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JURÍDICO
CPI
1º Semestre/2010
1º Semestre 2010
CP I
PORTUGUÊS JURÍDICO
EMPREGO DO PORQUÊ
Há quatro formas, cada qual com um uso específico. O mais importante é não se deixar
enganar pela solução tradicional e superficial de saber "qual é o da pergunta e qual é o da
resposta".
Com as explicações abaixo, você não terá mais dúvidas. Se utilizá-las como referência de
pesquisa sempre que empregar porquês, pelo menos inicialmente, em pouco tempo você
estará sabendo exatamente a distinção entre cada forma.
A forma POR QUE pode ser identificada ao se substituir por "por qual motivo, por qual
razão". Veja os exemplos abaixo:
Em breve entenderemos por que tínhamos tantas dúvidas. Eles não disseram por
que, depois de tanto tempo de estudo, ainda permaneciam as dúvidas.
Cuidado: A forma POR QUE também pode ser simplesmente a preposição POR ao lado
do pronome relativo QUE, e, nesse caso, pode ser substituída, para efeito de confirmação,
por "pelo qual" e flexões.
A transportadora por que os livros serão enviados definiu sua rota de entrega. (=
pela qual)
A forma POR QUÊ também significa "por qual motivo, por qual razão". A diferença de uso
entre esta forma e POR QUE se dá pela observação da conclusão ou não da idéia contida
em POR QUE.
Repare o exemplo citado abaixo:
Assim, diríamos:
A forma PORQUE pode ser substituída por algum termo que denote causa ou explicação,
como "pois, uma vez que, já que". Independe se aparecer em uma pergunta ou resposta.
Antes de empregá-lo, confira se o sentido não é o de "por qual motivo", o que indicaria que
a forma correta seria POR QUE.
Ainda temos muitas dúvidas porque faltou aprendizado em uma fase mais madura
da vida.
Porque ele não tem dúvidas todos não devem ter?
Observe as duas frases abaixo:
Sabemos porque fomos informados.
Sabemos por que fomos informados.
No segundo caso, o sentido é: "Sabemos por qual razão nos escolheram para receber a
informação." Estamos dizendo o que sabemos, o complemento do verbo saber.
Todos se perguntam porque divulgar suas idéias é perigoso. Por que sabemos algo que
aparentemente poucos sabem devemos ficar calados? Porque temos tanta insegurança é
o que queremos saber. Porquê, estando de posse de idéias criativas, tememos que no-las
roubem. E, assim, em busca do por quê, passamos a vida tendo boas idéias e não as
compartilhando, e, de uma hora para outra, secamos nossa fonte, morrendo de cabeça oca
porquê fomos cabeças-ocas, e ainda saem entender porquê.
CONCORDÂNCIA VERBAL
Estudo de casos em peças jurídicas
Concordância verbal (sujeito posposto ao verbo: sujeito simples, sujeito composto, verbos
HAVER e FAZER, sujeito composto com pronome pessoais de pessoas diferentes, sujeito
composto ligado por OU ou por NEM, a expressão MAIS DE UM, voz passiva pronominal,
sujeito composto com expressão partitiva, sujeito com expressão fracionária)
Pontuação: uso da vírgula
Exercícios de reestruturação de frases
3 - Sujeito inexistente
Ex.: (...) a própria norma prevê que podem haver limitações se o cargo exigir.
Correção:
Obs.: 1 como não há sujeito nessas construções, os verbos impessoais ficam sempre no singular.
Exemplos: verbos haver, fazer e ter no sentido de existir;
2 a expressão "haja vista", que significa "como se pode ver pelo fato de que", é invariável
(não tem plural nem masculino/feminino).
1.4 A maioria/A maior parte/Grande parte + das pessoas: concordância com o núcleo do sujeito
ou com a expressão partitiva
Ex.: Grande parte das pessoas com deficiência vive/vivem na pobreza.
1
(BECHARA (1999), p. 556.
Em alguns casos, o verbo ser se acomoda à flexão do predicativo.
a) Pronomes indefinidos. Nem tudo são más notícias no caso Grokster.
b) Pronomes demonstrativos. Ex.: Mas isso são apenas aparências. Uma investigação mais profunda
revela que (...)
c) Pronomes interrogativos. Ex.: Quem são os sócios?
d) Nas expressões de quantidade como é muito, é pouco, é mais de, é menos de. Ex.: Seiscentos e
sessenta milhões de reais é muito dinheiro.
Obs.: É importante observar que nesses casos não há um sujeito individualizado.
8 - Sujeito com dois termos ligados por com, junto com, tanto... quanto..., não só... como, não
só/apenas... mas (também), tanto... quanto, nem... nem: verbo no singular ou no plural
Ex.: Não só ele como o compositor da trilha sonora viu/viram o original.
O número do verbo, entretanto, dependerá da ênfase que se pretenda dar ao conjunto ou ao indivíduo.
9 - Sujeito com dois termos ligados por ou: concordância dependente do sentido
9.1 Em caso de adição ou retificação do número gramatical - plural
Ex.: A ignorância ou errada compreensão da lei não eximem de pena (...) [Código Civil]
Serão admitidas as primeiras 16 propostas de comunicação de tema livre (...), desde que o autor ou
autores se inscrevam (...)
2
BECHARA (1999), p. 562.
