– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com
um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa
de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um
automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão
andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão
sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).

A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto


exemplifica essa característica da língua, evidenciando que
(A) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
(B) a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações.
(C) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
(D) a pronúncia e o vocábulo são aspectos identificadores da classe social a que pertence
o falante.
(E) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em
todas as regiões.

34. (ENEM/2014)
Evocação do Recife

AULA 03 – Variação Linguística 43


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros


Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes


populares devem ser
(A) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua
portuguesa autêntica.
(B) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.
(C) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de
correção linguística.
(D) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.
(E) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a língua portuguesa original.

AULA 03 – Variação Linguística 44


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

35. (ENEM – 3ª aplicação/2014)

Nas regras de etiqueta, a linguagem coloquial promove maior proximidade do leitor com
o texto. Um recurso para a produção desse efeito constitui um desvio à variedade padrão
da língua portuguesa. Trata-se do uso
(A) de palavras estrangeiras, como "darling" e "pet", pois afrontam a identidade nacional.
(B) do verbo "ter", que foi utilizado em lugar de "haver" com o sentido de "existir".
(C) da forma verbal "adorei", uma expressão exagerada de emoção e sentimento.
(D) do modo imperativo, típico das conversas informais.
(E) do substantivo "bate-papo", que é uma gíria inadequada para regras de etiqueta.

36. (ENEM – 3ª aplicação/2014)

AULA 03 – Variação Linguística 45


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Essa tirinha tem como tema a nova ortografia da língua portuguesa e os diversos tipos de
linguagem hoje existentes. A situação apresentada no último quadrinho indica que
(A) o sobrinho não compreendeu a linguagem mais conservadora utilizada pelo seu tio.
(B) o tio não está familiarizado com a linguagem de chats e de mensagens instantâneas.
(C) a informalidade presente na linguagem do sobrinho impede a comunicação com o tio.
(D) o tio deve evitar utilizar a norma padrão da língua no contexto da internet.
(E) o sobrinho desconhece a norma padrão da língua portuguesa.

37. (ENEM/2013)
O cordelista por ele mesmo
Aos doze anos eu era
forte, esperto e nutrido.
Vinha do Sítio de Piroca
muito alegre e divertido
vender cestos e balaios
que eu mesmo havia tecido.

Passava o dia na feira


e à tarde regressava
levando umas panelas
que minha mãe comprava
e bebendo água salgada
nas cacimbas onde passava.
BORGES, J. F. Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel.
Porto Alegre: LP&M, 2003 (fragmento).

Literatura de cordel é uma criação popular em verso, cuja linguagem privilegia,


tematicamente, histórias de cunho regional, lendas, fatos ocorridos para firmar certas
crenças e ações destacadas nas sociedades locais. A respeito do uso das formas variantes
da linguagem no Brasil, o verso do fragmento que permite reconhecer uma região brasileira
é
(A) “muito alegre e divertido”.
(B) “Passava o dia na feira”.
(C) “levando umas panelas”.
(D) “que minha mãe comprava”.
(E) “nas cacimbas onde passava”.

AULA 03 – Variação Linguística 46


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

38. (ENEM – 2ª aplicação/2013)


— Ora dizeis, não é verdade? Pois o Sr. Lúcio queria esse cravo, mas vós lho não podíeis
dar, porque o velho militar não tirava os olhos de vós; ora, conversando com o Sr. Lúcio,
acordastes ambos que ele iria esperar um instante no jardim...

MACEDO, J. M. A moreninha. Disponível em: www.dominiopublico.com.br. Acesso em: 17 abr. 2010


(fragmento).

O trecho faz parte do romance A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Nessa parte
do romance, há um diálogo entre dois personagens. A fala transcrita revela um falante que
utiliza uma linguagem
(A) informal, com estruturas e léxico coloquiais.
(B) regional, com termos característicos de uma região.
(C) técnica, com termos de áreas específicas.
(D) culta, com domínio da norma padrão.
(E) lírica, com expressões e termos empregados em sentido figurado.

39. (ENEM – 2ª aplicação/2019)


História da máquina que faz o mundo rodar

Cego, aleijado e moleque,


Padre, doutor e soldado,
Inspetor, juiz de direito,
Comandante e delegado,
Tudo, tudo joga o dinheiro
Esperando bom resultado.
Matuto, senhor de engenho,
Praciano e mandioqueiro,
Do agreste ao sertão
Todos jogam seu dinheiro
Se um diz que é mentiroso
Outro diz que é verdadeiro.
Na opinião do povo
Não tem quem possa mandar
Faça ou não faça a máquina

AULA 03 – Variação Linguística 47


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

O povo tem que esperar


Por que quem joga dinheiro
Só espera mesmo é ganhar.
Assim é que muitos pensam
Que no abismo não cai
Que quem não for no Juazeiro
Depois de morto ainda vai,
Assim também é crença
Que a dita máquina sai.
Quando um diz: ele não faz,
Já outro fica zangado
Dizendo: assim como Cristo
Morreu e foi ressuscitado
Ele também faz a máquina
E seu dinheiro é lucrado.

CRUZ, A. F. Disponível em: www.jangadabrasil.org. Acesso em: 5 ago. 2012 (fragmento).

No fragmento, as escolhas lexicais remetem às origens geográficas e sociais da literatura


de cordel. Exemplifica essa remissão o uso de palavras como
(A) cego, aleijado, moleque, soldado, juiz de direito.
(B) agreste, sertão, Juazeiro, matuto, senhor de engenho.
(C) comandante, delegado, dinheiro, resultado, praciano.
(D) mentiroso, verdadeiro, joga, ganhar.
(E) morto, crença, zangado, Cristo.

40. (ENEM/2012)
No Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações indígenas do país
falam cerca de 180 línguas, e as comunidades de descendentes de imigrantes cerca de 30
línguas. Há uma ampla riqueza de usos, práticas e variedades no âmbito da própria língua
portuguesa falada no Brasil, diferenças estas de caráter diatópico (variações regionais) e
diastrático (variações de classes sociais) pelo menos. Somos, portanto, um país de muitas
línguas, tal qual a maioria dos países do mundo (em 94% dos países são faladas mais de
uma língua).
Fomos no passado, ainda muito mais do que hoje, um território plurilíngue. Cerca de
1078 línguas indígenas eram faladas quando aqui aportaram os portugueses, há 500 anos,
segundo estimativas de Rodrigues (1993). Porém, o Estado português e, depois da

AULA 03 – Variação Linguística 48


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

independência, o Estado brasileiro, que o sucedeu, tiveram por política impor o português
como a única língua legítima, considerando-a “companheira do Império”. A política
linguística principal do Estado sempre foi a de reduzir o número de línguas, num processo
de glotocídio (eliminação de línguas) por meio do deslocamento linguístico, isto é, de sua
substituição pela língua portuguesa. Somente na primeira metade do século XX, segundo
Darcy Ribeiro, 67 línguas indígenas desapareceram no Brasil — mais de uma por ano,
portanto. Das cerca de 1 078 línguas indígenas faladas em 1 500, ficamos com
aproximadamente 180 em 2000 (um decréscimo de 85%), e várias destas 180 encontram-
se em estado avançado de desaparecimento.
Disponível em: www.cultura.gov. Acesso em: 28 fev. 2012 (adaptado).

As línguas indígenas contribuíram, entre outros aspectos, para a introdução de novas


palavras no português do Brasil. De acordo com o texto apresentado, infere-se que a
redução do número de línguas indígenas
(A) ocasionou graves consequências para a preservação do nosso patrimônio linguístico
e cultural, uma vez que a redução dessas línguas significa a perda da herança cultural
de um povo.
(B) manteve a preservação de nosso patrimônio linguístico e cultural, porque, assim como
algumas línguas morrem, outras nascem de tempos em tempos, o que contribui para
a conservação do idioma.
(C) foi um processo natural pelo qual a língua portuguesa passou, não significando,
portanto, prejuízos para o patrimônio linguístico do Brasil, que se conservou
inalterado até nossos dias.
(D) contribuiu para a mudança de posicionamento da política linguística do Estado, que
passou a desconsiderar as línguas indígenas como um importante meio de
comunicação dos primeiros habitantes.
(E) representou uma fase do desenvolvimento da língua portuguesa, que, como qualquer
outra língua, passou pelo processo de renovação vocabular, que exige a redução das
línguas.

41. (ENEM/2012)
A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil,
corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa,
paralelo ao que já ocorrera em relação a ampliação do domínio de ter na área semântica
de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre
haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de
João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-
se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos
estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância,
lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali.
Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento
deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única
e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma

AULA 03 – Variação Linguística 49


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários?
Substitui-se uma norma por outra?
CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico:
do presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008.
Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).

Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que
(A) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica.
(B) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua.
(C) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da
norma.
(D) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos
linguísticos.
(E) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição
linguística.

42. (ENEM/2012)

Disponível em: http://blog.educacional.com.br. Acesso em: 30 set. 2011.

As variações e as mudanças nas línguas estão correlacionadas a fatores sociais. Na tira, a


dedução do pai da garota é confirmada e gera o efeito de humor, pois seu interlocutor
apresenta um vocabulário
(A) urbano, típico de quem nasce nas grandes metrópoles brasileiras.
(B) formal, relativo a quem frequenta a escola por muitos anos.
(C) elitizado, encontrado entre falantes de classe socioeconômica alta.
(D) especial, restrito a quem frequenta os espaços da juventude.
(E) conservador, representado por uma fala arcaica para a geração atual.

AULA 03 – Variação Linguística 50


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

43. (ENEM/2011)
Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela
comunidade sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de
complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram uma norma
nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as
normas do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas também as
chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se insistir na ideia de que
essas normas se consolidaram em diferentes momentos da nossa história e que só a partir
do século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em
consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em ambos os
territórios.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs).
Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado).

O português do Brasil não é uma língua uniforme. A variação linguística é um fenômeno


natural, ao qual todas as línguas estão sujeitas. Ao considerar as variedades linguísticas, o
texto mostra que as normas podem ser aprovadas ou condenadas socialmente, chamando
a atenção do leitor para a
(A) desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta.
(B) difusão do português de Portugal em todas as regiões do Brasil só a partir do século
XVIII.
(C) existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do Brasil, distinta
da de Portugal.
(D) inexistência de normas cultas locais e populares ou vernáculas em um determinado
país.
(E) necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem ser
aceitos.

44. (ENEM/2011)
Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que, a depender do estrato
social e do nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até
mesmo em falantes que dominam a variedade padrão, pois, na verdade, revelam
tendências existentes na língua em seu processo de mudança que não podem ser
bloqueadas em nome de um "ideal linguístico” que estaria representado pelas regras da
gramática normativa. Usos como ter por haver em construções existenciais (tem muitos
livros na estante), o do pronome objeto na posição de sujeito (para mim fazer o trabalho), a
não-concordância das passivas com se (aluga-se casas) são indícios da existência, não de
uma norma única, mas de uma pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma
como conjunto de hábitos linguísticos, sem implicar juízo de valor.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs).
Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).

AULA 03 – Variação Linguística 51


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Considerando a reflexão trazida no texto a respeito da multiplicidade do discurso, verifica-


se que
(A) estudantes que não conhecem as diferenças entre língua escrita e língua falada
empregam, indistintamente, usos aceitos na conversa com amigos quando vão
elaborar um texto escrito.
(B) falantes que dominam a variedade padrão do português do Brasil demonstram usos
que confirmam a diferença entre a norma idealizada e a efetivamente praticada,
mesmo por falantes mais escolarizados.
(C) moradores de diversas regiões do país que enfrentam dificuldades ao se expressar na
escrita revelam a constante modificação das regras de emprego de pronomes e os
casos especiais de concordância.
(D) pessoas que se julgam no direito de contrariar a gramática ensinada na escola gostam
de apresentar usos não aceitos socialmente para esconderem seu desconhecimento
da norma padrão.
(E) usuários que desvendam os mistérios e sutilezas da língua portuguesa empregam
formas do verbo ter quando, na verdade, deveriam usar formas do verbo haver,
contrariando as regras gramaticais.

45. (ENEM/2011)
História do contato entre línguas no Brasil
No Brasil, o contato dos colonizadores portugueses com milhões de falantes de mais
de mil línguas autóctones e de cerca de duzentas línguas que vieram na boca de cerca de
quatro milhões de africanos trazidos para o país como escravos é, sem sombra de dúvida,
o principal parâmetro histórico para a contextualização das mudanças linguísticas que
afetaram o português brasileiro. E processos como esses não devem ser levados em conta
apenas para a compreensão das diferenças entre as variedades linguísticas nacionais. O
próprio mapeamento das variedades linguísticas contemporâneas do português europeu
e, sobretudo, do português brasileiro, tanto no plano diatópico quanto no plano diastrático,
depende crucialmente de uma apurada compreensão do processo histórico de sua
formação.
LUCCCHESI, D.; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. (orgs.). O português afro-brasileiro.
Salvador: EdUFBA, 2009 (adaptado).
Glossário:
Autóctone: nativo de uma região.
Diatópico: referente à variação de uma mesma língua no plano regional (país, estado, cidade etc.).
Diastrático: referente à variação de uma mesma língua em função das diversas classes sociais.

Do ponto de vista histórico, as mudanças linguísticas que afetaram o português do Brasil


têm sua origem no contato dos colonizadores com inúmeras línguas indígenas e africanas.
Considerando as reflexões apresentadas no texto, verifica-se que esse processo, iniciado
no começo da colonização, teve como resultado

AULA 03 – Variação Linguística 52


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(A) a aceitação da escravidão, em que seres humanos foram reduzidos à condição de


objeto por seus senhores.
(B) a constituição do patrimônio linguístico, uma vez que representa a identidade nacional
do povo brasileiro.
(C) o isolamento de um número enorme de índios durante todo o período da colonização.
(D) a separação entre pessoas que desfrutavam bens e outras que não tinham acesso aos
bens de consumo.
(E) a supremacia dos colonizadores portugueses, que muito se empenharam para
conquistar os indígenas.

1. B 16. D 31. C
2. C 17. C 32. C
3. A 18. E 33. B
4. C 19. A 34. D
5. B 20. E 35. B
6. E 21. A 36. B
7. C 22. C 37. E
8. D 23. E 38. D
9. D 24. A 39. B
10. A 25. C 40. A
11. C 26. E 41. E
12. D 27. B 42. E
13. C 28. B 43. C
14. A 29. B 44. B
15. B 30. A 45. B

AULA 03 – Variação Linguística 53


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

01. (ENEM – 2ª aplicação/2019)

Prezada senhorita,

Tenho a honra de comunicar a V. S. que resolvi, de acordo com o que foi conversado
com seu ilustre progenitor, o tabelião juramentado Francisco Guedes, estabelecido à Rua da
Praia, número 632, dar por encerrados nossos entendimentos de noivado. Como passei a ser
o contabilista-chefe dos Armazéns Penalva, conceituada firma desta praça, não me restará, em
face dos novos e pesados encargos, tempo útil para os deveres conjugais.

Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da mancebia, como vinha
fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade
presidida pelo Exmo. Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem assim
como representantes da Associação dos Varejistas e da Sociedade Cultural e Recreativa José
de Alencar. Sem mais, creia-me de V. S. patrício e admirador, Sabugosa de Castro

CARVALHO, J. C. Amor de contabilista. In: Porque Lulu Bergatim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1971.

A exploração da variação linguística é um elemento que pode provocar situações cômicas.


Nesse texto, o tom de humor decorre da incompatibilidade entre

(A) o objetivo de informar e a escolha do gênero textual.

(B) a linguagem empregada e os papéis sociais dos interlocutores.

(C) o emprego de expressões antigas e a temática desenvolvida no texto.

(D) as formas de tratamento utilizadas e as exigências estruturais da carta.

(E) o rigor quanto aos aspectos formais do texto e a profissão do remetente.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque não temos nenhuma forma de incompatibilidade,


ainda mais que gere humor, entre a necessidade de informar e o gênero escolhido, visto que
a carta é uma das formas mais interessantes para a construção e transmissão de informações.

A alternativa B está correta, porque não havia necessidade de uma linguagem tão
jurídica para colocar fim ao noivado. O nível de linguagem é incompatível com a necessidade
linguística. Além disso, temos que entender que os dois apresentavam o mesmo valor e papel
social. Não há diferença de extrato entre os dois.

AULA 03 – Variação Linguística 54


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa C está incorreta, porque as relações de expressões antigas ou mais novas


devem se relacionar com o momento em que a mensagem é construída. Na realidade, a
linguagem é extremamente formal para o tema.

A alternativa D está incorreta, porque as exigências estruturais da carta e as formas de


tratamento não se afastam das exigências do gênero e não causam aspectos humorísticos do
texto, que se relaciona com a linguagem over utilizada no texto.

A alternativa E está incorreta, porque apesar de termos realmente um severo rigor em


todos os sentidos, principalmente linguísticos. Contudo, a relação de humor não se
fundamenta nessa ideia de aspectos formais e a profissão do remetente.

Gabarito: B

02. (ENEM – 2ª aplicação/2019)

É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e


entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a
identificação e a diferenciação de cada comunidade e também a inserção do indivíduo em
diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. A
fala tem, assim, um caráter emblemático, que indica se o falante é brasileiro ou português,
francês ou italiano, alemão ou holandês, americano ou inglês, e, mais ainda, sendo brasileiro,
se é nordestino, sulista ou carioca. A linguagem também oferece pistas que permitem dizer se
o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primário, universitário ou se
é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com sua
nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social e seu grau de instrução, é
frequentemente usado para discriminar e estigmatizar o falante.

LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

Nesse texto acadêmico, as autoras fazem uso da linguagem formal para

(A) estabelecer proximidade com o leitor.

(B) atingir pessoas de vários níveis sociais.

(C) atender às características do público leitor.

(D) caracterizar os diferentes falares brasileiros.

(E) atrair leitores de outras áreas do conhecimento.

AULA 03 – Variação Linguística 55


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque a proximidade com o leitor se daria por meio de
uma linguagem menos formal, dado que temos uma realidade linguística diferente da
apresentada pela norma culta.

A alternativa B está incorreta, porque as pessoas das classes de menor prestígio não
são alcançadas pelo uso de uma linguagem formal, usualmente ensinada nas escolas, lugar
que não faz parte da realidade das pessoas mais pobres.

A alternativa C está correta, porque o público consumidor, ligado à academia, necessita


de uma linguagem que possa demonstrar conhecimento por parte de quem escreve um texto
como esse. Digamos, de forma mais clara, que o uso da linguagem mais formal serve como
validação de conhecimento para as autoras, que deverão sempre apresentar-se como
conhecedoras de uma linguagem mais próxima da formal.

A alternativa D está incorreta, porque os diversos falares brasileiros não podem, nem
devem, ser reduzidos à ideia de uma norma culta, considerada, inclusive, como artificializada
para representar a fala brasileira.

A alternativa E está incorreta, porque a relação para atrair pessoas de outras áreas de
conhecimento está ligado mais ao tema do que à linguagem, que serve para a ideia de uma
relação de validação da informação, por ser mais prestigiada.

Gabarito: C

03. (ENEM – 2ª aplicação/2019)

VERISSIMO, L. F. As cobras em: se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 2000.

No que diz respeito ao uso de recursos expressivos em diferentes linguagens, o cartum produz
humor brincando com a

(A) caracterização da linguagem utilizada em uma esfera de comunicação específica.


(B) deterioração do conhecimento científico na sociedade contemporânea.

(C) impossibilidade de duas cobras conversarem sobre o universo.

AULA 03 – Variação Linguística 56


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(D) dificuldade inerente aos textos produzidos por cientistas.

(E) complexidade da reflexão presente no diálogo.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque a tirinha ironiza o fato de que cientistas muitas vezes
não são capazes de dialogar com a população, se valendo de jargões e palavras pouco
comuns, o que acaba afastando as pessoas do conhecimento científico divulgado.

A alternativa B está incorreta, porque o problema não é a durabilidade das descobertas,


mas sim o quanto os cientistas são capazes de comunicá-las.

A alternativa C está incorreta, porque em uma produção literária como as tirinhas não
há esse tipo de impedimento. Não é preciso basear-se unicamente no real.

A alternativa D está incorreta, porque a comunicação não se baseia necessariamente


em textos. A comunicação entre cientistas e população pode ser pela oralidade.

A alternativa E está incorreta, porque não há grande complexidade no diálogo, ainda


que o conhecimento científico em si seja frequentemente associado a questões mais
complexas.

Gabarito: A

04. (ENEM – 2ª aplicação/2019)

Alegria, alegria

Que maravilhoso país o nosso, onde se pode contratar quarenta músicos para tocar um
uníssono. (Mile Davis, durante uma gravação) antes havia orlando silva & flauta, e até mesmo
no meio do meio-dia. antes havia os prados e os bosques na gravura dos meus olhos. antes
de ontem o céu estava muito azul e eu & ela passamos por baixo desse céu. ao mesmo tempo,
com medo dos cachorros e sem muita pressa de chegar do lado de lá. Do lado de cá não resta
quase ninguém. apenas os sapatos polidos refletem os automóveis que, por sua vez, polidos,
refletem os sapatos...

VELOSO, C. Seleção de textos. São Paulo: Abril Educação, 1981.

Quanto ao seu aspecto formal, a escrita do texto de Caetano Veloso apresenta um(a)

(A) escolha lexical permeada por estrangeirismos e neologismos.

(B) regra típica da escrita contemporânea comum em textos da internet.

(C) padrão inusitado, com um registro próprio, decorrente da criação poética.

AULA 03 – Variação Linguística 57


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(D) nova sintaxe, identificada por uma reorganização da articulação entre as frases.

(E) emprego inadequado da norma-padrão, gerador de incompreensão comunicativa.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque não temos escolha de palavras diferentes e com
uso de palavras advindas de outras línguas. Essa alternativa não pode nem ser cogitada como
a resposta para essa questão.

A alternativa B está incorreta, porque não temos uma relação de proximidade com a
escrita de textos de internet que, inclusive, não seguem regras fixas, como se pensa.

A alternativa C está correta, porque a modificação está no estilo, com formas de escrita
que lembram a liberdade que a poesia proporciona ao escritor. Lembramos, sempre, que a
escrita é marcada por liberdade poética para a literatura.

A alternativa D está incorreta, porque não temos quebras ou modificações significativas


na sintaxe do texto. O texto é bastante ligado ao pensamento sintático tradicional.

A alternativa E está incorreta, porque não temos um emprego exagerado ou errado da


norma-padrão, que é usada de forma comum e levando à clareza do texto.

Gabarito: C

05. (ENEM/2018)

Uma língua, múltiplos falares

Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos. Mesmo antes
da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era multilíngue. Havia cerca de 1,2 mil
línguas faladas pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador tampouco era
uma língua homogênea, havia variações dependendo da região de Portugal de onde ele
vinha. Há de se considerar também que a chegada de falantes de português acontece em
diferentes etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por exemplo,
temos primeiramente o encontro linguístico de portugueses com índios e, além dos negros
da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas. “Todo este
processo vai produzindo diversidades linguísticas que caracterizam falares diferentes”, afirma
um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar
distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas composições o sotaque típico
de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre retroflexo, aquele erre dobrado que,
junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” característico do interior de
São Paulo.
MARIUZZO, P. Disponível em:
www.labjor.unicamp.br. Acesso
em: 30 jul. 2012 (adaptado).

AULA 03 – Variação Linguística 58


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A partir desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil, um dos elementos de identidade
nacional, entende-se que a diversidade linguística é resultado da

(A) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas.

(B) interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes.

(C) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e indígenas.

(D) heterogeneidade da língua trazida pelo colonizador.

(E) preservação dos sotaques característicos dos imigrantes.

Comentários:

O texto aponta que mesmo antes da chegada dos portugueses o Brasil já era
multilíngue, pois havia muita diversidade dentre os povos que viviam aqui. Além disso, o
português dos colonizadores também não era homogêneo. Ao primeiro encontro –
portugueses e indígenas – acresceu-se a população negra e, posteriormente, os imigrantes
italianos, japoneses, alemães e árabes. Assim, pode-se apontar que a diversidade linguística
resulta da interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes. A alternativa correta é a
alternativa B.

A alternativa A está incorreta, pois a imposição da língua oficial não mitigou


completamente a influência das línguas existentes já no território brasileiro.

A alternativa C está incorreta, pois ainda que o português tenha se tornado a língua
oficial, isso não excluiu a contaminação das outras línguas.

A alternativa D está incorreta, pois isso é apenas um dos aspectos que faz com que o
Brasil seja multilíngue.

A alternativa E está incorreta, pois não se fala aqui sobre preservação de sotaques, mas
sim sobre colaborações e contaminações.

Gabarito: B

06. (ENEM/2018)

O tradicional ornato para cabelos, a tiara ou diadema, já foi uma exclusividade feminina.
Na origem, tanto “tiara” quanto “diadema” eram palavras de bom berço. “Tiara” nomeava o
adorno que era o signo de poder entre os poderosos da Pérsia antiga e povos como os frísios,
os bizantinos e os etíopes. A palavra foi incorporada do Oriente pela Grécia e chegou até nós
por via latina, para quem queria referir-se à mitra usada pelos persas. Diadema era a faixa ou

AULA 03 – Variação Linguística 59


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

tira de linho fino colocado na cabeça pelos antigos latinos, herança do derivado grego para
diádo (atar em volta, segundo o Houaiss). No Brasil, a forma de arco ou de laço das tiaras e
alguns usos específicos (o nordestino “gigolete” faz alusão ao ornato usado por cafetinas,
versões femininas do “gigolô”) produziram novos sinônimos regionais do objeto.

Os sinônimos da tiara. Língua Portuguesa, n. 23, 2007 (adaptado).

No texto, relata-se que o nome de um enfeite para cabelo assumiu diferentes denominações
ao longo da história.

Essa variação justifica-se pelo(a)

(A) distanciamento de sentidos mais antigos.


(B) registro de fatos históricos ocorridos em uma dada época.

(C) associação a questões religiosas específicas de uma sociedade.

(D) tempo de uso em uma comunidade linguística.

(E) utilização do objeto por um grupo social.

Comentários:

O mesmo objeto tinha seu nome alterado a depender de quem o utilizava. No caso
brasileira, a palavra “gigolote” faz referência às pessoas que as utilizavam, as cafetinas). Assim,
pode-se concluir que um objeto pode mudar de denominação a depender da sua utilização
por um grupo social. A alternativa correta é alternativa E.

A alternativa A está incorreta, pois não houve mudança nos sentidos antigos da palavra.
Elas seguem significando o mesmo objeto, que mantém a mesma função que no passado. São
apenas modos diferentes de falar sobre ele.

A alternativa B está incorreta, pois as palavras “tiara” e “diadema” ainda são utilizadas
nos dias de hoje. Elas não são parte de um momento histórico, ou seja, não são datadas.

A alternativa C está incorreta, pois não se pode presumir que seu uso fosse religioso
especificamente.

A alternativa D está incorreta, pois apesar de o tempo de uso ajudar a fixar a forma, isso
não é determinante para a distinção. O que determina os diversos sinônimos é seu uso social.

Gabarito: E

AULA 03 – Variação Linguística 60


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

07. (ENEM/2018)

“Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis

Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por travestis e ganhou a comunidade

“Nhaí, amapô! não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu
picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de
pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e travestis.

Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado
afirma: É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma,
com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que
ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem
até dicionário...”, comenta.

O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada, lançado no


ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1 300
verbetes revelando o significado das palavras do pajubá.

Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente
uma relação ente o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil
colonial.

Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado).

Da perspectiva do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como


elemento de patrimônio linguístico, especialmente por
(A) ter mais de mil palavras conhecidas.

(B) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta.

(C) ser consolidado por objetos formais de registro.

(D) ser utilizado por advogados em situações formais.

(E) ser comum em conversas no ambiente de trabalho.

Comentários:

O dialeto é uma variante linguística constituída por características fonológicas,


sintáticas, semânticas e morfológicas próprias. Haja vista que o pajubá já foi até sistematizado
em dicionário, pode-se dizer que ele já foi consolidado por objetos formais de registro. Assim,
a alternativa correta é alternativa C.

AULA 03 – Variação Linguística 61


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa A está incorreta, pois não há um limite de palavras estabelecido para


definir um dialeto.

A alternativa B está incorreta, pois o que chama “linguagem secreta” no texto é


justamente o próprio dialeto.

A alternativa D está incorreta, pois os dialetos não são necessariamente ligados aos
advogados.

A alternativa E está incorreta, pois um dialeto pode ser regional também, não apenas
social.

Gabarito: C

08. (ENEM/2017)

Pode um idioma considerado extinto e pouco documentado


ser novamente parte ativa do patrimônio linguístico?

