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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA

CRIMINAL DA CIDADE.

Ação Penal
Proc. nº.
Autor:
Acusada:

[ PEDIDO DE APRECIAÇÃO URGENTE – ACUSADA PRESA ]

Intermediada por seu mandatário ao final firmado, causídico


inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado, sob o nº. 112233,
comparece o Acusado, com todo respeito à presença de Vossa Excelência, na
forma do que dispõe o art. 318, inc. IV, da Legislação Adjetiva Penal, art. 1°, inc.
III c/c art. 6°, um e outro da Constituição Federal, art. 40 e art. 41, inc. VII, da
Lei de Execução Penal, art. 13, da Lei n°. 13.257/2016, oferecer pedido de
SUBSTITUIÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA

por prisão domiciliar, em razão da presente Ação Penal agitada em desfavor de


xxxxxxxx, já qualificada na exordial da peça acusatória, consoante abaixo
delineado.

1 – SÍNTESE DOS FATOS


Colhe-se dos autos que a Ré fora presa e autuada em
flagrante delito, na data de 00/11/2222 (fls. 17/23), em decorrência da suposta
prática de crime de tráfico de drogas (Lei de Drogas, art. 33, caput).
Em face do despacho que demora às fls. 07/08 do processo
criminal em espécie, este Magistrado, na oportunidade que recebera o referido
auto de prisão em flagrante (CPP, art. 310), converteu-a em prisão preventiva,
sob o enfoque da garantia da ordem pública e conveniência da instrução
criminal. (CPP, art. 310, inc. I)
Todavia, a Acusada se encontra em estado gravídico e, por
tal motivo, descabe, até mesmo por motivo de saúde do nascituro, a
manutenção do encarceramento acautelatório.
Em face disso, a Denunciada vem pleitear a substituição da
prisão em preventiva por prisão domiciliar, consoante se extrai dos
fundamentos abaixo evidenciados.

2 – DA SUBSTITUIÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA

2.1. Fundamento legal

Saliente-se, primeiramente, que os argumentos, aqui


levantados, encontram-se dispostos no Estatuto de Ritos Penal.
Dispõe o Código de Processo Penal, nesse tocante, com as
alterações advindas da Lei n°. 13.257/2016, que:

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


Art. 318 - Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o
agente for:
( ... )
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

Nesse passo, é inarredável que, uma vez preenchidos os


pressupostos ínsitos no dispositivo legal supra-aludido (os quais adiante serão
demonstrados), a mulher, presa, deverá ser admitida a cumprir a prisão
preventiva no seu domicílio residencial.
Com ênfase nisso, o Egrégio Superior Tribunal de
Justiça solidificou entendimento, verbo ad verbum:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


DROGAS. SUPERAÇÃO DA SÚMULA N. 691 DO STF. PRISÃO
PREVENTIVA. ART. 312 DO CPP. SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO
DOMICILIAR E CAUTELARES DIVERSAS. FILHO MENOR DE 12
ANOS. HC COLETIVO N. 143.641/SP DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. ARTS. 318-A E 318-B DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Não se admite writ que se volta contra decisão que indefere pedido de liminar
na origem. Incide, portanto, a Súmula n. 691 do Supremo Tribunal Federal,
também observada por este Tribunal Superior, cuja suplantação somente é
possível quando a percepção de ilegalidade seja manifesta e inconteste, o que
ocorre na hipótese vertente. 2. A prisão preventiva tem natureza excepcional,
sempre sujeita a reavaliação, de modo que a decisão judicial que a impõe ou a
mantém, para compatibilizar-se com a presunção de não culpabilidade e com o
Estado Democrático de Direito - o qual se ocupa de proteger tanto a liberdade
individual quanto a segurança e a paz públicas -, deve ser suficientemente
motivada, com indicação concreta das razões fáticas e jurídicas que justificam a
cautela, nos termos dos arts. 312, 313 e 282, I e II, do Código de Processo Penal.
3. É cabível a substituição da constrição cautelar pela domiciliar, com ou sem
imposição das medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP ou somente
destas, para toda mulher presa, gestante, puérpera, ou mãe de criança e
deficiente sob sua guarda, enquanto perdurar tal condição, excetuados os casos
de crimes praticados por elas mediante violência ou grave ameaça, contra seus
descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser
devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício, conforme
entendimento da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do HC coletivo n. 143.641/SP. Foram inseridas, no diploma processual penal,
normas consentâneas com o referido entendimento jurisprudencial (arts. 318-A
e 318-B do CPP). 4. Faz jus à concessão de prisão domiciliar a paciente que se
amolda às condições acima citadas e foi presa preventivamente, ainda que por
suposta prática de crime de tráfico de entorpecentes, porquanto tal delito por si
só não é empecilho para o deferimento da benesse, notadamente para garantir o
desenvolvimento infantil integral, com o "fortalecimento da família no exercício
de sua função de cuidado e educação de seus filhos na primeira infância" (art.
14, § 1º). 5. Diante das peculiaridades do caso concreto - suposto braço direito
do líder do grupo, sem indicação de traficância ostensiva na residência -, faz-se
necessária a manutenção concomitante das medidas cautelares impostas na
decisão agravada. 6. Agravo regimental não provido. (STJ; AgRg-HC 665.997;
Proc. 2021/0144515-2; MA; Sexta Turma; Rel. Min. Rogério Schietti Cruz; Julg.
24/08/2021; DJE 30/08/2021)