3
BECHARA (1999), p. 564.
9.2 Em caso de exclusão - singular
Ex.: O candidato democrata ou o republicano vencerá o pleito.
2 - Diga se nos trechos a seguir há erro de concordância. Justifique sua resposta identificando
o sujeito em cada caso.
a) No exercício desta atividade, não se pode perder de vista os parâmetros estabelecidos pela
jurisprudência em casos similares, como meio de superar as dificuldades inerentes à falta de balizas
ou critérios legislativos de tradução econômica do dano.
b) No exercício desta atividade, não se perdeu de vista os parâmetros estabelecidos pela
jurisprudência em casos similares (...)
c) O número é também muito pequeno se levarmos em conta que a população total dos países que
tiveram casos da doença ultrapassa 4 bilhões de pessoas.
d) Já tiveram casos de pessoas que vieram do exterior, trabalharam pouco tempo na UNICAMP e já
estão aposentadas.
Leia também o texto a seguir para realização de uma tarefa de expressão escrita a ser
indicada pelo professor.
SENTENÇA JUDICIAL
O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia
11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já
perto dela, o supracitado cabra que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu dlla de
supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a
lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando
as encomendas della de fora e ao Deus dará.
Elle não conseguiu matrimônio porque ella gritou e veio em assucare della Nocreto Correia
e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante. Dizem as leises que duas
testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.
CONSIDERO que o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar
com ella e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque
casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana; que o cabra Manoel Duda é um
suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quis
também fazer conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas; que Manoel
Duda é um sujeito perigoso e que ao tiver uma cousa que atenue a perigança dele,
amanhan está metendo medo até nos homens.
CONDENO o cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser
CAPAFO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser
feita na cadeia desta Villa. Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Seu doutor, o patuá é o seguinte: Depois de um gelo da coitadinha resolvi esquinar e caçar
uma outra cabrocha que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão.
Quando bordejava pelas vias, abasteci a caveira e troquei por centavos um embrulhador.
Quando então vi as novas do embrulhador, plantado com um poste bem na quebrada da
rua, veio uma pára-quedas se abrindo, eu dei a dica, ela bolou, eu fiz a pista, colei; solei,
ela aí bronqueou, eu chutei, bronqueou mas foi na despista, porque, muito vivaldina, tinha
se adernado e visto que o cargueiro estava lhe comboiando.
Morando na jogada, o Zezinho aqui ficou ao largo e viu quando o cargueiro jogou a
amarração dando a maior sugesta na recortada. Manobrei e procurei ingrupir o pagante,
mas, sem esperar, recebi um cataplum no pé do ouvido. Aí dei-lhe um bico com o pisante
na altura da dobradiça, uma muqueada nos mordedores e taquei-lhe os dois pés na caixa
de mudança pondo-o por terra. Ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas.
Papai, muito esperto, virou pulga e fez a duquerque, pois o vermelho não combina com a
cor do meu linho. Durante o boogi, uns e outros me disseram que o sueco era tira e que iria
me fechar o paletó. Não tenho vocação para presunto e corri.
Peguei uma borracha grande e saltei no fim do carretel, bem no vazio da Lapa,
precisamente às 15 para a côr-da-rosa. Como desde a matina não tinha engolido a gordura,
o roque do meu pandeiro estava sugerindo sarro. Entrei no china-pau e pedi um bóia
mossoró com confeti de casamento e uma barriguda bem morta. Engoli a gororoba e como
o meu era nenhum, pedi ao caixa prá botá na pindura que depois eu iria esquentar aquela
fria.
Ia pirar quando o sueco apareceu. Dizendo que eu era produto do Mangue, foi direto ao
médico-legal para me escolachar. Eu sou preto mas não sou Gato Félix, me queimei e puxei
a solingea. Fiz uma avenida na epiderme do môço. Ele virou logo América. Aproveitei a
confusa para me pirar mas um dedo-duro me apontou aos xifópagos e por isto estou aqui.
(Fonte: Correio da Manhã. Rio de Janeiro)
Texto para análise
Leia o texto a seguir para a realização de tarefa a ser indicada pelo professor.
17/10/2006
O editor do UOL Tablóide acha que a vida não tem preço. Mas tem gente que não pensa
da mesma maneira. Uma britânica,por exemplo, avaliou a sua vida em 30 mil euros. Ou
melhor, esse foi o valor que ela pagou a um assassino de aluguel para matá-la.
Parece conversa de doido, e é. Christine Ryder, 53 anos, conheceu Kevin Reeves, de 40,
em um hospital psiquiátrico. Ficaram amigos e Christine pediu a Kevin que a matasse em
troca do polpudo pagamento.
Kevin não cumpriu o trato. A atitude de Kevin, longe de arrancar aplausos pela preservação
da vida, arrancou, sim, uma pesada multa. Ele foi condenado por um tribunal britânico a 15
meses de prisão e a pagar 2 mil libras (cerca de 3 mil euros) por danos e prejuízos à sua
vítima voluntária, segundo o jornal The Times.
Reeves afirmou a Ryder que disparariam contra ela de um carro em um determinado dia, o
que não aconteceu. Para justificar o descumprimento, Reeves disse à mulher que ele
mesmo tinha matado o assassino contratado e que tinha utilizado o dinheiro para indenizar
à viúva. Depois de receber parte do dinheiro, Kevin inventou uma desculpa atrás da outra,
tudo para embolsar o dinheiro sem ter que matar a cliente.