A melhor maneira de saber como ocorre uma revitalização linguística é examinando um


marco na luta indígena: a recuperação da língua pataxó. Eni Orlandi, da Universidade Estadual
de Campinas, esteve na equipe que coletou e analisou evidências linguísticas que ajudaram a
reconstituir a variante do pataxó falada mais ao norte da região de Porto Seguro (BA), a
hãhãhãe.

“Os pataxós viveram perseguições e movimentos de dispersão. A partir dos anos 1980,
entretanto, conseguiram criar um espaço em que reivindicaram seu direito ao território
tradicional que haviam perdido. Outras perdas acompanharam essa. Entre os bens perdidos,
estava a língua. A posse da língua significa para eles o seu desejo de ser índio, em um
momento de ameaça de extermínio”, diz a pesquisadora. “A pesquisa foi feita em condições
difíceis: uma só informante, Baheta, muito idosa, sem interlocutores reais (só os da memória,
imaginados), e experimentando dificuldades de lembrar; em condições de guerra à sua
cultura; uma parte da identidade estigmatizada, já voltada ao esquecimento”, diz Orlandi no
livro Terra à vista. Graças às reminiscências de Baheta, foram coletados dados suficientes para
comparar as listas de palavras que já se possuía e estabelecer paralelos com línguas próximas.

Disponível em: http://revistalingua.uol. com.br. Acesso em: 28 jul. 2012 (adaptado).

O processo de busca de dados sobre a língua pataxó evidencia a importância da pesquisa


voltada para a

(A) reconstituição da língua de um povo, por meio de dados históricos.

(B) preservação da cultura de um povo, por meio do resgate de sua história oral.

(C) comparação de línguas consideradas “mortas”, por meio de registros escritos.

AULA 03 – Variação Linguística 62


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(D) catalogação do léxico de uma língua, por meio da recuperação de documentos.

(E) valorização dos povos indígenas, por meio da tentativa de unificação de línguas
próximas.

Comentários:

Foi preciso contar com a memória de uma senhora idosa para conseguir realizar um
levantamento de dados acerca da língua, o que demonstra que há pouca catalogação formal
do assunto. Foi a partir dessa pesquisa – e da comparação com outros documentos que ainda
se mantinham preservados – que se foi capaz de catalogar um léxico e reconstruir a língua
pataxó. Assim, a alternativa correta é alternativa D.

A alternativa A está incorreta, pois não foram apenas dados históricos os acessados,
como também as experiencias pessoais.

A alternativa B está incorreta, pois a preservação aqui está ligada na fixação da língua
em uma forma escrita, durável, como um léxico, evitando manter apenas na oralidade.

A alternativa C está incorreta, pois a comparação entre documentos foi um modo de


comprovar as informações da senhora, checando-as com outras fontes, inclusive outras
línguas semelhantes. Não há a comparação com línguas mortas.

A alternativa E está incorreta, pois não há o objetivo de unificar as línguas indígenas.


Elas apenas são comparadas para fins de verificação.

Gabarito: D

09. (ENEM/2017)

Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não
compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro, além
disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela primeira vez, mais do que uma por dia
e, por isso, logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de
tontura, mas o Ilídio era forte.

Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra. O Ilídio
não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava ocupado a contar uma história
a um guarda-chuva, não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia os piores
momentos para chamá-lo, ele podia estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se e,
depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais tarde,
em casa, dizia que as pessoas da vila nunca tinham visto um menino tão velhaco. O Ilídio ficava
enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila, diziam ah, reguila de má

AULA 03 – Variação Linguística 63


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

raça. Com essa memória, recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco. Essa certeza
dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.

PEIXOTO, J. L. Livro. São Paulo: Cia. das Letras, 2012.

No texto, observa-se o uso característico do português de Portugal, marcadamente diferente


do uso do português do Brasil. O trecho que confirma essa afirmação é:

(A) “Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não
compreendia e esmoreceu.”

(B) “Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte.”

(C) “Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.”

(D) “Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra.”

(E) “O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra.”

Comentários:

A construção “estava a falar”, presente em “Se calhar estava a falar de tratar da cabra”,
representa uma diferença entre português de Portugal e do Brasil. No Brasil, utiliza-se o
gerúndio para essas situações. Aqui, esse trecho seria redigido como “Se calhar estava falando
de tratar da cabra”. A alternativa correta, portanto, é alternativa D.

DIFERENÇAS ENTRE PORTUGUÊS DE PORTUGAL E DO BRASIL

Brasil Portugal

Alô? (telefone) Estou? (telefone)


Bacon Presunto
Banheiro Casa de banho
Café da manhã Pequeno-almoço
Calcinha Cueca
Celular Telemóvel
Descarga Autoclismo
Escanteio Pontapé de canto
Fazendo (gerúndios em geral) A fazer (preposição a + infinitivo)

AULA 03 – Variação Linguística 64


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Fila Bicha
Maiô Fato de banho
Ônibus Autocarro
Presunto Fiambre
Quadrinhos Banda desenhada
Time Equipa
Trem Comboio

Gabarito: D

10. (ENEM/2017)

A língua tupi no Brasil

Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase
sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o
português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a
Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela
gente não se explica em outro idioma”.

Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou


no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos
mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos
bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge
Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de
Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente batizou
lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer
anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua.

“Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o
historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso
mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros
idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de
tupi facilitado.

ÂNGELO. C. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado).

O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao papel


do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena

(A) contribuiu efetivamente para o léxico, com nomes relativos aos traços característicos
dos lugares designados.

AULA 03 – Variação Linguística 65


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(B) originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base gramatical
também está a fala de variadas etnias indígenas.

(C) desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses,
vindos de Lisboa.

(D) misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros
nas investidas contra o Quilombo dos Palmares.

(E) expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram


a língua dos bandeirantes paulistas.

Comentários:

Percebe-se pelo texto que o tupi contribuiu muito efetivamente para a construção da
língua na região de São Paulo: muitas palavras que utilizamos até hoje são de origem tupi. Um
dos usos destacados no texto é justamente a atribuição do nome dos lugares de acordo com
a ação que ocorria lá. A alternativa correta é alternativa A.

A alternativa B está incorreta, pois o que se falava na época sequer era português, mas
sim algo definido como tupi facilitado.

A alternativa C está incorreta, pois a língua não foi imposta ou ensinada pelos padres
portugueses. Inclusive, pedia-se que fossem enviados padres que soubessem falar a chamada
“língua geral dos índios”.

A alternativa D está incorreta, pois não há no texto a menção do contato com os


africanos nesse momento.

A alternativa E está incorreta, pois não se pode dizer que português falado pelo
colonizador tenha expandido da mesma maneira. Essa era a língua falada na época no Brasil.

Caminho do Peabiru
Você já ouviu falar do Caminho do Peabiru?
Era uma trilha que os indígenas sul-americanos utilizavam desde antes da chegada dos
europeus. Esses caminhos ligavam o litoral ao interior do continente, chegando até a
Cordilheira dos Andes. O caminho mais famoso ligava a região da cidade de Cusco, no Peru,
à Capitania de São Vicente – atual estado de São Paulo.
Isso demonstra que os indígenas sul-americanos deveriam ter algum tipo de relação entre si,
o que com certeza também impactou nas línguas e nos modos de falar dos grupos na época.

Gabarito: A

AULA 03 – Variação Linguística 66


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

11. (ENEM – 2ª aplicação/2017)

Querido Sr. Clemens,

Sei que o ofendi porque sua carta, não datada de outro dia, mas que parece ter sido
escrita em 5 de julho, foi muito abrupta; eu a li e reli com os olhos turvos de lágrimas. Não
usarei meu maravilhoso broche de peixe-anjo se o senhor não quiser; devolverei ao senhor,
se assim me for pedido...

OATES, J. C. Descanse em paz. São Paulo: Leya, 2008.

Nesse fragmento de carta pessoal, quanto à sequenciação dos eventos, reconhece-se a


norma-padrão pelo(a)

(A) colocação pronominal em próclise.

(B) uso recorrente de marcas de negação.

(C) emprego adequado dos tempos verbais.

(D) preferência por arcaísmos, como “abrupta” e “turvo”.

(E) presença de qualificadores, como “maravilhoso” e “peixe-anjo”.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois a colocação pronominal não é um recurso


sequencial, de progressão textual.

A alternativa B está incorreta, pois isso só indica o teor da mensagem, não o uso da
norma padrão.

A alternativa C está correta, pois, na oralidade e na linguagem popular, tende-se a usar


o futuro composto. Ao invés de “devolverei”, utiliza-se “vou devolver”, por exemplo. Além
disso, fica claro que o uso de tempos verbais adequados a todas as situações descritas.

A alternativa D está incorreta, pois as escolhas lexicais não impactam no


sequenciamento temporal aqui.

A alternativa E está incorreta, pois os adjetivos, assim como as escolhas lexicais, não
impactam no sequenciamento temporal aqui.

Gabarito: C

12. (ENEM – 2ª aplicação/2017)


Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o de não entender nadinha do que
vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me punha

AULA 03 – Variação Linguística 67


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e
meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, tinha ladineza e
entendimento. Na rua e na escola — nada; era completamente afrásico. As pessoas eram
bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo.

Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas descencei e perdi a influência
de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me passava e das lições marcadas nos
livros, fiquei sendo uma quarta-feira de marca maior. Alívio bom era quando chegava em casa.

BERNARDES, C. Rememórias dois. Goiânia: Leal, 1969.

O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e utiliza construções
linguísticas próprias de determinada região, constatadas pelo

(A) registro de palavras como “estranheza” e “cegava”.

(B) emprego de regência não padrão em “chegar em casa”.

(C) uso de dupla negação em “não entender nadinha”.

(D) emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”.

(E) uso do substantivo “bichos” para retomar “pessoas”.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, pois essas palavras não apresentam nenhum indício de
regionalismo.

A alternativa B está incorreta, pois apesar de nesse caso a regência do verbo “chegar”,
segundo a gramática normativa, isso é uma variante da linguagem popular, não ligada
necessariamente a uma região específica.

A alternativa C está incorreta, pois essa dupla negação é uma construção aceita na
gramática normativa, comum a diversas regiões, sem distinção.

A alternativa D está correta, pois as palavras transcritas são parte de um léxico


regionalista: “descrencei”, um neologismo que pode ser entendido como “perder a vontade”;
e “ladineza”, próximo da ideia de ladino, alguém esperto, vivaz.

A alternativa E está incorreta, pois a expressão “bichos de outro mundo” é utilizada em


diversos contextos, não denota um tratamento especial de uma região.

Gabarito: D

AULA 03 – Variação Linguística 68


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

13. (ENEM – 2ª aplicação/2017 – Libras)

Yeda Pessoa de Castro — Durante três séculos, a maior parte dos habitantes do Brasil falava
línguas africanas, sobretudo línguas angolanas, e as falas dessas regiões prevaleceram sobre
o português. Antes se ignorava essa participação, se dizia que o português do Brasil ficou
assim falado devido ao isolamento, à predominância cultural e literária do português de
Portugal sobre os falantes negros africanos analfabetos. Eles realmente não sabiam ler ou
escrever português, mas essas teorias eram baseadas em fatores extralinguísticos. Eu introduzi
nessa discussão a prevalência e a participação dos falantes africanos, sobretudo das línguas
níger-congo, que são cerca de 1530 línguas. As mais faladas no Brasil foram as do Golfo do
Benim e da região banto, sobretudo do Congo e de Angola.
SCARRONE, M. Por que a participação da família africana (de línguas) é tão
importante? Disponível em: www.revistadehistoria.com.br. Acesso em: 8 jun. 2015.

A importância das pesquisas linguísticas sobre a constituição do português do Brasil fica


evidenciada nesse texto, porque registra a

(A) importância de aspectos extralinguísticos na formação da língua.

(B) proximidade entre aspectos da língua portuguesa e de línguas africanas.

(C) participação dos falares africanos na formação do português brasileiro.

(D) predominância dos falantes africanos em território brasileiro.

(E) supremacia do português de Portugal sobre os falares africanos.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque os estudos feitos até o momento apontam para a
influência a partir de fatores extralinguísticos e não linguísticos, como deveria ser em relação
à análise do falar brasileiro.

A alternativa B está incorreta, porque o texto não aponta para a direção da necessidade
de compararmos os dois falares. A ideia é apontar para a percepção da influência dos falares
na formação da língua portuguesa falada no Brasil.

A alternativa C está correta, porque o texto aponta para uma participação efetiva dos
falares africanos na formação do português brasileiro, que consegue vencer claramente o falar
padrão do português europeu. Essas pesquisas servem para a percepção de que o português
brasileiro é bastante diverso do português europeu.

A alternativa D está incorreta, porque o texto aponta para uma grande mesclagem de
falares no país. Além disso, a importância do texto e das pesquisas linguísticas está na

AULA 03 – Variação Linguística 69


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

possibilidade de percebermos que há muito mais elementos envolvidos na formação do falar


brasileiro do que as pessoas pensam e estudam.

A alternativa E está incorreta, porque não podemos afirmar, a partir da leitura do texto,
que houve uma supremacia do português falado em Portugal com relação às demais línguas.
Afirma-se, inclusive, que o português padrão não era falado em nossas terras.

Gabarito: C

14. (ENEM/2016)

O mistério do brega

Famoso no seu tempo, o marechal Schönberg (1615-90) ditava a moda em Lisboa, onde
seu nome foi aportuguesado para Chumbergas. Consta que ele foi responsável pela
popularização dos vastos bigodes tufados na Metrópole. Entre os adeptos estaria o
governador da província de Pernambuco, o português Jerônimo de Mendonça Furtado, que,
por isso, aqui ganhou o apelido de Chumbregas – variante do aportuguesado Chumbergas.
Talvez por ser um homem não muito benquisto na Colônia, o apelido deu origem ao adjetivo
xumbrega: “coisa ruim”, “ordinária”. E talvez por ser um homem também da folia, surgiu o
verbo xumbregar, que inicialmente teve o sentido se “embriagar-se” e depois veio a adquirir
o de “bolinar”, “garanhar”. Dedução lógica: de coisa ruim a bebedeira e atos libidinosos, as
palavras xumbrega ou xumbregar chegaram aos anos 60 do século XX na forma reduzida
brega, designando locais onde se bebe, se bolina e se ouvem cantores cafonas. E o que
inicialmente era substantivo, “música de brega”, acabou virando adjetivo, “música brega” –
numa já distante referência a um certo marechal alemão chamado Schönberg.

