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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPI C 12023


Disciplina/Matéria: DIREITO PENAL
Sessão: 04 - Dia 01/02/2023 - 18:00 às 19:50
Professor: CLAUDIA DAS GRACAS MATOS DE OLIVEIRA PORTOCARRERO

04 Tema: Lei Penal no Tempo. 1) Teorias. 2) Princípios norteadores do conflito de leis no tempo. 3)
Combinação de leis. 4) Questões controvertidas.

1ª QUESTÃO:
No dia 28 de janeiro de 2017, RENAN ingressou no ônibus, na altura do Rodoshopping GRAAL,
encostou a faca no pescoço do trocador GENILFERSON, vindo a feri-lo.
Ato contínuo, RENAN subtraiu o aparelho celular de GENILFERSON.
Ao descer do coletivo, RENAN deixou o telefone celular cair no chão, o qual foi prontamente
arrecadado pela vítima.
RENAN, então, empreendeu fuga, mas foi logo detido pelo policial militar que havia visualizado todo
o ocorrido.
No dia 05 de fevereiro de 2017, o Ministério Público denunciou RENAN como incurso nas penas do
art. 157, § 2º, I do Código Penal.
Após todo o trâmite processual, no dia 17 de abril de 2018, RENAN foi condenado pelo crime
imputado a ele na denúncia pelo parquet.
No dia 29 de abril de 2018, a defesa de RENAN apresentou recurso de apelação no qual pretende o
reconhecimento da abolitio criminis em relação à incidência da causa de aumento de pena diante da
entrada em vigor da Lei nº 13.654/2018.
O Ministério Público em suas contrarrazões sustenta que não houve abolitio criminis, mas sim
continuidade normativa, razão pela qual a causa de aumento de pena relativa ao emprego de arma
deverá incidir.
Diante do que foi narrado, responda de forma fundamentada indicando, outrossim, a diferença
existente entre a abolitio criminis e a continuidade normativa:
a) caso sentença fosse prolatada no dia 29 de maio de 2018, a quem assiste razão?
b) a resposta se manteria caso ela fosse proferida em 29 de maio de 2021, isto é, após a entrada em
vigor da Lei nº 13.964/19?

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RESPOSTA:
a) STJ (Informativo n. 626)
PROCESSO REsp 1.519.860-RJ
Rel. Min. Jorge Mussi, por unanimidade, julgado em 17/05/2018, DJe 25/05/2018

TEMA
Roubo. Emprego de arma branca. Majorante revogada. Abolitio Criminis. Lei n. 13.654/2018.
Novatio legis in mellius.

DESTAQUE
Diante da abolitio criminis promovida pela Lei n. 13.654/2018, que deixou de considerar o emprego
de arma branca como causa de aumento de pena, é de rigor a aplicação da novatio legis in mellius.

INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR


Preliminarmente cumpre salientar que, sobreveio à decisão impugnada a promulgação da Lei n.
13.654, de 23 de abril de 2018, que modificou o Código Penal nos dispositivos referentes aos crimes
de furto e roubo.
Essa alteração legislativa suprimiu a previsão contida no inciso I do § 2º, do art. 157, que apresentava
hipótese de causa especial de aumento de pena relativa ao emprego de arma.
Esta Corte possuía entendimento jurisprudencial consolidado reconhecendo que a previsão contida no
dispositivo revogado abrangia não apenas armas de fogo, mas qualquer "artefato que tem por objetivo
causar dano, permanente ou não, a seres vivos e coisas", nos termos do art. 3º, inciso IX, do Decreto
n. 3.665/2000.
No entanto, a atual previsão contida no art. 157, § 2º-A, inciso I, do Código Penal, limita a
possibilidade de aumento de pena à hipótese de a violência ser cometida mediante emprego de arma
de fogo, assim considerado o instrumento que "(...) arremessa projéteis empregando a força expansiva
dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado em uma câmara que, normalmente,
está solidária a um cano que tem a função de propiciar continuidade à combustão do propelente, além
de direção e estabilidade ao projétil", de acordo com o Decreto citado.
Portanto, não se está diante de continuidade normativa, mas de abolitio criminis da majorante, na
hipótese de o delito ser praticado com emprego de artefato diverso de arma de fogo.
Na hipótese, o réu realizou a subtração fazendo uso de arma branca (faca). Diante desse fato, deve-se
aplicar a lei nova, mais benéfica ao acusado, em consonância com o art. 5º, XL, da Constituição
Federal, afastando-se o aumento de 1/3 aplicado na terceira fase do cálculo da pena