- TÓPICO FRASAL
Enunciado que expressa a idéia-núcleo ou idéia-tópico do parágrafo. Logo, localizando-se
os tópicos frasais identifica-se o conteúdo do parágrafo, até chegar ao tema geral do texto.
Geralmente, localiza-se logo no início do parágrafo.
O tópico frasal não pode ser obscuro, pois deve apontar, resumidamente, os argumentos a
serem desenvolvidos no parágrafo.
"O preenchimento dos requisitos para exclusão da figura típica, prevista no art. 125 do
Código Penal, deve ser buscado em campo extra-penal, na medicina, ou mais
especificamente na biologia, na parte em que cuida do processo de formação
da vida e das causas de sua interrupção." (FRANCO, Alberto Silva. "Aborto por
indicação Eugênica", Revista dos Tribunais, 1992, p.90).
"O Direito Penal brasileiro permite a realização do aborto apenas em duas oportunidades,
não obstante possa ter o feto vida que se realizará plenamente fora do útero: quando
a gravidez resulta de estupro ou quando apresenta risco de vida para mãe; em ambas
as situações, prevalecem os interesses da mulher sobre o bem vida do feto"
(BRASIL. Hábeas Corpus Nº. 51.982 - SP (2005/0215644-4). Impetrante:
Silvio Artur Dias da Silva - Procuradoria da Assistência Judiciária. Impetrado:
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Paciente: Maria Christina de
Freitas).
c.Interrogação - O parágrafo é iniciado por uma pergunta que será respondida durante o
seu desenvolvimento.
Segundo Rui Barbosa, "a justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e
manifesta".
É verdade que, pela letra da Lei, só se permite o aborto sentimental e o aborto necessário
- respectivamente quando a gravidez é oriunda de estupro ou não há outro meio para salvar
a vida da gestante (art.128 do Código Penal). O código não previu o aborto eugênico, nem
em caso de anencefalia (...), mesmo sabendo, com 100% de certeza médica, que o feto ou
morrerá durante a gestação ou, no máximo, algumas horas depois de cortado o cordão
umbilical. (...) O feto anencefálico apresenta deformações congênitas: não há abóbada
craniana e os hemisférios cerebrais ou não existem ou se apresentam como pequenas
formações aderidas à base do crânio (BASTOS, Marcelo Lessa. Aborto de feto anencefálico
- duas reflexões. Disponível em: http:www.fdc.br/artigos. Acesso em: 16 jul.2006).
O bom senso diz que defender o direito à vida nos casos de anencefalia é uma
aberração maior do que a própria monstruosidade gerada pela anomalia fetal, porque
não se leva em consideração os graves danos psicológicos que esta geração causa à
mulher: ela gera a morte dentro de si. Em conseqüência disso, em favor da letra fria
da lei, esquece- se do princípio da dignidade da pessoa humana, do sofrimento da
gestante.
Pode-se estabelecer uma distinção entre nascituro e feto. Enquanto o primeiro é aquele
que há de nascer com vida, o ser humano já concebido, cujo nascimento se espera
como fato futuro certo, mas não iniciou sua vida como pessoa, na terminologia jurídica,
o segundo é compreendido como o produto da concepção, depois que adquire forma
humana. O feto, pois, é o nascituro com forma humana. E daí ter significação não
somente daquele que já está concebido no ventre materno ou simplesmente formado,
mas que já apresenta a forma de um ente humano (DE PLÁCITO E SILVA, 1999).
4 - Exemplificação: tipo de desenvolvimento usado para tornar mais clara e concreta a idéia
que se quer expressar. Há certos exemplos que de tão pertinentes valem uma
explicação que, por isso, se torna desnecessária.
Não se pode embasar a defesa da vida do feto anencefálico, alegando ser um fato
natural e, por isso, aceitável, desígnio de Deus. Nem tudo o que é natural é lógico ou
conveniente. Assim, por exemplo, na natureza, há animais que nascem escravos, como
as formigas e as abelhas. No entanto, não é culturalmente aceita a idéia de homens
vivendo em condições análogas a escravo, não se ousa repetir Aristóteles que afirmava
haver homens nascidos para escravo. A sociedade e o Direito lutam contra o que é
natural pela existência, corrigindo aquilo que é irregular.
O sofrimento da mãe deve ser sempre o princípio a ser considerado, quando se trata de
aborto. O legislador aplicou-o aos casos de estupro, podendo fazer o mesmo nas
ocorrências de doença que impossibilita a sobrevida do feto. Naquele, pressupôs-se
inconcebível a gestante conviver com o fruto de uma violência tão grave; pensou-se no
dano psicológico que a gestação causaria. Neste, o sofrimento se fará pela certeza de
que o filho não resistirá mais do que 48 horas.
- Prefira a ordem direta da frase. Esta não se separa por meio de vírgula.
- A ordem inversa tem por finalidade destacar para a posição de tópico a informação que
se julga mais relevante.
SVC
O Código Penal não descaracteriza como crime o aborto de feto anencefálico.
C,V S
O aborto de feto anencefálico, o Código Penal não descaracteriza como crime.
