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Escola de Magistratura do

Estado do Rio de Janeiro

Tópicos de Redação Jurídica I

Professor Nelson Tavares


Estudos de casos em peças
jurídicas; apresentação
dos tipos textuais:
narração, argumentação,
exposição, descrição e
injunção.

Estudo do parágrafo:
tópico e desenvolvimento
(classificação); adequação
dos tempos verbais
Curso de Especialização em Direito Público e Privado

FETZNER, Néli Cavaliere;


TAVARES JUNIOR, Nelson
Carlos; VALVERDE, Alda das
graças Marques. Linguagem
e argumentação jurídica. 5.
ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019.
TIPOLOGIA
Textual
Tipologia Textual

Texto Narrativo - consiste em evidenciar fatos experienciados e


desenvolvidos por certos personagens em um dado tempo e espaço.

Texto Descritivo – consiste em representar verbalmente um objeto,


uma pessoa, um lugar, mediante a indicação de características, de
pormenores individualizantes.

Texto argumentativo – consiste em apresentar ideias, analisá-las,


defender um ponto de vista sustentado por argumentos lógicos que
tendem a convencer o leitor/interlocutor.

Texto Injuntivo – consiste em exprimir uma ordem ou pedido de


execução ou não execução de uma determinada ação.

PROFESSOR NELSON TAVARES


Texto dissertativo (ponto de vista - tese)
- expositivo
- argumentativo

Miguel Reale
(Teoria Tridimensional do Direito)
Fato – dimensão sociológica
Valor – dimensão filosófica
Norma – dimensão jurídica
TIPOLOGIA TEXTUAL x GÊNERO TEXTUAL
EMAIL
ART. 489, CPC BULA DE REMÉDIO
PEÇA PROCESSUAL (SENTENÇA)
Estrutura da sentença: DOUTRINA
- * preâmbulo (descrição) ROMANCE
ETC.
- Relatório (narrativo)
- Motivação (argum.)
- Dispositivo (injuntivo)

Tipologia textual – características objetivas / subjetivas


Características objetivas do texto
narrativo
• Sequência de fatos
• Presença de personagens (partes)
• Lugar (onde) e tempo (quando)
• Sequência de eventos (passo a passo)
• Presença predominante de verbos de ação etc
Tipologia textual – exemplo

Luiz Ignácio da Costa Filho, ora recorrido, ajuizou ação de


indenização por danos morais em face do Hospital São Miguel,
objetivando o recebimento de quantia equivalente a 2.000 (dois mil)
salários mínimos, “tendo em vista todo o sofrimento experimentado
pelo autor desde o início do sofrimento de seu filho, advindo da mal
sucedida cirurgia, que culminou na hemorragia interna, causadora da
morte da criança” (fl. 05).
O Juízo Monocrático julgou parcialmente procedente o pedido
inicial e condenou a ré ao pagamento da importância equivalente a
1.000 (hum mil) salários mínimos à época do efetivo desembolso.
Irresignados, o Hospital São Miguel e a Associação São Miguel,
instituição filantrópica e sua mantenedora, apelaram ao Eg. Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o qual, por maioria, negou
provimento ao apelo. [...] Narração
PROFESSOR NELSON TAVARES
Tipologia textual – exemplo

O juízo de mérito é um dos exames pelo qual o recurso


deve se sujeitar. Por esse juízo que será apreciado o
fundamento da impugnação, para que a acolha, caso
esteja fundada, ou a rejeite, caso não esteja. O art. 932,
inciso III, do Código de Processo traz a hipótese de
inadmissão do recurso que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida.
Nessa hipótese, pode-se dizer que há uma análise
superficial do juízo de mérito, uma vez que se analisam
os fundamentos da decisão recorrida, sem que se
antecipe o julgamento dela. Descrição

PROFESSOR NELSON TAVARES


Tipologia textual – exemplo

O princípio do estado de inocência ou, como preferem, da


presunção de inocência, previsto na Constituição Federal de 1988
(art. 5.º, LVII), determina, antes de a sentença condenatória transitar
em julgado, a impossibilidade de se impor ao acusado de um crime
qualquer medida de coação pessoal ao seu direito de liberdade,
que se revista de característica de execução de pena. Proíbe-se a
denominada “pena antecipada”, exceção às providências de natureza
cautelar (prisão em flagrante, preventiva e temporária). Nesse
sentido: TJSP, HC n. 79.434. (Damásio de Jesus) Descrição