b) b) Paulo César Busato, Direito Penal - Parte Geral - Vol. 1 - Página 95.
"As leis intermediárias
Ao lado das situações aventadas figura o caso das leis intermediárias.
É o caso em que a lei mais benéfica não é a do tempo do fato, nem a do tempo da sentença, mas sim
outra, intermediária, que sucedeu a lei vigente ao tempo do fato, sendo sucedida, posteriormente, por
outra.
Há quem entenda que não é possível a aplicação da lei que esteve em vigência em período diverso do
fato e da sentença. Para Cerezo Mir, a necessidade é de comparar tão somente a legislação do
momento do fato e a da sentença, escolhendo entre elas a mais favorável, já que a lei intermediária
não tem relação nenhuma com o fato nem com a carga penal que o Estado aplicará.
Entretanto, essa não é a melhor posição. Na verdade, a hipótese deve ser tomada como de dupla
sucessão de leis penais, com a aplicação direta de seus princípios básicos, até porque, enquanto corre
o processo, há "vida" naaplicação da l

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egislação penal e mesmo, quando acontece a primeira sucessão, não existe, para efeito legislativo, a
outra lei que a sucederá.
Assim, quando acontece a primeira sucessão, se a lei nova é mais benéfica, alcançará os casos em
curso. Posteriormente, e já aplicado ao caso concreto a lei nova mais benéfica, diante do advento de
uma terceira lei recrudescente em face do caso concreto, esta última não se aplicará".

2ª QUESTÃO:
GUILHERME, primário, de bons antecedentes, que não se dedica a atividades criminosas, nem
integra organização criminosa, foi condenado à pena de 03 anos de reclusão, em regime fechado, pela
prática do crime previsto no art. 12 da Lei n.º 6.368/76, porque guardava, para fins de entrega ao
consumo de terceiros, 34 (trinta e quatro) papelotes de cocaína, pesando, aproximadamente, 65 g
(sessenta e cinco gramas), além de 286,4 g (duzentos e oitenta e seis gramas e quatro centigramas), de
"Cannabis Sativa L", em concurso material com condenação, também à pena de 03 anos, como
incurso no art. 16, inciso IV, da Lei n.º 10.826/03, por ocultar no mesmo local, duas espingardas,
calibres 28 e 38, um pistola 635, uma cartucheira e um fuzil calibre 32, de uso restrito.
Inconformada, a defesa apela visando, tão-somente, à diminuição da pena aplicada a GUILHERME,
mediante a incidência da minorante prevista no § 4.º do art. 33 da Lei 11.343/2006, em obediência ao
princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica.
Decida a questão.

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RESPOSTA:
STJ
Processo HC 439604 / MS
HABEAS CORPUS 2018/0050981-9
Relator(a) Ministro: JOEL ILAN PACIORNIK (1183)
Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento: 19/03/2019
Data da Publicação/Fonte: DJe 28/03/2019
Ementa
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. PACIENTE CONDENADO POR
TRÁFICO DE DROGAS COMO INCURSO NO ART. 12 DA LEI N. 6.368/76.
IMPOSSIBILIDADE DA INCIDÊNCIA DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO § 4º DO
ART. 33 DA LEI N. 11.343/06. APREENSÃO DE QUASE MEIA TONELADA DE MACONHA
EM VEÍCULO QUE VIAJAVA DE UM ESTADO DA FEDERAÇÃO PARA OUTRO.
INDICATIVOS DA DEDICAÇÃO DO PACIENTE À ATIVIDADE CRIMINOSA. BIS IN IDEM
PELO SUPOSTO USO DA QUANTIDADE DA DROGA PARA AUMENTAR A PENA-BASE,
BEM COMO PARA LIMITAR O REDUTOR DA PENA A 1/6. INEXISTÊNCIA. REFORMATIO
IN PEJUS. NÃO OCORRÊNCIA. WRIT NÃO CONHECIDO.
1. Diante da hipótese de habeas corpus substitutivo de recurso próprio, a impetração não deve ser
conhecida, segundo orientação jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal - STF e do próprio
Superior Tribunal de Justiça - STJ. Contudo, considerando as alegações expostas na inicial, razoável a
análise do feito para verificar a existência de eventual constrangimento ilegal.
2. A utilização pelo Tribunal de outros motivos constantes dos autos para manter a mesma situação do
paciente não configura a aventada reformatio in pejus. Precedentes: AgRg no HC 406.570/PB, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, DJe 11/06/2018 e AgRg no REsp 1.782.101/SP, Rel.
Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJe 18/2/2019.
3. "A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial
Repetitivo 1.117.068/PR, acolheu a tese no sentido de que a concessão da minorante do § 4º do
artigo 33 sobre a pena fixada com base no preceito secundário do artigo 12 da Lei nº 6.368/76
não decorreria de mera retroatividade de lei nova mais benéfica, mas de verdadeira aplicação
conjugada das normas revogada e revogadora, sendo, por isso, de todo inviável" (AgRg no REsp
1.578.209/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, DJe
27/6/2016). O transporte de um Estado da Federação para outro da quantia de 473, 500kg demonstra a
dedicação do paciente à atividade criminosa, o que também impede a aplicação do redutor da pena.
Assim, não se cogita da ocorrência do alegado bis in idem, porquanto existem dois fundamentos
impeditivos da incidência do redutor da pena no caso - impossibilidade de aplicação do § 4º do a