ARAUJO, P. C. Revista USP, n. 87, nov. 2010 (adaptado)

O texto trata das mudanças linguísticas que resultaram na palavra “brega”. Ao apresentar as
situações cotidianas que favoreceram as reinterpretações do seu sentido original, o autor
mostra a importância da
(A) interpretação oral como um dos agentes responsáveis pela transformação do léxico do
português.

(B) compreensão limitada de sons e de palavras para a criação de novas palavras em


português.

(C) eleições de palavras frequentes e representativas na formação do léxico da língua


portuguesa.

(D) interferência da documentação histórica na constituição do léxico.

(E) realização de ações de portugueses e de brasileiros a fim de padronizar as variedades


linguísticas lusitanas.

AULA 03 – Variação Linguística 70


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Comentários:

Fica claro que o nascimento da palavra “brega” está ligado à oralidade. Por ter
dificuldade de falar o nome em alemão, houve uma adaptação em português, aproximando-
se ao máximo do som do nome original. O mesmo vai ocorrendo com as outras
transformações da palavra. Assim, pode-se dizer que a interpretação oral é um dos agentes
responsáveis pela transformação do léxico do português. A alternativa correta é alternativa A.

A alternativa B está incorreta, pois aqui é mais uma questão de dificuldade da fala do
que de compreensão do som. Além disso, a criação de novas palavras aqui está ligada a um
processo histórico.

A alternativa C está incorreta, pois não se escolhem as palavras que serão frequentes
ou representativas, elas apenas se tornam populares ao longo do tempo.

A alternativa D está incorreta, pois a documentação histórica ajuda a explicar os


processos, mas não interfere sobre eles.

A alternativa E está incorreta, pois o processo de formação dessa palavra não foi uma
ação pensada com um objetivo, apenas aconteceu.

Gabarito: A

15. (ENEM/2016)

PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.

BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.

EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.

EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!

BENONA: Isso são coisas passadas.

EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo
aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E
o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás
dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da
molest’a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio
há de proteger minha pobreza e minha devoção.

SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).

AULA 03 – Variação Linguística 71


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest’a” contribui
para

(A) marcar a classe social das personagens.

(B) caracterizar usos linguísticos de uma região.

(C) enfatizar a relação familiar entre as personagens.

(D) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.

(E) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.

Comentário:

As palavras destacadas são típicas da região nordeste no Brasil e, por isso, representam
uma variação linguística regional. A alternativa correta é alternativa B

A alternativa A está incorreta, pois regionalismos não são marcadores de classe social.

A alternativa C está incorreta, pois o que enfatiza a relação familiar são as expressões
como “minha irmã” no vocativo.

A alternativa D está incorreta, pois estas expressões nada têm a ver com gênero.

A alternativa E está incorreta, pois elas demonstram mais um descontentamento do que


um tom autoritário.

Gabarito: B

16. (ENEM/2016)
Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem

Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções Cariocas

“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção
do carioca, como também o ‘vacilão’.”

“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um


amigo pode até doer um pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.”

“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”

“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho inventado pelo carioca


para tratar bem quem ainda não se conhece direito.”

“O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”

SANTOS, J. F. Disponível em: www.oglobo.globo.com. Acesso em: 6 mar. 2013 (adaptado).

AULA 03 – Variação Linguística 72


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Entre as sugestões apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o variado
repertório linguístico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes situações específicas
de uso social. A respeito desse repertório, atesta-se o(a)

(A) desobediência à norma-padrão, requerida em ambientes urbanos.

(B) inadequação linguística das expressões cariocas às situações sociais apresentadas.

(C) reconhecimento da variação linguística, segundo o grau de escolaridade dos


falantes.

(D) identificação de usos linguísticos próprios da tradição cultural carioca.

(E) variabilidade no linguajar carioca em razão da faixa etária dos falantes.

Comentários:

Os itens típicos do falar carioca no texto estão muito ligados aos aspectos culturais do
local: as relações sociais, o lazer, o modo de tratar conhecidos e desconhecidos etc. Assim, a
alternativa correta é alternativa D.

A alternativa A está incorreta, pois isso não é um requisito para ambientes urbanos, mas
sim uma possibilidade quando se pensa nos falares regionais.

A alternativa B está incorreta, pois não há inadequação nas situações apresentadas. Não
há problema nenhum em desobedecer às normas nesses contextos.

A alternativa C está incorreta, pois não se aponta que esse seja um traço de classe social,
mas sim regional do carioca.

A alternativa E está incorreta, pois, não se aponta que esse seja um traço de faixa etária,
mas sim regional do carioca.

Gabarito: D

17. (ENEM – 2ª aplicação/2016)

AULA 03 – Variação Linguística 73


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A carta manifesta reconhecimento de uma empresa pelos serviços prestados pelos


consultores da PC Speed. Nesse contexto, o uso da norma-padrão

(A) constitui uma exigência restrita ao universo financeiro e é substituível por linguagem
informal.

(B) revela um exagero por parte do remetente e torna o texto rebuscado linguisticamente.

(C) expressa o formalismo próprio do gênero e atribui profissionalismo à relação


comunicativa.

(D) torna o texto de difícil leitura e atrapalha a compreensão das intenções do remetente.

(E) sugere elevado nível de escolaridade do diretor e realça seus atributos intelectuais.

Comentários:

A carta apresentada no exercício não é informal, ou seja, não retrata a troca de


mensagens entre amigos e conhecidos. É uma carta de cunho formal e profissional: um
diretor administrativo e financeiro parabenizando a equipe de consultores da empresa
pelo trabalho executado. Assim, a alternativa correta é alternativa C.

A alternativa A está incorreta, pois independente do universo, uma comunicação


profissional deve ser formal.

A alternativa B está incorreta, pois o texto não conta com palavras inusitadas ou de
pouco uso, como seria coerente com um texto rebuscado linguisticamente. O texto apenas
assume a formalidade que um texto profissional deve ter.

A alternativa D está incorreta, pois a norma padrão serve justamente para que todos
possam compreender aquilo que se pretende dizer, uma vez que é a regra compartilhada por
todos.

A alternativa E está incorreta, pois a escrita na norma culta da linguagem não significa
um realce de atributos intelectuais. Ele está apenas adequado ao contexto situacional.

Gabarito: C

18. (ENEM – 2ª aplicação/2016)

Como escrever na internet

Regra 1 – Fale, não GRITE!

Combine letras maiúsculas e minúsculas, da mesma forma que na escrita comum. Cartas
em papel não são escritas somente com letras maiúsculas; na internet, escrever em maiúsculas
é o mesmo que gritar! Para enfatizar frases e palavras, use os recursos de _sublinhar_

AULA 03 – Variação Linguística 74


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(colocando palavras ou frases entre sublinhados) e *grifar* (palavras ou frases entre asteriscos).
Frases em maiúsculas são aceitáveis em títulos e ênfases ou avisos urgentes.

Regra 2 – Sorria :-) pisque ;-) chore &-( ...

Os emoticons (ou smileys) são ícones formados por parênteses, pontos, vírgulas e
outros símbolos do teclado. Eles representam carinhas desenhadas na horizontal e denotam
emoções. É difícil descobrir quando uma pessoa está falando alguma coisa em tom de
brincadeira, se está realmente brava ou feliz, ou se está sendo irônica, em um ambiente no
qual só há texto; por isso, entram em cena os smileys. Comece a usá-los aos poucos e, com o
passar do tempo, estarão integrados naturalmente às suas conversas on-line.

Disponível em: www.icmc.usp.br. Acesso em: 29 jul. 2013.

O texto traz exemplos de regras que podem evitar mal-entendidos em comunicações


eletrônicas, especialmente em e-mails e chats. Essas regras

(A) revelam códigos internacionalmente aceitos que devem ser seguidos pelos usuários da
internet.

(B) constituem um conjunto de normas ortográficas inclusas na escrita padrão da língua


portuguesa.

(C) representam uma forma complexa de comunicação, pois os caracteres são de difícil
compreensão.

(D) foram desenvolvidas para que usuários de países de línguas diferentes possam se
comunicar na web.
(E) refletem recomendações gerais sobre o uso dos recursos de comunicação facilitadores
da convivência na internet

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque não há referência à ideia de códigos


internacionalmente aceitos. Sabemos, por exemplo, que cada local tem formas diferentes
inclusive para a linguagem internética.

A alternativa B está incorreta, porque não há aproximação com a norma culta do


português, uma vez que a internet desenvolveu sua forma própria forma de comunicação,
levando a sério a ideia linguística da comunicação.

A alternativa C está incorreta, porque os caracteres utilizados principalmente nos emojis


são intuitivos e não de difícil compreensão. Basta perceber como os caracteres se organizam
que é possível compreendermos a mensagem a ser passada.

AULA 03 – Variação Linguística 75


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa D está incorreta, porque não há indicação de que as regras servem para a
comunicação de pessoas que falam idiomas distintos. A ideia é que tenhamos o melhor
relacionamento possível ao usar a internet, em especial entre os usuários do português.

A alternativa E está incorreta, porque, como a comunicação internética é considerada


uma novidade para boa parte das pessoas, é necessário que sejam apresentadas regras de
boa conduta para que não existam confusões e mal-entendidos. É interessante notar que são
regras que servem para um bom convívio das pessoas na internet.

Gabarito: E

19. (ENEM – 2ª aplicação/2016)

Noites do Bogart

O Xavier chegou com a namorada mas, prudentemente, não a levou para a mesa com
o grupo.

Abanou de longe. Na mesa, as opiniões se dividiam.


— Pouca vergonha.

— Deixa o Xavier.

— Podia ser a filha dele.

— Aliás, é colega da filha dele.

Na sua mesa, o Xavier pegara na mão da moça.


— Está gostando?

— Pô. Só.

— Chocante, né? — disse o Xavier. E depois ficou na dúvida. Ainda se dizia “chocante”?

Beberam em silêncio. E ele disse:


— Quer dançar?

E ela disse, sem pensar:


— Depois, tio.

E ficaram em silêncio. Ela pensando “será que ele ouviu?”. E ele pensando “faço algum
comentário a respeito, ou deixo passar?”. Decidiu deixar passar. Mas, pelo resto da noite
aquele “tio” ficou em cima da mesa entre os dois, latejando como um sapo. Ele a levou em
casa. Depois voltou. Sentou com os amigos.
— Aí, Xavier. E a namorada?

Ele não respondeu.

VERISSIMO, L. F. O melhor das comédias da vida privada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

AULA 03 – Variação Linguística 76


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

O efeito de humor no texto é produzido com o auxílio da quebra de convenções sociais de


uso da língua. Na interação entre o casal de namorados, isso é decorrente

(A) do registro inadequado para a interlocução em contexto romântico.

(B) da iniciativa em discutir formalmente a relação amorosa.

(C) das avaliações de escolhas lexicais pelos frequentadores do bar.

(D) das gírias distorcidas intencionalmente na fala do namorado.

(E) do uso de expressões populares nas investidas amorosas do homem.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque o tipo de gíria utilizado pela namorada não se
emprega a uma relação amorosa entre uma pessoa mais velha e uma mais nova. Na realidade,
já entendemos como problema a forma como os amigos do namorado veem o
relacionamento. No final, a namorada parece entrar na onda dos amigos e utiliza expressões
que não estão relacionadas com o momento de namoro em que se encontram.

A alternativa B está incorreta, porque não temos uma relação de discussão formal sobre
o relacionamento. Na realidade, o humor se dá exatamente pelo uso de expressão
completamente informal por parte da namorada.

A alternativa C está incorreta, porque o humor está no uso das expressões da namorada
e não na análise linguística dos amigos do namorado, que estão no bar.

A alternativa D está incorreta, porque, na realidade, é a namorada que usa expressões


que causam humor, utilizadas, claramente, como forma distorcida da língua. Empregar a ideia
de “tio” para aquele que é o namorado mais velho é proposital e ofensivo para ele.

A alternativa E está incorreta, porque esse uso é possível e não causa nenhuma forma
de humor. Na realidade, como apresentado, as expressões da namorada para o homem mais
velho é que causam essa visão mais bem-humorada.

Gabarito: A

20. (ENEM – 2ª aplicação/2016)

eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né...
que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso...
era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe tinha cinco anos...
né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... tinha dezessete e ele foi obrigado a
trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número
de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais
perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão

AULA 03 – Variação Linguística 77


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente
o local mais perto onde tinha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e:: ela foi parar na rua
do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum
tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei
esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se
conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados…

CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus, discurso & gramática: a língua falada e escrita na


cidade de Natal. Natal: EdUFRN, 1998.

Na produção dos textos, orais ou escritos, articulamos as informações por meio de relações
de sentido. No trecho de fala, a passagem “brigaram... é lógico... porque todo relacionamento
tem uma briga”, enuncia uma justificativa em que "brigaram" e "todo relacionamento tem uma
briga" são, respectivamente,

(A) causa e consequência.

(B) premissa e conclusão.

(C) meio e finalidade.

(D) exceção e regra.

(E) fato e generalização.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque na realidade podemos compreender o contrário:


a briga ocorre no relacionamento em questão, porque em todos os relacionamentos ocorrem
brigas. Perceba que a relação seria, caso ocorresse, o contrário. Cuidado para não pensar que
sempre que temos o “porque” sendo utilizado há relação de causa e consequência.

A alternativa B está incorreta, porque não temos uma premissa que nos leva a uma
conclusão lógica, como ocorre em relações nas quais se constroem premissas e conclusões.
A lógica é necessária a ela.

A alternativa C está incorreta, porque não temos uma apresentação nem de meio, nem
de finalidade, dado que ocorre uma generalização ao apresentar que em todos os
relacionamentos ocorrem brigas e uma confirmação por essa ter ocorrido.

A alternativa D está incorreta, porque não temos uma noção de exceção no fato de que
a briga ocorre. Perceba que, se em todo o relacionamento ocorrem brigas, temos uma regra,
contudo, o fato de a briga ter acontecido não é uma exceção, mas uma confirmação da regra.

AULA 03 – Variação Linguística 78


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa E está correta, porque, ao apresentar a ideia de que houve a briga, temos
a um fato, a briga, que, por ocorrer de forma geral, “em todo relacionamento”, aponta uma
especificidade de uma generalização. Perceba que temos o uso do generalizador “todo”. Essa
é uma questão capciosa, com possibilidades de dúvidas.

Gabarito: E

21. (ENEM – 2ª aplicação/2016)

O acervo do Museu da Língua Portuguesa é o nosso idioma, um “patrimônio imaterial”


que não pode ser, por isso, guardado e exposto em uma redoma de vidro. Assim, o museu,
dedicado à valorização e difusão da língua portuguesa, reconhecidamente importante para a
preservação de nossa identidade cultural, apresenta uma forma expositiva diferenciada das
demais instituições museológicas do país e do mundo, usando tecnologia de ponta e recursos
interativos para a apresentação de seus conteúdos.

Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br. Acesso em: 16 ago. 2012 (adaptado).

De acordo com o texto, embora a língua portuguesa seja um “patrimônio imaterial”, pode ser
exposta em um museu. A relevância desse tipo de iniciativa está pautada no pressuposto de
que

(A) a língua é um importante instrumento de constituição social de seus usuários.

(B) o modo de falar o português padrão deve ser divulgado ao grande público.

(C) a escola precisa de parceiros na tarefa de valorização da língua portuguesa.

(D) o contato do público com a norma-padrão solicita o uso de tecnologia de última


geração.

(E) as atividades lúdicas dos falantes com sua própria língua melhoram com o uso de
recursos tecnológicos.

Comentários:

A língua é considerada patrimônio imaterial de um povo, pois preserva sua identidade


cultural. É ela também que une as pessoas de uma determinada nação em torno de um
referente comum. Assim, a alternativa correta é alternativa A. Veja o que diz o IPEA (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre esse assunto:
(...) a situação de cada língua é o resultado da confluência e da interação de múltiplos fatores
político-jurídicos, ideológicos e históricos, demográficos e territoriais; econômicos e sociais.
Salienta que, nesse sentido, existe uma tendência unificadora por parte da maioria dos
Estados em reduzir a diversidade e, assim, favorecer atitudes adversas à pluralidade cultural
e ao pluralismo linguístico.

AULA 03 – Variação Linguística 79


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(...) Na última década tem havido grande mobilização de grupos, de organizações de


falantes e de pesquisadores no sentido de associar a diversidade linguística como temática
inerente a políticas de cultura, mais especificamente na esfera do chamado patrimônio
imaterial. Essa mobilização motivou a elaboração do Decreto Presidencial 7.387/2010, que
instituiu o Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). O INDL nasce como política
interministerial envolvendo Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação (MCTI), Ministério
da Educação (MEC), Ministério do Orçamento e Gestão (MPOG), Ministério da Justiça (MJ),
sob coordenação atual do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
enquanto representante do Ministério da Cultura. Tem como princípios reconhecer as
línguas como referência cultural brasileira, valorizando o plurilinguismo; apoiar os processos
sociais e políticos que visem à promoção das línguas e de suas comunidades de falantes;
pesquisa e documentação, bem como gerir um banco de conhecimentos sobre a
diversidade linguística.
Fonte: http://www.ipea.gov.br/

A alternativa B está incorreta, pois o museu se dedica a valorizar a língua, não a optar
por uma variante específica.

A alternativa C está incorreta, pois a escola tem o objetivo de ensinar a língua, não
necessariamente valorizá-la.

A alternativa D está incorreta, pois não se pode presumir que a norma-padrão seja o
foco do museu.

A alternativa E está incorreta, pois os recursos tecnológicos são apenas o modo como
se apresentam os assuntos do museu.

Patrimônio material
Também chamados de tangíveis, se inserem nessa categoria objetos, edifícios, monumentos
e documentos. Podemos dividi-los em bens móveis, como obras artísticas, coleções arqueológicas,
fotografias, vídeos, entre outros; e em bens imóveis, como centros urbanos, edifícios, sítios
arqueológicos e paisagísticos.
Patrimônio imaterial
A categoria inclui as expressões de vida e tradições de comunidades, grupos e indivíduos em
todas as partes do mundo, recebidas pelos seus antepassados e transmitidas para os descendentes.
O patrimônio imaterial revela saberes, ofícios e modos de fazer; festas e celebrações tradicionais;
formas de expressão cênicas, plásticas musicais ou lúdicas; bem como lugares onde se manifestam
práticas culturais.
BRASIL, Patrimônio Cultural. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234#:~:targetText=Os%20bens%20culturais%20de%20natureza,que%20
abrigam%20pr%C3%A1ticas%20culturais%20coletivas>)

Gabarito: A

AULA 03 – Variação Linguística 80


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

22. (ENEM – 3ª aplicação/2016)

Escrever

A estudante perguntou como era essa coisa de escrever.

Eu fiz o gênero fofo. Moleza, disse.

Primeiro evite esses coloquialismos de “fofo” e “moleza”, passe longe das gírias ainda
não dicionarizadas e de tudo mais que soe mais falar do que escrito. Isto aqui não é rádio FM.
De vez em quando, aplique uma gíria como se fosse um piparote de leve no cangote do texto,
mas, em geral, evite. Fuja dessas rimas bobinhas, desses motes sonoros. O leitor pode se achar
diante de um rapper frustrado e dar cambalhotas. Mas, atenção, se soar muito estranho,
reescreva.

Quando quiser aplicar um “mas”, tome fôlego, ligue para o 0800 do Instituto Fernando
Pessoa, peça autorização ao sábio de plantão, e, por favor, volte atrás. É um cacoete facilitador.
Dele deve ter vindo a expressão “cheio de mas-mas”, ou seja, uma pessoa cheia de “não é
bem assim”, uma chata que usa o truque para afirmar e depois, como se fosse estilo,
obtemperar.

SANTOS, J. F. O Globo. 10 jan. 2011 (adaptado).

A língua varia em função de diferentes fatores. Um deles é a situação em que se dá a


comunicação. Na crônica, ao ser interrogado sobre a arte de escrever, o autor utiliza, em meio
à linguagem escrita padrão, condizente com o contexto,

(A) definições teóricas, para permitir que seus conselhos sejam úteis aos futuros jornalistas.

(B) gírias não dicionarizadas, para imitar a linguagem de jovens de baixa escolaridade.

(C) palavras de uso coloquial, para estabelecer uma interação satisfatória com a
interlocutora.

(D) termos da linguagem jornalística, para causar boa impressão na jovem entrevistadora.

(E) vocabulário técnico, para ampliar o repertório linguístico dos jovens leitores do jornal.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque não temos o foco nessas definições. Na realidade,
o texto prescinde da utilização de definições teóricas. Perceba que o texto é fluido como é
típico das crônicas, que devem atingir a público mais amplo, causando prazer na leitura.

AULA 03 – Variação Linguística 81


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa B está incorreta, porque há uma construção extremamente preconceituosa


nessa alternativa, uma vez que as gírias utilizadas pelo autor são de uso corrente na língua,
não se relacionando à classe social de seus usuários.

A alternativa C está correta, porque o autor mescla de forma primorosa a linguagem


mais formal com o uso da coloquialidade. É interessante notar que temos, por meio dessa
estratégia, uma aproximação interessante com os leitores. Inclusive, essa é uma das marcas da
crônica: a necessidade de ser fluida e de leitura fácil.

A alternativa D está incorreta, porque a crônica versa sobre a forma de escrita a partir
de uma suposta pergunta. Na realidade, o autor não precisa causar essa boa impressão, dado
que seu texto se apresenta claro e direcionado àqueles que irão escrever.

A alternativa E está incorreta, porque não temos aplicação de vocabulário técnico com
essa intenção. A ideia é que o texto flua de forma naturalizada, como apresenta o autor.

Gabarito: C

23. (ENEM – 3ª aplicação/2016)

Um menino aprende a ler

Minha mãe sentava-se a coser e retinha-me de livro na mão, ao lado dela, ao pé da


máquina de costura. O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual,
em letras graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO. Depois de soletrar “es-to-ma-go”,
pronunciei “estomágo”. Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo
e dromedário. Mas estômago, pronunciei estomágo. Minha mãe, bonita como só pode ser
mãe jovem para filho pequeno, o rosto alvíssimo, os cabelos enrolados no pescoço, parou a
costura e me fitou de fazer medo: “Gilberto!”. Estremeci. “Estomágo? Leia de novo, soletre”.
Soletrei, repeti: “Estomágo”. Foi o diabo.

Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago. A cozinheira, os


estribeiros, os criados, Bernada, diziam “estambo”. “Estou com uma dor na boca do
estambo…”, “Meu estambo está tinindo…”. Meus pais teriam pronunciado direito na minha
presença, mas eu não me lembrava. E criança, como o povo, sempre que pode, repele
proparoxítono.

AMADO, G. História da minha infância. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958.

No trecho, em que o narrador relembra um episódio de sua infância, revela-se a possibilidade


de a língua se realizar de formas diferentes. Com base no texto, a passagem em que se
constata uma marca de variedade linguística pouco prestigiada é:

AULA 03 – Variação Linguística 82


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(A) "O livro tinha numa página a figura de um bicho carcunda ao lado da qual, em letras
graúdas, destacava-se esta palavra: ESTÔMAGO".

(B) "Gilberto!". Estremeci. "Estomágo? Leia de novo, soletre". Soletrei, repeti: "Estomágo".

(C) "Eu havia pronunciado bem as duas primeiras palavras que li, camelo e dromedário".

(D) "Jamais tinha ouvido, ao que me lembrasse então, a palavra estômago".

(E) "A cozinheira, os estribeiros, os criados, Bernada, diziam 'estambo".

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque “carcunda” é uma forma pouco usual para
“corcunda”. Perceba que não temos uma variante, nesse caso, relacionada com os aspectos
menos privilegiados da língua.

A alternativa B está incorreta, porque nesse caso há somente a migração da sílaba tônica
para outra sílaba, não sendo um uso corriqueiro de pessoas de classes menos privilegiados.

A alternativa C está incorreta, porque não temos nenhuma noção de variedade


linguística nesse trecho. A palavra em questão é “estambo”.

A alternativa D está incorreta, porque não temos nenhuma noção de variedade


linguística nesse trecho. A palavra em questão é “estambo”.

A alternativa E está correta, porque a palavra que demonstra essa marcação menos
privilegiada é exatamente a variante “estambo”, em lugar da considerada correta, estômago.

Gabarito: E

24. (ENEM – 3ª aplicação/2016)

AULA 03 – Variação Linguística 83


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

No texto, a diversidade linguística é apresentada pela ótica de um observador que entra em


contato com uma comunidade linguística diferente da sua. Esse observador é um

(A) falante do português brasileiro relatando o seu contato na Europa com o português
lusitano.

(B) imigrante em Lisboa com domínio dos registros formal e informal do português
europeu.

(C) turista europeu com domínio de duas variedades do português em visita a Lisboa.

(D) português com domínio da variedade coloquial da língua falada no Brasil.

(E) poeta brasileiro defensor do uso padrão da língua falada em Portugal.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque o observador é claramente um brasileiro que chega


a Portugal e se surpreende com as diferenças dialetais entre os dois portugueses, por assim
dizer. É interessante notar que temos uma relação de surpresa que consegue comprovar essa
chegada de um brasileiro a Lisboa.

A alternativa B está incorreta, porque o observador, pelas primeiras apresentações


vocabulares, é um brasileiro que entra em contato com a variante europeia do português. Pela
surpresa que causa a diversidade linguística, podemos inferir que ele não é um morador de
Lisboa, fato que o levaria a estar acostumado com as diferenças.

A alternativa C está incorreta, porque o observador, pelas primeiras apresentações


vocabulares, é um brasileiro que entra em contato com a variante europeia do português. Ele
não é um turista europeu que conhece as duas variedades.

A alternativa D está incorreta, porque o observador, pelas primeiras apresentações


vocabulares, é um brasileiro que entra em contato com a variante europeia do português.

A alternativa E está incorreta, porque não temos a ideia de que há a defesa do uso
padrão da língua. Na realidade, esse observador contrasta o português falado em Portugal
com o português falado no Brasil, de forma direta com o vocabulário das duas línguas.

Gabarito: A

25. (ENEM – 3ª aplicação/2016)

o::... o Brasil... no meu ponto de vista... entendeu? o país só cresce através da educação...
entendeu? Eu penso assim... então quer dizer... você dando uma prioridade pra... pra
educação... a tendência é melhorar mais... entendeu? e as pessoas... como eu posso explicar
assim? as pessoas irem... tomando conhecimento mais das coisas... né? porque eu acho que a

AULA 03 – Variação Linguística 84


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

pior coisa que tem é a pessoa alienada... né? a pessoa que não tem noção de na::da...
entendeu?
Trecho da fala de J. L, sexo masculino, 26 anos. In: VOTRE, S.; OLIVEIRA, M. R. (Coord.). A língua falada e
escrita na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: www.discursoegramatica.letras.ufrj.br. Acesso em: 4 dez.
2012.

A língua falada caracteriza-se por hesitações, pausas e outras peculiaridades. As ocorrências


de “entendeu” e “né”, na fala de J. L., indicam que

(A) a modalidade oral apresenta poucos recursos comunicativos, se comparada à


modalidade escrita.

(B) a língua falada é marcada por palavras dispensáveis e irrelevantes para o


estabelecimento da interação.

(C) o enunciador procura interpelar o seu interlocutor para manter o fluxo comunicativo.

(D) o tema tratado no texto tem alto grau de complexidade e é desconhecido do


entrevistador.

(E) o falante manifesta insegurança ao abordar o assunto devido ao gênero ser uma
entrevista.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque, em questão de recursos comunicativos, é claro


que há diferenças entre a fala e a escrita, dado que são momentos distintos de uso da
linguagem. Contudo, é claro, ainda, que temos uma relação clara de mais recursos na
oralidade do que na escrita, dado que o contato interpessoal e a entonação contam como
momentos importantes de comunicação.

A alternativa B está incorreta, porque, ainda que existam palavras que não são
construtoras de significados nas interações verbais orais, há palavras que servem para testar o
grau de comprometimento dos interlocutores, chamando a atenção deles para a relação
dialógica.

A alternativa C está correta, porque os elementos utilizados servem como teste de canal
e manutenção de atenção por parte dos falantes. Na realidade, o que temos em eventos de
coloquialidade e de oralidade é a necessidade de manter o canal aberto para que saibamos
que a relação se mantém aberta.

A alternativa D está incorreta, porque as expressões demonstram a relação de teste de


canal da interação oralizada entre os falantes. Não temos uma relação de complexidade com
relação ao que os dois interlocutores discutem.

AULA 03 – Variação Linguística 85


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa E está incorreta, porque não temos processo de insegurança por parte do
falante com relação ao gênero de entrevista.