PROFESSOR NELSON TAVARES


Tipologia textual – exemplo

A apelação possui efeito suspensivo e devolutivo, por força


do art. 1.012, caput e art. 1.013, caput, ambos do CPC. Não
há um consenso na doutrina e na jurisprudência acerca dos
efeitos serem automáticos ou necessitarem de
manifestação. Os parágrafos do art. 1.012 não deixam isso
claro, uma vez que no § 1° se diz que, nos casos expressos,
os efeitos começam a produzir imediatamente após a
publicação da sentença. Entretanto, o § 3° diz que a
concessão do efeito suspensivo nas hipóteses do § 1° poderá
ser formulado por requerimento dirigido ao tribunal ou ao
relator.
Argumentação

PROFESSOR NELSON TAVARES


Emerj – Estrutura da Petição Inicial
MERITÍSSIMO JUÍZO DA ___ VARA ___ DA COMARCA ___ (art. 319, I do CPC)

Qualificação das partes (art. 319, II do CPC)


Parte descritiva
Dos fatos (art. 319, III do CPC)
Parte narrativa _________________________________________________________________
___________________________________________________
Do direito (art. 319, III do CPC)
Parte _________________________________________________________________
argumentativa ___________________________________________________
Do pedido (art. 319, IV do CPC)
1__________________________;
Parte injuntiva
2__________________________.

Das provas (art. 282, VI do CPC)

Do valor da causa (art. 282, V do CPC)

Nesses termos,
Pede deferimento.
Local, data e assinatura.
PROFESSOR NELSON TAVARES
Emerj

É importante você saber:


Apesar de a classificação ser
didaticamente útil, raramente são
produzidos textos puramente narrativos,
descritivos, dissertativos ou injuntivos.
O que ocorre, na verdade, é uma classificação que considera
a predominância das características de um tipo de produção
textual em detrimento dos demais, menos evidentes, mas não
menos importantes.

PROFESSOR NELSON TAVARES


EXERCÍCIO

Identifique o tipo textual predominante em cada fragmento

Fragmento 1
O apelado moveu Ação de Execução por Quantia Certa em face dos ora
apelantes, fundando-se na existência de um contrato de locação firmado
com Antônio Claudio (autos em apenso).
Em tal ação, consta uma planilha de débitos em que se encontram
discriminados os valores supostamente devidos pelos apelantes, planilha
essa que será adiante questionada.
Existem relevantes pontos que não podem ser deixados à margem da
apreciação deste D. Juízo:
PROFESSOR NELSON TAVARES
EXERCÍCIO

Fragmento 2
O "rol familiar" constante da Lex Fundamentalis brasileira não é
exaustivo. O legislador se limitou a citar expressamente as hipóteses
mais usuais, como a família monoparental e a união estável entre
homem e mulher. Todavia, a tônica da proteção não se encontra mais
no matrimônio, mas sim na família. O afeto terminou por ser inserido
no âmbito de proteção jurídica. Como afirma Zeno Veloso, "num
único dispositivo o constituinte espancou séculos de hipocrisia e
preconceito".

PROFESSOR NELSON TAVARES


EXERCÍCIO

Fragmento 3
Uma pessoa trafegava com sua moto em alta velocidade por
uma avenida, a mais ou menos 100 km/h. Essa avenida fica dentro de
um bairro movimentado e cheio de sinais. O condutor estava
drogado e totalmente alcoolizado, sem qualquer condição de
discernir e reagir a eventos que ocorressem na pista.