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rt. 33 da Lei n. 11.343/2006 a condenados pelo art. 12 da Lei n. 6.378/76 e a dedicação do paciente a
atividades criminosas. Todavia não se afasta a minorante em virtude da impossibilidade da reformatio
in pejus, mas não se aumenta o percentual do redutor, porquanto o mesmo seria descabido na
hipótese, devendo-se ressaltar ainda que o paciente já foi beneficiado indevidamente.
4. Habeas Corpus não conhecido.

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Turma: CPI C 12023


Disciplina/Matéria: DIREITO PENAL
Sessão: 05 - Dia 01/02/2023 - 20:10 às 22:00
Professor: CLAUDIA DAS GRACAS MATOS DE OLIVEIRA PORTOCARRERO

05 Tema: Lei Penal no Espaço. 1) Teorias. 2) Princípios norteadores do conflito de leis no espaço. 3)
Territorialidade e extraterritorialidade. 4) Questões controvertidas.

1ª QUESTÃO:
Um navio de guerra argentino deixou o porto de seu país com destino à Argélia, na África. Um
problema mecânico obrigou o capitão a ancorar em terras brasileiras. Nesse ínterim, alguns
marinheiros saíram do navio para comemorar a vitória da Argentina sobre o Brasil, no futebol, e
acabaram por se envolver numa tremenda briga com os torcedores brasileiros. Durante o confronto,
um marinheiro argentino acabou matando um cidadão brasileiro.
Pergunta-se:
a) Tendo o navio argentino natureza pública, o crime deverá ser julgado segundo a lei penal
argentina?
b) Se os marinheiros estivessem em missão oficial, a situação se alteraria, caso os marinheiros se
refugiassem a bordo do navio?

RESPOSTA:
a) Se o crime tivesse sido praticado a bordo do navio de guerra, o crime seria julgado de acordo com a
lei argentina, de acordo com o artigo 5º, § 2º, a contrario sensu, do Diploma Penal Brasileiro, uma
vez que o navio não seria considerado como extensão do território nacional, não tendo aplicação,
portanto, o Princípio do Pavilhão ou Bandeira.
Entretanto, os atos praticados pela equipagem, a título particular, fora de bordo, estão sujeitos à
jurisdição penal do Estado territorial onde ela - a equipagem - se encontra.
Assim, como os marinheiros saíram do navio e ingressaram em território brasileiro, o crime de
homicídio deve ser julgado de acordo com a lei brasileira, aplicando-se o Princípio da
Territorialidade, insculpido no artigo 5º, caput, do Código Penal;
b) Neste caso, estando a equipagem em serviço comandado, os atos praticados pelos marinheiros
ficariam sujeitos à aplicação da Lei Penal argentina, de acordo com o mesmo dispositivo penal acima
citado. Há quem entenda que a lei brasileira é a aplicável, posto que os marinheiros se refugiaram no
navio, após a prática dos crimes, havendo apenas óbice processual ao julgamento. Assim, com a
correta fundamentação, ambas as respostas são consideradas corretas.

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2ª QUESTÃO:
No dia 06 de agosto de 2010, MARCELO foi detido pelas autoridades de Zurique, na Suíça, por estar
transportando dezessete quilogramas de cocaína.
Realizadas as investigações pelas autoridades estrangeiras, restou comprovado que MARCELO
praticou o crime de lavagem de capitais, em razão de haver transferido dinheiro oriundo de tráfico de
drogas da Suíça para o Brasil, utilizando-se de contrato de fachada para dar aparência de licitude aos
ativos em solo brasileiro.
Em razão desses fatos, MARCELO foi processado e julgado na Suíça, de modo justo e legítimo, o
que culminou em condenação transitada em julgado e cômputo de período de encarceramento de
caráter preventivo como execução antecipada da pena naquele Estado.
Posteriormente, MARCELO foi denunciado no Brasil pelos mesmos fatos, nos termos do art. 5º do
Código Penal, já que os efeitos da lavagem de dinheiro ocorreram em território nacional.
A defesa de MARCELO não contestou os fatos narrados na denúncia, mas sustentou que o processo
instaurado no Brasil ofende a vedação à dupla persecução penal, instituída no Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos e na Convenção Americana de Direitos Humanos.
Com base no caso concreto narrado, assiste razão à defesa? Fundamente a sua resposta.