S, XX, V C OU S V, XX, C (ATENÇÃO COM AS ADJETIVAS)
O aborto, que é a interrupção da vida intra-uterina, pode não ser ato ilícito, de acordo com
o CP.
A sobrevivência do feto anencefálico é, segundo os registros médicos, impossível.
S V C, S V C
É impossível a sobrevivência do feto anencefálico, porque há um tipo de defeito do tubo
neural, apresentando um ou dois casos a cada mil nascimentos com vida.
Todos os casos previstos nas gramáticas tradicionais estão cobertos por esse
esquema:
a) separar elementos de mesma função sintática;
b) separar aposto ou elemento de valor explicativo;
c) separar vocativo;
d) separar elementos repetidos;
e) separar adjunto adverbial antecipado;
f) separar nome de lugar da data;
g) separar orações coordenadas;
h) separar orações subordinadas adjetivas explicativas e adverbiais (antepostas ou não;
reduzidas ou não)
i) separar orações intercaladas;
j) *separar orações coordenadas introduzidas por e, quando sujeitos diferentes;
l) **indicar supressão do verbo
OBS.: distinção QUE pronome relativo e QUE conjunção integrante.
Quanto à descrição, não há como negar que a caracterização do espaço físico onde ocorreu
uma situação de conflito, do tipo físico do agressor, da cena do crime ou do modus operandi
são extremamente úteis à estratégia de convencimento.
Tanto a narração quanto a descrição são elementos que comporão a fundamentação, pois
a alegação tem de estar baseada nos fatos.
A narrativa dos fatos é demarcada por uma seqüência de ações que transformam o status
quo inicial, dando origem a um conflito que se desenvolve. Se a narração progride por meio
de ações em seqüência, o que as rege é o transcurso do tempo, ou seja, entre uma ação
e outra, entre um fato e outro há um lapso temporal.
Pode-se optar por apresentar os fatos em uma ordem cronológica ou em uma ordem
lógica. Ordem cronológica é aquela que segue o transcurso do tempo padrão tal qual no
relógio ou no calendário - narrativa linear. A ordem lógica - não-linear - é aquela que
subverte a cronológica, narrando inicialmente a situação de conflito, em seguida
apresentando a causa do fato, o modo e as conseqüências. Trata-se de uma ordenação
objetiva.
Pode-se, ainda, narrar os fatos em ordem alterada em que se subverte a ordem cronológica,
expondo os fatos em retrospectiva (flash back). É tipicamente encontrada na literatura e,
para o texto jurídico, pode confundir o leitor.
Vem, então, a Procuradoria a esta Corte com igual pedido, apresentando laudos médicos
e psicológico que atestam a deformidade do feto e a condição de saúde da gestante.
Pondera que "o direito penal brasileiro permite a realização do aborto apenas em duas
oportunidades, não obstante possa ter o feto vida que se realizará plenamente fora do útero:
quando a gravidez resulta de estupro ou quando apresenta risco de vida para mãe; em
ambas as situações, prevalecem os interesses da mulher sobre o bem vida do feto" - fl.08.
Por isso requer, liminarmente, a concessão da ordem, a fim de que Michelly Christina de
Freitas tenha o direito de interromper sua gravidez.
Decido.
[FUNDAMENTAÇÃO]
Tem este Superior Tribunal de Justiça entendimento reiterado de que não se defere liminar
contra o indeferimento de medida idêntica pela Corte local, consoante verbete sumulado
nº. 691 do Supremo Tribunal Federal, o qual afirma não competir àquela Corte "conhecer
de hábeas corpus impetrado contra decisão de relator que, em hábeas corpus requerido a
tribunal superior, indefere liminar".
Recentemente, inclusive, esclareceu a Eg. Corte, sob a relatoria do Ministro Carlos Veloso,
no HC 86.864-9/SP, que "o enunciado 691 não impede o conhecimento do hábeas corpus,
se evidenciado flagrante constrangimento ilegal".
Não há, prima facie, a menos dúvida de que estamos aqui diante de um manifesto
constrangimento ilegal. Portanto, cabível a análise do presente pedido. Passo ao mérito.
Tem-se aqui situação difícil e singular na qual uma gestante pleiteia o direito de interromper
sua gravidez, salvaguardando seu direito lato sensu à liberdade, à intimidade e a sua
própria integridade física.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal enfrentou questão similar (HC 84025), no caso
de anencefalia fetal, hipótese em que sequer havia dano físico para a gestante, senão
apenas a própria inviabilidade do feto.
Situação aqui diversa e mais grave, pois além da impossibilidade da vida extra-uterina do
feto, conforme atestado pelo referido aludo, verifica-se a possibilidade de dano gestacional,
fato esse sequer cogitado na decisão impugnada, decorrendo daí sua manifesta ilegalidade.
Nesse contexto, certo é que a gestação infrutífera ora impugnada trará riscos à própria
saúde da gestante, que poderá sofrer por toda sua vida dos danos, senão os físicos, dos
prejuízos psicológicos advindos do fato de carregar nove meses criança em seu ventre
fadada ao fracasso.
Por saúde, a própria Organização Mundial de Saúde pontifica que há de se entender o bem
estar completo da pessoa humana, não só físico, mas também psicológico. E aqui o
gravame é duplo.