Gabarito: C

26. (ENEM – 2ª aplicação/2015)

E: Diva … tem algumas … alguma experiência pessoal que você passou e que você poderia
me contar … alguma coisa que marcou você? Uma experiência … você poderia Contar agora

I: É … tem uma que eu vivi quando eu estudava o Terceiro ano científico lá no Atheneu… né..
é:: eu gostava muito do laboratório de química … eu … eu ia ajudar os professores a limpar
aquele material todo … aqueles vidros … eu achava aquilo fantástico … aquele monte de coisa
… né … então … todos os dias eu ia … quando terminavam as aulas eu ajudava o professor a
limpar o laboratório … nesse dia não houve aula e o professor me chamou pra fazer uma
limpeza geral no laboratório … chegando lá … ele me fez uma experiência … ele me mostrou
uma coisa bem interessante que … pegou um béquer com meio d’água e colocou um
pouquinho de cloreto de sódio pastoso… então foi aquele fogaréu desfilando… aquele
fogaréu … quando o professor saiu … eu chamei umas duas colegas minhas pra mostrar a
experiência que eu tinha achado fantástico … só que … eu achei o seguinte … se o professor
colocou um pouquinho … foi aquele desfile … … imagine se eu colocasse mais … peguei o
mesmo béquer … coloquei uma colher … uma colher de cloreto de sódio … foi um fogaréu
tão grande … foi uma explosão … quebrou todo o material que estava exposto em cima da
mesa … eu branca … eu fiquei … olha … eu pensei que eu fosse morrer sabe … quando … o
colégio inteiro correu pro laboratório pra ver o que tinha sido …
CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Natal:
EdUFRN, 1998.

Na transcrição de fala, especialmente, no trecho “eu branca… eu fiquei… olha … eu pensei


que eu fosse morrer sabe…”, há uma estrutura sintática fragmentada, embora facilmente
interpretável… sua presença na fala revela

(A) distração e poucos anos de escolaridade.

(B) falta de coesão e coerência na apresentação das ideias.

(C) afeto e amizade entre os participantes da conversação.

(D) desconhecimento das regras de sintaxe da norma padrão.

(E) característica do planejamento e execução simultânea desse discurso.

AULA 03 – Variação Linguística 86


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque não temos indicação de desconhecimento da


norma nesse trecho. O que entendemos é que a mensagem vai sendo construída conforme
ocorre, fato bastante típico das relações de oralidade.

A alternativa B está incorreta, porque o trecho mostra exatamente a tentativa de


aproximar e de manter evolução nas ideias do falante. Essa construção menos organizada é
fruto da oralidade e de sua necessidade de montar-se durante o uso.

A alternativa C está incorreta, porque, ainda que o afeto e a proximidade possam


influenciar as relações oralizadas de comunicação, nesse caso não temos indicação de que a
hesitação surja dessa relação de proximidade.

A alternativa D está incorreta, porque não há indicação, nesse trecho, de


desconhecimento de regras sintáticas, mas uma relação clara de montagem do discurso
conforme ele ocorre. Note que temos um processo de montagem comunicativa imediato,
sendo feito conforme as necessidades do contexto de uso.

A alternativa E está correta, porque a fala é marcadamente menos planejada do que a


escrita. Isso significa que a pessoa, ao falar, vai construindo o discurso conforme o uso,
trazendo relações que vão sendo feitas conforme as necessidades. Dessa forma, o trecho em
destaque se mostra como uma construção de momento que vai sendo adaptada ao uso.

Gabarito: E

27. (ENEM/2015)

Assum preto
(Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)

Tudo em vorta é só beleza

Sol de abril e a mata em frô

Mas assum preto, cego dos óio

Num vendo a luz, ai, canta de dor

Tarvez por ignorança

Ou mardade das pió

Furaro os óio do assum preto

Pra ele assim, ai, cantá mió

AULA 03 – Variação Linguística 87


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Assum preto veve sorto

Mas num pode avuá

Mil veiz a sina de uma gaiola

Desde que o céu, ai, pudesse oiá.

As marcas da variedade regional registradas pelos compositores de Assum preto resultam da


aplicação de um conjunto de princípios ou regras gerais que alteram a pronúncia, a
morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é resultado de uma mesma regra, a:

(A) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”.

(B) pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”.

(C) flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”.

(D) redundância nas expressões “cego dos óio” e “mata em frô”.

(E) pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá”.

Comentário:

A única alternativa que apresenta constância na mudança entre as palavras é a B, em


que se encontra a mudança do “L” para “R” quando precedido por uma vogal (talvez se torna
tarvez; solto se torna sorto). Assim, a alternativa correta é alternativa B.

Na alternativa A, “vorta” tem o mesmo movimento, mas “veve” provoca troca entre
vogais.

Na alternativa C, há alteração do sufixo marcador de tempo do verbo (furaram) e


supressão do infinitivo (cantar).

Na alternativa D, não há redundância em “mata em frô”, mas sim descrição da estação


do ano ou condição do meio ambiente.

Na alternativa E, “ignorança” é uma modificação de pronúncia e “avuá” é uma


modificação de pronúncia de uma palavra que caiu em desuso (avoar).

Gabarito: B

28. (ENEM – 2ª aplicação/2015)

Como estamos na “Era Digital”, foi necessário rever os velhos ditados existentes e adaptá-los
à nova realidade. Veja abaixo…

1. A pressa é inimiga da conexão.

2. Amigos, amigos, senhas à parte.

AULA 03 – Variação Linguística 88


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

3. Para bom provedor uma senha basta.

4. Não adianta chorar sobre arquivo deletado.

5. Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.

6. Quem clica seus males multiplica.

7. Quem semeia e-mails, colhe spams.

8. Os fins justificam os e-mails.

Disponível em: www.abusar.org.br. Acesso em: 20 maio 2015 (adaptado).

No texto, há uma reinterpretação de ditados populares com o uso de termos da informática.


Essa reinterpretação

(A) torna o texto apropriado para profissionais da informática.

(B) atribui ao texto um caráter humorístico.

(C) restringe o acesso ao texto por público não especializado.

(D) deixa a terminologia original mais acessível ao público em geral.

(E) dificulta a compreensão do texto por quem não domina a língua inglesa.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque, ainda que sejam expressões mais relacionadas
com a informática, não restringem a compreensão somente aos especialistas nessa área de
conhecimento. É interessante notar que são expressões de conhecimento mais geral.

A alternativa B está correta, porque temos uma brincadeira com os ditados anteriores,
tentando criar uma aproximação bem humorada entre o texto e os leitores em geral.

A alternativa C está incorreta, porque, ainda que sejam expressões mais relacionadas
com a informática, não restringem a compreensão somente aos especialistas nessa área de
conhecimento. É interessante notar que são expressões de conhecimento mais geral.

A alternativa D está incorreta, porque, ainda que sejam expressões de conhecimento


mais popular, não estão relacionadas diretamente com a facilitação das informações para um
público generalizado.

A alternativa E está incorreta, porque os poucos elementos em língua inglesa do texto


estão relacionados diretamente ao dia a dia das pessoas que utilizam os computadores e a
informática, não dificultando em nada a compreensão dele.

Gabarito: B

AULA 03 – Variação Linguística 89


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

29. (ENEM – 2ª aplicação/2015)

Em primeiro lugar gostaria de manifestar os meus agradecimentos pela honra de vir


outra vez à Galiza e conversar não só com os antigos colegas, alguns dos quais fazem parte da
mesa, mas também com novos colegas, que pertencem à nova geração, em cujas mãos, com
toda certeza, está também o destino do Galego na Galiza, e principalmente o destino do
Galego incorporado à grande família lusófona.

E, portanto, é com muito prazer que teço algumas considerações sobre o tema
apresentado. Escolhi como tema como os fundadores da Academia Brasileira de Letras viam
a língua portuguesa no seu tempo. Como sabem, a nossa Academia, fundada em 1897, está
agora completando 110 anos, foi organizada por uma reunião de jornalistas, literatos, poetas
que se reuniam na secretaria da Revista Brasileira, dirigida por um crítico literário e por um
literato chamado José Veríssimo, natural do Pará, e desse entusiasmo saiu a ideia de se criar a
Academia Brasileira, depois anexada ao seu título: Academia Brasileira de Letras.

Nesse sentido, Machado de Assis, que foi o primeiro presidente desde a sua
inauguração até a data de sua morte, em 1908, imaginava que a nossa Academia deveria ser
uma academia de Letras, portanto, de literatos.

BECHARA, E. Disponível em: www.academiagalega.org. Acesso em: 31 jul. 2012

No trecho da palestra proferida por Evanildo Bechara, na Academia Galega da Língua


Portuguesa, verifica-se o uso de estruturas gramaticais típicas da norma padrão da língua. Esse
uso

(A) torna a fala inacessível aos não especialistas no assunto abordado.


(B) contribui para a clareza e a organização da fala no nível de formalidade esperado para
a situação.

(C) atribui à palestra características linguísticas restritas à modalidade escrita da língua


portuguesa.

(D) dificulta a compreensão do auditório para preservar o caráter rebuscado da fala.

(E) evidencia distanciamento entre o palestrante e o auditório para atender os objetivos do


gênero palestra.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque a norma culta é, ainda que utilizada em momentos
mais específicos, uma forma de aproximação dos falantes e não uma maneira de tornar a

AULA 03 – Variação Linguística 90


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

mensagem somente entendida por uma parte dos falantes. Isso ocorre, normalmente, com o
uso de um vocabulário específico.

A alternativa B está correta, porque a norma culta, quando utilizada, principalmente na


fala, contribui para uma construção mais interessante quanto à organização e a consequente
compreensão do texto. Dessa forma, podemos entender que temos o uso da norma culta
atendendo ao contexto de uso e facilitando a compreensão e a organização do discurso.

A alternativa C está incorreta, porque a fala, ainda que se utilize em sua maior parte de
regras da norma culta, não se aproxima da escrita, dado que, linguisticamente, a norma culta
modifica a língua como um todo e não somente uma forma de uso.

A alternativa D está incorreta, porque o público é conhecedor das normas da língua e,


por isso, não temos uma relação de menor compreensão da mensagem enviada. Na realidade,
ainda que não tenhamos necessariamente conhecimento acerca das normas, ela não
atrapalha a compreensão dos falantes, mas contribui para uma padronização.

A alternativa E está incorreta, porque o público está muito próximo do palestrante, por
isso, não podemos entender que ele usa a norma culta para afastar-se do público, mas para
que possa organizar melhor sua fala e ser reconhecido.

Gabarito: B

30. (ENEM – 2ª aplicação/2015)

Mudança linguística

Ataliba de Castilho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é parte
da metamorfose natural da língua.

— Com a internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o


que ocorreu com “você”, que se tornou o pronome átono “cê”. Agora, o interneteiro pode
ajudar a reduzir os excessos da ortografia, e bem sabemos que são muitos. Por que o acento
gráfico é tão importante assim para a escrita? Já tivemos no Brasil momentos até mais
exacerbados por acentos e dispensamos muitos deles. Como toda palavra é contextualizada
pelo falante, podemos dispensar ainda muitos outros. O interneteiro mostra um caminho, pois
faz um casamento curioso entre oralidade e escrituralidade. O internetês pode, no futuro, até
tornar a comunicação mais eficiente. Ou evoluir para um jargão complexo, que, em vez de
aproximar as pessoas em menor tempo, estimule o isolamento dos iniciados e a exclusão dos
leigos.

Para Castilho, no entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que
precisamos na língua. Será a internet. O jeito eh tc e esperar pra ver?

Disponível em: http://revistalingua.com.br. Acesso em: 3 jun. 2015 (adaptado).

AULA 03 – Variação Linguística 91


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Na entrevista, o fragmento “O jeito eh tc e esperar pra ver?” tem por objetivo

(A) ilustrar a linguagem de usuários da internet que poderá promover alterações de grafias.

(B) mostrar os perigos da linguagem da internet como potencializadora de dificuldades de


escrita.

(C) evidenciar uma forma de exclusão social para as pessoas com baixa proficiência escrita.

(D) explicar que se trata de um erro linguístico por destoar do padrão formal apresentado
ao longo do texto.

(E) exemplificar dificuldades de escrita dos interneteiros que desconhecem as estruturas


da norma padrão.

Comentários:

A alternativa A está correta, porque o objetivo do autor foi claramente demonstrar o


que pode vir acontecer, ou melhor, já está acontecendo nas construções vocabulares da
linguagem de internet.

A alternativa B está incorreta, porque a ideia é exatamente a oposta a isso. O autor


mostra que temos, na realidade uma noção de modificação para facilitar o uso em
determinado contexto e não de forma a colocar em risco a escrita.

A alternativa C está incorreta, porque não temos uma relação de exclusão social das
pessoas pelo uso das expressões escritas a partir da internet. Não se deixe levar pela ideia de
que as pessoas de menor renda não têm acesso à internet.

A alternativa D está incorreta, porque o autor defende a ideia de que há uma adequação
do uso da linguagem. Logo, não podemos entender que há erro linguístico no trecho.
Inclusive, a noção de erro, conforme a concebemos, como quebra de norma culta, não é
necessariamente um erro linguístico.

A alternativa E está incorreta, porque o fragmento em questão mostra que conseguimos


entender o que é escrito na internet sem maiores dificuldades. Não temos, portanto, uma
relação de que os usuários da internet desconhecem a norma culta.

Gabarito: A

31. (ENEM/2014)

Óia eu aqui de novo

Óia eu aqui de novo xaxando


Óia eu aqui de novo para xaxar

Vou mostrar pr’esses cabras

AULA 03 – Variação Linguística 92


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Que eu ainda dou no couro

Isso é um desaforo

Que eu não posso levar

Que eu aqui de novo cantando

Que eu aqui de novo xaxando

Óia eu aqui de novo mostrando

Como se deve xaxar

Vem cá morena linda

Vestida de chita

Você é a mais bonita

Desse meu lugar

Vai, chama Maria, chama Luzia

Vai, chama Zabé, chama Raquel

Diz que eu tou aqui com alegria


BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: www. luizluagonzaga.mus.br.
Acesso em: 5 maio 2013 (fragmento).

A letra da canção de Antônio de Barros manifesta aspectos do repertório linguístico e cultural


do Brasil. O verso que singulariza uma forma característica do falar popular regional é

(A) “Isso é um desaforo”

(B) “Diz que eu tou aqui com alegria”

(C) “Vou mostrar pr’esses cabras”

(D) “Vai, chama Maria, chama Luzia”

(E) “Vem cá morena linda, vestida de chita”

Comentário:

A única alternativa que apresenta expressão regional é “Vou mostrar pr’esses cabras”,
já que “cabras” se equivale a “homens”. A alternativa correta é alternativa C.

A alternativa A está incorreta, pois o trecho destacado está escrito de acordo com a
norma culta.