PROFESSOR NELSON TAVARES


EXERCÍCIO

Fragmento 4
"De acordo com a inicial de acusação, ao amanhecer, o grupo passou pela
parada de ônibus onde dormia a vítima. Deliberaram atear-lhe fogo, para o
que adquiriram dois litros de combustível em um posto de abastecimento.
Retornaram ao local e enquanto Eron e Gutemberg despejavam líquido
inflamável sobre a vítima, os demais atearam fogo, evadindo-se a seguir.
Três qualificadoras foram descritas na denúncia: o motivo torpe porque
os denunciados teriam agido para se divertir com a cena de um ser humano
em chamas, o meio cruel, em virtude de ter sido a morte provocada por fogo e
uso de recurso que impossibilitasse a defesa da vítima, atacada enquanto
dormia.
PROFESSOR NELSON TAVARES
EXERCÍCIO

Fragmento 5
O Assédio moral, ou seja, a exposição prolongada e repetitiva do
trabalhador a situações humilhantes e vexatórias no trabalho, atenta
contra a sua dignidade e integridade psíquica ou física. De modo que é
indenizável, no plano patrimonial e moral, além de permitir a resolução
do contrato ("rescisão indireta"), o afastamento por doença de trabalho
e, por fim, quando relacionado à demissão ou dispensa do obreiro, a sua
reintegração no emprego por nulidade absoluta do ato jurídico.

PROFESSOR NELSON TAVARES


EXERCÍCIO

Fragmento 6
Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra
"assédio" significa "insistência impertinente, perseguição, sugestão ou
pretensão constantes em relação a alguém". [...]
Segundo a médica Margarida Barreto, médica do trabalho e
ginecologista, assédio moral no trabalho é "a exposição dos
trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e
constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de
trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em
relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam
condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de
um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s),
desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a
organização, forçando-o a desistir do emprego".
PROFESSOR NELSON TAVARES
ENTENDENDO A RELEVÂNCIA DO CONTEÚDO DA AULA

Importância do raciocínio jurídico e da problematização


científica para os concursos (particularmente segunda fase e
prova de sentença), tanto quanto o domínio do conteúdo de
direito material e processual.

A pergunta é: qual a aplicabilidade desse conteúdo para


a qualificação do raciocínio jurídico e melhorar o
desempenho em concursos.

PROFESSOR NELSON TAVARES


CASO CONCRETO
Agentes policiais militares à paisana, à noite, fora do horário
de trabalho, em veículos particulares e usando armamento
privado, dirigem-se a uma comunidade composta de pessoas de
baixa renda e, lá, em ação coordenada, efetuam disparos de
arma de fogo, vindo a matar friamente várias pessoas inocentes.
Os crimes, conforme apurado, foram cometidos como
retaliação contra medidas rigorosas tomadas pela Administração
Pública para punir policiais militares que haviam cometido
desvios de conduta. Dentre as vítimas está um rapaz de 25 anos
de idade, morto quando se deslocava do trabalho para casa.
A mãe, a irmã e a tia-avó da vítima, que com ela moravam,
propõem ação indenizatória em face do Estado. Devem ser
julgados procedentes os pedidos?
PROFESSOR NELSON TAVARES
PROBLEMATIZAÇÃO
• Seguiremos a jurisprudência clássica (eles não
são agentes – Estado não tem responsabilidade
civil)
• Ou consideraremos que a motivação do indivíduo
é o determinante para definir se atuam como
agentes do Estado ou não
• Legitimidade ativa está caracterizada
• Modalização – contrária ao Estado => diante da
divergência doutrinária, a expectativa da banca
era de condenar o Estado
CASO CONCRETO

Esta questão necessita de mera memorização do


conteúdo da norma positivada ou da jurisprudência?
Como “descobrir” aquilo que a banca deseja
enfrentar?
Qual o papel da descrição inicial do contexto dos PMs
em uma questão que tem exatamente a caracterização
dos policiais como agentes / não agentes como
questão central?
É possível reduzir a discussão motivada pelo caso
concreto a uma pergunta? (raciocínio científico)
PROFESSOR NELSON TAVARES
Vamos fazer um percurso de construção do
raciocínio jurídico por meio da tipologia
textual?

Quem quer, o quê, de quem, por quê?

Lembro que nosso objetivo não é enfrentar o


direito material em si, mas se instrumentalizar
com ele para enfrentar o conteúdo
pertinente!
PROFESSOR NELSON TAVARES
Qual a tipologia textual?
É necessário definir o instituto no início da questão?

Responsabilidade civil do Estado – o que é?