E nem se diga que está se olvidando do direito à vida, garantia constitucional de todas as
pessoas, assim entendidas todas aquelas já concebidas, na forma de reserva civil de seus
direitos. É que, no caso dos autos, essa dita vida não se realiza, ainda que tomados todos
os cuidados para preservação da mesma, eis que o laudo é categórico ao atestar a
ausência de "sobrevida neonatal (pós-parto) destes produtos gestacionais, exceto por
horas ou excepcionalmente dias, pela ausência de integridade dos tecidos cerebrais".
Não autorizar a conduta médica seria negar a própria aplicação da lei penal, eis que do
ponto de vista criminal a realização do tipo previsto no art. 125 do Código Repressor requer
dolo específico para interrupção da vida injustificada ou não-naturais, como bem acentua
Alberto Silva Franco, em sua obra "Aborto por indicação Eugênica", Revista dos Tribunais,
1992, p. 90: "(...) o preenchimento da área de significado desse dado compositivo da figura
típica, deve ser buscado em campo extra-penal, na medicina, ou mais especificamente na
biologia, na parte em que cuida do processo de formação da vida e das causas de sua
interrupção."
Portanto, plenamente justificada a interrupção da gestação, uma vez que coerente com os
preceitos de proteção à vida e à saúde, garantida pela própria Carta Maior.
Assim, defiro o pedido para que se proceda a interrupção da gravidez ora questionada de
MICHELLY CHRISTINA DE FREITAS.
Comunique-se.
Publique-se.
Intime-se.
Com base no caso concreto abaixo, elabore uma sentença. Construa os seguintes
elementos para a sua constituição:
a) relatório;
b) fundamentação (com três argumentos), e
c) conclusão.
Caso concreto:
Muito traumatizada e sofrendo imensamente com o fato de seu primeiro filho não nascer
com vida, descobriu posteriormente que a continuação da gravidez provocará grave risco
à sua saúde física, pois o feto tem grandes chances de óbito ainda dentro do útero, além
de já estar lhe causando graves patologias maternas como hipertensão e polidrâmnio
(excesso de líquido amniótico).
O laudo médico mencionou que "em virtude da malformação apresentada pelo feto ser
incompatível com a vida extra-uterina, a paciente nos solicitou interrupção da gestação. Por
acharmos procedente a solicitação da mesma, pois com o evoluir da gestação a paciente
será submetida a riscos inerentes à própria gestação e à patologia referida, que tem uma
maior associação com polidrâmio, gestação prolongada e pré-eclâmpsia/eclampsia, além
de implicações psicológicas negativas."
2. inciso III, do art. 1º, da Constituição Federal de 1988: A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
(...)
TIPOS DE IMPLÍCITO
a. implícito baseado na enunciação (na intenção) - não está posto no texto, mas o contexto
torna possível a interpretação. Tem-se o subentendido:
Está calor aqui dentro!
Para a empregada: _ O cinzeiro está cheio!
b. implícito baseado no enunciado (na estrutura da frase) - parte-se do que está posto e
estabelece-se uma inferência:
João ligou para mim, logo deve estar precisando de ajuda.
Choveu, porque o chão está molhado (explicativa).
O chão está molhado, porque choveu (causal).
c. implícito do enunciado - algo intermediário entre o dizer e o não dizer, que constitui uma
forma de significação contida de modo implícito no enunciado (pressuposto), em oposição
àquilo que é posto.
Os crimes que foram cometidos há mais de um mês não foram resolvidos.
Os crimes, que foram cometidos há mais de um mês, não foram resolvidos.
Tício parou de bater na esposa.
Toda e qualquer palavra é polissêmica e, além de seu sentido denotativo, pode apresentar-
se com um de seus conotativos, constituindo uma figura de linguagem. 1
Figuras de palavras
Em síntese - didática -, pode-se definir a metáfora como a figura de significação (tropo) que
consiste em dizer que uma coisa (A) é outra (B), em virtude de qualquer semelhança
percebida pelo espírito entre um traço característico de A e o atributo predominante, atributo
por excelência, de B, feita a exclusão de outros, secundários por não convenientes à
caracterização do termo próprio A.3.
Figuras e argumentação
Desde a Antigüidade, provavelmente desde que o homem meditou sobre a linguagem,
reconheceu-se a existência de certos modos de expressão que não se enquadram no
comum, cujo estudo foi em geral incluído nos tratados de retórica; daí seu nome de figuras
de retórica. Em conseqüência da tendência da retórica a limitar-se aos problemas de estilo
e de expressão, as figuras foram cada vez mais consideradas simples ornamentos que
contribuem para deixar o estilo artificial e floreado. /.../
Se os autores que trataram as figuras tenderam a não lhes perceber senão o lado estilístico,
isso se deve, portanto, pensamos nós, ao fato de que, a partir do momento em que uma
figura é alijada do contexto, posta num herbário, ela é quase necessariamente percebida
sob seu aspecto menos argumentativo; para apreender-lhe o aspecto argumentativo,
cumpre conceber a passagem do habitual ao não-habitual e a volta a um habitual de outra
ordem, o produzido pelo argumento no mesmo momento em que termina. Ademais, e este
talvez seja o ponto mais importante, cumpre dar-se conta de que a expressão normal é
relativa não só a um meio, a um auditório, mas a um determinado momento do discurso.