AULA 03 – Variação Linguística 93


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa B está incorreta, pois apesar de conter uma marca de oralidade em “tou
aqui”, a questão pergunta especificamente sobre falar popular regional. Preste sempre
atenção aos enunciados.

A alternativa D está incorreta, pois o trecho destacado está escrito de acordo com a
norma culta.

A alternativa E está incorreta, pois o trecho destacado está escrito de acordo com a
norma culta.

Gabarito: C

32. (ENEM/2014)

Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou
com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso,
resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu
estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor.
Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega
do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado,
que disse:

— Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!


O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em:
http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.

A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato


envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva

(A) evidenciar a importância de marcas linguísticas valorizadoras da linguagem coloquial.

(B) demonstrar incômodo com a variedade característica de pessoas pouco escolarizadas.

(C) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor.

(D) criticar a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos.

(E) estabelecer uma política de incentivo à escrita correta das palavras.

Comentários:

O efeito de humor está na confusão entre águia e “aguia” – um equivalente para


“agulha”. O nome do estabelecimento está grafado no modo como uma parcela da população
pronuncia a palavra “agulha”, não compreendido por Rui Barbosa no texto. A alternativa
correta, portanto, é alternativa C.

AULA 03 – Variação Linguística 94


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa A está incorreta, pois não há, normalmente, a ideia de valor sobre as
marcas do falar coloquial, pelo contrário: esse falar é muitas vezes fruto de preconceito
linguístico.

A alternativa B está incorreta, pois aqui o objetivo não é produzir uma crítica, mas sim
gerar um efeito de humor.

A alternativa D está incorreta, pois o texto não produz crítica aos modos de falar, apenas
aponta a diferença entre a forma escrita e a forma oral da língua.

A alternativa E está incorreta, pois o texto não promove um incentivo a outras formas de
falar, apenas relata uma situação.

Gabarito: C

33. (ENEM/2014)

Em bom português

No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria
que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como
do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma
parte do léxico cai em desuso.

Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os
que falam assim:

– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.

Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com
um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de
banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um
automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão
andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua
esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.

SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).

A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica


essa característica da língua, evidenciando que

(A) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.

(B) a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações.

(C) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.

AULA 03 – Variação Linguística 95


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(D) a pronúncia e o vocábulo são aspectos identificadores da classe social a que pertence o
falante.

(E) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas
as regiões.

Comentários:

O texto aponta para modos de falar ligados às diferenças geracionais. Dizer “sua
senhora” ao invés de “sua mulher”, por exemplo, aponta para um modo de falar que era mais
comum no passado. Muitas vezes, porém, pessoas mais velhas não perdem alguns hábitos
linguísticos e seguem falando do modo como se falava anteriormente. Isso demonstra que, na
comparação entre diferentes gerações, pode-se perceber bem as inovações no léxico. A
alternativa correta é alternativa B.

A alternativa A está incorreta, pois o texto apenas aponta as diferenças, sem incentivar
nenhum dos usos especificamente.

A alternativa C está incorreta, pois a diversidade apontada é de idade, geração, não


geografia.

A alternativa D está incorreta, pois a diversidade apontada é de idade, geração, não


classe social.

A alternativa E está incorreta, pois o texto aponta para as variações da língua


portuguesa, não a uniformidade.

Gabarito: B

34. (ENEM/2014)

Evocação do Recife

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros

Vinha da boca do povo na língua errada do povo

Língua certa do povo

Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil

Ao passo que nós

O que fazemos

É macaquear
A sintaxe lusíada…
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

AULA 03 – Variação Linguística 96


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Segundo o poema de Manuel Bandeira, as variações linguísticas originárias das classes


populares devem ser

(A) satirizadas, pois as várias formas de se falar o português no Brasil ferem a língua
portuguesa autêntica.

(B) questionadas, pois o povo brasileiro esquece a sintaxe da língua portuguesa.

(C) subestimadas, pois o português “gostoso” de Portugal deve ser a referência de correção
linguística.

(D) reconhecidas, pois a formação cultural brasileira é garantida por meio da fala do povo.

(E) reelaboradas, pois o povo “macaqueia” a língua portuguesa original.

Comentários:

O texto aponta que o chamado “erro de português” é na verdade um acerto. Quando


nos fixamos na norma culta estamos copiando (“macaqueando”) os portugueses. É na
oralidade e nas ruas que está a produção da verdadeira fala do povo brasileiro, aquela que
nos pertence verdadeiramente. Deve-se reconhecer o valor das variantes linguísticas, pois elas
são garantia da formação cultural do Brasil. A alternativa correta é alternativa D.

A alterativa A está incorreta, pois não há a indicação de que se deve satirizar as


variantes, mas sim valorizá-las.

A alterativa B está incorreta, pois o poeta não indica que devemos imitar a sintaxe
portuguesa, tampouco tentar nos aproximar dela.

A alterativa C está incorreta, pois a referência ao português “Gostoso” é para aquele


que é produzido na oralidade pelo povo brasileiro.

A alterativa E está incorreta, pois a variante linguística das ruas é a própria reelaboração
do português, mas à maneira do povo

Gabarito: D

AULA 03 – Variação Linguística 97


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

35. (ENEM – 3ª aplicação/2014)

Nas regras de etiqueta, a linguagem coloquial promove maior proximidade do leitor com o
texto. Um recurso para a produção desse efeito constitui um desvio à variedade padrão da
língua portuguesa. Trata-se do uso

(A) de palavras estrangeiras, como "darling" e "pet", pois afrontam a identidade nacional.

(B) do verbo "ter", que foi utilizado em lugar de "haver" com o sentido de "existir".

(C) da forma verbal "adorei", uma expressão exagerada de emoção e sentimento.

(D) do modo imperativo, típico das conversas informais.

(E) do substantivo "bate-papo", que é uma gíria inadequada para regras de etiqueta.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque o uso de palavras estrangeiras não fere a


formalidade do texto, que não se relaciona com a identidade nacional.

A alternativa B está correta, porque o verbo ter no sentido de existir é uma das
incorreções mais comuns com relação ao uso culto da língua. Sua própria utilização,
exagerada na fala, tem sido considerada ainda um erro com relação à norma culta. Não se
esqueça de que a questão está tratando de uso de formalidade, com necessidade de norma
culta.

AULA 03 – Variação Linguística 98


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa C está incorreta, porque o verbo “adorar” pode ser utilizado como
determinador de intensidade de gosto, como seu sinônimo com uma intensidade maior. Não
se confunda com o uso oralizado em que a entonação faz diferença para o uso.

A alternativa D está incorreta, porque não há uma relação de ligação clara entre o
imperativo e as conversas informais. Inclusive, muitos textos extremamente formais se utilizam
desse tipo de verbo, como ocorre com as bulas de remédio, por exemplo.

A alternativa E está incorreta, porque a palavra “bate-papo”, ainda que tenha sido
incorporada pela informática, não se apresenta como um uso não recomendado pela norma
culta.

Gabarito: B

36. (ENEM – 3ª aplicação/2014)

Essa tirinha tem como tema a nova ortografia da língua portuguesa e os diversos tipos de
linguagem hoje existentes. A situação apresentada no último quadrinho indica que

(A) o sobrinho não compreendeu a linguagem mais conservadora utilizada pelo seu tio.

(B) o tio não está familiarizado com a linguagem de chats e de mensagens instantâneas.

(C) a informalidade presente na linguagem do sobrinho impede a comunicação com o tio.

(D) o tio deve evitar utilizar a norma padrão da língua no contexto da internet.

(E) o sobrinho desconhece a norma padrão da língua portuguesa.

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque o sobrinho entende completamente o que o tio


pede, tanto que sua resposta é extremamente coerente com o momento de relação linguística
que os dois estabelecem. O problema é o contrário: o tio se assusta com a variante usada pelo
sobrinho em contexto de bate-papo on-line.

AULA 03 – Variação Linguística 99


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa B está correta, porque o último quadrinho mostra que o tio pensa que o
sobrinho não sabe escrever. Quando olhamos a fala do sobrinho, percebemos que temos
claramente uma variante muito comum na internet, em salas de bate-papo e aplicativos, mais
modernamente, de conversas. Como se assusta com esse uso, percebe-se que o tio não está
realmente familiarizado com essa variante muito comum.

A alternativa C está incorreta, porque, no último quadrinho, não temos um problema


de comunicação entre o tio e o sobrinho, dado que o tio entende o que o sobrinho escreve.
Contudo, ele não considera o sobrinho uma boa referência para ensinar-lhe sobre a norma
culta, em especial o novo acordo ortográfico.

A alternativa D está incorreta, porque o foco do último quadrinho está focado no tipo
de linguagem utilizada pelo sobrinho, que é considerada adequada ao contexto internético,
sem uma relação de que o tio deverá utilizar necessariamente a norma culta nesse contexto.

A alternativa E está incorreta, porque o uso da variante internética não indica claramente
que o sobrinho desconhece a norma padrão. Essa, inclusive, é a ideia que o tio parece ter,
mas não se sustenta a partir de um pensamento linguístico, extremamente necessário à
realização da prova do ENEM.

Gabarito: B

37. (ENEM/2013)

O cordelista por ele mesmo


Aos doze anos eu era
forte, esperto e nutrido.
Vinha do Sítio de Piroca
muito alegre e divertido
vender cestos e balaios
que eu mesmo havia tecido.

Passava o dia na feira


e à tarde regressava
levando umas panelas
que minha mãe comprava
e bebendo água salgada
nas cacimbas onde passava.
BORGES, J. F. Dicionário dos sonhos e outras histórias de cordel.
Porto Alegre: LP&M, 2003 (fragmento).

AULA 03 – Variação Linguística 100


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Literatura de cordel é uma criação popular em verso, cuja linguagem privilegia,


tematicamente, histórias de cunho regional, lendas, fatos ocorridos para firmar certas crenças
e ações destacadas nas sociedades locais. A respeito do uso das formas variantes da
linguagem no Brasil, o verso do fragmento que permite reconhecer uma região brasileira é

a) “muito alegre e divertido”.

b) “Passava o dia na feira”.

c) “levando umas panelas”.

d) “que minha mãe comprava”.

e) “nas cacimbas onde passava”.

Comentários:

O trecho em que se percebe uma variante regional do português é “nas cacimbas onde
passava”.

A palavra “cacimba” significa Poço artesanal, lugar de guardar água feito no chão. É
uma expressão típica do nordeste brasileiro.

Assim, a alternativa correta é alternativa E.

Gabarito: E

38. (ENEM – 2ª aplicação/2013)

— Ora dizeis, não é verdade? Pois o Sr. Lúcio queria esse cravo, mas vós lho não podíeis dar,
porque o velho militar não tirava os olhos de vós; ora, conversando com o Sr. Lúcio, acordastes
ambos que ele iria esperar um instante no jardim...
MACEDO, J. M. A moreninha. Disponível em: www.dominiopublico.com.br.
Acesso em: 17 abr. 2010 (fragmento).

O trecho faz parte do romance A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Nessa parte do
romance, há um diálogo entre dois personagens. A fala transcrita revela um falante que utiliza
uma linguagem

(A) informal, com estruturas e léxico coloquiais.

(B) regional, com termos característicos de uma região.

(C) técnica, com termos de áreas específicas.

(D) culta, com domínio da norma padrão.

(E) lírica, com expressões e termos empregados em sentido figurado.

AULA 03 – Variação Linguística 101


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Comentários:

A alternativa A está incorreta, porque o registro é exatamente o contrário a esse. No


caso, temos claramente uma relação de uso de registro formal, como indica, por exemplo, o
uso da construção “lho”, não encontrada no registro informal.

A alternativa B está incorreta, porque não temos uma variação linguística identificável
no trecho. O uso vocabular, que indicaria essa noção regional, é comum às diversas
variedades do português padrão.

A alternativa C está incorreta, porque não temos emprego de expressões de áreas


específicas, como veremos a seguir, a linguagem deve ser considerada em registro culto.

A alternativa D está correta, porque temos construções extremamente cultas, como a


elisão do “lhe” e do “o”, em “lho”, além de um uso correto da segunda pessoa gramatical,
também considerado muito culto atualmente.

A alternativa E está incorreta, porque não temos nenhuma figura de linguagem nesse
trecho. Perceba que todas as informações se utilizam de linguagem denotativa e não
linguagem conotativa, típica do sentido figurado.

Gabarito: D

39. (ENEM – 2ª aplicação/2019)

História da máquina que faz o mundo rodar


Cego, aleijado e moleque,
Padre, doutor e soldado,
Inspetor, juiz de direito,
Comandante e delegado,
Tudo, tudo joga o dinheiro
Esperando bom resultado.
Matuto, senhor de engenho,
Praciano e mandioqueiro,
Do agreste ao sertão
Todos jogam seu dinheiro
Se um diz que é mentiroso
Outro diz que é verdadeiro.
Na opinião do povo
Não tem quem possa mandar
Faça ou não faça a máquina
O povo tem que esperar
Por que quem joga dinheiro
Só espera mesmo é ganhar.
Assim é que muitos pensam
Que no abismo não cai
Que quem não for no Juazeiro
Depois de morto ainda vai,

AULA 03 – Variação Linguística 102


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Assim também é crença


Que a dita máquina sai.
Quando um diz: ele não faz,
Já outro fica zangado
Dizendo: assim como Cristo
Morreu e foi ressuscitado
Ele também faz a máquina
E seu dinheiro é lucrado.

CRUZ, A. F. Disponível em: www.jangadabrasil.org. Acesso em: 5 ago. 2012 (fragmento).

No fragmento, as escolhas lexicais remetem às origens geográficas e sociais da literatura de


cordel. Exemplifica essa remissão o uso de palavras como

(A) cego, aleijado, moleque, soldado, juiz de direito.

(B) agreste, sertão, Juazeiro, matuto, senhor de engenho.

(C) comandante, delegado, dinheiro, resultado, praciano.

(D) mentiroso, verdadeiro, joga, ganhar.

(E) morto, crença, zangado, Cristo.

Comentários:

O cordel, como é importante sempre ressaltar, é um gênero literário extremamente


comum no Nordeste brasileiro e, por isso, sempre apresenta elementos claros da região. É
comum que seja um texto de denúncia da situação principalmente social dos sertanejos.
Dessa forma, o vocabulário passa a ser extremamente importante para a construção dessas
características regionais, fazendo com que as palavras encontradas na alternativa B sejam as
que melhor atendem à pergunta feita, uma vez que todas se relacionam ao Nordeste.