Responsabilidade civil do Estado é o dever


jurídico sucessivo que a Administração Pública
tem de indenizar os danos patrimoniais ou
morais que seus agentes, atuando nesta
qualidade, causarem a terceiros.
(Sérgio Cavalieri Filho)

PROFESSOR NELSON TAVARES


Qual é o tipo de responsabilidade civil do Estado?
Responsabilidade objetiva ou subjetiva?
Fundamento legal: art. 37, §6º, da CRFB/88;
art. 43, do Código Civil:
Art. 37, § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de
direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, NESSA QUALIDADE, causarem
a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
Art. 43, CC - As pessoas jurídicas de direito público interno são
civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa
qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito
regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte
destes, culpa ou dolo.
PROFESSOR NELSON TAVARES
Responsabilidade objetiva está prevista expressamente
no dispositivo, como manda a regra?

A responsabilidade objetiva descarta a existência de


culpa e sustenta que para ser possível a reparação deve
haver apenas nexo causal e dano.

RESPONSABILIDADE SUBJETIVA RESPONSABILIDADE OBJETIVA


(EXEMPLOS) (EXEMPLOS)
Art. 927, caput, CC Art. 927, parágrafo único, CC

Art. 14, §4º, CDC Art. 12 e 14, CDC

PROFESSOR NELSON TAVARES


É necessário DIZER na resposta que a responsabilidade é
objetiva? É necessário ARGUMENTAR por qual motivo?

Apesar de não haver indicação expressa na lei de que se


trata de responsabilidade objetiva, Doutrina e
Jurisprudência assim entendem de forma pacífica.

Sugestão de RACIOCÍNIO ARGUMENTATIVO: o dispositivo


(art. 37, §6º, CRFB) exige dolo ou culpa para que o agente
público responda regressivamente, mas não faz essa mesma
exigência para que o Estado tenha que indenizar. Logo,
interpreta-se que a exigência de dolo ou culpa é unicamente
para a ação regressiva.

PROFESSOR NELSON TAVARES


Estabelecida a natureza da responsabilidade civil
(descrição), qual o próximo passo argumentativo?
Requisitos para que haja a responsabilidade civil do
Estado:
Quem pleiteia indenização, em casos como este, terá que
provar três elementos:
a) conduta praticada por um agente público, nesta
qualidade;
b) dano;
c) nexo de causalidade (demonstração de que o dano foi
causado pela conduta).

PROFESSOR NELSON TAVARES


Qual a teoria que se deve utilizar para fundamentar
essa posição?
Teoria do RISCO ADMINISTRATIVO Teoria do RISCO INTEGRAL
A responsabilidade do Estado é objetiva A responsabilidade do Estado é objetiva
(a vítima não precisa provar a culpa). (a vítima não precisa provar a culpa).
O Estado poderá eximir-se do dever de Não admite excludentes de
indenizar caso prove alguma causa responsabilidade.
excludente de responsabilidade: Mesmo que o Estado prove haver uma
a) caso fortuito ou força maior; das excludentes de responsabilidade,
b) Fato exclusivo da vítima; será condenado a indenizar de qualquer
c) Fato exclusivo de terceiro. forma.
É adotada como regra no Direito É adotada no Direito brasileiro, de forma
brasileiro. excepcional. A doutrina diverge sobre
quais seriam essas hipóteses.
Para concurso, lembrar do dano
ambiental (REsp nº 1.374.284).

PROFESSOR NELSON TAVARES


Esse rol que estabelece as exceções à teoria do risco
administrativo é taxativo ou exemplificativo?
São poucas as hipóteses já estabelecidas pela
jurisprudência (dano ambiental, dano nuclear,
terrorismo, etc.), mas recentemente o STJ trouxe uma
decisão desestabilizadora:
Existirá responsabilidade de metrôs e ônibus pelo
assédio sexual dentro de coletivos?
Quais os fundamentos?

Postei em Facebook.com/nelson.tavares.adv matéria


sobre o assunto!

PROFESSOR NELSON TAVARES


Voltando ao caso concreto...

No caso, a conduta motivadora do dano é comissiva


ou omissiva? (descrição)

Sendo omissiva a conduta do agente estatal, o


raciocínio anterior mantém-se argumentativamente o
mesmo?

O que muda na defesa do ponto de vista?