Com o mesmo entendimento, vejamos outros arestos de


jurisprudência:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. GRAVIDADE


CONCRETA. PRETENDIDA SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO
DOMICILIAR. POSSIBILIDADE. PACIENTE MÃE DE CRIANÇAS
MENORES DE 12 ANOS. HC COLETIVO N. 143.641/SP DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL. ARTS. 318-A E 318-B DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. ORDEM CONCEDIDA EM CONSONÂNCIA COM
O PARECER.
Não se vislumbra, no caso, irregularidade na decretação da prisão preventiva.
Fumus comissi delicti e periculum libertatis demonstrados. Inexistência de
constrangimento ilegal. Contudo, a paciente preenche os requisitos para a
substituição da prisão preventiva carcerária pela prisão domiciliar. Precedente.
"(...) É cabível a substituição da constrição cautelar pela domiciliar, com ou sem
imposição das medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP ou somente
destas, para toda mulher presa, gestante, puérpera, ou mãe de criança e
deficiente sob sua guarda, enquanto perdurar tal condição, excetuados os casos
de crimes praticados por elas mediante violência ou grave ameaça, contra seus
descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser
devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício, conforme
entendimento da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento
do HC coletivo n. 143.641/SP. Foram inseridas, no diploma processual penal,
normas consentâneas com o referido entendimento jurisprudencial (arts. 318-A
e 318-B do CPP). 4. Faz jus à concessão de prisão domiciliar a paciente que se
amolda às condições acima citadas e foi presa preventivamente, ainda que por
suposta prática de crime de tráfico de entorpecentes, porquanto tal delito por si
só não é empecilho para o deferimento da benesse, notadamente para garantir o
desenvolvimento infantil integral, com o "fortalecimento da família no exercício
de sua função de cuidado e educação de seus filhos na primeira infância" (art.
14, § 1º). (...) (HC 636.448/AC, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 23/02/2021, DJe 01/03/2021)" (TJMT; HCCr
1011184-21.2021.8.11.0000; Primeira Câmara Criminal; Rel. Des. Paulo da
Cunha; Julg 27/07/2021; DJMT 27/07/2021)

A PACIENTE FOI DENUNCIADA PELOS CRIMES DE TRÁFICO DE


DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO, POR SUPOSTAMENTE
GUARDAR, MANTER EM DEPÓSITO 400G DE MACONHA,
DEVIDAMENTE ENDOLADAS PARA VENDA.
2. Apesar da gravidade da conduta, a Paciente faz jus à prisão domiciliar. Não se
extrai da decisão guerreada fundamentos para seu indeferimento, porque a Lei
nº 13.257/2016 normatizou o tratamento cautelar diferenciado à gestante e à
mulher com filhos até doze anos (nova redação dada ao art. 318, IV, V e VI do
CPP), incorporando-se como novo critério geral a concessão da prisão
domiciliar em proteção da criança, cabendo ao magistrado justificar a
excepcionalidade. Situações onde os riscos sociais ou ao processo exijam outras
cautelares. Saliente-se que na condição de mãe de criança menor de doze anos
comprova ser o caso, nenhum requisito é legalmente exigido, afora a prova
dessa condição. Constrangimento ilegal configurado. Ordem concedida,
consolidando a liminar. (TJRJ; HC 0040337-94.2021.8.19.0000; Barra Mansa;
Terceira Câmara Criminal; Rel. Des. Suimei Meira Cavalieri; DORJ
26/07/2021; Pág. 164)

2.2. Requisitos subjetivos preenchidos

Lado outro, não se olvida que, à luz do mesmo dispositivo,


há pressupostos a serem comprovados, para, assim, fazer jus a tal benefício.
Com efeito, de igual modo revela o Estatuto de Ritos que:

Art. 318 - Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o
agente
( ... )
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos
estabelecidos neste artigo.