Gabarito: B

40. (ENEM/2012)

No Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações indígenas do país
falam cerca de 180 línguas, e as comunidades de descendentes de imigrantes cerca de 30
línguas. Há uma ampla riqueza de usos, práticas e variedades no âmbito da própria língua
portuguesa falada no Brasil, diferenças estas de caráter diatópico (variações regionais) e
diastrático (variações de classes sociais) pelo menos. Somos, portanto, um país de muitas
línguas, tal qual a maioria dos países do mundo (em 94% dos países são faladas mais de uma
língua).

AULA 03 – Variação Linguística 103


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Fomos no passado, ainda muito mais do que hoje, um território plurilíngue. Cerca de
1078 línguas indígenas eram faladas quando aqui aportaram os portugueses, há 500 anos,
segundo estimativas de Rodrigues (1993). Porém, o Estado português e, depois da
independência, o Estado brasileiro, que o sucedeu, tiveram por política impor o português
como a única língua legítima, considerando-a “companheira do Império”. A política linguística
principal do Estado sempre foi a de reduzir o número de línguas, num processo de glotocídio
(eliminação de línguas) por meio do deslocamento linguístico, isto é, de sua substituição pela
língua portuguesa. Somente na primeira metade do século XX, segundo Darcy Ribeiro, 67
línguas indígenas desapareceram no Brasil — mais de uma por ano, portanto. Das cerca de 1
078 línguas indígenas faladas em 1 500, ficamos com aproximadamente 180 em 2000 (um
decréscimo de 85%), e várias destas 180 encontram-se em estado avançado de
desaparecimento.

Disponível em: www.cultura.gov. Acesso em: 28 fev. 2012 (adaptado).

As línguas indígenas contribuíram, entre outros aspectos, para a introdução de novas palavras
no português do Brasil. De acordo com o texto apresentado, infere-se que a redução do
número de línguas indígenas

(A) ocasionou graves consequências para a preservação do nosso patrimônio linguístico e


cultural, uma vez que a redução dessas línguas significa a perda da herança cultural de
um povo.

(B) manteve a preservação de nosso patrimônio linguístico e cultural, porque, assim como
algumas línguas morrem, outras nascem de tempos em tempos, o que contribui para a
conservação do idioma.
(C) foi um processo natural pelo qual a língua portuguesa passou, não significando,
portanto, prejuízos para o patrimônio linguístico do Brasil, que se conservou inalterado
até nossos dias.

(D) contribuiu para a mudança de posicionamento da política linguística do Estado, que


passou a desconsiderar as línguas indígenas como um importante meio de
comunicação dos primeiros habitantes.

(E) representou uma fase do desenvolvimento da língua portuguesa, que, como qualquer
outra língua, passou pelo processo de renovação vocabular, que exige a redução das
línguas.

AULA 03 – Variação Linguística 104


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

Comentários:

Tendo-se em vista que uma língua é um patrimônio cultural de um povo, pode-se dizer
que o desaparecimento de uma língua significa o apagamento da herança cultural desse
grupo de pessoas. Assim, a alternativa correta é alternativa A.

A alternativa B está incorreta, pois não houve conservação dos idiomas, mas sim seu
desaparecimento, sua não preservação.

A alternativa C está incorreta, pois o processo não é natural, mas fruto de um extermínio
da população indígena do país, que gerou prejuízos ao patrimônio linguístico do Brasil.

A alternativa D está incorreta, pois essa já era a política linguística desde a colonização,
não sendo possível dizer que houve mudança de atitude.

A alternativa E está incorreta, pois o texto não fala sobre renovação vocabular, mas sim
sobre o desaparecimento programado de uma cultura.

Gabarito: A

41. (ENEM/2012)

A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil,


corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa,
paralelo ao que já ocorrera em relação a ampliação do domínio de ter na área semântica de
“posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver
e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de
Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se
evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos
de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por
Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali.

Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento


deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e
prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer
uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-
se uma norma por outra?
CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado, In:
Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).

Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que

(A) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica.

(B) os estudo clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua.

(C) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma.

AULA 03 – Variação Linguística 105


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(D) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos
linguísticos.

(E) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística.

Comentários:

Para autora, pensar na língua exclusivamente a partir da norma aponta um


desconhecimento sobre os processos de constituição linguística, pois excluem as
possibilidades surgidas no uso da língua, que não necessariamente se preocupa com a norma
culta. Assim, a alternativa correta é alternativa E.

A alternativa A está incorreta, pois a pesquisa histórica ajuda a fundamentar a norma


segundo o texto.

A alternativa B está incorreta, pois, segundo a autora, muitas vezes esses estudos
deixam os aspectos dos usos cotidianos e da oralidade de lado.

A alternativa C está incorreta, pois a norma, segundo o texto, parte muito da pesquisa
documental histórica, não das variantes.

A alternativa D está incorreta, pois a norma de fato é uma só, porém não se pode
considerar que os usos fora da norma estão incorretos, mas sim reconhecer sua importância
para a compreensão de uma língua.

Gabarito: E

42. (ENEM/2012)

Disponível em: http://blog.educacional.com.br. Acesso em: 30 set. 2011.

As variações e as mudanças nas línguas estão correlacionadas a fatores sociais. Na tira, a


dedução do pai da garota é confirmada e gera o efeito de humor, pois seu interlocutor
apresenta um vocabulário

(A) urbano, típico de quem nasce nas grandes metrópoles brasileiras.

AULA 03 – Variação Linguística 106


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(B) formal, relativo a quem frequenta a escola por muitos anos.

(C) elitizado, encontrado entre falantes de classe socioeconômica alta.

(D) especial, restrito a quem frequenta os espaços da juventude.

(E) conservador, representado por uma fala arcaica para a geração atual.

Comentários:

A palavra “vosmecê” já caiu em desuso, tendo sido substituída pelo “você”. Já


“parvoíce” é um termo que, apesar de ainda existir, é pouco usado. Assim pode-se dizer que
a fala da personagem é arcaica se comparada com a geração atual. A alternativa correta é
alternativa E.

A alternativa A está incorreta, pois em nenhum momento faz-se referência ao espaço


geográfico, mas sim à idade.

A alternativa B está incorreta, pois em nenhum momento faz-se referência ao nível de


escolaridade dos falantes, mas sim à idade.

A alternativa C está incorreta, pois em nenhum momento faz-se referência à classe social
dos falantes, mas sim à idade.

A alternativa D está incorreta, pois em nenhum momento faz-se juízo de valor sobre os
falantes, como se alguma das características conferisse status de especial.

Gabarito: E

43. (ENEM/2011)
Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela
comunidade sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de
complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram uma norma
nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as
normas do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas também as
chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se insistir na ideia de que
essas normas se consolidaram em diferentes momentos da nossa história e que só a partir do
século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em
consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em ambos os
territórios.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática:
descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado).

AULA 03 – Variação Linguística 107


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

O português do Brasil não é uma língua uniforme. A variação linguística é um fenômeno


natural, ao qual todas as línguas estão sujeitas. Ao considerar as variedades linguísticas, o texto
mostra que as normas podem ser aprovadas ou condenadas socialmente, chamando a
atenção do leitor para a

(A) desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta.

(B) difusão do português de Portugal em todas as regiões do Brasil só a partir do século


XVIII.

(C) existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do Brasil, distinta da
de Portugal.

(D) inexistência de normas cultas locais e populares ou vernáculas em um determinado


país.

(E) necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem ser
aceitos.

Comentários:

As normas da língua são locais, independente se populares ou vernáculas. Elas formam


a norma da língua nacional de maneira distinta do português de Portugal. As línguas aqui
existentes e os outros falares típicos da região colaboram para um uso do português no Brasil
distinto de Portugal. A alternativa correta é alternativa C.

A alternativa A está incorreta, pois o texto defende que se deve considerar os modos
de falar populares do país ao pensar em uma língua.

A alternativa B está incorreta, pois o texto aponta para a bifurcação das variantes
continentais, não para a difusão do português.

A alternativa D está incorreta, pois o texto aponta para a existência de normas


linguísticas locais no território brasileiro.
A alternativa E está incorreta, pois o texto afirma que devemos levar em consideração
os diversos usos da língua, não deixando as expressões populares de lado.

Gabarito: C

44. (ENEM/2011)

Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que, a depender do estrato
social e do nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até mesmo
em falantes que dominam a variedade padrão, pois, na verdade, revelam tendências
existentes na língua em seu processo de mudança que não podem ser bloqueadas em nome
de um "ideal linguístico” que estaria representado pelas regras da gramática normativa. Usos

AULA 03 – Variação Linguística 108


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

como ter por haver em construções existenciais (tem muitos livros na estante), o do pronome
objeto na posição de sujeito (para mim fazer o trabalho), a não-concordância das passivas com
se (aluga-se casas) são indícios da existência, não de uma norma única, mas de uma
pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma como conjunto de hábitos
linguísticos, sem implicar juízo de valor.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino
de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).

Considerando a reflexão trazida no texto a respeito da multiplicidade do discurso, verifica-se


que

(A) estudantes que não conhecem as diferenças entre língua escrita e língua falada
empregam, indistintamente, usos aceitos na conversa com amigos quando vão elaborar
um texto escrito.
(B) falantes que dominam a variedade padrão do português do Brasil demonstram usos
que confirmam a diferença entre a norma idealizada e a efetivamente praticada, mesmo
por falantes mais escolarizados.

(C) moradores de diversas regiões do país que enfrentam dificuldades ao se expressar na


escrita revelam a constante modificação das regras de emprego de pronomes e os
casos especiais de concordância.

(D) pessoas que se julgam no direito de contrariar a gramática ensinada na escola gostam
de apresentar usos não aceitos socialmente para esconderem seu desconhecimento da
norma padrão.

(E) usuários que desvendam os mistérios e sutilezas da língua portuguesa empregam


formas do verbo ter quando, na verdade, deveriam usar formas do verbo haver,
contrariando as regras gramaticais.

Comentários:

A língua falada e a língua escrita são diferentes. Na oralidade, permitem-se uma série
de práticas que seriam consideradas incorretas segundo a norma culta. Meus falantes mais
escolarizados podem incorrer nesses usos que muitas vezes são referidos como “incorretos”.
Assim, a alternativa correta é alternativa B.

A alternativa A está incorreta, pois as pessoas conhecem as diferenças entre as línguas


escritas e faladas, mas elas podem ser utilizadas sem prejuízo na oralidade.
A alternativa C está incorreta, pois o problema da língua escrita não é sua variação –
muito mais presente na oralidade inclusive – mas sim a diferença entre falar e escrever.

AULA 03 – Variação Linguística 109


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

A alternativa D está incorreta, pois ainda que se conheça a norma padrão, pode-se
incorrer em fugas à norma culta na oralidade, uma vez que o importante é a mensagem a ser
passada aqui.

A alternativa E está incorreta, pois não há incorreção nessa substituição na língua falada,
uma vez que os falantes são capazes de compreender-se mutuamente.

Gabarito: B

45. (ENEM/2011)

História do contato entre línguas no Brasil

No Brasil, o contato dos colonizadores portugueses com milhões de falantes de mais


de mil línguas autóctones e de cerca de duzentas línguas que vieram na boca de cerca de
quatro milhões de africanos trazidos para o país como escravos é, sem sombra de dúvida, o
principal parâmetro histórico para a contextualização das mudanças linguísticas que afetaram
o português brasileiro. E processos como esses não devem ser levados em conta apenas para
a compreensão das diferenças entre as variedades linguísticas nacionais. O próprio
mapeamento das variedades linguísticas contemporâneas do português europeu e,
sobretudo, do português brasileiro, tanto no plano diatópico quanto no plano diastrático,
depende crucialmente de uma apurada compreensão do processo histórico de sua formação.
LUCCCHESI, D.; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. (orgs.). O português afro-brasileiro.
Salvador: EdUFBA, 2009 (adaptado).
Glossário:
Autóctone: nativo de uma região.
Diatópico: referente à variação de uma mesma língua no plano regional (país, estado, cidade etc.).
Diastrático: referente à variação de uma mesma língua em função das diversas classes sociais.

Do ponto de vista histórico, as mudanças linguísticas que afetaram o português do Brasil têm
sua origem no contato dos colonizadores com inúmeras línguas indígenas e africanas.
Considerando as reflexões apresentadas no texto, verifica-se que esse processo, iniciado no
começo da colonização, teve como resultado

(A) a aceitação da escravidão, em que seres humanos foram reduzidos à condição de


objeto por seus senhores.

(B) a constituição do patrimônio linguístico, uma vez que representa a identidade nacional
do povo brasileiro.

(C) o isolamento de um número enorme de índios durante todo o período da colonização.


(D) a separação entre pessoas que desfrutavam bens e outras que não tinham acesso aos
bens de consumo.

AULA 03 – Variação Linguística 110


ESTRATÉGIA VESTIBULARES – Gramática e Interpretação de Textos (GIT)

(E) a supremacia dos colonizadores portugueses, que muito se empenharam para


conquistar os indígenas.

Comentários:

A língua portuguesa brasileira, apesar de ser chamada simplesmente de Português, tem


dentro de si influências de diversas outras línguas. As línguas indígenas e africanas ajudaram
a constituir o que hoje chamamos de Português do Brasil. Assim, os processos de colonização
foram fundamentais para a constituição do patrimônio linguístico do Brasil e, por
consequência, da identidade nacional. A alternativa correta é alternativa B.

A alternativa A está incorreta, pois as influências dos idiomas africanos sobre a língua
portuguesa não significam a aceitação da escravidão.

A alternativa C está incorreta, pois não houve isolamento dos indígenas, ainda que
tenha havido perseguição e extermínio de muitas populações.

A alternativa D está incorreta, pois a língua vai se formando de modo que todos têm
acesso a ela, com pequenas particularidades.

A alternativa E está incorreta, pois o texto não faz juízo de valor, apontando que os
colonizadores seriam melhores que os indígenas.

Gabarito: B

Bom, Bolas de fogo.


Chegamos ao fim de mais uma de nossas aulas. Hoje, tratamos de um dos meus
conteúdos preferidos na vida inteira, a sociolinguística. Gosto dele exatamente porque
podemos ter uma construção de conhecimento mais ampla sobre esse elemento tão
importante a nós que é a linguagem em seu uso pleno e completo.
Na próxima aula, como sempre, falaremos de um dos conteúdos mais cobrados: a
noção de gêneros textuais e de tipologia textual. Prepare-se, porque o bicho pega!
Bora que só bora e um excelente estudo para vocês!

Professor Wagner @wagnerliteratura


Santos @profwagnersantos

Folha de versão: 05/01/2022

AULA 03 – Variação Linguística 111

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