PROFESSOR NELSON TAVARES


Como será apurada a responsabilidade civil do Estado
em casos de conduta omissiva?
Doutrina tradicional e STJ Jurisprudência do STF
Na doutrina, ainda hoje, a Na jurisprudência do STF, contudo,
posição majoritária é a de que a tem ganhado força nos últimos anos
responsabilidade civil do Estado o entendimento de que a
responsabilidade civil nestes casos
em caso de atos omissivos é
também é OBJETIVA. Isso porque o
SUBJETIVA, baseada na teoria da art. 37, §6º, da CF/88 determina a
culpa administrativa (culpa responsabilidade objetiva do Estado
anônima). sem fazer distinção se a conduta é
comissiva (ação) ou omissiva. Não
cabe ao intérprete estabelecer
distinções onde o texto constitucional
não o fez.

PROFESSOR NELSON TAVARES


Explicação resumida

Deve-se fazer, no entanto, uma advertência: para o STF, o


Estado responde de forma objetiva pelas suas omissões, se
houver nexo de causalidade entre essas omissões e os danos
sofridos pelos particulares e se o Poder Público tinha o dever
legal específico de agir para impedir o evento danoso e
mesmo assim não cumpriu essa obrigação legal.

Assim, o Estado responde de forma objetiva pelas suas


omissões, desde que ele tivesse obrigação legal específica de
agir para impedir que o resultado danoso ocorresse. A isso se
chama de "omissão específica" do Estado. (STF. Plenário. RE
677139 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
22/10/2015).
PROFESSOR NELSON TAVARES
Caberia desenvolver mais a resposta pela estratégia do
“e se...”? Discussão sobre extrapolação!

Exemplo: não haverá responsabilidade civil das empresas de


ônibus por roubo a coletivo. E se o autor do crime entrou no
ônibus porque o motorista parou fora do ônibus?

Caso específico: cidade do Rio de Janeiro.

E se esses roubos forem excessivamente recorrentes?


Fortuito externo => Fortuito interno

E se a empresa não adotar qualquer medida de segurança


contra roubos em seus veículos?

PROFESSOR NELSON TAVARES


Se um detento é morto dentro da unidade prisional,
haverá responsabilidade civil do Estado?

SIM. A CF/88 determina que o Estado se responsabiliza


pela integridade física do preso sob sua custódia:
Art. 5º, XLIX, CRFB: é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral;

Logo, o Poder Público poderá ser condenado a indenizar


pelos danos que o preso venha a sofrer. Esta
objetiva
responsabilidade é ________. Aplica-se a teoria do risco
administrativo ou a teoria do risco integral?

PROFESSOR NELSON TAVARES


Se um detento é morto dentro da unidade prisional,
haverá responsabilidade civil do Estado?

SIM. A CF/88 determina que o Estado se responsabiliza


pela integridade física do preso sob sua custódia:
Art. 5º, XLIX, CRFB: é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral;

Logo, o Poder Público poderá ser condenado a indenizar


pelos danos que o preso venha a sofrer. Esta
objetiva Aplica-se a teoria do risco
responsabilidade é ________.
administrativo ou a teoria do risco integral?

PROFESSOR NELSON TAVARES


Fundamento jurisprudencial paradigmático: qual o
papel da jurisprudência no texto argumentativo

Observe a lição do Ministro Luiz Fux:

"(...) sendo inviável a atuação estatal para evitar a morte


do preso, é imperioso reconhecer que se rompe o nexo
de causalidade entre essa omissão e o dano.
Entendimento em sentido contrário implicaria a adoção
da teoria do risco integral, não acolhida pelo texto
constitucional (...)".

PROFESSOR NELSON TAVARES


Resumindo...

• Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela


morte de detento. Isso porque houve inobservância de seu
dever específico (conduta omissiva) de proteção, previsto
no art. 5º, inciso XLIX, da CRFB/88.

• Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se


ele conseguir provar que a morte do detento não podia ser
evitada. Nesse caso, rompe-se o nexo de causalidade entre
o resultado morte e a omissão estatal.

PROFESSOR NELSON TAVARES


Resumindo...

• Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela


morte de detento. Isso porque houve inobservância de seu
dever específico (conduta omissiva) de proteção, previsto
no art. 5º, inciso XLIX, da CRFB/88.

• Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se


ele conseguir provar que a morte do detento não podia ser
evitada. Nesse caso, rompe-se o nexo de causalidade entre
o resultado morte e a omissão estatal.

(STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em


30/3/2016 - repercussão geral / Info 819).

PROFESSOR NELSON TAVARES


Exercício

1) Imagine que um detento esteja doente e precisa de


tratamento médico. Ocorre que esse tratamento não lhe foi
oferecido de forma adequada pela administração penitenciária.
Há claramente uma violação ao art. 14, da LEP. Nesse caso, se o
preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado ou não?
SIM, considerando que houve uma omissão específica e o óbito
era plenamente previsível.
2) Suponha, agora, que o preso esteja bem e saudável e, sem
qualquer sinal anterior, sofra um mal súbito no coração e cai
morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda
hipótese, o Poder Público deverá ser responsabilizado por essa
morte?
NÃO, uma vez que não houve omissão estatal e este óbito teria
acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.
PROFESSOR NELSON TAVARES
Exercício

1) Imagine que um detento esteja doente e precisa de


tratamento médico. Ocorre que esse tratamento não lhe foi
oferecido de forma adequada pela administração penitenciária.
Há claramente uma violação ao art. 14, da LEP. Nesse caso, se o
preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado ou não?
SIM, considerando que houve uma omissão específica e o óbito
era plenamente previsível.
2) Suponha, agora, que o preso esteja bem e saudável e, sem
qualquer sinal anterior, sofra um mal súbito no coração e cai
morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda
hipótese, o Poder Público deverá ser responsabilizado por essa
morte?
NÃO, uma vez que não houve omissão estatal e este óbito teria
acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.
PROFESSOR NELSON TAVARES
Exercício

1) Imagine que um detento esteja doente e precisa de


tratamento médico. Ocorre que esse tratamento não lhe foi
oferecido de forma adequada pela administração penitenciária.
Há claramente uma violação ao art. 14, da LEP. Nesse caso, se o
preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado ou não?
SIM, considerando que houve uma omissão específica e o óbito
era plenamente previsível.
2) Suponha, agora, que o preso esteja bem e saudável e, sem
qualquer sinal anterior, sofra um mal súbito no coração e cai
morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda
hipótese, o Poder Público deverá ser responsabilizado por essa
morte?
NÃO, uma vez que não houve omissão estatal e este óbito teria
acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.
PROFESSOR NELSON TAVARES
Esta é a resposta “seca”! Como seria fundamentada a sua resposta
em cerca de 25 linhas? (trajetória argumentativa)

PROFESSOR NELSON TAVARES


E se o preso se suicidar? O Estado deve ser
responsabilizado pela morte do detento?
SIM. Existem precedentes do STF e do STJ nesse
sentido (STF. 2ª Turma. ARE 700927 AgR, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 28/08/2012).

No entanto, aqui também, como se adota a teoria


do risco administrativo, o Estado poderá provar
alguma causa excludente de responsabilidade.
Assim, nem sempre que houver um suicídio, haverá
responsabilidade civil do Poder Público.
PROFESSOR NELSON TAVARES
O Min. Luiz Fux exemplifica seu raciocínio com duas situações:
• Se o detento que praticou o suicídio já vinha apresentando indícios de
que poderia agir assim, então, neste caso, o Estado deverá ser
condenado a indenizar seus familiares. Isso porque o evento era
previsível e o Poder Público deveria ter adotado medidas para evitar
que acontecesse.
• Por outro lado, se o preso nunca havia demonstrado anteriormente
que poderia praticar esta conduta, de forma que o suicídio foi um ato
completamente repentino e imprevisível, neste caso o Estado não será
responsabilizado porque não houve qualquer omissão atribuível ao
Poder Público.

Outro parâmetro é a maneira como o preso se suicidou? Usou cordas


(falta prevista na LEP) para se enforcar? A administração penitenciária
permitiu que entrasse veneno por causa de uma fiscalização falha?
PROFESSOR NELSON TAVARES
Outras reflexões para desenvolver o
raciocínio científico

De quem é o ônus da prova dessa excludente de


responsabilidade?
O ônus da prova é da Administração Pública!

O Estado de coisas inconstitucional muda esse


raciocínio?