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RESPOSTA:
STF - Informativo 959 - novembro de 2019.
Dupla persecução penal em âmbito internacional
A Segunda Turma concedeu a ordem em habeas corpus para determinar o trancamento de ação penal
movida contra o paciente, denunciado pela suposta prática do crime de lavagem de capitais, em
razão de haver transferido dinheiro oriundo de tráfico de drogas da Suíça para o Brasil,
utilizando-se de contrato de fachada para dar aparência de licitude aos ativos em solo
brasileiro.
No caso, o paciente já teria sido processado e julgado na Suíça pelos mesmos fatos, o que
culminou em condenação transitada em julgado e cômputo de período de encarceramento de
caráter preventivo como execução antecipada da pena naquele Estado.
De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, o fato de o crime também ter sido cometido no
Brasil, uma vez que a execução e os efeitos da lavagem de dinheiro ocorreram em território
nacional, permite a persecução penal pela justiça brasileira, independentemente de outra
condenação no exterior. Dessa forma, adota-se o princípio da territorialidade, nos termos do
art. 5º do Código Penal (CP) (1), segundo o qual aplica-se a lei brasileira a qualquer crime
cometido no Brasil.
Inicialmente, a Turma reconheceu que os fatos apreciados pela justiça brasileira são coincidentes com
os já analisados pelo Estado suíço.
Ademais, apontou que a redação do art. 5º do CP contém a ressalva de que devem ser

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observadosconvenções, tratados e regras de direito internacional. Desse modo, deve-se cotejar a redação
dos arts. 5º, 6º e 8º do CP (2) com o que dispõe a Lei 13.445/2017 (Lei de Migração), a qual elenca o rol
de casos em que o Estado brasileiro não concede extradição, notadamente o disposto no art. 82, V (3). O
art, 100, caput, (4) do mesmo diploma legal exige a observância do princípio do ne bis in idem.
A proteção ao indivíduo selada por esses dispositivos é muito cara ao direito brasileiro. Revela-se
evidente garantia contra nova persecução penal pelos mesmos fatos, de modo a se consagrar a proibição
de dupla persecução penal também entre países, no âmbito internacional.
Por outro lado, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), assentou-se o status
normativo supralegal aos tratados internacionais de direitos humanos, ou seja, abaixo da Constituição,
mas acima das leis infraconstitucionais.
Portanto, consagrou-se que o controle de convencionalidade pode ser realizado sobre as leis
infraconstitucionais. Assim, o CP deve ser aplicado em conformidade com os direitos assegurados na
Convenção Americana de Direitos Humanos e com o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
Em relação à proibição de dupla persecução penal, tais diplomas o fazem de forma expressa (CADH, art.
8.4; PIDCP, art. 14.7) (5).
O STF já teve a oportunidade de se manifestar a respeito dessas regras, e, ao fazê-lo obstou o
prosseguimento de processo penal quanto a fatos já julgados por jurisdição diversa (Ext 1.223).
Assim, o exercício do controle de convencionalidade, tendo por paradigmas os dispositivos do art.
14.7, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e do art. 8.4, da Convenção Americana
de Direitos Humanos, determina a vedação à dupla persecução penal, ainda que em jurisdições de
países distintos.
Por sua vez, o art. 8º do CP deve ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a
jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla
persecução penal por idênticos fatos.
Por fim, a vedação à dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada com a soberania
dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas pela CIDH.
Em casos de violação de tais deveres de investigação e

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persecução efetiva, o julgamento em país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo, como em
precedentes em que a própria CIDH determinou a reabertura de investigações em processos de
Estados que não verificaram devidamente situações de violações de direitos humanos.
Portanto, se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre os mesmos
fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando obrigações processuais positivas,
a vedação de dupla persecução pode ser eventualmente ponderada para complementação em
persecução interna.
Contudo, neste caso concreto, não há qualquer elemento que indique dúvida sobre a
legitimidade da persecução penal e da punição imposta em processo penal na Suíça por
idênticos fatos ao agora denunciado no Brasil. Dessa forma, a proibição de dupla persecução
deve ser respeitada de modo integral, nos termos constitucionais e convencionais.

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