Uma concepção mais flexível, que considera o normal em toda a sua mobilidade, é a única
que pode devolver inteiramente às figuras argumentativas o lugar que elas ocupam
realmente no fenômeno de persuasão.5
Arquitetos e urbanistas aderem à estética do medo, suas paredes são muros com pequenas
escotilhas. Brian Murphy, um arquiteto americano, construiu uma casa de luxo entre as
paredes de um edifício em ruínas e cobriu-a de grafites para melhor a disfarçar, integrada
na decadência da rua. Se a arquitetura oferece um completo painel da barbárie à
civilização, o contrário também é verdadeiro.
Crescem os muros dos presídios de segurança máxima na mesma velocidade em que se
cavam túneis.
Crescem muros nas fronteiras de povos inimigos, como na Palestina, mas também lá se
cavam túneis para ir buscar do outro lado reféns e vítimas.
Muros separam países amigos como o México e os Estados Unidos, tão amigos que os
mexicanos querem ir morar lá e morrem no deserto às portas da terra prometida.
Um muro separa a Espanha daquele ponto em que seu litoral quase toca a África, o
continente dos imigrantes náufragos que se esgueiram onde encontram uma praia para
atracar seus barcos e sonhos.
Uma injustiça inerente ao mundo globalizado permite que o capital viaje sem passaporte e
sem alfândegas, escolha onde se instalar, aufira lucros e vá embora, enquanto quem
trabalha fica confinado às suas fronteiras, forçado a aceitar as condições adversas que a
mobilidade do capital impõe. É pegar ou largar. No fim das contas, ser largado. Mais um
náufrago em terra firma.
A desigualdade que se aprofunda entre países ricos e pobres, entre ricos e pobres dentro
de um mesmo país, explica as migrações e as favelas, o que já foi dito e redito. Todos
sabemos que a desigualdade é a argamassa dos muros.
Imperceptíveis, crescem dentro de nós muros de indiferença, que nos separam uns dos
outros. Rompidos os laços de pertencimento, estamos condenados à dança das cadeiras
da competição.
Desunidos, o sentimento de ameaça pousa no corpo. Nem na nossa própria pele estamos
seguros. O medo da doença se faz, então, obsessão preventiva. Tudo é perigoso, o peso,
a pressão, o colesterol, o sexo, a comida envenenada, as artérias esclerosadas pelo
sedentarismo. A prevenção não diminui a angústia. Aumenta o consumo de drogas e de
antidepressivos. O corpo é a última fronteira contra a ameaça de morte que representa o
fato de estar vivo.
De onde provém toda essa ansiedade que constrói muros internos e externos? Que mundo
demente está gerando tanto medo, um tal produto de infelicidade bruta?
Ora, a História não fala antes da hora, não promete qualquer paraíso. Resta viver sem
bússola nessa bola girando, sem que saibamos por quê, no universo indevassável. É nesse
mar de incertezas que construiremos alguma alegria.
E se o mundo regido pelo lucro estiver redundando em imenso prejuízo? E se fosse melhor
para todos diminuir desigualdades criando um mundo não de iguais - que felizmente não
somos - mas de semelhantes? E se puséssemos nisso toda a energia e inteligência
coletivas, inventando soluções nunca exploradas? Se começássemos, modestamente, pela
nossa cidade?
Edgar Morin, no seu "Evangelho da Perdição", enfrenta o "silêncio desses espaços infinitos"
que amedrontava Pascal. Sua pregação é simples. Sejamos solidários, não como acreditam
os religiosos, para nos salvarmos, mas porque estamos perdidos. E só temos uns aos
outros, partilhando o que sobrou - água, terra, energia - de um planeta finito e solitário.
Impraticável? Esperemos que não. Porque, caso contrário, o resto será o silêncio nas ruínas
dos muros.
Exercícios
1) Considerando que o parágrafo a seguir faz parte do relatório de uma sentença, no qual
o magistrado copia as alegações da defesa da parte ré numa ação de responsabilidade civil
por danos morais face ao jornal "A gazeta", reescreva seu conteúdo de forma sucinta, em
até 10 linhas. Você deve reelaborar o parágrafo de forma a torná-lo adequado
lingüisticamente, em termos de gramaticais e estilísticos, ao relatório sentencial. Considere
especialmente o uso da linguagem figurada, pois ela não deve prejudicar a qualidade do
texto.6
2) Explique como funciona a linguagem figurada nas passagens a seguir, indicando seu
papel para a persuasão discursiva.
a) "Para o promotor, Daniel e Suzane tinham o mesmo interesse, mas a garota entrou no
plano como mentora, enquanto ele foi o executor".
__Suzane é igual a um ônibus, passa de ponto em ponto contando a mesma história. Já
Daniel é essa pessoa que vocês estão vendo, emocional, descontrolado. Foi o casamento
do cérebro com a coragem.7.
b) "A filha de Jabur, a também advogada Gislaine Jabur, assumiu seu papel em favor de
Cristian". De frente para os jurados, Gislaine disse que os irmãos Cravinhos deveriam ser
punidos, mas que cada um só poderia pagar pelo que fez. Segundo ela, eles não podem
ser acusados de duplo assassinato, já que Daniel matou Manfred, enquanto Cristian atacou
Marísia.
__ Quando Cristian chegou na história, tudo já estava planejado. Se tivéssemos tirado
Cristian, Manfred teria morrido da mesma forma. O remédio tem que ser dado na dose certa
- disse Gislaine.