PROFESSOR NELSON TAVARES


Outras reflexões para desenvolver o
raciocínio científico

De quem é o ônus da prova dessa excludente de


responsabilidade?
O ônus da prova é da Administração Pública!

O Estado de coisas inconstitucional muda esse


raciocínio?

PROFESSOR NELSON TAVARES


Outras reflexões para desenvolver o
raciocínio científico

De quem é o ônus da prova dessa excludente de


responsabilidade?
O ônus da prova é da Administração Pública!

O Estado de coisas inconstitucional muda esse


raciocínio?

Essa é uma questão tão estruturante que necessita


que retornemos ao início da trajetória, ou seja,
vamos definir o que é “estado de coisas
inconstitucional”
PROFESSOR NELSON TAVARES
Outras reflexões para desenvolver o
raciocínio científico

De quem é o ônus da prova dessa excludente de


responsabilidade?
O ônus da prova é da Administração Pública!

O Estado de coisas inconstitucional muda esse


raciocínio?

Essa é uma questão tão estruturante que necessita


que retornemos ao início da trajetória, ou seja,
vamos definir o que é “estado de coisas
inconstitucional”
PROFESSOR NELSON TAVARES
ESTUDO DO
PARÁGRAFO
Os textos são produzidos em parágrafos.
Todo parágrafo possui uma ideia principal, central
ou nuclear.
A essa ideia se agregam outras ideias, secundárias,
que serão desenvolvidas no decorrer de sua produção,
servindo para completar, explicar, comentar e rever a
ideia-núcleo.
A ideia central de um parágrafo é denominada
TÓPICO FRASAL.
O tópico frasal é a oração que introduz a ideia
central que será desenvolvida no parágrafo, seja em texto
dissertativo, descritivo ou narrativo.

PROFESSOR NELSON TAVARES


ESTUDO DO TÓPICO FRASAL

É uma maneira prática e eficiente de estruturar um


parágrafo, por expor, já de início, a ideia que o autor do
texto quer passar, sendo reforçada pelos períodos
subsequentes.

O tópico frasal geralmente vem no início do parágrafo


(não é uma regra) e pode aparecer sob diferentes
formas.

PROFESSOR NELSON TAVARES


OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

POR DECLARAÇÃO INICIAL


O autor do texto faz uma declaração forte, capaz de
surpreender o leitor, afirmando ou negando algo de início
e, em seguida, justifica e comprova a afirmação com os
seus argumentos, sejam estes comparações, exemplos,
testemunhos de autores, dentre outros.
Exemplo: “É um grave erro a liberação da maconha.
Provocará de imediato violenta elevação do consumo. O
Estado perderá o precário controle que ainda exerce
sobre as drogas psicotrópicas e nossas instituições de
recuperação de viciados não terão estrutura suficiente
para atender à demanda.”
PROFESSOR NELSON TAVARES
OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

POR DEFINIÇÃO
Uma forma simples e muito usada, a definição possui
característica didática e deve ser usada para institutos
novos ou para conceitos usados de maneira diversa do
usual.
Exemplo: definição de “propriedade” (“... o próprio direito
exclusivo ou o poder absoluto e exclusivo que, em caráter
permanente, se tem sobre a coisa que nos pertence”- De
Plácido e Silva, p. 1115).
Será que essa definição, após a Constituição Federal de
1988, continua adequada? Observe o que diz a
Constituição:

PROFESSOR NELSON TAVARES


OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

Art. 170, CRFB: a ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
• (...)
• II – propriedade privada;
• III – função social da propriedade;

Assim, o conceito de “propriedade” deixou de ser objetivo e


passou a ser subjetivo, a partir do momento em que se avalia a
sua função social. Tal mudança de paradigma se deve a
alterações sociais, econômicas e outras havidas por exigência de
uma nova realidade.

PROFESSOR NELSON TAVARES


OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

POR CONTRASTE

Apresentação de elementos que formam uma


oposição.
Exemplo: “De um lado, detentos amontoados em
condições deploráveis, insalubres e desumanas. De
outro, pacientes sem leitos, sem medicamentos, sem
recursos para a realização de exames. É este o
paradoxo que vive hoje o Brasil quando discute se a
superpopulação carcerária deve motivar a indenização
por danos morais de detentos cujos direitos
fundamentais foram violados”.
PROFESSOR NELSON TAVARES
OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

POR INTERROGAÇÃO

A pergunta serve para despertar a atenção do leitor


para o tema, sendo respondida ao longo da
argumentação.