A propósito disso, convém trazer à colação o magistério


de Eugênio Pacelli:

“A prisão domiciliar, portanto, não se inclui como alternativa à prisão


preventiva, tal como ocorre com as medidas previstas no art. 319. Ela somente
será aplicada como substitutivo da prisão preventiva e desde que estejam
presentes algumas das hipóteses arroladas no art. 318, CPP, ou seja:
‘I – ser o indiciado ou acusado maior de 80 (oitenta) anos;
II – estiver ele extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III – for imprescindível a medida para os cuidados especiais de pessoa menor
de 6 (seis) anos ou com deficiência;
IV – gestante;
V – mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI – homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12
(doze) anos de idade incompletos.’
Todas essas situações demandarão prova cabal e idônea.
Em relação às questões de natureza mais subjetiva, tal como ocorre em
relação à comprovação da necessidade de cuidados especiais do menor de seis
anos ou deficiente, ou da doença grave, há que se exigir prova técnica, nos
casos em que sejam necessários diagnósticos e atestados médicos e
comprovação fática das circunstâncias pessoais do acusado, a fim de se
demonstrar a necessidade da sua presença na residência. ” (OLIVEIRA,
Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal [livro eletrônico]. 20ª Ed. São
Paulo: Atlas, 2016. Epub. ISBN 978-85-970-0636-0)

Em nada discrepando desse entendimento,


leciona Norberto Avena que:

“c) Imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de


idade ou com deficiência (art. 318, III): Dois são os casos que autorizam a
prisão preventiva domiciliar, aqui:
– Imprescindibilidade aos cuidados especiais de pessoa menor de seis anos de
idade, referindo-se o dispositivo, por óbvio, à criança com até seis anos
incompletos. Observada a literalidade do dispositivo, é certo que esta regra,
na atualidade, incide apenas na hipótese de a criança menor de 6 (seis) anos
não ser filha do indivíduo sob preventiva. É o caso, por exemplo, de se tratar
de criança sob sua guarda ou tutela. Isto porque, tratando-se de filho, as
normas aplicáveis são as dos incisos V e VI do art. 318, incluídos pela Lei
13.257/2016, dispondo, respectivamente, sobre a possibilidade do benefício à
“mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos” e ao “homem,
caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de
idade incompletos”. A despeito de tudo isto, pensamos que, no cotejo entre as
duas situações – filho e não filho do agente –, caberá ao juiz deliberar com
cautela. Isto porque a diferença de tratamento jurídico conferido às duas
situações pode conduzir a graves paradoxos, como o de impedir o deferimento
do benefício à tia de uma criança de dez anos, que dele tem a guarda desde o
nascimento, inexistindo outras pessoas próximas aptas a assumir tal
responsabilidade. Em caso como este, por uma questão de razoabilidade, não
vemos como não permitir a aplicação, por analogia, das regras previstas nos
mencionados incisos V e VI do art. 318 do CPP. ” (AVENA, Norberto Cláudio
Pâncaro. Processo Penal: esquematizado [livro eletrônico]. 8ª Ed. São Paulo:
Método, 2016. Epub. ISBN 978-85-309-7092-5)
(itálicos do texto original)

Desse modo, é de todo oportuno gizar alusões probatórias


quanto ao cumprimento das formalidades legais.
A Acusada, em decorrência disso, revela provas
contundentes da pertinência do pedido em espécie, razão qual apresenta:
( i ) Exame de ultrassonografia obstétrica confirmando estado de gravidez; (doc.
01)
( ii ) Ofício PRSD n°.0022/2016, originário da Diretoria do Presídio Feminino
Tantas, o qual certifica a ausência de vitaminas, essenciais às detentas
gestantes, tais como Vitamina D, E, além de sulfato ferroso; (doc. 02)
( iii ) Fotografias que demonstram a precariedade da unidade prisional (Ala J);
(docs. 03/07)
( iv ) Certidões quanto à primariedade, antecedentes e endereço de residência
fixa. (doc. 08)

Nesse compasso, incontestável a situação


excepcionalíssima na qual se amolda a Acusada. Inclusive, saliente-se, esse
desiderato encontra apoio no ordenamento constitucional, mormente segundo
rege o art. 1°, inc. III (princípio da dignidade humana) e, ainda, art. 6° (proteção
à maternidade), um e outro da Constituição Federal.
Outrossim, abriga-se ao entendimento destacado no art. 40
e art. 41, inc. VII, da Lei de Execução Penal.
Dessarte, a segregação cautelar se mostra absurdamente
desproporcional, sobretudo em conta da condição de gestante em que se
apresenta a Acusada. Além disso, não se deve olvidar que, na hipótese, não se
busca uma prisão, ilustrativamente, mais agradável à mesma. Ao contrário,
perquire-se um ambiente propício à maternidade, o que, certamente, não é o
que se encontra no meio prisional.
3 - EM CONCLUSÃO

Espera-se, pois, o recebimento da presente peça processual, na


qual se postula, sob a égide do art. 318, inc. IV, do CPP, a substituição da prisão
preventiva por segregação domiciliar, razão qual, por via de consequência,
espera-se a expedição do imediato alvará de soltura da presa, ora Postulante.

Respeitosamente, pede deferimento.


Cidade, 00 de outubro de 0000.

Fulano(a) de Tal
Advogado(a)

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