Textos para análise
PROTAGONISTA DA HISTÓRIA
Feto pode solicitar judicialmente seus direitos mesmo sem ter personalidade jurídica. Com
esse entendimento, o desembargador José Mário Antônio Cardinale, do Tribunal de Justiça
de São Paulo, reconheceu a ação ajuizada pela Defensoria Pública em nome de um bebê
que ainda estava para nascer.
Para o desembargador, o feto pode defender o direito à vida por ser parte ativa. A ação foi
ajuizada pelo defensor público, Marcelo Carneiro Novaes. Em vez de propor ação em nome
de uma presidiária, o defensor colocou o feto de apenas 15 semanas como autor do
processo.
Na primeira instância, o juiz da Vara da Infância e Juventude de São Bernardo (SP) não
aceitou que a ação fosse proposta em nome do feto. Para os juízes, o pedido deveria ser
feito em nome da mãe. A Defensoria recorreu e obteve êxito na segunda instância paulista.
Agora é lei.
Está afirmado em lei federal que as uniões homoafetivas constituem entidade familiar.
A Lei 11.340/96, a chamada Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a
violência doméstica contra a mulher, modo expresso, enlaça as relações homossexuais.
Isto está dito no seu artigo 2°: "Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia,
orientação sexual [...] goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana". O
parágrafo único do artigo 5° afirma que independem de orientação sexual todas as
situações que configuram violência doméstica e familiar.
No momento em que é afirmado que está sob o abrigo da lei a mulher, sem se distinguir
sua orientação sexual, alcançam-se tanto lésbicas como travestis, transexuais e
transgêneros que mantêm relação íntima de afeto em ambiente familiar ou de convívio. Em
todos esses relacionamentos, as situações de violência contra o gênero feminino justificam
especial proteção.
No entanto, a lei não se limita a coibir e a prevenir a violência doméstica contra a mulher
independentemente de sua identidade sexual. Seu alcance tem extensão muito maior.
Como a proteção é assegurada a fatos que ocorrem no ambiente doméstico, isso quer dizer
que as uniões de pessoas do mesmo sexo são entidade familiar. Violência doméstica, como
diz o próprio nome, é violência que acontece no seio de uma família.
A partir da nova definição de entidade familiar, não mais cabe questionar a natureza dos
vínculos formados por pessoas do mesmo sexo. Ninguém pode continuar sustentando que,
em face da omissão legislativa, não é possível emprestar-lhes efeitos jurídicos.
O avanço é muito significativo, pondo um ponto final à discussão que entretém a doutrina
e divide os tribunais. Sequer de sociedade de fato cabe continuar falando, subterfúgio que
tem conotação nitidamente preconceituosa, pois nega o componente de natureza sexual e
afetiva dos vínculos homossexuais. Com isso, tais uniões eram relegadas ao âmbito do
Direito das Obrigações, sendo vistas como um negócio com fins lucrativos. No final da
sociedade, procedia-se à divisão de lucros mediante a prova da participação de cada
parceiro na formação do patrimônio amealhado durante o período de convívio. Como sócios
não constituem uma família, as uniões homoafetivas acabavam excluídas do âmbito do
Direito de Família e do Direito das Sucessões. Esta era a tendência majoritária da
jurisprudência, pois acanhado é o número de decisões que reconheciam tais uniões como
estáveis.
No momento em que as uniões de pessoas do mesmo sexo estão sob a tutela da lei que
visa a combater a violência doméstica, isso significa, inquestionavelmente, que são
reconhecidas como uma família, estando sob a égide do Direito de Família. Não mais
podem ser reconhecidas como sociedades de fato, sob pena de se estar negando vigência
à lei federal. Conseqüentemente, as demandas não devem continuar tramitando nas varas
cíveis, impondo-se sua distribuição às varas de família.
Diante da definição de entidade familiar, não mais se justifica que o amor entre iguais seja
banido da proteção jurídica, visto que suas desavenças são reconhecidas como violência
doméstica.