Exemplo: “Será que é com novos impostos que a


saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já estão
cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um
buraco que parece não ter fim (…)”.

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OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

POR ALUSÃO HISTÓRICA


Uso de fato histórico como ponto de partida para desenvolver o
parágrafo.

Exemplo: a alusão histórica é uma forma interessante de


introduzir as argumentações jurídicas. Para um texto de tamanho
relativamente curto, não cabe exposição minuciosa de um
histórico. Sugerimos que seja realizada apenas uma relação
analógica entre um elemento do passado e um do presente.

Observação: de maneira alguma “chute” fatos históricos ou


estatísticos dos quais não haja certeza (científica), sob pena de a
estratégia ser frustrada.

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OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

Um tema para o qual o tópico frasal por alusão histórica


seria bastante eficiente é a autorização para a realização
do aborto terapêutico.

O Brasil já teve embates anteriores sobre esse tema e as


consequências advindas das escolhas feitas no passado
estão presentes hoje para serem avaliadas e iluminar o
futuro.

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OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

POR CITAÇÃO
Inicia-se o parágrafo com a citação de alguma frase interessante
dita por algum autor renomado.
Exemplo: “Todo brasileiro é mestiço. Se não no sangue, nas
ideias. A observação é de Sílvio Romero e foi feita há cerca de
um século. De fato, o material de que se alimenta a vida
espiritual de todos os brasileiros provém de fontes étnicas
muito diversas e misturadas. Tradições culturais europeias se
cruzam com raízes africanas e matrizes indígenas antes de
receberem influências asiáticas – sobretudo através da
imigração japonesa. Portanto, discutir a questão das cotas
apenas pelo viés das ações afirmativas, sem uma
contextualização cultural, é erro muito grave”.

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Tópicos Frasais X Tipos de argumento
• Tópico por citação – Argumento por autoridade
Tópico por
OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

SEQUÊNCIA DE FRASES NOMINAIS


Inicia-se o parágrafo com uma série de frases nominais
(sem verbo). É um tipo de tópico frasal bastante
expressivo.
Exemplo: “Desabamento de shopping em Osasco. Morte
de velhinhos em uma clínica do Rio. Meia centena de
mortes em uma clínica de hemodiálise em Caruaru.
Chacina de sem-terra em Eldorado dos Carajás. Muitos
meses já se passaram, e esses fatos continuam impunes,
comprovando a máxima de que, no Brasil, a impunidade
alimenta o crime”.
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OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

ILUSTRAÇÃO
Inicia-se o parágrafo com um fato para ilustrar o tema.
Exemplo: “Na mesma semana em que morreu Ayrton Senna,
morreu atropelada no Rio, mais precisamente na Avenida das
Américas, na Barra da Tijuca, uma empregada doméstica
chamada Rosilene. Durante uma hora, os carros passaram por
cima de seu corpo, a ponto de só ser reconhecida através das
impressões digitais que restaram. O Brasil inteiro chorou a
morte de Senna, mas poucos souberam do fim trágico de
Rosilene. Este é bem o retrato do país que habitamos. Somos
cada dia mais dois Brasis. Um, dos ricos e famosos, que faz uma
nação inteira chorar ou, pelo menos, interessar-se pelo caso.
Outro, o dos miseráveis, cujas vidas não interessam a ninguém”.

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OS DIFERENTES TIPOS DE TÓPICO FRASAL

OMISSÃO DE DADOS IDENTIFICADORES

Omite-se do leitor a identificação do tema do parágrafo,


criando suspense nas primeiras linhas.

Exemplo: “Esta palavra já virou uma das principais bandeiras


da juventude. Com certeza, não é algo que se refira somente à
política ou às grandes decisões do Brasil e do mundo. Ela
deveria pautar a conduta do ser humano em todos os seus
aspectos, pois, sem ela, a convivência em sociedade se
transformaria em um caos. Infelizmente, existem espalhados
por aí centenas de milhares que fazem pouco caso dela: a
ética. E, entre estes, estão muitos políticos”.
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