O objeto da retórica antiga era, acima de tudo, a arte de falar em público de modo
persuasivo; referia-se, pois, ao uso da linguagem falada, do discurso, perante uma multidão
reunida na praça pública, com o intuito de obter a adesão desta a uma tese que se lhe
apresentava. Vê-se, assim, que a meta da arte oratória - a adesão dos espíritos - é igual à
de qualquer argumentação. Mas não temos razões para limitar nosso estudo à
apresentação de uma apresentação oral e para limitar a uma multidão reunida numa praça
o gênero de auditório ao qual nos dirigimos.1
Como toda argumentação é relativa ao auditório que ela se propõe influenciar, ela
pressupõe, tanto na mente do orador quanto na do auditório - e isto vale para quem
apresenta seus argumentos por escrito assim como para aqueles aos quais [ele] se dirige
- o desejo de realizar e de manter um contato entre os espíritos, de querer persuadir, por
parte do orador, e o desejo de escutar, por parte do auditório.2
/.../ As premissas da argumentação não são evidentes mas resultam de um acordo entre
quem argumenta e seu auditório: são as opiniões de que falava Aristóteles. O saber
fundado em tais premissas pode ser verossímil, ou não, mas nunca será verdadeiro ou
falso. Em outros termos, não se ocupa o conhecimento jurídico de qual seria a decisão
judicial ou administrativa verdadeiramente derivada de uma norma geral, com exclusão de
todas as outras, as falsamente derivadas; ocupa-se, isto sim, dos meios de sustentar
determinada decisão como sendo a mais justa, eqüitativa, razoável, oportuna ou conforme
o direito do que outras tantas decisões igualmente cabíveis.3
A adaptação ao auditório não se refere somente a questões de linguagem, pois não basta
que o auditório compreenda o orador para que dê sua adesão às teses que este apresenta
a seu assentimento. Para persuadir o auditório, é necessário primeiro conhecê-lo, ou seja,
conhecer as teses as teses que ele admite de antemão e que poderão servir de gancho à
argumentação. É importante não só conhecer quais são as teses admitidas pelos ouvintes
que fornecerão à argumentação seu ponto de partida, mas também a intensidade da
adesão do auditório. De fato, o mais das vezes, em uma controvérsia, as teses se opõem
umas às outras, e prevalecerá aquela à qual se confere maior peso, à qual se adere com
maior intensidade. 4
Argumentação x Demonstração
Todavia, quando se trata das chamadas ciências humanas e sociais, os resultados obtidos
são profundamente influenciados pelo meio em que a pesquisa é realizada. Justamente
neste ponto, se observa a grande limitação do uso da demonstração, como método de
abordagem das ciências sociais.6
/.../ Günther7, através de seu conceito de coerência, comenta que pode ocorrer uma
situação em que 'há várias normas aplicáveis em princípio, mas só uma norma adequada.8
Segundo Perelman, um argumento não é aceito por ser verdadeiro e sim porque é
socialmente útil, justo ou razoável. /.../ Na esfera da argumentação, não existem teses
falsas ou verdadeiras, uma vez que não se trata de um "jogo de soma-zero", em que há
proposições absolutamente coerentes e proposições totalmente falsas. Em verdade, teses
opostas podem estar interligadas em alguns aspectos ou até mesmo apresenta uma esfera
de complementação, em relação àqueles pontos em que não se contradizem.9
Foi verdade... No ano de 1984, um juiz gaúcho chamado Ilton Carlos Dellandréa, então
titular da Comarca de Espumoso, interior do Rio Grande do Sul, proferiu esta sentença em
uma ação criminal:
http://www.neofito.com.br/adrisum/causo9.htm
Responda às questões que se seguem com base no caso concreto apresentado a seguir.
Em uma cidade do interior do Paraná, três meninos ficaram órfãos e, como toda a família
dos pais era muito pobre, nenhum parente quis assumir a guarda deles.
Os menores têm nove, onze e doze anos, são negros - somente o mais velho freqüentou a
escola até a 3ª série do ensino fundamental - e estão, provisoriamente, numa instituição
religiosa da cidade.
Há dois anos, o Juizado da Infância e Juventude procura em todo o Brasil uma família que
os adote.
Um casal homoafetivo, José e João, interessou-se pelos meninos. Após uma seqüência de
visitas, José ingressou com um pedido de adoção dos três meninos e a guarda provisória,
que foi, desde logo, concedida.
O casal tem excelente condição econômica, formação universitária, e sua opção é aceita
pelas famílias de ambos e pela comunidade local em que vivem. Os laudos apresentados
pelos assistentes sociais indicaram que José tinha condições de adoção e que a opção
sexual de José poderia representar dificuldades para os irmãos, mas que durante o período
de convivência, os três meninos demonstravam gostar da companhia de José e seu
companheiro.
O juiz, em sua sentença, negou o pedido de adoção, tendo em vista o art. 226 da CRFB,
com base no entendimento de que a entidade familiar é constituída pela união de homem
e mulher, e que o bem-estar das crianças não poderia ser garantido. Acrescentou que o
referido artigo se sobrepõe ao ECA, que não estabelece restrição para o solteiro adotar
uma criança.
Ele foi um dos poetas nacionais mais admirados, inspirando, até hoje, desde novos escritores a
compositores. Aliás, o "ritmo bandeiriano" merece estudos aprofundados de ensaístas. Por vezes,
inspira escritores não só em razão de sua temática, mas também devido ao estilo sóbrio de escrever.
Manuel Bandeira faleceu de hemorragia gástrica aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi
sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de
Janeiro.
Tragédia brasileira
Manuel Bandeira
O texto revela um fato jurídico: homicídio. Observe a forma como o narrador apresenta
os fatos, especialmente, como ele deixa transparecer a sua valoração sobre eles. Associe
essa forma de valorar à época em que viveu o autor. Agora, interprete os trechos em
negrito, no texto, e expresse a possível intenção do narrador ao registrá-los.
Justifique a sua interpretação.
DAMIÃO, R. T.; HENRIQUES, Antônio. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas,
2004.
DAMIÃO, R. T.; HENRIQUES, Antônio. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas,
2000.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 20 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001.
LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 41. ed.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2001.
SAVIOLI, Francisco P.; FIORIN, José L. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 2003.
ZORZI, Juan Pablo Lionetti de. "La toma de decisión en la argumentación jurídica". Revista
Telemática de Filosofia del Derecho. nº 7, 2003-4.
http://www.filosofiayderecho.com/rtfd/numero7/4-7.pdf (acesso em 18/07/06).